Por Redação

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Justiça goiana afasta delegado e agente de polícia por suspeita de cobrança ilegal de fiança

Segundo investigação, os dois teriam exigido R$ 8 mil de um comerciante de Morrinhos, que chegou a ser algemado e preso

Apesar dos furos, “Logan” se resolve muito bem na telona

Se não tivesse furos de roteiro, este não seria um filme da Fox. Porém, é um excelente pontapé inicial para a nova era da franquia X-Men nos cinemas [caption id="attachment_88767" align="alignleft" width="620"] "Logan" não é apenas uma despedida, mas uma passagem de bastão do velho Wolverine para a nova geração de X-Men[/caption] Ana Amélia Ribeiro Especial para o Jornal Opção Na crítica que escrevi sobre “X-Men – Apocalipse” falei que a franquia da Fox deveria parar de persistir nos mesmos erros – muitos personagens e pouco tempo de tela para desenvolvimento, pirotecnia exacerbada e problemas cronológicos por causa de furos do roteiro – e construir um novo enredo para a nova fase dos filmes de mutante. Afinal, depois de 17 anos, precisavam mudar. Bem, com o novo filme de Wolverine isso finalmente aconteceu. “Logan” é uma mistura de faroeste com drama familiar, uma carta de despedida com um novo recomeço. O filme do Carcaju – é o animal no qual Len Wein se inspirou para criar o personagem Wolverine – é uma conquista incrível. É brutal, mas ao mesmo tempo muito mais emocional do que sua raiva devastadora de sempre. “Logan” deixa de lado aquela pirotecnia habitual para os filmes X-Men, e foca no que realmente importa: trabalhar o psicológico das personagens nas passagens de tempo sobre passado e presente, juventude e velhice, saudosismo e novidade. E, claro, com um pouco de problema cronológico – se não tem problemas cronológicos, não seria um filme da Fox. [relacionadas artigos="88503"] E isso só foi possível porque o estúdio resolveu chutar o balde e fazer “Deadpool” com classificação para maiores de 17 anos, o que fugiu totalmente do formato padrão usado nos filmes do gênero. A Fox, então, percebendo o sucesso estrondoso de crítica, público e bilheteria do mercenário tagarela, resolveu arriscar o personagem mais memorável da franquia: o Wolverine. Após o inexpressivo “X-Men Origens: Wolverine”, e de “Wolverine: Imortal” – nenhum dos dois faz jus aos quadrinhos –, “Logan” finalmente ganha a sequência que os fãs sempre pediram, mas, claro, com algumas restrições. O derradeiro filme do Carcaju marca também a despedida do ator Hugh Jackman que interpretou o personagem nove vezes em 17 anos de franquia. Assim, para a última jornada de Wolverine, Jackman e o diretor James Mangold adaptaram para as telonas a HQ “O Velho Logan” (Old Man Logan), roteirizada por Mark Miller e ilustrada por Steve McNiven – dupla que também assina “Guerra Civil” – e publicada de 2008 a 2009, entre as edições #66 e #72 da revista “Wolverine (volume 3)” e no especial “Wolverine: Old Man Logan Giant-Size”. A história dos quadrinhos é encaixada no universo dos X-Men do cinema, já o roteiro de “Logan” aproveita do arco da HQ apenas o estado de saúde do personagem principal e a ideia de um futuro distópico. A personagem X-23/Laura Kinney (Dafne Keen), por exemplo, surgiu na série animada “X-Men: Evolution” e, devido ao sucesso, ganhou espaço nos quadrinhos, mas não faz parte do universo de “O Velho Logan”. Nos cinco primeiros minutos do filme, é possível perceber que não é se trata de um tradicional longa sobre quadrinhos. O filme já começa mostrando a que veio: briga, brutalidade, sangue, decapitações, crise da meia idade e medo do que o futuro reserva. O ano é 2029, os mutantes deixaram de nascer e os poucos restantes são perseguidos pelo governo, encolhendo significativamente a população e, diferente de como foi apresentado em “Dias de Um Futuro Esquecido”, os X-Men foram extintos. Embora não seja inteiramente explicado no filme, a aniquilação dos mutantes fica subentendida como responsabilidade da instabilidade mental de Charles Xavier (Patrick Stewart), que teve uma convulsão que acabou matando os membros dos X-Men. O episódio em questão foi chamado de “Acidente de Westchester”, que é a localização da Mansão-X. Nessa realidade amargurada e de desesperança, um Wolverine decrépito, debilitado, esgotado fisicamente e emocionalmente, além de um alcoólatra semi-funcional que tem dores musculares e visão desvanecida, é apresentado. Ganhando a vida como chofer de limusine para cuidar do nonagenário Charles Xavier, Logan planeja juntar o dinheiro que ganha para comprar um barco e viver junto com seu mentor no mar, já que as convulsões de Charles vêm ficando cada vez mais fortes. Essa é a forma que o Carcaju acredita ser mais fácil de proteger a todos das constantes crises do antigo professor. Durante seu trabalho como chofer, Logan é procurado por Gabriela (Elizabeth Rodriguez), uma enfermeira mexicana que pede a ajuda do X-Men aposentado. Ao mesmo tempo em que se recusa a voltar à ativa, ele é confrontado por um mercenário, Donald Pierce (Boyd Holbrook), que está interessado em algo que Gabriela possui, a X-23/Laura Kinney — no decorrer do filme, acaba descobrindo que descobre a pequena garota é, na verdade, sua filha/clone. Depois do longo dia exaustivo de trabalho, o mutante volta para o esconderijo e ajuda Caliban (Stephen Merchant) a cuidar do Professor X. Enquanto Logan está dando sua medicação contra convulsões, Charles conta que está conversando através de seus poderes com uma jovem mutante chamada Laura e diz a Logan sobre uma profecia em que a jovem mutante precisa dele, mandando-o encontrá-la na Estátua da Liberdade. Logan, porém, responde à menção da estátua com “a Estátua da Liberdade se foi há muito tempo, Charles...”, fazendo referência aos primeiros filmes dos mutantes. De volta ao trabalho de chofer, Logan é chamado para mais uma corrida e mandado para o Liberty Motel. Chegando lá, ele se lembra da visão do Professor X e encontra Laura em companhia de uma Gabriela seriamente ferida. A enfermeira explica que precisa dos serviços de Logan para levá-las a um local chamado Éden, e oferece uma recompensa muito alta para que ele aceite o serviço. Wolverine concorda em levá-las ao Éden, um refúgio utópico para mutantes em Dakota do Norte — no decorrer do filme ele descobre que Éden se originou nos quadrinhos X-Men, o que o faz questionar se o Éden realmente existe. Enquanto leva a garota para o Éden, ele, Laura, e Professor X são perseguidos e passam boa parte do longa fugindo de Dr. Zander Rice (Richard E. Grant) e dos Carniceiros de Donald Pierce. O diretor Mangold, nesse ponto do filme, atinge um bom equilíbrio entre “Os Brutos Também Amam” e “Mad Max: Estrada da Fúria”, com uma pequena virada estilo “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final.” A partir da cena da fazenda tudo muda. Esse não é um filme de final feliz — aliás, cenas em celeiros nos filmes do Wolverine significam apenas uma coisa: morte. O terceiro ato de “Logan” significa que agora tudo se foi, e o que restou são sombras, poeira e uma filha/clone. É quando você percebe que o filme não é apenas uma história de despedida, mas uma representação simbólica da passagem de bastão do velho Wolverine para a nova geração de Laura. É uma conclusão digna para o mutante que esteve na maioria das vezes no centro dos filmes X-Men. É claro que a história deixou algumas pontas soltas, mas isso é tão recorrente na franquia da Fox, que a gente acaba relevando, pois é justificado com “muito enredo e pouco tempo para desenvolvimento”, apesar de ser um filme de 2h17minutos. É um filme de início, meio e fim que, apesar dos pequenos furos, se resolve muito bem na telona. Com os dois pés no chão a direção de James Mangold trouxe o que há de melhor das atuações de Hugh Jackman, Patrick Stewart e da surpreendente Dafne Keen. E isso é o que importa. Não teve o Wolverine vestido com o uniforme clássico, mas teve várias representações disso durante o filme. Não teve uma explicação mais profunda do acidente de Westchester, mas ficou ali subentendido. Não dá para ficar preso nessas questões. A franquia “X-Men” da Fox está nas telonas há 17 anos com esse problema de furos de roteiro e agora ela terá oportunidade de trabalhar essas pontas soltas já que tem três linhas temporais para trabalhar o enredo: “X-Men: Supernova”, que se passará no final dos anos 1980, início dos 1990, contando a saga da Fênix Negra; “Deadpool 2”, com o enredo focado no presente com a aparição do vilão Cable; e no futuro com o filme “X-Men: The New Mutants”. “Logan” foi um excelente ponta pé inicial para os filmes de quadrinhos desse ano e só nos resta esperar que os próximos filmes sigam o mesmo caminho de qualidade. Afinal, o mundo já não é mais o mesmo, e os filmes de quadrinhos também não. Ana Amélia Ribeiro, jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

“Os juros poderiam cair mais, porém já vemos um ambiente propício à volta do crescimento”

Ex-deputado federal diz que o gasto dos governos, em todas as esferas e Poderes, são os maiores culpados pela crise que atrasou o Brasil em uma década

O jornalista Doracino Naves era múltiplo; acima tudo, um ser decente. Era gente

Intelectual dedicado à cultura, dirigiu um programa de televisão e editou uma revista. Foi vereador e secretário de Cultura. Fará falta

Há um princípio universal que a família Le Pen tem dificuldade em entender: um voto conta

Marine Le Pen deve ir ao segundo turno, mas sua velha política encontrará dificuldade nas urnas [caption id="attachment_88263" align="aligncenter" width="620"] Filha de Jean-Marie Le Pen, Marine deve ir ao segundo turno, mas enfrentará dificuldades | Foto: Charles Platiau[/caption] Frank Wan Especial para o Jornal Opção Parece ser evidente, para muitos que se fiam à contagem tradicional de votos, que Marine Le Pen passa ao segundo turno das eleições presidenciais francesas. Coloca-se então a questão: quem é o melhor candidato para derrotar a filha de Jean-Marie Le Pen, partindo do princípio –  coisa que a gigantesca maioria da mídia faz – que derrotar Le Pen é defender algum estado da civilização que, com a vitória dela, se perderá? Os leitores já estão habituados a estes axiomas: se Donald Trump vencesse eram também anunciados diversos apocalipses e tsunamis, mas, na lógica midiática, a grande catástrofe vem sempre a seguir. A Frente Nacional (Front National, FN) não é apenas um partido político, tem também os traços antropológicos de uma religião. Não é incomum perpassarem no discurso dos seus apoiadores expressões como “até ao sangue”. Tal como todos os movimentos religiosos, a Frente Nacional  também tem uma visão particular da história (e de certos momentos chave da história) e esta leitura histórica é uma referência permanente no seu pensamento. Tendo um discurso anti-estruturas políticas, a FN bate-se permanentemente com o grave problema das fontes de financiamento, mas, como muitas magias que a política faz, o dinheiro sempre aparece e, desta vez, voltou a aparecer sob o título de “dinheiro russo” — e aqui os menos distraídos já se recordam do “fantasma russo” na eleição que levou Trump ao poder. [relacionadas artigos="87921"] Pelo mundo afora, o momento das eleições parece ser um momento de depuração. Há uma súbita febre de honestidade e denúncia, sempre ausente em tempos não eleitorais, onde a pureza ética parece tirar férias. Nos EUA, por exemplo, as mulheres só se lembram que foram vítimas sexuais de algum candidato no período eleitoral — com a dupla perversidade de, não apenas lançar suspeitas, provavelmente injustas, sobre algum candidato, mas também de fazer um péssimo serviço às vítimas reais desse tipo de crime, descredibilizando-as. Recentemente uma socióloga nos chamava a atenção para o fato de, nos anos 1980, com uma dada ficha de inquérito, 30% das pessoas acreditarem que os políticos eram todos corruptos e, com a mesma ficha, em 2010, o resultado ter dado acima de 75%. Mas, curiosamente, isso não altera significativamente o sentido do voto tomando um conjunto de eleições — embora, na minha opinião, não deixe de ter repercussões no número de abstenções. Seja como for, em período eleitoral alguma lama será sempre mutuamente atirada. Se François Fillon é acusado de desvios financeiros pessoais pouco consideráveis, mas eticamente muito pesados, Marine Le Pen e seu pai já têm um patrimônio de peso. Também sobre a família Le Pen pairam fortes suspeitas de gigantescos desvios de dinheiro, normalmente, sob a forma de desvalorização dos bens patrimoniais para fuga aos impostos. É surpreendente para muitos que Fillon esteja sob tantos holofotes por quantias irrisórias enquanto que Le Pen há anos passe incólume, embora recaiam sobre si somas muito mais avultadas. Diria que Le Pen usa a arma da pureza financeira com algum equilíbrio, o que é até estranho para esta família política, mas os telhados de vidro, provavelmente, a isso obrigam. Já Fillon usou e abusou dos bonecos conceituais tão do gosto dos políticos modernos: a honestidade, a transparência, as diversas incompatibilidades dos cargos políticos, etc. Isso levou-o onde o levou, mas agora está pagando uma gigantesca fatura pelo discurso moralista. Os pecados dos políticos “santos” aparecem sempre que eles deixam o poder e, concomitantemente, de controlar a aparição dos pecados. Afinal, Trump também não pagou impostos e ganhou as eleições! Não só não pagou, como, quando lhe perguntaram se usou um certo fundo para evitar impostos, deu a famigerada resposta: Of course I do, of course I do (Claro que sim, claro que sim). Afinal — e Trump acaba de demonstrá-lo, na puritana  América do Norte —, não pagar impostos e, talvez, andar por aí atrás de umas garotas, não incapacite quem quer seja de ganhar eleições. Em política tudo é assimétrico, o que é válido para Fillon, mas não para Le Pen. Como em todas as eleições presidenciais no mundo, embora no caso de Portugal isso nunca tenha sido muito evidente, tirando as bizarras eleições de Mário Soares e Freitas do Amaral, o resultado no segundo turno raramente esteve em jogo, o importante é continuar no pleito obtendo o famoso “ingresso” (ticket). Como o equilíbrio partidário na França está muito mais estilhaçado do que em qualquer outro país europeu, depois de obtido o “ingresso”,  o jogo muda quase a cada 24h, entra-se num “xadrez relâmpago” vertiginoso de negociações, jogadas e golpes espetaculares. Se, para o primeiro turno, o importante é ter uma boa base fixa, que é o caso máximo de Le Pen, para o segundo, o importante é a flexibilidade. É por isso que Le Pen, e seu pai já tinha esse fantasma, tem o perfil da eterna derrotada no segundo turno. Ainda ecoa nos ouvidos franceses o famoso bordão eleitoralmente suicida de Jean- Marie Le-Pen: não quero nem um voto de esquerda! Marine fez imensas maquiagens à filosofia e métodos do pai, mas, para as eleições presidenciais nunca (digo eu) tocará no eleitorado de centro e centro-esquerda que decide eleições. Estratégia cínica: quem tiver o ingresso contra Le Pen “arrisca-se” a vencer,  nem será uma vitória do próprio, será sempre uma derrota do extremismo lepenista. O que os adeptos do Apocalipse aguardam é que à vitória de Trump se siga a de Le Pen, mergulhando o mundo em trevas políticas. São diversos os temas que apartaram a FN dos outros partidos, entre eles contam-se  os tradicionais temas queridos da extrema direita: a agricultura, a segurança, os imigrantes, entre outros. No quadro europeu, Marine volta ao grande cavalo de batalha de todos os extremistas: a saída da “zona do euro”. A “saída” tem, ultimamente, numa tentativa  de mitigar  a violência da medida, tomando formas bizarras como: a França mantinha o velho franco no seu território, mas negociava em euros nas exportações ou entre as grandes empresas. Claro que isso é visto como um imenso recuo face às posições que a FN já defendeu no passado — recordo que a saída era quase a bandeira primeira do movimento em tempos recuados, a tal ponto que, nos bistrôs se dizia que Marine era “moeda, moeda, moeda” (“monnaie, monnaie, monnaie”). Marine defende-se dizendo que é uma medida mais prática, uma vez que a saída do euro seria mais violenta. Le Pen e todos os europeus assistem com perplexidade à incapacidade da Inglaterra de sair da “zona do euro” após o referendo. Marine também agita a bandeira do referendo na França e esta é, aliás, a primeira medida que diz tomar, se sair vitoriosa. A verdade é que a França padece de todos os males dos países europeus desde a implementação da moeda euro: dívidas pública e privada altíssimas, difícil acesso ao crédito, etc. Na França, país com uma democracia velha e astuta, o discurso mágico tradicional dos políticos de “aumentar os salários dos professores, policiais e médicos e baixar os impostos”, decididamente, não pega. Marine vê-se na contingência de recorrer a propostas dentro da sua cultura política: não tratar os estrangeiros em situação irregular (muitos brasileiros) nos hospitais públicos! Recorre a estes estratagemas argumentativos porque sabe perfeitamente que a maioria das outras medidas faraônicas que propõe teriam custos incomportáveis. Marine recorre à relação “tratamento médico/estrangeiros” para manter vivo o simbolismo fascista da xenofobia porque, neste momento, está  provado para a sociedade que não é possível, por exemplo, fazer um automóvel sem recurso a peças e materiais oriundos de diversos países — lembrando que a indústria do automóvel na França tem um peso importante. É preciso ver tudo o que Marine Le Pen propõe com uma pitada de sal porque ela, normalmente,  sabe que não vai ganhar e pode, portanto, dar-se ao luxo de dizer qualquer coisa. Estas medidas, propostas e ameaças servem apenas para capitalizar votos.  Muitas vezes também se usa com a FN uma medida diferente da que se usa com os outros partidos, leem até aos últimos caracteres tudo o que está no programa da FN e põem-se a acusar Marine Le Pen de cada detalhe programático. Ora, é sabido: os eleitores não leem programas de partidos, guiam-se por muitas outras coisas. No limite dos argumentos de Marine está sempre o bordão: a Europa não funciona por causa da imigração...

O que vai acontecer agora, então?
A questão numérica é simples de equacionar: qual é a porcentagem de votantes de Fillon que poderiam eventualmente votar na Marine Le Pen? Segundo números das últimas 48 horas, votariam, dos absolutos, 18% em Fillon e desses votantes em Fillon, 30% dizem-se dispostos a votar na Marine num segundo turno. Tomando como referência geográfica e nacional  todas as votações até hoje, faltariam a Marine Le Pen cerca de 10 milhões de votos. Para uma proposta política tão rígida é difícil vislumbrar que tipo de votante faria toda a viagem do espectro político para aterrar no voto da extrema direita (democrática). O interessante em quase todas as eleições europeias é que quem decide, muitas vezes, é a abstenção e os abstencionistas. A abstenção absoluta desestabiliza as porcentagens relativas e, não há desejo, nem pavor maior para os candidatos do que o cidadão que “finalmente”, portanto, inopinadamente, decidiu ir votar. Não cessa de me espantar que a França tenha tanto candidato, tanto partido, tanto movimento, tantas frentes e haja tanta gente que se não se sente, de todo, representada. Estas pessoas, muitas vezes, decidem eleições. Uma das manobras clássicas nestas eleições é os candidatos mostrarem-se ao lado de políticos no governo ou com peso institucional internacional das suas famílias políticas. Para isso fazem estas vistas relâmpago. Marine Le Pen visitou agora o Líbano e o pormenor de se recusar a usar as roupas tradicionais islâmicas tem sido sublinhado. Uns veem nisso um ato de coragem de defesa dos valores ocidentais. Na França, alguns dizem que é um ato contraditório, uma vez que Marine Le Pen defende que os estrangeiros na França têm que respeitar os valores da França, ora, ela deveria também ter respeitado os do Líbano. Penso que as posições políticas de Marine Le Pen, face ao mundo moderno, se depauperizam. As ideias tradicionais cada vez mais se afastam das necessidades e desafios modernos, as linhas divisórias passam pouco por dicotomias obsoletas, mas — e isso não é irrelevante — a força da FN é a fraqueza de todos os outros. A FN é  obsoleta, mas os partidos e candidatos democratas são de uma fragilidade de cristal: corruptos, carreiristas, totalmente vazios ideologicamente, cínicos, mentirosos, contraditórios, ao serviço de interesses econômicos, ao serviço dos seus interesses, com discursos oficias de plástico, bonitões filhos do marketing, pagos por corporações, e toda a sorte de vícios humanos. O preço é elevado porque, por exemplo, vejo que há cada vez mais pessoas muito atentas, esclarecidas, informadas e com memória. Assim sendo, os velhos truques políticos do tipo “promete-se qualquer coisa atrativa e depois, no poder, faz-se outra” cada vez funcionam menos. Há um princípio universal e eterno que Marine Le Pen e a sua família política têm dificuldade em entender: em POLÍTICA um voto conta! PS: François Bayrou acaba, neste momento, de assinar um acordo de apoio a Emmanuel Macron. Frank Wan vive em Portugal. É ensaista, poeta, tradutor e professor.

Picasso, um jovem padre, inovação e mais de 10 bilhões de euros por ano em cooperativa de Mondragón

No cooperativismo da Espanha, o lucro é um objetivo, mas não está acima de tudo. A diferença salarial entre a base e o topo do organograma institucional é 4,5 a 6 vezes

Cinco sonetos de William Shakespeare traduzidos por Emmanuel Santiago

William Shakespeare (1564-1516), além de ter sido um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, foi também um poeta lírico estupendo. Os seus sonetos, em especial, são até hoje paradigmas de excelência poética

A Grande Guerra Patriótica das Mulheres

Svetlana Aleksiévitch trouxe à luz as dores e as intimidades das mulheres soviéticas que estiveram nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial

Em “1985”, Anthony Burgess anteviu a submissão do Ocidente ao Islã

Mais que uma “resposta” ao “1984”, de Orwell, o livro de Burgess parte de observações pessoais, concretas, da vida política e social da Europa dos anos 1970, para mostrar a incapacidade do Ocidente de preservar a sua própria civilização

Polícia quer ouvir Major Araújo sobre ligação com suspeito de assassinato de Ana Clara

Deputado estadual garantiu ao Jornal Opção que informou Polícia Militar sobre caso, fornecendo dados e contatos telefônicos

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Termo de Cooperação pretende evitar que detentos fiquem presos além do tempo

Picasso, um jovem padre, inovação e mais de 10 bilhões de euros por ano em cooperativa de Mondragón

No cooperativismo da Espanha, o lucro é um objetivo, mas não está acima de tudo. A diferença salarial entre a base e o topo do organograma institucional é 4,5 a 6 vezes Mayler Olombrada Ressalte-se que o lucro, se é um objetivo, não está acima de tudo. As cooperativas têm valores muito bem estabelecidos — como a cooperação, responsabilidade social, participação e inovação. Não se trata de um mero discurso, e sim de aplicação prática, levando a riqueza gerada para cada trabalhador e para a sociedade na qual está inserido. Os funcionários recebem salários, como em toda empresa; contudo, existe uma preocupação com a desigualdade social. Em geral a diferença salarial entre a base e o topo do organograma institucional é de 4,5 a 6 vezes. Entre 1936 e 1939, a Espanha viveu uma terrível guerra civil, entre republicados e franquistas, e o artista plástico espanhol Pablo Picasso (1881-1973) eternizou a destruição do país em sua magistral obra Guernica. A tela, com seus mais de sete metros de comprimento, está no museu Reina Sofia, em Madrid. O quadro voltou à terra de Miguel de Cervantes somente depois do fim da ditadura do general Francisco Franco. O óleo sobre tela é uma expressão máxima do cubismo que ilustra o massacre da cidade homônima localizada no País Basco, no norte da Espanha. A região ficou destruída, mas, durante os sombrios anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), torna-se o cenário de uma grande transformação econômica e social. Expressões tão em voga no século 21 — como inovação, cooperação, cultura do compartilhamento, gestão do conhecimento e liderança — foram encarnadas na figura do jovem padre católico José María Arizmendiarrieta (1915-1976). O case Mondragón e um novo capitalismo Arizmendiarrieta chega à cidade de Mondragón em 1941 e funda uma escola politécnica para formação profissional. Com cinco alunos egressos de sua escola, incentiva o espírito cooperativista. Em 1956 é fundada a empresa Talleres Ulgor, que futuramente se transformaria na Fagor Electrodomésticos. Era apenas o primeiro passo na criação da Corporação Mondragón, um dos principais grupos empresariais espanhóis, presente em 41 países com vendas em mais de 150, faturamento de 11,875 milhões de euros, 260 empresas e cooperativas e mais de 74 mil pessoas. À medida que a economia espanhola começava a dar sinais de recuperação, Arizmendiarrieta avaliava quais eram as necessidades e oportunidades no País Basco e incentivava os moradores a formarem novas cooperativas. Sua figura sintetiza todas as características que procuramos e tentamos desenvolver em nossos líderes, como carisma, responsabilidade, capacidade de comunicar e de estabelecer metas e objetivos, inspirando as pessoas a buscarem seu melhor e realizar seus sonhos. Dessa forma surgiram inúmeras novas cooperativas, merecendo destaque especial a Caja Laboral, fundada em 1959, uma cooperativa de crédito que possibilitou ferramentas financeiras que fomentaram a criação e o desenvolvimento de várias outras cooperativas. Uma década depois surgiu Eroski, uma enorme cooperativa de consumo, que atualmente conta com cerca de duas mil unidades e mais de 450.000 associados. Cultura organizacional e não socialismo Ao se conhecer o sucesso do cooperativismo em Mondragón um erro comum ao observador menos atento é acreditar que se trata de um modelo socialista, comunista. Tal percepção cria dificuldades à corporação, que, durante sua expansão para o Leste Europeu, teve resistências. A Polônia — país que viveu a terrível experiência socialista sob o tacão do ditador Stálin, da União Soviética — é um exemplo de resistência. O cooperativismo nada tem a ver com socialismo. As empresas cooperativistas fazem parte do capitalismo, buscam o lucro e competem no cenário econômico global em busca de eficiência, economia de escala e rentabilidade. Ressalte-se que o lucro, se é um objetivo, não está acima de tudo. As cooperativas têm valores muito bem estabelecidos — como a cooperação, responsabilidade social, participação e inovação. Não se trata de um mero discurso, e sim de aplicação prática, levando a riqueza gerada para cada trabalhador e para a sociedade na qual está inserido. Os funcionários recebem salários, como em toda empresa; contudo, existe uma preocupação com a desigualdade social. Em geral a diferença salarial entre a base e o topo do organograma institucional é de 4,5 a 6 vezes. Se o mais simples operário tem um salário de mil euros, o presidente da empresa, o CEO, recebe no máximo 6 mil euros por mês. Em uma empresa convencional, a diferença pode passar de cem vezes. Tal realidade monetária faz com que, ao se visitar uma fábrica da Corporação Mondragón, não se consegue identificar facilmente o cargo de alguém por sinais tradicionais. No estacionamento os automóveis dos operários e do corpo diretivo são de modelos semelhantes. Todos comem a mesma comida e no mesmo ambiente. Os filhos estudam na mesma escola pública e frequentam o mesmo hospital, também público. A intercooperação é outra marca registrada da corporação. Sempre que se discute sobre criatividade e inovação, ficamos fascinados com as startups do Vale do Silício. Ali se desenvolve uma cultura na qual cooperação é mais valiosa que a competição. Em Mondragón é a regra há mais de 50 anos. O padre Arizmendiarrieta estimulou que as primeiras cooperativas ajudassem as novas e, até hoje, parte das sobras (equivalente ao lucro nas empresas tradicionais) é destinada a um fundo de solidariedade que ajuda cooperativas em dificuldades e a outro fundo voltado à promoção de novos projetos. Em 2013, após acumular uma grande dívida com vários fornecedores, a pioneira Fagor foi vendida para outro grupo. Porém, de maneira surpreendente, os dirigentes conseguiram realocar mais de mil funcionários em outras cooperativas, o que evitou demissões que comprometeriam dezenas de famílias. Outro exemplo difícil de imaginar em alguns países, sobretudo nos tropicais  — nos quais os políticos aumentam, na madrugada, seus próprios salários — foi a medida adotada após a crise de 2008 que provocou uma poderosa recessão na Espanha. Ao invés de cortar custo, por meio de demissões, a opção adotada foi reduzir os salários. Tal ação evitou demissões. Por esse tipo de decisão, o País Basco foi a região da Espanha menos afetada pela crise, com menores taxas de desemprego e uma das que mais rapidamente vem se recuperando. Até hoje o salário não voltou ao patamar pré-crise. Ao se deparar com um problema, o cooperativista enxerga uma oportunidade. A cooperativa prioriza negócios com outras cooperativas, seja no fornecimento de matéria-prima, na execução de projetos, na distribuição. E se nenhuma das empresas da corporação está capacitada para resolver a situação talvez esteja ali a oportunidade para criar uma nova cooperativa. Esse ambiente de intercooperação é extremamente profícuo para a inovação. Aprende-se com os erros e se estimula a todo momento desenvolver novas ideias que possibilitem agregar valor, seja a um produto já existente, a um processo interno ou a um serviço a ser prestado. [caption id="attachment_87954" align="aligncenter" width="620"] Universidade de Mondragón[/caption] Fundo para educação Mesmo com a robotização das fábricas, além da incorporação de novas tecnologias, não houve aumento do desemprego. Ao criar uma inovação que aumenta a produtividade simultaneamente entra em campo outra característica do mundo cooperativista: a educação. Todas as cooperativas destinam recursos a um fundo para educação. O funcionário que será substituído por um robô é requalificado para desenvolver outra função, como dar manutenção ao próprio robô. Frise-se que a Corporação Mondragón surgiu da base educacional instituída pelo padre Arizmendiarrieta. A corporação conta com a Universidade Mondragón, além de centros de ensino de línguas, educação secundária e formação técnica. Há um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento. Apenas cerca de 40% das receitas da universidade vêm das matrículas, o restante é proveniente das parcerias com empresas, em uma verdadeira integração entre ensino, pesquisa e aplicação prática. A faculdade de Ciencias Empresariales é um grande exemplo de inovação. Os estudantes constituem, no primeiro ano, uma empresa real que deve fazer negócios e sobreviver durante os quatro anos de sua formação. As disciplinas são ensinadas com aplicação prática imediata em sua própria empresa. No primeiro ano os jovens alunos visitam escolas na Finlândia, um dos maiores celeiros de inovação e novas práticas na educação. É um exemplo que destoa do fisiologismo de sindicalistas que em outros países se preocupam mais na manutenção de seus benefícios do que com os resultados pífios alcançados no teste Pisa. [caption id="attachment_87957" align="aligncenter" width="297"] José María Arizmendiarrieta: padre que foi grande incentivador do cooperativismo[/caption] No segundo ano de curso, os alunos viajam para a Califórnia, a fim de fazer negócios internacionais com suas empresas, e ver um outro ambiente que também prima pelo incentivo à inovação, a tão falada região do Vale do Silício, berço de empresas de tecnologia como Google e Apple. Os custos da viagem e estadia é paga com as receitas da empresa criada pelos próprios alunos no primeiro ano de curso superior. No terceiro ano, precisam fazer negócios na China e na Índia, oportunidade para se relacionar com países emergentes, conhecer culturas completamente diferentes, e abrir as portas para uma carreira internacional. Novamente a viagem não é a passeio, e sim uma viagem comercial e educacional. Aprender mais sobre gestão e fechar negócios para sua empresa, que é responsável pelo custo da viagem. Como as cooperativas valorizam o ambiente social em que estão inseridas, os alunos também prestam serviço social nesses países, ajudando, por exemplo, no cuidado de pessoas menos favorecidas nos subúrbios indianos. Capitalismo e democracia Sem dúvida alguma é impossível visitar a Corporação Mondragón e não voltar modificado. Trata-se de um exemplo concreto de que o capitalismo aliado à democracia é até hoje a melhor forma de organização criada pelo homem; contudo, é possível ir além. Trabalhar em uma empresa organizada democraticamente — em que o trabalho é soberano, a gestão é participativa, e ademais prioriza a intercooperação, educação e transformação social — é algo de um prazer imensurável. É claro que tal modelo não é a solução apropriada para todas as empresas, para todas as regiões ou para todas as pessoas. Entretanto, é fundamental conhecer esse experiência, pois no mínimo serve de inspiração para que valorizemos a cultura da inovação e a sociedade na qual esta cultura da inovação e a sociedade na qual estamos inseridos, trabalhando para transformá-la. Mayler Olombrada, médico em Goiânia, esteve na Espanha recentemente para conhecer o cooperativismo do país.

Projeto de poder da esquerda francesa passa pelo assassinato da reputação de François Fillon

Ex-primeiro ministro e deputado apoiado pelos Republicanos é o alvo a ser abatido. O jogo já começou e um escândalo financeiro veio à tona. Veremos se funcionará [caption id="attachment_87925" align="aligncenter" width="620"] François Fillon é preparado e, se sobreviver ao “Escândalo Fillon”, ex-primeiro ministro francês pode ser alçado à Presidência | Foto: Fxgallery[/caption] Frank  Wan Especial para o Jornal Opção As eleições presidenciais francesas avizinham-se e há muita gente que até perde o fôlego, tamanha a tensão: muita coisa está em jogo. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, acontecimento tido por muitos analistas como “anormal” e com graves repercussões em diversos níveis, vai ser importante apenas dentro dos EUA e na relação dos mesmos com o resto do mundo? Ou, muito mais grave: vai ser o início de um dominó imprevisível pelo mundo afora? É possível isolar o fenômeno Trump? As presidenciais francesas são as primeiras eleições num país centro-europeu com graves repercussões no futuro próximo. Os olhos viram-se todos para Marine Le Pen, a filha do famoso Jean-Marie Le Pen, o homem mais à direita do espectro político francês. Sob certos aspectos é a continuadora de seu pai, mas, cada vez mais, em mais áreas, afasta-se quer dos métodos quer do discurso político a que ele nos habituou. Talvez seja bom recordar que a Frente Nacional, partido de suporte, tem ideias pro-fascistas (ou mesmo fascistas) e segue defendendo teses negacionistas da Segunda Guerra Mundial. As apostas seguem altas no nome de Emmanuel Macron, ex-ministro da Economia e qualificado como “Independente” — seja lá o que isso signifique nestes tempos de conceitos políticos brumosos — e, ainda à esquerda seguem-se outros nomes como seja o de Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon. O labirinto de candidatos é gigantesco com misturas heterogéneas de origens e apoios, mas, como sempre, o tempo esclarecerá todas as coisas e estes muitos nomes e apoios acabarão por se fundirem à medida que forem vendo as suas reais possibilidades. Conviria à esquerda que Le Pen fosse a candidata para o segundo turno, pois poderiam assim agitar todas as bandeiras que ainda estão desfraldadas da recente eleição de Trump e aproveitariam a carona do histerismo midiático para o lançar tudo sobre a candidata de coloração fascista, com a gigantesca vantagem de ainda se poder atribuir qualquer peso da direita extrema europeia a Trump. Trump passaria a ser culpado até do fato de o Sol ter nascido de manhã — a mídia gosta disso e as redes sociais também se alimentam de figuras que se possam odiar sem grande esforço de pensamento. Nesta equação da esquerda, o grande problema é François Fillon. Fillon é um girondino clássico, antigo primeiro ministro e deputado apoiado pelos Republicanos (Les Républicains). Um homem que está longe de ideologias xenófobas, revisionismos históricos ou qualquer outro extremismo, um homem sério que veio para ganhar e está longe do perfil histriônico de Trump. Para muita gente, de interesses dúbios, este homem, obviamente, tem que ser abatido. Como se abate um candidato? Nos EUA, com algum escândalo sexual de última hora e, no moderno manual de caça às bruxas, na Europa, através de escândalos financeiros que tomam sempre o título diabólico de “corrupção”.  As acusações tomam a forma habitual deste tipo de circo: ter recebido 21 mil euros dos Fundos Públicos do Senado entre 2005 e 2007 (soma irrisória face ao que ganha um antigo primeiro ministro e qualquer quadro superior francês e outras acusações que, materialmente, não são relevantes). A partir do “Escândalo Fillon” (Affaire Fillon), todos os noticiários abrem com o assunto, todos os jornais fazem dele a primeira página. Neste momento, na última conferência que Fillon deu foram colocadas 87 perguntas, das quais 83 foram sobre o “escândalo” financeiro. Estamos, portanto, perante um “assassinato político-midiático”, ou um “assassinato de reputação”. Fillon reage e passa ao ataque: denuncia os “comunistas enrustidos”, denuncia as pseudo-agências de informação, etc. O tom do discurso muda e, na minha opinião, aparecem em Fillon um orador exímio e um pensador profundo. Liberto das malhas do diktat das campanhas, Fillon começa a voar livre e, apesar da máquina contra ele, os franceses percebem que estão perante um homem que não teme e não treme. Obviamente que Fillon vai pagar um preço elevado por este processo, seja qual for o resultado. A tensão é tão grande que se cogita até mesmo a retirada da candidatura. Quem poderia substituir Fillon? A alternativa mais “pesada” seria Alain Juppé, o candidato que perdeu as primárias presidenciais da direita em 2016 para Fillon. Nas eleições presidenciais francesas cada candidato deve ter um trunfo: o seu primeiro-ministro. Fillon, de alguma forma, não está bem acompanhado. Os chamados “pesos pesados” (poids lourd) não o veem acompanhando e não têm um bom “primeiro ministro” para apresentar. Sem manobras de escândalos convenientes, Fillon pode obter o chamado “ingresso” (ticket) para o segundo turno e, se isso acontecer, tornaremos a falar no mais sério candidato da direita francesa, um homem na esteira dos velhos valores de respeitabilidade, honestidade, tolerância e liberalismo (num sentido próprio). Um homem que tem uma visão moderna sobre os novos desafios e que sabe que não pode recorrer a velhos conceitos, estratégias e instrumentos. Voltarei a esta coluna para falar das candidaturas de Emmanuel Macron, Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon. Todas elas com características politicamente muito interessantes, uma vez que, resolvem problemas político-ideológico modernos, sem mobilizar grandes conceitos de Teoria Política e dão respostas aos desafios econômicos sem grandes quadros de referências. Sei que os leitores portugueses irão rir até às lágrimas, mas a grande referência da esquerda francesa é a coligação que governa Portugal. Frank Wan vive em Portugal. É ensaísta, poeta, tradutor e professor.

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