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Cresce o interesse pelo samba em Goiânia

Com uma carreira que se iniciou em 2001, a cantora Luciana Clímaco tem visto o interesse pelo samba aumentar

HQ Cidade de Sangue traz clima noir para Goiânia

Quadrinho acompanha o repórter de editoria policial que se torna suspeito do crime que cobria É comum que busquemos referências fora de nosso meio. Olhamos no horizonte à procura de baluartes nas mais diversas mídias. Nosso complexo de vira-latas não é falso. Gostamos de filmes de Hollywood, rock inglês e quadrinhos estadunidenses e europeus. Mas quando se fala em nona arte (as HQs), o Brasil não perde em nada para outros locais. E sabe o que é mais legal? Temos coisa muito boa de nossa própria terrinha, Goiás. O sócio-fundador da Monstro Discos e Escola Goiana de Desenho Animado, o agitador cultural Márcio Jr., é também o roteirista da HQ noir “Cidade de Sangu”e, ambientada em Goiânia, que conta com a arte do mestre dos quadrinhos nacional Julio Shimamoto — o Shima, como o próprio Márcio diz. Trama A história em quadrinho inspirada no argumento de Márcia Deretti, companheira de Márcio Jr., acompanha o repórter de um caderno policial de um grande jornal da Capital, Carlão, que, em crise no seu casamento, se envolve com uma fotógrafa novata, mas com um passado obscuro e uma mórbida preferência sexual. Enquanto o relacionamento dos jornalistas emplaca, o casamento de Carlão afunda. E pior: ele acaba por se tornar o principal suspeito de um crime que cobria e quem poderia lhe ajudar a provar sua inocência talvez não possa mais... Detalhes O título, que custa R$ 40, foi a estreia da produtora MMarte, de Márcio Jr. e Márcia Deretti, no mercado de quadrinhos. O material conta com 152 páginas (sendo algumas de extras) em preto e branco e muito vermelho, que dá um belo contraste e impacto. Sexo e violência são os carros-chefes desse quadrinho que traz um Shimamoto ainda inventivo após cinco décadas de atuação na nona arte. As páginas da HQ foram criadas com ferro de solda sobre papel de fax. [caption id="attachment_178622" align="aligncenter" width="620"] Julio Shimamoto: gênio dos quadrinhos[/caption] Experimentação Inclusive, nos extras da graphic novel tem o passo a passo: “Com um gabarito e um mini-maçarico, Shimamoto define as margens no papel térmico (papel de fax); em uma mesa de luz, Shima sobrepõe o papel térmico ao rápido esboço finalizado em papel manteiga. Começa então o desenho propriamente dito, utilizando ferro de solda com luva protetora de madeira, adaptada pelo artista para evitar queimadura nas mãos; o letramento é feito em papel avulso, para então ser escaneado e transformado em negativo no Photoshop. Depois de impresso, é colado diretamente sobre a página”. E tem mais: “Uma vez que o papel térmico possui baixíssima durabilidade, Shimamoto produz uma fotocópia em xerox da página original. É esta fotocópia que será escaneada, dando origem aos arquivos a partir dos quais o livro será impresso. Os sombreamentos mais densos são feitos com o auxílio de um maçarico portátil; para variações de traço, Shima desenvolveu artesanalmente um conjunto de ferramentas. Com um maçarico fixo adaptado, Shimamoto aquece suas diferentes ferramentas para trabalhar sobre o papel térmico; a partir do roteiro plotado de Márcio Jr., Julio esboça a página em papel-manteiga, fazendo as alterações (de enquadramento e disposição dos quadros) consideradas necessárias à dramaticidade da HQ”. O resultado é uma arte visceral, pesada, suja, mas, ao mesmo tempo, muito condizente com a história policial de uma Goiânia violenta e sem heróis. Ponto, também, para o recrutamento do quadrinista goiano Tiago Holsi, que, com Márcio Jr., foi responsável pela cor (vermelha) e o projeto gráfico da obra. [caption id="attachment_178621" align="aligncenter" width="620"] Márcio Jr.: força criadora de Goiás[/caption] Mestre Shima A história de Márcio Jr. é muito boa, mas não é ofensa sugerir que Shimamoto é o grande nome do material. Com 80 anos, o veterano dos quadrinhos brasileiros é muito conhecido por seus trabalhos em obras de terror. Apesar disso, sua estreia ocorreu em 1959, com herói Capitão 7 (surgido na TV). Ele também publicou nas revistas “Spektro”, “Pesadelo”, “Sobrenatural, Calafrio, Metal Pesado (nossa versão da clássica Heavy Metal) e muito mais. Mais recentemente, no ano passado, a Atomic Books e Quadrante Sul Comics lançaram conjuntamente uma série de obras restauradas de Shima, na HQ Contos de Horror - Julio Shimamoto (formato 15,5 x 23 cm, 64 páginas, R$ 25). Mas é preciso dizer que essa não é a primeira vez que Márcio Jr. trabalha com Julio. Em 2011, o agitador cultural e Márcia Deretti lançaram uma adaptação da HQ “O Ogro”, de Shimamoto, como curta-metragem animado — história que não deve em nada a Frank Miller no quesito contraste em P&B. Como este não é o tema da coluna, deixarei o link para que você confira e tire suas próprias conclusões (https://www.youtube.com/watch?v=ZFvQA3NQGME). https://youtu.be/ZFvQA3NQGME

Shakespeare trataria o Brexit como comédia, tragédia ou tragicomédia?

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Da palavra à ação

Creio que não cabe nesta coluna "Destarte" falar deste cronista, mas diante da grande alegria e da emoção que foi assumir a cadeira nº 32 da Academia Goiana de Letras, na quinta-feira, 11 de abril passado, eu peço a paciência do leitor para este artigo

Fui recebido pelo Acadêmico Brasigóis Felício, que traçou minha trajetória de vida e destacou, citando trechos da entrevista a Ademir Luiz, aqui no Opção, quando ele me concedeu o cognome de "o barqueiro da poesia".

Brasigóis expressou sua alegria em duplo sentido: primeiro, por ter apresentado meu primeiro livro, em 1985; e, agora, mais de 30 anos depois, de receber-me como novo integrante da Academia, “por merecimento, tendo recebido voto de todos os acadêmicos e acadêmicas presentes à sessão. Acertei no vaticínio, ao escrever o texto de apresentação do livro “Frágil Armação”, do estreante que nos veio solicitar o endosso, a palavra de estímulo, ante a angústia dos primeiros passos na jornada. Esta é a alegria que tenho hoje” - destacou.

E, para não cair no terreno escorregadio da emoção pura, usei como apoio as palavras do escritor que me precedeu, o professor José Mendonça Teles, em discurso nesta mesma casa, em 1979:

“Entro para a Academia Goiana de Letras consciente de que devo fazer muito ainda para merecer esta honraria. Estou convicto de que será uma experiência das mais fecundas para mim, uma vez que estarei sentado ao lado daqueles que construíram e constroem a cultura goiana.”

Em seguida, renovei minha fórmula de gratidão já conhecida dos meus seis leitores, que tomei de empréstimo ao escritor inglês Gilbert Keith Chesterton, na qual creio firmemente – sou feliz e grato à Vida, pois creio que “A prova de toda felicidade é a gratidão”.

É que, mesmo tendo nascido em meio à escassez e à carência, de recursos e de afetos; eu tive a sorte de encontrar suporte e afeto nos meus pais adotivos – Modesta e Roque Bernardes Sobrinho, diretores do Abrigo Evangélico Goiano que acolhia 100 crianças carentes, na década de 1960, em Anápolis.

Foi pela generosidade dos irmãos evangélicos de Anápolis e da missão United Brothers norte americana que pude ter alimentação, acesso a vacinas e tratamentos de saúde e aos primeiros estudos no Colégio Couto Magalhães, em Anápolis.

Depois, voltei a Goiânia, cidade em que nasci, para enfrentar o que chamávamos de “a vida lá fora do Abrigo” para o vestibular da UFG de 1973. Foi, pois, graças à generosidade dos meus pais adotivos, que posso hoje trazer-lhes minha leitura poética do mundo, colocando a Vila Jaiara no mapa da poesia goiana:

“Ele, na Vila Jaiara, vira a fábrica de tecidos
onde trabalhavam tantos e tão próximos; sim.
E os porcos no meio da rua e seu relógio
no bolso do morto – o defunto, sim –  
com quem uma gambira havia urdido...

“Eu sou esse menino no corpo do velho d´agora.
Sou o que vi: novas terras seriam anunciadas;
com o brilho do luar, terras a conquistar.

“O que toda a gente negara ao menino,
sob a costa americana, eu –  
um pobre diabo da Vila Jaiara, olhei:
a harmonia da linha do horizonte

O skyline da vila enorme – sonhei,
como sonham outros em outras luas,
anônimos em suas quitinetes, sonhando
palácios da lua, luando neon multicor.”


Expressei gratidão à minha família, a começar pela minha amada companheira de mais de quatro décadas, Helenir Queiroz, uma mulher guerreira, companheira de todas as horas, minha leitora número um, mulher de uma energia imensa – uma força da Natureza - como diz Euler Belém –, e que é o pilar moral e afetivo da família Queiroz.

Expressei gratidão e respeito a todos os Acadêmicos que me possibilitaram chegar à AGL, com a unanimidade dos 30 votantes, na eleição do último dia 28 de fevereiro.

Divaguei, como gosto de fazer aqui na “Destarte”, quando pensei em dirigir a palavra de minha oração inicial na AGL, porque me veio à mente o Discurso por excelência – o de Heráclito, que elaborou muito sobre um “rio da realidade”, assegurando que há um “ditado inexorável de um misterioso destino”.  

“No mesmo rio não há como entrar duas vezes” – diz um fragmento de Heráclito, contrariando noções mitológicas, como nos lembra o professor Donald Schüler:

“O rio em que entra Heráclito é sem nome, sem personalidade. Heráclito entrou várias vezes no mesmo rio; na verdade, entrou todos os dias; ou melhor, contemplou-se já dentro do rio, se o rio é o da existência. A entrada deu-se com o abrir de olhos atentos. E, quando se punha a examinar, percebia que, embora o rio fosse o mesmo, outras eram as águas, e ele, que as contemplava, já não era igual a si mesmo. Este não é o olhar de Narciso, enamorado de sua face desenhada no espelho úmido. O que Heráclito busca não está ao alcance dos sentidos”.

Lembrei-me do poeta João Cabral de Melo Neto, que poetizou a fluidez da vida, no poema já famoso “Rios de um dia”:

“Os rios, de tudo o que existe vivo,
vivem a vida mais definida e clara;
para os rios, viver vale se definir
e definir viver com a língua da água.

Silenciosa meditação

Fruto da silenciosa intuição – meu discurso de posse na AGL foi composto como reflexões de um náufrago da emoção e do temor, que soprava as cinzas do passado e revia as brasas da presença de José Mendonça Teles e do patrono Francisco Ayres da Silva, começando pelos versos do poeta Ivan Junqueira, em “Três Meditações na Corda Lírica (1)”:

E tudo é apenas isso, esse fluir
de vozes quebradiças, ida e vinda
de ti por tuas veias e teus rios,

onde o tempo não cessa, onde o princípio
de tudo está no fim, e o fim na origem,
onde a mudança e movimento filtram.

E se é fato que “somos rio com o rio”, eis-me diante do Destino ansioso por entender seus mistérios. Por isso, em primeiro lugar coube-me reconhecer a magnanimidade com que os acadêmicos me trataram ao sufragarem meu nome para a Cadeira 32 desta Casa.

Repassei o livreto “Um rio dentro de mim”, opúsculo que traz os discursos da chegada do ilustre José Mendonça Teles a esta Cadeira 32, à qual está ligado para a eternidade e para a qual foi guiado pelos seus pares e regiamente recepcionado por Nelly Alves de Almeida, quando indagava:

“Que mistério é esse que me prende, agora, ao Tocantins, quando meus olhos ainda passeiam pela memória do Meia-Ponte?” – para arrematar elogiando nosso Patrono: “a resposta está no destino que me guiou à Cadeira 32, da Academia Goiana de Letras, cujo Patrono é Francisco Ayres da Silva, médico, político, jornalista, que nasceu, viveu e morreu às margens do [rio]Tocantins, na sua sempre querida Porto Nacional.”

Concordei que o discurso que move a história da Cadeira 32 deverá ser mesmo como rio caudaloso e telúrico; por isso recorri a uma metáfora construtiva que me parece válida aqui e a construí inspirado na minha esposa engenheira: “o passado deve ser visto como a estrutura, a fundação, onde se assentam os pilares, fortemente armados para a construção do edifício do ser. E cada novo andar se sustenta no anterior, baseado no passado mas erguendo-se para o futuro”.

O patrono da Cadeira 32

O nosso patrono é Francisco Ayres da Silva, que nasceu no dia 11 de setembro de 1872, no antigo Porto Imperial, atual Porto Nacional, hoje estado do Tocantins, e lá faleceu com 85 anos. Foi médico e homem público de grande renome; foi 1º. Vice-presidente do Estado e Deputado Federal por Goiás, em várias legislaturas, tendo sido eleito sucessivamente para a Câmara Federal de 1914 a 1930.

Durante a ditadura Vargas, o Dr. Francisco continuou “fiel aos seus princípios, aos seus ideais e aos amigos, participando ativamente dos movimentos políticos organizados para combater o Estado Novo.

Patriota que era, o Patrono da Cadeira 32 continuou editando o jornal “Norte de Goiás”, mesmo com as dificuldades técnicas com que esbarrava na pequena oficina de impressão em Porto Nacional. Na juventude, Francisco Ayres fora para São Paulo, onde entrou na Faculdade de Direito e, depois, para o Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina.

Voltou à terra natal para exercer sua profissão, principalmente assistindo aos mais pobres e à gente abandonada dos rincões do vale do Tocantins.

“E disso não fazia segredo a ninguém” – assinala José Mendonça, completando que, “muito embora fosse convidado a permanecer no Rio de Janeiro, com um futuro mais promissor na carreira de médico, preferiu retornar a sua Porto Nacional, que o esperava e acreditava em seu regresso, como o primeiro filho do Norte a se formar em Medicina”.

Francisco Ayres foi colaborador da revista A Informação Goyana, fundada no Rio de Janeiro, onde exerceu o jornalismo puro, apaixonante e culto, em que acionava o esforço de sua inteligência para defender os interesses dos homens mais humildes do interior goiano.

“Caminhos de Outrora”, segundo José Mendonça Teles, “narra a epopeia vivida pelo autor nas viagens que empreendeu, de bote, de Porto Nacional a Belém, vencendo cachoeiras e correntezas do Tocantins e a extraordinária aventura de transportar do Rio de Janeiro a Porto Nacional, um caminhão Ford e um automóvel Chevrolet, que foram os primeiros veículos que trafegaram pelo Norte de Goiás em 1928”.

[caption id="attachment_178256" align="alignright" width="201"] O poeta Gilberto Mendonça Teles ao lado do busto erguido em homenagem ao irmão José Mendonça, em frente ao IHGG (25/3/2019)[/caption]

Por todos os feitos memoráveis de Francisco Ayres da Silva, a cidade de Porto Nacional concedeu-lhe um busto em praça pública, quando do seu centenário de nascimento. O mesmo fizeram os amigos de José Mendonça Teles, no último dia 25 de março, em frente ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, para celebrar os 83 anos do meu antecessor na AGL.

José Mendonça Teles, meu antecessor

No dia fatídico de sua despedida, durante o velório, o poeta Gilberto saudou o irmão com uma oração fúnebre que se transformou num poema.

“O meu irmão José Mendonça Teles nasceu no dia 25 de março e se despediu da vida neste 29 de abril – “o mais cruel dos meses” /para o poeta T.S. Eliot que se angustiava com o clarão da Beleza/na primavera londrina, assim como nos inquietamos/com a do outono brasileiro em Goiás”.

E concluía:
            “Assim, José, você que tanto fez pela cultura de Goiás
            que escreveu poemas, crônicas, contos, prefácios e tudo que podia,
            você com certeza está sendo recebido por aquele São Pedro bonachão
            que possivelmente está lhe dizendo no ouvido esquerdo:
         - Entra, Zezé, você não precisa agora pedir licença.
            Enquanto no ouvido direito, batendo as asas silenciosas,
            anjos e arcanjos da Poesia lhe sussurram secretamente:
         - “O Terrível agora é estar em face da Beleza Absoluta”.

O biógrafo e amigo próximo, o poeta e historiador Ubirajara Galli, em discurso emocionado nesta Academia, na Sessão da Saudade realizada em homenagem a José Mendonça declarou, emocionado, laços quase filiais que o mantiveram ligado ao seu:

“Generosidade com todos, generosidade é a palavra, é o sentimento que talvez possa resumir timidamente a passagem do Zé, do “Zezé”, de José Mendonça Teles, por nosso eito terreno, meu mentor dos trieiros da historiografia goiana. Na verdade, a nossa convivência era de um pai biológico que eu já não tinha mais; e dele em relação a mim, um filho que ele não teve”.

Na recepção que fez ao então jovem acadêmico, a Sra. Nelly Alves de Almeida vaticinou o que seriam os profícuos 38 anos do titular da Cadeira 32:

“José Mendonça Teles, faça de nossa Academia, que o recebe tão festivamente, sua Casa da Cultura. Uma cultura que vibre, cresça, se dimensione, se universalize. É sumamente importante o papel das Academias: elas não lhes reservam o direito de apenas guardar o já feito, mas requerem o propósito de muito realizar. E poucos, como você, podem cumprir tal destinação. Faça, aqui, valer mais e mais seu espírito de entendimento e cooperação, para que possamos continuar dando à nossa Casa a certeza de existir, de saber por que existe. De apreciar, através da fruição sadia de suas possibilidades, as belezas das criações artísticas, o valor da inteligência, a soberania das coisas nobres que iluminam o espírito. Só assim poderemos estender, aos limites universais, o que culturalmente temos realizado com tanto amor na área regional. Aguarda-o a Cadeira 32. Torne-a imensa com sua juventude, seu talento e sua capacidade de trabalho, numa homenagem à memória de Francisco Ayres da Silva e num propósito de elevação maior da Academia Goiana de Letras! Que a semente lançada por ele, em suas mãos, jovem Acadêmico, se transforme em messe gloriosa, para nossa maior grandeza e afirmação!”.

E que espécie de profetisa se tornou a Sra. Nelly: José Mendonça Teles, em mais de três décadas de titularidade da Cadeira 32, marcou época, mais do que como poeta, cronista, contista – sim, acima de tudo, um servidor da Cultura, na feliz expressão de Iuri Godinho no Réquiem  ao nosso “general do Exército não remunerado da Cultura”.

“José Mendonça Teles enfrentou o Parkinson e perdeu a luta aos 82 anos. Seu amigo, o jornalista Jávier Godinho, debochava: “se tem alguma coisa que não dá dinheiro em Goiás, chame o Zé Mendonça que ele vai”. Ele se contentava em ser o general do exército não remunerado da memória goiana.
“Sua vida foi fantástica e vitoriosa, pois se metia nas coisas que ninguém imagina que existiam. Descobriu os rolos de concreto usados para aplainar as ruas nos anos iniciais de Goiânia. Resgatou do esquecimento o primeiro jornal de Goiás, o Matutina Meia-pontense. Escreveu a letra do hino oficial de Goiás. Foi presidente da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico. (...)Um general da cultura.
“Muito tempo depois que eu e você estivermos mortos, Goiás ainda renderá vivas a José Mendonça Teles, nosso general seis estrelas da cultura goiana”.

Diferentemente de Iuri Godinho e Ubirajara Galli, tive apenas dois contatos formais com o professor, ambos de profícua realização para a cultura local. Em 1981, recém-formado em Comunicação Social e Relações Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, recebi o convite do nosso saudoso amigo Alfredo Talarico Filho para compor a Assessoria dele, chefiando na Caixa a área de Relações com a Imprensa e o legislativo.

Em 1983, recebi a visita do professor José Mendonça Teles, que buscava patrocínio para a edição fac-símile da Revista Oeste.

Escrito o projeto, nós o encaminhamos à Presidência da Caixa em Brasília e depois de inúmeras démarches obtivemos a autorização para participar daquela iniciativa cultural. Foi com muita alegria que acompanhamos o nascimento da obra em grande estilo.

Sobre a Revista Oeste disse Colemar Natal e Silva: “Uma vez editada e divulgada, vai valer como testemunho de uma fase áurea de nossas letras”

Novamente, em 1986, recebi a visita de José Mendonça Teles na sede da Caixa. Ele nos convidava a patrocinar o livro em homenagem aos 30 anos de poesia de Gilberto Mendonça Teles. Uma vez aprovado o projeto, José insistiu: “desta vez, você assina a apresentação”. Tudo porque ele sabia das veleidades literárias deste que lhes fala. E, então, assim me expressei, na apresentação de Trinta anos de poesia:

“Essa determinação de incentivo cultural por parte da Caixa, como o fazemos no caso de GMT, bem exemplifica a ação que o poeta Maiakóvski pedia à sociedade de seu tempo, em relação aos poetas, ao afirmar: “deixem de realizar suntuosos centenários e respeitem mais os poetas vivos, ao invés de render-lhes homenagens com edições póstumas. É preciso escrever artigos sobre os escritores vivos. Dar-lhes pão em vida! Dar-lhes papel em vida! Essa disposição de homenagear o poeta em vida e no auge de sua produção literária honra e dignifica a Caixa e a coloca à altura da sociedade que tem sabido respeitar em vida um dos mais profícuos e brilhantes poetas brasileiros.”

Naquela apresentação faltou-me dizer sobre o papel de apoio à Cultura que realizamos na Assessoria de Comunicação da Caixa, como o apoio financeiro a músicos locais, prover ambiente para o funcionamento do Cineclube “Antonio das Mortes”; abrir nossas agências para exposição de quadros de artistas goianos.

Não menos importante foi patrocinar a recuperação de dezenas de quadros do artista Frei Confaloni, que estavam ao abandono na Paróquia São Judas Tadeu, em Campinas.

Além disso, na Cidade de Goiás, quando inauguramos a Agência local, o apoio do meu saudoso chefe Talarico nos permitiu obter os recursos necessários para recuperar o Quartel do Vinte, uma obra que era solicitada pela comunidade.

O futuro na AGL 

Vivemos em um mundo que o escritor Vargas Llosa intitula de “A civilização do espetáculo”, em que as esperanças na cultura livresca são decrescentes. Mesmo diante da conclusão melancólica de Llosa eu tenho muitas esperanças. Creio que é possível acreditarmos em palavras como “espírito, ideais, prazer, amor, solidariedade, arte, criação, beleza, alma, transcendência”.

Ao contrário de Llosa, no entanto, eu creio no futuro das relações do autor com um novo leitor, que continuará a buscar os livros, sejam estes em papel ou formato digital.

Cabe aos acadêmicos dar respostas válidas nesta 4ª. Revolução Industrial que já se iniciou, e ao vivenciarmos a onda de inovação do mundo que se avizinha não podemos cair num “jogo retórico, esotérico ou obscurantista”, nem nos fecharmos em copas como um grupo de intelectuais, que dá as costas à sociedade e vive apenas o passado.

Creio que devemos buscar o leitor deste novo “mundo-tela” ainda que mantenhamos o nosso apego à tela antiga do mundo romântico, ou clássico, mantendo-nos cultores das belas artes, das letras, do amor à boa música, às artes plásticas e ao intercâmbio entre os povos.

Gostaria de ver as academias voltadas ao mundo-tela de que nos fala o peruano – escritor do mundo e ganhador do prêmio Nobel de Literatura, mas não com a melancólica esperança de que voltemos ao passado; porém -  isto sim, acreditando que podemos enfrentar as intempéries de tempos novos.

Admitir nossas limitações só nos engrandece, na medida em que possamos suprir essas carências através do trabalho colaborativo, realizado em torno da união pela cultura. 

Afinal, como o próprio Llosa diz: “escrevendo, pode-se resistir à adversidade, atuar, influir na História”.

Assim, poderemos contribuir com os jovens que sentarão em nossas cadeiras no futuro. Esses jovens construirão a cultura da qual se alimentarão os nossos netos e as próximas gerações, sempre alicerçados na fundação que ora estamos forjando.

Encerrei, com um compromisso de fé. Disse que a AGL pode contar comigo, como mais um colaborador, os confrades e confreiras, com um amigo. Aquele que, como meu antecessor na Cadeira 32, sabe das limitações (poeta menor que sou), mas tem o pensamento em Deus, a mente voltada ao Bem e a alma sempre pronta ao serviço do Criador.

Adalberto de Queiroz, 64, Jornalista e Poeta. Membro da Academia Goiana de Letras, Cadeira 32. Autor de “O rio incontornável” (Poemas), 2017.

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Quaresma: a escada – entre um deserto e um jardim


Está o leitor diante de “Quarta-feira de cinzas”[i] – poema da parte final da produção de T.S. Eliot (1930), a que o crítico Northrop Frye intitula da “visão purgatorial” do poeta anglo-americano – onde, em seis partes numeradas, o poeta nos apresenta um deserto, um jardim e uma escadaria entre os dois.

Caetano W. Galindo, 46, é tradutor. Nesta obra de 2018, atinge nível superior em traduções da poesia do anglo-americano T.S. Eliot para o Vernáculo.


Segundo o historiador das Religiões e mitólogo romeno Mircea Eliade: “Na geografia mítica, o espaço sagrado é o espaço real por excelência”, isto é, fica claro que “para o mundo arcaico o mito é real porque ele relata as manifestações da verdadeira realidade: o Sagrado”.

"Desse espaço sagrado, deste
Centro é que partem as comunicações do homem e a divindade, assim o Centro constitui-se em “ponto de interseção” – portanto, daí, o Inferno, o centro da terra e a porta do céu encontram no Centro uma “passagem cósmica” de uma a outra região".

Essa passagem cósmica pode ser ilustrada observando-se atentamente os ritos de ascensão que têm lugar num “Centro” e Eliade anota que “um número considerável de mitos fala de uma árvore, de um cipó, uma corda, um fio de aranha ou de uma escada que ligam a Terra ao Céu, e através dos quais certos seres privilegiados sobem efetivamente ao Céu.”


Está o leitor diante de “Quarta-feira de cinzas”[ii] – poema da parte final da produção de T.S. Eliot (1930), a que o crítico Northrop Frye intitula da “visão purgatorial” do poeta anglo-americano – onde, em seis partes numeradas, o poeta se nos apresenta um deserto, um jardim e uma escadaria entre os dois.

A primeira tradução deste poema a que o cronista teve acesso em língua portuguesa foi talvez a de Ivan Junqueira (ou quem sabe de Oswaldino Marques?), quando lia com mais ansiedade e pressa do que nesta quadra da vida, quando então somos, leitores de Eliot, brindados pela tradução deste talentoso jovem Caetano W. Galindo, que fala de sua experiência de tradutor do poeta inglês[iii]:


“Lembro detalhadamente o dia em que saí da universidade carregando um volume com a poesia reunida de T. S. Eliot. Devia ser 1994, 1995. E tinha decidido que era hora de ver o que tinha a dizer aquele poeta tão conhecido.

Caetano W. Galindo, tradutor que soube enfrentar
um "embate de gente grande".

“Lembro de passar pelos primeiros poemas sem entender muita coisa. Lembro de ter gostado da recorrência da persona(gem) Sweeney. E lembro com grande nitidez do momento em que topei com os versos de abertura de Ash Wednesday.

“Because I do not hope to turn again
Because I do not hope
Because I do not hope to turn

“Li, reli: sorri. O ritmo, o pentâmetro jâmbico perfeito (o “decassílabo” inglês) que depois se desfaz, a repetição, o uso algo estranho daquele verbo “to turn”. Tudo me seduziu inapelavelmente. Encantatoriamente.

“Mal sabia que aquele poema seria ainda mais complexo que os outros. Mas isso pouco importava naquele primeiro momento. O poeta me conquistou pela sonoridade. E no trecho final do poema, como se não bastasse, os versos reaparecem, agora transformados…!

“Porque eu já não espero tornar mais
Porque eu já não espero
Porque eu já não espero tornar
De dons, visões alheias, desespero
A brasa de querê-los não me abrasa
(Devia a velha águia abrir as asas?)
Por que deveria chorar
A força finda de impérios normais?”

Assim Galindo inicia seu mergulho na obra de Eliot, dando-nos a sua versão tanto do “Eliot cerebral, complexo, do erudito” – o “incompreensível”, quanto do “Eliot, o travesso” de “O livro dos gatos sensatos do Velho Gambá” (1939).

Nesta vertente, encontrará o leitor na tradução de Galindo saídas geniais para o competente “versificador Eliot” – um dos mais competentes do século”, segundo Galindo,que tomou a liberdade poética transformar o londrino gato Morgan no gato (Chico?) Bento, alcançando resultados satisfatórios.

Sim, chega a bom termo o jovem e experiente tradutor, porém, não é dos gatos que deseja o cronista se ocupar hoje, e sim do deserto, do jardim e das escadas. Ficam os felinos para uma próxima jornada, sem demérito do tema e do bom resultado alcançado pelo tradutor.

Como se sabe, “o deserto e o jardim são símbolos centrais em nossa tradição literária e religiosa e uma quantidade de elementos desse simbolismo se tornou tão intimamente interligada que se identifica de pronto” – diz Northrop Frye em se ensaio “Do fogo pelo fogo[iv]” sobre Eliot.

Segundo Frye, podem ser identificados sete desses símbolos no poema “Quarta-feira de cinzas”, que são esquematicamente:

1. A queda de Adão – “o milionário arruinado”, condenado a ganhar o sustento na Natureza, ao final será reconduzido ao jardim do Éden e terá restaurados a árvore e o rio da vida;

2. Israel vagueia no deserto quarenta anos, em busca da Terra Prometida – a Canaã – “Sob uma árvore no frescor do dia, com a benção da areia,/Esquecendo-se de si e uns dos outros, unidos/No silêncio do deserto. É esta a terra que haveis/De partilhar em lotes. E nem partilha nem inteireza/Importam. É esta a terra. Temos nossa herança[v]

3. Israel em seu último exílio – reprimendas aos desobedientes e, de novo, o jardim: “Ó povo meu; que te tenho feito? // Irá a irmã velada entre os ramos que pendem/Dos teixos rogar por aqueles que a ofendem/E aterrados não conseguem, não se rendem/E afirmam ante o mundo e negam entre as rochas/No último deserto entre as últimas rochas azuis/O deserto no jardim o jardim no deserto/Da seca, cuspindo da boca a semente murcha da maçã.// Ó povo meu”.

4. A sabedoria de Salomão retomada por Eliot como “o contraste entre o mundo da vaidade (“carga de gafanhotos”) e o “jardim da Noiva e sua irmã” – onde há uma “Dama” (II) e uma “irmã de véu” – como a Beatrice de Dante. “Senhora dos silêncios/Calma e perturbada/Rota e quase inteira/Rosa da memória/Rosa do esquecimento/Exaurida e que dá vida/Tensa descansadamente/A rosa só/É ora o Jardim/Onde acabam os amores/Extermina o tormento/Do amor insatisfeito/O maior dos tormentos/Do amor satisfeito/Fim da infinita/Jornada sem fins/Conclusão de tudo que/É inconcluível/Fala sem palavra e/Palavra sem fala nenhuma/Graça à Mãe/Pelo Jardim/Onde acaba todo o amor”.

5. Do calendário da Igreja, tem-se que “a vida de Cristo é polarizada entre sua tentação, quando ele vagueia quarenta dias no deserto, e sua paixão, que se estende desde a agonia num jardim à sua ressurreição em outro”. Frye aponta a similaridade que há entre a tentação de Cristo (40 dias) e Israel que 40 anos vagou pelo deserto sob a liderança de Moisés; e a ressurreição de Cristo, similar à conquista da Terra Prometida por Josué – que tem o mesmo nome de Jesus.

6. “A comemoração da tentação pela Igreja nos quarenta dias da Quaresma, que começam na quarta-feira de cinzas, seguida imediatamente pela celebração da Páscoa”.

7. No "Purgatório" de Dante, o poeta nos conduz “para o alto da montanha pedregosa da penitência, na direção do nosso mundo primevo – o jardim do Éden”, afirma Frye.

Acima do deserto, afirma o crítico canadense, “os habitantes do jardim abandonaram “o sonho inferior” pelo “sonhos superior”, e a memória por uma vida “na ignorância e no conhecimento pleno” que, como a subida da escada que separa o purgatório do Paraíso, permite ao homem alçar voo. Afinal, “em Dante, o rio Letes, que oblitera a memória do pecado, e o rio Eunoé, que restaura o conhecimento pleno, estão no [jardim] do Éden”.

Ao se permitir (e corajosamente decidir) subir a escada, o leitor verá que consegue, graças ao condão da grande poesia (de Dante a Eliot), “lutar contra o demônio da esperança [desolada] e do desespero” (Frye), vê-se escapando da “gorja dentada de idoso tubarão[vi]”, como Jonas ou Dante:

“Na primeira volta da segunda escada
Voltei-me e vi lá embaixo
A mesma forma torta sobre a balaustrada
Sob o fedor da atmosfera pesada
Lutando com o demônio dos degraus, que usava
A face enganosa da esperança desolada.

“Na segunda volta da segunda escada
Deixei-os contorcidos, voltados pra baixo;
Sem mais faces, a escada era escuridão,
Úmida, entrecortada, como boca de velho que baba, condenada,
Ou gorja denteada de idoso tubarão.

[...]
“Sumindo, sumindo; força além da esperança desolada
Subindo a terceira escada.

Senhor, eu não sou digno
Senhor, eu não sou digno

  Mas dizei uma só palavra.”

O fiel (e mesmo o incrédulo) sente-se diante de “Quarta-feira de Cinzas) no dever de tomar uma atitude. O poema teria feito “com que muitos da nova geração (1930) retornassem ao Cristianismo, enquanto outros se precipitavam para o comunismo, como sugere Rose Macaulay” – no depoimento de Russel Kirk, em “A era de T.S. Eliot[vii]”.

E assim, com esse poema complexo, pleno de imagens e símbolos, Eliot nos leva neste período fundamental do cristianismo a refletirmos sobre “a escada [que] contém um simbolismo extremamente rico, sem deixar de ser perfeitamente coerente: ela representa plasticamente a ruptura de nível que torna possível a passagem de um modo de ser a um outro; ou, colocando-nos sob o plano cosmológico, que torna possível a comunicação entre Céu, Terra e Inferno” – como afirma Mircea Eliade.

E do Purgatório – ousaria afirmar este cronista, que pode ser a passagem possível da terra desolada ao jardim sonhado (Éden ou Paraíso) – está o leitor diante de excelente escolha poética para ler e reler nesta Quaresma.

VI

“Embora eu não espere tornar mais
Embora eu não espere
Embora eu não espere tornar

Hesitando entre perdas e ganhos
No trânsito breve em que cruzam-se sonhos
Crepúsculo cruzado de sonhos em meio a parto e morte
(Abençoai-me, pai) embora eu não deseje tais coisas desejadas
Da larga janela para a praia de granito
As velas brancas voam sempre rumo ao mar, o mar por norte
Asas inquebradas

E o coração perdido se enrijece ao celebrar
No perdido lilás e nas vozes perdidas no mar
E o espírito fraco vê-se logo insurgido
Contra áureo cajado curvo e o aroma marinho perdido
Vai logo buscando
O grito da codorna, tarambola girando
E o olho cego cria
Entre os portões ebúrneos as formas vazias
E olfato refaz o sal, sabor da areia da terá

É este o tempo tenso que entre morte e parto se encerra
Lugar de solidão onde se cruzam três sonhos
Entre rochas azuis
Mas quando as vozes arrancadas do teixo se evolam
Que de um teixo outro se arranque outra resposta.
Beata irmã, santa mãe, espírito da fonte, do jardim,
Não permitas que nos escarneçamos com falsidade
Mostra como cuidar e não cuidar
Mostra-nos a imobilidade
Mesmo em meio a essas rochas
Nossa paz em Tua vontade
E mesmo em meio a essas rochas
Irmã, mãe
E espírito do rio, espírito do mar maior,
Não permitas que eu me veja separado


E chegue a Ti o meu clamor[viii].

Adalberto de Queiroz, 64, Jornalista e poeta, autor de “O rio incontornável” (poemas), Editora Mondrongo, 2017.


[i] Para ler o poema na íntegra, traduzido por Ivan Junqueira, siga este link: http://bit.ly/2Ub2f8P
Um trecho da recente tradução feita por Caetano W. Galindo pode ser ouvido neste link do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Riiif-jQJXE

[ii] Para ler o poema na íntegra, traduzido por Ivan Junqueira, siga este link: http://bit.ly/2Ub2f8P
Um trecho da recente tradução feita por Caetano W. Galindo pode ser ouvido neste link do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Riiif-jQJXE

[iii] Depoimento ao Suplemento Pernambuco “Bastidores da tradução da poesia completa de T. S. Eliot - http://bit.ly/2Uf9AEj

[iv] FRYE, Northrop. “T.S. Eliot”. Tradução Elide-Lela Valarini. – Rio de Janeiro: Imago Ed., 1998, pág. 75-100.

[v] ELIOT, T.S. “Poemas”. Org., tradução e posfácio Caetano W. Galindo. 1ª. ed. – S. Paulo: Companhia das Letras, 2018, pág. 185,

[vi]ELIOT, T.S. op. cit., p.187.

[vii] KIRK, Russel. “A era de T.S. Eliot: a imaginação moral do século XX”. Tradução: Márcia Xavier de Brito. São Paulo: É Realizações, 2011, pág. 324.

[viii] ELIOT, T.S. op. cit., cf. IV acima, pág. 197-99.

[i] Para ler o poema na íntegra, traduzido por Ivan Junqueira, siga este link: http://bit.ly/2Ub2f8P
Um trecho da recente tradução feita por Caetano W. Galindo pode ser ouvido neste link do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Riiif-jQJXE

Crônica de um ídolo ou Caetanaço

Quero desacelerar o pensamento. Descansar o corpo na rede e sonhar um sonho baiano. Sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos. Eu quero seguir vivendo