Editorial

Venda de Cachoeira e crise da empresa à parte, é hora de os candidatos ao governo e suas chapas optarem por deixar as futricas do passado e discutirem profundamente a questão da energia elétrica no Estado

Material apócrifo contra Marconi foi distribuído fartamente na inauguração do comitê de Iris Rezende. Se a coligação comandada pelo PMDB entrar por esse viés, corre sério risco de fazer um jogo desleal, inconsequente e suicida
À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a
bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas
[caption id="attachment_9692" align="alignleft" width="616"] Dilma Rousseff, agora retomando o lugar de Felipão no comando das ações: cada um com seu tigre de papel | Foto: Fotomontagem[/caption]
Em 1950, o Brasil, até então nada mais do que uma república das bananas de tamanho continental aos olhos de Europa e Estados Unidos, curtia seu primeiro grande momento de autoafirmação geopolítica. O país vivia a euforia de sediar a Copa do Mundo de Futebol, que já era então a indiscutível paixão esportiva do País. O presidente era Eurico Gaspar Dutra e a capital, o Rio de Janeiro — Juscelino Kubitschek era apenas deputado federal e talvez sonhasse em ser presidente um dia, mas certamente não pensava em criar Brasília.
A última Copa havia sido na França, em 1938. O Brasil tinha feito ótima campanha, comandado por Leônidas da Silva e Domingos da Guia, e tinha chegado ao 3º lugar. O evento quadrienal não pôde ser realizado em 1942 e 1946, por causa dos horrores da Segunda Guerra Mundial e suas consequências. A Copa do Mundo de 1942 não foi disputada, mas Brasil e Alemanha haviam se candidatado a sediar o evento. A competição foi cancelada antes que houvesse a escolha do país-sede e muitos dos atletas acabaram por servir o Exército de seus respectivos países, e até mesmo morrer, na guerra.
Para 1950, o Brasil usou o argumento de ter se candidatado a sede para 1942. A outra candidata, a Alemanha, estava suspensa pela Fifa até segunda ordem. O Mundial foi preparado sem muitas críticas contrárias internas e, com apenas 13 participantes e grandes jogadores brasileiros em atividade — Zizinho e Ademir Menezes eram as maiores estrelas —, a expectativa era da ratificação do sucesso total, com a apresentação do País ao mundo como cartão-postal e campeões mundiais.
Como se sabe, o Uruguai furou o script. O gol de Ghiggia foi o ponto fora da curva preparada para a exposição nacional como gigantes do mundo do futebol. O Brasil entrou no Maracanã no dia 16 de julho como campeão do mundo e o deixou como portador do complexo de vira-latas.
Sessenta e quatro anos depois, o Brasil voltou a ser sede de uma Copa do Mundo. Ao ser escolhido como local do evento, em 2007, não havia guerra que ameaçasse o evento. Um revezamento de continentes pela Fifa e a crise em vários dos possíveis concorrentes na América, entre eles a Argentina, facilitou para que o nome do Brasil fosse facilmente escolhido. Era o que bastava para coroar mundialmente o governo Lula, que então navegava na onda positiva da economia global. Ainda não tinha ocorrido a crise imobiliária nos Estados Unidos, que iniciaria um movimento de recessão que afetaria o País muito mais do que uma “marolinha”, como definiria o então presidente.
O país do futebol, já pentacampeão, organizou uma Copa debaixo de contestações internas, com protestos e acusações de superfaturamento das obras, e a desconfiança externa, notada principalmente por meio dos inúmeros puxões de orelha feitos pela entidade-mor, a Fifa, por conta dos sucessivos descumprimentos de prazos. Com 12 novos estádios, os mais caros da história dos Mundiais, a competição encerra-se neste domingo. O palco da final é de novo o Maracanã, mas em campo não estará o Brasil. Uma seleção medíocre, com planejamento, convocação, treinamentos e modelo tático malfeitos, chegou até mais longe do que devia. Mas teve tempo de manchar sua história: o 7 a 1 sofrido para a Alemanha será, de agora em diante, uma tatuagem feita, em tamanho maior, sobre a do Maracanazo. Se em 1950 o Brasil não conseguiu a glória de passar a reinar no futebol, em 2014 perdeu, do modo mais humilhante — em casa e de goleada —, o status de rei do gramado.
Pelos relatos da época, hoje não há nada perto do que foi a comoção de 1950. Um dos motivos talvez seja porque o brasileiro atualmente sabe que o maior motivo para preocupação ainda está por vir e não tem nada a ver com o desempenho nas quatro linhas: a expectativa para a economia brasileira o Brasil a partir de 2015 é catastrófica. A maioria dos especialistas mais respeitados prevê que o País vai entrar em declínio, especialmente após outubro passar e as urnas, como a Copa, também forem coisa do passado.
A conta a pagar será bastante amarga, mas menos por conta de estádios que certamente virarão elefantes brancos do que pela maquiagem engendrada para evitar que viesse à tona a realidade da situação econômica em uma ocasião pouco propícia aos interesses do governo. É bom ressaltar que a grande mídia cooperou com isso: os olhos inevitavelmente voltados para a Copa fizeram com que as grandes questões nacionais fossem para debaixo do tapete das salas de imprensa. Assim, o caos na saúde, o aumento da violência, o escândalo da gestão da Petrobrás, tudo isso deixou de ser pauta.
Representados por 58 mil pessoas no Mineirão, 200 milhões de brasileiros aguardavam ansiosos a conquista da vaga na final da Copa. Cada gol da Alemanha foi como um tapa para fazer acordar o torcedor da ilusão de que apenas a motivação, juntamente com improviso e “alegria nas pernas” — expressão usada pelo técnico Luiz Felipe Scolari para definir o estilo de Bernard, o garoto escolhido para substituir Neymar no jogo decisivo —, seria suficiente para vencer o poderio do adversário. Foram sete golpes que fizeram uma realidade dura aparecer: não havia craques, não havia esquema tático, não havia planejamento, não havia trabalho eficiente da comissão técnica, enfim, não havia nada que sustentasse o tigre de papel chamado seleção brasileira.
Resta saber o que espera a população brasileira quando a Copa eleitoral acabar. Vença quem vencer, sem mais nada a perder ou a ganhar, o governo federal deve se tornar, então, convenientemente mais transparente. Aflorarão todas as nuances então escondidas. E o 7 a 1 da tarde-noite no Mineirão poderá estar materializado de formas mais concretas e brutais do que o fim do sonho de um hexa.
A realidade, quando ofuscada, um dia reaparece. Nada fica oculto a ponto de nunca tornar à luz. Mais: algo até então escondido, sufocado, quando ressurge costuma vir de forma avassaladora. Assim é o sentimento de derrota, a autoestima aniquilada pela taça que viria e não vem mais. As consequências desse humor agora ainda são indefiníveis.
À ascensão da bola deu-se concomitantemente o apagão social da crítica. Agora, a bola vai embora. Com o fim da Copa, espera-se que a luz volte à cabeça das pessoas. E que o brasileiro deixe de ser torcedor e se torne cidadão. A pátria de chuteiras já tirou a bandeira verde-amarela do capô do carro e da sacada do apartamento. Nunca, de fato, em um pós-Copa, o patriotismo nacional avançou além do âmbito esportivo. A esperança é de que o espírito das manifestações do ano passado, que ficou dormente durante as semanas do Mundial, esteja ainda pronto a aflorar para participar de fato da discussão eleitoral e registrar sua marca no destino do País. Seria, isso, uma boa nova para enfrentar a realidade difícil que virá.

O trabalho do marketing é essencial para dar visibilidade estética e assim tornar o produto, no caso, o político, mais palatável. No entanto, não consegue tirar, modificar e colocar uma nova personalidade política

O ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, de dentro do presídio da Papuda, em Brasília, força a presidente Dilma Rousseff a tirar César Borges do Ministério dos Transportes

O deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, “entregou-se” ao candidato do PMDB a governador de Goiás, Iris Rezende. Mas pode perder suas bases eleitorais. Mas o que sai chamuscada de fato é a ideia de que se trata de um político coerente

Qual é o problema da presidente Dilma Rousseff? O eleitorado não a percebe como gestora. Em Goiás, pelo contrário, os quatro principais candidatos são assimilados como gestores
O povo adora quando o rei está nu. Nos estádios, onde os indivíduos se dissolvem e se tornam massa, com a consequente diluição da responsabilidade, é comum os poderosos, como um presidente da República ou o próprio árbitro, serem criticados com extrema aspereza e, não faro, deselegância. No caso da presidente Dilma Rousseff, no jogo da Seleção Brasileira contra a Seleção da Croácia, por mais que vaias sejam sinônimo de vitalidade da democracia e de que o Estado não controla tudo, é evidente que os xingamentos foram de uma grosseria imperdoável. Nas redes sociais, a petista vem sendo agredida da maneira indelicada, até brutal. Às vezes, é chamada de “anta”. Trata-se de uma falta de civilidade que assusta. Porém, quando o agredido é Aécio Neves, do PSDB, às vezes apresentado como cheirador de cocaína — na revista “Piauí”, num longo perfil escrito pela repórter Malu Delgado, o tucano nega e admite apenas que, na juventude, fumou maconha —, vários petistas acham graça e, até, aplaudem. As vozes civilizadas do petismo e do tucanato deveriam se insurgir contra as grosserias gerais.

A presidente do Brasil é competente e íntegra. Mas, ao contrário do governador de Goiás, não consegue arrancar do papel as principais obras que planeja. Falta-lhe autoridade? Não tem pulso? Falta-lhe firmeza? O mais provável é que esteja sucumbindo ante a força tentacular da burocracia
[caption id="attachment_6287" align="alignleft" width="300"] Dilma Rousseff: a presidente da República é uma política moderna, competente e de rara integridade, mas seus projetos raramente saem do papel. A única coisa que o Programa de Aceleração do Crescimento “acelera” é uma ampla paralisia das ações | Foto: Ueslei Marcelino/Reuters[/caption]
A presidente Dilma Rousseff (PT), além de não ser incompetente, é de rara integridade e, no poder, tem sido mais moderada do que contrapõe o discurso ortodoxo de certos liberais. Mas há dois problemas com o seu governo. Primeiro, parece não ter entendido que é preciso lidar com os políticos reais (não há outros) que apoiam o governo, sem subestimá-los e sem menosprezá-los. Em termos estritamente pragmáticos não dá para exigir apoio e tratar com distanciamento. Nesse ponto, o presidente Lula da Silva é mais “político” do que sua sucessora. O segundo aspecto é mais problemático. Empresários, políticos e cidadãos comuns concordam num ponto: as intenções da presidente são as melhores possíveis, mas seu governo peca na execução de projetos cruciais. Dilma Rousseff parece ter sido engolida pela burocracia. Fica-se com a impressão de que é mais fácil fazer obras em Cuba, com dinheiro brasileiro, do que na terra de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
O discurso do governo de Dilma Rousseff é firme, até contundente, mas a ação é flácida. Quando se ouve o discurso da presidente acredita-se que faz o melhor governo, não do Brasil, e sim do mundo. No entanto, quando se sai às ruas, percebe-se que o país, embora não esteja inteiramente parado, vive um processo de relativa estagnação. É possível que, se não existissem os programas sociais e se os sindicatos não estivessem ideológica e politicamente manietados — cevados por vultosos recursos públicos —, o país estaria passando por certa conflagração social.
Na área de segurança pública, a crise parece ser dos Estados, mas, na verdade, o que falta mesmo é uma política nacional que coordene as ações dos governadores. O governo federal, que centraliza os recursos do país em Brasília, tem dinheiro suficiente, até sobrando, para investir, mas os Estados e municípios, vítimas de um pacto federativo que só existe no papel, estão quebrados e não têm como resolver o problema. Fala-se, aqui, sobretudo dos Estados menos poderosos economicamente. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu, há algum tempo, que, mesmo tendo verbas, o governo federal não conseguiu construir os presídios necessários. Sobrou burocracia e faltou capacidade de fazer. O resultado é que, com mais criminosos nas ruas, a violência é crescente e não decorre necessariamente, como não raro pensa a esquerda, de problemas sociais. A violência explode nos Estados, mas deve ser vista como algo organizado e conectado nacionalmente. Deste modo, urge uma política de segurança pública nacional — dura no trato da criminalidade. Um Ministério da Segurança Pública talvez seja muito mais necessário e útil do que muitos dos ministérios criados pelo PT para agasalhar aliados políticos.
No campo econômico, numa tentativa de impulsionar o capitalismo e contribuir para o crescimento da economia, o governo Dilma adotou, por intermédio do BNDES, a chamada “política dos campeões”. A intenção é positiva. O governo do PT, de matiz socialdemocrata — nada a ver com comunismo, ressalte-se —, está incentivando e financiando a chamada “indústria nacional”, projetando a criação de players competitivos, como o grupo JBS-Friboi, nos mercados interno e externos. O BNDES tem mais de 30% das ações do JBS — o que, do ponto de vista do mercado financeiro, é entendido que a empresa é forte, à prova de tempestades locais e internacionais. Entretanto, o mercado privado — sim, os próprios liberais — tem criticado a “política dos campeões”, sugerindo que, no lugar de um banco público, os bancos privados poderiam financiar os empreendimentos. Há uma certa razão nisto. Porque o dinheiro público poderia ser mais bem utilizado no financiamento de obras de infraestrutura, como portos, ferrovias e recuperação e ampliação de rodovias. O investimento em infraestrutura contribuiria para um crescimento mais geral da economia — e não apenas de empresas específicas, como é o caso da JBS e, antes, as de Eike Batista, o player que soçobrou. No caso de uma “empresa campeã” quebrar, como é sempre possível, o governo, via BNDES, terá de assumir os custos. Os contribuintes brasileiros terão de “financiar” a resolução da crise da empresa, ou, pior, “pagar” por uma empresa que, dependendo do quadro crítico, sairá do mercado e deixará apenas o rombo. No caso das empresas campeãs, o lucro é dos indivíduos ou de grupos de investidores, mas as perdas são da sociedade.
No Brasil fala-se tanto na criação de uma política agrícola — mas nada se cria de estrutural e duradouro — que até os produtores rurais já não se importam muito com sua inexistência. Eles continuam plantando e comercializando sua produção, enfrentando as intempéries da natureza e do mercado, e pouco ligando para o que faz o governo. Se dependessem do governo federal para alavancar seus negócios, os produtores estariam “perdidos” ou, como dizem, “rodados”. Além da falta de apoio direto, como financiamentos e seguros semelhantes aos que são feitos nos Estados Unidos e na França, para citar dois países que valorizam a agricultura e a pecuária — o agronegócio —, há o problema grave das rodovias federais, quase sempre malcuidadas, até abandonadas. Se as rodovias fossem estadualizadas, com o necessário repasse de recursos federais, é bem possível que estivessem em melhor estado. Zelar pelo patrimônio público federal num país gigantesco, continental, é quase impossível sem o apoio e a interferência dos governos estaduais.
Mesmo com escasso apoio do governo federal, o agronegócio é, há muito tempo, a âncora verde da economia. Pode se reduzir a compra de ferro, por exemplo, mas não há como diminuir a aquisição de soja e carne. A China está comprando menos ferro brasileiro, mas não deixa de comprar alimentos para 1,3 bilhão de pessoas. Com o processo de desindustrialização — algo grave, ao qual o governo petista não dá a devida importância —, o agronegócio vem “segurando” a balança comercial e, com isto, garantindo certa estabilidade à economia.
No campo ético, não há o que dizer da presidente Dilma Rousseff. Ou melhor, trata-se de uma gestora e política honesta. Até honestíssima. Mas há problemas sérios em seu governo. A Petrobrás, maior empresa do país, passa pela maior crise de sua história. A aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi um mau negócio. Mais do que isto, foi estudadamente um mau negócio, porque indivíduos que estavam (alguns estão) na empresa possivelmente ganharam ao adquiri-la. Ao revelar que não sabia dos termos integrais do acordo de aquisição, a presidente sugere que o governo petista sonega informações precisas ao gestor. À falta de sintonia soma-se a ausência e quebra de autoridade. A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é outro elefante branco do governo petista. A Venezuela, divulgada como parceira, caiu fora e deixou o abacaxi para Dilma Rousseff.
Como pode uma presidente que não é incompetente e é íntegra fracassar? Por uma questão de justiça, não se pode falar em fracasso integral — o governo federal acaba de inaugurar uma obra importante para o país, a Ferrovia Norte-Sul —, mas o fato é que a sociedade sabe que o governo de Dilma Rousseff não corresponde às suas demandas. As pesquisas indicam que o brasileiro não está satisfeito com a gestora petista. Na semana passada, uma pesquisa do Pew Research, um dos institutos mais qualificados dos Estados Unidos, mostrou que 72% dos brasileiros não estão satisfeitos com o país. Só 26% afirmaram que estão satisfeitos — um índice baixíssimo. A pesquisa foi feita entre 10 de abril e 30 de abril deste ano, em todo o país.
Não se pode, porém, acusar a presidente Dilma Rousseff de perseguição política. Ela tem sido republicana no trato com os governadores de oposição, como o goiano Marconi Perillo, do PSDB. No lugar de republicana talvez seja mais exato usar o termo pragmática. A presidente, até por ser economista, sabe que a economia cresce de maneira integrada, mas, num país continental, às vezes com uma região “puxando” a outra. As áreas nas quais o agronegócio é muito forte, como Goiás, estão crescendo mais do que as regiões onde está ocorrendo desindustrialização. Assim, boicotar Goiás, por mesquinharia política, seria um contrassenso em termos de crescimento econômico. No caso, além de se provar moderna, a presidente deixa evidente que sabe como a economia é conectada. Ela sabe o que é “âncora verde”.
Luzes no Centro-Oeste
Nem tudo são flores em Goiás. Não é em nenhum lugar. Estado com área física de país — maior do que Israel, Portugal e Cuba juntos —, Goiás é um Estado novo e sua infraestrutura ainda está sendo construída. Num mercado jovem, os empresários aos poucos estão constituindo negócios sólidos, resistentes às tempestades circunstanciais. Ao mesmo tempo, empresas de outros Estados e, até, países estão se instalando na região, dinamizando a economia e alocando mais dinheiro e capital nos negócios. O resultado é que Goiás mudou e não pode ser interpretado à luz de picuinhas políticas. [caption id="attachment_6293" align="alignleft" width="620"]


O ex-atacante da Seleção Brasileira de Futebol Ronaldo Nazário criticou o governo da presidente Dilma Rousseff e provocou uma comoção nas redes sociais. Paulo Coelho entrou no debate e foi atacado. Joaquim Barbosa aposenta-se do Supremo devido a ameaças. O discurso do ódio, que está na moda, deve ser confrontado com a premência de se defender a tolerância

A sociedade fica com a impressão de que o PMDB está sem rumo, à deriva e implodindo, e que seus principais líderes vivem num mundo paralelo, distante do mundo real dos eleitores. O tucano Marconi Perillo pode ser o principal beneficiário deste apreço pela irrealidade
Iris Rezende está municiando o tucanato com críticas cortantes a Júnior Friboi. Este não pode contra-atacar, pois é refém da popularidade do líder histórico. Como convencer
Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide a compor se o PMDB não tem um candidato?
[caption id="attachment_2101" align="alignleft" width="620"] Iris Rezende e Júnior do Friboi: os dois peemedebistas não estão guerreando apenas nos bastidores. O primeiro critica a “dinheirama” do segundo. E o grupo deste aponta que o líder histórico está superado e é freguês de Marconi Perillo[/caption]
“Nunca tive um amigo que não pudesse tornar-se um inimigo ou um inimigo que não pudesse tornar-se amigo.” Getúlio VargasA pressa do jornalismo diário não permite que se apreenda de maneira precisa ou ampla o que os entrevistados dizem. Na quinta-feira, 15, “O Popular” entrevistou o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende, que pretende ser candidato a governador pelo PMDB. Mas o editor e o repórter, se disseram que o peemedebista quer postular a eleição em 5 de outubro deste ano — óbvio tão ululante que até o “espírito” do dramaturgo Nelson Rodrigues sabe do que se trata —, não perceberam a fala mais decisiva do decano da política goiana: “Acho que, se um dia eu fosse disputar uma eleição marcando passo com alguém com dinheiro, estaria negando tudo que já preguei ao longo da minha vida”. O que Iris disse nas linhas e nas entrelinhas? Não há dúvida de que, embora seja um mestre na manipulação das palavras, para que seja mantida a ambiguidade típica do político, Iris, no caso, é quase explícito. Ele está dizendo, mais do que sugerindo, que, se apoiar o dolarizado Júnior Friboi — o político que supostamente tem entre 250 milhões e 500 milhões para torrar na campanha — para governador, na eleição de 5 de outubro deste ano, estará “negando tudo que” pregou “ao longo da” sua “vida”. É um recado com endereço duplo. Primeiro, para o ambiente interno, que estaria grudado firmemente no “bolso” do empresário. O líder histórico recebeu informações, por certo, de que há pré-candidatos a deputado federal e a deputado estadual que dizem, às claras, que, se Friboi não for candidato a governador, também vão retirar suas postulações. Alega-se que não se trata de nada contra Iris. O que eles querem é a estrutura que Friboi promete proporcionar. Segundo, para o público externo. Iris está dizendo à sociedade que seu partido, o PMDB, não quer deixá-lo disputar, mas que ele quer, sim, ser candidato a governador de Goiás. É um recado direto, sem firulas, para as pesquisas espontâneas de intenção de voto. Os luas-bois recomendaram que Friboi e aliados não se manifestem, pelo menos não de maneira agressiva e desrespeitosa, como se fosse um contra-ataque. Friboi não pode atacar Iris, porque, ao fazê-lo, estaria cometendo suicídio político. É muito melhor ter um Iris desmotivado do que ter um Iris como adversário, talvez até inimigo, na campanha. “Iris nunca esquece”, frisa um deputado. Mas pelo menos um deputado e um ex-deputado disseram ao Jornal Opção que estão coçando a língua para responder o que chama de “diatribes” de um político amadurecido que estaria se “comportando como prima donna” e “é o freguês eleitoral preferencial de Marconi”. Friboi e o deputado federal Pedro Chaves (PMDB) sempre pedem calma. Eles acreditam que Iris vai espernear, porém, como não tem mais o controle do partido — que, de fato, foi subjugado (e supostamente é subvencionado) por Friboi —, acabará por ceder, aceitando disputar o Senado. A aliados, aqueles que frequentam seu escritório político, Iris tem dito que não quer e não vai disputar o Senado. Ele não teria mais paciência para ficar o dia inteiro no Congresso Nacional — às vezes debatendo o “sexo dos anjos”. O peemedebista é objetivo e pragmático. É político vocacionado para o Executivo. [caption id="attachment_4536" align="alignleft" width="300"]


Eu te veto e tu me veta
O que se depreende é que no PMDB há uma luta surda pelo poder, mas não é uma batalha de ideias e não tem como objetivo a melhoria do Estado. É o poder pelo poder. Não se está falando mal, e não haveria por quê, de Iris e Friboi. O que se está dizendo é que a sociedade está observando cuidadosamente o que estão falando um do outro. Aqui e ali, nos bastidores, escapa uma fala de um friboizista que considera Iris como “superado”, “velho”, “alquebrado” e “advogado de apenas dois projetos: o governo para si e um mandato de deputado federal para sua mulher, Iris Araújo”. “No PMDB é assim: é Iris [Rezende] e Iris [Araújo]. O resto é... o resto”, afirma um deputado que não se apresenta como anti-irista. Se Iris veta Friboi para o governo e se Friboi veta Iris para o governo, o que pensar dos dois políticos? O óbvio: os dois peemedebistas não se aprovam. Um, Iris, avalia que o outro, Friboi, não está qualificado para gerir o poder público e que dinheiro não pode tudo. O outro, Friboi, embora não explicite isto em palavras públicas, avalia Iris como “superado”, como “um homem do passado”, uma espécie, como afirma um prefeito, de “bananeira que já deu cacho”. Paradoxalmente, embora desconfiem das qualificações um do outro, Iris aceita Friboi como vice e Friboi aceita (e precisa de) Iris como candidato a senador. O recado subliminar, diria um publicitário ou um psicólogo é: para o governo, nenhum serve. Agora, ante as críticas, e se o eleitor acabar pensando o mesmo? A quatro meses das eleições — apenas 120 dias, com o agravante da Copa do Mundo de Futebol, que vai tornar a disputa ainda mais curta —, embora não esteja morto (o partido é respeitado e forte no Estado), o PMDB está cristalizando a imagem, verdadeira, de que não tem candidato e, sobretudo, de que não consegue lançar e bancar um candidato a governador. Na semana passada, numa nota, um repórter do Jornal Opção criou a seguinte imagem: “Pegue um pires de louça quebrado. Mande um especialista [um restaurador] colá-lo. O pires poderá ser usado, mas as marcas do quebrado — as rachaduras — permanecerão. Indeléveis ou não”. O PMDB não é nada diferente do pires. “Qualquer que seja seu candidato a governador — Iris, o nome da tradição, ou Friboi, o nome da renovação interna [vale ressalvar que o novo nem sempre é renovador] —, o partido irá dividido para o pleito de 5 de outubro deste ano. Unido, o PMDB não vence o grupo de Marconi há quatro eleições, desde 1998 — há praticamente 16 anos. Dividido, o PMDB terá imensa dificuldade de disputar de igual para igual com uma político habilidoso, metódico e que pesquisa exaustivamente os humores da sociedade. O presidente dos Estados Unidos que aboliu a escravatura e uniu à força o Sul ao Norte, Abraham Lincoln, disse, num discurso célebre: “Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir” (leia em http://bit.ly/1mAM0II). Fica-se com a impressão que, numa espécie de masoquismo involuntário ou inconsciente, o PMDB aprendeu a gostar de apanhar do PSDB do governador Marconi. Digamos que Friboi seja o candidato a governador do PMDB. Na sua campanha, ao ser criticado pelo empresário, o tucano-chefe não precisará fazer muito esforço para se defender. Basta colher os depoimentos que Iris vem dando à imprensa. Algumas críticas podem ser veladas, mas outras nem tanto. O líder histórico está dizendo, às vezes apenas sugerindo, que Friboi, se for o candidato do PMDB, não o será por mérito, e sim pelo poder de convencimento do dinheiro. “Follow the money” (“siga o dinheiro”) — Iris poderá dizer, se lembrar do caso Watergate, que derrubou o presidente americano Richard Nixon. O Ministério Público, a partir de certo momento, certamente seguirá o “rastro do dinheiro”. Um grupo do PMDB, irista, sugere que a chapa ideal para enfrentar e tentar derrotar Marconi inclui Iris para o governo, Friboi (ou Vanderlan) para vice e Gomide para senador (o PT está investindo na “política de senadores”). Jorcelino Braga tem sido convocado ao escritório de Iris Rezende e, como emissário, tem levado a proposta para Vanderlan: o peemedebista quer compor. O pré-candidato do PT, Antônio Gomide, também tem recebido recados, por meio de aliados do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), de que Iris quer compor. Mas como compor com um partido que, a 120 dias das eleições, nem mesmo consegue definir o seu candidato e, numa briga interna feroz, “suja” seus dois principais nomes? Vanderlan e Gomide ouvem os convites para uma aliança, mas, quando abrem os jornais, descobrem a realidade: o PMDB, se briga bem internamente, não tem candidato a governador. Tem-se a impressão de que, na falta de dinheiro, Iris está tentando usar Vanderlan e Gomide como trunfos para forçar Friboi a desistir de ser candidato, mas desconsiderando que os dois políticos têm projetos diferentes. Por que deveriam abrir espaço para Iris? Gomide, mesmo se perder, está jogando para o futuro, para o pós-Marconi — em 2018. Vanderlan, como candidato a governador, possibilita um palanque eleitoral para o candidato a presidente do PSB, Eduardo Campos, em Goiás. Sem contar que, ante a disputa de duas forças tradicionais, PMDB e PSDB, pode ser que, conforme os humores das ruas, um candidato “novo”, mesmo subestimado, inclusive pela imprensa, possa surpreender e ser eleito. Marconi “olha” para a política de Goiás e comemora: o céu de brigadeiro sorri para o jovem líder. As oposições, caóticas e com interesses divergentes, podem contribuir para que o tucano-chefe seja eleito pela quarta vez. Mas é preciso dizer que Marconi, se reeleito, não o será apenas devido aos equívocos dos adversários. Ele, como gestor e político, tem méritos. Enquanto na maioria dos Estados, como no Rio Grande do Sul do petista Tarso Genro, impera o caos, em Goiás, mesmo com dificuldades, o governo está com suas contas relativamente organizadas. Não só. O governo inaugurou e vai inaugurar obras relevantes. Se a oposição continuar insistindo na tese do caos absoluto, e como o caos não é visível para as pessoas, a maioria do eleitorado vai apostar mais no que está vendo, de concreto, no que em discursos.Cesar Romero Jacob sugere que a disputa se dará entre Dilma Rousseff e Aécio Neves. Carlos Pereira diz que fragmentação não prejudica o sistema político brasileiro e sugere que a presidente dê mais poder aos seus aliados, antes que seja tarde
O empresário Júnior Friboi atropelou e humilhou Iris Rezende, líder histórico do PMDB, mas exige o seu apoio. Na situação, Marconi preocupa-se em preservar a base e em ampliar sua aliança
Senador tucano diz que “a não especificação de conteúdos sujeitos a indisponibilização pode abrir brecha contra a liberdade de imprensa sempre que uma notícia for reputada como desfavorável”