Por Redação

Iphan aceita argumentos da Procuradoria de Trindade e termina discussão sobre asfaltamento de ruas do Centro da cidade

Candidato que foi jogado para extrema esquerda tem subido nas pesquisas e deve sair bem do debate da próxima segunda-feira, mas as eleições são como as guerras: todo mundo sabe como começam, ninguém sabe como terminam
[caption id="attachment_89679" align="alignleft" width="620"] Jean-Luc Mélenchon tem uma oratória brilhante, mas não consegue tratar dos principais temas de interesse da população francesa | Foto: Thomas Samson/ AFP[/caption]
Frank Wan
Especial para o Jornal Opção
À direita da direita temos Marine Le Pen, na direita moderada temos François Fillon e, depois, aparecem: Benoît Hamon, o candidato oficial do Partido Socialista (que ganhou as eleições contra Manuel Valls, que acabou, nestes dias, por lhe recusar o apoio – assunto que, nas hostes socialistas, é visto de forma diversa), o mágico Emannuel Macron que fundou o Movimento “Em Marcha” e que tem uma promissora carreira no mundo dos negócios a serviço da “Rotschild & Companhia”. Na extrema esquerda do espectro aparece Jean-Luc Mélenchon.
Jean-Luc Mélenchon era o candidato da esquerda, mas o processo eleitoral acabou por empurrá-lo para a extrema esquerda. Coisas que o processo eleitoral tece. Era membro do Partido Socialista, saiu por volta de 2008 e fundou o Partido de Esquerda (PG, Parti de Gauche), o nome, praticamente, diz tudo. Mélenchon fecha o espectro de candidatos elegíveis.
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A semana anterior tinha sido dominada pelas diversas temáticas relacionadas à saúde. A saúde tem um peso considerável no orçamento da França, sobretudo nas últimas décadas, com o crescimento fulgurante dos casos de câncer e crianças que nascem com problemas diversos. O desespero político-econômico é tão grande que levou Marine Le Pen a propor que os estrangeiros em situação ilegal não tivessem direito a cuidados médicos. Como a saúde está sempre ligada à alimentação – é cada vez mais evidente, entre as populações, que os problemas de saúde estão ligados a acelerações químicas da agricultura – seguiu-se, com naturalidade, a problemática da agricultura. O tema é caro a Marine Le Pen, que propõe, há muito, medidas protecionistas para a agricultura francesa. É conhecido que a retórica da extrema direita sempre assenta na agricultura e na segurança.
Mélenchon aborda o problema da agricultura com certa destreza, mas não consegue escapar dos velhíssimos chavões da esquerda da aliança dos operários e dos agricultores (relembro que Mélenchon foi ministro do Ensino Profissional). Nesse momento, para Mélenchon e para todos os candidatos, coloca-se uma das grandes questões da política moderna: qual é o verdadeiro impacto da televisão na vida dos cidadãos? Sempre que algum candidato vai a algum canal de televisão é sempre flechado com as perguntas no seu calcanhar de Aquiles e com um rendilhado de questões sobre sua relação com outros candidatos.
Mélenchon, honra seja feita, foi um dos primeiros a perceber que as “idas à televisão”, nesta fase, não estão dando um bom resultado e decidiu voltar a um velho mecanismo: o comício. É curioso como o abuso dos meios modernos, muitas vezes, faz regressar velhos métodos. Por exemplo, as eleições que decorreram na Holanda, devido às suspeitas de contagens eletrônicas fraudulentas e ataques de hackers, foram feitas totalmente de forma não eletrônica.
Por trás da ideia do comício estão as onipresentes redes sociais: faz-se um comício para um número controlado de já convencidos e estes, depois, naturalmente, chegam a mais pessoas também através das redes sociais.
Mélenchon reúne mais ou menos 4 mil pessoas num comício e aparece sempre como um tribuno poderoso vestido com uma indumentária vagamente semelhante às velhas fotos de Trotsky e outros camaradas. Começa por desfiar o rosário das propostas doces: a agricultura alternativa, sem nunca explicar muito bem como a ia pagá-la, típico da esquerda em geral e de Mélenchon em particular; as cantinas escolares totalmente gratuitas – esta medida anda enchendo a boca de todos os candidatos; e segue de proposta em proposta.
Sem o jogo da pergunta-resposta, em discurso livre, Mélenchon mostra os seus dotes geniais de oratória, arranca risos nas plateias, domina totalmente. Recorre a truques magníficos: finge perder umas folhas de apontamentos, começa a fingir que está perdido no discurso e inicia umas piadas sobre Fillon; como está diante de um auditório de esquerda, as piadas caem como uma luva. Depois começa a imitar o tom melodioso e ensaiado de Macron e esmaga na ironia totalmente o pseudo-centrista.
Mélenchon evoca Jaurès e, com isso, conquista os jovens e emociona os que já não são tão jovens assim, mas nostálgicos de uma velha França que perderam. Claramente, temos duas gerações de socialistas em disputa: Mélenchon é filho do velho socialismo, filho das humanidades, do tempo em que tudo se decidia em discursos de congresso, de academia, de agremiação; Macron é filho do plástico televisivo, do Marketing, dos estudos de mercado, dos números das estatísticas e dos discursos orientados para perfis sociológicos.
Todos os candidatos sabem que Donald Trump ganhou as eleições dos EUA centrando-se no problema do desemprego e todos ensaiam sempre alguns compassos da música do desemprego: Mélenchon recorre a estudos que indicam que o desemprego gera doenças e doenças graves, mas mostra que os modernos empregos também estão na origem de muitas doenças. Pisca o olho para 7 milhões de desempregados (10%). Como vai cobrir todas as dificuldades? Perseguindo os paraísos fiscais. Eis os novos velhos lugares-comuns. Mélenchon dá-lhes um toque de classe de esquerda “se eu for eleito, a festa acabou” (“La fête est terminée si c'est moi qui arrive”), vai pôr todos os vigaristas do capital para trabalhar.
No discurso de todos os candidatos há sempre uma preocupação ecológica e Mélenchon também propõe umas medidas perfumadas com o nome de econômica-social-ecológica e segue com grandes frases e promessas vagas e interessantes, típicas desta fase do processo eleitoral.
A França sente que esta quinta república está a definhar, a que Mélenchon chama, com alguma graça, de monarquia republicana e também reconhece a gigantesca necessidade de “reformas estruturais” – embora nunca se perceba bem o que os políticos querem dizer com este chavão. É bem conhecido que se ganhar teremos uma Assembleia Constituinte que irá iniciar a sexta república.
No fundo, Mélenchon prega aos convertidos e sabe isso, pretende apenas com este Comício fornecer uma espécie de kit argumentativo para que seus apoiantes possam chegar a mais pessoas. Apesar de tudo, pela primeira vez nestas eleições, um candidato expõe publicamente em geral, de forma livre, o desenho das suas propostas e discorre sobre as mesmas apelando mais à nossa inteligência que ao primitivismo das frases e imagens feitas dos meios de comunicação.
Mélenchon revisita os lugares comuns da esquerda acerca dos problemas sociais das grandes cidades, relembrando que todos os franceses são misturas de várias raças e todos vieram de algum lugar para as grandes cidades e que não é possível “desmistiçar” (vaga alusão ao nazismo e à direita mais pura).
Mélenchon é um orador brilhante e trouxe o processo eleitoral para as velhas fronteiras francesas: a política é uma grande troca de palavras que antecede qualquer decisão importante, é feita de discursos, debates, artigos e conversas entre cafés e almoços. É por isso que a França é um país de literatura (e artes em geral), política e culinária.
Terminado este brilhante comício, pessoalmente, a minha nota para Mélenchon é um zero absoluto: depois dos atentados diversos, Bataclan, Nice e outros, a França vive mergulhada no medo, Mélenchon não tem uma palavra sobre terrorismo, que é, praticamente, o tema número um das populações; num momento em que está em pauta a saída da Inglaterra da União Europeia pós-referendo, Mélenchon não tem uma palavra para a questão europeia; não forneceu uma única explicação de como tenciona relançar a competitividade das empresas, num momento em que a dívida francesa atinge os 100%.
Segunda-feira, dia 20 de março, realiza-se na TF1 o primeiro debate televisivo que colocará frente a frente os cinco candidatos com maiores intenções de votos nas últimas pesquisas. Este debate, que oporá Jean-Luc Mélenchon, Marine Le Pen, François Fillon, Benoît Hamon e Emmanuel Macron mudará, naturalmente, a direção do processo eleitoral.
Desde o início da campanha eleitoral, Mélenchon subiu surpreendentes 10 pontos nas intenções de votos. Na segunda-feira dar-se-á o primeiro grande embate televisivo num formato em que Mélenchon é temível: perguntas e respostas com tempo controlado.
As eleições são como as guerras: todo mundo sabe como começam, ninguém sabe como terminam.
Frank Wan vive em Portugal. É ensaista, poeta, tradutor e professor.

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Se a tragédia, como bem percebeu Aristóteles, é a representação de homens superiores, o que faz de Lear superior? Podemos dizer que Lear é um herói trágico por excelência, pois ele concentra em si uma paixão e um desejo de ação que lhe serão fatais

Eleições presidenciais francesas tornam claros os grandes dilemas da política moderna ocidental: a judicialização da política, o desânimo dos eleitores e a ascensão da direita
[caption id="attachment_89515" align="alignleft" width="620"] Embora esteja no centro de processos jurídicos, Penélope Fillon salvou a direita francesa e tem um projeto: tornar o marido, François Fillon, presidente da França | Foto: E1[/caption]
Frank Wan
Especial para o Jornal Opção
Qual é a sensação que domina neste momento? A campanha não arranca. Todos os candidatos sabem que há um momento em que tudo se harmoniza e começa a girar em torno de um conjunto de temáticas e cada um deles empurra para frente esse momento, sem procurar os temas fortes. De Emmanuel Macron, não esperem nada. Ele vem com a imagem polida pelos marqueteiros e tem a técnica dos televangelistas: emociona e não diz nada. Já François Fillon tem mais a perder do que a ganhar: joga no ataque enquanto o processo jurídico contra ele avança e na defesa quando tudo se acalma. Todos os outros estão perdidos nas manobras e nas maquiavelices políticas.
Resumo: a campanha não “arranca”, os candidatos atolam-se nas suas máquinas de apoio e Marine Le Pen sai na frente. Apesar de uma semana em que esteve sempre em foco o processo jurídico contra sua secretária e um guarda-costas, Le Pen segue na frente. Ela fez, no domingo, 5, um discurso brilhante — quer no tempo, quer no vocabulário utilizado, quer no ritmo, quer nas temáticas — e, pasmem os deuses, é da boca de Le Pen que vem a grande temática do mundo político moderno: estaremos diante do domínio e controle dos juízes sobre o sistema político, armadilha em que caiu a Roma antiga?
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Na França, estamos longe do que se chama, em sociologia e estatística, “cristalização”: o momento em que as intenções de voto se estabilizam e as margens de erro diminuem de modo a nos permitir tirar ilações do que será o voto real. Lição esquecida por muitos no passado recente: podem fazer todos os truques na imprensa e redes sociais, mas é sempre o voto que conta.
Neste momento, embora a imprensa, nos seus resumos de um minuto, mostrem sondagens de resultados finais, o mais importante para quem acompanha as filigranas do processo político é saber quem são os terceiro e quarto posicionados, pois são esses que farão a balança se mover e é deles que pode, perigosamente, sair um candidato que surpreendentemente chega à frente por algum motivo imprevisto de campanha. Dois fatos marcam o momento e os dois são da direita: Le Pen está na frente, cada vez mais na frente, e Fillon caiu, mas está estável. O que Fillon precisa é reduzir os estragos.
Relembro que o processo judicial recai sobre Penélope Fillon e não sobre o marido. Penélope é o fantasma da ópera, a mulher do momento; se não fosse o processo, dificilmente alguém pararia François Fillon. Não perdoam Penélope estar casada com Fillon desde 1980; não lhe perdoam o fato de, nos piores momentos em que se percebia que Fillon queria desistir, ela, sempre tão apagada, surgir ao lado dele silenciosa, discreta e dura; não lhe perdoam por não ser francesa e, pior, não lhe perdoam ter empurrado o marido para o cargo de primeiro ministro, quando todos queriam enterrar politicamente o presidente Sarkozy.
A galesa salvou a direita francesa e chegou ao Hotel Matignon ao lado do marido com uma faísca nos olhos: vocês nunca nos vencerão. Uma mulher vinda do país do Gales no centro do xadrez político francês gera, convenhamos, alguns ódios. Toda a gente sabe que Penélope tem um plano: quer que o marido seja presidente da República e é por isso que as acusações que lhe fazem recaem, por exemplo, sobre financiamentos que recebeu de revistas de literatura.
Cada vez mais, quem não vota decide eleições. Decide de forma indireta, ao alterar os universos de votos absolutos, e decide se muda de ideia na última hora e vai votar. Esses votos de última hora são, por vezes, muito imprevisíveis e uma coisa é certa: os franceses (os europeus no geral) votam cada vez menos. Alguns levantamentos sociológicos atribuem isso, além das questões sociais, por exemplo, o natural comodismo moderno, às grandes desilusões do ciclo François Mitterrand e Jacques Chirac.
Os dois ex-presidentes, quando estavam em campanha, conseguiram dar uma injeção de confiança e esperança no eleitorado francês, mas suas presenças no Palácio do Eliseu foram profundamente decepcionantes, deixando marcas que, segundo os sociólogos, perduram no eleitorado. Todos os que votaram pela primeira vez nos anos 1990 têm agora mais de 40 anos e essa faixa etária apresenta níveis muito grandes de desinteresse pelo processo político. É o que se chama de “Não há nada a fazer e nem quero saber disso para nada” (rien à foutre et rien à faire).
Sociologicamente nota-se que as pessoas, apesar de continuarem assistindo ao espetáculo do processo eleitoral, não votam. O entusiasmo da “luta” política é grande, mas as pessoas não são seduzidas a participar diretamente. As razões são simples e têm dois fatos: os políticos dão maus exemplos e as pessoas são individualistas. O primeiro é evidente em qualquer parte do mundo e o segundo é preocupante, pois as pessoas, pela força também dos aparelhos de comunicação individuais, tendem a se fechar em círculos de interesse cada vez mais reduzidos. É um daqueles efeitos perversos das redes sociais: isolam socialmente. Num ponto, à medida que a troca de informação é cada vez mais entre indivíduos sobre o indivíduo e seus interesses imediatos, os temas das grandes decisões nacionais vão sendo afastados.
Quando se faz um levantamento sociológico do motivo do abandono e desacreditação dos políticos, é fácil verificar em que pé está o descontentamento:
- Não dizem a verdade e não cumprem o que prometem. Os diagnósticos dos políticos são autênticos contos de fadas e qualquer pessoa totalmente desinformada é capaz de dizer de cor uma dezena de promessas que ouviu na boca de políticos (locais, regionais, nacionais e internacionais) e que não foram cumpridas. O homem do século XXI está pouco disponível para participar num processo que sabe estar eivado de mentiras e falsidades.
- Os políticos normalmente saem impunes de seus crimes e ilegalidades, o que tem sido devastador para a participação do cidadão no processo político.

Capital da Fé é o primeiro de 20 municípios a receber fase oficial de debates sobre o Plano de Desenvolvimento Integrado

Em “Desconstruindo Sofia”, de Solemar Oliveira, testemunhamos a obsessão de um matemático em encontrar a ex-esposa, chamada por ele de Sofia (será mesmo o nome dela?), madrugadas adentro pelas zonas de prostituição de uma cidade não nomeada

[caption id="attachment_89145" align="alignleft" width="620"] "Justiça combatendo a Injustiça” (1737), pintura de Jean-Marc Nattier[/caption]
Leonardo Teixeira
Especial para o Jornal Opção
Articula-se pelas redes sociais um movimento aparentemente apartidário para protestar nas ruas brevemente. Seria um déjà vu (na tríade “Fora Collor, Fora Dilma, Fora Temer”), como se algum dos políticos engravatados fosse compadecer da situação e abrir mão (e a carteira) das suas regalias no reino. A exemplo dos 30 milhões anuais (em média), quantia gasta com um único político. Ou ainda mais esses exemplos: a aposentadoria rápida, os assessores nepotistas, as verbas indenizatórias, os planos médicos, os litros diários de gasolina, as passagens aéreas ou a imunidade parlamentar. Reza a lenda caótica que santo de casa não faz milagre.
Mas o texto de hoje não tinha a pretensão ácida no mesmo tom dos dedos apontados – tão rijos e castos –, rumando alvos distantes, diretamente nos erros alheios; ou da velha verve que se diz julgadora superior da errante raça humana. Atiraram a primeira pedra e um turbilhão de achincalhes é metralhado em plena era digital sem fakes ou melhores looks. Nem a rebelião de Luke Skywalker, ou suas palavras sobre a força podem amenizar os desvios de conduta humana e seus gostos pelo lado negro e bizarro da coisa toda.
Se até mesmo a nossa ficção parte de uma premissa mentirosa (que o diga qualquer ator teatral), nosso entretenimento também prioriza o riso grotesco. Cito como exemplo o apreço pelos vídeos idiotas do WhatsApp, as pegadinhas e cacetadas e demais similares. Quando o show de um mágico está ficando sem graça, ele apela para a guilhotina de braço. A ameaça de decepar o braço alheio craveja os olhos de suspense e emoção. Todos os humanos são bipartidos à maneira yin-yang de ser. Essa é uma das poucas regras sem exceção.
Eis o lado malvado, sem ser favorito, que brota quando ninguém está vendo. O jeitinho malandro de levar vantagem ultrapassa limites racionais. Sendo capaz, inclusive, de estar presente no momento de uma catástrofe ou grave acidente, quando mais é necessária a ajuda alheia. Quantos relatos não há sobre algum ser humano iluminado (pelas chamas infernais) que furta a mala, aliança, carteira, celular, óculos e roupas, em vez de prestar socorro? Por isso, ante um tombamento de caminhões, as pessoas frequentemente ameaçam ou machucam os motoristas e levam as cargas derramadas. Há poucos dias mesmo, vi a notícia de que dezenas de pessoas pararam os seus carros e os encheram com frascos de óleo de cozinha (que seriam distribuídos nos supermercados) que estavam dentro de um caminhão tombado.
Não imagine que tais saques são novidades modernas. No museu de Turim há um papiro do reinado de Ramsés V (1145 a.C.) que menciona os roubos, saques e greves. Sem falar do antecessor Ramsés IV, cuja corrupção “endêmica” no governo do antigo Egito foi mencionada em um papiro (Harris) de mais de 40 metros de comprimento.
Este sujeito saqueador é o mesmo indivíduo que critica a corrupção brasileira, fala mal dos outros, dos partidos, dos bandidos. Tem uma noção tosca sobre errinhos e errões, pecadinhos e pecadões. Não se pode desviar dinheiro público, desviar verbas, superfaturar obras, abusar de propinas robustas, levar vantagens ilícitas, mas muitos acham que é normal falsificar carteirinha de estudante, furtar e burlar sinal de TV a cabo, comprar e vender produtos falsificados, furar filas, colar e passar cola nas provas (ou copiar trabalhos, textos e artigos da internet), bater ponto e assinar lista de presença para colegas de trabalho ou de estudo, apresentar atestados médicos falsos, inventar uma justificativa (as mentiras tidas como socialmente necessárias), vender ou comprar o voto, estacionar em vagas especiais (ainda que seja rapidinho), falsificar assinaturas, declarar informações falsas no imposto de renda (omitir ou comprar notas), receber troco a mais e não devolver, não dar nota fiscal (ou o valor correto), desrespeitar lugares reservados em ônibus, cinema, teatro, estacionamento etc, levar para casa enfeites de festa que não são cortesia, tentar subornar o policial ou guarda de trânsito, burlar normas de trânsito (sinais, parar em filas duplas, andar pelo acostamento ou em pistas reservadas a ônibus, e “gatos” por exemplo), desrespeitar normas trabalhistas, pagar multas e continuar desobedecendo a lei, jogar lixo pela janela ou nas ruas, receber auxílios sem necessidade (moradia, deslocamento, verbas de gabinete, despesas extras) etc.
Ufa! Que textão! Você ainda está aí?
Esse é o mesmo ser humano que se acha no direito de queimar um índio, um menor abandonado, um mendigo, ou qualquer outra pessoa que esteja numa pior, na sarjeta do mundo, ou sofrendo os preconceitos de uma minoria. Uns se diferenciam dos outros pelas escolhas diárias, pelos limites comportamentais etc. Mas é a mesma criatura humana, benevolente quando quer, mas diabólica ao extremo, frequentemente encontrado numa situação extremista ou terrorista. É o mesmo que sai bradando o seu legítimo protesto, com cartazes e tintas típicas da bandeira, sem conhecer a própria hipocrisia, como um peixe que nada pelo rio sem saber que está na água...
No livro “Raízes do Brasil” (1936), Sérgio Buarque Holanda cita nossos ancestrais e colonizadores europeus imersos nas imoralidades históricas e isso se “refletiria nas suas relações com outros indivíduos, instituições, leis e a política”.
Curioso o fato de Platão, em sua “utopia republicana” ter falado que “a justiça e a honestidade apenas acontecerão na política quando os governantes forem amantes da sabedoria (filósofos), ou os amantes da sabedoria assumirem o governo”. Depois, em seu livro “As Leis”, ele já não confiava mais na incorruptibilidade de um governante sábio. Isso no mundo onde os filósofos sofistas foram acusados de corruptores da linguagem. Aristóteles escreveu sobre corrupção no livro “A Geração e a Corrupção”, apesar de cunho mais metafísico e biológico. Em tese, todos os seres naturais possuiriam uma substância e uma finalidade. Quando a substância de algum ser, ou sua finalidade, se modifica, este ser se corrompe, degenera, se perverte. A morte é a corrupção da vida, e tudo se corrompe quando não cumpre sua finalidade, ou a deturpa.
Moral da história: corrupção é um problema ético, pessoal e cultural. Qualquer reflexo político é mero esparramar de fragmentos humanos. Podemos ao menos frear pequenos impulsos diante do que chamamos de corrupções menores. Se colocar verdadeiramente na frente de outra pessoa e pensar algo como “se fosse comigo, eu gostaria disso?”
Era pra ser um texto mais ameno, talvez algo sobre o formato tosco e irregular de um brócolis, uma miniárvore antes de ser digerida. Antes que a música, de apenas dois acordes, símbolo das manifestações (“Caminhando e cantando...”) — seja amplificada a plenos e múltiplos pulmões — sigam nas várias direções do país, quem sabe possamos refletir como melhorar nossas próximas ações e condutas? Até a próxima página!
Leonardo Teixeira é escritor

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Se não tivesse furos de roteiro, este não seria um filme da Fox. Porém, é um excelente pontapé inicial para a nova era da franquia X-Men nos cinemas
[caption id="attachment_88767" align="alignleft" width="620"] "Logan" não é apenas uma despedida, mas uma passagem de bastão do velho Wolverine para a nova geração de X-Men[/caption]
Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
Na crítica que escrevi sobre “X-Men – Apocalipse” falei que a franquia da Fox deveria parar de persistir nos mesmos erros – muitos personagens e pouco tempo de tela para desenvolvimento, pirotecnia exacerbada e problemas cronológicos por causa de furos do roteiro – e construir um novo enredo para a nova fase dos filmes de mutante. Afinal, depois de 17 anos, precisavam mudar. Bem, com o novo filme de Wolverine isso finalmente aconteceu.
“Logan” é uma mistura de faroeste com drama familiar, uma carta de despedida com um novo recomeço. O filme do Carcaju – é o animal no qual Len Wein se inspirou para criar o personagem Wolverine – é uma conquista incrível. É brutal, mas ao mesmo tempo muito mais emocional do que sua raiva devastadora de sempre. “Logan” deixa de lado aquela pirotecnia habitual para os filmes X-Men, e foca no que realmente importa: trabalhar o psicológico das personagens nas passagens de tempo sobre passado e presente, juventude e velhice, saudosismo e novidade. E, claro, com um pouco de problema cronológico – se não tem problemas cronológicos, não seria um filme da Fox.
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E isso só foi possível porque o estúdio resolveu chutar o balde e fazer “Deadpool” com classificação para maiores de 17 anos, o que fugiu totalmente do formato padrão usado nos filmes do gênero. A Fox, então, percebendo o sucesso estrondoso de crítica, público e bilheteria do mercenário tagarela, resolveu arriscar o personagem mais memorável da franquia: o Wolverine. Após o inexpressivo “X-Men Origens: Wolverine”, e de “Wolverine: Imortal” – nenhum dos dois faz jus aos quadrinhos –, “Logan” finalmente ganha a sequência que os fãs sempre pediram, mas, claro, com algumas restrições.
O derradeiro filme do Carcaju marca também a despedida do ator Hugh Jackman que interpretou o personagem nove vezes em 17 anos de franquia. Assim, para a última jornada de Wolverine, Jackman e o diretor James Mangold adaptaram para as telonas a HQ “O Velho Logan” (Old Man Logan), roteirizada por Mark Miller e ilustrada por Steve McNiven – dupla que também assina “Guerra Civil” – e publicada de 2008 a 2009, entre as edições #66 e #72 da revista “Wolverine (volume 3)” e no especial “Wolverine: Old Man Logan Giant-Size”.
A história dos quadrinhos é encaixada no universo dos X-Men do cinema, já o roteiro de “Logan” aproveita do arco da HQ apenas o estado de saúde do personagem principal e a ideia de um futuro distópico. A personagem X-23/Laura Kinney (Dafne Keen), por exemplo, surgiu na série animada “X-Men: Evolution” e, devido ao sucesso, ganhou espaço nos quadrinhos, mas não faz parte do universo de “O Velho Logan”.
Nos cinco primeiros minutos do filme, é possível perceber que não é se trata de um tradicional longa sobre quadrinhos. O filme já começa mostrando a que veio: briga, brutalidade, sangue, decapitações, crise da meia idade e medo do que o futuro reserva. O ano é 2029, os mutantes deixaram de nascer e os poucos restantes são perseguidos pelo governo, encolhendo significativamente a população e, diferente de como foi apresentado em “Dias de Um Futuro Esquecido”, os X-Men foram extintos.
Embora não seja inteiramente explicado no filme, a aniquilação dos mutantes fica subentendida como responsabilidade da instabilidade mental de Charles Xavier (Patrick Stewart), que teve uma convulsão que acabou matando os membros dos X-Men. O episódio em questão foi chamado de “Acidente de Westchester”, que é a localização da Mansão-X.
Nessa realidade amargurada e de desesperança, um Wolverine decrépito, debilitado, esgotado fisicamente e emocionalmente, além de um alcoólatra semi-funcional que tem dores musculares e visão desvanecida, é apresentado. Ganhando a vida como chofer de limusine para cuidar do nonagenário Charles Xavier, Logan planeja juntar o dinheiro que ganha para comprar um barco e viver junto com seu mentor no mar, já que as convulsões de Charles vêm ficando cada vez mais fortes. Essa é a forma que o Carcaju acredita ser mais fácil de proteger a todos das constantes crises do antigo professor.
Durante seu trabalho como chofer, Logan é procurado por Gabriela (Elizabeth Rodriguez), uma enfermeira mexicana que pede a ajuda do X-Men aposentado. Ao mesmo tempo em que se recusa a voltar à ativa, ele é confrontado por um mercenário, Donald Pierce (Boyd Holbrook), que está interessado em algo que Gabriela possui, a X-23/Laura Kinney — no decorrer do filme, acaba descobrindo que descobre a pequena garota é, na verdade, sua filha/clone.
Depois do longo dia exaustivo de trabalho, o mutante volta para o esconderijo e ajuda Caliban (Stephen Merchant) a cuidar do Professor X. Enquanto Logan está dando sua medicação contra convulsões, Charles conta que está conversando através de seus poderes com uma jovem mutante chamada Laura e diz a Logan sobre uma profecia em que a jovem mutante precisa dele, mandando-o encontrá-la na Estátua da Liberdade. Logan, porém, responde à menção da estátua com “a Estátua da Liberdade se foi há muito tempo, Charles...”, fazendo referência aos primeiros filmes dos mutantes.
De volta ao trabalho de chofer, Logan é chamado para mais uma corrida e mandado para o Liberty Motel. Chegando lá, ele se lembra da visão do Professor X e encontra Laura em companhia de uma Gabriela seriamente ferida. A enfermeira explica que precisa dos serviços de Logan para levá-las a um local chamado Éden, e oferece uma recompensa muito alta para que ele aceite o serviço.
Wolverine concorda em levá-las ao Éden, um refúgio utópico para mutantes em Dakota do Norte — no decorrer do filme ele descobre que Éden se originou nos quadrinhos X-Men, o que o faz questionar se o Éden realmente existe. Enquanto leva a garota para o Éden, ele, Laura, e Professor X são perseguidos e passam boa parte do longa fugindo de Dr. Zander Rice (Richard E. Grant) e dos Carniceiros de Donald Pierce.
O diretor Mangold, nesse ponto do filme, atinge um bom equilíbrio entre “Os Brutos Também Amam” e “Mad Max: Estrada da Fúria”, com uma pequena virada estilo “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final.” A partir da cena da fazenda tudo muda. Esse não é um filme de final feliz — aliás, cenas em celeiros nos filmes do Wolverine significam apenas uma coisa: morte.
O terceiro ato de “Logan” significa que agora tudo se foi, e o que restou são sombras, poeira e uma filha/clone. É quando você percebe que o filme não é apenas uma história de despedida, mas uma representação simbólica da passagem de bastão do velho Wolverine para a nova geração de Laura. É uma conclusão digna para o mutante que esteve na maioria das vezes no centro dos filmes X-Men.
É claro que a história deixou algumas pontas soltas, mas isso é tão recorrente na franquia da Fox, que a gente acaba relevando, pois é justificado com “muito enredo e pouco tempo para desenvolvimento”, apesar de ser um filme de 2h17minutos. É um filme de início, meio e fim que, apesar dos pequenos furos, se resolve muito bem na telona. Com os dois pés no chão a direção de James Mangold trouxe o que há de melhor das atuações de Hugh Jackman, Patrick Stewart e da surpreendente Dafne Keen. E isso é o que importa. Não teve o Wolverine vestido com o uniforme clássico, mas teve várias representações disso durante o filme. Não teve uma explicação mais profunda do acidente de Westchester, mas ficou ali subentendido. Não dá para ficar preso nessas questões.
A franquia “X-Men” da Fox está nas telonas há 17 anos com esse problema de furos de roteiro e agora ela terá oportunidade de trabalhar essas pontas soltas já que tem três linhas temporais para trabalhar o enredo: “X-Men: Supernova”, que se passará no final dos anos 1980, início dos 1990, contando a saga da Fênix Negra; “Deadpool 2”, com o enredo focado no presente com a aparição do vilão Cable; e no futuro com o filme “X-Men: The New Mutants”.
“Logan” foi um excelente ponta pé inicial para os filmes de quadrinhos desse ano e só nos resta esperar que os próximos filmes sigam o mesmo caminho de qualidade. Afinal, o mundo já não é mais o mesmo, e os filmes de quadrinhos também não.
Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

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