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O PMDB de Goiás está se tornando o PMD do D, ou Partido do Movimento Democrático das Derrotas. O partido perdeu cinco eleições consecutivas para o governo do Estado. Se apostar em Iris Rezende para prefeito de Goiânia, e não em um nome novo, como Daniel Vilela, outra derrota pode bater à sua porta

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Ernesto Geisel, Golbery do Couto e Silva, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães: os dois primeiros, generais, sabiam que os dois seguintes, civis, eram democratas e, uma vez no poder, fariam governos moderados, não comunistas, sem maiores enfrentamentos

O PMDB nacional é visto pela sociedade brasileira, nos dias atuais, como um partido fisiológico. Há quem acredite que seu nome deveria ser mudado para PMD do G — ou Partido do Movimento Democrático do Governo. Desde o governo do ex-presidente José Sarney, na década de 1980, o partido não sai do poder. Os tucanos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixaram o poder, em 2003, mas a legenda comandada por Michel Temer, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney continuou ao lado do novo poderoso, o PT do ex-presidente Lula da Silva, de José Dirceu e da presidente Dilma Rousseff. Porém analisar um partido como o PMDB, diversificado e complexo, apenas sob um aspecto, o dos grandes negócios, é não entendê-lo completamente. Uma de suas facetas menos divulgadas, até porque há uma tendência a caracterizá-lo tão-somente como “gestor de grandes jogadas financeiras”, é sua capacidade de moderar os governos do PT. Os conselhos populares, que seriam na prática uma espécie de Congresso Nacional paralelo, foram rejeitados em larga medida pela ação de peemedebistas moderados. O projeto da regulação da mídia dificilmente será aprovado pelos congressistas e os peemedebistas certamente estarão na linha de frente para derrubá-lo — ao lado do PSDB, do DEM e de outros partidos.

Por que, se é tido como fisiológico pela maioria dos brasileiros, o PMDB rejeita medidas que, aparentemente inocentes, podem formatar um governo autoritário? Porque, apesar de tudo, trata-se de um partido democrático, de longa história positiva, e que rejeita quaisquer ditaduras e democraduras. Depois do golpe de 1964, a ditadura civil-militar criou dois partidos, a Arena e o MDB, os supostos “Partido do Sim Senhor” e “Partido do Sim”, com o objetivo de reduzir a força das oposições, sobretudo da esquerda. Daí o surgimento de grupos de esquerda radicais, que, não aceitando serem representados pelo MDB (e nem pelo proscrito PCB, controlado pela esquerda moderada), partiram para a luta armada.

Há dezenas de livros que investigam e descrevem a história das guerrilhas contra a ditadura civil-militar. Como se sabe, a esquerda armada queria derrubar o regime dos militares e substitui-lo pela ditadura do proletariado. Não era uma alternativa democrática. Seria, no caso de vitória dos guerrilheiros da ALN, VPR e VAR-Palmares, a substituição de um sistema discricionário por outro. Há livros sobre o MDB, o antecessor do PMDB, mas em muito menor escala do que sobre as guerrilhas.

O MDB fez uma oposição moderada à ditadura, mas fez, e, ao fazê-la, contribuiu para, de certo modo, moderá-la e, a longo prazo, enfraquecê-la. Políticos como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, para citar os dois mais emblemáticos do Manda Brasa, e Petrônio Portella, da Arena, foram fundamentais para que a ditadura patropi se tornasse menos cruenta do que a da Argentina e a do Chile. O processo de Abertura deve muito aos civis moderados tanto do MDB quanto da Arena — por paradoxal que isto possa parecer. No campo institucional-legal, pressionando aqui e ali, os democratas emedebistas e arenistas — nem todos arenistas eram direitistas empedernidos; muitos eram, na verdade, liberais — contribuíram parar abrir o regime. Ao assumir a Presidência da República, em 1974, o general Ernesto Geisel, com o apoio de seu fiel escudeiro, Golbery do Couto e Silva, percebeu que era preciso “matar” a ditadura, mas aos poucos, porque sabia que o maior inimigo da Abertura eram seus aliados, os militares. Era preciso persuadi-los de que a ditadura estava no fim e, a partir daí, os que resistissem à Distensão e à Abertura precisariam ser contidos — caso do general Sylvio Frota.

Este, ministro do Exército, foi exonerado.

Ao examinar os principais integrantes da elite política do MDB, Geisel e Golbery entenderam que não eram esquerdistas e que, se chegassem ao poder, não seriam radicais. A dupla de generais, obstinada em liquidar a ditadura, estudou detidamente a sucessão do presidente Castello Branco, que não teve força para indicar o próximo presidente e teve de engolir o general Costa e Silva, imposto pela linha dura. O sacerdote, Geisel, e o feiticeiro, Golbery, sacaram que os democratas, arenistas e emedebistas, eram “confiáveis”, mas grande parte dos militares não era. Por isso, possivelmente, Geisel não completou o processo de Abertura em seu governo, deixando a liquidação global para o presidente João Figueiredo. A ideia era enfraquecer os duros aos poucos, deixando-os em descompasso com os avanços democráticos da sociedade. Os radicais da direita militar se tornaram, aos poucos, uma ideia fora do lugar.

A linha dura rejeitava a Abertura e não “confiava” nos civis. Daí a suposta necessidade, do ponto de vista de Geisel e Golbery, de mais um governo militar, o de João Figueiredo. A tese do sacerdote e do feiticeiro é que, aos poucos, os radicais militares, esvaziados por dois governos, não teriam cacife para reagir e, assim, seria completada a transição para a democracia, a devolução do poder aos civis. No processo, embora tenha sido crítico até contundente das medidas autoritárias do governo — Geisel também usou a força para conter a expansão da oposição —, o MDB teve papel decisivo e sua história ainda precisa ser contada de maneira mais ampla. É possível, até, que, sem políticos moderados como Ulysses Guimarães e, sobretudo, Tancredo Neves na oposição ao regime instalado em 1964, os militares, mesmo os favoráveis à redemocratização, teriam tentado prolongar a ditadura. Há quem proponha a tese de que, em 1985, quando os militares retiraram-se do poder, o regime estava cai-não cai.

Não é bem assim.

É provável que, apesar das pressões da sociedade civil e da sociedade política, devidamente mais organizadas e fortalecidas, os militares tinham fôlego para mais um governo, sucedâneo de João Figueiredo. Este fora “colocado” no poder, por Geisel e Golbery, para “exterminar” a ditadura. Porém, enquanto trabalhava para “liquidar” o regime, João Figueiredo era acossado pela linha dura, aliada de seu chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), Octávio Medeiros, que pretendia sucedê-lo. É provável que o caso do Riocentro, quando a linha dura preparou um atentado terrorista para atingir políticos da esquerda e, até, moderados, além de artistas e populares, foi a gota d’água. Ali, com a ação intempestiva mas coordenada da linha dura, João Figueiredo percebeu que não havia mais como ser leniente. O Riocentro foi o tiro no pé dado pelo radicalismo das Forças Armadas — o atentado atingiu em cheio o comando da linha dura. O presidente não puniu os militares, como Freddie Perdigão, abertamente, mas obrigou-os a recolherem-se às casernas.

Alguns militares desconfiavam dos radicais do MDB — o partido era uma frente política, com a participação de comunistas, socialistas, socialdemocratas e direitistas —, mas sabiam que o controle pertencia aos moderados, como Ulysses Guimarães (sim, alguns o viam como “radical”, dada a firmeza de seus discursos, aos seus posicionamentos, mas era tão-somente um político de centro) e Tancredo Neves, o que mais respeitavam. Por isso a transição, com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, não foi contestada pelos militares de proa.

A história do MDB é, portanto, tremendamente positiva. Isto permite concluir que a do PMDB não é? Não é bem assim. Apesar do fisiologismo realçado no início deste Editorial, e de sua feudalização pelas elites regionais, o PMDB é o partido que, para o bem e para o mal, torna o governo do PT mais equilibrado. O PT hegemônico é socialdemocrata, aposta, na prática, que não há alternativa ao capitalismo, mas tem recaídas socialistas. Fica-se com a impressão de que o petismo sofre de um leve transtorno, nem se deve dizer, para não exagerar e perder a compostura, que é bipolar. Em termos de economia, não há sinais de que se quer sair dos marcos do capitalismo — tanto que se está buscando um ministro da Fazenda ortodoxo, como o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco — que não teria aceitado o convite feito pelo ex-presidente Lula da Silva — e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Os objetivos, lógico, são evitar fuga de capitais e manter os investimentos dos grandes grupos estrangeiros no País. O mercado financeiro internacional está de olho unicamente na indicação do ministro da Fazenda. Os demais são, para os financistas globalizados, perfumaria.

Aqui e ali, fica-se com a impressão, cada vez mais forte, de que o petismo está de olho no modelo chinês, com um modelo político com Estado forte, mas permitindo liberalidades que não se tem no Oriente. Há tentativas flagrantes de reduzir os poderes do Legislativo, com os conselhos populares, e de controlar as ações da imprensa livre, com o projeto de regulação da mídia. O que o PT quer é um Estado mais controlador e intervencionista, mas precisa do PMDB para criar uma espécie de democradura à chinesa. Entretanto, apesar do fisiologismo decantado, a maioria dos peemedebistas rejeita tais controle. Por quê? Por vários motivos.

Citemos dois. Primeiro, porque o PMDB é democrático, moderado, socialdemocrata e, portanto, avesso às jogadas autoritárias (mas não totalitárias) do Lulopetismo. Segundo, porque, se os controles forem aprovados, o governo petista vai precisar de menos apoio político-partidário e poderá sair, aos poucos, de certo “controle”, que se pode chamar de “positivo”, dos partidos políticos, como PMDB e, vá lá, PP, PR e PTB. A política pode até ser ruim, mas, sem política, é muito pior.

Em síntese, o que se quis dizer acima? Que o PMDB, moralismo à parte, é menos pior do que comumente se imagina.

Iris Rezende, Samuel Belchior e Sandro Mabel. O primeiro consagrou-se como um grande perdedor e como nada agregador politicamente. O segundo é seu marionete no comando  do PMDB. O terceiro quer ser candidato a prefeito com o apoio do veterano cacique
Iris Rezende, Samuel Belchior e Sandro Mabel. O primeiro consagrou-se como um grande perdedor e como nada agregador politicamente. O segundo é seu marionete no comando
do PMDB. O terceiro quer ser candidato a prefeito com o apoio do veterano cacique

Desconexão com a sociedade real

O PMDB de Goiás é pior do que o PMDB de outros Estados? Não é. Há escândalos — como Astrográfica, Caixego, a nebulosa venda da usina de Cachoeira Dourada —, mas, no geral, a história do partido é qualitativa. Iris Rezende, Henrique Santillo, Mauro Borges, Lázaro Barbosa, Lúcia Vânia, Nion Albernaz, Irapuan Costa Junior, Frederico Jayme, Juarez Bernardes, Juarez Magalhães, Luiz Soyer, Eurico Barbosa, Aldo Arantes (antes da legalização do PC do B, pertenceu ao partido), Maguito Vilela, Marconi Perillo, entre outros, construíram um partido sólido. Tanto que elegeu os governadores do Estado entre 1982 e 1994 — Iris Rezende (duas vezes), Henrique Santillo e Maguito Vilela. Dezesseis anos de poder.

No entanto, se fez governos eficientes e modernizadores — Iris Rezende criou o Fomentar, incentivo fiscal fundamental para o fortalecimento da economia, e Maguito Vilela atraiu a Mitsubishi e a Perdigão para o Estado —, apesar de alguns equívocos, como a transferência da usina de Corumbá para o controle de outro grupo (fora do Estado) e a venda da usina de Cachoeira Dourada, “matando” as galinhas de ovos de ouro da Celg, os dirigentes do PMDB não souberam renová-lo e agregar as forças internas. Reluta-se em utilizar a palavra “dirigentes”. Porque, no fundo, talvez seja mais preciso usar o singular, “dirigente”.

Na tentativa de manter a hegemonia, Iris Rezende, quase aos moldes de Stálin, mas de maneira não cruenta, “expurgou” os principais líderes do partido — como Henrique Santillo, Mauro Borges, Nion Albernaz, Irapuan Costa Junior, Lúcia Vânia —, submeteu outros, como Maguito Vilela, Lázaro Barbosa e Luiz Soyer, quase ao ponto de despersonalizá-los, e impediu a renovação dos quadros, ao atrair e “expulsar” Henrique Meirelles, Vanderlan Cardoso e Júnior Friboi (o único que permanece no partido, mas escanteado e à beira da expulsão).

Entre 1998 e 2014, em cinco eleições para o governo estadual, o PMDB não ganhou uma.

Perdeu todas e, é preciso admitir, com candidatos consistentes: Iris Rezende, três vezes, e Maguito Vilela, duas vezes. Qual o motivo preciso das derrotas, se os candidatos não eram efetivamente “ruins”? O leitor por certo percebeu que, em cinco eleições, em dezesseis anos, o PMDB teve apenas dois candidatos, Iris Rezende e o irista Maguito Vilela. Noutras palavras, o peemedebismo não se renovou, mesmo sabendo que, do outro lado, havia um político jovem, um sopro de renovação na política de Goiás e oriundo do PMDB, Marconi Perillo. Este sozinho derrotou Iris Rezende três vezes e Maguito Vilela uma vez. Em 2006, o tucano-chefe carregou Alcides Rodrigues (o candidato-mochila) nas costas quando este derrotou Maguito Vilela.

Em 2014, Marconi se elegeu para o quarto mandato, com uma vitória acachapante sobre Iris Rezende — sugerindo, deste modo, que quem está no poder “envelhece” somente quando perde conexão com a sociedade, quando não leva mais em consideração o que os indivíduos pensam do governo e do gestor. O segredo da longevidade é a sintonia que se mantém com as pessoas de carne e ossos, e não apenas com as pessoas que, na falta de palavras flaubertianas, podemos chamar de “virtuais”. Estas são aquelas pessoas que gravitam em volta do poderoso do momento e, em geral, apresentam-lhe um mundo mais róseo do que é. Distantes da sociedade real, de pessoas que enfrentam filas, pegam ônibus, ganham salário mínimo, não têm plano de saúde e não podem pagar escolas particulares para seus filhos, os gestores desconectados passam a avaliar que está “tudo bem” e que nada conta — têm um ar permanente de enfado —, exceto o que pensam sobre as coisas e as pessoas. O resultado são derrotas eleitorais consecutivas. Cinco derrotas — vinte anos fora do poder — significam que, se quer continuar “vivo”, o PMDB precisa renovar-se, e com urgência.

Goiânia é o principal laboratório

O PMDB goiano parece ser o partido que recicla o velho para torná-lo mais velho. É o que se depreende das cinco últimas eleições. O partido já se tornou uma força secundária, porém, se não quiser perder espaço para as forças emergentes — como Antônio Gomide, do PT, Vanderlan Cardoso, do PSB, e Júnior Friboi, que pode trocar o PMDB por um partido menor —, deixando inclusive de ser a segunda via, terá de começar a sua renovação o mais cedo possível. Sim, a partir de 2015 e 2016.

O resultado da eleição de 2014 indica que os peemedebistas não querem mais o casal Iris Rezende-Iris Araújo no comando do PMDB. Mais do que uma resposta aos peemedebistas em geral (o partido teve dois candidatos a deputado, federal e estadual, entre os mais bem votados), os eleitores derrotaram os dois políticos, de maneira fragorosa, sinalizando que estão em profundo descompasso com suas aspirações. Já que vários peemedebistas não entenderam os ventos da mudança, os eleitores usaram tais ventos para “varrer” Iris Rezende para uma aposentadoria mais do que apropriada e, claro, esperada.

O que fazer? A função de um jornal não é apresentar caminhos para políticos. Mas, a partir do que a redação ouve com frequência de políticos e eleitores, o que se espera é uma renovação nos quadros de mando do PMDB. Hoje, o presidente do partido é Samuel Belchior, mas o jovem não faz um telefonema para um prefeito ou um deputado sem antes consultar Iris Rezende. Na prática, o presidente do PMDB — até proprietário remido — é o peemedebista-chefe. Samuel Belchior, político sério e competente, é apenas um preposto. Ele próprio não suporta mais esta condição e decidiu que, a partir de 2015, vai cuidar apenas de seus negócios.

A prorrogação de seu mandato não lhe agradou.

Por onde começa a renovação do PMDB? Pela renovação do Diretório Regional. Mas, por imposição do vice-presidente da República, Michel Temer, os mandatos dos presidentes regionais foram prorrogados até 2015. Mas há outras maneiras de se renovar.

Mal acabou a eleição de 2014, e depois de Iris Rezende ter publicado uma carta, na qual dizia que não disputaria mais eleições — os incréus internos “esclareceram” logo que estava falando de eleições para o governo do Estado e o satiristas sugeriram que não enfrentará mais o governador Marconi Perillo —, as viúvas peemedebistas saíram a campo dizendo que, dado o desgaste do prefeito Paulo Garcia (PT), se trata do único que pode derrotar o possível candidato Jayme Rincon, do PSDB, ou Vanderlan Cardoso.

Se as articulações forem verdadeiras, e não sonhos nostálgicos das eternas viúvas políticas, o PMDB estará dizendo aos eleitores de Goiânia que não aprendeu nada com as cinco derrotas consecutivas. Se quiser obter alguma conexão com a sociedade, o PMDB terá de, finalmente, bancar o “novo”. Daniel Vilela (eleito deputado federal com quase 200 mil votos; o segundo colocado do partido, Pedro Chaves, obteve 77.925), Leandro Vilela, Paulo Cezar Martins (deputado estadual mais bem votado do partido), Agenor Mariano, Marcelo Melo, Lívio Luciano, Eronildo Valadares, Humberto Machado, Bruno Peixoto, Pedro Chaves, Júnior Friboi e Ernesto Roller são nomes que podem representar a renovação do partido. Um deles pode ser o candidato a prefeito de Goiânia. Leandro Vilela planeja disputar a Prefeitura de Jataí e o prefeito desta cidade, Humberto Machado, administrador competente, talvez não queira aventurar-se noutras cidades. Eronildo Valadares disputa a reeleição em Porangatu. Marcelo Melo deve ser candidato a prefeito de Luziânia. Ernesto Roller vai disputar a Prefeitura de Formosa.

Daniel Vilela, se candidato a prefeito de Goiânia, em 2016, simbolizaria três coisas. Primeiro, aos 31 anos, é o novo. Segundo, tem certa experiência política, pois foi vereador em Goiânia, é deputado estadual e foi eleito deputado federal com 179.214 votos. Terceiro, pertence ao clã Vilela, que tem seu pai, Maguito Vilela, prefeito de Aparecida de Goiânia, como principal líder (o desafio de Maguito é, no momento, assumir o comando do PMDB; ele tem feito críticas consistentes a Iris Rezende, o que sugere que perdeu o medo paralisante que sentia do velho cacique). Pertencem ao grupo seu primo Leandro Vilela, deputado federal, e o prefeito Humberto Machado. Formado em Direito, Daniel Vilela tem se dedicado, nos últimos anos, ao estudo de economia e administração pública, com o apoio da Fundação Getúlio Vargas.

Setores do PMDB avaliam que Daniel Vilela pode se resguardar para a disputa de 2018. Mais racional, até para ganhar experiência, seria disputar a Prefeitura de Goiânia. Como é jovem, poderia disputar o governo do Estado não em 2018, mas em 2022, quando, com 39 anos e mais maduro, teria condições de governá-lo, se eleito, com mais eficiência. O vice-prefeito de Goiânia, o empresário Agenor Mariano, também é cotado para disputar a prefeitura.

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Daniel Vilela, Bruno Peixoto, Paulo Cezar Martins, Humberto Machado, Agenor Mariano, Pedro Chaves, Marcelo Melo, Júnior Friboi, Ernesto Roller: a renovação do PMDB passa pelos nove nomes arrolados. Excetuando Friboi, que nunca disputou eleições, todos têm votos e são prestigiados em suas regiões

Nomes para a renovação, o PMDB tem. Portanto, o partido deve usar a disputa da Prefeitura de Goiânia — daqui um ano, dez meses e alguns dias — como laboratório. Se não fizer isto, se não provar que tem capacidade de renovação, o PMDB chegará fora de forma tanto em 2016 quanto em 2018. Daniel Vilela pode perder? Pode. Mas é muito mais saudável perder com ele (ou com Agenor Mariano), um jovem, do que perder com Iris Rezende, que não tem futuro. O deputado federal eleito, mesmo se perder, se tornará mais conhecido e será observado pela população. Noutra eleição, poderá ganhar.

Portanto, a partir de agora, o PMDB tem de apostar no seu futuro e em quem tem futuro. Porque está provado, em cinco eleições, que os eleitores não estão interessados naqueles peemedebistas que têm apenas passado.

Agora, se o PMDB não se renovar, vai continuar perdendo para a aliança política que tem o governador Marconi Perillo, de 51 anos, como líder máximo. A base marconista está se renovando, com políticos que disputaram e foram eleitos ou reeleitos este ano. Uma lista mínima: Cristina Lopes (vereadora, perdeu para deputada estadual, por falta de estrutura), Virmondes Cruvinel (eleito deputado estadual), Diego Sorgatto (deputado estadual eleito, aos 24 anos), Alexandre Baldy (deputado federal eleito), Giuseppe Vecci (deputado federal eleito), Thiago Peixoto (deputado federal reeleito), Delegado Waldir Soares (eleito deputado federal com a maior votação da história do Estado), João Campos (deputado federal reeleito), Fábio Sousa (eleito deputado federal), Lincoln Tejota (reeleito deputado estadual), Francisco Júnior (reeleito deputado estadual), José Vitti (reeleito deputado estadual), Marcos Abrão (eleito deputado federal). Trata-se de um verdadeiro exército. Há também Jaime Rincon, presidente da Agetop, que pode ser candidato a prefeito de Goiânia. É um gestor eficiente, rápido para agir e executar obras. Uma das principais revelações administrativas do governo Marconi, pode se tornar, em 2016, uma revelação política.

O PT está batendo à porta com Adriana Accorsi, Antônio Gomide e Humberto Aidar. Vanderlan Cardoso, forte “candidato” a prefeito de Goiânia, é o nome mais sólido do PSB.

Assim, se não se renovar, se apostar mais uma vez em Iris Rezende, ou se bancar um preposto do irismo, como Sandro Mabel, o PMDB de Goiás corre o risco de se tornar um novo DEM, quer dizer, um partido nanico. Ao lado do PMD do G, no plano nacional, se teria, em Goiás, o PMD do D, ou seja, o Partido do Movimento Democrático das Derrotas. Na política, como na vida, ninguém entrega o poder (os militares “entregaram” porque entenderam que a ditadura estava morta com eles no poder, por isso ajudaram a enterrá-la). Se o PMDB quiser retomá-lo, precisará ter a ousadia de um Tancredo Neves e até de um Marconi Perillo. Se não mudar, vai ficar com fama de partido masoquista: quanto mais apanha mais gosta? Para a democracia e para o próprio Marconi Perillo, é importante ter um partido sólido como oposição. Um político hábil como o tucano tende a crescer com as críticas de um adversário consistente.