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Uma das vítimas era uma empregada doméstica que não fez viagem ao exterior e que não teve a chance de desfrutar de benesses tecnológicas, como trabalhar home office

A confirmação das duas primeiras mortes pela Covid-19 no Brasil contribui para que o pânico se alastre tão rápido quanto o novo coronavírus (SARS-CoV-2). E coloca em xeque a estratégia governamental para atendimento aos doentes – especialmente daqueles que precisam da rede pública, bancada pelo Sistema Único de Saúde.

Uma das vítimas era empregada doméstica, tinha 63 anos e provavelmente contraiu a doença dos patrões. Apesar das recomendações das autoridades sanitárias de que, em casos assim, as pessoas infectadas devem se isolar, a mulher teve de continuar trabalhando, sem nenhum equipamento extra de proteção, conforme nota publicada pelo jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

A outra vítima, um porteiro aposentado, tinha 62 anos e não havia viajado ao exterior – o que comprova que a transmissão doméstica é uma realidade. Foi internado em um hospital de um plano de saúde, mas não integrava a lista de suspeitos. A família da vítima contou ao Globo que não tem conseguido se testar em hospitais do SUS, pois não têm plano de saúde. Alguns dos familiares relatam que estão sentindo sintomas compatíveis com a Covid-19.

Por enquanto, a maioria dos pacientes está sendo notificada em hospitais da rede privada. O Brasil não fará testes em massa, como fez a Coreia do Sul. Portanto, muitos casos escaparão das estatísticas oficiais, especialmente os que apresentam sintomas leves.

O governo federal e os governos estaduais estão mobilizados – e há pouco para se criticar nas ações até aqui. Mas uma explosão de casos certamente colocaria o SUS em colapso. Por isso, as medidas de isolamento e de toque de recolher são necessárias, ainda que pareçam exageradas.

A estratégia é diluir as infecções ao longo do tempo, permitindo que a rede de saúde atenda os casos mais graves. Na Itália, país ocidental mais atingido pela pandemia, os médicos já estão tendo de escolher quem atender.

No Brasil, a doença começou entre aqueles que podem (ou precisam) viajar ao exterior. Mas ela começa a chegar àqueles que nunca pisaram em um aeroporto para uma viagem internacional. E entre uma massa de trabalhadores que não desfruta das benesses da tecnologia, como o home office. É gente que tem de pegar ônibus lotado para ir trabalhar. E são eles os mais vulneráveis.