Talentos “made in” Goiás

04 agosto 2018 às 23h50

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Estado segue “exportando” ao mundo bailarinos que surgem em escolas de formação tradicionais e partem para outros países para conquistar prêmios e trilhar carreira de sucesso. Conheça alguns destes novos nomes que vêm despontando neste cenário

No que diz respeito à dança, Goiás está muito bem representado lá fora, obrigado! O Estado segue sendo um território bastante fértil para o surgimento de talentos que, com a ponta dos pés, têm arrancado aplausos de jurados e plateias nos eventos e concursos mais prestigiados do mundo. Muitos destes nomes despontam ainda bastante jovens e, após de anos de intensa dedicação no passado e no presente, o destino da maioria continua sendo o exterior, em busca de um futuro mais promissor na carreira que estão construindo.
Com apenas 17 anos, Carolyne Freitas Galvão ainda tem rosto de menina sapeca, mas está se tornando uma gigante nos palcos. Encantou-se pelo balé muito cedo, logo aos seis anos, cativada pela personagem de novela na TV. Talvez ela mal soubesse ali que a paixão da tenra infância iria conduzir seus passos na construção de sua trajetória de triunfo digna de roteiro de cinema ou mesmo conto de fadas. O apoio da família desde o primeiro lampejo do sonho de Carolyne foi fundamental para que aulas que tiveram início aos 9 anos a levasse para palcos de todo o mundo.
Aluna do Itego em Artes Basileu França desde 2012, a bailarina alcançou só este ano duas conquistas que abrilhantaram o balé de Goiás lá fora. Em fevereiro, ela se classificou entre as oito Prize Winners da 46ª edição do Prix de Lausanne 2018, na Suíça. Em vez de pódio, a premiação contempla os vencedores com bolsas integrais de estudo em várias instituições internacionais. Eles escolhem para onde querem ir e um patrocinador do Prix de Lausanne paga a bolsa de estudos ou contratos para o aluno por um ano. Durante sua participação no Prix de Lausanne 2018, Carolyne Galvão também foi a mais votada no Prêmio da Audiência Pública, que é uma votação online entre o público que assistiu ao espetáculo em qualquer parte do mundo.
Atualmente, a bailarina goianiense se dedica totalmente ao balé e está de malas prontas para Londres, onde se dará a próxima etapa de sua carreira. A jovem optou pelo English National Ballet para fazer o curso que será arcado com a bolsa que recebeu de prêmio por sua performance no Prix de Lausanne. “Foi o lugar onde achei que me encaixaria melhor”, explica. Além disto, Carolyne revela que também já tem contrato de trabalho de um ano assinado na capital inglesa.
O prazer de estar no palco, seja em solo ou em grupo, justifica toda a dedicação que a dança exige. “Dançar me dá a melhor energia do mundo, me traz uma felicidade muito grande. Quando eu danço, é como se eu fosse livre de tudo, como se eu pudesse fazer qualquer coisa. É o momento mais feliz da minha vida”, desabafa Carolyne.
Goianos nos Estados Unidos
Apesar do grande feito na Suíça, não demorou muito para que uma nova conquista surgisse. Carolyne foi medalha de prata no USA International Ballet Competition 2018, que aconteceu de 6 a 24 de junho, em Jackson, no Mississipi (EUA), concurso que acontece de quatro em quatro anos e recebe somente bailarinos convidados. Por lá passam estrelas da Escola de Dança do Ballet Bolshoi e de outras importantes companhias. “Foram duas semanas intensas de muita dedicação, aperfeiçoamento técnico e apresentações durante a minha participação nesta competição de classe mundial. Foi muito gratificante conquistar a medalha de prata e representar meu País e minha escola entre 18 bailarinos de 8 nações”, declarou a bailarina.
O primeiro concurso USAIBC aconteceu em 1979. Antes de Carolyne Galvão, apenas os brasileiros Renata Pavan, que também foi medalha de prata (1998), Gustavo Carvalho, Ivan Duarte e Yasmin Lomondo que foram medalhistas de bronze (2014) tiveram o privilégio de fazer parte do USA International Ballet Competition.
Mas na edição de 2018, Carolyne não era a única goiana. Seu conterrâneo e colega, Marcos Vinícius Silva, também aluno de Dança do Basileu França, representou o estado de Goiás, que levou dois dos três brasileiros presentes na competição. Marcos Vinícius Silva também já participou do Prix de Lausanne, ganhou bolsa para estudar fora e ficou um período no exterior, mas continuou sua preparação no Basileu França, inclusive para se aperfeiçoar para a competição em Jackson.

Carreira na Europa
O Prix de Lausanne também foi a porta de entrada para que o goiano Adhonay Soares Silva trilhasse uma trajetória de sucesso na Europa. Em 2015, Adhonay foi escolhido em primeiro lugar pelos jurados e pelo público do concurso. Pela conquista, o jovem bailarino ganhou uma bolsa de estudos no valor de 40 mil euros. À época, Adhonay estava em dúvida entre as escolas Sttugart na Alemanha e o Royal Ballet em Londres. O jovem acabaria optando pela primeira e já está há três anos vivendo na Alemanha. Em uma mensagem postada em seu perfil no Facebook, o jovem demonstrou satisfação com a experiência.
“I’m so grateful for all the beautiful moments shared in these 3 years with Stuttgart Ballet. It has been such an experience. So excited to see what is coming next (“Sou muito grato por todos os belos momentos compartilhados nestes três anos com o Ballet Stuttgart. Tem sido uma experiência incrível. Estou muito animado com o que está por vir”). Ele também foi aluno de Balé Clássico do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França (CEPABF), com passagem ainda por outra tradicional escola de formação na capital, o Centro Cultural Gustav Ritter.
Foi justamente uma apresentação do Balé Jovem da escola que cativou e uniu Adhonay de forma definitiva à Dança. Até seus nove anos, o garoto não havia tido qualquer contato com o balé clássico. Até que um dia, levado pela mãe Selma, assistiu a uma apresentação. Foi o estopim para o surgimento de uma grande paixão, que chegou a surpreender aos próprios pais. A dedicação foi tamanha que, apenas um ano depois, no Festival de Dança de Joinville, em 2008, ele ficou em primeiro lugar no solo masculino do Meia Ponta. Já naquela época, os professores perceberam que estavam diante de um novo prodígio de sapatilha.

“Oscar” do balé
Natural de Goiânia, a bailarina Amanda Gomes, de 22 anos, formada pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e primeira Bailarina do Balé e Ópera de Kazan, tem elevado não só o nome de Goiás, mas do Brasil no cenário mundial da dança. Depois de conquistar as principais premiações em competições de dança, ela foi indicada ao Benois de La Dance 2018, considerado o “Oscar” do balé, como melhor bailarina em 2017, com destaque por sua performance no papel principal do Balé “Esmeralda”. A competição foi realizada no último mês de junho, em Moscou, na Rússia.
O prêmio acabou saindo para a coreana Park Sae Eun, da Paris Opera Ballet; resultado que inclusive surpreendeu Amanda, pelo nível técnico das demais concorrentes, mas que não tirou nem um pouco a satisfação da jovem. “Fiquei orgulhosa de representar o Brasil e incentivar tantos outros e seguirem esse caminho, tudo isso é fruto de muito trabalho, mas de muito amor pelo que eu faço. Esta é uma grande conquista e eu agradeço muito a Deus por isso”.
A bailarina goiana está radicada na Rússia desde os 19 anos, quando se juntou ao corpo da companhia. O convite da Ópera de Kazan foi apenas um em meio a tantos outros que vieram de escolas de diversos países, como Estados Unidos e Suíça. O interesse dos russos foi concretizado após a jovem ganhar medalhas em abril no XIII Russian Open Ballet Competition Arabesque, em Perm. Foram três categorias: pré-artístico, clássico e contemporâneo.
Além dos prêmios, a jovem prodígio goiana acumula diversas participações em espetáculos no Brasil e no exterior. No currículo, papéis de destaque como a Dama do Baile, no Balé O Quebra-nozes; a protagonista Giselle, no Balé Giselle; o cupido e a protagonista Kitri, da Grande Suíte do Ballet Don Quixote –– inclusive na capital goiana, quando da inauguração do teatro do Centro de Educação Profissional (CEP) Basileu França, em 2010. Teve a oportunidade de atuar com ícones da dança mundial como Natália Osipova, Elena Andrienko, Ivan Vassiliev, Andrey Bolotin, Andrey Uvarov e Vladimir Vasiliev.
Amanda passou quase nove anos na Escola de Teatro Bolshoi e formou-se bailarina profissional pela companhia jovem em 2011. O processo se deu em seis anos, prazo menor do que o previsto, que é de oito. Em busca do sonho da filha, os pais Zuxis Filho e Polyana Gomes mudaram-se para Santa Catarina e matricularam Amanda na escola. Em curto tempo, chamou atenção dos professores. O ingresso na escola russa, sediada no Brasil, ocorreu três anos depois de iniciar as aulas de balé.
No quarto ano de estudos ela foi indicada por um diretor para participar de competição nos Estados Unidos. Inicialmente, foi com a intenção de adquirir experiência, mas voltou com o título de bailarina revelação. Em todos os concursos que participou posteriormente, recebeu alguma premiação. Inegavelmente, um talento que enche de orgulho a todos os goianos.