Por Redação

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“Garoto que matou vizinha de 14 anos é doente, não criminoso”, opina psiquiatra

Profissional especialista em psiquiatria da infância e adolescência explica se autor de crime bárbaro pode ser tratado como psicopata, mesmo com apenas 13 anos

Conheça as 4 músicas que alcançaram 1 bilhão de plays no Spotify

Drake, Ed Sheeran, The Chainsmokers e Major Lazer estão na lista

“Será muito difícil tirar o governo das mãos de José Eliton”

Senador-empresário conta que se apaixonou pelo mundo da política e que não disputará outra coisa no próximo ano que não seja a reeleição

Pau que bate em Chico também bate em eu-lírico?

Será possível, ainda hoje, seguir romanceando o abandono do lar como bela figura poética? Longe de ser uma ironia, essa pergunta é um desafio a ser tomado a sério

Fazendo tanto com tão pouco: os caminhos de Antonio Machado em “Campos de Castela”

Tradutor do livro “Campos de Castela”, a ser lançado pela editora goiana Caminhos, em setembro de 2017, expõe as particularidades da poética do autor de “Retrato” e “O Deus Ibero”

Ateologia*

A fé dos bolcheviques russos é uma fé implícita, de carvoeiro, uma fé de servos não menos que a dos seus avós. A ateologia é uma teologia

Barco naufraga no Pará e pelo menos sete pessoas morreram. Há 40 desaparecidas

Vinte e cinco pessoas conseguiram escapar com auxílio de ribeirinhos O barco Comandante Ribeiro, com pelo menos 70 pessoas, naufragou na quarta-feira, 23, no Rio Xingu, nas proximidades de Maruá e Ponta Grande, entre os municípios de Senador José Porfírio e Porto de Moz, no Pará. A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social informam que sete corpos foram encontrados. Mas, como apenas 25 pessoas chegaram vivas às margens do rio — resgatadas por ribeirinhos —, acredita-se que há mais mortos. O governo revela que 40 pessoas ainda se encontram desaparecidas. A polícia diz que ainda não se sabe com precisão as causas do naufrágio. O barco havia saído de Santarém — faria escala em Monte Alegre e Prainha — com destino a Vitória do Xingu.

Tubarão ataca foca e surfistas ficam em pânico. Veja vídeo

Um dos adolescentes ficou com o pé preso na prancha. Ele e as pessoas que estavam na praia ficaram desesperadas

“Nosso propósito foi mostrar o ‘caos criativo’ de Fausto Valle”

Edival Lourenço e João Bosco de Carvalho Freire falam da organização do livro de memórias do escritor mineiro, radicado em Goiás, autor de “A Fonte do Sal”  [caption id="attachment_102984" align="aligncenter" width="620"] Edival Lourenço e João Bosco de Carvalho Freire falam do escritor Fausto Valle, amigo de ambos, falecido em 2010 | Foto: Fernando Leite
[/caption] “Policio-me muito. O julgamento de meu trabalho não me cabe. Interessa-me somente o prazer de lidar com as palavras, tão honestamente quanto possa”. Esta frase de Fausto Valle, escritor falecido em 2010, sintetiza sua postura criteriosa e responsável de escritor maduro. A frase foi retirada de seu livro de memórias, organizado e editado pelos escritores e amigos de Fausto, Edival Lourenço e João Bosco de Carvalho Freire, sob o título de “No Meio de Tanto Graveto”. Em entrevista ao Opção Cultural, ambos escritores falaram da relação com Fausto e da feitura do volume, que será lançado dia 22, terça-feira, às 19 horas, na sede da União Brasileira dos Escritores, Seção Goiás (UBE-GO), em Goiânia.   Fausto Valle pediu, pessoalmente, a você, Edival, que cuidasse dessa massa de arquivos inéditos. Como isso se deu? Além deste volume de memórias, há outros que serão publicados? Edival Lourenço — Bom, nós tínhamos um contato muito próximo. Conversávamos praticamente todos os dias, fosse por e-mail ou por telefone. E o assunto era quase sempre literatura. Quando ele ficou doente, e sentiu que o fim estava próximo, mandou que me chamassem no hospital onde ele estava. Quando cheguei ao hospital, ele me disse, de uma forma bem alegre e não pesarosa: “Olha, estou sentindo que dessa eu não passo”. Talvez por ter sido médico, ele tivesse consciência mais aguda dos problemas que estava enfrentando (complicações de um enfisema pulmonar e o câncer). Então, ele continuou: “Eu queria te fazer um pedido: estou deixando um material. Nos arquivos, há diários, contos, poemas e correspondências. Os contos e poemas eu quero que você os reúna em um só volume com o título de “Fundo de Bateia”. Este título é o último ‘ouro’ que eu consegui capturar na minha luta com a palavra. As minhas memórias não têm título. Depois você pensa em algum. Quanto às minhas correspondências, você vê se vale a pena publicar. Mas eu queria que você não deixasse esse material sem publicação.” Eu ainda cheguei a brincar com ele na ocasião, dizendo: “Rapaz, você vai sair dessa, não diga isso. Você mesmo vai cuidar de concluir a sua obra.” Ele insistiu: “Não. Eu sei o que está acontecendo comigo e estou lhe pedindo para que faça isso.” Então, eu prometi a ele que, caso ele não conseguisse sobreviver, eu cuidaria, sim, de editar a sua obra. João Bosco, conte como era a sua amizade com o Fausto. Como foi a convivência de vocês? João Bosco de Carvalho Freire — Bom, eu fui amigo do Fausto por 37 anos. Em alguns momentos estivemos mais próximos, em outros, um pouco menos. Mas sempre nos comunicamos. Nos últimos sete anos de vida dele, o contato ficou bem intenso. Ele, inclusive, começou a me incentivar fortemente a voltar a escrever. Eu havia escrito uma ou outra coisa quando pequeno. Mas, desde então, não escrevi mais. Ele, então, se dispôs a me ensinar, de fato, como era o trabalho literário. Me telefonava quase todos os dias, mandava e-mails – eu tenho quase mil e-mails trocados ele. Eu mandava um conto meu para ele, e ele devolvia com reformulações etc. Ele também passou a me indicar os melhores autores de literatura moderna, entre outros. Mas ele gostava de sair para cafés, para lugares interessantes e bonitos. Gostava de conversar sobre vários assuntos. Em meados de 2006, ele me mandou um e-mail com o arquivo dos inéditos dele. Um arquivo muito grande. Eu lembro que, à época, eu imprimi tudo em corpo 8. (risos). Depois, eu passei na porta da casa dele com todo esse material dentro de uma sacola. Ele me viu e perguntou o que era aquilo que eu levava. Eu respondi que era o arquivo de inéditos que ele havia me passado. Ele ficou muito feliz e pediu para que eu guardasse bem tudo aquilo. Como foi, para vocês, a experiência de editar este livro? Porque o que o Fausto pensava está posto no volume, mas a organização deve ter sido muito difícil. Vocês, naturalmente, tiveram que dar uma uniformidade ao material. Edival Lourenço — O material chegou para mim em formato eletrônico, em um pendrive, e em alguns grossos volumes de papel. E não apenas isso, o Fausto também escrevia em papeis de cigarro, papel de embrulho de pão, guardanapo etc. Então, isso me deixou louco. (risos). Eu fiquei um pouco desesperado, pois não sabia como e por onde começar a organizar esse material. Tanto é que o primeiro volume só está saindo agora, após sete anos da morte dele. Diante dessa situação, marquei um encontro com o João Bosco e o primo dele, Ênio Magalhães Freire, que também foi amigo do Fausto e conviveu muito com ele, nos anos finais. Expus aos dois as dificuldades de organização do material. Eles, então, se dispuseram a me ajudar. O Ênio – acho que por ter formação em Física – é alguém que tem um senso de organização extraordinário. Com a ajuda do Ênio, nós conseguimos estabelecer um critério de organização a partir daquilo que o Fausto havia registrado com data. Porque, se começássemos a organização tomando como critério as ideias e reflexões desenvolvidas, seria bem mais complicado. Portanto, ficou decidido que seria a partir das datas. Se o leitor quisesse, por sua própria conta, ler o material de outra forma, ficaria ao seu critério; do mesmo modo que como ocorre com leitor de “O Jogo da Amarelinha”, do Júlio Cortázar. (risos). Havia também o problema de que, se organizássemos tomando como critério as ideias do Fausto, talvez tivéssemos que cortar algo e mutilar o conjunto. Assim, correríamos o risco de dar uma “unidade” falsa e forçada às memórias. Além disso, nosso propósito não era dar ao leitor uma formatação sistematizada das memórias do Fausto, mas mostrar o “caos criativo” dele. A escolha do título “No Meio de Tanto Graveto” tem a ver com essa questão de “mostrar o caos criativo” do Fausto? Edival Lourenço — Sim. Eu queria dar um título às memórias que viesse do próprio texto do Fausto. Ao ler todo material, percebi que a frase que resumia não apenas as memórias, mas toda a produção do Fausto, era a seguinte: “No meio de tanto graveto, haverá uma ou outra coisa boa.” A imagem dos gravetos me remeteu aos ninhos das aves pernaltas. Aquele tipo de ninho que parece não ter a menor chance de dar certo. Como, por exemplo, o ninho da cegonha. A cegonha faz seu ninho em cima de algum lugar muito alto; geralmente, nas copas das árvores. O vento balança esse ninho para todos os lados, e ele permanece intacto. A cegonha consegue colocar os ovos e cuidar dos filhotes ali, no meio daqueles gravetos. Então, essa metáfora dos gravetos, escrita pelo próprio Fausto, veio a calhar como título. “No meio de tanto graveto” é onde nascem as novas ideias. Uma característica do Fausto que é muito evidente na escrita dessas memórias é o bom humor. Ele era muito bem humorado? Edival Lourenço — Sim, muito. Nós até tivemos que cortar algumas passagens em que apareciam risadas na forma de “heheheheheheh”. Mas muitas ainda ficaram. Aparecem no livro. Edival Lourenço — Sim, mas haviam muitas outras. Muito mais do que estas que deixamos. (risos). João Bosco de Carvalho Freire — Ele gostava de colocar isso como observação de algo que ele achava realmente muito engraçado. Outra característica interessante do Fausto é que ele sabia do talento que tinha, mas também sabia que precisava trabalhá-lo mais, estudar para se aperfeiçoar como escritor. E ele sempre retrabalhava o material que já tinha publicado, mesmo de livros com os quais ele já tinha ganhado prêmios literários. Ele era muito autocrítico? Edival Lourenço — É verdade. Ele era bastante autocrítico. E, pra dizer a verdade, eu acho que o sujeito que pensa que tem um talento pronto e acabado talvez ele próprio seja um equívoco. Uma das qualidades que fazem com que a pessoa aperfeiçoe o seu talento é sempre desconfiar do próprio talento que tem. O Fausto era assim. O escritor argentino Jorge Luis Borges dizia que nós publicamos um livro para nos livrarmos dele. Porque senão vamos escrevendo, escrevendo e não terminamos nunca. O Fausto, se deixasse, reescrevia tudo. A "auto-desconfiança" era uma das suas características. [caption id="attachment_102989" align="alignleft" width="300"] Capa do livro "No Meio de Tanto Graveto", que reúne as memórias de Fausto Valle | Foto: Fernando Leite
[/caption] O Fausto também diz que, nestas memórias, que julgava que os seus poemas fossem melhores que os seus contos. Ele era realmente mais poeta que contista? Edival Lourenço — Particularmente, eu gosto mais dos contos. Talvez por conta do excesso de desconfiança do próprio talento, os poemas do Fausto são um pouco contidos. Os poemas perdiam um pouco da espontaneidade pelo excesso de zelo.  Já os contos são muito bons. Têm uma linguagem fluida, uma boa amarração, além daquelas tensões internas que os contos devem ter. Ele não tinha a intenção de abarcar uma ideia inteira. Ele fazia o conto como o conto deve ser, isto é: mostrava escondendo.  A produção poética que o Fausto desenvolveu no período da juventude se perdeu? Edival Lourenço — Ele dizia que havia perdido. Mas acho que ele tinha vergonha de mostrar. Mas, no período de maturidade, ele teve mais prudência em compor sua obra. Começou a estudar crítica de prosa e poesia. Leu o livro do Gilberto Mendonça Teles, “Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro”. Leu os principais poetas modernos, Mallarmé, Baudelaire etc. O primeiro livro de poesia dele fui publicado em 1988? Edival Lourenço — Foi. Sob o título de “A Fonte do Sal”. Edival, é notória a incursão de Fausto Valle nos gêneros do conto, da poesia, da memorialística e do teatro (inclusive com peças escritas para teatro de mamulengo). Ele chegou a se aventurar pelo gênero do romance? Edival Lourenço — Não.  Cerca de quinze anos antes do falecimento, ele chegou a manifestar a vontade de escrever um romance. Mas, até onde eu sei, não levou adiante nenhum projeto nesse sentido. O tempo foi passando e ele foi se dando por satisfeito em escrever, principalmente, poemas e contos. Ele era um grande poeta e acho que foi também um ótimo contista. Seus contos são bem estruturados e não são pretensiosos. São histórias bem feitas e surpreendentes. Vocês poderiam falar do interesse do Fausto pela poesia oriental e pelo misticismo? Edival Lourenço — O fausto tinha uma certa precaução em falar do misticismo dele comigo. Sabendo da minha orientação ateísta, materialista – aliás, eu nem sei se, até certo ponto, esta é mesmo a minha orientação –, ele evitava tocar nesse assunto. Mas as tradições místicas tiveram muita influência sobre a obra (principalmente sobre a poesia) dele. Inclusive, ele pertencia à Loja Rosacruz. O João Bosco, que também é da Rosacruz, acompanhava o Fausto e pode falar melhor disso. João Bosco Carvalho Freire — A Loja que frequentávamos é aquela que fica na Vila Brasília (bairro da cidade de Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital).  É importante ressaltar que o Harvey Spencer Lewis (1883 – 1939), que fundou a primeira Loja Rosacruz nos Estados Unidos, absorveu e adaptou todas as tradições místicas, ocidentais e orientais, antigas e modernas. E, de certa forma, todo conhecimento esotérico que não é Rosacruz acaba indo parar nela. Ela é bem abrangente. Então, o tipo de busca que fazemos na Rosacruz é visionário. É uma busca por conhecer Deus nas profundezas de seu ser, de conhecer as maravilhas de Deus. E essas ordens não são secretas. Nem a maçonaria nem a Rosacruz – eu faço parte das duas. Elas são ordens privadas. Organizações secretas são proibidas por lei, inclusive. Edival Lourenço — Parte desse misticismo se refletiu nos momentos finais da vida do Fausto. Pouco antes de morrer, ele dizia acreditar que uma nova estação, um novo tempo estava se aproximando. Não sei se ele se referia a uma nova era tecnológica, ou um novo tempo de singularidade física. Mas, para ele, algo novo estava vindo. Ele acha que as pessoas já estavam começando a nascer com habilidades novas que ele, quando criança, não poderia nunca ter tido. [caption id="attachment_102988" align="aligncenter" width="620"] Editor do Opção Cultural, Cláudio Ribeiro, e o editor-chefe do Jornal Opção, Euler Belém, entrevistam Edival Lourenço e João Bosco de Carvalho Freire | Foto: Fernando Leite
[/caption] Vale ressaltar que a tradição poética sempre flertou com o misticismo. Dois casos emblemáticos podem ser citados: Fernando Pessoa e William Blake. João Bosco Carvalho Freire — Inclusive, o Fernando Pessoa foi Rosacruz. João Guimarães Rosa, também. No livro de poesias, “Magma” (1936), Guimarães Rosa faz referência aos “magos da Rosacruz”. Edival Lourenço — Em “Grande Sertão: Veredas”, também, há referências esotéricas, como ao tarô; personagens que são descritas cada uma correspondendo a uma carta do tarô etc. O Fausto foi, ao que parece, um grande crítico dos poetas de experimentalismo gráfico, apesar de não citar, explicitamente, os nomes dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo) e de Décio Pignatari. Edival Lourenço — Ele defendia que a poesia não podia prescindir da palavra. Para o Fausto, a matéria prima da poesia era a palavra, a palavra é que precisava ser trabalhada. Experimentalismo visual, para ele, tinha que ficar restrito às artes plásticas e gráficas. Mas vale ressaltar que, apesar disso, o Fausto era muito ligado às modernas tecnologias. Ele foi a primeira pessoa a me apresentar um grupo de discussões de temas literários na internet, por meio do programa ICQ. Em um trecho do livro, o Fausto diz que, quando pensava em não mais escrever poemas, eles começaram a se remexer dentro dele. Edival, você que também é poeta, entende da mesma forma? Edival Lourenço — Sim. O poeta Ferreira Gullar dizia algo que sintetizava isso. Dizia ele que, para se escrever poesia, é preciso que o sujeito tenha um certo enlevo, um certo encantamento, um “espanto”, um estado de espírito. Para se fazer outro tipo de texto, basta que o sujeito tenha, conhecimento, habilidade e atitude. Mas com poesia é diferente; é necessário algo mais. E como o Fausto como pode ser classificado como poeta? Em qual corrente ele estaria vinculado? Está mais ligado ao Carlos Drummond de Andrade e ao Manuel Bandeira? Edival Lourenço — Talvez ele esteja mais na linha do Manuel Bandeira, só que mais contido. E ele tinha algum poeta ou escritor favorito? Edival Lourenço — Não. Eu não lembro de ele expressar abertamente uma preferência. Mas lembro de que o poeta americano Dylan Thomas era muito apreciado por ele. Mas não chegava a dizer que era “o melhor poeta”, para ele. João Bosco de Carvalho Freire — Uma pergunta inócua com ele era essa. Ele não dizia nunca quem era o melhor escritor ou o melhor poeta. De todos, ele buscava absorver alguma coisa. Mas, verdade seja dita, ele dizia que admirava muito o que o Edival Lourenço escrevia. Tinha no Edival um exemplo de grande escritor. Como era o Fausto leitor? Era muito crítico? Edival Lourenço — Ah, ele era muito crítico, sim. Na verdade, era muito exigente. Por várias vezes eu o ouvi comentar que havia muita gente que achava que fazer poesia consistia apenas em colocar uma palavrinha debaixo da outra, fazer uma rimazinha aqui, uma aliteração ali e pronto. Ele via muita gente começar na vida literária fazendo poesia, achando que poesia fosse mais fácil. Quando, para ele, era exatamente o contrário. A poesia, entre as artes da palavra, é a mais difícil. Outra coisa de que o Fausto reclama muito em suas memórias é dos concursos literários. Por que ele fazia essa crítica tão acirrada aos concursos? Edival Lourenço — O que acontece é o seguinte: os concursos são dados a premiar textos “engraçadinhos”, textos “modernosos”. O Fausto tinha um texto que não era assim. E, além disso, na minha opinião, grande parte dos concursos tem por feitio premiar escritores imaturos. Quando o escritor maduro perde o estímulo de querer inventar essas coisas mais modernas, mais “engraçadinhas”, naturalmente, ele também perde a possibilidade de ganhar concursos. Inclusive, eu acredito que, quando o sujeito percebe que chegou a um ponto em que deposita um pouco mais de confiança em seu texto, ele deve parar de concorrer nesses concursos que são destinados a iniciantes. Nós temos aqui em Goiás exemplos de contistas e poetas que passam a vida inteira ganhando concursos. E esse negócio de ficar sempre ganhando concursos indica que o texto deles ainda não está maduro; continua aquele tipo de texto “engraçadinho”. ***   Trechos do livro “No Meio de Tanto Graveto”: “Por que todo gênio há de sofrer? Porque não se ajusta à mediocridade que domina o mundo. Lembro-me de José Ingenieros que escreveu ‘El hombre mediocre’, fazendo sua apologia. O homem medíocre ‘vence’ na vida. Atenção mediocridade não tem nada a ver com falta de inteligência. Já vi muitos inteligentes medíocres. (Será que há medíocres muito inteligentes?). (Risos)” “Estive relendo meus contos. Definitivamente, a minha roça não é de contos. Não gostei. Não publicarei livro de contos. Se quiser, um dia, publicar contos, devo apurar a minha linguagem na prosa.” “Tenho pensado se a ojeriza por meus contos não advém da grande autocrítica de que me armo, quando leio o que escrevo. De qualquer modo, autocrítica ou não, esse sentimento é útil, porque não me deixa pensar que os meus escritos são a melhor coisa que já se fez.”  “Por oportuno, situo-me. Não me acho um grande poeta. Mas, por outro lado, levo muito a sério o ato de escrever poesia. Policio-me muito. O julgamento de meu trabalho não me cabe. Interessa-me somente o prazer de lidar com as palavras, tão honestamente quanto possa. Burilo meus versos à exaustão. (...) Não passo na prova com 10, mas consigo aprovação sem envergonhar o examinador (leitor).” “Há alguns dias, refiz um poema cinco vezes. Até que o deixei em uma forma definitiva (?), com 80% de versos a menos do que a primeira versão. Porém, do meu ponto de vista, muito mais significativo e ‘forte’. Mas é opinião minha. Ninguém mais leu o poema.” “As comissões julgadoras, com medo de serem tidas como retrógradas ou passadistas, ou isto e aquilo, vão na onda e fingem que entendem ginásticas semânticas de uns quantos e premiam o ‘gênio’”.

Saúde em Trindade, do caos a um dos melhores sistemas municipais do Brasil

Em quatro anos e oito meses, a atual gestão municipal mudou, radicalmente e para melhor, o quadro de uma das áreas mais delicadas de atuação do poder público

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Considerações sobre um estudo de Albertina Bertha e sobre o legado de Friedrich Nietzsche*

Não gosto de Nietzsche; tenho por ele ojeriza pessoal. Acuso-o, a ele e ao Esporte, como causadores do flagelo que vem sendo a guerra de 1914

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O retirante que deseja ser eterno: a história de Ageu Cavalcante

Biografia mostra que há dois magos: o do diálogo, como diz o título, e a da narrativa, a jornalista Carla Monteiro Nilson Gomes A jornalista Carla Monteiro lança na quarta-feira, 16, no Palácio das Esmeraldas, o livro “Ageu Cavalcante: Mago do Diálogo”. É uma história como tantas, de um imigrante que veio do Piauí para Goiânia e se deu bem. A diferença está no talento de Carla para narrar e na habilidade de Cavalcante para articular politicamente: chegou a vereador e sindicalista com diversos mandatos. A obra tem o prefácio do governador Marconi Perillo, que vê o biografado “no hall dos grandes nomes de Goiás”. O texto de Marconi resume o volume e a trajetória em dois tuítes: 1 — “Ageu chegou aqui aos 18 anos, trazendo consigo apenas o sonho de vencer na vida.” 2 — “Descobriu que a maior riqueza de um homem é o respeito de seus amigos.” Além de Marconi (juntos se filiaram ao PSDB em 1995), Ageu cruzou o seu caminho com o de diversos outros personagens da política goiana. Sua versão dos acontecimentos está no livro, após entrevistas da autora com políticos como os petistas Marina Sant’Anna e Pedro Wilson. Carla dá detalhes de articulações da Câmara de Goiânia, na qual Ageu ficou por duas décadas, como a que livrou de investigações o então prefeito Daniel Antônio na intrincada sucessão do governador Iris Rezende (hoje prefeito de Goiânia) nos anos 1980. Também está no roteiro a ministra do Tribunal Superior do Trabalho Delaíde Arantes, que trabalhou com Ageu no Sindipetro (a entidade que reúne os empregados em postos de combustíveis) e lhe entregou a carteira da OAB há 30 anos. De Corrente, sua cidade natal, Ageu trouxe os ensinamentos do pai, João Lemos Paraguassú, como “jamais morder as mãos de quem as estende para você” — ou tu, em bom nordestinês. Carla revela que Ageu pronunciava para si mesmo um mantra antes de escrever as proposições no Legislativo: “Me dê sentido e me afaste do absurdo”. São palavras em falta atualmente — falta, inclusive, de sentido. Carla dedica as últimas 90 páginas do livro de 340 a fotos e láureas de Ageu, que é até nome de rua (na Vila Maria, em Aparecida). Volta a cada dois meses a Corrente e, no ano passado, quase que o retorno foi triunfal: líderes locais o queriam candidato a prefeito. Recusou. Por um mínimo Carla não faz a biografia de um prefeito do Sul do Piauí, o que reduziria o alcance: Ageu é muito mais do que isso, pois suas mágicas ao dialogar o levaram ao centro da política no Estado de Goiás. Mas, se tivesse sido candidato e eleito, Carla noticiaria os programas recém-lançados pelo prefeito: o livro é tão atualizado que ela noticia até a morte de um tio de Ageu, em junho passado. Ageu é um bom papo e Carla deve ter se deliciado com essas conversas no convívio para redigir o livro, inclusive na recente viagem a Corrente, já neste ano, que rendeu boas imagens editadas no livro. O ex-vereador ganhou na rifa ao vir para Goiânia e na Mega Sena acumulada quando sua história caiu nas mãos de uma grande profissional: trata-se de uma jornalista de primeira grandeza, ótima para investigar, excelente em pautas, enfim, o apogeu para alguém que buscou o ápice na política e o alcançou na escolha da autora de seu volume biográfico. No livro, Carla conta que “Ageu nutre o desejo de ser eterno, pois tem pânico da morte”. Acaba de conseguir o improvável intento: nas prateleiras de Goiás haverá sempre a obra de Carla com seu retrato na capa, sorridente, recebendo uma comenda.