Opção cultural

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A Pablo Lenine, meu irmão, que agora está no disco voador

Livre e subversivo, a cadeira de rodas não era o seu lugar no mundo. Vou me lembrar dele segurando uma noitada com garrafão de vinho, violão, Raul e Beatles

Ricardo Aleixo, um dos mais importantes nomes da poesia brasileira, lança livro Extraquadro

Poeta, artista e pesquisador das poéticas intermídia, Ricardo Aleixo apresenta, em Extraquadro, poemas produzidos nos últimos oito anos

“Ruby” é um romance que trata da crueldade dos homens e da redenção propiciada pelo amor

Na obra da escritora americana Cynthia Bond, a protagonista, vítima de abuso sexual, vai do limiar da insanidade à superação, graças ao apoio de um amigo de infância

Contos da pandemia (28): De volta para casa, de Placidina Lemes Siqueira

O inimigo invisível matou meu amigo, que não teve nem velório. Despediu-se sem nossa presença e partiu para a eternidade. Não vi seu corpo tombado . Mas tombou

Contos da pandemia (27): Sem título 1, de Sérgio Tavares

Os dias se passaram e a terra era aberta em covas coletivas. Tornou-se um genocídio

Contos da pandemia (26): “Se puder, fique em casa”, de Julius Vieira

Com a aglomeração, quase conseguia ver o vírus dançando balé pelo ambiente

Eltânia André e a literatura vista pelo olhar feminino   

Escritora enumera os acontecimentos na vida de uma família e traça paralelos entre a frágil democracia brasileira e as tentativas para o seu enfraquecimento 

Adelto Gonçalves    

Quem chamou a atenção deste resenhista para o modo diferente como as mulheres escritoras olham o mundo foi o escritor catalão Eduardo Mendoza (1943), em entrevista que concedeu, em janeiro de 1990, em Barcelona. E que seria publicada à época na "Linden Lane Magazine", de Princeton, Nova Jersey/EUA, no "Jornal de Letras", de Lisboa, em "O Estado de S. Paulo", no "Suplemento Literário Minas Gerais" e em "A Tribuna", de Santos, e ainda pode ser lida no site www.filologia.org.br. Eis o que disse Mendoza: “Interesso-me, entre os contemporâneos, pelas mulheres. Elas interessam-me porque escrevem de uma maneira distinta. É difícil que um homem, nestes momentos, faça uma imagem que não seja conhecida. Já as mulheres têm imagens próprias, completamente novas. São uma janela para outro mundo, outra sensibilidade e outra forma de ver as coisas”. [caption id="attachment_313794" align="aligncenter" width="329"] No livro de Eltânia André “o inferno das aparências reina desde antes da revolução digital e persegue e cria marca de ferro nos seus habitantes em termos existenciais” | Foto: Divulgação[/caption] Pois bem, o novo livro de Eltânia André (1966), "Terra Dividida" (Laranja Original Editora, 2020), é uma confirmação das palavras de Mendoza. E uma prova de como o olhar feminino na literatura é diferente daquele feito por homens, como sabe quem tem intimidade com as obras de Clarice Lispector (1920-1977), Cecília Meirelles (1901-1964), Nélida Piñon (1937), Cora Coralina (1889-1985), Carolina de Jesus (1914-1977), Lygia Fagundes Telles (1923) e Hilda Hilst (1930-2004), só para ficarmos com algumas autoras brasileiras. É um outro olhar. O romance de Eltânia mostra como pano de fundo Pirapetinga, cidade de 10 mil habitantes, que fica na divisa dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com o rio do mesmo nome separando o território mineiro de Santo Antônio de Pádua, no lado fluminense. Embora nascida em Cataguases, cidade mineira que constituiu extraordinário celeiro de artistas da mais alta relevância para o País ao longo do século 20, desta vez, a autora preferiu se inspirar em Pirapetinga, terra de seus avós, que fica a 150 quilômetros de distância, e, assim, construiu um mundo imaginário cortado pelas águas de um rio e pelos valores, dramas e contradições que circundam as relações pessoais. Em linguagem extremamente criativa e pessoal, Eltânia vai enumerando, numa prosa escorreita e acessível a qualquer leitor, os acontecimentos na vida de uma família, ao mesmo tempo em que traça paralelos entre a frágil democracia brasileira e as recentes tentativas para o seu enfraquecimento, que vão até a um possível golpe de mão armado antes das eleições previstas para 2022. Aliás, concluído em agosto de 2016, o romance é premonitório, ao reproduzir em sua penúltima página a fala de um esbirro da ditadura civil-militar (1964-1985) exaltando a figura de um torturador, prenúncio dos maus tempos que viriam com aquele que já é considerado o pior governo da História republicana. [caption id="attachment_63924" align="aligncenter" width="620"] Eltânia André adota a técnica do fluxo de consciência joyceano, ao percorrer as trajetórias de figuras anônimas | Foto: Divulgação[/caption] Em seu romance, a autora adota a técnica do fluxo de consciência joyceano, ao percorrer as trajetórias de figuras anônimas, como Naira, Socorrinha, Eneida, Basílio, Nena e Almeidinha, procurando desvendar os mistérios da mente de cada personagem. Como exemplo, eis um trecho do depoimento de Socorrinha: “Muitas garotas não se previnem e engravidam por descuido e se dão mal como eu. A maioria dos homens que conheço não quer saber de compromisso doméstico, ajuda a lavar as louças e acha que está sendo moderno. O Laurindo, ex-marido da Efigênia, fez tudo quanto é tipo de falcatrua para enganar o juiz, no final deixou uma pensão minguada para os quatro filhos. O Aldo se mandou sem olhar para trás, a menina dele teve que ir ao psicólogo, tão triste ficou com o sumiço do pai de outrora. A carga bruta sobra é pra gente (...)” (págs. 88-89). Já Basílio é marcado pelo prenúncio de novos tempos, pois nasce no dia 15 de março de 1985, data em que caiu a ditadura civil-militar. O seu depoimento vai até a época do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff, que, aliás, caiu mais por ser a primeira mulher a ocupar a Presidência da República brasileira do que por qualquer outra razão alegada. Como se percebe, a ação do romance começa, cronologicamente, na era pré-digital, em que as indústrias e até as redações dos jornais e revistas começavam a passar pelas transformações ditadas pela informática, até chegar à época atual em que muitas conversas são feitas através de e-mails, messenger do Facebook, Instagram ou WhatsApp, imagens privadas são divulgadas por Youtube e os negócios já não exigem dinheiro vivo para serem realizados, mas moedas virtuais, como a bitcoin, criptomoeda criada para ser um mei o de pagamento totalmente eletrônico que transfere créditos pela rede. Como observa no prefácio a poeta Kátia Bandeira de Mello Gerlach, neste livro de Eltânia, “o inferno das aparências reina desde antes da revolução digital e persegue e cria marca de ferro nos seus habitantes em termos existenciais”.  Para a prefaciadora, o texto de Eltânia lembra o da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís (1922-2019), principalmente em seu livro "A Sibila" (1954), palavra que, entre os antigos, designava a mulher a quem se atribuíam o dom da profecia e o conhecimento do futuro, ou seja, a profetisa. De fato, tal como se dá em "A Sibila", o fio condutor principal é bastante descontínuo e vai mais além, pois, se no romance de Agustina é a partir do relato da vida de Quina, a sibila, que se sucedem episódios muito variados com numerosas personagens, em Terra dividida as personagens principais são pelo menos sete, além do gato Getúlio, que acompanha a sucessão de fatos com atenção, como se fosse um ser humano. Tal como Agustina, Eltânia André procura mostrar a profunda dimensão humana que se pode encontrar num espaço rural tradicional, onde cabe à mulher um papel de primeira grandeza, pois, geralmente, os homens fogem à responsabilidade e acabam por buscar um possível futuro melhor nas grandes cidades, deixando às parceiras a responsabilidade maior de criar e educar os filhos. Por aqui se vê que o livro de Eltânia chega para merecer um lugar de destaque na literatura de Língua Portuguesa. E vem provar que as escritoras oferecem mesmo um olhar diferente do mundo que não se vê na literatura praticada por homens. Depois de viver experiências traumáticas com a violência urbana que marca a vida numa cidade grande como São Paulo, Eltânia André hoje mora em São Pedro do Estoril, aldeia da freguesia de Cascais e Estoril, perto de Lisboa. É formada em Administração e Psicologia, com especialização em Psicopatologia e Saúde Pública. Tem uma obra que já se destaca entre os autores da Literatura Brasileira: "Meu Nome agora é Jaque" (contos, Editora Rona, 2007), seu livro de estreia; "Manhãs adiadas" (contos, Editora Dobra, 2012); "Duelos" (contos, Editora Patuá, 2018), "Para Fugir dos Vivos" (romance, Editora Patuá, 2015) e "Diolindas" (romance, Editora Penalux, 2016), escrito em parceria com o marido, o romancista Ronaldo Cagiano. Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela USP e autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Nova Arrancada, 1999, e Publisher Brasil, 2002), Bocage, o perfil perdido (Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo - Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em terras d'el-rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os vira-latas da madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O reino, a colônia e o poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo - 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: [email protected]

Contos da pandemia (25): Exilado, de Anderson Alcântara

“Não há nenhuma voz interior a me a cochichar qualquer som. Sou uma embalagem somente oca, sem nenhum outro adjetivo”

Contos a Pandemia (24): Professor Virtual, de Elson de Souza Ribeiro

O mestre percebeu que boa parte dos seus educandos, após ligar seus smartphones, desligava suas câmeras e, provavelmente, se enfiava debaixo dos seus edredons

Contos da pandemia (23): O desamor em tempos de peste, de Brasigóis Felício

Para muitos, encontrar o sentido da existência é produzir sofrimento e descaminhos

Diante de Gilberto Mendonça Teles, diante da poesia

Sua poesia tem a precisão de uma questão matemática, quando é rima e ritmo, a leveza de nuvem, quando é sonho que se sonha acordado                       

Boto cor-de-rosa seduz leitores de “No fundo do rio”

Paulo Stucchi, escritor finalista do Prêmio Jabuti 2020, cruza lenda do folclore brasileiro com fragmentos do nazismo em lançamento ambientado na Amazônia Oriental

Gilberto Mendonça Teles: do IBGE à consagração literária

O poeta e crítico escreveu “A Poesia em Goiás”, “Saciologia Goiana” e um notável livro sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade

Habite Galeria reabre para visitações presenciais com espaço para jovens artistas goianos

Idealizadora e responsável pelo espaço, a arquiteta Tereza Cristina de Oliveira Rocha explica que a proposta da Habite Galeria é justamente o de reconectar a população goiana, e em especial a goianiense, à arte

Contos da pandemia (22): Álibi, de Sônia Elizabeth

Meu olhar em labirinto, assustado (em estado de terror). Eu, despatriado, como se fosse o único sobrevivente de uma guerra sem corpos nas alamedas