Odair José, Cólera e Pato Fu atraem fãs de diferentes gerações ao Noise

20 agosto 2017 às 18h50

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Do hino Pela Paz, cantado aos berros no meio da roda punk, público também vibrou com o sucesso brega Eu Vou Tirar Você Desse Lugar e o pop rock mineiro

As atrações principais da segunda noite do 23º Goiânia Noise protagonizaram três momentos únicos no sábado (19/8) no Jaó Music Hall, no Setor Jaó. Enquanto os fãs da banda paulistana de punk rock Cólera subiram na grade e abriram a roda enquanto vibravam com hinos como Medo e Pela Paz, um público mais maduro se emocionava com os sucessos na voz do mestre goiano do rock brega, o cantor Odair José, de Morrinhos (GO). Depois foi a vez de uma plateia que misturava parte dos dois públicos e outro número de fãs que esperou até 1h17 para ver o grupo mineiro de pop rock Pato Fu de perto.
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Com uma surpreendente pontualidade, os primeiros shows começaram na tarde de sábado com a trinca goiana Templates, OK Johnny e Revolted. Ainda com pouco público, a paraense The Baudelaires mostrou seu power pop que pode muito bem ser rotulado no meio daquele limbo que abrange quase todo mundo chamado indie rock. Apesar de ainda muito cedo, o grupo formado por Marcelo Kahwage (guitarra e vocal), Andro Baudelaire (guitarra e vocal), Marcelo Damaso (baixo) e Netto Batêra (bateria), que substituiu Bruno Oliveira em Goiânia, deixou uma boa impressão com melodias e vocais bem amarrados.
Um pouco mais tímida do que o habitual, a boa banda anapolina La Morsa subiu ao palco 1 por volta de 18h30 e mostrou seu rock’n’roll que bebe de diferentes vertentes, que às vezes mergulha na psicodelia e lá fica e outros momentos em que o que mais importa é o rock dançante e mais vibrante. Em seguida veio o Desastre, às 19h04, com todo seu peso e agressividade. Na ativa desde 1996, o grupo punk liderado pelo vocalista Wilton Dias, o Wil, gastou 26 minutos dos 30 minutos que tinha direito para tocar com músicas de seu último EP, Espiral de Barbáries (2017), e outras de diferentes fases da banda.
Como ainda tinham tempo, coube até um cover de Breaking the Law, da banda Judas Priest. O Desastre se apresentou com uma bandeira contra a dita supremacia branca com a frase “Fora nazi” escrita e uma suástica riscada. Wil falou sobre o que ele considera um momento controveso para o rock, no qual o estilo que já foi um grito de lutra contra a ditadura militar se tornou um espaço para pessoas defenderem figuras que têm discursos inaceitáveis. “Foda-se Bolsonaro, bolsominions e bolsomitos.”

De Porto Alegre (RS), a Suco Elétrico mostrou boa presença de palco, principalmente do vocalista Alexandre Rauen, que é também o responsável pela bateria no disco Se o Futuro Permitir, lançado no final de junho. A base de rock em português fica bastante atrativa ao vivo. O quinteto deixou uma boa impressão em sua participação no sábado do Goiânia Noise.
Uma das principais representantes do punk rock goiano, a banda Señores tocou uma música a menos quando uma das cordas da guitarra do vocalista Rafael Saddi arrebentou no início de Revolta no Terminal. Com um pequeno grupo de fãs e amigos reunidos na frente do palco, o trio que tem também Fred Saddi no vocal e baixo e Maurício Ramone na bateria e vocal contou com a participação do vocalista do Cólera, Wendel, na canção Recua Polícia. Balões de Ar, A Lei da Gravidade e Ocupem a Cidade fizeram parte do repertório apesentado no show do Noise. O trio fechou o show com O Operário Que Não Virou Presidente, do disco Paz Entre Nós, Guerra aos Señores (2007).
O power trio argentino Las Diferencias veio a Goiânia com seu segundo disco, Al Borde del Filo (2016). Seu rock cantado em espanhol tem força, seu som estilo garagem com influência dos anos 1970 impressiona e quem estava no Jaó Music Hall às 20h31 ganho um bom show. Nicolás Heis na bateria, Alejandro Navoa no baixo e Andrés Robledo no vocal e guitarra mostraram que não há diferença, nem física ou mesmo de idioma, quando se trata de música.
Conhecido por sua carreira na banda de emocore Dance of Days, o vocalista Nenê Altro (SP), de 44 anos, veio a Goiânia neste sábado relembrar os tempos de Nenê Altro & O Mal de Caim com seu parceiro, o guitarrista Edu Krummen. Mas agora com seu projeto solo, que rendeu o disco Classe de 72, ano de nascimento de Nenê. Com um som que flerta com a onda dark e indie do pop rock dos anos 1980, ele mostrou canções desse disco que marca sua estreia em uma carreira só dele.
Acompanhado pela esposa, que cantou todas as músicas atrás de uma das caixas de retorno no palco, Nenê Altro mostrou composições como Um Bunker para Dois, feita em homenagem à companheira, e encerrou sua participação no Noise com Geração Coca-Cola, do Legião Urbana. É um trabalho que evidencia o lado poeta do artista, com uma veia muito mais pop rock do que os outros trabalhos em bandas de hardcore das quais fez parte.

Monstros do Ula Ula (RJ), banda que há muito não voltava a Goiânia – eles participaram do Bananada em 2004 -, trouxe na bagagem o recém-lançado disco A Balada do TikiSiriPolvo (2017). O grupo, que tem Bacalhau (ex-Planet Hemp e Autoramas) na bateria, conta com o enigmático Lucky Leminsky no vocal, Diego Diba e Gus Santoro nas guitarras, além de Olmar Lopes no baixo. Eles, que se definem como “homens das cavernas”, fizeram uma mistura de rock e surf music com letras pra lá de malucas como Não Posso Ficar e O Médico e o Monstro. Ao se despedir do público, Lucky soltou mais uma vez a saudação “namastê”.
Ao mesmo tempo em que a clássica Mechanics subiu ao palco 2, a representante do hardcore melódico Caffeine Lullabies gravou uma música nova em sessão de áudio ao vivo no Estúdio Sonoro. Em seguida, fizeram um show com outras canções inéditas, como a recém-lançada Sacred Lungs, além de algumas faixas do disco The Closest Thing to Death (2015) – Ozymandias, Paradoxical, Staring at the Ceiling e Queen of Seas.
“Pela paz em todo mundo”
O bom show da Caffeine Lullabies continuou enquanto a histórica Cólera ganhou o público com “Às vezes tenho medo/Às vezes sinto minha mão/Presa pelo ar“, primeiros versos do hino punk Medo. Depois que o vocalista Redson Pozzi morreu, em 2011, a banda resolveu continuar e colocou Wendel Barros, amigo de Redson, no seu lugar em 2012. A formação atual tem dois integrantes antigos, Carlos Pozzi, o Pierre, na bateria (desde 1979) e Valdemir Pinheiro, o Val, no baixo (desde 1980), Wendel no vocal e Fábio Belluci na guitarra (desde 2014).
Além de Medo, outros clássicos da banda, como Dia e Noite, Noite e Dia, Viaduto, Minha Mente!, São Paulo e Humanidade fizeram muita gente ficar colada na grade do palco e mantiveram a roda viva em todo o show. Quando a apresentação chegou ao fim, com Pela Paz, cantada aos berros pelo público: “Mas quem se importa?/Mas quem se importa?/Eu me importo/Eu me importo/Eu me importo/Pela paz/Pela paz/Pela paz em todo mundo!“.

Tirando o fato de que um homem de boné branco no público passou o show inteiro ameaçando os antigos integrantes Val e Pierre – sabe-se lá o motivo -, o resto dos fãs pediram mais uma música quando o tempo do show do Cólera acabou.
Dos hinos punk, o Goiânia Noise foi tomado pelo rock balada brega sensual da cantora Tati Bassi (SP), que ganhou a plateia sua voz e gestual marcantes. “Cheguem bem pertinho de mim para vocês sentirem meu calor e eu sentir o calor de vocês”, pediu Tati. O público atendeu e dançou ao som de Alma, Não Vale Não, Desculpe Meu Bem, Antes Só do que Mal Acompanhado, Filho Único (Erasmo Carlos), Nada e Não Basta Querer, do disco Não Basta Querer (2017).
Antes de cantar Nada, Tati Bassi dedicou a música “a vocês mulheres, que têm que enfrentar o machismo todo dia e ainda vir com sorrisinho”. “Absolutamente nada vai nos deter”, declarou a cantora.
Mestre Odair
“Eu não tocava em Goiânia quase há 20 anos.” Bastante à vontade no palco 2 do Goiânia Noise, Odair José esbanjou simpatia e sucessos que uniram várias gerações na plateia, com uma maioria acima de 30 anos. Depois de receber um diploma de honra ao mérito pelos trabalhos prestados a música brasileira, concedido pelo Sindicato dos Músicos de Goiás, Odair abriu seu show com Dia 16. Em seguida, o goiano natural de Morrinhos, cantou Carne Crua, do mais novo disco Gatos e Ratos (2016).
A Noite Mais Linda do Mundo (A Felicidade) veio na sequência. E Odair continuou a encantar o público com A Culpa É do Henrique. “Desde 1969 eu falo que temos que respeitar o trabalho da puta, garota de programa e acompanhante”, explicou Odair José. Quando veio Vou Tirar Você Desse Lugar era possível encontrar até lágrimas na plateia. Gatos e Ratos trouxe uma novidade para o meio dos hits.

Depois de vários gritos e pedidos do público, Não Me Venda Grilos foi cantada por Odair José. A plateia quase ganhou mais um presente quando o cantor puxou os dois primeiros versos de Liberdade. Mas logo pulou para Esta Noite Você Vai Ter Que Ser Minha. Depois vieram Fera, Dê Um Chega Na Tristeza, Cobrador de Impostos, Nunca Mais e Que Loucura.
“Cadê você/Que nunca mais apareceu aqui?“, do refrão de Cadê Você?, tornaram o Jaó Music Hall em uma voz só. O público até pediu mais uma. Odair José respondeu educadamente e se despediu: “Agora tem o Pato Fu”.
Made in BH
Já era 1h17 de domingo (20) quando John Ulhoa (guitarra, violão e vocal), Fernanda Takai (guitarra, violão e vocal), Richard Neves (teclados), Ricardo Koctus (baixo) e Glauco Mendes (bateria) subiram ao palco principal do Goiânia Noise. O show começou com Cego Para as Cores e Eu Era Feliz, do disco Não Pare Pra Pensar (2014).
A banda de Belo Horizonte (MG), que divide os trabalhos ao vivo com a turnê do último álbum de estúdio com o anterior, Música de Brinquedo (2007), encerrou as atividades no palco com a primeira parte do projeto com instrumentos miniatura e brinquedos de criança no dia 5 de agosto em show gratuito na Praça da Assembleia, na capital mineira.
Por enquanto apenas com o show considerado adulto na estrada, o Pato Fu lançou na sexta-feira (18) a música Palco, de Gilberto Gil, que fará parte do disco Música de Brinquedo 2. Além dela, há a previsão de mais dois singles a serem lançados nos dias 25 de agosto e 1º de setembro. Voltando ao show da madrugada de domingo em Goiânia, a terceira a entrar no repertório foi Perdendo Dentes, do registro Isopor (1999), que marcou o primeiro grande coro do público na apresentação.
Em seguida veio Ando Meio Desligado, dos Mutantes, gravada pelo Pato Fu no disco Ruído Rosa, em 2001. De volta ao último disco, veio Crédito ou Débito. Eu Sei, do Legião Urbana, foi a vez do álbum Televisão de Cachorro (1998). Ninguém Mexe Com o Diabo retomou o repertório do disco mais recente dos mineiros. O Isopor voltou a ser lembrado em Goiânia com a canção Made in Japan, que Takai canta em japonês com refrão em inglês. Entre Ninguém Mexe Com o Diabo e Made in Japan, John puxou o refrão de Capetão 66.6 FM, do Tem Mas Acabou (1996).
O Ruído Rosa teve mais espaço na apresentação com a canção Eu, muito comemorada pelo público do Goiânia Noise. A bela Canção Pra Você Viver Mais, de 1998, manteve a plateia cantando junto com Fernanda Takai. Do mesmo ano, Antes Que Seja Tarde também foi acompanhada em coro.
Takai disse que o momento que o País, para sair dessa crise, pode encontrar na música um caminho. Em resposta há plateia, que começou a gritar um tímido “Fora, Temer”, a vocalista afirmou que é preciso tirar muito mais gente do que só o presidente da República para as coisas melhorarem. E aproveitou a canção Depois, do disco Isopor, para emendar um “Fora, Temer” no meio da letra. O verso “E mais nenhum compromisso” virou um grande “Fora, Temer” puxado pela cantora.
Ao puxar o riff de Sobre o Tempo no violão, John anunciou o fim do show. “Eu adorei esse grito ‘Fora, Temer, fica, Takai’, mas eu adoraria que fosse ‘Fora, Temer, fica, querida’, mas a gente vive uma grande utopia”, comentou Takai. Nesse momento, uma vaia baixa dividiu espaço com aplausos. Fora do setlist, o Pato Fu emendou Simplicidade, do disco Toda Cura Para Todo Mal (2005), que ganhou a versão “Ela pinga e empadão goiano” no lugar “Ela pinga e farinha“.
No bis, o show ganhou mais duas músicas. A primeira foi O Filho Predileto de Rajneesh, do álbum Isopor. Na última, Uh Uh Uh, Lá Lá Lá, Ié Ié!, do Toda Cura Para Todo Mal, o baixista Ricardo Koctus, ao ser apresentado, puxou o refrão de We Will Rock You, do Queen, e o baterista Glauco Mendes, que por 18 anos foi Glauco Nastácia, foi lembrado por Fernanda como “ele que foi o baterista de uma das melhores bandas do Brasil, o Tianastácia”.
Programação
Neste domingo (20), o Goiânia Noise chega a sua última noite, com a banda Raimundos no último show. Saiba mais.
Domingo – 20/08
Palco 1
17:00 Acéfalos (GO)
18:00 DogMan (GO)
19:00 Os Gringos (MG)
20:00 Stoned Jesus (UKR)
21:00 Sheena Ye (GO)
22:20 Raimundos (DF)
Palco 2
17:30 Light River Company (GO)
18:30 Red Mess (PR)
19:30 The Dirty Coal Train (POR)
20:30 Rocca Vegas (CE)
21:30 Relespública (PR) + Edgard Scandurra (SP)
Estúdio Noise: 19h Chef Wong’s * 20h Rural Killers * 21h Armum * 22h Woolloongabbas
Mais informações (clique aqui).
Veja mais fotos do segundo dia de Noise: