Ponto de Partida

Cena em que o médico abraça uma condenada por estuprar e matar uma criança envolve questões com respostas difíceis sobre perdão e jornalismo

Por enquanto, a dengue continua sendo mais preocupante que o vírus que chega da China e da Europa: só este ano, são 14 mortes suspeitas em Goiás

A comodidade tecnológica e a falta de uma cidade amigável isolam as pessoas no mesmo momento em que a epidemia mostra que nunca estivemos tão próximos

Ruptura provocada pela vitória de Caiado em 2018 abre uma janela de oportunidade para a consolidação de novas lideranças políticas no Estado

Ao usar o exemplo de uma fábrica no interior dos Estados Unidos, documentário reproduz em pequena escala o impacto do capitalismo estatal chinês no mundo

Desde que o governo federal anunciou que traria brasileiro da China para Anápolis, brasileiros de Wuhan têm sido tratados como os leprosos dos tempos bíblicos

Quando alguém paga 50% do ingresso para entrar em um show ou no cinema, está sendo bancado por outra pessoa que paga a “inteira”
Há frases que, de tão usadas, perdem a força e se transformam em clichê. O paradoxo é que se desgastam exatamente por resumirem em poucas palavras um assunto complexo. “Não existe almoço grátis” é uma delas. Atribuída ao nobel norte-americano Milton Friedman, que lançou em 1975 uma obra com o título There’s no Such Thing as a Free Lunch, a frase, que já havia circulado no comércio e na imprensa do país, resume didaticamente uma das faces da discussão sobre a meia-entrada para estudantes em shows, cinema, museus, etc.
A concessão da meia-entrada, que existe por força de lei federal e possui configurações próprias em vários Estados (sempre no sentido de aumentar e não de restringir), tem um bom motivo. Facilitar o acesso de jovens aos eventos culturais contribui, positivamente, para sua formação. Medidas do tipo existem em muitos países, inclusive os mais desenvolvidos, com características de cada local – em alguns só valem para museus, por exemplo.
Como muitas boas intenções, essa é outra que lota o inferno. Voltando à frase famosa, se não existe almoço grátis, tampouco há meia-entrada. Ela não passa de uma grande ilusão, mesmo para aqueles que têm direito a ela.
Tudo que existe de forma limitada tem um custo. Por isso, qualquer coisa que tenha demanda maior que a oferta ou que seja rara (como trufas brancas) é mais valiosa que as que despertam pouco interesse ou são abundantes (como o chuchu).
Um show artístico, por exemplo, tem um número limitado de ingressos. Quanto mais popular o artista, mais gente tem interesse em assisti-lo. Assim, uma apresentação do Roberto Carlos sempre terá ingresso mais caro que o couvert do cantor do barzinho.
Quando o produtor contrata um artista, leva em conta esse e outros fatores, como aluguel do espaço, taxas e impostos, segurança, energia, Ecad. Com todos esses dados, ele calcula o preço que vai cobrar pela entrada, de forma que banque as despesas e sobre o lucro almejado.
Supondo que esse cálculo precifique o ingresso ideal a R$ 30 e que metade do público seja de estudantes. Para atingir a média de R$ 30, o produtor terá de cobrar R$ 40 a inteira e R$ 20 a meia. Portanto, em relação ao preço ideal, a meia-entrada é só 33% mais em conta – e não 50%, como aparenta –, porcentual que será repassado para quem compra com tarifa cheia.
Assim, quem compra a inteira paga mais caro que poderia e quem compra meia está sendo iludido. Porque o produtor não perde dinheiro com a meia-entrada, ele simplesmente repassa para o público.
Outro problema é a universalização indiscriminada do benefício. Estudantes de renda alta acabam sendo subsidiados por trabalhadores de baixa renda. O garoto ou garota que estuda em uma escola cuja mensalidade é de R$ 1,5 mil, quando vai ao cinema, tem parte de seu lazer bancado pelo entregador de comida por aplicativo que fatura R$ 1 mil por mês (se tiver sorte) que por acaso conseguiu guardar uns caraminguás para assistir a um filme.
O benefício acaba tendo um efeito diverso ao que pretende. Ao longo dos anos, o preço dos ingressos em shows e nos cinemas subiu consideravelmente – é preciso admitir que não apenas por causa da meia-entrada, mas ela tem uma parte que lhe cabe nesse latifúndio. Assim, o estudante de baixa renda segue sem conseguir curtir um filme (especialmente com o fim dos cinemas de rua e concentrações nos shoppings) ou ver seu artista preferido de perto.
É bom lembrar, ainda, a explosão de carteirinhas de estudante falsas que passaram a circular desde que a meia-entrada se universalizou. Qualquer produtor sabe o quanto de gente que está há anos longe do banco da escola dá a carteirada na bilheteria.
Não é o caso de se acabar com a meia-entrada, pois ela tem, sim, uma razão de ser e uma função social. Mas é preciso discutir os critérios, levar em conta as características regionais, definir quem deve e quem não deve ter acesso, qual tipo de produto cultural deve ser abrangido. Falar em “acesso à cultura” soa genérico. Não se tem, por exemplo, meio-livro, meio pacote de Netflix ou meia assinatura do Spotfy – outras formas de se consumir cultura.
P.S: Tal discussão voltou à tona depois de um encontro entre produtores e artistas com o presidente Jair Bolsonaro. Nesse encontro, conforme noticiado, teria havido um pedido ao presidente para acabar com a meia-entrada. Quem participou da reunião nega e diz que houve distorção do que foi dito.
O que não deixou sombra de dúvida, novamente, foi o preconceito e a virulência das redes sociais. Preconceito em relação ao estilo musical dos artistas presentes, o sertanejo universitário, um “case de sucesso” da indústria cultural que deveria ser copiado. Virulência nos ataques baixos de sempre nas redes sociais.

Presidente tem realizado movimentos que desidratam o ministro, que aparece como possível presidenciável em um pleito que tende a reeleger a direta em 2022

Imbuído do discurso do Estado laico, esquerdistas se esquecem de que o segmento religioso que mais cresce no País tem direito de estar na arena política

Escolas estaduais goianas perderam 28 mil alunos em seis anos, a maior parte deles no ensino médio, segundo o Censo Escolar divulgado pelo Inep
Está em andamento, no âmbito da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), o processo que a pasta chama de reordenamento da rede. Trata-se da eliminação de algumas turmas, devolução de alunos da primeira fase do ensino fundamental às prefeituras e, em alguns casos, fechamento de escolas cuja demanda está muito aquém de sua capacidade.
Segundo a secretaria, 20 escolas foram fechadas para 2020. A secretária Fátima Gavioli disse, ao Jornal Opção, que o processo de fusão não elimina vagas e que o objetivo é “otimizar” o uso dos recursos públicos – enfim, algo que todo governo deve almejar. “Nenhuma criança ficará sem vagas”, afirmou.
Como é uma medida que mexe com milhares de pessoas, entre alunos, pais, professores e demais profissionais da educação, houve certo ruído nessas primeiras semanas de janeiro. De fato, a rotina de algumas dessas pessoas certamente será atingida.
Contudo, essa readequação não é novidade. Como a própria Gavioli afirmou ao Jornal Opção, é um processo natural feito ano a ano. Algumas escolas tradicionais deixaram de funcionar ou passaram a abrigar outras atividades. É o caso, por exemplo, do antigo Colégio Estadual José Carlos de Almeida, que fica na Rua 3, no Centro, em frente ao Jóquei Clube.
O colégio foi inaugurado em 1937, como o Grupo Escolar Modelo. Em 1974, ganhou o nome do ex-aluno José Carlos. Um prédio bonito, em estilo art déco, chegou a abrigar quase 3 mil estudantes. Em 2015, com a baixa demanda, encerrou esse ciclo. Depois de receber até mesmo mostra de decoração, passou a sediar o Conselho Estadual de Educação.
O reordenamento, portanto, não é uma novidade e segue uma lógica. A lotação tradicional de uma escola pública é de 40 alunos por sala. Ocorre, porém, que muitas turmas têm bem menos. Duas turmas de 20 alunos, por exemplo, demandam dois professores. Juntando as duas, basta um. Assim, o Estado gasta menos e racionaliza o gasto.
Claro que essa conta não pode ser tão fria. Alunos, especialmente do turno noturno, podem ter sua rotina prejudicada a ponto de ter de abandonar os estudos. A Seduc tem procurado, nesse reordenamento, garantir opções de escolas as mais próximas possível para mitigar esse efeito colateral altamente indesejável. Além disso, 20 escolas em um universo de mais de 1 mil é uma amostra relativamente pequena.
O Censo Escolar, divulgado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), comprova que a demanda pelas escolas estaduais está caindo ao longo dos anos. São vários fatores, mas o principal é que os pais têm se esforçado cada vez mais para colocar seus filhos em escolas particulares – ainda que existam escolas públicas melhores que algumas privadas, mesmo que essa não seja a regra geral.
Em Goiás, o Censo Escolar de 2013 mostra que havia 456 mil matriculados na rede estadual – o número exclui o ensino especial e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). O Censo de 2019, divulgado há poucas semanas, contabiliza 428 mil matrículas. São, portanto, 28 mil estudantes a menos, ou 6%.
No caso do ensino médio, a queda foi mais expressiva. De 213 mil alunos no Censo de 2013 para 192 mil no de 2019. Ou seja, quase 10% a menos. Houve aumento apenas nas matrículas na segunda fase do ensino fundamental: de 212 mil para 223 mil.
Por outro lado, historicamente o governo estadual tem assumido uma responsabilidade que não é sua: a primeira fase do ensino fundamental (do primeiro ao quinto ano). Essa etapa, assimo com a educação infantil, deve ser administrada pelas prefeituras, como determina a Constituição Federal.
No Censo de 2013, o Estado tinha 30 mil alunos na primeira etapa do ensino fundamental. No de 2019, 12 mil. Foi um recuo expressivo, mas ainda há muito aluno que não deveria nas mãos do governo estadual.
Mais uma vez, alerte-se de que essa conta não pode ser tão fria. Pessoas não são números. Por isso, a transição tem de ser paulatina, como tem sido. Há prefeituras que simplesmente não têm recursos para pagar essa conta. Mas, ao assumir mais alunos, os municípios passam a ter também direito a mais recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
A reordenação da rede estadual, portanto, é racional e obedece ao princípio da economicidade. Não tem sentido manter salas vazias, o que eleva o custo per capta do aluno, em um período de escassez de recursos. O que a Seduc não pode é se esquecer de dispensar todo esforço possível parar preservar ao máximo os alunos – que são o elo mais vulnerável de toda essa cadeia.

Está nas mãos do presidente Jair Bolsonaro a proposta que destina R$ 2 bilhões para as campanhas. Além disso, fundo partidário tem mais R$ 1 bilhão

Assim como o superministro de Jair Bolsonaro, a secretária da Economia de Goiás acredita em um Estado mais leve e em uma iniciativa privada menos atrelada aos cofres públicos
[caption id="attachment_228354" align="alignnone" width="620"] Guedes e Cristiane: os dois têm pensamentos semelhantes | Foto: Divulgação e Jornal Opção[/caption]
Em meio aos ruídos provocados pelo estilo de comunicação do presidente Jair Bolsonaro, uma área, em especial, tem trazido boas notícias para o governo. Com Paulo Guedes à frente, a economia tem migrado para um novo modelo, com foco em um Estado menos pesado e eliminação, ainda que gradativa, de amarras que sempre tornaram empreender um exercício hercúleo no Brasil. Aos poucos, o país tenta se descolar do capitalismo de Estado (em que até a iniciativa privada só sobrevive atrelada aos cofres públicos) para um capitalismo de fato – com todas as suas virtudes e contradições.
Alguns números começam a sinalizar que o país pode estar saindo do fundo do poço em que se meteu a partir de meados da década, fruto de um Estado perdulário e excessivamente centralizador nas questões econômicas – é bom frisar, contudo, que não existe economia 100% livre de governos que, afinal, em tese existem para garantir as condições básicas para todos e não só para os grandes empresários.
Na sexta-feira, 27, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou que a taxa de desemprego é a menor desde 2016. Tal como uma febre terçã, contudo, ela permanece incomodamente alta: ainda são 11,9 milhões de brasileiros sem trabalho. Mas isso significa 1,5 milhão de desempregados a menos que no início deste ano.
Há muitos analistas que apontam que esse crescimento é impulsionado pela informalidade. Essa é apenas parte da verdade. Ainda de acordo com o IBGE, o crescimento no número de postos de trabalho com carteira assinada foi de 1,1%. Parece pouco, mas é o melhor desempenho desde março de 2014.
Além da melhora na geração de emprego, o mercado tem dado outros sinais de recuperação. É o caso, por exemplo, das vendas no comércio. Este ano, o varejo teve o melhor Natal da metade final da década, com alta nas vendas de 9,5%. O resultado é significativo especialmente porque foi precedido pelo recorde histórico da Black Friday, que este ano movimentou R$ 3,2 bilhões, 23% a mais que no evento do ano passado.
Cercada de desconhecimento e preconceito, a alta na bolsa de valores, que chegou a 117 mil pontos (marca histórica) entra na lista de bons ventos na economia. Ao contrário do que muita gente pensa, esse movimento não beneficia somente os muito ricos, que têm dinheiro para investir em ações (na verdade, em mercados saudáveis, a bolsa é uma opção também para pequenos investidores). Quando a bolsa sobe, significa que há uma melhora na perspectiva de lucro das empresas. Melhora de lucro leva a mais investimentos. Mais investimentos geram mais empregos. E o ganho do acionista acaba beneficiando também o trabalhador.
É óbvio que a economia não tem trazido apenas boas notícias. Produtos básicos, como combustível, carne e gás de cozinha tiveram altas expressivas, pesando principalmente no bolso de quem tem renda menor. Contudo, a balança de 2019 pesa muito mais para o positivo que para o negativo, especialmente quando se olha para o retrovisor e se avista os terríveis cinco anos anteriores.
O que se vê no Brasil é um novo modo de pensar o Estado e a economia. Em entrevista recente na Central Globonews, o ministro Paulo Guedes revelou parte de como é esse pensamento. Um dos preceitos básicos é enfrentar o que ele chama de “torres do descontrole de gastos”. Duas delas, segundo o ministro, foram derrubadas com a reforma da Previdência e a diminuição no crescimento da dívida pública, que vai poupar R$ 100 bilhões em juros em 2020.
Dessa forma, dinheiro que iria para o pagamento de privilégios para certos setores do funcionalismo e para financiar os campeões nacionais – empresas que ganham bilhões anualmente – pode ser utilizado para políticas públicas.
A equipe econômica atacou, ainda, o mercado de crédito, diminuindo a participação dos bancos públicos (estancando a farta bolsa-empresário do BNDES) e induzindo o crédito privado. À Globonews, Guedes disse que, pela primeira vez, o mercado tem o setor privado como maior fonte de financiamento.
O ministro defende, ainda, um novo modelo de pacto federativo, em que municípios e Estados tenham mais recursos e autonomia em relação ao poder central. A distribuição dos royalties dos recursos do pré-sal se enquadra nessa nova perspectiva. É o que chamam de mais Brasil e menos Brasília.
O resumo do ideário de Guedes está em uma de suas frases ditas aos jornalistas: “O governo gasta muito e gasta mal”. Por isso, a necessidade de reformas profundas. A tributária deve ser a próxima – e talvez a mais importante para fazer a economia finalmente escapar de seus voos de galinha.
Compreender o que pensa Guedes é especialmente interessante para os goianos. Como é notório, a secretária da Economia de Goiás, Cristiane Schmidt, é próxima do ministro e, certamente, comunga de muitos dos seus princípios, o que não significa, nem de longe, que não tenha brilho e convicções próprias.
Ao contrário, assim com sua colega Ana Carla Abrão, que coincidentemente ocupou a mesma função em Goiás (quando a Secretaria da Economia era a Secretaria da Fazenda), tem formação e currículos sólidos. É experimentada tanto na iniciativa privada quanto no setor público. Sua trajetória profissional e seus posicionamentos diante da pasta que ocupa permitem vislumbrar uma liberal na acepção da palavra.
Por isso, ela tenta, aqui, implantar políticas econômicas semelhantes às que estão em andamento em Brasília. A repactuação dos incentivos fiscais, as mudanças no Estatuto do Servidor Público, a diminuição no número de servidores comissionados e a reforma da Previdência estadual entram nesse pacote.
Em entrevistas, Cristiane sempre deixou claro que, atualmente, o Estado está encapacitado de fazer o que é sua razão de ser: políticas públicas. Ela costuma usar uma analogia para retratar a situação atual, em que mais de 90% de todos os recursos são consumidos pelas despesas correntes, como folha de pagamento e pagamento da dívida. Nesse cenário, de acordo com a secretária, o governador torna-se uma espécie de gestor de Recursos Humanos.
Essas medidas têm o mesmo pano de fundo e são muito semelhantes às tomadas pelo governo federal: visam diminuir o peso do Estado e colocá-lo a serviço dos 7 milhões de goianos e não apenas de determinadas corporações ou segmentos.

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