Por Irapuan Costa Junior

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Se a sociedade não reagir, o governo Dilma vai aderir totalmente à Federação das Repúblicas Bolivarianas

[caption id="attachment_20858" align="alignright" width="620"]Rafael Correa, Evo Moraes, Nicolás Maduro e Dilma Rousseff: os presidentes do Equador, da Bolívia, da Venezuela e do Brasil querem implantar uma Federação das Repúblicas Bolivarianas | Fotos: Juan Madromata/AFP, Javier Soriano/AFP, Agência EFE e Roosewelt Pinheiro/ABR Rafael Correa, Evo Moraes, Nicolás Maduro e Dilma Rousseff: os presidentes do Equador, da Bolívia, da Venezuela e do Brasil querem implantar uma Federação das Repúblicas Bolivarianas | Fotos: Juan Madromata/AFP, Javier Soriano/AFP, Agência EFE e Roosewelt Pinheiro/ABR[/caption] O progresso do homem sobre a Terra começa pelo aprendizado da natureza, registrando fenômenos naturais úteis para o alimento e a proteção. No campo físico, aprendeu a dominar o fogo e a pedra lascada, 2 milhões de anos atrás; há 10 mil anos a pedra polida e há 3 mil os metais. Hoje, envia uma sonda a Marte, uma ação muito mais complexa, mas que apenas agrega um número incomensurável de experiências, que ele acumulou na evolução humana. No campo social, as coisas correm muito mais lentamente, para nossa infelicidade. O homem não acumulou, no mesmo grau, o que experimentou. O filósofo alemão Hegel dizia mesmo que povos e governos nada aprendiam com a história ou com a experiência. Há algum exagero. Foi também com a experiência que se conseguiram as melhores condições de governo, de convivência, de educação, de saúde, que hoje ostentam os países mais adiantados. O Brasil não está entre eles, e precisa de um modelo de sociedade, para escapar dos graves problemas que enfrenta nos campos social, político e econômico. Estudar as experiências alheias pode poupar o tempo que às vezes se perde com experiências próprias malsucedidas. Uma definição elementar em economia diz que os fatores de produção são terra, capital e trabalho. Não há teoria marxista que mostre algo diferente: é a lei da natureza. Populismo nunca enriqueceu nação nenhuma; o que enriquece é a produção. É saber juntar recursos naturais, capital e trabalho com eficiência e correção. O Brasil tem recursos naturais e força de trabalho. Capital sobra hoje no mundo, buscando segurança e rentabilidade. Se propiciarmos isso, vão sobrar aqui recursos para investir. O que falta para progredirmos, como tanto queremos? Antes de tudo, definir um modelo de organização pública e social, e não vou sugerir o dos EUA. Não quero deixar mais irritados do que já estão os esquerdistas fiéis que me leem. Nem mesmo vou sugerir o Canadá. Afinal, os canadenses têm muita parecença com os odiados americanos. Mas que tal a Alemanha? Ou a Suécia? Ainda não. A formação social destes países difere muito da nossa. Afinal, somos latinos. Fiquemos então com Itália ou França. Por que não debruçarmos sobre a estrutura de governo, o planejamento, a educação, a saúde, as leis, o judiciário, o funcionamento do legislativo, o sistema penal destes países? Por que não decifrar suas regras econômicas? Por que não estudá-los e saber o que podemos aproveitar? Mas tudo isso é para formular a pergunta de outra forma: o que pode nos ensinar o atual modelo político e econômico da Venezuela? Ou da Argentina? Ou ainda da Bolívia, da Guatemala, do Equador ou da Nicarágua, para não dizer de Cuba? Pois ao que parece esses são e serão, ao menos pelos próximos quatro anos, o nosso paradigma, em vez de França e Itália. Governo e PT marcham nesse rumo. Veem a Venezuela à frente da Itália, e a Bolívia, melhor que a França. Formou-se, na Amé­rica Latina, como que uma Fede­ra­ção das Repúblicas Bolivarianas, e o Brasil caminha para dela fazer parte. São duas as afirmações comprováveis: que se formou, ainda que informalmente, a FRB; e que o Brasil, por seu governo, quer entrar em sua composição, só não fazendo porque nossas instituições ainda reagem. Que esses países “bolivarianos” agem em uníssono, e obedecem à pauta do Foro de São Paulo, é desnecessário demonstrar. Basta ver a solidariedade entre eles e a unidade dos modelos: estatização da economia, domínio do Legislativo, submissão do Judiciário, reeleição indefinida de presidentes (para isso torcendo as constituições), censura econômica e institucional da imprensa, prisão de oposicionistas, ataque permanente aos EUA, solidariedade a ditaduras (principalmente Cuba). O Paraguai escapou quando apeou do poder o célebre bispo Fernando Lugo, e o Uruguai, seguindo a personalidade de seu presidente, não sabe se está ou não na FRB. Uma louvável exceção a esse estado de loucura institucional coletiva reside no Chile. Apesar da sucessão de governos de esquerda, os chilenos mantiveram as reformas na economia e na previdência que herdaram da ditadura. Conservam essas conquistas, endossam apenas na retórica o bolivarianismo, não embarcaram no furado Mercosul, preferindo a inteligência da Aliança do Pacífico. Não admira que vivam uma tranquila situação socioeconômica. Negar a existência, pois, ainda que não formal da Federação das Repúblicas Bolivarianas (FRB) não é só ignorância: é cinismo. Vamos à segunda afirmação: o Brasil, pela vontade da presidente Dilma Rousseff, do PT e principalmente do exército de “esquerdistas revolucionários” muito presentes no partido e no governo, está com um pé na FRB. É claro que boa parcela da imprensa, parte honesta e otimista, parte alinhada com o petismo por convicção ou ligada ao governo pelo dinheiro, procura negar essa verdade. Mas a estatização da economia sempre esteve na pauta petista. Foi preciso que se anunciasse um grande vexame na Copa, para que alguns aeroportos fossem privatizados, ainda que envergonhadamente. Tarso Genro, governando os gaúchos, reverteu a privatização das estradas estaduais, fazendo despencar sua qualidade e segurança. O Legislativo submeteu-se pelo dinheiro do Mensalão e agora do Petrolão. Tem sido muito obediente ao governo, nestes 12 anos. Aprovou quase tudo o que Lula e Dilma pretendiam e esvaziou as CPI mais incômodas. Rebelou-se (e aqui falo de nossas instituições mais fortes que as dos vizinhos) apenas em dois grandes temas, nos quais, se o governo e o PT tivessem logrado êxito, já faríamos parte da FRB: na censura à imprensa, tentada desde 2004, com a criação do Conselho Federal de Jornalismo, e na criação dos “conselhos populares”, versão verde e amarela dos sovietes que deram musculatura a Lênin. Mas não foi só a fortaleza das instituições que serviu de freio. O Congresso tem horror a duas coisas: perder poder (e teria que o cedê-lo aos “conselhos populares”, obviamente dirigidos por governo e PT) e desagradar a imprensa. O domínio do Judiciário é uma das metas evidentes do governo e do petismo. A preocupação cresceu após Joaquim Barbosa e o Mensa­lão. Um ministro do Supremo (Gil­mar Mendes) chegou a dar o alerta, com todas as letras: “Corremos o risco de uma corte bolivariana”. Não fala sem base. O nome mais falado para a vaga de Barbosa é o do ministro da Justiça, cuja credencial maior para o cargo reside no “companheirismo”. Não se pode esperar que o Senado venha a frear a indicação de “companheiros” para as próximas vagas, como esperam alguns, honestos e otimistas. O Senado nunca faz isso. Faria agora, dominado pelo governo? A reeleição indefinida ainda não se tentou por aqui. Nem mesmo o terceiro mandato, embora de certa forma Dilma tenha representado uma prorrogação dos mandatos lulistas. O PT não precisou do terceiro (e outros) mandatos ou ainda não se achou forte para esse teste em nossas instituições. Uma das facetas mais preocupantes do “bolivarianismo” está na censura à imprensa. Desde aquele longínquo 2004 em que se tentou criar o CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) até na semana passada, quando o PT emitiu uma nota que não esconde sua tendência totalitária, e a presidente reeleita manifestou seu apoio. Nessa nota o partido investe contra monopólios e oligopólios da imprensa, deixando claríssimo que pretende fazer aqui o que já se fez ou ainda se faz na Argentina, na Bolívia no Equador, na Venezuela. A nota só falta dizer com todas as letras que o PT vai fulminar a Rede Globo. Está claro nas legíveis entrelinhas. Tal nota muito se parece com aquelas saídas do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), e publicadas aqui no clandestino jornal “Voz Operária”, financiado por Moscou na Guerra Fria. Ainda não se prendem opositores no Brasil, mas são sempre sujeitos ao linchamento moral, com auxílio da imprensa alinhada. Os deputados Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro são exemplos, ainda que maciçamente vitoriosos nas urnas. Como eles, sofrem esse linchamento alguns jornalistas, por mais sérios e competentes que sejam como a apresentadora Rachel Sheherazade e os colunistas Demétrio Magnoli e Reinaldo Azevedo. Se o governo não prende (ainda) opositores, nem por isso deixa de se acumpliciar com os bolivarianos nesse crime. O senador boliviano Roger Pinto Molina que o diga. A solidariedade a ditaduras fica para outro dia. É assunto enorme, até porque se liga à solidariedade com os próprios “bolivarianos”, para quem o governo petista tem entregado boa parte dos recursos pagos em impostos pelo povo brasileiro. Não podemos nos descuidar. Totalitaristas sempre se valeram de confiantes e otimistas. E os “bolivarianos” já nos veem como sócios do clube. Encorajado pela simpatia brasileira, um ministro venezuelano aqui esteve dias atrás estabelecendo parceria com os marginais do MST, para “ações revolucionárias”, sem sequer contato com o Itamaraty. Naturalmente, já se julga em casa. Afastemo-nos enquanto é tempo do” bolivarianismo”. Como diz o jornalista Ruy Fabiano, “nada temos com Simón Bolivar, que é herói de outro mundo, forjado numa mitologia política que não nos diz respeito”.

Governo rejeita PEC da Bengala porque quer controlar Justiça

[caption id="attachment_20256" align="alignright" width="120"]Foto: Fellipe Sampaio/ SCO/STF Gilmar Mendes: um nome que sinaliza para um Supremo independente (Foto: Fellipe Sampaio/ SCO/STF)[/caption] Surgiu a notícia de que ministros dos tribunais superiores estariam se movimentando para a aprovação do projeto de emenda constitucional que altera a idade de aposentadoria compulsória dos magistrados, de 70 para 75 anos. A chamada PEC da Bengala (PEC 475/2005), de autoria do senador Pedro Simon, aprovada no Senado em 2005, dorme em alguma gaveta da Câmara dos Deputados, pela vontade que tem o governo de nomear novos ministros, principalmente os do Supremo Tribunal Federal. Motorizam a movimentação dos ministros três razões: uma política, e louvável, uma natural, e indiscutível, e uma pessoal, e compreensível. A razão política seria a de impedir que o governo, vale dizer, o PT, aparelhe por completo a Suprema Corte e demais tribunais superiores, fazendo com que eles diminuam sua importância e respeitabilidade, com a designação de ministros escolhidos mais por critérios políticos do que éticos e jurídicos. A razão louvável: o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, deu no dia 3 deste mês surpreendente e esclarecedora entrevista a respeito. A razão natural seria ligada ao aumento da expectativa de vida, que saltou nos últimos anos. A Constituição de 1934, que introduziu a aposentadoria compulsória para o servidor público, falava em 75 anos. A expectativa de vida no Brasil era em volta dos 45 anos. A Constituição de 1937, quando a expectativa de vida estava no mesmo patamar, baixou a idade máxima no serviço público para 68 anos. A Constituição de 1946 (quando a expectativa de vida ainda andava na casa dos 40 anos) a fixou em 70 anos, número que ainda hoje vigora. Agora, o brasileiro vive em média 73 anos. É indiscutível, pois, que os limites fixados em lei para aposentadoria involuntária estão arcaicos. Devem ser revistos. E existe por fim a razão pessoal, compreensível: é a de que estes magistrados, sentindo-se vigorosos, lúcidos e úteis, relutam em uma retirada que, se por um lado os remunera no ócio, permitindo até que tenham outra atividade, por outro lado traz um sentimento de inutilidade e desimportância.

Tarso Genro perdeu porque juntou o tolo e o malvado de que falava Anatole France

­­ O governador gaúcho, Tarso Genro (PT), conseguiu realizar a fa­çanha de não se reeleger. Perdeu feio para José Ivo Sartori, do PMDB. Não é tarefa fácil perder uma reeleição majoritária. Um governador ou presidente que se lance numa reeleição leva uma vantagem tão grande de exposição, de meios, de contribuições, de apoios forçados ou não, quando não de temores, que demonstra uma incompetência monstruosa quem não se reelege. Até Dilma Rousseff conseguiu se reeleger. Mas Tarso Genro não. [caption id="attachment_20261" align="aligncenter" width="300"]Tarso Genro e Anatole France: o escritor francês de alguma forma explica o derrotado governador Rio Grande do Sul (Guilherme Santos/ UPPRS / Wilhelm Benque) Tarso Genro e Anatole France: o escritor francês de alguma forma explica o derrotado governador Rio Grande do Sul (Guilherme Santos/ UPPRS / Wilhelm Benque)[/caption] Tarso Genro me faz sempre lembrar Anatole France, com sua afirmação de que o tolo é mais maléfico que o malvado, pois o malvado às vezes descansa, mas o tolo está 24 horas por dia a postos para cometer uma tolice. A incompetência de Tarso Genro em se reeleger vem do fato de ser pior que o malvado e ainda pior que o tolo, por juntar os dois atributos. Prova da malvadeza ele deu ao entregar a Fidel Castro dois esportistas cubanos exilados no Brasil. Tarso fez isso quando ministro da Justiça, em 2007. Tolice ele fez no mesmo cargo, ao dar refúgio ao terrorista e assassino italiano Cesare Battisti. Muitas tolices terá feito no governo gaúcho, como a de reestatizar estradas, que privatizadas eram excelentes. Não terá sido por nada que os gaúchos correram com ele. Tarso Genro garante que não mais se candidatará e que não aceitará cargo no governo Dilma Rousseff. Não creio. Seria bom demais para ser verdade. Dizem que torce por uma vaga no STF.

Com Dilma reeleita, ressurge a crise gigante do Brasil

Existem de fato dois Brasis. Um que Lula da Silva (PT) garante ter descoberto e que o ventríloquo da presidente, João Santana, aperfeiçoou. É o Brasil maravilhoso, das obras concluídas e funcionando, da saúde e educação normais, baixa violência, onde a corrupção é apenas uma maldosa invenção da revista “Veja”, e onde o governo conduz com imensa eficiência a economia, mesmo atacada pela “crise externa”. O outro Brasil, o real onde realmente vivemos, mostra sua cara imediatamente após as eleições: os juros sobem, o déficit público é o maior da história, a balança comercial degringola e o PIB persegue o zero. E esperem o tarifaço para combustíveis, energia elétrica, etc. Mas pelo menos o “decreto bolivariano” que espírito terrorista redivivo da presidente exumou vai para o lixo. A corrupção inexistente, inventada pela imprensa golpista parece ter assustado um petista graúdo: O “inocente” José Vaccari Netto, substituto de Delúbio Soares na tesouraria do PT, está se afastando do conselho de Itaipu, uma sinecura de milhares de reais por mês. Inocente como se diz, nas roubalheiras da Petrobrás, apoiado pela presidente, deveria ter se mantido no cargo. Sérgio Machado, presidente da Transpetro, também sai. Exigência dos auditores independentes.

Lula e a presidente Dilma Rousseff não querem saber dos que lutaram contra o nazismo

Houve, sem qualquer apoio da grande imprensa, no dia 31 de ou­tu­bro passado, uma solenidade comemorativa dos 70 anos do envio da Força Expedicio­nária Brasilei­ra (FEB) à Itália. Aconteceu no Monu­mento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Única força sul-americana a participar do combate ao nazismo, era talvez a menos preparada e equipada para uma guerra, de todas as que compunham as tropas aliadas. Além disso, lutava num clima totalmente diverso daquele que conhecia. Contudo, cumpriu seu dever, realizou todas as tarefas que lhe foram confiadas. Ombreou com o exército mais rico e bem aparelhado que existia — o dos EUA — e lutou contra o mais fanático e de melhor armamento no mundo, o alemão. Olhados com desconfiança pelos americanos e ingleses a princípio, vistos como caipiras, os brasileiros haviam se tornado soldados e oficiais respeitados quando a guerra acabou. Nas comemorações pelos 60 anos do fim da guerra, na Norman­dia, em 2005, o governo brasileiro, isto é, Lula da Silva, não compareceu. Na cerimônia da semana passada, ao que parece, não compareceram nem Dilma Rousseff, nem Celso Amorim, ministro da Defesa, nem Enzo Perri, comandante do Exército. Um tapa na cara dos 25.334 brasileiros que lutaram na Europa, e uma cusparada nos 467 que morreram em combate e foram enterrados em Pistóia.

Ditadura de Rafael Correia inspira Dilma Rousseff?

Para a presidente Dilma Rous­seff, Marco Aurélio Garcia e Rui Falcão, é de matar de inveja. Rafael Correa, o ditadorzinho do Equa­dor, tem sua ditadura praticamente consolidada nesta semana, sempre usando a democracia para chegar lá. Paulatinamente aparelhou o Judiciário, até torná-lo obediente às suas ordens. Perseguiu a oposição até fazê-la, usando sua própria falta de combatividade, inexpressiva. Rafael Correa dominou totalmente o Legislativo. Perseguiu a imprensa livre, faliu empresas de comunicação e tornou todo o sistema equatoriano de divulgação em uma imprensa oficial. Elegeu-se, reelegeu-se e conseguiu torcer a constituição para um terceiro mandato. Agora, tal como na Venezuela, está prestes a alterar novamente a constituição, permitindo a reeleição sem limites.

Se indicar Jaques Wagner, Dilma Rousseff sugere que não quer recuperar a Petrobrás

Brasília está grávida do rumor de que Jaques Wagner será o novo presidente da Petrobrás. A ser verdade, nossa governanta será mais teimosa do que aparenta, e ainda mais do que contam seus auxiliares mais próximos, sujeitos às suas constantes trovoadas. Não terá ela nada aprendido de bom como nada terá esquecido de ruim de seu passado a serviço de Marx. Jaques Wagner tem exatamente o perfil oposto àquele que a Petrobrás de hoje, cambaleante, roubada, descapitalizada, mal gerida, exige. A Petrobrás precisa de um técnico competente, conhecedor do setor petrolífero, e não de um político-sindicalista, como é o ex-governador da Bahia. Afinal, foram dois político-sindicalistas que geriram (?) no passado a empresa, e foi em sua gestão que ela desceu ladeira abaixo: José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli. A Petrobrás está a pedir alguém atuante, dinâmico, e não dizem isso de Jaques Wagner. Sequer terminou seu curso de engenharia, que abandonou pelo meio, e no governo da Bahia ficou famoso pelas vezes que viajou para fora do Estado, para o exterior inclusive. Finalmente, o novo presidente há que exibir uma honestidade exemplar e cobrá-la dos companheiros de direção. Nesse quesito não ouvi restrições a Jaques Wagner. Mas não seria o suficiente. Eu diria mesmo que a presidência da empresa, se a presidente Dilma Rousseff quiser que ela ganhe a confiança indispensável para enfrentar os desafios administrativos, policiais e econômicos que estão por vir, não poderia ser entregue a um político. Muito menos a um político “companheiro” e próximo dos ameaçados de comparecer em breve ao interior das prisões.

Segundo mandato de Dilma pode ficar marcado pelo bolivarismo e pelo controle da imprensa

[caption id="attachment_19581" align="alignleft" width="620"]Dilma Rousseff e Hugo Chávez: será que a presidente quer ficar na história como a herdeira brasileira do político venezuelano? / Fotos: Roberto Stuckert Filho/PR / Reuters Dilma Rousseff e Hugo Chávez: será que a presidente quer ficar na história como a herdeira brasileira do político venezuelano? / Fotos: Roberto Stuckert Filho/PR / Reuters[/caption] Certezas e incertezas das eleições: A primeira, maior e indiscutível certeza é a da vitória da presidente Dilma Rousseff (PT). Nas democracias não há discussão que se sobreponha à matemática dos votos, nem há terceiro turno. Ponto. Gostemos ou não (eu, particularmente, não gosto) teremos mais quatro anos com a mesma governante (ou governanta, como ela preferiria). Desista quem fala em impeachment, e daqui a pouco digo por quê. Outra certeza é a de que o processo eleitoral, em alguns pontos, não foi positivo para o País. Nisso também há pouco que discutir, mesmo porque alguns dos malefícios desse processo não foram uma novidade. Fazem parte de um processo maior, mais antigo e voluntário de clivagem social, que acirrou divergências indevidas. Ricos (as elites) contra pobres, negros contra brancos, homossexuais contra heterossexuais, esquerda radical contra Forças Armadas, “progressistas” contra conservadores, muitas vezes caracterizados como “direita raivosa”, nordestinos contra sulistas, os ditos “sem terra” contra fazendeiros, políticos e militância partidária contra a imprensa livre e até contra jornalistas pessoalmente. É certo que esse processo não traz vantagem alguma para o País, embora traga inegáveis lucros eleitorais para o PT, e produza alguns dividendos ideológicos. Alguém no governo deve ter percebido o exagero, tanto que no discurso de vitória, Dilma Rousseff falou em “união” e “diálogo”, palavras de que ela não gosta. Então, não é certeza se falou para valer. Surgiram na campanha malefícios novos, com a extrapolação da marquetagem divulgando inverdades (o candidato de oposição vai baixar o salário mínimo e retirar os benefícios sociais...) e com o uso da máquina pública. Com certeza influíram na votação. Abrindo um parêntese, muito dificilmente um candidato majoritário à reeleição perde, e não é só no Brasil. O peso do cargo, a exposição que ele proporciona e as facilidades que oferece dão ao candidato chapa-branca uma dianteira que só mesmo uma grossa incompetência própria poderia anular. Se há o uso ilegal da máquina pública, então, é quase um milagre a anulação dessa dianteira. No caso presente, chegou a desenhar-se a anulação, mas não se efetivou. É certo que reeleição desequilibra uma disputa. Mas quem perde não se pode queixar, pois é do processo, e perder também significa, quase que certamente, falta de competência. Otto von Bismarck (1815-1898), político alemão, identificava as campanhas políticas com as batalhas, e dizia que deviam ser enfrentadas com ferro e sangue, e não com festas e canções. Carl von Clausewitz (1780-1831), guerreiro, dizia que a guerra era uma extensão da política e que na guerra cada um dos contendores impunha ao outro suas próprias leis. Certamente, Dilma Rousseff (ou melhor, João Santana) impôs sua lei a Aécio Neves (PSDB), mas ele não soube impor a sua a Dilma Rousseff, ou não a tinha. Outra certeza é de que virão tremores de terra na área política. As delações premiadas vão acabar pondo a descoberto e provando o que todos sabíamos: há um concubinato degenerado entre grandes empreiteiras e empresas estatais (e outros órgãos do governo) para a amamentar uma prole, sempre chorando de fome, de membros do Executivo e do Legislativo. Com dinheiro público roubado, é mais que certo. Esses tremores devem engolir alguns mandatos legislativos e manchar alguns emproados executivos. Mas não provocarão um impeachment presidencial, ao contrário do que se afirma por aí. O Supremo Tribunal Federal não é o mesmo dos tempos de Fernando Collor, e Joaquim Barbosa se aposentou. Além disso, vêm aí mais nomeações petistas para a Corte, e o critério moderno, isto é, de Fernando Henrique para cá, não é propriamente o de competência e independência. Seria mais o da segurança. Outra certeza: reforça-se, com a eleição de Dilma Rousseff, uma entidade que não existe em nenhum convênio escrito (talvez menção em alguma ata oculta do Foro de São Paulo), mas que é assustadoramente real: a Federação das Repúblicas Bolivarianas (FRB). Só numa federação de repúblicas com sólidas ligações econômico-político-ideológicas se ignoram fronteiras no aplicar capitais, ou desfechar ações políticas: a Venezuela de Hugo Chávez enviou dinheiro para eleger Cristina Kirchner na Argentina, e deu petróleo de graça para Cuba. O Brasil abrigou Manuel Zelaya em sua embaixada em Honduras para que tentasse uma guerra civil, e ainda mandou capital para obras em Cuba, na Bolívia e no Equador, embora a poupança interna seja baixa por aqui. Não há protesto quando um dos governos da “federação” incentiva o cultivo de drogas, como faz a Bolívia, que vão desgraçar os membros vizinhos. As nações federadas se fecham em inexpressivo e complicado comércio entre si, quando poderiam abri-lo para o primeiro mundo, como faz a Aliança do Pacífico. Certamente, só com a derrota de Dilma Rousseff poder-se-ia arrancar o Brasil dessa federação, onde cada dia mais se encaixa. Hoje mesmo, no calor da vitória, a presidente prega um plebiscito para a reforma política e volta a falar em controle da mídia, o que embute os maiores desejos de nos fazer totalmente bolivarianos. Não alinho entre as certezas a de que haverá grande piora econômica. A demissão com aviso prévio do titular do Ministério da Fazenda dá a entender que a governanta, em que pese sua teimosia, percebeu que terá que adotar algumas mudanças. Entre elas a de nomear alguém competente e que inspire confiança em quem produz. Se eu estiver enganado, pois essa não é uma certeza, que Deus nos proteja. Responsabilidade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante precisam voltar à ordem do dia. Se por um lado Dilma Rousseff percebeu que algo deve mudar, é certo que a mudança será limitada. Já numa de suas primeiras entrevistas, concedida à Rede Record após a eleição, demonstrou que não mudou, e a urbanidade ainda nela não penetrou. Tratou rispidamente a eficiente repórter Adriana Araújo e fez um discurso tardia e inutilmente eleitoreiro. Na sua linguagem confusa, tentou culpar a imprensa por sua derrota em São Paulo. Outra certeza: é com educação, renda e informação que se fazem eleitores capazes de escolher governantes melhores e de avaliar as vantagens da alternância dos governos. Eleitores que saibam o que acontece e almejem, por discernimento próprio, que algo melhor venha a acontecer. Eleitores que possam eleger quem dê ao País o que sua potencialidade pede. Eleitores que valorizem as verdadeiras conquistas sociais e econômicas, e não se deixem enganar pelo populismo. Basta ver o mapa de votações para confirmar essa certeza.

Hugo Chávez ensinou a usar de forma viciosa as empresas estatais

Uma das lições que Hugo Chávez deixou para os “companheiros” sul-americanos foi a de como usar viciosamente as empresas estatais. Como a Venezuela vive exclusivamente do petróleo — essa sua única, e muito mal administrada riqueza —, e quem cuida dele é uma empresa estatal, ela se prestou, e se presta ainda, a desvios e roubos. No caso venezuelano, porque o dinheiro está quase todo ali, e como, mesmo nas semiditaduras, é mais fácil roubar uma empresa do que a administração centralizada, foi a PDVSA (Petróleos de Venezuela Sociedad Anonima), a Petrobrás lá dele, que Chávez usou nos seus desmandos. No rumoroso caso da apreensão de quase 1 milhão de dólares enviados por Chávez para a eleição de Cristina Kirchner, em agosto de 2007, o avião usado era fretado pela petroleira argentina Enarsa, e os portadores da pecúnia, funcionários da PSDVA. Como se lembram os leitores, um zeloso funcionário da alfândega argentina descobriu e apreendeu o dinheiro, o que resultou em escândalo. A despeito disso, Cristina foi eleita, certamente com outras ajudas de Hugo Chávez. Foi da PDVSA, também, o avião que buscou clandestinamente no Brasil os pugilistas cubanos fugitivos, que Tarso Genro entregou a Fidel Castro, em 2007. Em julho de 2008, a imprensa internacional denunciou o uso de um avião da PDVSA para transportar guerrilheiros das Farc para a Nicarágua, onde tiveram encontro com Daniel Ortega. A PDVSA empresta três aviões para Raul Castro, entre eles um Falcon 900, prefixo YV2053, um dos jatos executivos mais luxuosos do mundo. No ano de 2013, “desapareceram” na contabilidade da empresa cerca de 3 bilhões de dólares, segundo a auditora KPMG. l

A arte de recuperar o tempo perdido pela memória

[caption id="attachment_18944" align="alignnone" width="620"]Foto: O grito, de Edvard Munch Foto: O grito, de Edvard Munch[/caption] Dizia o cartaz, na portaria: “Aluga-se o apartamento de número 614 neste prédio”. Sem hesitação, ele entrou e disse ao porteiro, apontando para o anúncio: “Quero vê-lo”. “Vou mostrar ao senhor”, disse o gordo — pois era gordo, homem —, tomando da gaveta um molho de chaves. Elevador. Sexto andar. “Faz favor”, disse o porteiro, cedendo a passagem. Ele saiu pelo corredor de muitas portas. Caminhou seguro, até que parou em frente a uma delas. Não precisava olhar os números para parar em frente àquela, que marcava: 614. Esperou que o porteiro a abrisse. Entraram na pequena habitação: uma sala e um quarto conjugados, um banheiro, uma cozinha. Os cômodos pareciam um pouco menores, mas eram eles mesmos. Procurou o armário barato, que ficava no canto da sala. Não estava ali, mas ele podia vê-lo com exatidão: sua madeira clara, as quinas arredondadas, o espelho manchado nos cantos e a porta que não fechava bem, deixando perceber nos cabides baratos as roupas simples de estudantes. Viu também os três sofás-camas de ocasião, com seus forros desbotados, lugares de sono e repouso que só vinham a altas horas, depois de muito tempo de estudo. Viu-os, embora não estivessem ali. Viu também o lençol, a coberta fina e o cobertor sapeca-negrinha que ficavam dobrados no pé de cada sofá, sob o travesseiro: era uma regra da república cada um dobrar os seus pela manhã, ao levantar. Via tudo, como vira tantas e tantas vezes, ao entrar no fim do dia, cansado das aulas e do trabalho como estagiário. Ganhava pouco, mas valia. Podia complementar a mesada que o pai, com grande dificuldade, lhe mandava, religiosamente, sempre no primeiro dia do mês. E aprendia na prática os rudimentos da futura profissão. O banheiro em nada havia mudado. Ali estava a banheira que ficava sempre cheia, para atender às mínimas necessidades, nas constantes faltas de água. Lá estava também o chuveiro, onde aplicavam um bom banho frio, quando algum deles se excedia na bebida e chegava turbulento, perturbando os outros, que estudavam para as provas na faculdade. O armário de plástico na parede de azulejos brancos ainda era o mesmo — ou teria sido trocado por outro mais novo, porém idêntico? Teve a impressão de que, se o abrisse, lá estariam três escovas de dentes e os apetrechos de barbear, com que raspavam, solene e orgulhosamente, os pelos das barbas ralas recém-aparecidas e os quase imperceptíveis bigodes. O pequeno basculante do banheiro não havia sido mudado, mas estava pintado de novo e os vidros, antes lisos, agora eram canelados. Era o basculante pelo qual, à noite, luzes apagadas, revezando-se, espreitavam as incautas vizinhas que trocavam de roupa nos apartamentos da testada em frente. Lembrou-se que uma delas, a de formas mais apetitosas, era Mara, corista daquele teatro da Praça Tiradentes. A persiana do quarto, de correr, da enorme e única janela que dava para o pátio, parecia apenas mais velha, e mesmo sem movê-la, podia ouvir o ruído que fazia, quando corria nos trilhos pouco lubrificados. O pátio embaixo estava igual, com suas plantas que sempre pareciam tristes, por pouco cuidadas. Mas um paredão de cada lado mostrava que as duas vetustas casas dos terrenos vizinhos tinham sido sequestradas por outros prédios, tão altos quanto aquele onde estava. Olhando em volta do apartamento — ou da república de estudantes que fora um dia —, viu a estante de cerejeira, e nas prateleiras os retratos das namoradas, o despertador a corda, os livros, e, sobre o forro de crochê que a mãe havia tecido, o rádio de válvulas. Nele ouviam a Rádio Nacional, e entre outros programas, o “Repórter Esso” e as “Músicas na Passarela”. Este último era o preferido: as músicas suaves não tiravam a concentração, enquanto estudavam. A estante, haviam-na comprado por uma ninharia, numa daquelas lojas de móveis da Rua do Catete, mas tiveram que juntar os restos das mesadas dos três, para pagá-la. O rádio — quase podia ouvi-lo, com sua incurável estática — havia sido presenteado pelo pai do mais remediado do trio. Estante e objetos estavam lá, absolutamente nítidos, embora ninguém mais, além dele, pudesse vê-los. Abriu a porta da pequena, para não dizer minúscula cozinha, e imediatamente viu, embora há muitos anos tivessem saído dali, a mesinha e a cadeira de compensado que ele usava para estudar em maior isolamento. Sobre a mesinha, o abajur de latão pintado e a lâmpada azulada — chamava-se luz solar, e diziam que poupava os olhos —, as folhas de papel almaço, a régua, o esquadro, o compasso e a caneta Bic. Na pequena pia também não estavam, embora ele pudesse vê-los com nitidez, o filtro de barro e a cafeteira italiana, que o padrinho, um médico de posses, lhe dera. Nela era fácil e rápido fazer um café para espantar o sono, quando ameaçava o estudo para as provas escritas ou orais. O porteiro, parado, olhava intrigado suas mudanças de expressão: ora sorria, ora fechava o semblante, conforme a cor das lembranças que iam brotando. Devia estar pensando que ele não regulava bem, mas isso não lhe importava o mínimo. O piso de granitina da cozinha tinha sido conservado, como o do banheiro, mas os tacos de madeira da sala e do quarto tinham sido substituídos por uma imitação de assoalho, o que lhe pareceu, no momento, quase uma ofensa. Mais um olhar em volta: podia ver tudo como era antes. Tudo? Não, algo essencial faltava, algo que ele não mais via nem sentia, ainda que procurasse. E que era, afinal, o que ele fora buscar ali: onde estava aquela alegre juventude que impregnava o ambiente e parecia destinada a ser eterna? Onde estavam aqueles três rapazes, risonhos e dispostos, mesmo nas horas mais difíceis de suas regradas vidas de estudantes? Onde eles, que preenchiam aquelas paredes com suas risadas sinceras, suas sentenças absolutas, suas afirmações que derramavam otimismo e confiança? Onde estavam aqueles três, que não mais os via, com seus corações cheios da mais válida emulação e suas mentes repletas dos mais legítimos projetos e sonhos? Onde estariam? E seus desejos, seus planos, suas doiradas visões de futuro, para onde haviam voado? Teve a impressão de que veria um deles, como sempre via, ao chegar em frente ao armário do banheiro. Mas foi apenas ligeira ilusão. Viu alguém muito diferente, ainda que guardasse longínqua semelhança com um dos rapazes. Era apenas um senhor com um ar grave, rugas de preocupação na testa franzida e comissuras nos cantos dos lábios, que só poderiam ser de velhice, cansaço ou tristeza. Sentiu vontade de gritar, com todas as forças: Voltem! Mas não faria o que sabia inútil. Não seria ouvido jamais.

Luiza Erundina, ao conservar o ranço petista, prefere apoiar Dilma Rousseff a Aécio Neves

[caption id="attachment_18358" align="alignright" width="300"]Luiza Erundina: expulsa do PT, a deputada prefere apoiar Dilma Rousseff do que Aécio Neves Luiza Erundina: expulsa do PT, a deputada prefere apoiar Dilma Rousseff do que Aécio Neves[/caption] Duas defecções, apenas, têm importância no apoio do PSB a Aécio Neves: Roberto Amaral e Luiza Erundina. Sente-se na atitude do primeiro, mais que uma posição ideológica, a reação à perda de poder. Conseguis­se Amaral manter-se à frente do par­tido, possivelmente não dissidiria, e apoiaria o mineiro. Como fracassou sua tentativa de uma reeleição extemporânea, e ficou claro que teria que apear da presidência do PSB, Amaral resolveu sair do partido e o fez atirando. Não tem seguidores para causar muitos estragos, pois jamais disputou um pleito, mas numa eleição majoritária, tudo conta. Mais previsível, e um pouco mais expressiva, é a saída de Erun­dina da campanha de Aécio, onde, aliás, nunca esteve. Erundina pertence à ala mais radical do PT, de on­de jamais saiu de verdade, embora expulsa em 1992, readmitida em 1993 e filiada ao PSB desde 1998. Sua história é de radicalismo esquerdista. Elegeu-se prefeita de São Paulo com apenas um terço dos votos dos paulistanos, em 1989 (não havia segundo turno). Com a incompetência administrativa das esquerdas, terminou mal o mandato, concorrendo para a derrota de seu candidato a prefeito, Eduardo Suplicy, que perdeu para Paulo Maluf, em 1992. Com a queda de Collor, Erun­di­na aceitou o convite de Itamar Franco, num governo de coalizão (de reconstrução nacional, e não de corrupção), para ser ministra da Secre­taria de Administração Federal. Foi expulsa do PT, que pretendia dinamitar também o probo e bem intencionado mineiro presidente, e não permitia que ela assumisse o ministério. Incompetente à frente da pasta, Erundina chocava-se com o chefe da Casa Civil, Fernando Hargreaves. Deixou abruptamente o governo, sem dar satisfações ao presidente, em 1993. Pior: saiu falando mal dele: “Nunca vi ninguém tão burro”, dizia. Ao que Itamar, com fair-play, retrucava: “Tenho que concordar. Sou mesmo burro. Prova é que a nomeei ministra”. Voltando ao PT, e dele saindo em 1998, para o PSB, Erundina colecionou um colar de derrotas. Sonhava ser senadora ou voltar à prefeitura paulistana. Perdeu as eleições de 1994, para o Senado, e as de 1996, 2000 e 2004 para a Prefeitura de São Paulo. Só então acordou para a realidade de que só poderia se eleger para cargos proporcionais. Foi eleita cinco vezes deputada federal, em 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Por que digo que Erundina nunca saiu, em espírito do PT, ou ao menos de sua ala mais radical? Derrotada Marina Silva no primeiro turno das presentes eleições presidenciais, a opção de Erundina, que a assessorava, sem titubear, foi pelo PT de Dilma Roussef, apesar da enorme indigência administrativa da candidata e da gigantesca corrupção do seu partido. Aécio Neves não é nenhum radical conservador e não tem passado deavanço nos dinheiros públicos. Como explicar a opção da velha deputada senão como um fortíssimo apelo do ranço ideológico, que vê em cada “companheiro” ladrão um guerreiro inocente, a praticar meios que mesmo abjetos, sempre são justificados pela nobreza dos fins?  

Esquerdismo petista contamina as Forças Armadas

Algo que parecia impossível vem acontecendo no Exército Brasileiro. Aliás é algo paradoxal para qualquer exército: colaborar com o inimigo e atacar os aliados. O desarmamento, tal como adotado no Brasil, visando apenas as armas legais e poupando (pode-se dizer beneficiando) os larápios e traficantes, foi repelido pela população e concorreu para a alta criminalidade que enfrentamos. Só se explica pela vontade ideológica de fazer uma sociedade totalmente dominada pela “vanguarda revolucionária”. Quer-se não um povo, mas um rebanho de obedientes cordeiros, incapazes de qualquer reação. Não satisfeitos em desarmar o cidadão comum, investem agora os “esquerdistas revolucionários” ou qualquer nome que se lhes dê, contra os atletas do tiro, esporte olímpico praticado em todo o mundo, contra os caçadores (ainda se caçam no Brasil os javalis predadores que invadem o sul, vindos da Argentina) e contra os colecionadores de armas. E o fazem usando o Exército, que controla essas atividades. Em suma, o Exército, que sempre teve como aliados, e até como colaboradores e força de reserva (como fazem as nações mais avançadas) atiradores, caçadores e experts em armamento, agora os vê, de uma hora para outra, como inimigos. Dificulta-lhes a vida. Trata-os como marginais. Cria para eles os mais estultos embaraços burocráticos. Por outro lado, vê como aliados aqueles que detestam as Forças Armadas, delas escarnecem, e as culpam de todos os males que podem ser atribuídos a uma instituição. O Exército colabora, endossando essas absurdas restrições, com os que fizeram uma Comissão da Verdade para imputar às Forças Armadas os piores crimes de guerra, enquanto enaltecem os terroristas que as chamaram para o combate armado. Ao aceitar a ingerência indevida do Ministério da Justiça em seu meio, com a subserviência não da disciplina, mas do engano ou da covardia, muitos chefes militares mostram que o esquerdismo, viajando no petismo, vem contaminando nossas Forças Armadas, levando-as para o campo ideológico, e o da pior ideologia — aquela que quer nossas Forças Armadas aniquiladas, ou quando nada desmoralizadas.  

Imprensa brasileira ignora aqueles que fogem da ditadura cubana

[caption id="attachment_18360" align="alignright" width="300"]Leonardo Padura Fuentes: autor de artigo sobre cubanos que tentam escapar da ditadura e buscam uma vida livre e condições de existências dignas Leonardo Padura Fuentes: autor de artigo sobre cubanos que tentam escapar da ditadura e buscam uma vida livre e condições de existências dignas[/caption] Leonardo Padura Fuentes, o autor cubano do best-seller “O Homem Que Amava os Cachor­ros”, escreveu um pequeno artigo, publicado na “Folha de S. Pau­lo” de sábado, 11. O título: “Cu­banos em alto mar”. O artigo comenta as tentativas — tantas vezes malogradas — de cidadãos cubanos, entre eles velhos e crianças, alcançarem a costa norte-americana por via marítima, e obter nos Estados Unidos refúgio político. Padura escreve a partir de um acontecido recente (final do mês passado): 32 cubanos se fizeram ao mar em uma precária embarcação: uma balsa, na qual haviam adaptado um motor retirado de um dos velhos carros existentes na ilha, e ao qual haviam acoplado uma hélice. Como não era difícil de se prever, a engenhoca não resistiu e no segundo dia, enguiçou. À deriva, com o estoque de água esgotado, seis fugitivos tentaram voltar a nado. Não mais se soube deles, muito provavelmente vítimas dos tubarões. Outros 11 morreram desidratados, antes que fossem os sobreviventes encontrados, por simples acaso, por um barco mexicano. Menos da metade, pois, conseguiu cumprir sua já amarga meta de autoexilado em busca de liberdade. Não houve notícias do fato por aqui. Ele atenta contra um dos dogmas da imprensa de esquerda, que é francamente majoritária em nossa terra: em Cuba, a população desfruta de uma educação de primeiro mundo, de uma saúde exemplar. Além disso, Fidel e Raul são líderes adorados. Logo, se alguém quer sair de Cuba, só pode ser um “gusano” (verme), como dizem os comunistas, comprado pelo capitalismo americano. Para que gastar papel e tinta com gente tão desprezível? Mas a grande verdade é que o anseio de liberdade, transformado em desespero, leva a essas tentativas que têm muito de suicídio. Não há estatísticas de quantos tentaram a via marítima para escapar da ditadura. Quantos, no dizer de Pa­dura, foram os “cubanos em alto mar”. Muito menos, desse total, quantos chegaram ao êxito, que como êxodo, já é de per si uma derrota. Na empreitada relatada pelo escritor em seu artigo, menos da metade. De qualquer forma, pelo que se sabe, muitos perderam a vida nessas fugas desesperadas. Quem se lançou ao mar, esperava chegar à Flórida, sem dúvida. Mas sabia, pelos antecedentes, dos elevados riscos a enfrentar. Pratica­va, conscientemente, uma roleta russa. O alto risco de morte era (e é) preferível à servidão miserável na ilha da ditadura, mostram sem possibilidade de contestação essas desesperadas tentativas. Para isso não atentam nossos marxistas, na política e na imprensa. Qualquer apoio à ditadura é uma chicotada a mais em um miserável, um engrossar do coro que canta um hino à escravidão. Quando esse apoio é concreto, como levar dinheiro do trabalhador brasileiro para reforçar os ditadores cubanos, ou ajudar a escravizar médicos da ilha, aí é uma abjeção sem tamanho.

Saudade, palavra única da Língua Portuguesa, gera sensação de estranhamento e encantamento

[caption id="attachment_17807" align="alignright" width="620"]Mário Palmério, escritor mineiro, cansado de explicar o significado da palavra saudade  para estrangeiros, decidiu compor uma canção para torná-la patrimônio da humanidade Mário Palmério, escritor mineiro, cansado de explicar o significado da palavra saudade
para estrangeiros, decidiu compor uma canção para torná-la patrimônio da humanidade[/caption] Saudade: é sabido que não há em outra língua, que não a portuguesa, vocábulo que traduza esse substantivo abstrato. Para vertê-lo para outro idioma, só através de uma locução. Mas — pergunta-se — de onde veio essa jabuticaba sentimental, quais as suas raízes, e que etimologia a explica? Um livro de crônicas de Julio Dantas — “Abelhas Doiradas” —, publicado em 1925, nos dá uma lição sobre o surgimento dessa palavra tão cara aos enamorados e aos poetas. Uma das melhores crônicas do livro chama-se precisamente: “A Saudade”. Vejamos o que diz a respeito o ilustre escritor, historiador e dramaturgo português: saudade (palavra que parece que canta, que palpita, que estremece e que chora, diz Dantas) aparece pela primeira vez no “Cancioneiro da Vaticana”, que, para quem não sabe, é uma coleção que reúne mais de mil canções dos trovadores galego-portugueses, que nos séculos XIII e XIV faziam suas apresentações para os reis, para os nobres ou para o simples populacho. Essa coletânea, recopiada no século XV, encontra-se hoje na biblioteca do Vaticano — daí seu nome. Ali aparece pela primeira vez nossa palavra, sob as formas arcaicas de “soydade” e “suydade”, mas já com seu sentido atual — e permanente — de sentimento de si (certa pessoa), ou melhor, sentimento de sua ausência (da ausência daquela pessoa). Mais precisamente, quem pela primeira vez a deixa registrada, é um trovador da corte de D. Afonso III (quinto rei de Portugal, cujo reinado durou de 1248 a 1279), chamado Fernão Fernandes Cogominho, que se dirige a uma dama, cuja ausência lhe oprime o peito: “Non queredes viver migo, e moiro de soydade”. Também de saudade padece o rei poeta e trovador português D. Dinis, (sexto rei de Portugal, de 1279 a 1325), que chora a ausência da rainha: “Que soydade de minha senhora ey”. E no reinado seguinte, de Afonso IV (que durou de 1325 a 1357), quando embarcados os soldados portugueses para a Batalha do Salado, contra os mouros, choram na voz do poeta da corte João Zorro, as mulheres que ficam, angustiadas, à espera dos maridos: “Mete El-rei barcas no rio forte; Quem amigo há, que Deus lho amostre; A La vai madre; Oj’ey suydade”. Vê-se que nossa palavra convive com os pobres e com a realeza, pois a ela e seus efeitos nem reis estão imunes. Tanto que outro rei — D. Duarte, que também foi escritor — irmão do mais importante dos portugueses, o Infante D. Henrique, comenta: “Suydade he sentida mais com prazer do que com tristeza”. Este rei filósofo é o primeiro a notar que não existe palavra equivalente fora da língua de Portugal. É seu o comentário: “Pa­rece-me este nome de suydade tam próprio que o latym, nem outra linguagem que eu saiba, nom he para tal sentido semelhante”. D. Duarte, que deixou escritos, separa os sentimentos da dor, da tristeza, do aborrecimento e da saudade, e define este último: “suydade propriamente eh sentido que o coraçom filha por se achar partydo da presença d’alguma pessoa que muito por afeiçom ama, ou o espera cedo de seer; e isso medes dos tempos e lugares em que por deleytaçom muito folgou; digo afeiçom e deleytaçom porque sem sentimentos que ao coraçom pertencem, donde verdadeiramente nace a suydade”. É D. Francisco Manoel de Melo (1608-1666), o turbulento mas talentoso fidalgo, escritor, dramaturgo, militar e namorador português que define a saudade como “essa paixão que só nós sabemos o nome, chamando-lhe saudade, filha do amor e da ausência”. E que arremata: “He a saudade huma mimosa paixão d’alma, e por isso tão subtil, que equivocamente se experimenta, deixando-nos indistinta a dor, da satisfação. He um mal de que se gosta e um bem que se padece...”. É natural que quem não tenha o português como língua materna se intrigue com o vocábulo. No final dos anos 1960, trabalhei por uma temporada no Paraguai. Muitas vezes perguntaram-me por Mário Palmério. É que o escritor mineiro havia sido nosso embaixador em Assunção, em 1961, quando Jânio Quadros, em sua breve passagem pela Presidência da República, resolveu nomear intelectuais como chefes de representações diplomáticas brasileiras mundo afora. Mário Palmério, que eu conhecia, fora para o Paraguai nessa leva. Mário era extremamente social e um boêmio refinado, pois ligava a boemia à cultura. Fizera inúmeras amizades no Paraguai, e eram esses seus amigos que pediam notícias. Sentimental, poeta, permanente enamorado, o embaixador suspirava de saudades do Brasil, e não escondia o fato. Cansado de explicar o que era saudade para os paraguaios, acabou compondo em letra e música uma bela guarânia, que gravou primeiramente em espanhol, para esclarecer seus amigos em Assunção. Depois a traduziu, e foi muito gravada e tocada no Brasil. É uma terna canção, que faz sucesso até hoje. O leitor por certo a conhece, mas vale lembrar a bela letra: “Se queres compreender o que é saudade Terás que antes de tudo conhecer Sentir o que é querer, o que é ternura E ter por bem um grande amor, viver Então compreenderás o que é saudade Depois de ter vivido um grande amor Saudade é solidão, melancolia É nostalgia, é recordar, viver”  

A bola fora da OAB de Brasília

O obscuro presidente da OAB-Brasília, Ibaneis Rocha, talvez nem sequer saiba quem foi Andy Warhol, mas já conquistou seus 15 minutos de fama, de que falava o pop artista americano. Só que não foi de boa fama. Ele impugnou o registro do ex-ministro e ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, na OAB, sob a alegação de falta moral no tratar com a classe. Deve estar se referindo à retirada do advogado de José Genoino, à força, do plenário do STJ, quando desrespeitava a autoridade do presidente. A mesquinharia só pode ser entendida como retaliação política. Ibaneis ou será petista ou deseja agradar os petistas no poder. O ex-ministro, sabemos, não prima pela delicadeza ou comedimento no trato. Mas é um dos homens mais corretos e valorosos da República. Dizer que desrespeitou advogados, por ter sido duro com eles no exercício de sua função, não justifica a cassação de seu direito de exercer a advocacia, para a qual se qualificou infinitamente mais que o inexpressivo presidente da OAB. O fato é inusitado. Marcio Thomaz Bastos, quando ministro da Justiça, mandou invadir escritórios de advogados em São Paulo, em ações até discutíveis do ponto de vista legal. Bastos não detém a mesma alvura moral que detém Joaquim Barbosa. No exercício da profissão, sempre primou por não ser seletivo quanto às qualidades de quem defende ou como recebe seus honorários. Como ministro, chegou a usar a Polícia Federal para assuntos particulares e caseiros. Pior que isso, teria sido instrumento na tentativa de fazê-la uma polícia política. A despeito de tudo, ninguém, muito menos o sr. Ibaneis, jamais questionou a prerrogativa profissional de Marcio Thomaz Bastos.  

Patrulheiros falham e políticos conservadores são os mais votados

A imprensa “politicamente correta” deveria atentar para os deputados federais mais votados: proporcionalmente, o mais bem votado no país foi o amazonense Arthur Bisneto, filho do prefeito de Manaus, o que sem dúvida lhe foi de muita valia, mas que é um político muito voltado para as questões ambientais e de desenvolvimento. Teve 14% dos votos do eleitorado amazonense. Alberto Fraga, mais votado no Distrito Federal, teve 9,4% dos votos brasilienses. Sério, conservador, jamais escondeu suas posições, mas talvez por isso mesmo nunca tivesse o beneplácito da imprensa de Brasília. Waldir Soares, o delegado Waldir, mais votado em Goiás, teve 7,4% dos votos goianos. Mostrou durante sua campanha ser um confrontante das políticas equivocadas de direitos humanos, que valorizam bandidos. Mais votado no Pará, Eder Mauro, com 5,7% dos votos, também delegado, está na mesma linha do nosso Waldir. Celso Russomanno foi o campeão em SP. É um apresentador, o que lhe facilitou amealhar votos. Centrista, defensor do consumidor, teve 5,5% dos votos paulistas. Jair Bolsonaro, o combativo-conservador, terror das esquerdas e das minorias ditatoriais, teve 4,2% dos votos cariocas. Foi o mais votado. O pastor Marcos Feliciano, a quem a imprensa de esquerda sempre negou até a voz, como se não fosse um deputado honesto e como se não pudesse ter suas opiniões, teve 1,4% dos votos paulistas. Foi o terceiro, depois de Russomanno e Tiririca. O gaúcho mais votado foi Luiz Carlos Heinze, com 2% dos votos do RGS. É conhecido por suas firmes posições conservadoras. Como se vê, a patrulha da imprensa esquerdista está na contramão do eleitorado.

Movimentos radicais contribuem para o atraso da humanidade e matam indivíduos criativos

hitstaAs sociedades evoluem de maneira continua. As descontinuidades sociais, as inflexões políticas bruscas, as revoluções radicais, nunca foram de molde a produzir a grandes e permanentes progressos em qualquer corpo social. Ao contrário, no mais das vezes serviram como fator de atraso para esses progressos. A Revolução Francesa, a Revolução Soviética, o nazismo, o fascismo e a Revolução Cubana serviram apenas para trazer sofrimento ao povo que teoricamente pretendiam fazer progredir, ou para frear um desenvolvimento lento mas seguro que num tempo mais longo, organicamente, tenderia a corrigir injustiças ou desigualdades. Os países escandinavos (Dina­marca, Finlândia, Islândia, Norue­ga e Suécia) nunca sofreram, ao longo de sua história recente, esses abalos revolucionários, embora tivessem experimentado as agruras das guerras europeias. Estão os cinco, hoje, entre os 25 Estados de maior IDH (Índice de Desenvol­vimento Humano). Observe o leitor que quando falo de revolução radical, não me refiro à guerra movida por outro Estado, que em geral é de curta duração e não dirigida à alteração do tecido social. Falo dos movimentos, em geral internos, que se propõem a criar um “homem novo”. Esses movimentos sociais, em geral deflagrados com o pretexto de destruir uma quase sempre falsa “elite opressora” e “libertar o povo”, acabam gerando uma verdadeira elite que passa, ela sim, a exercer por muito tempo a mais cruel das opressões, criando no povo de que se diz “a vanguarda” milhões de vítimas inocentes, aqueles que não querem ou não sabem como se tornar o “novo homem”. A elite pode ser a nobreza, como na Revolução Francesa, ou um segmento racial, como os judeus no nazismo. Em geral, qualquer subconjunto social que detenha parcela de poder ou riqueza pode ser tachado de “elite” e ser demonizado sob acusação de “opressão”: banqueiros, proprietários de terras, industriais, religiosos, donos de meios de comunicação. Eles costumam pagar caro por terem construído com seu trabalho algo maior e mais duradouro. Pode ser considerado “elite” até algo difuso, ou quase inexistente, como no Peronismo: “Tudo que não seja o trabalhador”. Os EUA cresceram, e chegaram à posição de maior economia do planeta por um processo contínuo de exercício democrático, acumulando conquistas sociais, corrigindo desvios (como o racismo), com tolerância e contida presença do Estado na vida dos indivíduos e das famílias. E com muito trabalho e muita dedicação. Sem revoluções. Se um operário alemão hoje desfruta de mais conforto e lazer de melhor qualidade do que desfrutava, 140 anos atrás, o rei Ludwig II da Baviera, um dos soberanos mais ricos de que se tem notícia, não o deve ao nazismo, pois sua elevação econômica, tecnológica e social foi uma conquista dentro da democracia, e obtida apesar dele, nazismo, e do comunismo, responsáveis um pela guerra e outro pela ocupação. Felizmente, por um processo natural de fadiga humana, esses processos radicais chegam a um ponto de exaustão. Implodem, amontoando internamente os escombros de sua experiência social, como na Revolução Francesa, são esmagados, como no nazismo, ou explodem em vários pedaços como na União Soviética. O fundamentalismo islâmico parece ser um desses movimentos dispostos a modificar a sociedade. Só que o “novo homem” que pretende criar obedece a um figurino antigo, próximo àquele da Idade Média. Terá que ser culturalmente atrasado, obediente até a morte, humilde ao extremo, temeroso de um Deus implacável e de uma elite religiosa que aplica sem piedade a lei mais dura desse Deus que tudo dirige e tudo vê. Felizmente, essa pretensa experiência terá lugar, se é que o terá, a dezenas de milhares de quilômetros daqui. O mesmo não podemos dizer do bolivarianismo, aqui vizinho, que já está nos contaminando, suprema ignorância que também quer ver surgir na América Latina um “homem novo”, só que sob a efígie de uma caricatura como Hugo Chávez. E o “homem novo” bolivariano é também um homem velho, aquele que sofreu sob Stálin ou sob Mao-Tsé-tung toda a sorte de indignidades que pode uma criatura humana experimentar. Uma revolução radical pode fazer mal a muitos povos (o nazismo fez mal ao mundo quase todo. O comunismo fez e faz), mas faz mais mal a seu próprio povo. Traz dentro de si a própria destruição. A Alemanha tinha a tecnologia mais avançada do mundo no século 20, até que o nazismo fosse implantado em 1933. Os cérebros dele fugidos para os EUA permitiram que fosse construída ali a bomba atômica com que Hitler poderia ter vencido a guerra. Lavoisier (1743-1794) — o pai da Química — foi um dos maiores cientistas da humanidade. Introduziu a balança como instrumento básico dos laboratórios, descobriu a composição da água, formulou a teoria exata da combustão. Emitiu o conceito químico, hoje erroneamente generalizado, de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Tinha estudos avançados, que não chegou a publicar. No período do Terror (1792-1794), na Revolução Fran­cesa, Lavoisier foi preso. Como vinha de família rica, só podia ser parte da “elite”. Levado ao tribunal revolucionário, uma farsa, pois já se sabia condenado, La­voi­sier ouviu do presidente Cof­finhall: “A Revolução não precisa de sábios!”. Foi guilhotinado no dia seguinte, 8 de março de 1974. Houve uma comoção geral em todos os círculos científicos europeus. O grande matemático italiano Lagrange, contemporâneo de Lavoisier, co­men­tou que mais de um século se­ria preciso para que surgisse u­ma cabeça como a que o Terror ha­via feito rolar em um segundo. Assim são as revoluções.

Cardozo merece ir para o Supremo?

O notório Paulo Abrão aprontou mais uma. Como se sabe, o secretário nacional de Justiça é distribuidor e defensor da “bolsa ditadura”, mecanismo criado para distribuir generosas quantias de dinheiro público a torto e a direito (menos para vítimas de terroristas de esquerda), sob o pretexto de indenizar quem se diz perseguido pelo regime militar. Regime que ele chama de “ditadura”, como se fosse comparável a uma verdadeira ditadura, como a cubana. Como denunciou a revista VEJA, esse cidadão esteve na Polícia Federal, em horário extra expediente, na tentativa de obter dados sobre um processo em segredo de justiça, envolvendo a candidata Marina Silva. Ao que consta, não teve êxito. Teria feito isso de moto próprio ou a mando do chefe, o ministro José Eduardo Cardozo? Vale dizer: a malandragem ilegal foi simples ou dupla? E José Eduardo Cardozo ambiciona a cadeira no Supremo que foi de Joaquim Barboza. No critério petista, tem qualidades para a pretensão.

Exportador brasileiro não recebe da Argentina

Os exportadores brasileiros para a Argentina não estão recebendo por suas mercadorias. Fala-se em mais de 4 bilhões de dólares em atraso. A loja de dona Kirchner está que­brada e não paga seus fornecedores. E ficamos presos ao Mer­co­sul enquanto o Chile, por exemplo, que não se amarrou nesse complicado mercado, faz seus acordos bilaterais de comércio.

Liberação do porte de armas

Notícia dos EUA: o Estado de Illinois liberou, em julho deste ano, o porte de armas para seus cidadãos. Na maior cidade do Estado, Chicago, a criminalidade caiu em mais de 20% e o número de assassinatos em mais de 50%, desde então. Uma notícia de entristecer qualquer desarmamentista.

Mais uma inversão de valores

Em Cascavel, no Paraná, um ho­mem de 76 anos, José Peixoto, e seu filho reagiram a um assalto. Con­seguiram desarmar um dos bandidos (era um casal) e baleá-los. Os meliantes morreram e o fi­lho de Peixoto, também baleado, está hospitalizado. A delegada Mariana Vieira efetuou a prisão de Peixoto, que foi al­gemado para o cárcere. Aguarda a alta do filho para prendê-lo também. É a inversão total e completa de valores. As esquerdas estão exultantes.

O pacto faustiano do PT com negócios pouco santos

[caption id="attachment_16358" align="alignleft" width="300"]Dilma Rousseff: o tinhoso parece rondar as mais altas esferas do governo da presidente petista / Foto: Ichiro Guerra/ Dilma 13 Dilma Rousseff: o tinhoso parece rondar as mais altas esferas do governo da presidente petista / Foto: Ichiro Guerra/ Dilma 13[/caption] A semana que passou deixou algumas recordações. 1 – Não se pode dizer que Dilma Rousseff não seja mulher de palavra. A presidente vem cumprindo com afinco a promessa feita em março do ano passado de “fazer o diabo” nas eleições. Não sabemos o que vem urdindo o tinhoso às escondidas, mas o que aparece na campanha de Dilma à reeleição já é bem obra em parceria com ele. Os Correios distribuíram milhões de impressos da campanha da presidente à reeleição sem a devida chancela, descobriu-se. E receberam uma remuneração por isso? Não se sabe. Algo deveras endiabrado. Ataques rasteiros e forjados à candidata Marina Silva não faltam. Nessas horas o capeta parece estar trabalhando lado a lado com o marqueteiro oficial, João Santana. Outras vezes o pé-de-bode exagera, como quando, publicada mais uma corrupção, sopra no ouvido esquerdo de Dilma, e ela dá declarações contra a imprensa, como aquela (que tentou consertar depois): “Não cabe à imprensa o papel de investigar!”. Cabe sim, presidente Dilma. A sra. está confundindo Brasil com Cuba, como já fez outras vezes em que ouviu o capiroto, como quando levou para lá nosso dinheiro, em vez de tomar bem conta dele e o aplicar por aqui, onde há tanto por fazer. Aliás, uma das melhores coisas que a imprensa faz é justamente is­so: investigar. E o IBGE, hein? Er­rou mesmo na questão da distribuição de renda, ou está “aparelhado”, com a ajuda do bode-pre­to, como quase tudo no governo? Qualquer das duas opções é horrível. E a ordem do coisa-ruim é minimizar, esconder, ignorar a questão Petrobrás até passarem as eleições. “Diga que não sabe de nada”, sopra o cão no ouvido (sempre o esquerdo) de Dilma, quando Graça Foster transfere seus bens para escapar de uma indisponibilidade ou quando se descobre que o inacreditável Cerveró mora num milionário apartamento cujo dono é um fantasma, pois foi comprado por uma empresa uruguaia que não se sabe de quem é, e que representa algum brasileiro também incerto e não sabido, tanto quanto o é ainda quem recebe os aluguéis. “Diga que ignora”, sopra o canhoto quando escapa mais um detalhe horroroso da delação premiada de Paulo Roberto da Costa sobre a roubalheira petista em nossa petroleira. Com o demo aprontando tantas, precisamos urgentemente de um padre exorcista, mas que não seja da Teologia da Libertação. 2 – O bem informado blog brasiliense de Cláudio Humberto, “Diário do Poder”, publicou o espanto: há uma longa fila de embaixadores estrangeiros aguardando que a presidente os receba para entrega de credenciais. Seriam vinte e dois. Displicência, descaso, ignorância? Instruções do tosco assessor Marco Aurélio Garcia? Vontade de se dar uma importância internacional que não se tem? Qualquer que seja o motivo da demora em agendar esses encontros, a imagem do Brasil sofre danos. Não creio que haja comportamento parecido em lugar nenhum do mundo. 3 – Carlos Lacerda, que não suportava Juscelino Kubitschek, dizia, antes das eleições de 1955, que fizeram o ilustre mineiro presidente: “Juscelino não pode ser eleito. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, deve ser deposto”. Declaração muito pouco democrática, e imerecida. Em nosso caso atual, pode-se dizer, merecida e democraticamente: Dilma não pode ser eleita (para o bem do Brasil), mas, se o for, deve tomar posse (democraticamente), embora seja certo que dificilmente terminará bem o governo (ou o não terminará). 4 – Dilma não sabe, mas pensa que sabe (tudo). Daí a corrupção e os desastres na energia, na economia. Eleita, será uma repetição. Já mostrou não aprender nada de bom e não esquecer nada de ruim. Já Aécio, acha que ser neto de Tancredo Neves é o suficiente para governar um país. Não é, e um país não se governa em cima do muro. A esperança é de que Marina Silva saiba que não sabe (muita coisa) e se assessore bem, se eleita. Ou estaremos perdidos por mais quatro anos (no mínimo). Olhemos a Argentina. 5 – A Escócia optou, no plebiscito do último dia 19, por permanecer integrando o Reino Unido. Uma separação seria uma incógnita para os escoceses, mas sem dúvida um dano ainda difícil de dimensionar para a Co­munidade Britânica. Prevaleceu o bom senso. 6 – Só posso considerar fraude uma comissão criada para emitir relatório histórico sobre uma situação de combate entre dois lados, mas que tem todos os membros de um lado só. Quer se intitular Comissão da Verdade, mas quando muito será Comissão da Meia Verdade. Nessa semana correm em socorro da Comissão, no atacar as Forças Armadas, um neoradical, Paulo Abrão, o das indenizações fartas, que compram a honra com dinheiro público. E José Gregori, o ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique, já um tanto mumificado, mas sempre incompetente. 7 – E o governo, mais uma vez está fechando no martelo suas contas. A credibilidade do país está correndo pelo ralo.

Operação Peter Pan: o êxodo de crianças cubanas para os EUA

Estou certo que pouquíssimos, entre os leitores, terão ouvido menção à Operação Peter Pan. Contudo, esse é o nome de batismo de um dos fatos mais dramáticos e sofridos de toda a Guerra Fria. Vamos resumi-lo (resumamo-lo, diria Euclides da Cunha, e mais tarde Jânio Quadros): quando Fidel Castro assumiu o poder em Cuba, em 1959, com apoio popular generalizado, dizia-se não comunista. Quem tinha melhor percepção, logo viu que não era verdade. Medidas socializantes e antirreligiosas surgiram sem demora, e o estado policial instalou-se com todo o rigor totalitário. O fechamento das escolas particulares, a pregação marxista para os jovens e o envio de contingentes de alunos para visitas doutrinárias na União Soviética (o próprio filho de Fidel Castro foi um dos primeiros a seguir esse roteiro) deixaram os pais conservadores em polvorosa. Insinuações do governo cubano de que o pátrio poder era uma criação burguesa e de que cabia não à família, mas ao Estado a educação e a orientação da juventude, vieram completar o receio e instalar o pânico. Um movimento subterrâneo para livrar os jovens do caminho ateu e comunista, enviando-os para os EUA, teve franco apoio da Igreja, principalmente do prelado de Miami, monsenhor Bryan O. Walsh (1930-2001), então um jovem padre irlandês de 30 anos. O governo americano também colaborou na empreitada. O plano era enviar esses jovens para lares cubanos nos EUA, ou para lares americanos que se dispusessem a recebê-los, até que Fidel caísse (o que – quanto engano – pensava-se, ocorreria em um ou dois anos), e eles pudessem ser repatriados. Não se esperava a adesão no nível em que ocorreu: mais de 14 mil crianças e adolescentes, de até 16 anos, entre dezembro de 1960 e outubro de 1962, separaram-se de seus pais, desenraizaram-se de sua terra e se trasladaram para uma terra estranha, onde tiveram que aprender outra língua, viver em lares que não eram seus, mas moradas de favor, às vezes simples abrigos ou creches, espalhados por 36 Estados americanos. Duro e doloroso câmbio, regado com muitas lágrimas de lado a lado: trocava-se o carinho sem liberdade em Cuba pela liberdade sem promessas de carinho nos EUA. Dezenas de milhares de pais e mães tiveram que fazer sua escolha de Sofia. E, como tudo que é ruim ainda pode piorar, agravou-se o desastre: Fidel aferrou-se ao poder e as crianças e jovens cresceram e se tornaram adultos longe dos pais, em terra estranha. Fechadas as fronteiras cubanas aos seus cidadãos, os pais sequer podiam visitar os filhos nos EUA. Dorido êxodo, sem precedentes no Ocidente, que só recentemente pôde ser avaliado, graças a alguns pesquisadores, eles próprios “Peters Pans”, que conseguiram localizar parte desses colegas, agora adultos (cerca de 2 mil foram encontrados) e promover encontros com parentes ainda vivos em Cuba. Essa gigantesca operação é quase desconhecida, pois a ninguém interessava divulgá-la: nem aos pais, nem aos governos cubano e americano.

Lino Trigueros, o advogado que enfrentou a ditadura de Anastasio Somoza e dos sandinistas

[caption id="attachment_15732" align="alignleft" width="561" class=" "]Lino Hernández Trigueros: o advogado protegeu a esquerda, mas, quando esta chegou ao poder, começou a persegui-lo, chegando a prendê-lo Lino Hernández Trigueros: o advogado protegeu a esquerda, mas, quando esta chegou ao poder, começou a persegui-lo, chegando a prendê-lo[/caption] Uma das personalidades mais marcantes que encontrei em minhas andanças quando parlamentar chamava-se (ou chama-se, pois creio que ainda vive) Lino Hernández Trigueros, da Nicarágua. Antes de apresentá-lo, conto em que circunstâncias o conheci. O ditador nicaraguense Anastasio Somoza havia sido derrubado em 1979 por uma vasta frente de partidos, organizações e guerrilhas, onde estavam representados de todos os credos políticos do país. Não tardou, porém, que uma dessas organizações, a Frente San­dinista, assumisse o governo e afastasse as demais. Os sandinistas eram radicais de esquerda, sustentados por Cuba, marxistas convictos que nutriam verdadeiro ódio pelos Estados Unidos. Uma de suas primeiras ações foi mandar executar Somoza, que havia se homiziado no Paraguai. Para tanto contrataram um grupo guerrilheiro, chefiado por Gorriarán Merlo, conhecido terrorista argentino que operava na América Latina. A operação, muito bem planejada com auxílio da KGB soviética, foi (do ponto de vista dos terroristas) um sucesso, e o ex-ditador foi abatido a tiros de fuzil e disparos de bazuca numa pacata rua de Assunção, em 1980. Os sandinistas, apossando-se do poder, e “nomeando” um dos seus como presidente (o mais tarde tristemente famoso Daniel Ortega), seguiram de imediato a velha cartilha marxista: estatizaram bancos e indústrias, promoveram uma reforma agrária radical, censuraram a imprensa, encarceraram sem processo os discordantes. A reação logo surgiu, com o apoio dos conservadores nicaraguenses, de uma tribo indígena (os altivos Misquitos que não aceitavam ver suas terras confiscadas) e dos EUA. E surgiu sob a forma de um grupo guerrilheiro que ficou conhecido como “Os Contras”. O agravamento do conflito armado e a piora da situação econômica foram levando os sandinistas a um beco sem saída. O desabastecimento era a face mais visível da crise, que o governo tentou controlar pela força, seguindo os conselhos de Fidel Castro. O exército chegou a ter 120 mil homens, quase o tamanho do Exército brasileiro, embora a população fosse apenas de 3 milhões. Os prisioneiros políticos passavam de 4 mil, um enorme exagero. A pressão externa e interna fez com que Tomás Borge, o radical e prepotente ministro do Interior, tivesse uma ideia que julgou brilhante: os sandinistas convocariam eleições, que, com a força do governo, venceriam facilmente, “reelegendo” Daniel Ortega. Assim legitimados, conseguiriam ajuda externa, liquidariam os “Contra” e seguiriam a vida, aboletados no poder. Foi quando, designado pelo Senado como observador daquelas eleições, fui, por duas vezes, ao país. Os observadores internacionais haviam sido convidados pelos sandinistas, certíssimos de que venceriam as eleições. Na minha primeira viagem à Nicarágua, três meses antes das eleições, em 1989, entrevistei 24 autoridades, entre as principais do país, incluindo a candidata de oposição, Violeta Chamorro, o presidente da Suprema Corte Eleitoral, Mariano Fiallos Oyangurén, o ministro do Interior, Tomás Borge, o arcebispo de Manágua, Miguel Obando y Bravo, e Lino Hernández, que agora posso apresentar ao leitor. Lino Hernández era advogado e presidente da Comissão Nacio­nal de Direitos Humanos da Ni­ca­rágua desde meados dos anos 1970. Tive longa conversa com ele, em seu acanhado escritório no cen­tro de Manágua. De saída, Lino transmitia uma impressão de humildade, ressaltada por suas roupas modestas e pelo local de trabalho. Mas impressionava pela maneira sóbria e segura com que falava, pelo encarar sem pestanejar o interlocutor, por narrar sem exageros os fatos presenciados ou vividos. Transmitia, sem preocupar em fazê-lo, uma sensação de altivez e confiança que se mostra presente nas figuras sem dissimulação, que falam sem pretensão de agradar ou desagradar o interlocutor, e apenas transmitem, fiel e seriamente, suas impressões ou testemunhos. Seu espanhol perfeito, sem erros de sintaxe, ajudava na boa impressão, que sua história de lutas ia consolidando ao longo de sua fala. Dedicara-se aos Direitos Humanos desde sua formatura em Direito, o que transformara sua profissão, de saída, em sacerdócio. Noventa por cento de seus clientes não tinham como pagá-lo, e ele não tinha como cobrar. Em pouco tempo, Lino fundou a Comissão de Direitos Humanos, a que passou a se dedicar em tempo integral. Ela sobrevivia de doações oriundas de uns poucos nicaraguenses prósperos ou de entidades internacionais. Ainda vivia a Nicarágua sob a ditadura de Somoza, o que significava violações, prisões sem o devido processo legal, espancamentos e mesmo mortes. Por outro lado, significava dificuldade na obtenção de recursos para a Comissão, e liberdade de seu trabalho. Mais de uma vez, Lino Her­nán­dez, acusado de comunismo, foi pre­so pela polícia de Somoza e fez com­panhia nas prisões aos que defendia. Algumas vezes mesmo — relatou com evidente desconforto — essas prisões eram acompanhadas de castigos físicos. Foi quando passou a ser conhecido no exterior, o que lhe valeu certa proteção, embora ela nem sempre fosse respeitada pelos esbirros de Somoza. Foi quando, também, conheceu e prestou assistência àqueles que viriam a serem os chefes do futuro governo sandinista. Assistiu, escondeu e ajudou a saírem do país muitos jovens que seriam no futuro altas autoridades e até ministros do governo. Salvou-lhes a vida, em resumo. Foi então que caiu Somoza e Lino respirou aliviado. Poderia agora exercer sua profissão de advogado. O alívio durou pouco. Durou até os sandinistas se apossarem do poder. Logo começaram as prisões dos integrantes do governo Somoza, principalmente dos amigos do ditador e de elementos de sua antiga polícia, sem o devido processo, o que ocasionava muitas injustiças. Recomeçaram também os maus tratos e espancamentos de presos, e com o surgimento dos “Contras” a prisão de camponeses e pequenos sitiantes acusados sem provas de apoiá-los. Não raro, os presos eram mulheres, que sofriam violações dos carcereiros. Recomeçaram também os assassinatos políticos. Lino retomou, agora redobrados, seus trabalhos de Direitos Humanos. Protegeu muitos policiais que havia conhecido e por cujas mãos havia passado quando preso e agredido na ditadura Somoza. Insistiu, junto aos sandinistas, para que agissem dentro da lei, formando processos, evitando violações, propiciando julgamentos justos, em vez de longas prisões, às vezes por anos, sem sequer uma denúncia escrita. Não lograva êxito, e com o avanço dos “Contras”, as prisões aumentavam. Eram agora três ou quatro vezes maiores que no tempo de Somoza. As sevícias eram orientadas por experimentados e sádicos policiais cubanos, e Lino se desdobrava. Suprema (trágica) ironia: Lino agora era tratado, pelos sandinistas que havia protegido de Somoza, alguns dos quais lhe deviam a vida, como “agente dos EUA” ou “lacaio do imperialismo”. Não tardou que voltasse a ser preso, e a sofrer os mesmos maus tratos que experimentara sob Somoza. Quando o entrevistei em Maná­gua, havia deixado a prisão poucos dias antes. Fora preso quando dava assistência a manifestantes em um protesto de rua, que estavam sendo ferozmente espancados e presos pela polícia sandinista. Contou-me que vivia um mo­mento de grande agrura financeira, pois o governo impedia que recebesse doações externas. Na minha volta à Nicarágua para as eleições, cuidei de levar a ele uma contribuição. Pelo menos era um alívio momentâneo. Era admirável ver como ele, altruísta, diante de tanta barbárie, injustiça e ingratidão, seguia sereno em seu verdadeiro sacerdócio e em sua inabalável fé na humanidade. Mantivemos contato durante algum tempo, via do embaixador brasileiro Sergio Queiroz Duarte, que ainda permaneceu por um período em Manágua. Só com a vitória de Violeta Cha­morro sobre Daniel Ortega (vitória essa que é assunto para ou­tra história), encontrou a Nica­rágua alguma democracia, e Lino te­ve alívio em sua luta pelos Di­reitos Humanos. Espero que hoje esteja entregue em paz à sua profissão de advogado.

Plano de governo de Marina Silva é mais utópico do que se esperava

Atribuir violência à desigualdade, ideologia tão cara à esquerda, não é apenas utopia, mas um equívoco