Opção cultural

Marca especializada em biomas apresentará plantas em curta temporada no Café Cariño

Inspirado nos “Quadros Parisienses”, de Charles Baudelaire, poeta curitibano traz à tona a experiência íntima do indivíduo marcado pela transitoriedade temporal e outros temas associados
[caption id="attachment_91187" align="aligncenter" width="620"] "O pensa fazer, tão intrépido e indômito,/contra essa imensa grei? À turba, sem embargo,/ avança resoluto, estufa o ventre largo,/ lançando a todo mundo o nojo de seu vômito", versos do poema "Vingança", de Wagner Schadeck[/caption]
Wagner Schadeck
Especial para o Jornal Opção
As ruínas de Roma foram obsessão poética. Poetas como Janus Vitalis, Du Bellay, Spencer, Quevedo, entre outros (Cf. RAMALHO, Américo da Costa. Um epigrama em Latim imitado por vários. Revista Humanitas, nº 4, 1952.), dedicaram versos para revelar uma Roma imortal soterrada pelas ruínas de outra, desbarata pelo Tempo, como diria Camões. Mas é com o “Ao contemplar o crânio de Schiller” (“Bei Betrachtung von Schillers Schädel”) que o motivo do transitório e da revelação do eterno consolida-se. Como na famosa cena de Hamlet, neste poema, Goethe eleva esse motivo ao universal, tendo como alegoria, não mais Roma, mas as ruínas da matéria morta.
O seguinte ciclo Quadros provincianos (título inspirado no extraordinário “Quadros parisienses”, de Baudelaire) retoma essa tradição. Nele o leitor encontrará a experiência íntima do indivíduo marcado pela transitoriedade temporal, pela decrepitude de ideais de progresso e igualdade e por um país assolado.
O POMBO
No recreio escolar, a malandragem
Pega um pombo, esse pássaro boboca,
Parceiro de trapaça e vadiagem,
Que circunda os carrinhos de pipoca.
Jogado ao tabuleiro de xadrez,
É o príncipe de jogo, obeso e arisco.
Bispos, peões, rainhas, torres, reis…
Ele os derruba ao vasculhar um cisco.
As suas fezes são causa de engulhos!
Do bico às asas é peste e piolhos!
Alguém quer seduzi-lo com arrulhos.
Outro com um prego quer furar seus olhos.
O poeta é semelhante a um gordo pombo:
Fugindo aos pés, esquiva-se do azar;
Ciscando na calçada, sofre um tombo:
Os miolos impedem-no de voar.
NUMA PRAÇA
Nestas ruas há pedintes,
pernetas, putas, velhacos
vendendo alheios barracos,
logrando os contribuintes.
Nas esquinas, os seguintes
são catadores de cacos,
donas desfilam casacos,
pastores com seus ouvintes.
Aonde irá toda essa grei?
Que sigam. Eu ficarei
num busto brônzeo da História.
E assim, no futuro, às vezes,
pombas na festa das fezes
irão batizar-me à glória.
VINGANÇA
Vai ébrio de ódio. Mas equilibra-se. Em ambas
as mãos há um garrafão. No meio-fio tropeça
e em trôpego bailado bate com a cabeça
numa placa de trânsito. Ao pisar muambas
espalhadas no chão, parece gingar sambas.
Não há ninguém que o avise, ninguém que o impeça
do próprio pé molhar, mijando-se sem pressa.
Prossegue. O passo é duro, embora as pernas bambas.
Opera uma manobra, oculto atrás dos postes.
Marchando em plena rua, investe contra as hostes.
O pensa fazer, tão intrépido e indômito,
contra essa imensa grei? À turba, sem embargo,
avança resoluto, estufa o ventre largo,
lançando a todo mundo o nojo de seu vômito.
CINDERELA
Nas pálpebras pinta
A noite. E se espelha
A espetar na orelha
A estrela distinta.
Perucas, piolhos,
Máscara de giz,
Lábios de verniz,
Lentes para os olhos.
Enquanto recorta
Pestanas compactas,
Seus cílios são patas
De uma aranha morta.
Em peles de esquilos
E asas de morcegos,
Na fisga de pregos,
Isca os dois mamilos.
Flashes instantâneos
Em poses de Kali,
Em sua nuca vale
um colar de crânios.
Perfume de flores
E frutos mortiços,
Devem ser postiços
Até seus rubores.
Tendo faces glabras,
Sem buço, no entanto,
Traz na bolsa o encanto
Dos abracadabras.
Caixa de Pandora
Guarda. Mas espera
Por flerte e paquera
Enquanto namora…
Logra uma trapaça?
Abre a caixa. E alcança
Poeiras de esperança.
Eis feita a desgraça!
E a sorver sem água
A hilariante droga,
Com a qual se afoga,
Ela olvida a mágoa?
Tomando a cosmética
Por cosmologia,
Dietas de anemia
Tornam-na esquelética
Na língua a destreza:
“Beldade balofa”.
Cospe a unha e mofa
Da madrasta obesa.
E aguardando o ensejo
Das damas de fama
(não de honra), reclama
De esperar cortejo.
A trupe se apura.
Eis Josefa em cuja
Boca de coruja
Dança a dentadura.
A seguinte chega
como salamandra,
Chama-se Leandra,
E é de um olho cega.
A última consterna!
Como rã, Gertrude
A mancar amiúde
Arrasta uma perna.
Tricotam fofocas
E poções malignas
Nas caldeiras ígneas
De suas torpes bocas.
E o que o horror incita!
É assim que essas Greias,
Por serem tão feias,
Tornam-na bonita.
No festivo início,
Ela entre os lacaios
Simula desmaios
A nutrir seu vício.
De prantos fingidos
Ao lamber os dentes,
Pisca aos pretendentes
Tramando tecidos.
Nas pernas de garça,
Quando alguém a encontra,
Sorri como lontra,
Enquanto disfarça
Qualquer estultícia.
À mostra, despacha
Seios de borracha,
Vendendo malícia.
Acre e melancólica,
De alta gradação,
A quem dá a poção
Passional e alcoólica?
À meia noite, é hora
De partir. Ao menos
Entre outros venenos
A vida evapora.
A carruagem volta
À abóbora. À estrada
Foge desgrenhada.
A bruxa está solta!
O homem que por ela
Procurar, mesquinho,
Traz só um sapatinho
À coleção dela.
ÉDIPO
Nesta cidade de almas enlameadas,
Como dentes que saltam dos cavoucos,
Os paralelepípedos aos poucos
Podres deixam banguelas as estradas.
Os seus sonhos são lâmpadas queimadas
Num corredor de hospício cujos loucos,
Com colchas no pescoço e gritos roucos,
Em fuga se enforcaram nas sacadas.
Em sua entrada, à luz de olhos alertas,
Que piscam pela madrugada adentro,
Por praças e avenidas mais desertas,
Nos muros e edificações do Centro,
Meu olhar nos hieróglifos constringe:
Como decifro esta voraz esfinge?
Wagner Schadeck nasceu em 1983, em Curitiba, onde vive. É tradutor, ensaísta, editor e poeta. Colabora com a Revista Brasileira (ABL), com a Revista Poesia Sempre (BN), entre outros. Em 2015, organizou a reedição de "A peregrinação de Childe Harold", de Lord Byron, pela Editora Anticítera. Pela mesma editora, em 2017, publicou a tradução de "Odes", de John Keats.

O objetivo, segundo os realizadores, é proporcionar para todos os espectadores, os que enxergam ou não, a mesma experiência
[caption id="attachment_91170" align="aligncenter" width="620"] Foto: Cida Carneiro[/caption]
Bruna Isac
Especial para o Jornal Opção
Nestas quinta e sexta-feira, dias 06 e 07 de Abril, o Centro Cultural UFG, no Setor Universitário, será palco de um espetáculo teatral desenvolvido especialmente para o público cego. A Peça Como Nascem os Heróis, da Cia Teatro Goya, invade o mundo dos sentidos para promover uma experiência teatral diferenciada. Nela, os cegos e os não-cegos são vendados e passam todo o tempo sem enxergar. Toda a história é representada através de música, toques, fala, cheiros e sabores que transportam a imaginação da plateia para um mundo mágico.
O objetivo, segundo os realizadores, é proporcionar para todos os espectadores, os que enxergam ou não, a mesma experiência. “Nós não queríamos criar uma peça que falasse sobre a condição da cegueira, mas que os cegos pudessem se entreter e se divertir indo ao teatro e encontrando um espetáculo criado especialmente para eles”, disse Clégis de Assis, autor e diretor da peça. Enquanto a legenda e a audiodescrição se configuram atualmente como principais técnicas utilizadas para garantir a acessibilidade ao teatro e cinema, o espetáculo Como Nascem os Heróis vai além. Nele, o público é levado por uma viagem de sensações que afloram com a emoção de cada cena. O trabalho inclui, além dos músicos e atores, uma série de ajudantes responsáveis por provocar as sensações na plateia.
Criada em 2013, a peça já foi representada para públicos específicos, como os associados do CEBRAV - Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Dficiente Visual - e da ADVEG - Associação dos Deficientes Visuais do Estado de Goiás – e desde 2015 tem sido apresentado também para o público aberto. No ano passado, participou do Festival de Teatro Goiânia em Cena e passou pela programação do SESC Goiás. Clégis de Assis diz que considera essas turnês importantes por dar aos não-cegos a chance de aproveitar o espetáculo. “Uma das nossas maiores satisfações é promover um tipo de integração entre os que possuem e os que não possuem alguma deficiência visual. Quando uma mãe que enxerga leva o filho cego para assistir Como Nascem os Heróis, ao chegar em casa eles tiveram a mesma experiência, vão conversar sobre a mesma coisa, e para nós isso é muito gratificante”, esclarece o diretor.
O enredo é divertido e envolvente. Ele conta a história de um terrível vilão, o Senhor Atrito, que apronta todas no fantástico Mundo da Magia e do Encantamento Onde Tudo Pode Acontecer. Porém, dois cientistas vão fazer de tudo para derrotar o Sr. Atrito e salvar o mundo da imaginação. O roteiro brinca com elementos naturais do cotidiano e discute ainda questões humanas e sensíveis ligadas ao relacionamento interpessoal e social. A peça ensina que todos nós somos heróis e que não é preciso ter super poderes para ajudar o próximo.
O texto é original, o músico Reginaldo Mesquita assina a composição das melodias e a direção musical da peça, e a trilha sonora também foi montada exclusivamente para esse trabalho, tudo para atingir ao máximo os sentidos dos espectadores. Além disso, garantem os realizadores, há muitas surpresas esperando pelo público. “É como entrar em um imenso túnel de sensações e deixar o seu corpo aprender novamente a se relacionar com o som, o espaço, os cheiros e os sabores”, diz Marcus Pantaleão, um dos atores envolvidos.
Como Nascem os Heróis será apresentado no Centro Cultural UFG, na Praça Universitária, em Goiânia, nos dias 06 e 07 de Abril, com ingressos a $20,00 a inteira e $10,00 a meia. Serão duas sessões por dia, às 19h e 20h30, cada uma delas com capacidade para até 100 pessoas. Pagam meia-entrada estudantes, professores, artistas cênicos, menores de 12 anos, idosos a partir de 60 anos e pessoas com deficiência visual, auditiva ou física. O grupo conta com o apoio da Universidade Federal de Goiás, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura e do Centro Cultural UFG.
Serviço
Local: Centro Cultural UFG
Datas: 06 e 07 de Abril
Horários: 19h e 20h30
Ingressos: $20,00 / $10,00 - Venda no local.
Classificação: Livre
Pagam meia entrada: Estudantes; professores; artistas cênicos; crianças menores de 12 anos; idosos a partir de 60 anos; e pessoas com deficiência visual, auditiva ou física.
Ficha Técnica:
Dramaturgia e direção: Clégis de Assis
Direção Musical: Reginaldo Mesquita
Elenco:
Clégis de Assis,
Fernando Santana,
Marcus Pantaleão e
Reginaldo Mesquita
Bruna Isac é diretora de teatro.

Do frevo ao tango, Luciana Viana e Eddy Andrade mostram no Centro Cultural da UFG o cancioneiro dos povos latino-americanos
[caption id="attachment_91166" align="aligncenter" width="620"] Foto: Divulgação[/caption]
Ressignificar a tradição da música popular da América Latina por meio de uma fórmula bastante tradicional: violão e voz. Este é o propósito de “Tempo a Fio”, espetáculo de cerca de 1 hora e 15 minutos que traz ao palco do Centro Cultural UFG a cantora Luciana Viana e o violonista Eddy Andrade. Tempo suficiente para se deliciar com arranjos para canções latino-americanas com pitadas de diversos gêneros, como o frevo, o bolero, o tango, o baião, o samba e outros. A ideia é recuperar canções populares de protesto produzidas em diversos países da América Latina como: Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai e, claro, Brasil.
Na apresentação, o duo recria o canto popular dessas nações também com toques eruditos. Luciana é goianiense e faz graduação em Música Popular na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com um trabalho cancional com músicas autorais e da tradição da MPB em três formações de grupos de Câmara: o Trio do Vento, em duo com Eddy Andrade, e em trio vocal com Ana Lis Marum e Lucas Madi, ambos músicos paulistas. No Festival Anapolino de Música de 2014, recebeu o prêmio de melhor intérprete de canção inédita.
Eddy Andrade é paulista e, além do violão, dedica-se também à guitarra elétrica e ao contrabaixo. Atualmente está concluindo graduação em Violão Popular na Unicamp. No momento, está ainda em fase de gravação de disco com o grupo Trem Doido, chamado “O Som de Minas”.
Serviço
Evento: “Tempo a Fio”, com Luciana Viana (cantora) e Eddy Andrade (violonista)
Dia: 4 de abril (terça-feira)
Horário: 20h
Locais: Centro Cultural da UFG (acima da Praça Universitária)
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Mais: Facebook – https://www.facebook.com/lucianavianaeeddyandrade/

Ciro Barcelos enfatizou a antropofagia cultural e musical como linha de discurso visual, sonoro, interpretativo e cênico dos Dzi Croquettes. Os elementos da cultura erudita são revisitados e interpretados como popular
[caption id="attachment_91047" align="aligncenter" width="620"] Ciro Barcelos, atual líder do grupo Dzi Croquettes | Foto: Vitor Hugo Goiabinha[/caption]
Keides Batista Vicente & Vitor Hugo Goiabinha
Especial para o Jornal Opção
Já se vão quarenta e cinco anos da estreia, em 1972, de um dos grupos mais representativos da nossa cultura. E mesmo assim, como permanecem atuais!
Os Dzi Croquettes nasceram em um contexto extremamente turbulento, quando a Ditadura Militar tentava calar as palavras contra o governo na imprensa, na música e na literatura. Mas a estratégia dos Dzis foi mais refinada: se os militares almejavam a disciplina, o controle absoluto do comportamento, o grupo liderado por Lennie Dale e Wagner Ribeiro dava a resposta com uso livre do corpo. Bebendo na fonte antropofágica de Oswald de Andrade, o desbunde, o escracho, o deboche, a irreverência (valores compartilhados com a Tropicália e o Teatro Oficina) eram associados a uma androgenia extremamente provocativa: homens vestidos de mulheres, maquiados e não depilados deixavam o público completamente alucinado e incapaz de definir o que eles representavam. Soma-se a esses elementos uma capacidade cênica e uma técnica de dança impressionantes.
Os tempos eram outros. A censura restringia as opiniões, o que suscitava a emergência de novas maneiras de discurso. A estética era uma forma de resistência. No caso dos Dzis, um discurso discreto nas palavras, mas incisivo pelo corpo, que os militares demoraram a compreender, mas que, quando “a ficha caiu”, sair do Brasil tornou-se uma opção inevitável. Fizeram sucesso na Europa, mas, no retorno, o grupo acabou se separando e encerrando o espetáculo. Mas permaneceu a referência do vanguardismo e da provocação, o que acabou inspirando o documentário lançado em 2009 por Tatiana Issa e Raphael Alvarez sobre a trupe. Nesse trabalho, o público pode ainda se deliciar com os depoimentos de personalidades que circundaram o movimento e, principalmente, de alguns integrantes.
Dentre esses, Ciro Barcelos, que participou da formação original, tenta manter acesa a chama da irreverência e da liberdade como discursos. Em 2012, Ciro remontou o espetáculo, mas como um novo elenco, uma nova roupagem, que mantém a proposta original do uso e abuso do corpo, mas que (re)pensam os problemas do presente: hipocrisia, falsa liberdade, machismo, homofobia, consumismo, conservadorismo e fundamentalismo.
De passagem por Goiânia, Ciro muito gentilmente nos recebeu para uma conversa sobre a formação original, e sobre como e por que resolveu remontar o espetáculo. Ele enfatizou a antropofagia cultural e musical como linha de discurso visual, sonoro, interpretativo e cênico. Os elementos da cultura erudita são revisitados e interpretados como popular, aproximando os discursos de belo, ousado e cotidiano, como exemplo a remontagem da cena do musical “Lago do cisne”, que usa técnicas de dança feminina no balé clássico, como pontas dos pés, sendo encenada por um homem, que, por sua vez, é “abatido” por um jovem infrator e transformado em uma outra ave que será utilizada em um ritual religioso sincrético.
Ciro nos explicou que o espetáculo mantém a originalidade do belo e sarcástico, com um tom político e em busca constante de uma avaliação da realidade. Algumas músicas da primeira montagem na década de 1970 foram mantidas, como a gravação de Elis Regina “Dois prá lá, dois prá cá”, e o “Pato”, de Lennie Dale, cuja interpretação é realizada por Ciro Barcelos e os atuais componentes do grupo. Músicas do grupo “Mamonas assassinas”, um rap – alusão cênica à música “Vapor Barato”, de Jards Macalê e Wally Salomão, e alguns funks são anexadas, com uma coreografia andrógena, marcante, colorida e envolvente.
Ciro Barcelos preza pela construção de novos textos musicais, poesias, manifestos e cenografias, e busca a participação do público na relação entre os andrógenos corpos dos atuais Dzis e a compreensão dos corpos como livre de estereótipos e marcas. Com isso, percebemos a relação entre presente e passado, o sincretismo cultural, religioso e de gênero, bem como a compreensão do indivíduo na sua totalidade, preconizada na primeira montagem dos Dzis: “Não somos mulheres também não... somos gente”.
Keides Batista Vicente é professora de História na Universidade Estadual de Goiás, e Vitor Hugo Goiabinha é doutor em história pela UFG, professor de história na UEG, no Colégio Sagrado Coração de Jesus – Pires do Rio, e na Faculdade Brasil Central-Goiânia.

Shows acontecem a partir das 20 horas deste sábado (1º/4) no Teatro Goiânia, no Centro da capital, com ingresso a R$ 30 na bilheteria

“Imbilino em Cartaz: um caipira no cinema”, embora seja fruto de um trabalho acadêmico, é de leitura simples e fluída. É um desses raros livros feitos para serem realmente lidos, não para enfeitar estante de primo

Pervertendo a palavra para reinventá-la, o escritor cria quase que um anti-romance, burlando as regras do fio artesanal das narrativas. Seu poder de recriar termos e revirá-los do avesso, dá-lhe dimensões de Guimarães Rosa

Em entrevista ao Jornal Opção, o diretor de teatro Marcos Fayad fala do espetáculo “Cerimônia Para Personagens Estranhos — Miniaturas Grotescas”, baseado na obra do escritor soviético Daniil Kharms (1905-1942), e dá também sua opinião a respeito da qualidade do que tem sido feito, atualmente, no campo da cultura no Brasil

Segura aí mais uma Playlist Opção! Aperte o play! https://www.youtube.com/watch?v=-sUXMzkh-jI https://www.youtube.com/watch?v=p9n9gW1wCks https://www.youtube.com/watch?v=92XVwY54h5k https://www.youtube.com/watch?v=5madtiLf7DI https://www.youtube.com/watch?v=Iwa3DO5_irM https://www.youtube.com/watch?v=NmCFY1oYDeM&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=vUra4lOgkmI https://www.youtube.com/watch?v=2_HXUhShhmY https://www.youtube.com/watch?v=T9Ika-PNmHg

A Associação Brasileira de Literatura Comparada – ABRALIC – publicou ontem, 30 de março de 2017, os anais completos de seu XV Encontro, realizado entre os dias 19 e 23 de setembro de 2016, nas dependências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. A ABRALIC, que se encontra sobre a presidência do professor João Cezar de Castro Rocha, docente do Instituto de Letras da UERJ, é uma das organizações mais importantes do Brasil, dentre aquelas que se dedicam aos estudos literários. O documento, que pode ser acessado aqui, possui quase 7 mil páginas e reúne os artigos referentes às apresentações dos participantes que estiveram no evento, ano passado. É um excelente termômetro para se ter ciência das investigações que vem sendo feitas sobre literatura no Brasil, atualmente. Apesar das grandes dificuldades financeiras que vem enfrentando nos últimos tempos, a UERJ realizará outra edição do encontro da ABRALIC, entre os dias 7 e 11 de agosto de 2017. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.abralic.org.br/.

O filme é uma adaptação fiel do anime que tem como protagonista a claramente japonesa Major Motoko Kusanagi, que vivida por uma americana loira, por melhor que esteja na tela, destoa do contexto do longa
[caption id="attachment_90800" align="alignleft" width="620"] Scarlett está bem no filme, mas sua figura destoa do contexto. O estúdio chegou a admitir que foram feitos testes de maquiagem e computação gráfica para torná-la mais "asiática"[/caption]
Nas últimas semanas, pregou-se muito que a atuação de Scarlett Johansson como protagonista de "A vigilante do amanhã" (2017), que estreia nos cinemas brasileiros, diminuiria a força do filme. Não diminuiu, pelo contrário. Mas é preciso analisar com cuidado o cerne das discussões para entender que a mais nova obra de Rupert Sanders tem a sua dose de polêmica.
No início da década de 1980, William Gibson, um contista américo-canadense que vinha se destacando em publicações de baixa tiragem lançou seu primeiro romance. Com ele, embalado pelo clima noir-futurista de "Blade Runner" (1982), desenhou-se praticamente todo um universo que seria, a partir de então, exaustivamente explorado em obras de ficção científica. "Neuromancer", o primeiro da série "Sprawl", trouxe ideias como "hackear", "surfar na rede", "pirataria digital", cunhou oficialmente o termo "cyberspace", e originou o movimento cyberpunk (uma mistura de noir, com ação e tecnologia). Tudo isso muito antes do surgimento da internet como a conhecemos.
Foram os japoneses, entretanto, que abusaram desse universo, criando uma série de obras seminais, principalmente através dos quadrinhos (mangás) e animações (animes). Podem ser citados "Akira" (1982), "Battle Angel Alita" (1990), "Cowboy Bebop" (1998) e "Gantz" (2013), por exemplo. Os japas são aficionados por esse tema. E "Ghost in the shell", o mangá que embasou o filme estrelado por Scarlett, está nesse mesmo baralho.
De autoria de Masamune Shirow, o mangá foi publicado no Japão entre 1989 e 1991 e conta a história de um grupo secreto de elite da polícia japonesa, que tem na Major Motoko Kusanagi sua principal agente. Ela é uma ciborgue (cérebro humano num corpo robótico) que luta contra o ciberterrorismo, o tráfico de informações e a espionagem industrial no ano de 2029. O mangá virou animação e foi para as telonas em 1995, pelas mãos de Mamoru Oshii, e se tornou referência mundial. Basta dizer que as irmãs Wachowski jogaram "Ghost" e "Neuromancer" num liquidificador e apareceram com "Matrix", em 1999, para entender a importância dessas obras todas (para explorar mais dessa relação simbiótica entre "Matrix" e os animes, é imperdível assistir à série "Animatrix", de 2003).
Sempre foi sonho dos fãs que fosse feita uma adaptação em live-action (filme com atores reais) para a obra de Masamune, mas um leve estranhamento começou quando anunciaram que Scarlett estava confirmada no papel da Major Motoko. Afinal, Hollywood sempre bebeu na fonte criativa nipônica, mas isso quase sempre significou a desfiguração completa da obra original. E trocar a protagonista japonesa por uma americana loira indicava, num primeiro instante, uma intenção perigosa da produção. Por algum tempo pairou essa dúvida: adaptação fiel, ou versão americanizada? O pessoal da Paramount chegou a admitir que foram feitos testes de maquiagem e computação gráfica para alterar os traços de Scarlett, tornando suas feições um pouco mais "asiáticas". Terrível.
Então, espera aí: se o filme seria fiel aos quadrinhos, ambientado no Japão do futuro, com personagens japoneses, porque escalar uma atriz loira americana para o papel principal? Ainda que o casting também conte com Juliette Binoche, Pilou Asbaek e Michael Pitt interpretando personagens não-japoneses, a protagonista Motoko Kusanagi é visivelmente asiática na obra original. Choveram críticas e acusações de "apropriação cultural" e o chamado "whitewashing", um termo cunhado para designar especificamente essa adaptação de elementos de outras etnias para o padrão branco de ser. (A título de curiosidade, a Netflix também vem sendo criticada de forma semelhante pela produção do filme "Death Note", adaptação do consagrado mangá japonês).
De qualquer forma, o filme é muito bom para os admiradores do gênero – só não será unanimidade porque envolve um nicho de interesse bem específico. As principais cenas e motivações de roteiro foram mantidas intactas, e é interessantíssimo ver cenas sincronizadas da animação de 1995 com o filme recém-lançado – algo que uma consulta rápida no YouTube pode propiciar. A direção e a fotografia são bastante competentes e conseguem resgatar o clima dos quadrinhos em cada plano rodado. Parecem pinturas. As cenas de ação, visivelmente influenciadas pelas correrias de Neo, Morpheus e Trinity dentro da Matrix, são de encher os olhos. Tudo embalado por uma trilha psicodélica-eletrônica que lembra bastante a onda techno oitentista, copiada recentemente pelo seriado "Stranger Things", da Netflix. Enfim, supera bastante as expectativas de quem estivesse com medo de encontrar pela frente um "Aeon Flux" (2005) ou um "Riddick" (2000, 2004 e 2013 – todos fiascos).
O filme é forte. O "senão" fica apenas na escalação da protagonista, algo que incomoda durante a projeção, e que muito provavelmente resulta de uma escolha puramente comercial. Talvez pudesse mesmo ter havido um pouco mais de consideração com Shirow, Oshii e a cultura japonesa em geral, que aparece como tema implícito na película, mas cujos elementos são tomados apenas como coadjuvantes. Ao contrário do que alguns possam argumentar, não se trata aqui de uma versão americana da estória contada pelos japas. A intenção foi uma adaptação fiel. E como tal, ainda que deslumbrante, Scarlett Johansson está no lugar errado. Lembra-se de Madonna interpretando a Evita em inglês, lá em 1996? Pega mal. É o tipo de cuidado que os ingleses fazem questão, como por exemplo na escalação de atores e carros da franquia de James Bond (dizem que quando a rainha viu Pierce Brosnan dirigindo uma alemã BMW, caiu da cadeira), ou no pudor que J.K. Rowling sempre manteve quando levou Harry e seus amigos para passearem nas telas.
João Paulo Lopes Tito é advogado e estuda Cinema e Audiovisual na UEG

Simpósio oferece aulas e concertos gratuitos, atividades que integram calendário mundial voltado para celebrar o instrumento
[caption id="attachment_90772" align="alignleft" width="300"] Wagner Poulistchuk, primeiro-trombone da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), é um dos convidados do evento[/caption]
De 3 a 7 de abril, Goiânia recebe o 4º Simpósio de Trombones do Estado de Goiás, com professores renomados, músicos talentosos e amantes do instrumento. A programação reserva espaço para aulas especiais – chamadas de “masterclasses” – e concertos. As atividades têm formatos e locais variados, mas uma coisa em comum: são gratuitas.
Os convidados desta edição do simpósio são Wagner Poulistchuk, primeiro-trombone da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp); Raphael Paixão, da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB); e Ricardo Santos, também da OSB.
Eles ministrarão masterclasses e participarão de um concerto especial na quarta-feira, 5, às 18 horas, no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), na Praça Universitária.
O evento é realizado por meio da Lei Goyazes e coordenado pelos professores Marcos Botelho, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Roberto Milet, do Instituto Federal de Goiás (IFG).
O simpósio está ligado à International Trombone Association (ITA) e inclui na programação a BoneWeek Goiânia, dentro do calendário da International Trombone Week (ITW), realizada simultaneamente em vários países com objetivo de congregar trombonistas amadores e profissionais, além de divulgar e desenvolver o instrumento.
Serviço:
Evento: IV Simpósio de Trombones do Estado de Goiás/BoneWeek Goiânia
Data: de 3 a 7 de abril de 2017
Locais: vários (ver programação)
Entrada franca
Site oficial: http://trombone8.wixsite.com/boneweekgoiania/
Facebook: https://www.facebook.com/boneweekgoiania/
Programação completa
● 3 de abril – segunda-feira
19 horas – Teatro Goiânia - Concerto de abertura com participação de Corporação Musical Cemadipe, Banda Marcial C.E. Jose Lobo, Banda Marcial CPMG Ayrton Senna, Grupo Heróis de Botequim e professores de trombone.
● 4 de abril – terça-feira
15 horas – IFG - Masterclasses
18 horas – Teatro IFG - Concerto de música de câmara com professores locais
● 5 de abril – quarta-feira
15 horas – Centro Cultural UFG - Masterclasses com professores convidados
18 horas – Centro Cultural UFG - Concerto com professores convidados
● 6 de abril – quinta-feira
9 horas – EMAC/UFG (Praça Universitária) - Masterclasses avançados com professores convidados
14h30 – CPMG Ayrton Senna - Masterclasses
● 7 de abril – sexta-feira
9 horas – EMAC/UFG (Praça Universitária) - Masterclasses avançados com professores convidados
14h30 – IFG - Masterclasses com professores convidados
18 horas – Teatro IFG - Concerto de encerramento com Banda Sinfônica Jovem de Goiás e Banda Sinfônica do Estado de Goiás

Diretor demorou a entender que, depois de atingido certo nível de qualidade no cinema, não dá para ser qualquer coisa. Novo filme dá indícios de ser fruto deste entendimento
[caption id="attachment_90718" align="alignleft" width="620"] Transtorno Dissociativo de Identidade abre as cortinas para um show de interpretação de James McAvoy, que vive Kevin, um criminoso que tem 23 personalidades[/caption]
Depois de se engalfinhar com Will e Jaden Smith no fiasco de "Depois da Terra" (2013), já vindo de uma derrota vergonhosa com "A Dama da Água" (2006), choveram críticas e diagnósticos de que M. Night Shyamalan já era (aliás, merece um estudo o fato de os franceses, ao contrário dos americanos, terem continuado a dar suporte às suas obras de forma mais incisiva mesmo durante esse período conturbado).
A verdade é que Shyamalan esperneou durante um tempo até descobrir que, depois de atingido certo nível de qualidade no cinema, não dá para ser qualquer coisa. É preciso, no mínimo, atender às expectativas. Daí ele lança esse petardo que é "Fragmentado" (2017), contrariando a torcida adversária.
A ideia inicial do filme é bem simples. Inclusive, já a encontramos distribuída por algumas outras obras como "O silêncio dos inocentes" (1991), "A cela" (2000) e "O quarto de Jack"(2015). Um cara vigia três garotas por alguns dias, as sequestra e encarcera em algum lugar isolado, sem contato com o resto da civilização. A missão do telespectador é tentar descobrir o que está acontecendo e acompanhar as tentativas (frustradas ou não) de fuga das reféns. Um pouco de síndrome de estocolmo ali, traumas de infância acolá, enfim.
A coisa começa a ficar realmente interessante quando descobrimos, junto com as sequestradas, que o captor é portador de um Transtorno Dissociativo de Identidade (popularmente conhecido como Transtorno de Personalidade Múltipla), o que abre as cortinas para um show de interpretação de James McAvoy. Kevin, o criminoso interpretado por McAvoy, tem nada menos que 23 personalidades (a do moleque de 9 anos, Hedwig, é simplesmente sensacional). Na tela, desfilam um pouco menos, mas encontramos referências a todas elas espalhadas pelo filme.
Assim que se dá conta disso, Casey, uma das reclusas, interpretada também de forma magistral por Anya Taylor-Joy (revelada no thriller "A bruxa", de 2015), começa a ousar em um truque psicológico ou outro na tentativa de penetrar na mente do sequestrador. Vale ressaltar, aliás, a excelente cenografia, que transforma todo o ambiente do cativeiro em uma excelente metáfora para essa mente doentia de Kevin.
É interessante que, desde o início, percebemos certo tirocínio em Casey. Algo mexe com ela de forma diferente em tudo aquilo (perceba a forma como ela rapidamente aconselha sua amiga Márcia a escapar da primeira investida de Kevin, agora assumido na personalidade "Dennis" – não se preocupe, não vou revelar mais do que isso). Infelizmente, por mais que Casey e sua trupe tentem, tudo leva a crer que nunca será possível saber tudo sobre Kevin/Dennis/Hedwig/Patrícia e todas as outras personalidades.
Inclusive, a personagem de Betty Bluckey, Dra. Karen Fletcher, de força dramática um pouco menor, até tenta nos auxiliar nessa dissecação das personalidades. Mas existe sempre uma porta a mais a ser aberta. E de soslaio, indícios de que algo mais brutal está brotando daquela moçoroca de personalidades – como o pôster já avisa, muito possivelmente uma 24a personalidade.
Shyamalan, como sempre, entrega uma direção instigante. O uso constante de câmeras subjetivas (as mais hitchcockianas, como os olhares através de buracos de fechadura, frestas de portas e de armários, são sempre as mais prazerosas), ou em planos móveis (os famosos "travellings") conduzem sempre o fio da atenção em meio a diálogos reveladores – em que pese num ritmo um pouco mais lento dessa vez.
Mas o grande responsável por jogar o diretor de volta aos holofotes após os desastres de público e crítica que se tornaram as últimas duas ou três de suas grandes produções é o roteiro. Shyamalan levou algo em torno de 10 anos para escrevê-lo, instigado pelos estudos em psicologia que sua esposa vinha levando desde então. Aliás, sabendo disso, torna-se ainda mais interessante que o filme tenha repercutido no público de hoje, uma década depois.
Existem algumas falhas básicas, como ter escalado três garotas como vítimas, mas fazer um bom uso narrativo de apenas uma – nossa protagonista. As outras duas são estereotipadas, sem uma base de construção (não sabemos absolutamente nada sobre elas – exceto que são perfeitinhas demais), e mal sabemos seus nomes – algo que sempre indica um futuro não muito promissor na trama. Mas, situando o filme dentro do gênero a que se propõe, nada que não possa ser perdoado.
Muita gente ficou perdida com o final do filme. Não é para menos. Existe ali uma referência surpresa a uma de suas outras obras – algo que o diretor fez questão de comentar em sua mais recente visita ao Brasil. Aliás, acostumados que estamos a grandes viradas de enredo ("plot twists"), que se tornaram a marca registrada de Shyamalan (as mais famosas, em "Sexto Sentido" e "A Vila", realmente são de cair da cadeira), o fim desse filme perde um pouco a força ao se escorar apenas nessa "surpresa". Pessoalmente, saí arrepiado. Mas, vá lá, assista e julgue por si.
A mensagem que fica é que M. Night Shyamalan está de volta na cena. "Os que sofrem são os mais evoluídos", diz uma das facetas de Kevin. Agradando a público e crítica (leia-se, faturando alto sem perder a qualidade), quando as luzes da sala de projeção se acendem, temos uma certeza: vem mais coisa boa por aí.
João Paulo Lopes Tito é advogado e estuda Cinema e Audiovisual na UEG

Brás Cubas já alertava sobre ideias fixas, "Deus te livre, leitor, de uma idéa fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho", mas a verdade é que sem uma ideia fixa sequer o próprio Brás Cubas, personagem dos mais importantes para a literatura brasileira, existiria. A literatura talvez existisse, mas seria ela privada de grandes obras, histórias cujas ideias fixas dos protagonistas são o centro dos enredos e, em alguns casos, também as peripécias, os twists, as reviravoltas. Talvez por isso uma lista que reúne as dez melhores ideias fixas da literatura seja necessária, afinal, quem não tem uma obsessão ou outra, uma daquelas ideias que, de súbito, dá um salto, estende braços e pernas, até tomar a forma de um X e diz: decifra-me ou devoro-te? Não foi uma ideia do tipo que nos levou ao desenrolar da história de Raskolnikóv? ou de Dante? ou mesmo de Fausto?, para o bem ou para o mal? Mas, vá lá, uma ideia fixa não é exatamente uma obsessão. Esta é mais poderosa, é um querer levado a níveis nunca sentidos. É provável que a jovem escritora estadunidense Sara Flannery Murphy não tenha pensado em ideias fixas, quando fez a lista publicada no britânico The Guardian. Trata-se de uma boa seleção, mas que, como todas as listas, deixa muitos títulos interessantes de fora. Veja: Moby Dick, de Herman Melville Ninguém personifica melhor a obsessão do que Capitão Ahab. Enquanto persegue o cachalote branco que lhe arrancou a perna, ele queima na busca por vingança. É a obsessão em estado mais puro, que leva ao sofrimento não apenas o próprio Ahab, mas toda sua tripulação. O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë Quando se trata de relacionamento, nenhuma obsessão é maior que a de Heathcliff por Catherine. Não é ele quem pede ao coveiro que retire uma parte lateral do caixão de Catherine para que ele, quando morrer, seja enterrado a seu lado também sem uma parte do caixão para que seus corpos estejam próximos? Lolita, Vladimir Nabokov “Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.” Precisamos ir além do primeiro parágrafo para demonstrar o argumento? Acho que não. Louca obsessão, Stephen King A tradução de "Misery" (título original) já deixa à mostra do que se trata o livro. A história de King mostra como Annie Wilkes, uma leitora obcecada por uma personagem, aprisiona e tortura o autor do livro para que ele crie um final melhor para seu livro. Anotações sobre um Escândalo, Zoë Heller O centro da história parece ser o caso proibido entre Sheba, uma professora na casa dos 40, e um aluno de 15 anos, mas trata, na verdade, da obsessão de outra professora, Barbara, por Sheba. É por meio dessa relação que a autora habilmente consegue mostrar como uma amizade próxima pode deslizar da co-dependência para algo tóxico e torcido. Estranha presença, Sarah Waters A história narra a obsessão de Faraday, o filho de uma empregada que se torna médico, pelos Ayres, uma família que antes era rica e que entra em decadência. Faraday se torna médico da família, depois conselheiro, e, "à medida que o romance avança", diz Sara Flannery Murphy, "é difícil dizer se Faraday está à procura de escalada social ou em busca de vingança". Possessão, A.S. Byatt Roland Michell, um estudioso, é obcecado pelo poeta há muito morto Randolph Henry Ash e descobre um documento que sugere o caso de amor ilícito entre o poeta e uma mulher. Fascinado, ele tem que descobrir a história completa. A história retrata a obsessão em diferentes níveis: romântico e intelectual, passado e presente. A vegetariana, Han Kang O livro, que é composto por três novelas, conta a história de uma coreana que decide não comer mais carne e, por isso, precisa enfrentar a reação da sociedade a qual pertence. É uma história inquietante, que explora a obsessão como um desejo onírico, primordial, e que pode desfazer famílias inteiras. Wilful Disregard, Lena Andersson O livro da autora sueca ainda não foi traduzido para o português. A história trata de Ester, uma intelectual que é obcecada por um artista. Sara Flannery Murphy diz: "Eu li Wilful Disregard cheia de embaraço e admiração pela prosa nítida de Andersson. Ester é elouquecedora, adorável... e reconhecível para qualquer um que já teve um dia arruinado por uma mensagem de texto sem resposta". You, Caroline Kepnes Também sem tradução em português (mas com previsão de lançamento no Brasil pela Rocco), o livro narra a obsessão de Joe por Beck. Trata-se de um stalker, um perseguidor da era digital.