Opção cultural

Evento conta com a apresentação de espetáculos com grupos de Anápolis, Goiânia, Brasília e São Paulo, além de seminários e oficinas, tudo gratuito
[caption id="attachment_119341" align="alignnone" width="620"] Os palhaços Capivara e Fiofó, da Cia Pé de Cana, viajam o Brasil numa Kombi montando um pequeno picadeiro; apresentarão o espetáculo “Circo de Doisdo”, no domingo, às 17h, no Parque Ipiranga | Foto: Ricardo Avellar[/caption]
Com fomento do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás, os grupos Anthropos Cia de Teatro e Oliveira e Santos Caetano realizam a 3ª edição do “Razões para Sonhar – Festival de Teatro para Infância e Juventude”, que já está ocorrendo em Anápolis. Vai até 28 de abril.
A programação completa contará com a apresentação de espetáculos com grupos de Anápolis, Goiânia, Brasília e São Paulo, além de seminários e oficinas, tudo gratuito.
O evento tem como interesse principal estimular o apreço pela cultura no público infanto-juvenil. “Muito além de ser uma mostra de teatro, o ‘Razões para Sonhar’ tem como objetivo refletir sobre a importância da educação do sensível para crianças, adolescentes e jovens como possibilidade para o reencantamento do mundo”, diz Constantino Isidoro, organizador do festival.
Segundo Isidoro, a partir de sexta-feira, cinco espetáculos serão realizados gratuitamente e abertos ao público. Na sexta, os grupos Corpo Composto, Solo de Dança e Cia Mega Break Crew vão apresentar dois espetáculos no Teatro IFG: “AdoleSendo”, às 14h; e “Concreto”, às 15h.
No sábado, o festival receberá o grupo La Casa Incierta (DF), com o espetáculo “Café Frágil”, destinado a bebês, em dois horários no Teatro Municipal de Anápolis, às 10h e 16h. O Anashopping também será palco de espetáculos, com quatro apresentações de “Azulindo no Teatro de Bonecos Serafín”, da Cia Serafín Teatro, às 13h, 14h, 15h e 16h.
Para encerrar a programação artística, no domingo, às 17h, no Parque Ipiranga, a Cia Pé de Cana, de Iracemápolis (SP), vai apresentar o espetáculo “Circo de Doisdo”, conduzido pelos palhaços Capivara e Fiofó. Eles viajam o Brasil a bordo de uma Kombi montando um pequeno picadeiro de circo por onde passam. Malabarismo, acrobacias e improvisos prometem levar muita diversão ao público.
Serviço
O quê: 3º Razões para Sonhar – Festival de teatro para Infância e Juventude
Quando: Até 29/04
Onde: Anápolis (em várias localidades)
Quanto: Gratuito
Seminários de Artes para Infância e Juventude
Evento: Palco da Informação - Qualidade em arte para infância e juventude – que bicho é esse?
Conferencista: Sandro di Lima
Mediadora: Elza Gabriela
Data: 17/03
Local: Park Imperial Hotel – Rua Oscar Monh, nº 250, Bairro Jundiaí, Anápolis (GO)
Horário: 9h
Inscrições: Até 14/03 (acesse o formulário aqui)
Evento: Palco da Resistência - Mediação Cultural para as artes da cena – experiências contemporâneas de formação de plateia
Conferencista: Glauber Coradesqui
Mediador: Constantino Isidoro
Local: Park Imperial Hotel – Rua Oscar Monh, nº 250, Bairro Jundiaí, Anápolis (GO)
Data: 17/03
Horário: 14 horas
Inscrições: Até 14/03 (acesse o formulário aqui)
Cursos de qualificação técnica
Curso: Direção Teatral para a Infância e Juventude
Local: SESC
Dias: 17/03, 24/03, 07/04, 14/04 E 28/04 (sempre aos Sábados)
Horário: 9h às 18h
Inscrições: Até 14/03 (acesse o formulário aqui)
Cursos: Capacitação para Educadores e Mediação Cultural para as Artes da Cena
Local: A confirmar
Data: 17/03, 24/03, 07/04, 14/04 E 28/04 (aos Sábados)
Horário: 9h às 18h
Inscrições: Até dia 14/03 (acesse o formulário aqui)

Hollywood pode achar que suas produções serão sempre melhores do que as dos estrangeiros, ao se basearem na mesma fonte, mas os filmes que saíram do livro de Stieg Larsson, publicados há dez anos, são equivalentes, e a versão sueca por vezes é melhor

Além de analisar com fineza os mitos e mostrar como se atualizam na literatura moderna e contemporânea, Vera Tietzmann oferece em seu no livro uma biblioteca de referências, principalmente da rica produção brasileira

O livro “A Psicanálise nas Tramas da Cidade” traz uma série de debates sobre a subjetividade no cenário urbano, por entender que, se o homem é a própria urbe, tende a ser a pluralidade latejando no inconsciente o disparate do mundo

“Decifra-Me ou Te Devoro!”, novo livro da escritora e professora aposentada da UFG, nos ensina a reivindicar a parte que nos cabe do latifúndio grego, apontando os elementos formadores de cultura e nos convencendo do poder da leitura

De volta ao lar, depois de um mês pelos caminhos da América, encerro estas crônicas de viagem. Exausto, sob os efeitos da "síndrome de Stendhal", recolho-me à doçura feminina, onde encontro a Beleza e o convite à sensibilidade e à conversão, pois elas nos faz seres melhores, pois como diz Adélia Prado: "mulher é desdobrável"

Com programação diversa nos últimos três dias, festival traz nomes de diferentes vertentes da música independente nos dias 11, 12 e 13 de maio

Anúncio de todas as atrações será feito ao vivo pelas redes sociais do festival a partir das 19 horas, com preços promocionais na venda do passaporte Ouro

Das 13 estatuetas a que concorria, o filme de Guillermo del Toro levou quatro, mas duas delas têm um grande peso: Direção e Filme; ganhou ainda Melhor Design de Produção e Trilha Sonora
[caption id="attachment_118662" align="alignnone" width="620"] “A Forma da Água” levou quatro estatuetas, das 13 a que concorria, entre elas, Melhor Filme e Melhor Diretor; não vai calar a boca de seus críticos, mas volta para casa de cabeça erguida[/caption]
A noite do Oscar deste ano não teve grandes discursos políticos, como se esperava, nem grandes surpresas nas premiações. “Três Anúncios para um Crime”, que agitou as casas de apostas como favorito na categoria de Melhor Filme, perdeu para “A Forma da Água”, que também levou Melhor Direção, Trilha Sonora e Design de Produção (Direção de Arte). Mas tudo isso estava mais ou menos dentro das expectativas.
O filme de Guillermo del Toro concorria em 13 categorias. Neste sentido, ficou devendo. Mas ninguém se saiu bem no quesito número de prêmios. A segunda película com o maior número de indicações (oito), “Dunkirk”, levou apenas três prêmios técnicos (Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Montagem).
Terceiro filme mais indicado (sete), “Três Anúncios para um Crime” ficou com os Oscars de Melhor Atriz (Frances McDormand) e Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell). E só.
O Brasileiro Carlos Saldanha, diretor da ótima animação “O Touro Ferdinando” (produção americana), estava na festa com a expectativa de levar para casa o prêmio da categoria, mas quem ganhou foi “Viva – a Vida É um Festa”.
Este ano, a maior festa do cinema passou discretamente. O movimento Time’s Up (contra a violência sexual e a opressão feminina no universo corporativo do cinema e das empresas, de modo geral) divulgou um vídeo com depoimentos de artistas sobre diversidade, mas os discursos de aceitação dos prêmios da noite foram pacíficos.
Frances McDormand foi quem falou com mais ênfase em seu discurso de aceitação do prêmio de Melhor Atriz, e chamou as demais artistas para o palco, incluindo a diretora e roteirista de “Lady Bird”, Greta Gerwig, que não ganhou nada, e a diretora de fotografia de “Mudbound”, Rachel Morrison, a primeira mulher a ser indicada nesta categoria e toda a história do Oscar, que também não foi premiada.
O grande momento da diversidade esteve na vitória de filmes como “A Forma da Água”, que fala de poder e traz dois personagens femininos muito importantes na trama (Sally Hawkins e Octavia Spencer), “Viva – a Vida É uma Festa”, animação cujo tema é a cultura mexicana e sua memória dos mortos, e “Uma Mulher Fantástica”, como Melhor Filme Estrangeiro (Chile) – com direção de Sebastián Lelio, que conta a história de uma mulher (interpretada pela atriz transexual Daniela Vegas) que luta contra a opressão da família de seu marido morto.
Uma sombra de surpresa ficou com o Oscar de Melhor Roteiro Original para o filme “Corra!”, de Jordan Peele, deixando para trás produções como a própria “A Forma da Água”, “Lady Bird” e “Três Anúncios para um Crime”.
Veja lista completa dos vencedores do Oscar 2018
Melhor Filme
“A Forma da Água”, com produção de J. Miles Dale e Guillermo del Toro.
Melhor Direção
Guillermo del Toro (“A Forma da Água”).
Melhor Atriz
Frances McDormand (“Três Anúncios para um Crime”).
Melhor Ator
Gary Oldman (“O Destino de Uma Nação”).
Melhor Ator Coadjuvante
Sam Rockwell (“Três Anúncios para um Crime”).
Melhor Atriz Coadjuvante
Allison Janney (“Eu, Tonya”).
Melhor Roteiro Original
Jordan Peele (“Corra!”).
Melhor Roteiro Adaptado
James Ivory (“Me Chame pelo Seu Nome”).
Melhor Animação
“Viva – A Vida é uma Festa”, de Lee Unkrich e Darla K. Anderson.
Melhor Documentário em Curta-Metragem
“Heaven is a Traffic Jam on the 405”, de Frank Stiefel.
Melhor Documentário em Longa-Metragem
“Ícaro”, de Bryan Fogel e Dan Cogan, documentário da Netflix.
Melhor Filme Estrangeiro
“Uma Mulher Fantástica”, do Chile, com direção de Sebastián Lelio.
Melhor Curta-Metragem
“The Silent Child”, de Chris Overton.
Melhor Curta em Animação
“Dear Basketball”, de Glen Keane e Kobe Bryant.
Melhor Canção Original
“Remember Me”, de Viva – “A Vida é uma Festa”, composta por Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez. Cantada por Miguel, cantor e compositor negro americano.
Melhor Fotografia
“Blade Runner 2049”, com direção de fotografia do britânico Roger Deakins.
Melhor Figurino
“Trama Fantasma”, assinado por Mark Bridges.
Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo
“O Destino de Uma Nação”, com a assinatura de Ivana Primorac, Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick.
Melhor Mixagem de Som
“Dunkirk”, com mixagem assinada por Mark Weingarten, Gregg Landaker e Gary A. Rizzo.
Melhor Edição de Som
“Dunkirk”, com edição de Richard King e Alex Gibson.
Melhores Efeitos Visuais
“Blade Runner 2049”, com efeitos assinados por John Nelson, Paul Lambert, Richard R. Hoover e Gerd Nefzer.
Melhor Design de Produção (Direção de Arte)
“A Forma da Água”, com design de Paul Denham Austerberry (Decoração de Cenário de Shane Vieau e Jeff Melvin).
Melhor Montagem
“Dunkirk”, com montagem de Lee Smith.
Melhor Trilha Sonora
“A Forma da Água”, com trilha do compositor francês Alexandre Desplat.

Brad Meltzer é um autor de thrillers nova-iorquino bem conhecido nos EUA, com mais de seis milhões de livros vendidos; para vender mais um pouco, publicou uma bela história sobre como encontrou o fio condutor da trama de seu novo romance
[caption id="attachment_118655" align="alignnone" width="620"] O Pentágono foi atingido por uma avião que caiu em 11 de setembro de 2001, matando todos a bordo, em uma série de ataques terroristas cuja maior tragédia ocorreu em Nova York com a colisão de dois aviões contra as Torres Gêmeas matando mais de 3 mil pessoas[/caption]
O escritor americano Brad Meltzer, autor de “O Jogo” e co-autor de um dos livros da série “Buffy, a Caça-Vampiros”, publicou um texto no jornal “The Washington Post” contando uma história incrível sobre como ele encontrou o fulcro da trama de seu novo romance “The Escape Artist”.
Ele foi à base da Força Aérea americana de Dover, em Delaware, o local onde estão enterrados, ou guardados, os corpos de quem fez parte dos casos mais secretos dos governos americanos. “Dover é um lugar mais cheio de segredos do que podemos imaginar”, diz o escritor.
É nessa base que estão os corpos dos mariners vítimas do ataque suicida contra o destroyer USS Cole, no Iêmen, em 2000. Os corpos dos astronautas da nave Columbia que se desintegrou no contato com a atmosfera terrestre, ao voltar de viagem à órbita da Terra, em 2003, também estão lá.
A base de Dover guarda os restos mortais de mais de 50 mil soldados americanos e agentes da CIA, mortos em guerras como Vietnã, Afeganistão e Iraque. Os corpos das vítimas do atentado de 11 de setembro de 2001, que estavam no avião que colidiria contra o Pentágono também se encontram lá.
O segredo não é a localização desse lugar, que é sabido por toda pessoa bem informada. O segredo, segundo Meltzer, é uma pequena faísca que deu ignição ao motor de sua imaginação: ele perguntou para uma das pessoas que o acompanhavam na visita se haveria algum jeito de alguém antes de morrer deixar uma mensagem secreta no próprio corpo.
O encarregado pelos corpos disse que se uma pessoa está num avião em queda livre, se ela escrever um bilhete e engoli-lo, o estômago tem líquido suficiente para proteger o papel do fogo que queimará o corpo, caso o avião pegue fogo.
Mensagem na garrafa
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Brad Meltzer na divulgação de um de seus livros, "Heróis para Meus Filhos"; seu novo romance, “The Escape Artist” (O artista da fuga, em tradução livre), será lançado no dia 6 de março[/caption]
“‘É uma espécie de mensagem na garrafa, e isso de fato ocorreu’”, disse o oficial. “Foi no Voo 77, de 11 de setembro de 2001” (avião que colidiria contra o Pentágono). “Aparentemente, quando o avião estava caindo, uma das vítimas realmente escreveu uma nota, encontrada no estômago de uma das vítimas pelo agente do necrotério de Dover”, diz Brad Meltzer.
Obviamente, o oficial não falou para o escritor que mensagem seria. Obviamente, há a possibilidade de este oficial, encarregado dos corpos, ter pregado uma peça imaginativa a um homem que vive da imaginação. O fato é que Meltzer ficou pensando nessa possibilidade, e que tipo de mensagem seria escrita por que tipo de pessoa.
Deveria ser alguém que soubesse que o líquido no estômago é suficiente para preservar uma informação em seu interior, até mesmo do fogo que queimaria todo o resto do corpo.
Não dá para saber que tipo de trama Meltzer usou em seu livro, que será lançado na terça-feira nos EUA. Seu texto é um chamativo para sua literatura, mas é uma bela história.
Sobre o conteúdo da mensagem real, Meltzer pensou que só seria escrita por um oficial para informar sobre as razões da queda do avião em chamas. Ele mesmo perdeu um amigo no 11 de Setembro. Mas depois cogitou que esse tipo de coisa poderia acontecer em circunstâncias banais.
O que mais queremos na vida é nos conectarmos com o outro. Nada impediria que alguém esclarecido, numa situação dessas, escrevesse um bilhete para dizer que ama outrem pela simples iminência do fim.
Agora, toda vez que viaja de avião, Meltzer fica imaginando o que escreveria para sua família, caso o avião, de repente, comece a pegar fogo.

De forma inédita, Marcus de Martini organiza e traduz pela Editora UFSC antologia bilíngue do poeta inglês, que inspirou muitos escritores modernos e cuja importância tem sido muitas vezes comparada à de William Shakespeare

Em “Como Funciona a Ficção”, autor dá uma aula deliciosa sobre os elementos essenciais da narrativa e o modo como são operados dentro do texto, citando vários craques da linguagem desde Flaubert

Apesar das severas críticas de gente grande do ramo, “A Forma da Água”, fábula política dentro de uma história de amor, deve ser lembrado como a narrativa que mostra como o poder trata com desprezo aquilo que é diferente

Desde de que lançou as bases da teoria que dominou o século 20 em vários campos do saber, seu autor morreu sob o ataque de muitos, e continua sendo combatido na mesma proporção que é defendido por seus seguidores

Filme “Eu, Tonya” conta a história de atleta que conquistou a simpatia do público mas deixou os narizes dos juízes torcidos por distanciar-se da imagem ideal de “patinadora princesa”
[caption id="attachment_118349" align="alignnone" width="620"] Atriz Margot Robbie interpreta Tonya Harding no cinema, papel com o qual concorre ao Oscar de Melhor Atriz na noite do próximo domingo[/caption]
Fica bem mais interessante assistir aos Jogos Olímpicos de Inverno depois de conhecer a história de Tonya Harding, patinadora da equipe olímpica americana de 1994. A saga da brasileira Isadora Williams esse ano em PyeongChang, por exemplo, toma contornos épicos! Para quem sempre foi entusiasta da patinação no gelo então, o filme é um prato cheio.
“Eu, Tonya” (2017) é o mais novo filme do diretor Craig Gillespie, e adota o tom de docudrama para recontar a polêmica história da atleta americana. Gillespie ficou conhecido pelo filme “Garota Ideal”, de 2007. Na verdade, não tão conhecido assim, o que o torna uma agradável surpresa dentre os lançamentos deste ano.
No início da década de 1990, Tonya (interpretada de forma muito competente por Margot Robbie) teve uma rápida ascensão à fama depois de se destacar nas competições nacionais de patinação do gelo, tornando-se quase uma popstar. Foi a primeira mulher americana a realizar o salto triplo axel em competições.
Adotando um visual um pouco mais rude do que as outras competidoras e optando por trilhas musicais bem menos clássicas, Harding conquistou a simpatia do público mas deixou os narizes dos juízes torcidos por distanciar-se da imagem ideal de "patinadora princesa". Uma espécie de André Agassi do gelo (exceto pelo fato de que, no tênis, os resultados não dependem de um julgamento tão subjetivo dos árbitros).
Ares de tribunal
A coisa começa a tomar tons mais pessoais e dramáticos quando caminha para "o incidente". Como todo mundo acompanhou pela imprensa na época (portanto, tecnicamente não estou dando nenhum spoiler), Tonya foi acusada de, junto com seu marido, Jeff Gillooly (encarnado pelo Sebastian Stan, o irreconhecível "Soldado Invernal" da Marvel), perpetrar ataques físicos contra sua principal concorrente, Nancy Kerrigan.
No julgamento popular e midiático, Tonya sempre soube e teve participação ativa no ataque a Kerrigan. O filme, entretanto, tenta trazer uma nova visão ao incidente.
É interessante notar que, apesar de se chamar "Eu, Tonya", o filme não se reveste da visão individual da personagem Tonya Harding. Pelo contrário, toma ares de tribunal, jogando o depoimento de testemunhas na tela para patrocinar a "versão Tonya" dos fatos. Durante vários momentos, entretanto, temos a nítida impressão de que a própria Harding não tem o domínio completo da realidade que lhe seria favorável e, eventualmente, lhe absolveria das acusações sérias impostas pela imprensa.
Assim, a obra transita de forma bastante interessante entre os depoimentos da mãe de Tonya (magnífica, Allison Janney é favoritíssima ao Oscar), o segurança pessoal Shawn Eckhart (também em atuação muito boa), o repórter e produtor Martin Maddox (Bobby Cannavale mostrando o lado da mídia na parada) e uma das treinadoras de Tonya, Diane Rawling (interpretada por Julianne Nicholson, conhecida mais no mundo das séries).
Em certo ponto, entretanto, causa certo incômodo a tentativa do diretor de retirar qualquer autoria do discurso do filme. Sim, sabemos que a versão construída na tela não pertence a ninguém especificamente, isso foi informado logo nos créditos iniciais com os cortes no estilo entrevista. Mas não bastasse isso, os próprios personagens, no decorrer da história, assumem um tom onisciente e quebram a quarta parede, dirigindo-se diretamente ao espectador para transmitir suas impressões.
Esse efeito utilizado mais de uma, duas ou três vezes descamba para a propaganda publicitária, tirando um pouco da credibilidade da narrativa e afastando o espectador do universo do filme. A experiência perde um pouco da imersão absoluta.
White trash
[caption id="attachment_118350" align="alignnone" width="620"]
Allison Janney, que também concorre ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, interpreta a mãe má de Tonya Harding[/caption]
Um lado muito importante e pouco discutido que o filme traz também diz respeito ao racismo e à pobreza nos Estados Unidos - assunto de fundamental importância na Era Trump. Tonya era branca, pobre, violentada diuturnamente pelo namorado e desprezada pela mãe. A perfeita encarnação do conceito de "white trash", construído desde o século 19, e que pode ser definido como as letras miúdas no contrato que dá acesso ao "sonho americano".
Desde a época das comunidades pobres de imigrantes europeus, segregadas pelos "verdadeiros americanos" antes da guerra civil americana em nome da pureza hereditária (a chamada "one-drop rule" ou regra da gota de sangue única, em que americanos legítimos não podiam se casar com imigrantes europeus), existe um nicho de pessoas brancas, operárias, pobres e sem instrução que enfrenta muito mais dificuldade em ascender socialmente na terra das oportunidades.
A América não é tão grandiosa para essas pessoas. E esse discurso é brutalmente escancarado para Tonya (e para nós, inocentes espectadores) quando da fala de um dos árbitros, ao justificar uma nota baixa a uma performance da atleta: Harding não é a imagem que as pessoas querem como representante dos Estados Unidos da América. Meritocracia não é a única moeda de troca.
"Eu, Tonya" está entre os indicados à 90ª edição do Oscar. Margot Robbie concorre na categoria de Melhor Atriz, Allison Janney na de Melhor Atriz Coadjuvante e Tatiana S. Riegel é a responsável pela indicação na categoria de Melhor Edição/Montagem. O prêmio será merecidíssimo, caso venha para qualquer uma delas.
Com uma trilha sonora vibrante - parte do universo de Tonya da vida real - as duas horas de projeção passam voando, alternando entre momentos de euforia, melancolia e até perplexidade (essa última, quase sempre, de responsabilidade dos personagens de Stan e de Janney).
Tonya Harding foi - e permanece - como um ponto fora da curva na história da patinação do gelo. Mas sua vida na tela nos faz lembrar que, na carreira de qualquer atleta, por mais que pareçam duros, os tombos da pista de patinação são apenas a ponta de um iceberg muito mais profundo.
PS: Não deixe de assistir no YouTube o vídeo completo da performance real de Tonya Harding em Lillehammer, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994. Emocionante.
João Paulo Lopes Tito é advogado e crítico de cinema