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Sabe o cronista estar diante de um grande, mas sequer sabe tirar da poética deste escritor no vigor criativo da sua quarentena de anos o sumo do saber acumulado

Em "O itinerário pioneiro do urbanista Attilio Corrêa Lima", Anamaria Diniz conta a trajetória do arquiteto urbanista que planejou a capital

Escritor mineiro ainda não teve trazidos à tona o conhecimento aprofundado e o amplo debate de sua vida e obra; até hoje, na véspera dos 50 anos de sua morte, críticos e pesquisadores preferem apropriar-se do autor para defenderem suas próprias teses

É um dos grandes lançamentos de 2017: a obra-prima de Mikhail Bulgakóv

A artista plástica vem provando saber moldar bem as palavras em versos, e o que era antes uma promessa de poeta concretiza-se; dá pra ver o exercício formal de sua arte, sua força expressiva

[caption id="attachment_109378" align="aligncenter" width="620"] Maria Valéria Rezende, escritora paulista que já amealhou dois prêmios
importantes com seu romance “Outros cantos” | Foto: Adriano Franco[/caption]
A escritora paulista Maria Valéria Rezende, radicada na Paraíba, ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura, em cerimônia realizada na noite de segunda-feira (6/11).
Além do reconhecimento de uma autora que está na estrada há algumas décadas, ela tem 72 anos, a premiação em dinheiro é a maior entre as láureas brasileiras, R$ 200
mil.
Maria Valéria foi laureada com o romance “Outros cantos”, que já havia ganhado o prêmio cubano Casa de las Américas, na categoria Literatura Brasileira. No São Paulo, ela concorreu com nomes fortes nessa temporada, como Silviano Santiago, que já papou o Jabuti, na categoria Romance, e espera o resultado de Livro do Ano, do mesmo prêmio, e está entre os finalistas do Oceanos (antigo Portugal Telecom), com “Machado”.
Bernardo Carvalho, finalista do Oceanos com “Simpatia pelo demônio”, também concorria ao Prêmio São Paulo, que ainda outorgou o Melhor Romance de autor estreante ao “A instrução da noite”, de Maurício de Almeida, e o Melhor Romance de autor estreante acima dos 40 anos ao “Céus e terra”, de Franklin Carvalho. Os dois embolsarão, cada um, R$ 100 mil. Nada mal.
Vale lembrar que a vencedora do Prêmio São Paulo do ano passado foi outra mulher, outra paulista, Beatriz Bracher, com “ Anatomia do Paraíso”. Beatriz é uma das fundadoras da renomada Editora 34 e já se revelou grande prosista, desde seu romance de estreia “Azul e dura”, de 2002.
Goncourt
Também ontem, em Paris, o escritor francês Éric Vuillard, pouco conhecido no Brasil, foi laureado com o prêmio mais importante da França, e um dos mais pomposos do mundo literário, o Goncourt. Saiu-se vencedor com o romance “L'ordre du jour” (A ordem do dia, em tradução livre). O livro de Vuillard narra a ascensão de Hitler ao poder na década de 1930, com o apoio da alta burguesia alemã, principalmente a elite do setor industrial, que fortaleceu a construção de armamentos do Nazismo.
O valor em dinheiro do Goncourt é simbólico. São apenas 10 euros. Mas o prestígio que o autor ganha depois dele é incomensurável, catapultando-o ao lugar de best-seller.
Apesar de escritas em séculos passados, obras de grandes pensadores europeus moldaram e ajudam a compreender o mundo em que vivemos hoje Vinicius Mendes Especial para o Jornal Opção Mergulhado em uma crise política e social há dois anos em diversas dimensões – da sua classe governante ao seu sistema penitenciário, das relações entre os cidadãos e do funcionamento do Estado –, o Brasil de hoje pode ser interpretado a partir de alguns autores clássicos de livros de Direito que tentaram solucionar essas questões por meio das leis. Mais do que o Brasil, o contexto mundial vive um cenário parecido: nos Estados Unidos, membros de grupos defensores da supremacia branca mostraram suas faces no início de agosto na cidade de Charlottesville, em Virgínia, gerando reações em todo o mundo. Na Europa, a crise de refugiados de países do Oriente Médio também levantou um debate sobre os limites de aceitação de imigrantes no continente – influenciando até eleições presidenciais, casos da França e da Holanda. Na geopolítica, os conflitos retóricos se acentuaram entre os EUA e seus rivais atuais: a Venezuela e a Coreia do Norte, que chegou a ameaçar o país ocidental de ataques militares. “Os argumentos desses autores, se bem que foram atualizados, criticados ou potencializados a partir de novas interpretações, são fundamentais para ajudar na compreensão do país e do mundo em que vivemos hoje”, conta o professor Aldo Fornazier, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp). A seguir, o Jornal Opção conta brevemente a obra de cada um deles: Do Contrato Social (Jean-Jacques Rousseau, 1762) Livro que serviu como base para aqueles que promoveriam a Revolução Francesa, no final do século 18, Do Contrato Social, do suíço Jean-Jacques Rousseau, era um trecho de um grande livro jamais terminado e que se chamaria Instituições Políticas. No seu argumento, Rousseau usa as concepções de estado de natureza do inglês Thomas Hobbes em Leviatã, de 1651, para argumentar que, ao contrário do que se defendia até então, o homem não precisava se submeter a um Estado por ser "mau". Era a sociedade que o tornava ruim – e, não à toa, sua frase mais famosa se tornou a que resume esse pensamento: “O homem nasce livre, mas a sociedade o corrompe”. O "contrato social" é um acordo entre os indivíduos que, baseados na "vontade geral", isto é, no desejo de todos os membros em formarem uma sociedade, elevam um Estado para desenvolver as leis que melhor entendem. Assim, as pessoas obedecem apenas a si mesmas, pois são construtoras de suas próprias regras. Essa é a maior liberdade possível ao ser humano dentro da vida social, porque remete ao estado de natureza, quando as leis também eram feitas pelos próprios homens. Do Contrato Social se tornou o principal argumento dos republicanos contra as monarquias europeias, que ainda dominavam o continente quando foi publicado. Trinta anos depois de seu lançamento, ele ajudou a eclodir a Revolução Francesa, que destituiu o Rei Luís XVI e inaugurou o que muitos consideram o modelo democrático do Estado atual. O Espírito das Leis (Alexis de Montesquieu, 1748) O francês Alexis de Montesquieu, assim como Rousseau, é considerado um clássico da filosofia jurídica e, portanto, um autor obrigatório para todos que estudam Direito. Sua obra principal, O Espírito das Leis, de 1748, é um grande tratado no qual tentou analisar as diferentes formas de governo existentes por meio das essências de ideias, povos e leis. Assim como faria O Contrato Social, o livro de Montesquieu estabeleceu uma percepção positiva em torno do Estado republicano e negativa à monarquia, modelo de Estado que dominava quase todos os povos da Europa na época, notadamente a França e os reinos da Itália. Para ele, a essência da república era o "amor à pátria", porque todos os membros da sociedade republicana trabalham para o coletivo, não para si mesmos ou para um rei. O Espírito das Leis acabou se tornando famoso pela divisão de poderes que propõe e que, para Montesquieu, garante maior liberdade ao cidadão: um governo em que as responsabilidades são distribuídas de forma equilibrada entre os poderes responsáveis por administrar a sociedade. Os primeiros a colocar em prática essa proposta foram os Estados Unidos, em 1789, após sua guerra pela independência da Grã-Bretanha. Hoje, a maioria das nações do mundo também adota o modelo de Montesquieu. Para o professor Álvaro de Vita, chefe do Departamento de Ciência Política da USP, Montesquieu produziu uma teoria da liberdade política que pode ser ligada ao liberalismo. "Pode-se dizer que ele foi um dos fundadores da ideia liberal, a corrente do pensamento voltada para a liberdade individual do homem em detrimento dos poderes coercitivos do governo", diz. Dos Delitos e das Penas (Cesare Beccaria, 1764) Já influenciado por Rousseau e Montesquieu, o filósofo italiano Cesare Beccaria publicou, na segunda metade do século 18, Dos Delitos e das Penas, que estabelecia uma nova forma de punir os criminosos da sociedade. O livro é até hoje a base de muitos códigos penais pelo mundo. Considerado um dos primeiros humanistas, ele escreveu que os castigos aos infratores de uma sociedade com base na vingança coletiva, como eram os suplícios da Idade Média e que continuaram naquele período histórico, acabam por ser maiores do que os próprios atos infracionais. O Estado seria mais justo se os julgasse com base na razão e no sentimento. Beccaria se amparou no conceito de contrato social de Rousseau para argumentar que o criminoso não é alguém que deixa a associação de cidadãos e, assim, pode ser punido à margem dela, e sim um indivíduo que não se adaptou às normas estabelecidas, mas que pode retornar a elas a partir de algumas disposições. Apesar disso, Beccaria não negou que, em alguns casos, penas mais duras deveriam ser aplicadas, como a de morte e a prisão perpétua: tudo dependia do grau de ofensa à sociedade. Suas ideias influenciaram os estudos e argumentos de autores contemporâneos, como o sociólogo francês Émile Durkheim.

Em "O Professor do Desejo", o sumiço da atração carnal confere à história narrada um clima de inadequação com as normas sociais revelado num pathos deveras trágico
Autor de Dos delitos e das penas, Cesare Beccaria foi responsável por reformas em quase todos os códigos penais do mundo

O escritor siciliano, que morreu há 60 anos, deixou uma obra-prima que obteve sucesso entre o público exigente sem deixar de ser popular. Biografia revela que tinha um amigo no Brasil, o engenheiro Guido Lajolo

Um dos mais importantes economistas liberais do Brasil, Robarchev é examinado por Ives Gandra, Paulo Rabello de Castro, Gustavo Franco, Irapuan Costa Junior, Roberto Macedo e Armínio Fraga

Wagner Schadeck, poeta e tradutor, se aventura no terreno da frase curta, que contem o pensamento ligeiro e afiado, difícil de ser concebido

“Vitória” tem início com o drama de uma gravidez indesejada e, aos poucos, compõe o retrato de uma geração
[caption id="attachment_92624" align="alignleft" width="261"] Giovanni Arceno | Foto: Divulgação[/caption]
Sérgio Tavares
Especial para o Jornal Opção
Danilo é um sujeito de 21 anos, com uma vida medíocre. Saiu da casa dos pais, no interior, para se acomodar num emprego desinteressante, cujo rendimento é o suficiente para comprar comida e pagar o aluguel de um apartamento tão pequeno que mal cabem ele e os móveis.
Xeretando o Facebook alheio, conhece Vitória. De uma mensagem aqui e outra ali, rola uma afinidade e eles combinam um encontro. Ela mora numa cidade distante, de modo que o relacionamento se concentra nos finais de semana, contudo são momentos de total intimidade. “Ficávamos à vontade na presença do outro de uma maneira surpreendente e até mesmo ridícula, pois não existiam filtros e o que vinha à tona era aquele tipo de conversa que geralmente censuramos em público”, observa.
Ocorre que, por um motivo a princípio insondável, a coisa esfria e o caso chega ao fim. Durou apenas três meses, e não mais se falaram. Até o instante em que se inicia o romance de estreia do catarinense Giovanni Arceno. Logo na primeira frase, Vitória, que empresta nome ao livro, telefona para Danilo e dispara: estou grávida.
Essa é a chave do enredo, mas não o que dá substância à trama. Estruturada a partir de dois arcos distintos que se confluem nas últimas páginas, a história ganha corpo através do olhar vacilante e ao mesmo tempo acuado de Danilo em relação ao mundo e a todos que o cercam, em relação ao fim do seu namoro.
Vitória não quer a gravidez, está decidida em abortar. “Eu não me importo que coisas inesperadas aconteçam na minha vida, mas existe uma fronteira que algo novo não deve ultrapassar, porque a vida precisa de um mínimo de planejamento. Nem toda mudança é boa. Às vezes é uma tragédia”, considera. Danilo contra-argumenta, porém ao ser questionado se está pronto para ter um filho, responde: “Não sei ainda. Não sei de nada”.
Não é difícil sacar qual escolha prevalece. As consequências, no entanto, perduram-se na vida de somente um deles.
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Livro: "Vitória" | Editora: Oito e Meio | páginas: 98 | Preço: R$ 38[/caption]
O tempo avança e, agora, Danilo namora Marcela, uma jovem abastada, negligenciada pelos pais, que sofre de uma doença que a impede de se expor ao sol. Por isso, apesar de viver numa casa em frente à praia, só frequenta o litoral à noite. Danilo não se chateia, sujeita-se ao que for. “(Marcela) insistia que eu fosse sozinho, aproveitasse pra tomar um banho e pegar um bronzeado, mas eu sinceramente não me importava”, declara.
Sem amigos (“apesar de ter trabalhado tanto tempo no mesmo lugar, não fiz um amigo sequer”), flana entre os dias, tocado apenas pela solução do aborto e pelo que aconteceu com Vitória, feito a ideia de um fantasma insepulto que o torna também um.
Fantasia como seria o filho com um ano de idade, rememora sua infância numa tentativa de criar um laço com essa não-existência. Uma atitude mais consistente, todavia, não faz parte de sua natureza. Então uma oportunidade inesperada, envolvendo uma criança, o faz tomar uma decisão das mais bizarras.
Arceno constrói um romance de formação de maneira improvável. Um exame de personagens que, à medida que amadurecem, tornam-se incompletos, menos comprometidos com a intenção de um futuro. Vitória nunca esteve de fato com Danilo, pois seu amor juvenil foi um ex-namorado que morreu num acidente de carro, e a maternidade a deslocaria dessa condição. Danilo imagina que ser pai o manteria num estado em que viveria ao lado de Vitória, num tipo ilógico de reparação por tê-la engravidado. Ainda que de forma inconsciente, querem ser eternamente filhos, aqueles sobre os quais não cabem deveres, resoluções, o mundo de frente.
“Vitória” é um retrato de uma geração que teme derrotas e portanto não tenta, assumindo assim uma posição de defesa contra o próprio destino. Um livro dotado de uma linguagem despretensiosa, intuitiva, que se enquadra perfeitamente em seu tempo.
Trecho do livro
"Entardecia e as pessoas começaram a ir embora. Essa era a hora que normalmente eu e Marcela cogitávamos ir à praia. Naquele dia talvez não fosse assim, já tava me convencendo que teria que dormir no sofá e aguentar Marcela arisca pelos próximos dias – ou, não me surpreenderia, até o fim das férias.
O guarda-vidas tinha ido embora, então resolvi subir na sua cabine pelas escadas. Entrei na salinha e me deparei com uma vista privilegiada, inspiradora o suficiente pra despertar no maior filho da puta de todos a vontade de salvar alguém. A profissão com o nome mais bonito do mundo: guarda-vidas".
Sérgio Tavares é jornalista e escritor.

A leitura atenta de Sófocles e da tradução de Hölderlin (que auxilia a entender o texto grego), feita por Kathrin, mostra como funciona a produção de significação através dos modos (irônicos, sarcásticos, lacônicos, acusatórios, etc.) de dizer certas coisas

Ainda inédito no País, embora internacionalmente apreciado, Roz está entre os escritores mais promissores da Argentina contemporânea