Por Irapuan Costa Junior
Espécie de Marilena Chauí da Igreja Católica, o “petista” ignora a existência do mensalão, mostra-se favorável a José Dirceu e não critica os malfeitos do PT
Se Dilma Rousseff cair, o que se tem à vista para sucedê-la não é nada animador ao País

[caption id="attachment_38738" align="alignnone" width="620"] Presidente Dilma Rousseff: uma fala que põe ministro em suspeição | Foto: Lula Marques[/caption]
Dois excelentes jornalistas e dois furos de reportagem:
Natuza Nery, da “Folha de S. Paulo”, em reportagem do dia 12 deste mês relata uma fantástica reunião de Dilma com auxiliares, a fina flor do petismo da antecâmara governamental: os ministros José Eduardo Cardozo, Edinho Silva e Aloizio Mercadante; e mais o assessor Giles Azevedo. Foi no dia 26 de junho passado, no Palácio da Alvorada. A presidente estava bastante autêntica nesse dia de espinafração geral, e pelo menos três frases merecem registro. Teriam sido ditas por uma Dilma furiosa, andando em círculos e gesticulando muito, e se referiam à delação de Ricardo Pessoa, da UTC, que é um dardo envenenado na direção da presidente:
-- “Eu não vou pagar pela m... dos outros!” – disse Dilma sem explicitar a quem se referia.
-- “Você não poderia ter pedido ao Teori para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação?” – fuzilou a presidente em direção a José Eduardo Cardozo.
-- “Cardozo, você f... minha viagem!” – mencionando sua ida aos EUA, ainda para o ministro da Justiça.
Comentários: a primeira afirmação e a última mostram que a presidente definitivamente não tem nível educacional nem serenidade para estar onde se encontra. A última demonstra de sobejo que José Eduardo Cardozo, tivesse um mínimo de dignidade, teria pedido demissão. A do meio levanta uma sombra de suspeita sobre um ministro do Supremo. Deixa-se Teori Zavaski levar pela presidente, tendo como menino de recados o ministro da Justiça? Isso tudo é Dilma em estado puro, na sua mais alta autenticidade.
Gerson Camarotti, da Globo, relata um estranho, para não dizer surreal, encontro ocorrido no Porto, em Portugal, no dia 7 deste mês, onde Dilma escalou em sua viagem para Ufá, na Rússia. Participantes do tête-à-tête: Dilma, Cardozo (sempre ele) e Lewandowski. Encontro que não constou da agenda de nenhuma das três autoridades, e que poderia (e deveria) ter-se realizado no Brasil, já que, segundo Cardozo, tratou do reajuste do Judiciário, votado pelo Congresso e em vias de ser vetado pela presidente. O encontro realizado assim, às escondidas, entre duas autoridades de um executivo na mira do Supremo, por várias acusações de corrupção na operação Lava Jato, e um ministro daquela corte, que no momento, além do mais a preside, muitas vezes acusado de simpatia pelo petismo, dá margem a muitas especulações.

Evo Morales se comporta de forma baixa com o Sumo Pontífice, como nem Fidel Castro ousou fazer

Último trabalho do historiador britânico é bom, mas não está à altura dos outros. O motivo: o objetivo de estudo

[caption id="attachment_38586" align="alignleft" width="620"] Gaston Paris: especialista em literatura francesa da Idade Média e quase Nobel de Literatura | Wikipédia Commons[/caption]
Tenho em mãos um livreto realmente curioso, que me foi remetido pelo advogado Mario Roriz, ávido leitor e intelectual por vocação. É um pequeno volume, editado pela livraria parisiense Hachette em 1895, há 120 anos, portanto. Tem o título de “Récits Extraits des Poètes et Prosateurs du Moyen Age”. Foi escrito por Bruno Paulin Gaston Paris (1839-1903), especialista em literatura francesa da Idade Média, membro da Academia Francesa e quase prêmio Nobel de Literatura (foi indicado pela Academia por três vezes, em 1901, 1902 e 1903).
O autor reúne no livro textos extraídos de três fontes francesas: poesias épicas dos séculos XI a XV, fábulas e contos dos séculos XII a XV e relatos históricos dos séculos XIII e XIV.
Gaston Paris abre a primeira parte, onde redigiu extratos de seis poemas épicos, com um resumo em prosa dos famosos versos decassílabos da “Canção de Rolando”, tido como o primeiro poema escrito em uma língua latina. A história do poema, abstraindo as proezas históricas que relata, é por si mesma interessante: foi escrito passados 200 anos das batalhas que descreve, logo, após longa reprodução oral das mesmas (o que acabou resultando em algumas imprecisões históricas), e tornou-se desde então parte do repertório dos trovadores e jograis europeus por outros 200 anos, servindo de estímulo a cavaleiros andantes, vassalos e nobres em preparo para batalhas, inclusive os cruzados, quando se dispunham a libertar Jerusalém.
Segundo os versos, cujo autor se desconhece, Rolando, lendário guerreiro, sobrinho de Carlos Magno e um dos 12 pares da França (ou da doce França, como se dizia na época), personagem principal da epopeia, é surpreendido por muçulmanos (embora quase certamente o tenha sido por camponeses bascos, e não islamitas) em Roncesvalles, Navarra, e é morto, após combater valentemente, quando os franceses se retiravam da Espanha, após o cerco de Saragoça, em 778 (ou em 802, pois há, aqui também, divergências).
Outro poema épico resumido por Gaston Paris é uma parte da “Canção de Guilherme”, também de autor desconhecido, tido como o maior poema da Idade Média, com seus 3 mil e 500 versos decassílabos, composto provavelmente em 1170. Conta as proezas guerreiras de Guilherme de Orange (chamado Guilherme do nariz curto, por ter perdido parte do ápice nasal num golpe de espada) contra os sarracenos (ou muçulmanos).
Também “A Iniciação de Percival” está resumida no livreto. Extraída do poema de Chrétien de Troyes, o mais célebre poeta da Idade Média (cerca de 1130-cerca de 1180), escrito em oito sílabas, rimando duas a duas, conta como Percival, filho do cavaleiro Pelinore, é levado pela mãe para retiro numa floresta, temerosa que o filho se torne cavaleiro e morra prematuramente, como o marido. Ocorre que Percival encontra na mata cinco cavaleiros, com seus trajes de gala e seus cavalos brilhantemente ajaezados e se maravilha. Acaba correndo à corte do Rei Arthur e se tornando um dos cavaleiros da Távola Redonda e auxiliar na busca do Santo Graal. A história-lenda é uma das mais conhecidas na Europa. Percival é o personagem Parsifal, da ópera homônima de Wagner e de outro poema, de autoria do poeta alemão Wolfram von Essenbach (1170-1220), que grafava Perzival.
Quanto aos contos e fábulas, Gaston Paris começa seu desfile com a história “Os três cegos de Compiégne”, que talvez o leitor já conheça, por ser um relato de humor negro muito difundido: conta como três cegos, que viajavam (a pé, naturalmente) de Compiégne para uma cidade vizinha são abordados por um rico seminarista, que simula dar como esmola uma moeda de ouro para eles, mas não o faz, ficando cada um certo que a moeda se encontra com um dos outros dois. O seminarista os segue para se divertir com as confusões que vêm daí. É o único conto conhecido de um poeta do século XIII, que tinha por nome Courtebarbe (barba curta), certamente bastante inteligente, a julgar pela criatividade do causo.
Boa parte das fábulas narradas por Gaston Paris são de autores anônimos e já compunham o folclore europeu quando foi feito o livro. Algumas foram extraídas do chamado Roman de Renard, livro de fábulas folclóricas onde os personagens principais são a astuta e bajuladora raposa Renard (nome próprio que passou a significar raposa em francês) e o obtuso lobo Insegrin, eterna vítima das espertezas de Renard.
La Fontaine reescreveu e apresentou como suas algumas fábulas desse livro, bem como algumas escritas por um monge franciscano inglês no início do século XIV, chamado Nicole Bozon. Bozon escrevia em francês, como era praxe entre os religiosos e outros eruditos ingleses da época. Gaston Paris, em seu livreto, mostra cinco fábulas escritas por Bozon e apropriadas por La Fontaine três séculos mais tarde: “A Repartição do Leão”; “Os animais Doentes de Peste”; “O Conselho dos Ratos”; “O Moleiro”, “O Filho e o Asno” e “A Leiteira e o Balde de Leite”. Contam-se entre as mais conhecidas de La Fontaine, e são por certo conhecidas do leitor.
A terceira parte do livro é puramente histórica, e relata sete episódios importantes para a época a que se referem (séculos XIII e XIV). O mais importante deles é “A Conquista de Constantinopla”, extraído de um livro escrito por um militar francês, Geoffroi de Villehardouin (1160-2012), e de uma crônica feita por um cruzado também francês, Robert de Clairi, que voltou à França em 2016, após a segunda tomada de Constantinopla. Relata as vicissitudes da quarta cruzada — a formada em 1199 — realizada pelos barões franceses. Conta as dificuldades de financiamento da expedição, principalmente para o pagamento dos venezianos para a travessia do Mediterrâneo até a Síria e as fraturas no grupo dirigente, além, é claro, dos combates. Para quem gosta de folclore e história, esse livrinho é um prato cheio.
O livro recente do historiador britânico Antony Beevor sobre uma ofensiva alemã, “Ardenas 1944 — A Última Aposta de Hitler” (Crítica), não está á altura de suas outras obras sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Beevor escreveu um excelente livro sobre Stalingrado, mas este seu último trabalho mais parece um relatório militar, feito por um oficial combatente, do que um relato de um historiador. A última ação ofensiva de Hitler mereceu do autor apenas uma narrativa bastante restrita no tempo, indo do início da ofensiva (15 de dezembro de 1944) até a sua cessação (25 de janeiro de 1945). Uma operação dessa envergadura começa antes de sua deflagração, pois envolve enormes preparativos de planejamento, mobilização de tropas e material, e ainda de informação e contrainformação. Também não termina no dia em que os atacantes são detidos, até porque alguns bolsões ainda resistem (nas Ardenas alguns grupamentos alemães combateram até 9 de fevereiro), e não começaram os contra-ataques. Há algumas omissões. O livro sequer menciona o nome do general paraquedista alemão Alfred Schlemm, por não ter feito parte da ofensiva. Contudo, esse oficial, encarregado de um setor defensivo na confluência dos rios Reno e Mosa, ofereceu severa resistência quando os americanos e ingleses passaram ao contra-ataque, no dia 8 de fevereiro, deixando preocupados os aliados. Tanto que no dizer de Eisenhower, Schlemm fez com que ele passasse “os piores 15 dias de minha vida”. Beevor também não menciona o fim de um dos principais chefes da ofensiva, o general Walter Model, que empurrado com suas tropas para o interior da Alemanha, matou-se em 16 de abril de 1945, pois acreditava que, se feito prisioneiro pelos americanos, por ter participado da invasão da União Soviética, seria entregue aos russos, que o enforcariam. Não estava, muito provavelmente, enganado. LEIA ENTREVISTA DE ANTONY BEEVOR NO LINK: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/antony-beevor-diz-que-leitor-tem-fascinio-pelos-horrores-da-segunda-guerra-mundial-38567/

[caption id="attachment_37373" align="alignright" width="620"] Quadro Premonição da Guerra civil, de Salvador Dalí[/caption]
O preenchimento da vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, pelo advogado Luís Edson Fachin, é um acabado exemplo de reductio ad absurdum, mas ainda assim aceito como normal e verdadeiro, e como tal estabelecido e acabado. Como seriam as novas escolhas de ministros do Supremo, no restante governo petista, se existissem? Façamos um exercício de impossível futurologia, pois a aprovação da PEC da Bengala, ao menos por enquanto, nos põe a salvo desses descalabros. Mas antes de dizer como seriam, digamos como deveriam ser.
O desejável, para uma escolha de ministro da mais alta corte nacional, seria que o posto perseguisse a personalidade, e não o contrário. O ideal seria que se buscasse, para o cargo, alguém que preenchesse os requisitos de competência e reputação, e não que se aceitasse a renhida disputa, que, de moto próprio, fazem os “companheiros” para alcançá-lo. Que se respeitasse, na íntegra, e cuidadosamente, o que está expresso na Constituição Federal, onde se lê: artigo 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de 11 ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
É no mínimo impróprio que alguém busque por si mesmo alcançar essa cadeira ministerial, pois essa disputa faz pensar em comprometimentos, trocas ou gratidões pouco apropriadas para quem vai exercer a mais alta função judicante que a nacionalidade comporta. Muito menos se há sofreguidão nessa busca. É constitucional, ainda, uma sabatina de avaliação pelo Senado, finda a qual pode a casa aprovar ou rejeitar o nome em exame. Embora nesse último caso particular de que falamos (de Luís Edson Fachin), o Senado tenha de fato realizado a sabatina de apreciação, ao longo dos anos ela tem sido pouco mais que uma encenação, feita apenas para cumprir uma formalidade a que se dá pouca importância, e o candidato sempre é aprovado sem mais delongas, mesmo quando, visivelmente, não atende ao que exige o artigo 101 da Constituição, como já aconteceu.
Vejamos então como, com toda a probabilidade, iria doravante se processar a escolha de um ministro do Supremo, dentro dos moldes organizacionais marxistas-petistas, pós-mensalão, pós Joaquim Barbosa e pós-petrolão, caso não surgisse em socorro de todos nós a PEC da Bengala.
Seriam selecionados, dentro da legião de simpatizantes do partido-mor governista, dos aficionados à doutrina de esquerda e dos antigos ou atuais prestadores de serviços ou de homenagens à agremiação partidária e seus chefes maiores, alguns nomes para exame. Essa seleção seria mais ou menos livre dentre os “companheiros”. Qualquer um, desde que de confiança do partido ou governo, poderia lembrar nomes (como Joaquim Barbosa foi uma lembrança de Frei Betto e uma homologação de Lula, e que, para tristeza de ambos e nossa alegria, colocou a Lei acima das conveniências e crenças partidárias e ideológicas), ou sugerir a si próprio. Alguns seriam descartados pela cúpula que escolhe (presidente mais dois ou três auxiliares mais próximos) e os restantes seriam levados a um processo de afunilamento. Então começariam a se movimentar os postulantes, buscando seus padrinhos, tanto mais importantes quanto mais próximos da Presidência, e com tanto mais açodamento quanto menos habilitados para a função. Ministro ou ex-ministros da Justiça, ex-presidentes da OAB, juízes federais ou ministros de outros tribunais superiores entrariam em cogitação, mas suas chances estariam intimamente ligadas não aos requisitos constitucionais, mas à ideologia. Ou mesmo a gratidões e compromissos que só poderiam ser murmurados, nunca falados em alto e bom som. Certa compreensão da imprensa para com o indicado seria desejável, mas não determinante. Alguns companheiros seriam designados para uma “avaliação” dos candidatos, como ocorreu, ou parece ter ocorrido, em casos anteriores. São pouquíssimos esses companheiros, e da mais estrita confiança. Afinal, teriam uma tarefa muito delicada pela frente. Seriam designados para ela dois ou três, no máximo.
Normalmente, um deles seria o ministro da Justiça. Não, leitor, não por ser o titular da pasta um luminar em Direito, apto a opinar com propriedade sobre o “notável saber jurídico” de que fala a Constituição. Ministros da Justiça, no governo petista, nunca se projetaram, nem minimamente, pelo saber jurídico, logo não possuem instrumentos para essa avaliação. Márcio Thomaz Bastos nunca foi um renomado professor de Direito, nem publicou qualquer alentado trabalho sobre o assunto, mas era um catedrático da astúcia, e nem sempre no bom sentido. Tarso Genro, na opinião de vários psicólogos que conheço, é um caso de internação. E na dos advogados amigos, uma nulidade em saber jurídico. José Eduardo Cardozo, também sem grande projeção na carreira que escolheu, se definiu como homem do Direito quando confessou que se mataria se fosse condenado a uma pena de prisão nas cadeias que estão sob sua responsabilidade.
A “companheiros” como esses seria cometida a tarefa de selecionar ministros da Suprema Corte, para nomeação presidencial. Se não têm saber jurídico que lhes permita avaliar saber jurídico, são todos da mais firme convicção esquerdista, e sabem conhecer um irmão de ideias. Aqui, com toda propriedade, pode-se aplicar nosso ditado caipira: um gambá cheira o outro.
Aliás, a pasta do Direito foi, desde o início dos governos petistas, um reduto das esquerdas mais retrógradas, o que custou ao país bilhões de reais em bolsa-ditadura, acolhimento de assassinos como asilados, extradição de inocentes para a ditadura cubana, desarmamento da população, aumento da violência e um tímido combate ao maior alimento dessa violência, o tráfico de drogas. Tráfico, aliás de responsabilidade de chefes de estado vizinhos, culpados, mas “companheiros”, logo desculpáveis.
Vamos em frente: outro “companheiro” encarregado do afunilamento nessa escolha de ministros, poderia ser, como tem sido, o advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, um petista de coração, cuja projeção no campo do Direito está na razão inversa da intensidade de sua crença na ideologia marxista. Grande autoridade! Ligado ao governo, ao que parece, atua em lobby junto ao Ministério da Justiça, pelas notícias da imprensa. Recentemente, surgiram notas de encontro de advogado de réus do petrolão com o ministro da Justiça, intermediado justamente por Sigmaringa Seixas, encontro não registrado na agenda ministerial. Estranho, para homens de tanta importância, esse escamoteamento de agenda.
Prossigamos: selecionado um nome, ou sugeridos dois à Presidência, caberia a ela decidir quem submeter ao Senado. Poderia não ser uma sumidade das letras jurídicas, da cátedra ou da tribuna, mas seria, sem dúvida, alguém ligado à “esquerda revolucionária”. Que não confirmaria de público, principalmente antes da sabatina no Senado, mas acharia válida a ação de banditismo do MST, por exemplo, veria com reservas propriedade privada e seria adepto do “politicamente correto”, ainda que ele atropele a Lei. Seria flexível em alguns julgamentos, adepto que também seria da teoria da culpa da sociedade nos delitos e do princípio de que “os fins justificam os meios”.
Esse escolhido faria, antes de tudo, uma visita ao presidente do Senado, com quem conversaria a portas fechadas e de quem pediria ajuda na sabatina e proteção nas votações. Não haveria constrangimento em saber que dormem nas gavetas do Supremo denúncias contra esse presidente, e que ele teria que emitir seu voto de condenação ou absolvição contra ele num futuro próximo. Como seria essa conversa? Nunca saberemos, como pouco ou nada saberemos, ainda, das conversas com os senadores, pois o candidato iria visitá-los todos, mesmo sabendo que vários estão com seus processos, alguns bem cabeludos, tramitando na corte que ele pretende integrar. Feita essa peregrinação, uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado seria o próximo passo. Algo cansativo, talvez, mas nada a temer.
O governo já teria ajeitado as coisas com sua maioria, atendendo alguns pedidos aqui e ali. E a oposição... ora, a oposição. Salvo pouquíssimos integrantes, seus membros seriam simpatizantes ideológicos, teriam lá seus interesses particulares, ou não estariam muito interessados na questão, para eles menor, de uma vaga no STF; poderiam ainda ser conterrâneos do candidato, e as questões paroquiais pesariam mais que as nacionais. Aprovado na Comissão, o nome iria a plenário. Nada de nervosismo. O último candidato rejeitado pelo Senado o foi em 1894, nos albores da República Velha, e lá se vão 120 anos. Também aqui, pois, nada a temer. Isso, caro leitor, o que poderia acontecer, se dado fosse ao petismo nomear ministros para outras vagas no Supremo Tribunal Federal.

Dados são “torcidos” para ilustrar uma situação diferente do que ocorre na realidade no Brasil

[caption id="attachment_34892" align="alignnone" width="620"] Rogério Peninha, deputado federal: seu projeto, contrário ao desarmamento, está sob ataque cerrado dos marxistas patropis, e com forte apoio de grupos internacionais Foto: Anderson Silveira/Agência Câmara[/caption]
Volta à baila a questão do “desarmamento da burguesia”, com a tramitação do Projeto de Lei n° 3722/2012, do bravo deputado Rogério Peninha, na Câmara dos Deputados.
Relembremos alguns fatos:
1) No final do ano passado, coincidindo com o final da legislatura, o PT e o governo federal, com grande esforço, conseguiram que não fosse votado o projeto do deputado Peninha, embora fosse ele o detentor do maior apoio popular entre os projetos, sobre os mais variados assuntos, em trâmite no Congresso. Contava-se com a não reeleição do deputado, o que seria a morte do projeto. Mas o parlamentar, felizmente, para quem preza a liberdade e o direito sagrado da legítima defesa, foi eleito mais uma vez, e bem eleito. Com isso, fez voltar seu projeto à pauta.
2) Longe de revogar o Estatuto do Desarmamento (o que, para o bem do País, já deveria ter sido feito), o projeto de que falamos defende apenas algumas modificações em exigências absurdas dele constantes (como a renovação, extremamente, difícil, cara e burocrática, a cada três anos, dos registros de armas) e atenuar a discricionariedade e a prepotência com que autoridades negam, hoje, o direito do cidadão brasileiro de adquirir e em alguns casos, ainda que poucos e justos, de portar sua arma. Note-se que hoje, mesmo legal, esse direito é sistematicamente negado pelo governo petista.
3) Pela condição atual do Estatuto, o cidadão, por mais honesto que seja, se por infelicidade se esquecer de renovar seu registro de arma, passa a ser um fora da lei, e é tratado, como já aconteceu várias vezes, como bandido, podendo amargar uma absurda e revoltante prisão.
4) A despeito de apenas introduzir modificações limitadas e racionais no Estatuto, petistas e assemelhados lutam encarniçadamente para derrotar o projeto, e contam com a ajuda da imprensa de uma maneira geral, cujas redações continuam simpáticas ao governo federal, apesar da incompetência e desonestidade deste. Destaca-se, por extraordinária, a cobertura da Rede Globo, francamente contra o projeto do deputado Peninha; o que não é, porém, novidade: a Globo já havia há tempos adotado essa atitude desarmamentista.
Todo o marxismo nacional já se movimenta, na tentativa de afundar o projeto do deputado Peninha. Afinal, é um tema caro para o stalinismo caboclo desarmar a população. Muito mais acalentado do que desarmar os bandidos. Afinal, uma população insatisfeita com os rumos do “bolivarianismo” nacional deve ser mantida totalmente inerme, já bastando sua manifestação via das panelas, que não há como coibir. Mas não duvidem. Possível fosse, eles já teriam proibido as panelas.
Diria mesmo que o único tema equivalente ao desarmamento, nos sonhos dos “comissários” nacionais, é o da censura à imprensa, já tentado várias vezes, mas ao contrário do desarmamento, outras tantas vezes frustrado. Como o leitor, seus familiares, e quase todos os de nossas relações pertencemos à odiada classe média, ou burguesia, no dizer dos filósofos petistas tipo Marilena Chaui, somos, ipso facto, componentes das “classes opressoras”, enquanto os assaltantes e traficantes pertencem às pobres “classes oprimidas”, a quem nunca o capitalismo deu qualquer chance na vida. A esses sábios não interessa saber porquê esses marginais não buscaram ou buscam uma atividade honesta. Afinal, isso não interessa ao projeto de “hegemonia” do PT. Dilma já tentava, na semana passada, esquecida de que é ateia, socorro da Igreja Católica para barrar dois projetos: o do deputado Peninha e o que altera a maioridade penal. E não nos esqueçamos: Fernando Henrique Cardoso e a cúpula do PSDB a apoiam em ambas as coisas.
Há, embora não sejam claros os objetivos, um grande interesse de alguns setores externos no desarmamento dos brasileiros. ONGs brasileiras, como a Viva Rio e a Sou da Paz, nunca esconderam que recebiam gordas verbas de fora para tentar nos desarmar aqui dentro. Em particular, esse véu de mistério sempre se estendeu sobre grandes entidades, que, inexplicavelmente, defendem os projetos da esquerda e muitas vezes da esquerda mais radical, dos países do Terceiro Mundo, embora aparentemente não tenham nenhuma razão para fazê-lo, como são os casos da Fundação Ford e das empresas do especulador internacional George Soros. O que não se pode negar é que sempre houve, da parte dessas entidades estranhas a nossos problemas internos, um derramamento enorme de dinheiro diretamente nessa questão do desarmamento.
Aos que se esforçam para tentar convencer os “companheiros” das desvantagens do desarmamento, com argumentos sólidos e estatísticas verdadeiras, vai nosso aviso: não percam tempo. A questão não é de lógica, é de ideologia. Os esquerdistas que têm um pouco de discernimento e defendem o desarmamento como ferramenta de combate à violência, sabem muito bem que estão brandindo falsos argumentos. Estão à vista de todos os resultados da política adotada nestes últimos dez anos.
Só com muito cinismo e muitas falsas ou distorcidas estatísticas para afirmar que o Estatuto do Desarmamento trouxe algum benefício, por mínimo que seja, para quem é honesto, correto, trabalhador. Os relatos dos assaltados, e todos nós conhecemos alguém próximo (quando não nós próprios) que sofreu esse abuso, mostram a confiança, a tranquilidade, o menoscabo com que agem hoje os bandidos, certos de que suas vítimas terão sido desarmadas pelo governo e será seguro depená-las.
Entre os mistérios dessa campanha estão inseridos os programas da Globo defendendo o desarmamento. As razões da gigante da comunicação são tão impenetráveis quanto os das entidades estrangeiras como a Fundação Ford. Mas suas manifestações são de uma parcialidade e uma dedicação a toda prova. O programa Globo News mostrou no mês passado uma reportagem focalizando uma loja fajuta em Nova York, patrocinada por uma dessas ONGs suspeitas, cuja finalidade era fazer com que um pretenso comprador de uma arma desistisse de fazê-lo.
O programa terminava com um apelo ao desarmamento, criticando o número exagerado (no entender da emissora) de armas em mãos dos cidadãos americanos, como um absurdo, potencialmente gerador de violência. Faltou a honestidade de um fecho indiscutível: embora os americanos estejam muitas vezes mais armados que os brasileiros, a violência por lá é cerca de seis vezes menor, por grupo de cem mil habitantes, do que por aqui.
A revista “Época”, do mesmo grupo empresarial, em seu número 881, do final do mês passado, trouxe uma reportagem abrigando uma entrevista do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, a favor do desarme, e do filósofo Denis Rosenfield, contra. Mas o editorial da revista quebra o pretenso equilíbrio, ao defender violentamente o desarmamento, com estatísticas sem confiabilidade e argumentos inconsistentes, e quase infantis.
Quem tiver acesso à reportagem verá a pobreza dos argumentos de José Mariano Beltrame, diante dos de Denis Rosenfield. Não é de se estranhar. Beltrame é de inspirar pena. É um cidadão honesto, mas que não tem noção do que faz. Há oito anos à frente da Secretaria de Segurança carioca, só vê a violência aumentar. A bela cidade é uma das mais inseguras do mundo, onde, mesmo nos bairros mais ricos e privilegiados, assaltos, arrastões e venda de drogas subiram a níveis assustadores. É uma das poucas metrópoles do mundo onde a marginalidade domina extensas áreas urbanas.
A política vitrine de Beltrame, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que a superficialidade carioca apontava no seu início como solução de todos os problemas de violência, mostrou-se, com o passar do tempo, apenas uma medida cara e inócua, que funcionou somente como jogada eleitoreira, resultando ao final em policiais acuados nas favelas, muitas vezes atacados e mortos, sem que houvesse desmantelamento de quadrilhas, prisão de bandidos, diminuição no tráfico ou queda no número de ocorrências violentas.
Beltrame em sua fala, defendendo o desarmamento do cidadão, se jacta das armas apreendidas, e fala até em fuzis e metralhadoras, na sua candura esquecido que essas armas nada têm a ver com as pessoas comuns, que só têm acesso a armas de pequeno calibre. Conta como grande feito ter recolhido os fuzis da Polícia Militar, para evitar disparos perigosos. Chega a ser ridícula a não percepção de que, assim, só conseguiu deixar a sua polícia ainda mais que já era, inferiorizada em relação aos traficantes super-armados que dominam os morros cariocas e estão se lixando para as UPPs. Deveria ter recolhido, isso sim, os fuzis do tráfico, mas cadê poder? Parecem uns pândegos, esses desarmamentistas, mas não o são. Zombam de nossos direitos. Brincam com nossas vidas.

Sob o Princípio da Multiplicação dos Efeitos, a situação do País em todos os níveis veio piorando desde os governos tucanos

Em franco processo de dissolução, o governo federal obriga os brasileiros a se preparem para uma dolorosa convivência com ele nos próximos três anos e meio

[caption id="attachment_31704" align="alignnone" width="620"] Stuttgart, a cidade berço do marxismo-leninismo é um desmentido cabal da teoria comunista como solução | Foto: Wikipédia Commons[/caption]
De Stuttgart: Se o leitor for religioso, poderá dizer que se trata de uma demonstração divina; se não o for, poderá afirmar que é uma ironia do destino. Nesta cidade no sudoeste alemão, capital do Estado de Baden-Württemberg, surgiu a aliança entre Karl Marx e Friedrich Engels. Aqui foi publicado o primeiro trabalho conjunto da dupla, “A Santa Família”, em 1845, um livreto filosófico-satírico dirigido contra os irmãos Bauer (Bruno e Edgar), divulgadores do pensamento de Hegel, muito em voga na época e na Alemanha.
Passaram-se mais de três anos até que surgisse o trabalho de maior impacto da dupla: “Manifesto do Partido Comunista”, impresso em Londres em 1848. Stuttgart foi, pode-se então dizer, o berço da cooperação dos dois teóricos comunistas, e aí surge a ironia do destino, o riso dos deuses, a manifestação divina.
Terminada a Segunda Guerra, a cidade, no lado alemão ocidental, não comunista, seriamente danificada pelos bombardeios aliados, foi completamente restaurada em menos de duas décadas, inclusive em seus monumentos e edificações históricas. Logo passou a ostentar elevada qualidade de vida, enquanto suas congêneres do lado alemão oriental, sob regime comunista, nem sequer conseguiam se livrar completamente dos escombros que a guerra havia deixado.
A renda per capita do habitante de Stuttgart era, uma década antes da queda do muro de Berlim, mais que duas vezes a de um habitante de Dresden, cidade do mesmo porte (meio milhão de habitantes) na Alemanha comunista. Isto para nos atermos ao menos importante, a economia, que só tem valor relativo perante as liberdades democráticas.
Em resumo, a cidade berço do marxismo-leninismo foi e é um desmentido cabal da teoria comunista como solução dos problemas econômicos e sociais da humanidade. O paraíso do proletariado sob o regime comunista nunca foi sequer vislumbrado em lugar algum onde se implantou a doutrina marxista.
Ao contrário, o que se viu foi sempre um nível de vida precário, com baixa opção material, algo bem próximo da fome e da miséria, e um sufoco brutal nas liberdades de conhecimento, de expressão, de ir e vir, como se constata até hoje nos regimes que ainda gastam o resto da herança comunista, como Cuba e Coreia do Norte.
Stuttgart, onde nasceu a cooperação de Marx e Engels, é hoje um dos maiores centros democráticos e capitalistas não só da Alemanha, como da Europa. O operariado aqui não só tem afluência material, como educação e cultura de primeira ordem, além da liberdade, com informação abundante para fazer suas opções políticas com segurança.
Se em algum lugar foi ouvida a conclamação do Manifesto Comunista: “Operários, uni-vos”, foi aqui na Alemanha, quando caiu o muro de Berlim, e a antiga RDA, a Alemanha Oriental, mostrou necessitar de ajuda para se erguer do descompasso que o regime comunista lhe havia imposto em relação à Alemanha capitalista, descompasso esse agravado pela devastação da Segunda Guerra, já superada na outra Alemanha.
As folhas de pagamento, no Estado e na iniciativa privada, no lado ocidental, sofreram cortes, e os recursos arrecadados do operariado democrático alemão foram dirigidos à reconstrução da parte infeliz do país, agora reunificado. Nenhum operário livre protestou por se ver obrigado a ajudar outro operário necessitado, por ter até ontem carregado nas costas o desastre comunista.
Os protestos só agora estão surgindo, com um argumento irrespondível: “Depois de mais de 20 anos, a antiga Alemanha Oriental já se recuperou, tem infraestrutura melhor até que a Ocidental, não há mais desemprego, então pode cessar a ajuda” — dizem os antigos alemães ocidentais, para os antigos alemães orientais.
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Karl Marx e Friedrich Engels, autores do “Manifesto do Partido Comunista: a ironia do destino quis que a cidade em que a obra foi elaborada tivesse o capitalismo como sua salvação | Fotos: Wikipédia Commons/[/caption]
Se algo foi compreendido e realizado para melhoria de vida do operariado, o foi na democracia, não no comunismo. Stuttgart é um exemplo (atenção, Marx e Engels!). Aqui, como se sabe, fica uma das mais expressivas indústrias da Alemanha, a fábrica central da Mercedes-Benz. Os resultados do ano passado, na empresa, foram excelentes. E os funcionários – todos, do presidente ao último operário da linha de montagem, receberam uma bonificação de 4.300 euros, algo como 15 mil reais ou 4,5 mil dólares, equivalente a dez anos de salário em Cuba. Se em algum regime o operário, que indiscutivelmente foi espoliado, usado, explorado durante e logo após a revolução industrial, viu sua libertação e experimentou crescente melhoria nas condições de vida, não foi sob o regime comunista, nem sob ditadura; foi na democracia e no capitalismo, e o demonstra, sem dúvida, a cidade-berço político e cultural do marxismo-leninismo, essa pujante Stuttgart. Aqui hoje está o que é talvez o maior canteiro de obras da Europa, a reforma da estação central de estrada de ferro e a ampliação do parque central de Schlössgarten, o que trará mais qualidade de vida para o homem comum da cidade, ele que já dispõe de invejável infraestrura urbana, onde se destaca o transporte público. Como diz Edgar Welzel, colaborador do Jornal Opção e residente em Stuttgart, num bairro aprazível fora do centro: “Para que usar meu carro para ir à parte central da cidade, se eu posso deixá-lo num dos estacionamentos fáceis de uma estação de metrô próximo a minha casa e usar esse excelente, barato e muito rápido meio de locomoção?”. Lição que precisamos – ou melhor, nossos homens e nossas mulheres públicas precisam, sem demora, aprender.
A cidade enfrenta alguns problemas externos, como o dos refugiados do leste europeu, que fogem dos conflitos que ainda se sucedem na antiga União Soviética. O número de abrigos públicos municipais teve que ser aumentado, para acolher essa leva de infortunados, famílias inteiras às vezes, que chegam como pedintes, até que encontrem uma ocupação qualquer. E nota-se, no alemão comum, principalmente nos mais velhos, como de resto nos demais europeus, uma preocupação muito grande, e justificável, com a possibilidade de ampliação desses conflitos regionais. Quem já passou por duas guerras mundiais, sabe melhor que ninguém da mortandade, da devastação, da fome e de todo o sofrimento e injustiça que acompanham esses acontecimentos. Por isso mesmo, um assunto presente por aqui é a guerra e a possível divisão da Ucrânia. Mais presente mesmo que os atentados e decapitações do Exército Islâmico. Não à-toa, a chanceler Ângela Merkel se empenhou a fundo, levando a tiracolo o acanhado presidente francês François Hollande, em convencer o autoritário presidente Vladmir Putin a aceitar um cessar fogo e a busca de uma solução negociada para a rachadura na Ucrânia.