Opção cultural

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Tributo ao diretor de teatro e ator Marcos Fayad

Ele demonstrou ser espontâneo, direto em suas respostas, cristalino como água mineral correndo em pedra lisa. Nunca tergiversava e não fugia de questionamentos

Novo ensino médio: o novo sempre vem…

escrito por Ênio César

“No presente a mente, o corpo é diferente / E o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Esses versos da canção “Velha roupa colorida”, de Belchior, toca num ponto sensível da coexistência de diferentes gerações em um mesmo espaço-tempo: o apego que, invariavelmente, temos ao passado. E que precisamos ter, já que é da nossa história que falamos.

Quem já atingiu a maturidade e nunca disse, em tom nostálgico e orgulhoso, a expressão “no meu tempo...” que atire a primeira pedra! Detalhe: quase sempre, em referência a tempos bem mais precários e complicados, em termos de comodidades, do que os atuais. Mas é o que temos!

Voltando nossa lente para o espaço escolar, o fenômeno se repete. Que orgulho de saber conjugar os verbos regulares em todos os modos e tempos! Heroísmo, porém, era conhecer todos os irregulares, os anômalos e — ah! — os defectivos! E as famigeradas funções do “que” e do “se”?! Dominá-las era o crivo para definir se o professor era realmente bom. Tudo fazia sentido, pois era praticamente impossível encontrar uma prova de vestibular que não trouxesse uma ou algumas questões a respeito do assunto.

Que isso tem a ver com a chegada do novo ensino médio?! Tudo! Se, para alguns, não é fácil lidar com as “novidades” que chegam, não é difícil, para muitos, achar motivos para questionar o “velho ensino médio”. Especialmente, quando se dá a essa etapa da educação básica o caráter utilitário que costuma receber.

Basta procurar, nas provas atuais do Enem, itens que façam menção às nomenclaturas que ditaram o ritmo de nossos estudos gramaticais. Não os há! As provas do PAS/UnB, há muito tempo, trazem a tabela periódica para consulta. Não há, então, por que decorá-la.

Quer dizer que esses aprendizados foram inúteis?! Evidentemente, não! Responderam às diretrizes educacionais do período, bem como às necessidades daquele tempo. Mas convenhamos! Antes da chegada dos versáteis smartphones, precisávamos memorizar ou ter anotados em algum lugar os números de telefones. Faria sentido, hoje, insistir em guardá-los na memória, dispensando a poderosa agenda telefônica desses aparelhos?!
 

O novo ensino médio busca ajustar-se não somente ao perfil das crianças e adolescentes da geração Z, mas ao novo desenho da sociedade, na qual também nós, os adultos, estamos inseridos.

Em um poema que escrevi, falei da “geração self-service”. Não de maneira pejorativa! O fato é que, “no meu tempo”, poucas eram as escolhas a fazer. As músicas que ouvíamos eram definidas pelas rádios. Por vezes, esperávamos horas para gravar, naquela fita cassete, o hit do momento, para tê-lo e ouvi-lo repetidas vezes, quando quiséssemos. Quando soltavam a vinheta no meio da gravação, ficávamos irados!

Atualmente, escolhemos quase tudo, para consumo imediato e reiterado, a qualquer hora: a comida, o programa ou a série de televisão, a música. Apesar disso, temos dificuldade para entender o anseio por escolhas no âmbito escolar.

É consenso que um dos fatores facilitadores do processo educacional é o interesse. E, diante da cada vez mais nítida artificialidade e da crise de identidade do ensino médio no Brasil —, reina o desinteresse. Fala-se, há muito, de protagonismo juvenil, todavia o que se tem é um jovem que não vê sentido em praticamente nada do que se lhe apresenta; que recebe avalanches de informações que, basicamente, o preparam para fazer provas.

É preciso mudar! E mudanças exigem coragem e disposição. Como quando vamos para uma casa nova. Precisamos “mexer nos baús”, decidir o que vai e o que fica…

Significa que o passado é algo ruim que deva ser esquecido, apagado? Não! Significa, apenas, que o presente exige mudanças. O passado continuará sendo referência, história e aprendizado.

E fique em paz quanto às funções do “que” e do “se”! Retomando a canção de Belchior, SE você não sabe a função do QUE, no verso transcrito, sem problema, haverá de ser feliz, desde que não insista em vestir a velha roupa colorida!

Feliz novo ensino médio!

Ênio César é professor de língua portuguesa e Assessor Pedagógico do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília

 

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No meio do caminho para casa tinha um bar. Tinha um bar no meio do caminho.  Anos atrás ele era frequentado somente por homens. Desde o início do bairro o bar já existia. Lembro que quando era criança, via meu padrinho de longe, sempre parado ali no fim da tarde. Eu pedia a benção e ele me dava balinhas de 2 centavos. No bar não havia mulheres, ao menos mulheres consideradas pela sociedade. A Pagu sempre parava ali, ria alto e detonava vários homens na dose de pinga. Não havia homem páreo para ela, sempre que apostava vencia.

Tira gosto eram miúdos e alguns caldos quando o dono fazia. De resto, os homens iam para beber pinga e cerveja, sempre após o expediente do trabalho. Naquela época não tinha asfalto e o bar ficava de baixo de um pé de Pau-Brasil. Com o tempo, o bairro foi ganhando forma e o bar também foi mudando. Os clientes não eram os mesmos velhos de sempre, mas os seus filhos e netos. Uma mesa de sinuca foi instalada e o cheiro de churrasquinho tomava conta do lugar. Mulheres começaram a frequentar o local, e hoje mesmo que incomode alguns homens, elas estão ali bebendo de igual para igual.

Nunca imaginei que um dia me sentaria em uma daquelas mesas para beber uma cerveja. Hoje bebo (e nem lembro quando isso começou) e observo quem passa. Me imponho quando algum cara inconveniente ainda questiona a minha presença no local. Ou eu só acho que questiona, pode ser que nem tenham me notado.  Por morar no bairro há anos, conheço todo mundo. Mas é diferente quando estão no bar. Como se algumas pessoas ganhassem outros contornos, contornos que as vezes não condiz com as aparências.

O bar se modernizou essa semana, mas ainda separa bem a periferia do resto. Só bebe no local quem cresceu ali. Não vem gente de fora para ver algum artista cantar. Se você quer uma bebida chega no balcão e pede. Se quer um cigarro e só falar: “Me dá um cigarro”. Se você quer um show, basta aguardar que logo alguém aparece com um violão ou com uma caixinha de som. É uma geração de pessoas que não tem nada em comum. Continuam no bairro porque não têm condições de sair. Se reúnem ali, em torno da bebida e do pouco lazer que podem pagar. Sempre deglutindo o que a sociedade pode oferecer e transformando em sobrevivência. O bar é uma espécie de ritual onde nos servimos não só de bebidas e tira gosto. É como uma eucaristia, onde nutrimos nossa alma para aturar mais um dia de estudo ou de trabalho exaustivo. Fico feliz que hoje esse ritual possa pertencer também as mulheres, e que Mário esteja conosco e não guardado em algum armário.

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