Por Redação

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O presidente nem sempre tomou posse quando ainda está de ressaca do réveillon. Saiba por quê

Os presidentes brasileiros no período entre 1946 e 1961 tomaram posse no 31 de janeiro [caption id="attachment_86067" align="alignnone" width="620"] Marechal Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo voto popular, foi o primeiro presidente do Brasil a tomar posse em 31 de janeiro | Foto: Planalto Federal[/caption] Carlos César Higa Especial para o Opção Cultural Atualmente, a posse dos presidentes da República acontece no primeiro dia do ano seguinte ao das eleições, mas nem sempre foi assim. De 1946 até 1961, os presidentes eleitos tomavam posse em 31 de janeiro. O primeiro presidente a tomar posse no dia 31 de janeiro dentro do período citado acima foi o Marechal Eurico Gaspar Dutra. Ele foi ministro da Guerra durante a ditadura do Estado Novo e foi eleito democraticamente pelo voto popular. Nota-se que nem todo militar na Presidência foi eleito indiretamente. Getúlio Vargas voltou à Presidência pelo voto direto em 31 de janeiro de 1951, mas não cumpriu o mandato, pois suicidou em 24 de agosto de 1954. A posse de Juscelino Kubitschek, ocorrida em 31 de janeiro de 1956, foi marcada pela crise político-militar que quase impediu a sua chegada ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Sede do Poder Executivo antes da inauguração de Brasília em 1960). A primeira sucessão presidencial ocorrida na nova capital federal foi em 31 de janeiro de 1961. Juscelino Kubitschek, eleito diretamente, transmitiu a faixa presidencial para Jânio Quadros, também eleito diretamente. A próxima vez que Brasília assistiria um presidente eleito democraticamente passar a faixa para outro presidente eleito democraticamente não foi num 31 de janeiro e sim no dia 1º de janeiro de 2003, quando Fernando Henrique Cardoso, eleito e reeleito pelo voto direto, passou a faixa para Luiz Inácio Lula da Silva eleito diretamente. O mandato presidencial de acordo com a Constituição de 1946 era de cinco anos. Isso permitiu Juscelino Kubitschek (ou melhor, o poeta Augusto Frederico Schmidt) criar o slogan 50 anos em 5. Se Jânio Quadros não tivesse visto as forças ocultas no fundo do copo de uísque, entregaria a faixa presidencial para o presidente eleito pelo povo em 31 de janeiro de 1966. Juscelino era um dos que desejavam voltar ao Palácio do Planalto. O slogan já estava pronto: JK-65: 5 de anos agricultura para 50 anos de fartura. De novo, slogan do poeta Augusto Schmidt. A posse no dia 31 de janeiro foi rompida pelos militares após o golpe de 1964. Não custa lembrar que o primeiro presidente da ditadura, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, havia prometido devolver a faixa presidencial para um civil eleito democraticamente no dia 31 de janeiro de 1966. Não só descumpriu a promessa como quebrou uma sucessão de datas que vinha desde 1946. Durante a ditadura, os presidentes militares eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional tomavam posse em 15 de março. O mandato dos presidentes fardados tinha cinco anos. Um presidente sem farda, com mandato de cinco anos e tomando posse em 31 de janeiro não faz mal a ninguém. Não precisa bater continência para ninguém, tem tempo para fazer algo edificante para o país e com prazo para enviar os convites para a posse. A posse hoje é no dia 1º de janeiro, quando os convidados nem curaram a ressaca do réveillon. Carlos César Higa é mestre em história e professor na rede particular de ensino, em Goiânia

Você conhece Tom Jobim?

Quisera qualquer brasileiro exercer seu ofício com a naturalidade e desembaraço de quem compôs “Samba de uma nota só” e “Samba do Avião” [caption id="attachment_85959" align="alignleft" width="300"] Tom Jobim, o gênio da música, faria 90 anos de idade dia 25 de janeiro | Foto: Carlos Mancini[/caption] Vitor Hugo Goiabinha Especial para o Opção Cultural Um certo cantor de voz muito grave, da cena paulistana da década de 1980, costumava interromper suas apresentações e perguntava muito seriamente para sua plateia: “Você conhece Tom Jobim?” Diante dos sorrisos desconcertados pela pergunta repentina, ele insistia: “Você realmente já ouviu Tom Jobim?... É preciso ouvir Tom Jobim”. Qual brasileiro não conhece Tom Jobim? Jobim é um desses gigantes dos quais é difícil falar algo, dada a responsabilidade, mas é impossível deixar passar em branco a data em que ele completaria 90 anos (25 de janeiro). Seria inútil qualquer homenagem ou tentativa de engrandecer sua formidável obra musical, de forma que gostaríamos apenas de ensaiar, aqui, um mapeamento da sua presença significativa, da sua figura e do seu papel no imaginário da cultura brasileira. Tom não era apenas o “maestro soberano”, como bem lembrou Chico Buarque em “Paratodos”. Era o Tom da ligação profunda com a poesia de Vinícius de Moraes, de Carlos Drummond de Andrade e de Manuel Bandeira. Era o Tom da literatura, ao ler Guimarães Rosa e trazê-lo para sua música em “Urubu” e “Matita Perê”. Era o Tom da política, ao compor “Sinfonia da Alvorada” para a Brasília de JK. Era o Tom da natureza no clamar, no seu último disco, “salvem as flores, salvem a primavera”, em “Forever Green”. Era o Tom do humor refinado e da simplicidade nas entrevistas que concedia. Nos idos da década de 1950, quando o samba encontrou-se com o cool-jazz, originando a Bossa Nova, o Brasil viveu uma vanguarda artística que não conhecia. O novo momento político se misturou com uma belle époque das artes — como se referem os franceses. Jovens talentosos, dados à boemia e à vida noturna, com a cabeça em um projeto de procura da identidade cultural nacional, num momento em que a Semana de Arte Moderna de 1922 já havia aberto as portas para experimentação antropofágica e em que Tom herdava Villa-Lobos. Eram momentos de tensão do pós-guerra, das possibilidades democráticas de crescimento sociocultural e político-econômico, da construção da moderna Brasília. Fatores que ventilavam um esperançoso ar de inserção do país no cenário internacional e que davam ao nacionalismo uma sensação menos tensa comparada ao pesado cenário europeu e mundial. O Brasil aparecia como possibilidade de modernidade e de receptividade e a Bossa Nova era providencial nessa conjuntura. Era um ritmo simpático, leve, beira-mar, mas também da vida noturna, do prazer das conversas ao som do violão, bem próximo da imagem que o país desejava passar para si mesmo e para a cena internacional. Saíamos do nacionalismo-exaltação, às vezes exageradamente orquestrado, de Ari Barroso, para uma versão menos grandiloquente e mais intimista, mais conceitual, mais realista e mais sóbria em seu discurso poético e musical. [relacionadas artigos="85651"] Tom e seus companheiros criaram esse que é um dos estilos musicais populares mais difíceis de interpretar, devido à união de uma cadência rítmica bem específica ao refinamento dos altos e baixos das melodias e a uma harmonia rebuscada (com acordes abertos às sétimas, nonas, décimas-terceiras etc.), mas também receptiva a dissonâncias e experimentações modais. Por um lado, produziram um terreno fértil tanto para o amadurecimento harmônico de nossa música quanto para a recepção de sonoridades externas, por outro, pelo apelo à erudição necessária para o aprofundamento estético, deram esse ar conceitual à música, inexistente nos estilos brasileiros anteriores. A Bossa Nova cumpriu bem seu papel. Mostrou ao Carnegie Hall e ao mundo que o balanço do samba era inventivo, pois estava atento e aberto tanto às influências impressionistas de Debussy e Ravel quanto às tendências mais inventivas do jazz. E ainda revelava um Brasil e brasileiros extremamente desimpedidos, espaçosos e competentes para unir o gingado africano com as harmonias jazzísticas. Talvez um Brasil que mesmo os brasileiros não conheciam. Mas Tom, apesar dos muitos clichês músico-biográficos, transcende a Bossa Nova. Ele não apenas elevou nosso patamar de qualidade, mostrando para nós mesmos que nossa música em nada deve a outros gêneros, como passou a figurar ativamente no nosso imaginário cultural.

Um Tom para cada brasileiro
Em uma das suas últimas entrevistas, Chico Anysio foi questionado: “Há algo que você gostaria de ter feito e não fez?” Sua resposta foi imediata: “Águas de Março”. A sensualidade das curvas que Niemeyer tanto reivindicou estão tão presentes em sua obra quanto nas idas e vindas de “Wave” e de “Garota de Ipanema”. O timbre característico do trompete de Miles Davis reivindica a simplicidade e genialidade em sua interpretação de “Corcovado”. A genialidade de um ofício parece figurar quando, ao observarmos o produto em sua superfície, não compreendemos e não adentramos no tortuoso processo pelo qual ele foi realizado. “A Felicidade”, “Chega de Saudade”, “Águas de Março” (só para citar algumas) parecem ter nascido prontas — sem dor, sem sofrimento — com toda naturalidade. É quase como acreditar num criacionismo, num estalar de dedos, no milagre da criação instantânea e espontânea. Chico Buarque de Holanda, falando de Niemeyer, diz “... quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar”. Chico quis ser arquiteto quando jovem. Tom também. Talvez por isso a sensação dos silêncios e intervalos na Bossa Nova flua de maneira tão natural e arriscada quanto quem caminha pela sinuosidade dos corredores curvos ou pelas as curvas sensuais das mulheres, que Tom e Vinícius com tanto esmero cantaram. É provável que o grande legado de Tom seja essa impressão de espontaneidade e descontração no fazer. (Re)conhecemos Tom na brasilidade desse charme da criação da beleza. Quisera qualquer brasileiro exercer seu ofício com a naturalidade e desembaraço de quem compôs “Samba de uma nota só” e “Samba do Avião”, e ao mesmo tempo falava de passarinhos: e daí sair “Passarim”. Uma dica: “A música segundo Tom Jobim”, de 2012, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim é mesmo um evangelho da nossa cultura: documentário sem cara de documentário, vai ao tom do Tom. Vitor Hugo Goiabinha é doutor em história pela UFG, professor de história na UEG, no Colégio Sagrado Coração de Jesus - Pires do Rio, e na Faculdade Brasil Central-Goiânia

Seis poemas de Goethe traduzidos por Wagner Schadeck

Johan Wolfang von Goethe (1749-1832) é considerado o maior escritor alemão e um dos maiores da história da literatura. É autor, dentre outras obras, do poema dramático “Fausto”

Em seu novo filme, os “vai-idosos” Didi e Dedé mostram que ainda conseguem cativar seu público

Augusto Rodrigues, de 42 anos, e seu sobrinho Pedro Maia, de 16, escrevem, a quatro mãos, crítica sobre os “novos” Trapalhões mostrando as percepções de duas gerações de espectadores

13 filmes brasileiros são indicados para o 67º Festival de Cinema de Berlim

Entre longas e curtas metragens, as produções brasileiras disputam os Ursos de Ouro e de Prata em um dos festivais mais importantes do mundo [caption id="attachment_85634" align="aligncenter" width="620"] "Joaquim" concorre ao Urso de Ouro na competição internacional de longas-metragens, a principal mostra do Festival | Foto: Reprodução[/caption] Rui Martins Especial para o Jornal Opção Dos dias 9 a 19 de fevereiro acontece o 67º Festival Internacional de Cinema de Berlim, do qual participarão doze filmes brasileiros, um recorde de participação nas diversas mostras da “Berlinale”. Na competição internacional de longas-metragens, que distribui Ursos de Ouro e de Prata, estará “Joaquim”, de Marcelo Gomes, revivendo a figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, num misto de ficção e história do líder da Inconfidência Mineira — a primeira manifestação da consciência brasileira por sua independência. Para a competição internacional de curtas-metragens, cujo prêmio é o Urso de Ouro, foi selecionado “Estás Vendo Coisas”, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca. O curta, que participou da 32 ª Bienal de São Paulo, tem como foco o mau gosto das músicas bregas que dominam hoje o cenário musical brasileiro, filmado numa discoteca pernambucana. Já na mostra Panorama, dois filmes longas-metragens foram selecionados: “Vazante”, dirigido por Daniela Thomas, e “Pendular”, dirigido por Júlia Murat. “Vazante” revive a época do trabalho escravo dos negros na extração de pedras preciosas em Minas Gerais, fonte da riqueza do Brasil colonial. Na apresentação de “Vazante”, o Festival assinala a falta de memória brasileira, pois até hoje o Brasil não procurou se resgatar das atrocidades dessa época. “Pendular”, por sua vez, mostra as relações entre uma dançarina e um escultor e o significado de suas diferenças artísticas. Um tratamento filosófico de gênero, original, de jovens boêmios à beira da meia-idade. Além desses, a mostra Panorama ainda incluiu outros dois filmes brasileiros: “Como Nossos Pais" (Just Like Our Parents),  de Laís Bodanzky, e "Vênus - Filó a fadinha lésbica”, de Sávio Leite. Na mostra Fórum, está o filme "Rifle", do cineasta Davi Pretto, uma espécie de western gaúcho, mostrando uma luta pela propriedade da terra, de um grande fazendeiro contra um pequeno agricultor. Na mostra Fórum Documentos, está o filme de João Moreira Salles, “No Intenso Agora”, um documentário que reúne cenas da revolta estudantil de maio 68 na França, da invasão da Tchecoslováquia e cenas na China e no Brasil dessa mesma época. Na mostra Geração, dedicada ao cinema jovem, estão três longas-metragens: 1)“As Duas Irenes”, do cineasta Fábio Meira, contando a história de duas meio-irmãs com o mesmo nome e mesma idade, filhas do mesmo pai com mães e níveis sociais diferentes; 2) “Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira, já premiado no Festival do Rio. O filme acompanha o relacionamento entre uma menina de 16 anos e seu pai cego, por quem a garota fica responsável após a morte da avó. A distante convivência do homem com a jovem é conturbada pela presença de uma professora; e 3) “Não Devore o meu Coração”, de Felipe Bragança, que narra uma história de paixão "amour fou" entre adolescentes de 13 anos, ela índia guarani, tendo como pano de fundo a questão da própria identidade e as disputas por terras na fronteira do Brasil com o Paraguai. Ainda na mostra Geração, também está o curta-metragem “Em Busca da Terra sem Males”, de Anna Azevedo.  Na mitologia Guarani, Terra sem males é o lugar onde os índios, enfim, encontram a paz. Nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, um grupo indígena sem-terra ergue uma pequena aldeia chamada Ka ́aguy hovy Porã, “Mata Verde Bonita”. Ali, crianças crescem entre as antigas tradições. Por fim, na mostra Talentos, dedicada a jovens, há ainda em fase de produção, o filme “Medusa”, na categoria de horror e sobrenatural, de Anita Rocha da Silveira. Rui Martins estará em Berlim, em fevereiro, como convidado da organização do Festival.

Morre Suely Paschoal, famosa voz das noites goianas

[caption id="attachment_85468" align="aligncenter" width="533"] Foto: reprodução/ Diário de Goiás/ arquivo pessoal[/caption] Morre Suely Paschoal, a cantora que fez fama nas noites goianas. Dona de uma voz ímpar, ela era conhecida por suas interpretações de músicas românticas, assim como boleros. Suely lutava contra um câncer já há alguns meses. A cantora, que também foi chefe de Cerimonial do Tribunal de Contas do Estado (TCE-GO), era casada com Luvanor, o ex-jogador do Goiás que é lembrado até hoje por seu desempenho em campo. O velório está acontecendo no Cemitério Jardim das Palmeiras desde as 6 horas e o sepultamento será em Catalão, cidade na qual a cantora nasceu.

Veja cena do filme que causou vômitos e desmaios no Festival de Toronto

“Raw”, filme da jovem e premiada diretora francesa Julia Ducournau, causou uma polêmica danada no Festival de Toronto no fim do ano passado, quando alguns espectadores desmaiaram e vomitaram durante a exibição do longa. O filme conta a história de uma caloura vegetariana que, após ser obrigada a comer carne crua  (aparentemente rim de coelho) em um trote, passa a ter transtornos e uma vontade crescente de consumir carne crua, até tornar-se canibal. Uma cena que mostra o início do trote universitário que causa a reviravolta na vida da protagonista foi divulgada recentemente. Veja: https://www.youtube.com/watch?v=PJpHktljM60

“Defendo o legado de um governo que mudou Goiás. Isso me motiva a disputar a sucessão”

Lançado por Marconi Perillo como o nome para ser seu sucessor em 2018, vice-governador diz que não teme adversários nem críticas e que vai defender o projeto da base com convicção

Secos e Molhados: que fim levaram todas as flores 45 anos depois

Com exuberantes roupas e sensuais coreografias, o trio de rostos pintados formado em 1970 é um dos maiores nomes da MPB e segue para sempre inesquecível

Os diálogos com a Ibéria hebraica na poesia de Moacir Amâncio

Com trajetória singular na Literatura Brasileira, o autor paulista já publicou de obra romanesca de raízes populares à de refinada poesia, levando sempre o leitor a uma viagem através da língua

“La La Land” e por que são bobos os românticos

De Damien Chazelle, a obra não só inspira os sonhadores, como vai além ao contar que a vida é muito mais que uma história de amor

Sombrio e futurista, o mundo de Nonohay desmascara as pulsões do meio virtual

[caption id="attachment_84945" align="alignleft" width="300"] A obra tem 302 páginas, mas conta com uma leitura fluida que logo chega ao fim[/caption] Também juiz, o escritor porto-alegrense cinzela com objetividade e certa crueza um mundo de seres humanos deprimidos ou tomados pela incerteza, que tentam se relacionar ou se sobrepor uns aos outros

“As grandes cidades convivem com a divisão entre as ‘zonas vigiadas’ e suas periferias. O uso de drogas e medicamentos é disseminado, sendo controlado por laboratórios. Implantes cibernéticos são uma realidade, aumentando capacidades e aptidões, como a de memória, para aqueles que conseguem arcar com os custos. Religiões e grupos terroristas alimentam-se do descontentamento e das diferenças sociais” – Daniel Nonohay
Nórton Luís Benites Especial para o Jornal Opção Já no início da leitura do livro “Um passeio no jardim da vingança”, de Daniel Nonohay, lembrei-me de um especial professor que tive na pós-graduação. Depois de cada raciocínio agudo bem concluído, meio que embalado pelo sentimento de ter provocado dissonâncias cognitivas em seus alunos, esse mestre repetia com voz rouca e sotaque carioca: – Lembrem-se, meus caros, o mundo é mau, O MUNDO É MAU! Porto-alegrense, o também juiz Nonohay arquiteta, em sua obra, um sombrio mundo futurista. Cobiça, individualismo, egoísmo, vilania, crueldade, violência, ódio, exclusão social, fanatismo religioso e terror funcionam como pulsões em um meio virtual e tecnológico, que é fundado na internet, ou em algo que ele chama de “rede”. No meio disso, seres humanos deprimidos ou tomados pela incerteza tentam viver/relacionar-se ou se sobrepor uns aos outros. Tem sexo também, claro. Opa, ficou estranho colocar toda essa maldade no futuro diante do ano de 2016, que acaba de findar, com economia de combustível em avião que cai e mata muita gente, pena de morte de fato promulgada em presídios brasileiros à revelia da nossa Constituição, pessoas morrendo no mar quase no bico da bota da Itália, caminhão jogado contra o povo que se encontra em feira de Natal na Europa e etc. Pensando bem, faz pouco, pois foi em 1924 que Thomas Mann escreveu, na célebre obra “A Montanha Mágica”, que o “segredo e a existência da nossa era não são a libertação e o desenvolvimento do eu. O que ela necessita, o que deseja, o que criará é – o terror”. A obra de Nonohay é “buenísima”, como dizem os portenhos. A escrita é cinzelada com objetividade, com alguma crueza, mas sem perder elegância. Fica claro que o autor não quer desperdiçar o tempo de seu leitor. Apesar disso, o livro tem 302 páginas, cuja leitura voa. Sim, é daquelas histórias magnéticas, que fazem o cara varar a madrugada ou gazear a musculação para terminar de ler. A história tem uma galeria de personagens finamente descrita. Alguns logo viram nossos queridinhos, o que faz doer mais ainda quando eles sofrem – e como eles sofrem. Tem Amanda, que mereceu os seguintes pensamentos do Pastor, um homem de fé e com fibra pra resistir ao profano: A partir de determinado momento, soube que perdera sua isenção. Não tinha como a descrever e analisar em termos absolutamente objetivos. A presença dela era algo que não se podia ignorar. Não se tratava de beleza, embora ela fosse uma mulher muito atraente. Era algo mais. Indefinível. Os homens não ficavam indiferentes a ela; o olhar insistia em voltar para seu corpo, para seus gestos. Ela exigia atenção, mesmo sem o fazer. Acho que autores não devem gostar de resenhas com spoilers, mas, lamento, da Amanda a gente tinha que falar um pouco. O protagonista é Ramiro, um advogado tomado contraditoriamente pelo desânimo e pelo ódio, que adora tecnologia e que fez um implante cibernético no cérebro, o que lhe permite navegar quase sem limites pela “rede” e acessar e gozar de um imensurável fluxo de informações. Eis sua autoimagem: Desde garoto, nunca fora um sujeito popular. Não era tímido ou retraído. Conseguia me deslocar bem no meio social, tinha amigos e conhecidos, mas me faltava a capacidade de cativar. Fundamentalmente, não tinha o dom ou desenvolvera a arte de provocar o amor. [caption id="attachment_84947" align="alignright" width="300"] Daniel Nonohay: a obra se setoriza como em um roteiro fílmico em "descronologia" | Foto: Reprodução[/caption] A tecnologia futurista é um elemento essencial do livro, contudo, ela não parece aliviar muito a doce e dolorosa experiência humana. A propósito, tecnologia “‘é a resposta, mas qual era a questão?’ [...] CEDRIC PRICE (1979) [...] Frase inscrita num button que se tornou popular na década de 1970” – citação de Eduardo Giannetti, em “O livro das citações: um breviário de idéias replicantes”. Nonohay fala muito do humano, de suas contradições, sentimentos, das fraquezas e fortalezas. E faz essa coisa – acho que é filosofia – escrevendo ficção policial e científica. E, bem acompanhado, não seria heresia cogitar que foi mais ou menos isso que Ridley Scott fez em "Blade Runner". Falando nisso, o livro tem uma dimensão cinematográfica latente. Está setorizado como num roteiro em “descronologia”. Parece pronto para ser filmado. E Nonohay é um cara com senso de humor. Tem uma passagem em que o Pastor aborda Rogério, um pândego ébrio, oferecendo-lhe uma dose de uísque: – Posso sentar? – Claro. Quero confessar que, se a tentativa é de me converter, tu começou bem. Alonguei-me, é hora de finalizar. O que eu queria compartilhar mesmo é que o livro “Um passeio no jardim da vingança” é literatura de qualidade, tem filosofia, mas com diversão, com fluidez (flow). É uma ficção brasileira a serviço do prazer de ler. Nórton Luís Benites é natural de Porto Alegre. Além de juiz federal, professor e pós-graduado, é autor de artigos e livros técnicos na área do direito

Novo secretário da SMT admite possibilidade de alteração das ciclovias de Goiânia

Felisberto Tavares não pretende acabar com o que foi feito pela gestão anterior mas diz que providenciará estudos para que trechos sejam melhor aproveitados

Romance de diplomata brasileiro reflete o jovem atual, aquele que protesta sem saber por quê

João Almino demonstra literariamente como a juventude de hoje, sem encontrar líderes confiáveis, não consegue ver a saída para aquilo que lhes causa repulsa

“Todos sabem que paredes mal montadas não se sustentam, assim como um texto mal escrito”

Arquiteto e urbanista, o também poeta Eliézer Bilemjian lança “Da Capa ao Fim” e, em entrevista, comenta a relação entre as letras e demais artes