Por Euler de França Belém

[caption id="attachment_692" align="alignleft" width="620"] James Salter: aos 88 anos, o prosador norte-americano lança mais um romance, aclamado pela crítica. Ele diz que arrepende-se de não ter escrito mais livros | Foto: Corina Arranz/ABC[/caption]
A repórter Inés Martín Rodrigo, do jornal “ABC”, de Madri, entrevistou longamente o escritor americano James Salter, autor de “Última Noite e Outros Contos” (Companhia das Letras, tradução de Samuel Titan Júnior). A entrevista, com 17.112 caracteres (o que prova que os espanhóis valorizam o texto longo de qualidade), saiu na edição de 3 de março deste ano. Para lê-la integralmente, clique aqui.
A entrevista foi feita a propósito do novo romance de Salter, “Todo lo que hay” (“All That Is”, de 2014). Depois de longo inverno, ele diz que está de volta ao batente — tanto que o título da entrevista é: “Tenho 88 anos e estou pronto para começar de novo”. Recomendo que o leitor inicie a leitura da obra de Salter por suas belíssimas memórias, “Dias Intensos — Reminiscências” (Editora Imago). Seus livros são de alta qualidade; Salter merece ser mais conhecido e editado no Brasil.
Traduzi trechos da entrevista, às vezes mais adaptando, por isso, no parágrafo anterior, forneço o link para o leitor que quiser ler a entrevista inteira e, ele próprio, fazer uma versão mais precisa das falas da entrevistadora e do entrevistado.
Inés Martín Rodrigo — O fracasso é uma possibilidade na vida do escritor?
James Salter — Se não tem certo reconhecimento pode ser que o escritor se sinta fracassado. Mas pode não ser um fracasso. Pense em Emily Dickinson: nunca publicou nada em vida e se converteu em uma das grandes poetas americanas.
Inés — O que pensa do e-book?
Salter — Não sei muito as respeito. Não uso e-reader. Minha mulher tem um, aprecia e me parece bom. Mas, nos livros de papel, posso escrever, é uma necessidade, gosto de tocar o papel.
Inés — O livro em papel sobreviverá?
Salter — Bem, não sei. Isto quem terá de averiguar é você. Creio que sim, porque há algo agradável nos livros, inclusive seu cheiro. Tocar na tela do Kindle é como estar em um hotel, onde tudo parece muito agradável, mas nada disso é seu. O livro eletrônico não é seu.
Inés — “Todo lo que Hay” tem recebido muito boas críticas. Aos 88 anos, que importância tem a crítica para o sr.?
Salter — Neste momento de minha vida, uma boa crítica não é mais importante do que outra que não é tão boa. Com isso não quero dizer que seja indiferente às críticas. Todo mundo gosta de receber elogios. Quem escreve quer ser lido e admirado. Sou perfeitamente humano, mas sou um homem velho.
A entrevistadora diz que, depois de 30 anos sem publicar um romance, Salter está de volta ao batente, e publicando um livro de qualidade. Sua resposta:
Salter — Estou pronto para recomeçar. Mas um escritor precisa de tranquilidade para escrever, eu ao menos necessito de silêncio, calma, tranquilidade.
O escritor afirma que, no momento, tem dificuldade de encontrar um lugar silencioso. 2013, afirma, foi “um ano muito agitado”. Ele revela que, quando está escrevendo, gosta de solidão, “Mas não gosto de viver isolado.” Só aprecia a solidão quando a busca, em geral para escrever seus contos e romances.
Inés — O sr. escreveu romances, relatos, jornalismo de viagens, memórias e até um livro de culinária com sua mulher. Porém, quem é James Salter?
Salter — Sou um prosador. É como me sinto mais seguro. Meu único arrependimento, ao longo de todos esses anos, foi não ter escrito mais. É sempre um prazer escrever coisas, inclusive pequenas. Encontro um grande prazer escrevendo, inclusive no ato físico de escrever. É um desfrute, um gozo.
Inés — Quando encontrou sua voz?
Salter — Acredito que foi em “Juego y Distracción” [no Brasil, “Um Esporte e um Passatempo”, Editora Imago]. Mas há pessoas que tentam me convencer que encontrei minha voz desde o princípio. Não sei. Em “Um Esporte e um Passatempo” senti que sabia como escrever.
Inés — Em “Quemar los Diás” [no Brasil, “Dias Intensos — Reminiscências”], suas memórias, o sr. disse: “A morte dos reis pode ser contada, mas não a de um filho”.
Salter — Eu nunca pude usá-la como material narrativo. Não pude escrever sobre a morte de minha própria filha. [Uma filha de Salter morreu eletrocutada em Aspen. Ele encontrou o corpo.]
Inés — Pensa em um leitor em particular quando escreve?
Salter — Penso sobretudo nos leitores jovens. Estão cheios de vida, são curiosos e inteligentes, porque, do contrário, não teriam ouvido falar de certos livros.
Inés — Que são o amor e o sexo para um escritor como o sr.?
Salter — Creio que a pessoa mais afortunada é aquela que tem amor, paixão e sexo... Sobretudo se tem os três ao mesmo tempo [risos de Salter]. São os ingredientes básicos da vida.
Inés — De volta ao mundo anglo-saxão: por que há tanta obsessão com a ideia do Grande Romance Americano?
Salter — Não sei quem formulou essa frase pela primeira vez, mas os escritores que surgiram depois da Guerra [Segunda Guerra Mundial, 1939-1945], ao menos a minha geração (Saul Bellow e Philip Roth, entre outros), tinham a ideia de que o Grande Romance Americano ainda estava por ser escrito e um deles poderia escrevê-lo. A ideia persiste, mas não sei se existe tal coisa. O Grande Romance Espanhol é provavelmente “Dom Quixote” [Salter diz “O Quixote”, de Miguel de Cervantes] e se há um Grande Romance Americano é “Huckleberry Finn” [de Mark Twain]. Ainda há autores que acreditam que podem escrevê-lo [ou alcançá-lo, o que confere um sentido mais dúbio à fala de Salter. Convém ressaltar que, na tradução, uso “é”, mas, na verdade, o escritor prefere seria “Huck Finn”].
Inés — Quando Jonathan Franzen lançou “Liberdade”, a revista “Time” publicou o título: “O grande romancista americano”.
Salter — Bom, é demasiado cedo para julgá-lo. Não o li.
(“Como tanta gente, eu sonhava em escrever o Grande Romance Americano.” Quem disse isto? Norman Mailer, Truman Capote, John Updike? Nada disso. A frase é de Jacqueline Kennedy. A história está contada na página 30 do livro “Jackie Editora — A Vida Literária de Jacqueline Kennedy Onassis” (Record, 432 páginas, tradução de Clóvis Marques), de Greg Lawrence. Felizmente, a obsessão americana não é de todos os países. Depois de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, ninguém parou de escrever e pensou, certa e seriamente, em escrever o Grande Romance Brasileiro.)

[caption id="attachment_687" align="alignleft" width="620"] Cristiano Câmara e Paulo Ricardo Caragelasco: a política é melhorar os produtos e aumentar o faturamento nacional. Uma missão difícil[/caption]
Ex-diretor da Grupo Brasil, Paulo Ricardo Caragelasco é o novo diretor financeiro do Grupo Jaime Câmara. O presidente do GJC, Cristiano Câmara, decidiu mudar, aos poucos, os principais executivos da empresa. Antes, havia contratado Maurício Duarte para o cargo de vice-presidente.
Cristiano Câmara tem sugerido, nas reuniões com os executivos, que seu objetivo é melhorar e agregar os produtos do GJC e aumentar o faturamento. Com a internet, hoje mal explorada pelos veículos do grupo, acredita-se, entre os dirigentes, que o “Pop”, sobretudo — a TV Anhanguera tem caráter mais restrito, até pelo tempo curto que tem na programação da TV Globo —, pode-se tornar um jornal nacional. No momento, com o acesso fechado, não é um jornal regional (do Centro-Oeste) e nem mesmo estadual, porque onde não chega como impresso, e não chega em vários lugares — ou, quando chega, o número de exemplares é muito pequeno —, não existe.
Há a possibilidade de se aumentar o faturamento a partir de uma cobertura mais, digamos, nacional? É possível, mas não é fácil, pois o mercado é altamente competitivo. Hoje, o jornal é visto como provinciano. Uma das características de um jornal provinciano, ou interiorano, é não ter quadro próprio de articulistas. Quem abre o “Pop” fica com a impressão de que é uma sucursal dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Seus principais articulistas, e não são exclusivos — as colunas são distribuídas para jornais do país —, são Elio Gaspari (“Folha de S. Paulo”), Dora Kramer (“O Estado de S. Paulo”) e Miriam Leitão (“O Globo”). O suplemento “Magazine” está cada dia mais ocupado por textos das agências. Não raro, um texto que saiu no “Estadão” no sábado é publicado no “Pop” na segunda-feira.
Aos que perguntam se vai mudar quadros na redação, Cristiano Câmara diz que, por enquanto, não. Ele tem reafirmado que tem apreço pela editora-chefe, Cileide Alves. O grupo pretende valorizar repórteres que se dedicarem de maneira mais efetiva às atividades do jornal. Profissionais que usam a empresa como uma espécie de “bicolândia”, trabalhando em dois ou três lugares, aos poucos serão substituídos por jornalistas “full time”.

[caption id="attachment_683" align="alignleft" width="207"] Polyanna Arruda Borges: quem encomendou e quem pediu o roubo
de seu automóvel foram condenados a mais de vinte anos de prisão[/caption]
A publicitária Polyanna Arruda Borges foi assassinada em setembro de 2009, aos 26 anos. Tudo começou assim: Leandro Garcez Cascalho encomendou um Prisma preto ao receptador Diango Gomes Ferreira, que acionou Assad Haidar de Castro e Marcelo Barros Carvalho. Hassad Haidar e Marcelo Barros saíram à procura de um veículo com as características descritas e, numa rua de Goiânia, encontraram Polyanna. Tomaram-lhe o carro e, em seguida, a mataram. Acatando a precisa denúncia do Ministério Público, a Justiça condenou Assad Haidar (45 anos) e Marcelo Barros (25 anos e oito meses), mas não aplicou uma pena branda àquele que encomendou o automóvel e àquele que promovia receptações. Diango Gomes foi condenado a 23 anos e dois meses de cadeia e Leandro Garcez, a 21 anos e quatro meses.
Na quinta-feira, 20, a repórter Rosana Melo, do “Pop”, publicou uma matéria, “Carros para capitalizar o tráfico”, que sugere, mais uma vez, que a polícia, o Ministério Público e a Justiça têm de observar com atenção como quase tudo começa — com a receptação. Melo mostra que as recentes apreensões de drogas, em grande volume, descapitalizaram alguns traficantes que agem em Goiânia e cidades próximas, como Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. Para adquirirem dinheiro fácil e rápido, com o objetivo de comprar droga para revendê-la, os traficantes exigem que usuários de crack roubem carros.
A reportagem do “Pop” mostra que cada automóvel roubado vale 200 reais e, se de luxo, 500 reais. Em seguida, os traficantes comercializam os veículos noutros Estados e, até, países. Os documentos são “esquentados” (legalização pirata, mas eficaz). A polícia confirmou à repórter Melo que o aumento do roubo de carros, em março, tem a ver com a prisão dos traficantes.
Como ocorreu no caso de Polyanna, que hoje teria 30 anos, a polícia tem de localizar os receptadores, por intermédio dos usuários de crack — alguns chegam a ser pequenos traficantes, anota Melo —, e remeter o inquérito ao Judiciário. Com penas maiores, os receptadores certamente se sentirão pressionados a reduzir suas atividades.
Um delegado de polícia, ouvido pelo “Pop”, disse: “Todos os carros foram roubados de mulheres que estavam paradas e sozinhas”.

Jarbas Rodrigues Jr., editor da coluna “Giro” (“Pop”, sexta-feira, 21), pode ter cometido a gafe do ano. O jornalista entrevistou Luiz Alberto de Oliveira, o Bambu, a propósito da extinção de 1,1 mil cargos comissionados no governo de Goiás. A nota é correta. No entanto, a caricatura não é de Bambu, e sim de outro Luiz Alberto de Oliveira.
A caricatura é do economista Luiz Alberto Gomes de Oliveira, que foi professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) e secretário da Prefeitura de Goiânia. Um dos melhores quadros do PT goiano, Oliveira morreu em 2011. A caricatura deve ser velha, de arquivo, ou então entregaram a fotografia errada para o chargista e caricaturista Jorge Braga.

O pernambucano Francisco Julião (1915-1999), o grande líder das Ligas Camponesas, é uma lenda da esquerda brasileira. Ele foi um dos primeiros líderes esquerdistas do país a receber dinheiro do governo de Fidel Castro, czar de Cuba, para fazer a revolução comunista no Brasil. Não deu certo. Para explicá-lo, Cláudio Aguiar lança “Francisco Julião — Uma Biografia” (Civilização Brasileira, 854 páginas).
Trecho da sinopse divulgada pelo site da Editora Civilização Brasileira:
“Considerado por seus adversários como simples agitador social, incendiário, revolucionário, e por seus aliados de esquerda um visionário, Julião foi responsável por importantes conquistas sociais para o campesinato brasileiro.
“Nos primeiros anos da década de 1960, ele organizou a maior greve camponesa no Brasil, com fortes reflexos no Nordeste, ocasião em que forçou o governo a reconhecer, pela primeira vez, o piso salarial para o trabalhador rural da zona canavieira pernambucana e, a seguir, assegurar à mesma categoria o direito à sindicalização.
“Esta biografia traz, finalmente, para o público brasileiro a oportunidade de conhecer quem foi este líder carismático e intelectual, que interferiu significativamente nos rumos político e social do Brasil no século XX.”
“Cláudio Aguiar recupera a trajetória de Julião, o criador das célebres Ligas Camponesas, e o compara, na luta pela emancipação do campesinato, a Joaquim Nabuco em sua defesa da libertação dos escravos”, diz Merval Pereira, comentarista político de “O Globo”. No caso, um exagero evidente, e aparentemente endossado por Merval Pereira.
Por mais que Francisco Julião tenha sua importância, não tem a mesma relevância histórica de Joaquim Nabuco, que, além de ativista contra a escravidão, era um intelectual dos mais notáveis.
Tudo indica que não se trata de uma biografia “contra”, mas também não é uma hagiografia.

[caption id="attachment_671" align="alignleft" width="620"] Herbert Moraes entrevista Dita Kraus, sobrevivente de Auschwitz[/caption]
Herbert Moraes, correspondente da TV Record e colunista do Jornal Opção em Tel Aviv, passa férias em Goiânia. Herbert, há quase 10 anos trabalhando no Oriente Médio, é um dos jornalistas que mais conhecem os problemas dos países da região. Recentemente, entrevistou Dita Kraus, uma sobrevivente de Auschwitz. Aos 14 anos, Dita Kraus se tornou bibliotecária não-oficial do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. A história está parcialmente contada num livro do escritor argentino-canadense Alberto Manguel, que foi secretário de Jorge Luis Borges, e num romance histórico de um jornalista espanhol, Antonio Iturbe. Dita Kraus tem 84 anos e mora em Israel, onde Herbert a localizou. Publicada a entrevista, ela escreveu uma carta para o jornalista goiano dizendo que havia captado de maneira perceptiva o que havia dito. Ao escrever o texto, Herbert registrou suas expressões faciais, os incômodos por mexer em feridas tão graves e não inteiramente cicatrizáveis. Ela gostou disso.
O segredo do correspondente internacional? Como em qualquer lugar, boas fontes e uma combinação de paciência e persistência, além, é claro, de um conhecimento preciso dos povos da região. Costuma-se dizer que Tel Aviv é uma bolha, em termos de segurança, mas o Oriente Médio, além do petróleo, é um barril de pólvora. Herbert cobriu a maioria dos últimos conflitos da região. Acostumou-se ao que acontece lá? Ninguém acostuma-se, mas adapta-se. Sobretudo, gosta do que faz. Por enquanto, curte a paz relativa de Goiânia, sua cidade natal.

Um aviador irlandês prevê a morte
W. B. Yeats Encontrarei meu fim no meio das nuvens de algum céu sobejo; os que combato, eu não odeio. também não amo os que protejo; Kiltartan Cross é meu país, seus pobres são a minha gente, nada a fará mais infeliz do que já era, ou mais contente. Não é por lei ou por dever, turba ou políticos, que luto, mas pelo afã de me entreter, a sós, nas nuvens em tumulto. Tudo na mente foi pesado: nada que espere ou que recorde vale-me a pena comparado com esta vida ou esta morte. [William Butler Yeats (1865-1939), poeta, dramaturgo, critico e ficcionista irlandês. O poema foi extraído do livro “Poesia Alheia — 124 Poemas Traduzidos” (Imago, 378 páginas), do poeta, crítico e tradutor Nelson Ascher. Pode ser conferido na página 99]Um aviador irlandês prevê sua morte
W. B. Yeats O meu destino, sem receio É entre as nuvens que eu o vejo: Aos que combato, eu não odeio, Nem amo aqueles que protejo. Eu sou lá de Kiltarten Cross. Um dos seus pobres habitantes: Termine a guerra e logo após Eles serão como eram antes. Não luto por lei ou dever, Políticos ou multidão. Um doce impulso deu-me a ver As nuvens e seu turbilhão. Avaliei tudo: no final O que há por vir não muda a sorte, E o que passou fez tanto mal Quanto esta vida ou esta morte. [Poema extraído do livro “22 Ingleses Modernos — Antologia Poética” (Civilização Brasileira, 162 páginas), organização, tradução e notas de Jorge Wanderley. O texto pode ser conferido na página 33.]Na Irish Airman foresees his Death
W. B. Yeats I know that I shall meet my fate Somewhere among the clouds above: Those that I fight I do not hate Those that I guard I do not love; My country is Kiltartant’s poor, No likely end could bring them loss Or leave them happier than before. Nor law nor duty bade me fight, Nor public men, nor cheering crowds. A lonely impulse of delight Drove to this tumult in the clouds; I balanced all, brought all to mind, The years to come seemed waste of breath, A waste of breast the years behind In balance with this life, this death.Quando secretário da Educação, o deputado federal Thiago Peixoto (PSD) esforçou-se, sob uma resistência intensa, para reconduzir milhares de professores às salas de aula. Havia professor altamente especializado cuidando de horta. Outro trabalhava ligando e desligando computadores. Pelo menos um trabalhava como motorista. No início de 2011, quando o governador Marconi Perillo (PSDB) assumiu, levando Peixoto para a secretaria, “dos mais de 29 mil docentes da rede [estadual de ensino], 14 mil estavam fora das salas”, informou ao jornal o superintendente de Ensino Médio, Fernando Pereira dos Santos. Dez mil voltaram a lecionar, porém mais de 4 mil, conta o “Pop”, permanecem fora. O déficit atual de professores é de 943. Portanto, nem é preciso fazer concurso público — basta convocar parte dos que estão fora das salas.
O “Pop” voltou a cometer pequenos erros, felizmente não graves, nas sinopses de filmes. “Eles ficam isolado”, anota quem escreveu a síntese do filme “O Grande Herói”. Se o sujeito é “eles”, no caso quatro soldados, é apropriado trocar “isolado” por isolados. No resumo de “Minutos Atrás”, há o velho problema do “Pop” com as vírgulas. “Solitários e sonhadores, eles partilham ao lado do cavalo Ruminante, histórias fantásticas e surreais”, informa o jornal. O texto mais apropriado é o seguinte: “Solitários e sonhadores, eles [Nildo e Alonso] partilham, ao lado do cavalo Ruminante, histórias fantásticas e surreais”. E o que dizer de “fantásticas e surreais”? Não seriam redundantes. Francamente, não sei.
A TV Globo está cada vez mais preocupada com o acesso da TV Anhanguera. Quando sai a programação da Globo, quase sempre em alta, e entrada a programação da Anhanguera, nem sempre em baixa, a audiência às vezes cai. Até agora, a cúpula do Grupo Jaime Câmara não apresentou uma explicação razoável. O que os dirigentes dizem é que, na verdade, a Anhanguera continua liderando a audiência em Goiás. A baixa audiência da Anhanguera — que chega a perder para TV Record e para a TV Serra Dourada — ganhou repercussão nacionalmente, há poucos dias.
Sônia Menezes lança “João Tinha Medo”, seu segundo livro infantil. Com mestrado em literatura, Sônia, além de escrever bem, comunicando com precisão aquilo que as crianças adoram ler, é uma grande professora. Aqueles alunos que estudaram no Externato São José têm na memória as aulas vivazes da mestra.
Um dos mais experimentados jornalistas de Goiás, Afonso Lopes deixou o programa "Plantão das 11", da Rádio Mix FM. Ele planeja desenvolver novo projeto, possivelmente na mesma rádio. As impecáveis análises políticas de Afonso Lopes podem ser lidas no Jornal Opção.

Por que, quando se escreve sobre o presidente do Supremo Tribunal Federal, jornalistas avaliam como importante dizer que é negro? Nenhum escreve que o ministro Ricardo Lewandowski é branco. Mas a verdadeira discussão deve centrar-se na questão: o ministro julga de modo competente e com seriedade? Barbosa, além da eficiência, é um magistrado íntegro.
Barbosa decidiu processar o jornalista Ricardo Noblat, que teria cometido crimes de racismo, injúria e difamação num artigo publicado no jornal “O Globo” — “Quem o ministro Joaquim Barbosa pensa que é?”. O colunista do jornal carioca teria atacado a honra do magistrado.Noblat, além de fazer referência ao fato de Barbosa ter sido indicado pelo ex-presidente Lula da Silva, do PT, escreveu “que, para entendê-lo, é necessário acrescentar ‘a sua cor’”. “Joaquim foi descoberto por um caça-talentos de Lula, incumbido de caçar um jurista talentoso e... negro”, anota o colunista.
Há mesmo racismo no que escreveu Noblat? Só se muito sutil. Referir-se a uma pessoa como negra não é, por si, racismo. É óbvio que Barbosa não foi escolhido ministro apenas por ser negro, pois seu conhecimento jurídico é notório, mas a cor, a se julgar pelo que saiu em jornais e revistas, teve certo peso para Lula indicá-lo. Lula teria sido racista, um racismo às avessas? Por certo, não.
Dizer que, para entender Barbosa, é preciso levar em consideração “a sua cor” é forçar a barra, mas talvez não seja exatamente racista. A conduta do ministro no Supremo não tem nada a ver com sua cor, exceto se decência e competência forem atributos exclusivos dos negros.
O risco da judicialização da vida pública é que qualquer coisa pode se tornar crime. Uma palavra mal colocada, uma mão mais pesada, digamos, acaba sendo avaliada como racismo, quando às vezes não é. Uma opinião ligeira, típica das que se pode formular na democracia, às vezes como um charuto é apenas um charuto e não um símbolo fálico, não significa necessariamente que se é racista. Até onde se sabe, Noblat não tem conduta de racista. No lugar do processo puro e simples, uma medida punitiva por antecipação, cabia, muito mais, uma interpelação, com uma solicitação de esclarecimento. Falta fair play no país que está tentando copiar hábitos dos Estados Unidos? Quem sabe...

[caption id="attachment_655" align="alignleft" width="300"] “De Mandelstam Para Stálin”, de Robert Littell, é um romance esplêndido sobre a luta de um poeta contra o totalitarismo stalinista[/caption]
O poeta russo Óssip Mandelstam escreveu um poema sobre Stálin, no qual chamava-o de assassino e de ter bigodes de barata, e acabou preso na Lubianka e, depois, no Gulag (campo de concentração e trabalhos forçados). “Em outubro de 1938, sem medicamentos e sem cuidados adequados, o poeta russo Óssip Mandelstam morreu em Vtoraya Rechka, paranoico e delirante”, conta a historiadora Anne Applebaum no livro “Gulag — Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos” (Ediouro, 749 páginas), digno “sucessor” do “Arquipélago Gulag”, do escritor Alexander Soljenítsyn. No conto “Licor de Cereja”, Varlam Shalamov relata os últimos dias do homem que desafiou o ditador: “Ele já não ficava de olho na ponta do pão [a mais comestível], nem chorava quando não a conseguia. Já não enfiava o pão na boca com dedos trêmulos”. O assassino intelectual de Trotski conseguiu o que planejou: destruiu física e mentalmente um dos poucos homens que, mesmo sabendo dos riscos, teve coragem de enfrentá-lo publicamente. A poesia de Mandelstam tem sido editada no Brasil e, sobretudo, em Portugal. Para conhecê-lo, é fundamental a leitura de “Contra Toda Esperança”, as memórias de sua mulher, Nadejda Iákovlevna Mandelstam. A maioria de seus poemas foi decorada por Nadejda e posteriormente, com a “morte” do stalinismo, publicada. Ela sabia literalmente todos os poemas de cor. Quem não tem acesso à obra-prima de Nadejda pode consultar o recém-lançado “De Mandelstam Para Stálin — Um Epigrama Trágico” (Record, 375 páginas, tradução de Mauro Gama; o poeta e crítico Marco Lucchesi revisou a tradução e traduziu trechos de alguns poemas), de Robert Littell.
“De Mandelstam Para Stálin” é um livro esplêndido. Deve ser lido como literatura, mas tendo em vista que conta uma história trágica que efetivamente aconteceu. É uma história sobre a perversidade sem limites do stalinismo. Nem tudo é verdade neste romance apaixonante (que deve ser lido pelo menos por todos os poetas). O que não é verdadeiro é o instrumento adequado para torná-lo ainda mais real, para fixar a verdade. O que é inventado é tão real quanto o real. Como o stalinismo roubou, sonegou ou escondeu a história de Mandelstam só resta mesmo pedir socorro à imaginação para recuperar as (amplas) partes perdidas.
É uma história com começo, meio e fim, um romance histórico (quase) tradicional, mas os capítulos podem ser lidos separadamente. Mandelstam tinha um método singular de bolar seus poemas. Articulava-os no cérebro, fumando intensamente, e em seguida, sem escrevê-los, declamava-os para amigos, sobretudo poetas. “Seus lábios trabalhavam, palavras e depois frases se formavam. Eu quase podia ouvir o poema batendo como um punho sobre a janela”, conta Nadejda. Ele o chamou de “O epigrama de Stálin” e leu-o em primeira mão para Nadejda, uma de suas musas inspiradoras e sua grande paixão, e para a amante Zinaida Záitseva-Antónova, atriz belíssima. Mandelstam, Nadejda e Zinaida eram adeptos do ménage à trois.
O poema, de 1934: “Surdos na terra que pisamos nós vivemos./A dez passos de nós, quem ouve o que dizemos?//O alpinista do Kremlin eu ouço há meses:/É um assassino massacrando os camponeses.//Os dedos gordos como larvas mela/E, em chumbo, cai-lhe o verbo de sua goela.//Torto nos vê o bigode de barata./E a bota que no brilho se remata.//Em torno a choldra de pescoço ralo/E de semi-homens baba, em seu badalo.//Nitre, ronrona, gane/Se ele lhe palre, ou as mãos abane.//Um a um forjando leis, arremessadas/Ferraduras na testa, olho, beiradas.//E matar sempre é benfeito/Para esse osseta de peito”. Um poema devastador, sem dúvida, a se considerar que a União Soviética vivia sob uma ditadura totalitária. O humorista Millôr Fernandes escreveu que, quando o senador José Sarney escreve, a língua portuguesa grita de dor. Nada aconteceu a Millôr. É a diferença entre democracia e regime totalitário.
Nadejda decorou o poema, mas Zinaida pediu para Mandelstam anotá-lo, pois também queria aprendê-lo, mas acabou por denunciá-lo. Depois, Mandelstam leu-o para Boris Pasternak, seu amigo e protetor. Pasternak ouviu tudo calado, “o rosto enterrado em suas enormes mãos”.
“Você está cometendo suicídio. (...) Não imaginei que faria (...) uma coisa tão insana”, adomoestou Pasternak. “O que a Rússia precisa é de mais insanidade e de menos bom senso”, replicou Mandelstam.
Pasternak tentou sugerir lógica ao amigo: “Se você estiver falando sério sobre derrubar Stálin, participe da luta política a longo prazo”. Mandelstam contestou-o: “Minha personalidade é incapaz de lidar com a luta política. Sou impaciente demais para a estratégia. Tenho apenas o temperamento para a tática. Sou levado pelo gesto. E acredito no poder da poesia para mover as montanhas, juntamente com o montanhista do Kremlin”.
Ao perceber que Mandelstam não o ouvia, Pasternak pediu que mudasse o poema, que o tornasse “velado, ambíguo” e falasse no geral, não especificamente sobre Stálin. A reação de Mandelstam: “Eu cansei de ser evasivo, Boris. É preciso escrever um poema que revele o mal de Stálin de maneira que qualquer mentecapto possa compreendê-lo. Se não agora, será quando? Se não for eu, quem há de ser?”
Mesmo assim, Pasternak propôs uma mudança: “Reescrever a segunda estrofe. O trecho sobre assassino e sobre massacrar camponeses é perigosamente direto”.
Apavorado, por entender que o amigo talentoso seria destruído pela máquina devoradora do stalinismo, Pasternak ligou para a poeta Anna Akhmátova, amiga de Mandelstam, e pediu apoio para contê-lo. Ao visitar os Mandelstam, Akhmátova lastimou: “O poeta inglês Eliot [T. S. Eliot nasceu nos Estados Unidos, mas é conhecido como poeta inglês], em seu ‘A Terra Desolada’, afirmou ter escorado sua ruína com fragmentos, mas os seus fragmentos causarão a sua ruína”.
Talvez para diminuir a coragem suicida de Mandelstam, Akhmátova disse que o poema não era bom (o que não importa tanto hoje, pois os críticos literários e historiadores enfatizam a coragem do autor, seu poder de síntese ao definir o sistema totalitário e seu principal agente): “Pondo de lado sua audácia, não acho que seja um bom poema, não. Para meu ouvido, não parece nem ser um poema. Você não estava escutando a música das palavras quando o compôs. Tinha alguma coisa na cabeça. É polêmico, feito para ser compreendido como um argumento político. Não é algo que incluirá em sua antologia, se e quando ela for publicada”. O contra-argumento de Mandelstam: “É um poema que diz a verdade, que não se vale de evasivas. É um poema purificador, que pode apagar o passado e dar vida nova, de modo que a Rússia possa recomeçar outra vez”.
A poeta chamou-o à razão: “Se ele se tornar conhecido, você morrerá”. Akhmátova estava certa: Mandelstam foi preso, torturado e, em seguida, deixado num campo de prisioneiros para morrer de fome e de falta de esperança. Felizmente, Nadejda, uma mulher extraordinária, preservou seus poemas, ao decorá-los, e nos contou sua história de luta contra o tirano. Os poemas se tornaram os grandes sobreviventes e sua história mostra quem, afinal, era gigante, Mandelstam, e quem era anão, Stálin.
“Os resultados são incríveis, se se tem em conta a concepção de mundo dos nazistas. A raça e o sangue tinham um papel fundamental. A preocupação de Hitler por suas origens [como se quisesse escondê-las] estava justificada. As análises demonstram que ele tampouco era um ariano puro”, diz Decorte.
“Não é a primeira vez que os historiadores sugerem que Hitler tinha ascendência judia. Acredita-se que seu pai, Alois, era filho ilegítimo de uma relação entre Maria Schickegruber e Frankenberger, um jovem judeu de 19 anos”, relata “El Mundo”.
Duas experimentadas jornalistas do "Pop" pediram demissão, mas a editora-chefe, Cileide Alves, conseguiu convencê-las a permanecer na redação. Uma das profissionais garante que está sofrendo ameaças e que, por isso, prefere afastar-se do jornal. Alves optou por distribuir o material de polícia para mais repórteres. A outra repórter afirma que está "estressada". O "Pop" adotou a política de reduzir contratações ao máximo. Assim, só contrata quando sai um repórter. Mas está com dificuldade de contratar repórteres experimentados, com texto final. O volume de erros nas reportagens está preocupando a direção do jornal.