Editorial

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Vitória de Marconi Perillo reabre política de Goiás para a renovação

A única vitória que efetivamente cria espaço para a renovação política é a de Marconi Perillo, que, se eleito em 2014, não poderá disputar o governo em 2018. Se derrotar Iris, o tucano liberta peemedebistas jovens como Daniel Vilela e Júnior Friboi e promove governistas como Giuseppe Vecci, José Eliton e Thiago Peixoto

O que Roosevelt e Churchill têm a dizer ao ressentido Iris Rezende

O candidato do PMDB a governador de Goiás é um político de valor. Mas, adotando a vingança como ética e o ódio como norma, não percebe que os eleitores estão em busca de gestores que sejam construtivos

O fracasso do poste político e a eleição de quem conseguir conquistar a classe média

Os eleitores parecem acreditar que escândalos são típicos do meio político e tendem a apostar no candidato menos pior. Nas eleições deste ano, as classes médias devem apostar naquele candidato que prometer mais consumo e, portanto, crédito facilitado. A ética está pesando menos do que a economia

Governo Dilma Rousseff avaliza gestão de Marconi Perillo e revela que Goiás tem melhor educação do país

A melhoria da educação pública em Goiás, segundo dados do Ideb, talvez seja a notícia mais importante para o Estado em 2014. As oposições, se atentas, deveriam comemorar junto com o governador Marconi Perillo porque estariam reconhecendo o esforço coletivo de professores e alunos

Por que Iris Rezende não diz que, se eleito, pode retomar a usina de Cachoeira Dourada?

Se a galinha dos ovos de ouro é a usina de Cachoeira Dourada, privatizada por um governo do PMDB, e não a Celg, uma mera distribuidora, por que o candidato peemedebista não apresenta um plano para retomar a primeira?

Iris Rezende tem valor histórico mas trava fortalecimento das oposições e renovação política em Goiás

O candidato do PMDB a governador, Iris Rezende, não impede a renovação apenas do PMDB. Ele é um dos principais responsáveis por impedir a ascensão política do socialista Vanderlan Cardoso e do petista Antônio Gomide

A radical Marina Silva vai desafiar o coro dos contentes do tucanato e do petismo

Marina Silva, a candidata do PSB a presidente da República — não há ou­tra possibilidade —, é um “problema” e uma “solução” [caption id="attachment_12777" align="alignleft" width="825"]artigo_jose maria e silva.qxd Marina Silva: a candidatura da socialista quase-missionária indica uma radicalização da política nacional e alianças mais conservadores podem ruir nos Estados | Foto: Miguel Baia Bargas[/caption] “Problema” porque “assusta” mais do que Eduardo Campos, falecido na quarta-feira, 13, aos 49 anos. É provável que assusta progressistas e conservadores (principalmente os do agronegócio, que, a rigor, são menos conservadores do que imagina a vã filosofia patropi). Mesmo com certo ar angelical — inclusive é religiosa — e defensora de causas progressistas, como a preservação do meio ambiente, é conservadora, em termos comportamentais. É uma evangélica radical, se se pode formular assim. É contrária ao aborto e não tem qualquer empatia com causas como “casamento” entre ho­mossexuais. Na política nascida no Acre (de 56 anos) coexistem, numa ambiguidade que chamaria a atenção do escritor americano Henry James, uma conservadora e uma progressista. A defesa intransigente do meio ambiente, com o consequente controle do crescimento capitalista no campo — quiçá inevitável, dadas as pressões do agronegócio e, ao mesmo tempo, do crescimento populacional no Brasil e no exterior —, camufla a Marina adepta do conservantismo questões comportamentais. Entretanto, ao contrário de outros políticos, Marina Silva tem posições claras a respeito de alguns assuntos e tende a não tergiversar. A confusão é mais de quem a interpreta, que em geral a vê quase que exclusivamente como uma radical de esquerda, devido à pregação de que a expansão do capitalismo deve ser controlada pelo Estado — deixando de notar outros aspectos de seu pensamento. Fica-se com a impressão de que a provável presidenciável quer construir um mundo para os “escolhidos”, o que é uma ideia político-religiosa — que, sob o socialismo, gerou uma ditadura implacável, responsável por milhões de mortos (cerca de 100 milhões, e exclusivamente no século 20, depois de 1917) —, e por isso antropólogos e sociólogos, mais do que cientistas políticos e estatísticos, deveriam ser convocados para explicá-la. Marina Silva talvez seja mais bem compreendida se for vista como uma radical de esquerda que incorpora certo radicalismo (comportamental) de direita, derivando posições políticas a partir de uma visão religiosa (evangelizadora e quase fundamentalista) do mundo. Então, a ex-mi­nistra, chefe do grupo político co­nhe­cido como Rede Susten­tabilidade, é de esquerda, politicamente, e de direita, em termos comportamentais? É provável que mesmo esta in­terpretação seja redutora e que a líder socialista — quem sabe, uma so­cialista cristã — careça de uma observação mais aguçada e menos simplista. Porém, o que importa, no momento, não é a clareza ideológica sobre o que é Marina Silva. Até porque o que falta na política patropi é transparência ideológica — e não só de Marina, que, aliás, talvez seja mais bem posicionada, com suas contradições, do que a presidente Dilma Rousseff, que, para governar, assenhorou-se de uma aliança política que, por certo, contraria seu ideário, mas não o de Lula, que é um animal político do primeiro time, que percebeu rápido que política se faz na circunstância e com práticas e aliados possíveis, não com ideias revolucionárias, bonitas e futurísticas. O que define a tática (a intervenção na realidade) é a circunstância — não uma ideia. O que importa é o debate, ainda prematuro mas necessário, sobre a viabilidade de Marina Silva. O cientista político e filósofo Marcos Nobre, da Unicamp, concedeu uma entrevista polêmica e instigante à “Folha de S. Paulo”. Aqui e ali, fica parecendo mais oráculo do que cientista, mas não porque queira ser profeta, e sim porque a política, que é construção no momento, é sempre um terreno escorregadio e pantanoso. Ao contrário do historiador, que trabalha com fatos mais ou menos consolidados, o cientista político comete mais erros porque tem de interpretar os fatos no momento em que estão acontecendo. Trabalham, pesquisam, escrevem e dão entrevistas sob pressão. A “Folha” cobra que Marcos Nobre explique por qual razão a aliança Eduardo Campos e Marina Silva, supostamente representante do “novo”, não havia decolado. A explicação talvez não seja lá muito precisa, mas tem sua pertinência: “Não decola porque a campanha foi lançada na entrevista ao ‘Jornal Nacional’, na véspera de sua morte. A exposição nacional começou ontem” (terça-feira, 12). [caption id="attachment_12779" align="alignleft" width="1022"]Eduardo Campos: o líder pernambucano, progressista e modernizador, era muito mais agregador do  que a líder ambientalista Marina Silva. E ele tinha um pé no coronelismo nordestino, na oligarquia Eduardo Campos: o líder pernambucano, progressista e modernizador, era muito mais agregador do que a líder ambientalista Marina Silva. E ele tinha um pé no coronelismo nordestino, na oligarquia | Foto: Nacho Doce/Reuters[/caption] Marcos Nobre avalia que a morte de Eduardo Campos piora a situação da presidente Dilma Rousseff. Na sua opinião, o PSB não tem saída, exceto lançar Marina Silva. “O sistema político, que excluiu a candidatura de Marina, será obrigado a trazê-la de volta com um cacife gigantesco. Isso acontece antes do horário eleitoral. Vai ter um período de confusão, mas acho que a Marina será candidata por causa da pressão sobre o PSB. Isso é ruim para o governo porque Marina tem carisma, cacife, voto e ‘recall’ [lembrança dos eleitores]. O governo não contava com isso.” Entra aí, pois, Marina Silva como “solução”.

Eleitores em campanha

Pode-se dizer que há eleitores que estão em campanha — uns com Dilma Rousseff, outros com Aécio Neves. Alguns estavam com Eduardo Campos. Mas há os eleitores, ainda que devida ou parcialmente politizados, que não estão em (e na) campanha. A rigor, não estão indecisos. Tão-somente não querem votar em quem está no poder e em quem, mesmo na oposição, não parece oferecer uma alternativa de mudança em relação ao status quo. O próprio Eduardo Campos seguiu o governo do PT durante 11 anos e se considerava neolulista, um apadrinhado do ex-presidente Lula da Silva, que chegou a pensar em lançá-lo a vice-presidente de Dilma Rousseff e/ou a presidente em 2018. Porém, por entender que o PT não abre espaço para político de outro partido, o líder pernambucano decidiu romper a aliança e lançar-se candidato já em 2014. Eduardo Campos era oposição, claro, mas ao mesmo tempo era visto como um homem do “establishment” lulopetista. Marina Silva, mesmo tendo pertencido ao PT e ao ministério de Lula da Silva, é vista como avessa aos conchavos, ao sistema político dominante. Embora seja pragmática em certos pontos — sua estrutura logística não é gratuita nem feita de so­nhos —, é, no geral, purista. Às ve­zes, não parece habitar o mundo dos mortais. É uma outsider, quem sabe até mesmo na Re­de Sus­tentabilidade — grupo no qual, tudo indica, predominam po­líticos avessos à religião e ade­ptos de um socialismo possivelmente diverso da ideia socialista da ex-ministra do Meio Ambiente. Os eleitores que não estão em campanha, e que aparentemente não querem estar em campanha, podem perceber em Marina um par, uma irmã, no descontentamento universalizado com os políticos. Trata-se, lógico, de uma hipótese. O que pode “salvar” Dilma Rousseff, no primeiro ou no segundo turno, é o voto dos eleitores mais pobres. A perda de uma figura nordestina no pleito — Marina, ao se tornar uma política nacional, parece ocupar um não-lugar, quer dizer, é de todos os lugares, mas não é de nenhum especificamente, nem mesmo do Acre, sua antiga base (é mais forte em Brasília) — pode contribuir para aumentar o cacife da petista. No Nordeste o governo, com seus programas sociais, será o principal cabo eleitoral de Dilma Rousseff. No Nordeste e nas áreas mais pobres do país. No Sudeste, onde não está bem, dada a força da classe média — que, endividada, quer mais do governo, especialmente recuperar o poder de ir às compras —, a presidente vai precisar de uma energia redobrada de seu principal cabo eleitoral, Lula da Silva. Em suma, Marina Silva complica o jogo, mas não apenas para Dilma Rousseff. O principal ameaçado é mesmo Aécio Neves. Como segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, o tucano de Minas Gerais é o primeiro alvo do PSB. Eduardo Campos tinha algum pudor de criticar o amigo Aécio Neves. Marina Silva não terá pudor algum. Na eventualidade de segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, o tucanato fica com a segunda, bem recebido ou não. O que o PSDB mais quer é — com Aécio Neves, o preferido óbvio, ou Marina Silva — arrancar o PT do poder. Agora, se a ex-ministra não deslanchar, vai ser difícil, talvez até muito difícil, o PSB segurar alguns de seus aliados. A tendência é que passem, sem nenhum constrangimento, para o lado de Dilma Rousseff, cristianizando Marina Silva, que, a rigor, “está” mas não “é” do PSB (o PSB vai tentar controlá-la, numa missão impossível, e é provável que a ex-ministra vai tentar controlar o partido). Marina Silva, como se disse antes, é uma outsider — uma espécie de Antônio Con­selheiro de saia, ou, no limite, uma Lula da Silva radicalizada, acima de partidos e grupos políticos.

Morte gera consenso

O dramaturgo Nelson Rodri­gues escreveu que “o mineiro só é so­lidário no câncer”. É uma boutade. Mais certo é dizer que o brasileiro é mais solidário na morte. A mor­te reorganiza o consenso, o pacto da civilidade e, assim, elide as contradições. Eduardo Cam­pos, que mal era citado pelas elites políticas e empresariais, de repente se tornou maior do que certamente é. Fica-se com a impressão de que, morto, tornou-se nacional e um político do porte de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva. A verdade é que o momento apropriado para se avaliar uma pessoa, seja político ou não, não é logo após a sua morte, na hora da comoção privada ou coletiva. (Observe-se que a primeira biografia alentada de Getúlio Vargas, de autoria do jornalista e escritor Lira Neto, só foi publicada integralmente 60 anos depois de sua morte.) Mas obituários não devem excluir a contradição, os problemas. Em alguns jornais ingleses, franceses e norte-americanos, os obituários são escritos antecipadamente por dois motivos. Primeiro, porque escrever às pressas, especialmente sobre pessoas complexas, é sempre um risco. Às vezes não se escapa do reducionismo. Segun­do, porque, escritos antecipadamente, tendem a refletir não a comoção, o clima da morte. Como todos sabem, o que define um homem, político ou não, não é sua morte, ainda que trágica, e sim a inteireza de sua vida. Os 49 anos de E­duar­do Campos não podem ser definidos por um único dia. A morte, por assim dizer, faz “parte” da vida — e não o contrário. Morto Eduardo Campos, de repente começou-se o consenso: “era um grande político”, um elemento da “renovação política” do país. Num momento de confrangimento, de tristeza, é difícil dizer o contrário, desafiando o coro dos recém-contentes. Mas é estranho que ninguém tenha dito que, mesmo com a candidatura, ainda não havia se tornado um político nacional. Ainda estava circunscrito ao Nordeste, sobretudo à sua Paságarda, Pernambuco. A morte, por certo, “transformou” Eduardo Campos num político nacional, ainda que momentaneamente. Era jovem, e a morte de jovens, sobretudo daqueles que falam em renovação, choca muito e cria uma espécie de congraçamento coletivo. A morte, se se pode dizer assim, amplia a civilidade — o que não é negativo. O presidente John Kennedy morreu quando tinha 46 anos e teve quatro filhos com Jacqueline Kennedy. E tornou-se um mito internacional. O político brasileiro deixa cinco filhos e uma mulher jovem, de 46 anos. Com seus olhos azuis e porte ereto, era tão bonito quanto Jack Kennedy. Não se trata, numa adesão insensível à realpolitik, de dizer que Eduardo Campos era mau político. Nada disso. Trata-se, pelo contrário, de exibir o homem em sua grandeza e limites apropriados. No governo, por quase oito anos, contribuiu para ampliar a modernização de Pernambuco. Não se pense que governou como socialista, apesar dos investimentos no social, com prioridade para a educação (estudantes pobres ganharam bolsas para estudar no exterior e incentivou-se a escola de tempo integral). Economista, não tinha veleidades românticas. Era um realista. Por isso, criou um planejamento que combinou incentivo maciço ao crescimento com políticas desenvolvimentistas e, mesmo, assistenciais (não há como descartar o assistencialismo nem mesmo em países muito ricos, como os Estados Unidos, Japão e a Ale­manha, pois a pobreza é um fenômeno universal). No seu governo, caíram os índices de homicídio e o PIB de Pernambuco duplicou. “Tocou obras como o Porto de Suape, a Transnordestina, o estaleiro Atlântico Sul.” Com que dinheiro? Seu governo recebeu espantosos 30 bilhões de reais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. O PT foi seu grande parceiro administrativo e político. Lula da Silva era uma espécie de tutor político. Eram amigos, aliados e, claro, pernambucanos. Portanto, Eduardo Campos, como realçaram os obituários, traduzindo opiniões diversas, era mesmo um gestor moderno e, assim, um agente da renovação. Era um desenvolvimentista e, filiado ao Partido Socialista Brasileiro, nada tinha de comunista. Era, acima de tudo, um modernizador. Mais: era um homem de Estado, de extrema vocação para o serviço público. Um dos melhores perfis de Eduardo Campos saiu na “Piauí”, com o título de “Candidato anfíbio” (a revista diz isto porque ele era “capaz de adaptar às mais diversas situações e ambientes”), da lavra da atentíssima repórter Daniela Pinheiro. É um retrato multifacetado, nem laudatório nem ofensivo. Justo, registrando seus sucessos, ambivalências e problemas. Nas suas conversas e discursos, Eduardo Campos dizia com frequência: “O Brasil parou de melhorar e começou a piorar”. É uma frase de marqueteiro (repetir para ver se pega). Porque o país, apesar dos problemas, não piorou. O país, com erros e acertos do governo do PT — e acrescente-se que um país não é construído tão-somente com os atos dos governos, como se não existisse uma sociedade civil vigorosa que, a duras penas, resiste e sobrevive a quaisquer planos econômicos —, tem melhorado. Per­nambuco, apesar da eficiência de seu governo, tem uma pobreza elevada, “a 19ª posição no ranking do Ín­dice de Desenvol­vi­mento Hu­ma­no (IDH)”. Trata-se de um dos piores índices do país. À repórter Daniela Pinheiro, Eduardo Campos disse, depois de conversar com hóspedes de um hotel: “Falaram que não votavam ‘naquela mulé’ de jeito nenhum. Reparou que agora ficam chamando ela de Dilmão, Dilmona? O povo está com abuso demais dela”. As pesquisas indicam que, de fato, há algum distanciamento, porque a presidente Dilma Rousseff não tem 40% das intenções de voto, mas por que um político do porte de Eduardo Campos tem de reforçar preconceitos contra um ser hu­mano, chamando Dilma Rousseff, que não agride pessoas, de Dilmão e Dilmona? Nos seus discursos e entrevistas, Eduardo Campos dizia que, se eleito, a “raposada do PMDB” não teria vez no seu governo. Lula da Silva pensava da mesma maneira e o mensalão, de alguma maneira, foi um instrumento para, controlando outros partidos, contornar o peemedebismo, que se tornou um sistema na política brasileira. O peemedebismo, mesmo não elegendo um presidente de seus quadros, controla e monitora os governos, tanto de centro quanto de esquerda a partir do domínio no e do Parlamento. É um cavalo de Troia encravado no “disco rígido” do Brasil. Se eleger uma bancada forte de deputados e senadores, o PMDB continuará contaminando e mandando na política nacional e mesmo um governo do PSB terá de compor com seus próceres. O PMDB é um vírus que paralisa qualquer governo que não o acolha (mas também é útil ao colaborar para moderar o PT). Eduardo Campos dizia que “aposentaria” José Sarney. O curioso é que praticamente retirou Severino Cavalcante da “aposentadoria” e trabalhou para ter o apoio de Inocêncio de Oliveira. Fica-se com a impressão que “nossos” coronéis são melhores dos que os coronéis dos “outros”. Reduzir impostos quando há um Estado pantagruélico, altamente centralizador e dispendioso, é praticamente impossível. Mas Eduardo Campos dizia, com frequência, que faria uma reforma tributária “imediata” para diminuir impostos. Um dos coordenadores de sua campanha na área de planejamento econômico, o economista Eduardo Giannetti, PhD pela Universidade de Cambridge, aparentemente não acredita que seja tão fácil assim. Eduardo Campos afirmava que, se eleito, derrubaria a inflação para 3%. Giannetti, embora aliado, ressalva: “O próximo governo vai ter que lidar com a verdadeira herança maldita. No Brasil, há uma dificuldade imensa de convencer a população de que há custos que precedem benefícios. O Brasil acumulou distorções e a correção dessas distorções — que inclui aumento das tarifas — vai, necessariamente, fazer com que a inflação suba 1,5% a 2% de cara”. Porém, como se sabe, não se ganha eleição com discurso excessivamente realista. Ganha-se eleição vendendo esperança e sonhos. A crueza da realidade é “embrulhada” pelo marketing para ser apresentada com certa suavidade ao eleitorado. Giannetti assinala que o próximo presidente deve redefinir o papel do BNDES, “redesenhar o modelo do setor elétrico, restabelecer o tripé econômico — geração de superávits primários nas contas públicas, juntamente com o regime de câmbio flutuante e o de metas para a inflação, além da simplificação do sistema tributário para voltar a atrair investimentos”. “Acho que o Armínio [Fraga] nem vai gostar de ouvir isso, mas, do ponto de vista estrito da economia, há pouca diferença entre o que devem ser as propostas de Aécio e as de Eduardo”, frisa Giannetti. Acrescente-se que o economista é mais ligado a Marina Silva. [caption id="attachment_12780" align="alignleft" width="1173"]Aécio Neves: o senador, candidato a presidente da República pelo PSDB, possivelmente será atingido pelo tom mais agressivo do discurso de Marina Silva | Foto: Orlando Brito/ ObritoNews Aécio Neves: o senador, candidato a presidente da República pelo PSDB, possivelmente será atingido pelo tom mais agressivo do discurso de Marina Silva | Foto: Orlando Brito/ ObritoNews[/caption] O vezo autoritário de Eduardo Campos é o mesmo de Dilma Rousseff e Aécio Neves (que sempre controlou a Imprensa de Minas Gerais com mão de ferro). Quando uma pergunta não lhe agradava, o entrevistado logo era desclassificado como um agente de Aécio Neves (no Brasil, a crítica, que é legítima, é confundida com “ataque”). “Quem era essa mocinha do SBT, que foi treinada só para me perguntar sobre o Aécio?”, disse certa vez. As perguntas eram pertinentes e a “mocinha” comportou-se profissionalmente (afinal, durante certo tempo, Eduardo Campos e Aécio Campos eram carne e unha). Jornalista pode até ter simpatia por um ou outro candidato, mas precisa fazer as perguntas apropriadas, que contribuam para que os eleitores compreendam o quê e como pensam os políticos. Uma das jogadas bem-sucedidas de Eduardo Campos foi, com o apoio do PT, a indicação de sua mãe, Ana Arraes, para o Tribunal de Contas da União. No TCU, há ministros que têm méritos, é claro, mas não chegam lá basicamente por isso. A indicação é, no geral, política. Ana Arraes “derrotou” pesos pesados porque seu filho, Eduardo Campos, era o grande “trunfo” da negociação. Por si mesma, não seria indicada. Antônio Campos, o Tonca, irmão de Eduardo, disse à “Piauí”: “Se ele não ajudar a mãe, vai ajudar quem?” Uma lógica irretorquível, sem dúvida. No governo de Pernambuco, Eduardo Campos nomeou mais de 20 parentes (tios, primos, genro, cunhados), sob o argumento de que eram competentes. Ariano Suassuna, falecido recentemente, tio de sua mulher, ganhou um cargo de acomodação, mas com salário de primeira linha. O que fazia, de fato, não se sabe. Mas todo mês o dinheiro era depositado em sua conta bancária. Nepotismo “ruim” é só o dos “outros”. João Grilo e Chicó decerto aprovariam. Um dos projetos de Eduardo Campos era mudar o setor previdenciário, mas alertando, para não perder votos, que não iria mexer em direitos adquiridos. “Não dá para um desembargador deixar pensão para a segunda mulher novinha. O cara contribui 25 anos e a pensão dura sessenta”, disse à “Piauí”. Ora, no caso, não há o que fazer, porque, como disse, não se mexe em direitos adquiridos, ainda que, eventualmente, possam ser injustos. Para enriquecer o perfil de E­duar­do Campos, contraditando a louvação habitual, Daniela Pinheiro re­cor­reu ao professor Michel Zai­dan, da Uni­ver­sidade Fe­deral de Pernam­bu­co e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). O político de matiz róseo, de agenda positiva, é ligeiramente desconstruído pelo mestre. “Ele [Eduardo Campos] aumentou as secretarias de 18 para 28, e cortou sete antes de sair do governo. Colocou dois postes co­mo herdeiros políticos no Estado para continuar no controle. Eduar­do é o imperador e Pernambuco é o reino”, afirma Zaidan, autor do livro “A Honra do Imperador”. “Não há oposição em Per­nam­buco. Isso não é um bom sinal”, afirma Zaidan. O socialista, segundo o professor, governou com o instrumento das nomeações e liberação de verbas para a­lia­dos políticos. A repórter Da­nie­la Pinheiro comprovou na prática o que Zaidan lhe disse: “O único deputado que aceitou falar comigo contra Campos pediu para ficar no anonimato. Recentemente, uma prima do candidato, a vereadora Marília Arraes, chegou a postar uma carta insinuando que Campos tentava emplacar o filho João na presidência da Juventude do PSB com métodos pouco democráticos”. Zaidan admite que Eduardo Campos não era mau gerente. Mas afirma que “até empresas de transporte com ar-condicionado para a Copa ganharam incentivo fiscal”. O professor-doutor discorda dos que apresentam o político como “fato novo”. “Ele é parte de uma oligarquia. Assim como Aécio Neves. Nesse ponto, são idênticos. Nunca tiveram um emprego, viveram da política, da herança política dos avós e dos velhos hábitos de manutenção do poder”, afirma o pesquisador. Eduardo Campos era neto de Miguel Arraes, apontado como coronel de esquerda. O que se disse acima não diminui Eduardo Campos em nada. Tão-somente nuança o político, mas não retira sua grandeza. Sua história foi fatalmente amputada e, com isso, pesquisadores gabaritados terão de cristalizá-lo como um político mais importante para Pernambuco do que para o país. A morte de jovens, como Eduardo Campos, é sempre lamentável. Fica-se com a sensação de que, com sua energia e vontade, poderia ter feito muito para modernizar o país. Uma pena que a Velha Senhora o tenha levado tão cedo, retirando-o da política nacional e de sua família.

Iris Rezende, como ministro da Justiça, fez pouco para reduzir a criminalidade

Em campanha para governador, o peemedebista sugere que o problema da violência pode ser resolvido num passe de prestidigitação. Como ministro, ficou conhecido pela frase “o crime, muitas vezes, é inevitável” [caption id="attachment_12108" align="alignright" width="620"]Iris Rezende e Barbosa Neto: os dois políticos precisam entender que a violência e a segurança pública são temas que não devem ser tratados meramente como questões eleitoreiras | Foto: Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção Iris Rezende e Barbosa Neto: os dois políticos precisam entender que a violência e a segurança pública são temas que não devem ser tratados meramente como questões eleitoreiras | Foto: Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Há algum tempo, quando políticos de Goiás procuraram auxiliares da presidente Dilma Rous­seff, para sugerirem que boicotassem o governo do tucano Marconi Perillo, receberam um recado que revela estadismo e percepção de como a economia funciona de modo integrado. Rousseff teria dito que prejudicar um Estado é sacrificar o crescimento geral da economia. Não só. De maneira lúcida, teria apresentado a informação de que o crescimento do país, mesmo que ínfimo, depende basicamente daquilo que os economistas chamam de âncora verde, quer dizer, do agronegócio. O mau uso da política, para atender pleitos provinciais, tende a prejudicar a economia como um todo e reflete tanto na taxa de crescimento quanto na balança comercial. Como informou o Tesouro Nacional recentemente, Goiás, com as contas em ordem, pôde pleitear e obter financiamentos facilitados pelo governo federal — que, a rigor, não é de Rousseff ou do PT, e sim do país (o Poder Executivo deve ser visto e aceito como uma “instituição”, não como propriedade partidária ou pessoal). Com dinheiro em caixa — parte dos recursos foi gerada internamente —, o governo de Marconi Perillo está fazendo um amplo trabalho de recuperação e ampliação da malha rodoviária de Goiás, um Estado que, em termos geográficos, é maior do que Portugal, Cuba e Israel juntos. Estradas melhores, além de mais amplas — algumas estão sendo duplicadas —, são fundamentais para ordenar e escoar a produção com mais facilidade. A recuperação do Autódromo Internacional de Goiânia, em tempo recorde e com qualidade elogiada por pilotos com experiência internacional, atrai eventos que, além da diversão em si proporcionada pelo esporte, fortalece e revitaliza tanto o comércio em geral quanto os setores de hotéis e restaurantes. Ao mesmo tempo, o governo está investindo na construção de hospitais de referência, como o Hugo 2, em Goiânia, e um hospital regional na cidade de Uruaçu, no Norte do Estado. O Crer, ampliado, é mencionado pelo governo da presidente Rousseff como referência para outros Estados que planejam construir hospitais de reabilitação. Os centros de recuperação de dependentes químicos (credeqs) começam a sair do papel e, possivelmente, serão outro modelo para o país. No momento, e isto em todo o país, os dependentes químicos cujas famílias têm recursos financeiros são tratados e, eventualmente, recuperados em instituições particulares, mas a um custo elevado. Famílias pobres não têm como custear o tratamento de seus integrantes que são dependentes químicos. Alguns são levados para “clínicas” dirigidas por religiosos, que, apesar da boa vontade e de alguns resultados positivos, não têm como fazer um trabalho médico-clínico rigoroso e, às vezes, nem mesmo têm instalações físicas adequadas. O governo de Goiás está mostrando ao país aquilo que a Europa constatou há mais tempo: o uso de drogas não é apenas um problema de polícia — é também uma questão, seriíssima, de saúde pública. E é um problema social e cultural. As pessoas precisam se tratar e, ao mesmo tempo, adquirir expectativa de que terão um “lugar” na sociedade. Os credeqs poderão ser, portanto, um local de tratamento e, ao mesmo tempo, de recuperação da estima do indivíduo e, indiretamente, de sua reinstalação como cidadão, e não como pária, na sociedade. Com os comentários e informações acima se quer dizer que, com recursos disponibilizados, o governo de Goiás está recuperando e ampliando sua infraestrutura, para possibilitar o crescimento econômico, e também está investindo no indivíduo. Pode-se dizer, como está na moda, que o tucano Perillo está fazendo sua lição de casa. De­savisados podem concluir: “Com dinheiro, farto ou não, qualquer um faz”. Não é bem assim. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, é do PT e tem o apoio maciço do governo de Rousseff. No entanto, faz uma gestão pífia e possivelmente não será reeleito (a senadora Ana Amélia de Lemos, do PP, tem chance de derrotá-lo). Tem-se a impressão de que, ao contrário de Perillo, Genro é mais ideólogo do que gestor. Na edição de quarta-feira, 6, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou uma reportagem, “Em 2015, portos brasileiros esgotarão potencial”. A repórter Bárbara Bretanha escreve: “A falta de acessos às rodovias e às ferrovias vem causando um alto custo de movimentação de contêineres — o mais alto do mundo, 200 dólares por unidade. Sem investimentos, a capacidade dos portos brasileiros será esgotada em 2015”. Há indícios de que o governo federal, embora tenha recursos financeiros, não consegue investi-los e, às vezes, também investe mal. De 2003 a 2013, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, “o governo autorizou investimentos públicos totalizando R$ 19,46 bilhões, mas apenas R$ 9,29 bilhões foram usados. Entraves burocráticos impediram que o dinheiro fosse aplicado em melhorias”. Num país que precisa crescer, portanto tem de exportar mais, a crise dos portos sugere que a presidente Rousseff, embora bem intencionada, não tem agido com precisão e eficiência. Há muito discurso, talvez muita reunião, mas pouca ação e escassa objetividade. Fica-se com a impressão de que os petistas sentem mais “prazer” participando de reuniões do que resolvendo problemas reais. Segurança e eleição Se na questão do transporte, que é essencial para dinamizar o crescimento da economia, o governo de Rousseff não acerta a mão — a Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada com pompa e circunstância, mas não funciona —, imagine na questão da segurança pública. Durante anos, e a tese persiste, ainda que de maneira mais tênue, a esquerda adotou o discurso de que a violência é um mero produto das desigualdades sociais. De fato, as desigualdades sociais não devem ser desconsideradas, como às vezes faz o discurso liberal mais radical, mas a violência, em larga medida, se tornou organizada. O narcotráfico, para ficar num exemplo, é um negócio rentável e pode-se falar, sem receio de equivocar-se, que é organizado por “empresários” — alguns deles mantêm até negócios lícitos como maneira de “lavar” os frutos das ações ilícitas. O governo de Rous­seff, assim como o de Lula, mas também como o de Fernando Henrique Cardoso, não combate a violência com rigor. Fala-se nas penitenciárias como locais de reeducação, adotando-se um discurso humanista louvável, mas elas devem ser vistas também, e quem sabe sobretudo, como locais de excluir os indivíduos que não aceitam as regras de convívio pacífico em sociedade. Por uma questão ideológica, sem amparo no Direito e na realidade, o petismo investe muito pouco na construção de presídios — como admitiu o próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do PT. O fato de não existir presídios suficientes, o que acaba por transformar os existentes em pocilgas às vezes inabitáveis, colabora para que alguns magistrados e policiais sejam, de certo modo, condescendentes com os criminosos. O juiz pode alegar que não há presídios suficientes e adequados — as celas estão quase sempre superlotadas — e, por isso, pode liberar presos considerados “menos periculosos”. Os policiais, alegando que prendem e os juízes “soltam”, às vezes fazem vistas grossas para alguns crimes. Eventualmente, acossados pelo discurso anti-polícia, que a esquerda impregnou na sociedade, policiais são poucos rigorosos no combate à criminalidade. A segurança pública em qualquer país é vista como uma questão nacional, afinal os Estados não são isolados. Portanto, o governo federal deveria observar a questão com mais interesse. Há especialistas que sugerem a criação de um Ministério da Segurança Nacional. No entanto, possivelmente para omitir-se e, quiçá, investir menos, os presidentes da República — e não apenas Lula da Silva e Rousseff — preferem deixar a segurança nas mãos dos Estados, numa espécie de pacto federativo invertido, quer dizer, os recursos são concentrados nas mãos do governo federal, mas as crises, o combate à violência, são de responsabilidade quase que exclusiva dos governadores. A estrutura do narcotráfico é móvel, isto é, move-se por vários Estados, com a droga migrando pelo país. Teoricamente, a Polícia Federal está atenta ao problema; na prática, o combate fica nas mãos dos governos estaduais, que, com estruturas deficientes e não raro despreparadas, são obrigados a policiar fronteiras imensas. Nas campanhas eleitorais, em todas, o tema da segurança pública, como reflexo das preocupações dos indivíduos — especialmente do medo da violência —, não sai da pauta. O problema é que a colocação do assunto em discussão não é feito como a devida seriedade., De repente, do nada, aparece um Barbosa Neto, com uma linguagem técnica que o transforma mais em robô do que num especialista, sugerindo reformas “macro-estruturantes” na segurança pública. O ex-deputado federal esquece que, quando ministro da Justiça, Iris Rezende, agora candidato a governador pelo PMDB, poderia ter contribuído, de maneira decisiva, para articular um programa de combate à criminalidade, com objetivos de curto, médio e longo prazo. No entanto, embora com poder, Iris não deu uma contribuição fundamental para o combate à violência. Pelo contrário, sua gestão ficou conhecida pela frase “o crime, muitas vezes, é inevitável”. A frase, que repercutiu em todo o país, foi muito criticada. A “Folha de S. Paulo” chegou a chamá-lo de “capitão do mato”. O que Barbosa Neto e Iris sugerem é que o problema da violência pode ser resolvido com um toque de... mágica. Não pode, é claro. Os dois estão fazendo política eleitoral, não estão tratando a questão com a seriedade necessária. Lamenta-se isto porque, embora esteja mais preocupado com sua candidatura, Iris tem uma tradição de seriedade. Pergunta-se: o que Iris Araújo (PMDB), como deputada federal, tem feito para combater a violência no país? Qual foi o projeto que apresentou? Pedir intervenção no Estado é de um primarismo que deve chocar os magistrados da Justiça, seja a estadual, seja a federal. E explorar a dor alheia — de pais que perderam seus filhos ou de filhos que perderam seus pais — é quase um crime. É desumano. l

De volta, candidatos com poderes mágicos e suas propostas miraculosas

Em política, como em qualquer área do marketing, importa muito o visual. Nada contra, desde que por trás da aparência haja igual consistência. A questão é que não é isso o que geralmente se encontra

Celg deve ser só a menor parte de um plano sério para a questão energética em Goiás

Venda de Cachoeira e crise da empresa à parte, é hora de os candidatos ao governo e suas chapas optarem por deixar as futricas do passado e discutirem profundamente a questão da energia elétrica no Estado

Hora de ter cuidado para a campanha não seguir rumo à baixaria

Material apócrifo contra Marconi foi distribuído fartamente na inauguração do comitê de Iris Rezende. Se a coligação comandada pelo PMDB entrar por esse viés, corre sério risco de fazer um jogo desleal, inconsequente e suicida

Bem-vindo à sua realidade, Brasil

À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas [caption id="attachment_9692" align="alignleft" width="616"]Dilma Rousseff, agora retomando o lugar de Felipão no comando das ações: cada um com seu tigre de papel | Foto: Fotomontagem Dilma Rousseff, agora retomando o lugar de Felipão no comando das ações: cada um com seu tigre de papel | Foto: Fotomontagem[/caption] Em 1950, o Brasil, até en­tão nada mais do que uma república das ba­nanas de tamanho continental aos olhos de Europa e Estados Unidos, curtia seu primeiro grande momento de autoafirmação geopolítica. O país vivia a euforia de sediar a Copa do Mundo de Futebol, que já era então a indiscutível paixão esportiva do País. O presidente era Eurico Gaspar Dutra e a capital, o Rio de Janeiro — Juscelino Kubitschek era apenas deputado federal e talvez sonhasse em ser presidente um dia, mas certamente não pensava em criar Brasília. A última Copa havia sido na França, em 1938. O Brasil tinha feito ótima campanha, comandado por Leônidas da Silva e Domingos da Guia, e tinha chegado ao 3º lugar. O evento quadrienal não pôde ser realizado em 1942 e 1946, por causa dos horrores da Segunda Guerra Mundial e suas consequências. A Copa do Mundo de 1942 não foi disputada, mas Brasil e Alemanha haviam se candidatado a sediar o evento. A competição foi cancelada antes que houvesse a escolha do país-sede e muitos dos atletas acabaram por servir o Exército de seus respectivos países, e até mesmo morrer, na guerra. Para 1950, o Brasil usou o argumento de ter se candidatado a sede para 1942. A outra candidata, a Alemanha, estava suspensa pela Fifa até segunda ordem. O Mundial foi preparado sem muitas críticas contrárias internas e, com apenas 13 participantes e grandes jogadores brasileiros em atividade — Zizinho e Ademir Menezes eram as maiores estrelas —, a expectativa era da ratificação do sucesso total, com a apresentação do País ao mundo como cartão-postal e campeões mundiais. Como se sabe, o Uruguai furou o script. O gol de Ghiggia foi o ponto fora da curva preparada para a exposição nacional como gigantes do mundo do futebol. O Brasil entrou no Maracanã no dia 16 de julho como campeão do mundo e o deixou como portador do complexo de vira-latas. Sessenta e quatro anos depois, o Brasil voltou a ser sede de uma Copa do Mundo. Ao ser escolhido como local do evento, em 2007, não havia guerra que ameaçasse o evento. Um revezamento de continentes pela Fifa e a crise em vários dos possíveis concorrentes na América, entre eles a Argentina, facilitou para que o nome do Brasil fosse facilmente escolhido. Era o que bastava para coroar mundialmente o governo Lula, que então navegava na onda positiva da economia global. Ainda não tinha ocorrido a crise imobiliária nos Estados Unidos, que iniciaria um movimento de recessão que afetaria o País muito mais do que uma “marolinha”, como definiria o então presidente. O país do futebol, já pentacampeão, organizou uma Copa debaixo de contestações internas, com protestos e acusações de superfaturamento das obras, e a desconfiança externa, notada principalmente por meio dos inúmeros puxões de orelha feitos pela entidade-mor, a Fifa, por conta dos sucessivos descumprimentos de prazos. Com 12 novos estádios, os mais caros da história dos Mundiais, a competição encerra-se neste domingo. O palco da final é de novo o Maracanã, mas em campo não estará o Brasil. Uma seleção medíocre, com planejamento, convocação, treinamentos e modelo tático malfeitos, chegou até mais longe do que devia. Mas teve tempo de manchar sua história: o 7 a 1 sofrido para a Alemanha será, de agora em diante, uma tatuagem feita, em tamanho maior, sobre a do Maracanazo. Se em 1950 o Brasil não conseguiu a glória de passar a reinar no futebol, em 2014 perdeu, do modo mais humilhante — em casa e de goleada —, o status de rei do gramado. Pelos relatos da época, hoje não há nada perto do que foi a comoção de 1950. Um dos motivos talvez seja porque o brasileiro atualmente sabe que o maior motivo para preocupação ainda está por vir e não tem nada a ver com o desempenho nas quatro linhas: a expectativa para a economia brasileira o Brasil a partir de 2015 é catastrófica. A maioria dos especialistas mais respeitados prevê que o País vai entrar em declínio, especialmente após outubro passar e as urnas, como a Copa, também forem coisa do passado. A conta a pagar será bastante amarga, mas menos por conta de estádios que certamente virarão elefantes brancos do que pela maquiagem engendrada para evitar que viesse à tona a realidade da situação econômica em uma ocasião pouco propícia aos interesses do governo. É bom ressaltar que a grande mídia cooperou com isso: os olhos inevitavelmente voltados para a Copa fizeram com que as grandes questões nacionais fossem para debaixo do tapete das salas de imprensa. Assim, o caos na saúde, o aumento da violência, o escândalo da gestão da Petrobrás, tudo isso deixou de ser pauta. Representados por 58 mil pessoas no Mineirão, 200 milhões de brasileiros aguardavam ansiosos a conquista da vaga na final da Copa. Cada gol da Alemanha foi como um tapa para fazer acordar o torcedor da ilusão de que apenas a motivação, juntamente com improviso e “alegria nas pernas” — expressão usada pelo técnico Luiz Felipe Scolari para definir o estilo de Bernard, o garoto escolhido para substituir Neymar no jogo decisivo —, seria suficiente para vencer o poderio do adversário. Foram sete golpes que fizeram uma realidade dura aparecer: não havia craques, não havia esquema tático, não havia planejamento, não havia trabalho eficiente da comissão técnica, enfim, não havia nada que sustentasse o tigre de papel chamado seleção brasileira. Resta saber o que espera a população brasileira quando a Copa eleitoral acabar. Vença quem vencer, sem mais nada a perder ou a ganhar, o governo federal deve se tornar, então, convenientemente mais transparente. Aflorarão todas as nuances então escondidas. E o 7 a 1 da tarde-noite no Mineirão poderá estar materializado de formas mais concretas e brutais do que o fim do sonho de um hexa. A realidade, quando ofuscada, um dia reaparece. Nada fica oculto a ponto de nunca tornar à luz. Mais: algo até então escondido, sufocado, quando ressurge costuma vir de forma avassaladora. Assim é o sentimento de derrota, a autoestima aniquilada pela taça que viria e não vem mais. As consequências desse humor agora ainda são indefiníveis. À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas. E que o brasileiro deixe de ser torcedor e se torne cidadão. A pátria de chuteiras já tirou a bandeira verde-amarela do capô do carro e da sacada do apartamento. Nunca, de fato, em um pós-Copa, o patriotismo nacional avançou além do âmbito esportivo. A esperança é de que o espírito das manifestações do ano passado, que ficou dormente durante as semanas do Mundial, esteja ainda pronto a aflorar para participar de fato da discussão eleitoral e registrar sua marca no destino do País. Seria, isso, uma boa nova para enfrentar a realidade difícil que virá.

É preciso entender Goiás

O trabalho do marketing é essencial para dar visibilidade estética e assim tornar o produto, no caso, o político, mais palatável. No entanto, não consegue tirar, modificar e colocar uma nova personalidade política

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O deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, “entregou-se” ao candidato do PMDB a governador de Goiás, Iris Rezende. Mas pode perder suas bases eleitorais. Mas o que sai chamuscada de fato é a ideia de que se trata de um político coerente