Por Euler de França Belém

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Ray Cunha autografa três livros na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura

Marcelo Larroyed* [email protected] O escritor Ray Cunha autografará três livros e lerá contos na Livraria do Chico da UnB, no Pavilhão A, Estande 33 da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, de 11 a 21 de abril, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília: o recém-lançado Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela É (Ler Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 25); Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília, 116 páginas, R$ 30); e O Casulo Exposto (LGE/LER Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 28). Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela É está à venda no Sebinho, complexo de livraria, cafeteria e restaurante na 406 Norte, Bloco C; além do site www.lereditora.com.br, que atende a qualquer região do planeta, incluindo o Distrito Federal, com a entrega do livro em casa. Também pelo site da Ler Editora pode ser adquirido o livro O Casulo Exposto. Livreiros devem fazer pedidos pelo e-mail: [email protected], ou pelo telefone:(55-61) 3362-0008, ou ainda diretamente na Ler Editora, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 3, Lote 49, Bloco B, Loja 59 – Brasília/DF – CEP 70610-430. RAY CUNHA - NA BOCA DO JACARÉ-AÇU - Blog Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela É é o terceiro volume da trilogia de contos que começou com A Grande Farra (edição do autor, Brasília, 1992, 153 páginas, esgotada) e prosseguiu com Trópico Úmido. A espinha dorsal da trilogia é a Amazônia, tanto a Hileia quanto as metrópoles da selva. O livro enfeixa 14 histórias curtas, ambientadas em Belém, que acaba sendo personagem subjacente no conjunto dos contos, e a quem o autor dedica o livro ("Cidades são como mulheres. Este livro é para Santa Maria de Belém do Grão Pará"). Algumas histórias têm sequências na maior feira livre da Ibero-América, o Ver-O-Peso, que aparece em fotomontagem na capa desta edição, bem como no Marajó, “maior ilha flúvio-marítima do planeta, ao sul do estuário do rio Amazonas, o maior do mundo, único com estuário e delta, e que despeja por segundo pelo menos 200 mil metros cúbicos de água e húmus no Atlântico, tornando as costas do Amapá e do Pará as mais piscosas da Terra, apesar de que a Amazônia Azul setentrional é a menos estudada pela academia e a mais mal guardada pelo estado brasileiro” – comenta Ray Cunha. “O conto que dá título ao livro, Na Boca do Jacaré-Açu, é o mergulho suicida do arqueólogo Agostinho Castro nos abismos do Mundo das Águas, a confluência dos rios Amazonas, Pará, Tocantins e Guamá, e o oceano Atlântico, abocanhando o arquipélago de Marajó, mais de mil ilhas, a maior delas do tamanho de Portugal. Jacaré-açu atinge mais de 6 metros de comprimento e meia tonelada de peso; no conto Na Boca do Jacaré-Açu, representa a morte, na pessoa do pai de Agostinho, Castro e Castro” – observa o escritor. Capa - Trópico Úmido - BlogTrópico Úmido –  Três Contos Amazônicos,  o segundo livro da trilogia Amazônia. Trópico Úmido reúne três contos com pano de fundo em quatro cidades da Amazônia: Belém, capital do Pará; Macapá, capital do Amapá; Manaus, capital do Amazonas; e Rio Branco, capital do Acre.  o segundo livro da trilogia Amazônia. Trópico Úmido reúne três contos com pano de fundo em quatro cidades da Amazônia: Belém, capital do Pará; Macapá, capital do Amapá; Manaus, capital do Amazonas; e Rio Branco, capital do Acre. Inferno Verde conta a história do repórter Isaías Oliveira, num duelo com o sinistro traficante Cara de Catarro. A trama se passa em Belém e na ilha de Marajó. Latitude Zero se desenrola em Macapá, cidade situada no estuário do maior rio do planeta, o Amazonas, na cofluência com a Linha Imaginária do Equador. Um punhado de jovens começa a descobrir que a vida produz também ressaca. A Grande Farra narra peripécias do jovem repórter e playboy Reinaldo. Candidato a escritor, ele gasta seu tempo trabalhando como repórter, bebendo e se envolvendo com inúmeras mulheres. O conto tem sua geografia em Manaus, encravada no meio da selva amazônica, e em Rio Branco, no extremo oeste brasileiro. Segue-se artigo do jornalista, escritor e crítico literário Maurício Melo Júnior, que apresenta o programa Leituras na TV Senado, sobreTrópico Úmido. OBSESSÕES AMAZÔNICAS DE RAY CUNHA – “A literatura brasileira está numa encruzilhada. Cada autor atira para um lado e ninguém consegue formatar o que no passado se chamou de movimento. Mesmo em lugares onde se pratica uma literatura regional intensa – Pernambuco e Rio Grande do Sul, por exemplo – não há o senso de união. Isso, se por um lado favorece a diversidade temática, por outro, paradoxalmente, desagrega autores e enfraquece o trabalho de formação de leitores. Embora o ato de escrever seja um exercício de solidão, são a vivência e a convivência que dão ao escritor o estofo necessário para a composição do texto. “O escritor Ray Cunha, nascido na beirada da floresta amazônica, sofre do mal que vitimou parte de seus colegas a partir dos anos setenta: é um escritor desagregado, carente de grupos com quem possa discutir temas, estéticas e formas. Isso fica muito claro em seu livro Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos, no qual, apesar de uma certa obsessão geográfica, sente-se a ausência da região em sua plenitude. O leitor mais exigente terminará a leitura carente do sotaque e das cores amazônicas, embora fique saciado com o desenvolvimento bem resolvido da trama. “O conto que abre o livro, Inferno Verde, conta a história do repórter Isaías Oliveira em duelo sangrento e perverso com o traficante Cara de Catarro. O segundo texto, Latitude Zero, fala de um grupo de jovens em descobertas sexuais em Macapá. Pode ser visto como um conto de formação, embora carregado do escancaro de Charles Bukowisk, o que é até compreensível em quem sobreviveu às teorias de Freud e à revolução sexual dos anos sessenta. Finalmente, o último conto do volume, A Grande Farra, conta a história de Reinaldo, um repórter que sonha ser escritor, mas, milionário, gasta a vida em bebedeiras e aventuras sexuais. “A linha que liga todos os textos, além da região amazônica, é mesmo a temática da sexualidade. No entanto, este sentimento está muito próximo das práticas vindas com a liberação sexual dos anos sessenta, unidas a um certo sadismo dos personagens. Num pobre exercício de paráfrase com os Atletas de Cristo, que trazem halos angelicais para os nossos atletas do futebol, podemos dizer que os personagens de Ray Cunha são Atletas de Sade. É impressionante a obsessão por um ato doloroso e imposto. Há sempre dominação do macho sobre a fêmea, mesmo quando ela, também filiada à revolução sexual, escolhe seu parceiro. Ainda assim prevalece a força do macho. “Esses personagens construídos pelo autor, por conta da defesa de uma geração perdida, terminam por carregar cores muito iguais. São todos hedonistas, amantes do prazer sobre todas as coisas. Por conta desse sentimento entram de cabeça na vida sem medir qualquer consequência. E fica clara aí a influência de Bukowisk, o velho safado, embora a sensualidade das ninfetas traga para os textos uma certa lembrança de Nabokovisk, o velho também safado, mas um pouco mais pudico. Sobrevive disso tudo um mundo excessivamente cruel, posto que o prazer é o que menos importa aos moços. Todas as relações têm como objeto a sujeição do parceiro. “O poeta Augusto dos Anjos falava em um de seus sonetos da “obsessão cromática”, do que chamava de fantástica visão do sangue se espalhando por toda parte. Ray Cunha trás para a literatura um pouco dessa obsessão, que faz a festa dos repórteres policiais. Há muitas cenas cruéis, com requintes de crueldade, dignos das páginas dos romancistas policiais americanos da década de cinquenta, um período no qual a fineza britânica de Conan Doyle foi substituída pela inspiração de Bram Stoker. “Finalmente, há obsessão geográfica. Para um livro passado na Amazônia isso é bem interessante. No entanto o autor poderia descrever mais e citar menos. Explica-se. É comum por todo o texto o nome de ruas onde moram, vivem e rodopiam os personagens. O problema é que a citação pura e simples do nome da rua simplesmente não remete a qualquer impacto sobre o leitor que não conhece as ruas. O autor poderia descrever as ruas, o que daria uma informação a mais ao leitor, situando-o até no ambiente por onde transitam os personagens. “Fica do livro, entretanto, a construção da história. Há pontos de prisão do leitor no jogo de curiosidades desvendadas aos poucos. O autor sabe manipular bem a trama, levando o leitor ao clímax. Com isso, resgata uma das maiores carências da literatura brasileira atual: o bom contador de história. É que os nossos novos escritores, buscando a universalidade linguística de Guimarães Rosa, esqueceram que ele sabia contar bem uma história. Resultado: renunciaram à narrativa e não ganharam a inventividade estética. “Ray Cunha consegue contar bem suas histórias. No entanto poderia ter trazido o mundo mais amazônico para suas páginas; poderia deixar um pouco as influências estrangeiras e seguir a trilha de autores como Benedicto Monteiro. Isso pode transformá-lo no grande representante da literatura amazônica moderna. Aquele que conseguirá traduzir boa linguagem com boa narrativa, e tudo temperado em um bom caldo de tucupi.” O casulo exposto - Capa Andre Cerino - Divulgacao O CASULO EXPOSTO – “O Casulo Exposto enfeixa 17 contos ambientados no Distrito Federal. Trabalho, como jornalista, em Brasília, desde 1987, cobrindo amplamente a cidade-estado, o Entorno e o Congresso Nacional, o que me proporcionou conhecer bem essa geografia, inclusive a humana, que serviu para criar as personagens e o cenário dessas histórias curtas” – diz Ray Cunha. “O casulo é uma alegoria à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da Humanidade, a borboleta de Lúcio Costa, ninfa golpeada no ventre, as vísceras escorrendo como labaredas de luxúria, depravação e morte, nos subterrâneos e na esfera política da cidade dos exilados, onde chafurda uma fauna heterogênea: amazônidas que deixaram a Hileia para trás e tentam sobreviver na ilha da fantasia; jornalistas se equilibrando no fio da navalha; políticos, daquele tipo mais vagabundo, que esconde merenda escolar na mala do seu carro e dinheiro na cueca; estupradores; assassinos; bandidos de todos os calibres; tipos fracassados e duplamente fracassados, misturando-se numa zona de fronteira e penumbra.” Segue-se prefácio de Maurício Melo Júnior: “O escritor Jorge Amado costumava se queixar de algumas ausências da literatura brasileira. E dizia que a mais gritante delas era a falta de romances sobre o ciclo do café, como os que foram escritos sobre os ciclos da cana-de-açúcar e do cacau. Também podemos dizer que ainda não surgiram os escritores que tomaram o desafio de contar as sagas da busca da borracha na Amazônia e da construção de Brasília em pleno cerrado goiano. “Neste seu novo livro de contos e novelas, o escritor Ray Cunha, nascido no Amapá e vivente de Brasília, passa longe da narrativa de homens perdidos na solidão da floresta ou na poeira das construções incansáveis. O que interessa ao escritor são os resultados daquelas experiências, são os personagens que ficaram depois das epopeias. “Os homens e mulheres que saltam destas páginas são bastante curiosos. Têm a política no sangue, embora apenas transitem em torno dela. Veem o poder bem de perto, mas não participam de suas benesses. Também calejados pelas dores impostas pela opressão da floresta, já nada os surpreende e a violência pode ser uma forma de defesa ou sobrevivência. Sim, os escrúpulos são poucos. Ou, citando Jarbas Passarinho, um acriano que fez carreira política no Pará, “às favas com o escrúpulo”. Em compensação, a sensualidade aflora na pele dessa gente. O perigo é que também este poder de encantar e seduzir é instrumento de dominação. “Naturalmente que a visão que temos aqui está superdimensionada pelos requisitos da literatura, mesmo assim sua base tem intensos pontos de realismo. E Ray ainda lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até cruel. No entanto, este humor nasce do clima noir, o clima dos filmes e livros policiais surgidos nos anos de 1940. “Sem saudosismos e com muito suspense, os contos e novelas de Ray Cunha nos põem diante dos brasilienses, esses seres nascidos da junção plena de todos os brasileiros. E vale muito a pena conhecê-los”. Ray Cunha - Closup - Blog RAY CUNHA POR RAY CUNHA – “Sou caboco (sic) de Macapá, cidade da Amazônia Caribenha que tremeluz na Linha Imaginária do Equador e se debruça no estuário do Amazonas, a cerca de 200 quilômetros da boca do maior rio do planeta, quando o Mar Doce penetra fundamente o Atlântico, fertilizando-o até o Caribe” – define-se Ray Cunha, que mora em Brasília, onde trabalha como correspondente do Portaldo Holanda (o mais lido da Amazônia e vigésimo do país entre os sites auditados pelo Instituto de Verificação de Circulação – IVC) e no semanário Brasília Capital, além de ser aluno do curso de Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc). *Marcelo Larroyed é escritor e mestre em língua portuguesa

Biógrafo diz que Brizola devolveu dinheiro a Cuba e que não há prova de que Fidel o tenha chamado de El Ratón

5073009Leio “El Caudilho — Leonel Brizola: Um Perfil Biográfico” (Editora Aquariana, 543 páginas), do jornalista FC Leite Filho. De cara, cabe esclarecer, é um livro a favor. A obra, embora íntegra, não é, no geral, crítica. É uma defesa quase sempre factual do criador do PDT. Pelo menos dois livros discutem, a sério, a história do dinheiro enviado por Fidel Castro para a “guerrilha” de Brizola. O capitão José Wilson da Silva, em “O Tenente Vermelho” (Editora Tchê!, 248 páginas) e em entrevista ao Jornal Opção, contou que o grupo de Brizola recebeu 1 milhão de dólares de Cuba. Os primeiros 500 mil dólares foram repartidos, em partes iguais, entre Brizola, João Goulart e Darcy Ribeiro. Depois, com intermediação de Lélio Carvalho (não citado por Leite Filho), Fidel enviou mais 500 mil dólares. O dinheiro, repassado por Darcy Ribeiro, teria financiado a Guerrilha de Caparaó. José Wilson chegou a atritar-se com Brizola, mas em nenhum momento diz que o líder trabalhista roubou o dinheiro de Cuba. [caption id="attachment_250508" align="aligncenter" width="620"] Leonel Brizola e Fidel Castro | Foto: Reprodução[/caption] A doutora em história social Denise Rollemberg, em “O Apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil — O Treinamento Guerrilheiro” (Editora Mauad, 94 páginas), escreve: “... ninguém parece saber a quantia recebida. Brizola nunca prestou conta do dinheiro nem a Cuba nem aos militantes, fossem dirigentes ou de base. Tinha-o como um ‘empréstimo pessoal’, a ele Brizola, e que seria devolvido. Acredita-se ter havido gastos nos quais o dinheiro foi usado, mas apenas uma parte. [...] Brizola nunca teria ajudado os guerrilheiros presos e suas famílias com o dinheiro de Cuba”. Fidel Castro teria desabafado: “Digan a su jefe lo que yo pienso que ele es un ratoncito”. O ditador teria chamado o brasileiro de “el ratón”. Leite Filho diz que não há “provas de que” o líder comunista tenha dito isso. Embora não apresente provas — por exemplo, uma declaração de Fidel ou de outra autoridade cubana —, o biógrafo, baseado em depoimento do ex-deputado Neiva Moreira, sustenta: “Brizola foi o único líder revolucionário a devolver parte do dinheiro que recebeu, quando resolveu abandonar a guerrilha, por considerá-la inviável para o Brasil”. Neiva garante: “E todo mundo sabe disso em Cuba”. Se sabe, um depoimento de um cubano do primeiro plano seria fundamental para confirmar o depoimento de Neiva Moreira, amigo, aliado e, quiçá, cúmplice de Brizola. A surpreendente declaração de Neiva exige pesquisa, confronto. [caption id="attachment_250505" align="aligncenter" width="620"] Leonel Brizola num churrasco com Fidel Castro | Foto: Reprodução[/caption] Adiante, Leite Filho escreve: “... foi do financiamento de Cuba às guerrilhas brasileiras que surgiram as intrigas, atribuídas à CIA, de que Brizola se tinha apropriado de grande parte do dinheiro que lhe fora enviado por Fidel. É dessa época a história de que ele teria sido chamado de ‘el ratón’ (ladrão) por Fidel. Este o teria acusado ‘de haver abocanhado os parcos recursos economizados pelo sofrido povo cubano’. Mas a versão é veementemente contestada, tanto por Betinho como por Neiva Moreira e outros exilados, ainda que houvesse alguns cubanos interessados em disseminar o boato”. A história dos “cubanos agastados” não é apurada, infelizmente, pelo biógrafo. Mas este acrescenta que Fidel continuou a respeitar Brizola e mantiveram um encontro cordial, no Rio de Janeiro, quando o brasileiro governava o Rio de Janeiro, na década de 1980. As duas raposas políticas, apesar de pensarem de modos diferentes — um é comunista, o outro, no máximo, era nacionalista —, eram aliados, mais táticos do que estratégicos, na “luta” contra o que chamavam de “direita”. Depoimento de Betinho: “A história que eu conheço é a seguinte: primeiro que o Brizola fazia um controle estrito de dinheiro. Ele anotava tudo que entrava, tudo que gastava, tudo certo. Porque achava que era um dinheiro que ele tinha de prestar contas. Acho que, na cabeça dele, se ele chegasse ao poder, devolveria esse dinheiro para Cuba”. Bem, se não devolveu para Cuba, para quem Brizola devolveu parte do dinheiro que sobrou? O livro não esclarece. De qualquer maneira, mesmo não esclarecendo, a questão foi reapresentada e deve abrir um novo foco de pesquisa. Denise Rollemberg escreveu que Neiva Moreira não falava sobre o assunto. Para o livro de Leite Filho, o veterano político maranhense “abriu” o jogo. [caption id="attachment_250507" align="aligncenter" width="259"] Fidel Castro e Brizola | Foto: Reprodução[/caption] Metralhadoras — Neiva contou ao biógrafo que os cubanos deram mini-metralhadoras aos brasileiros e que “seu número não ultrapassou a 100”. Leite Filho acrescenta: “Neiva, que trouxe na bagagem de Havana cinco dessas metralhadoras, fala sobre o propalado ‘dinheiro de Cuba’: ‘Nada mais falso e ridículo do que essa história do ‘dinheiro de Cuba’, que a direita vem orquestrando desde então para comprometer os cubanos e os que, como Brizola, viveram aquelas responsabilidades históricas. Este dinheiro jamais existiu, a não ser recursos para o pagamento de certo número de passagens aéreas e modestas quantias para apoiar a viagem dos companheiros escolhidos para o treinamento, incluindo diárias de hotéis de escassas estrelas, no percurso até Praga’”. Leite Filho relata: “Neiva Moreira conta que se chegou a contatar um navio polonês, que, para fazer a rota de Cuba, passava pelo Brasil para depois seguir rumo à Polônia, na Europa, e poderia desembarcar uma boa quantidade de armas em alguma praia erma do Rio Grande do Sul: ‘Os poloneses desistiram do negócio na última hora’, diz Neiva. Outro governante que teria se comprometido a enviar armamentos foi Chedi Jagan, ex-primeiro-ministro da Guiana. Sua intenção era mandar um avião DC-3 cheio de armas, que aterrissaria em Goiás. Um campo de pouso chegou a ser preparado pelo foco do Brasil Central, a mando de Flávio Tavares, mas o premier foi derrubado antes de praticar sua boa ação”. Neiva diz a “verdade” ou apenas apresenta sua versão pessoal dos fatos? A resposta só pode ser formulada depois de uma investigação mais rigorosa, o que o livro não faz. Resta a pergunta: como Brizola teria devolvido dinheiro, se este era tão escasso, como afiança Neiva. Depois, a história dos dólares cubanos — e não ninharia para pagar passagens aéreas e diárias de hotéis — não tem sido divulgada tão-somente pela direita. José Wilson da Silva, o tenente vermelho, não é, definitivamente, um integrante da direita. Denise Rollemberg é uma pesquisadora criteriosa e não há notícia de que “trabalhe” para a direita. Entre os goianos citados no livro figuram Tarzan de Castro, uma vez, Mauro Borges e Aldo Arantes, várias vezes. Há alguns problemas: Fidel Castro e Aldo Arantes são citados em mais páginas do que registra o índice remissivo e o cubano que recebeu Neiva Moreira talvez não seja Manuel “Pinheiro”, e sim Manuel Piñero.

Mencken diz que Ambrose Bierce antecipou o francês Émile Zola

Os admiradores de Edgar Allan Poe certamente não vão gostar da heresia, mas Mencken diz que Bierce “escrevia melhor”. “Tinha mais pulso sobre os personagens, era menos literário e melhor observador”

O Popular confunde Tarzan de Castro com Hugo Brockes e publica fotografia e legenda erradas

Tarzan Brockes(1) O goiano Tarzan Castro é citado em vários livros, pois, como esquerdista, combateu o regime civil-militar. Para sobreviver, exilou-se na França. O publicitário e escritor Hugo Brockes foi torturadíssimo por militares. Como tem cabelos ruivos e é branco, alguns de seus torturadores chegaram a pensar que era estrangeiro? Na verdade, sabiam que não era estrangeiro. Na internet, na chamada para as reportagens o golpe de 1964, o “Pop” colocou a foto de Brockes, mas com uma legenda referente a Tarzan de Castro. Um, Brockes, é branco e ruivo; o outro, Tarzan, é moreno, com cabelos negros (começam a ficar brancos). São inconfundíveis — fora da redação do “Pop”. Um capitão, de família importante de Goiás, torturou Brockes barbaramente, até deixá-lo surdo de um ouvido. No dia de seu casamento, o capitão reservou um tempo para ir ao quartel torturar o jovem. Depois de ter se dedicado à publicidade durante anos, Brockes se dedica hoje exclusivamente à literatura. Ele está escrevendo bons romances e contos.

Barriga do ano: O Popular põe o coronel Brilhante Ustra no cenário da Guerrilha do Araguaia

imprensa2 Se estiver certo, o “Pop” (os repórteres Rogério Borges e Alfredo Mergulhão) publicou o furo jornalístico do ano. Pesquisadores categorizados, como Elio Gaspari, Leonencio Nossa, Luiz Maklouf Carvalho e Hugo Studart, vasculharam dezenas de documentos, ouviram centenas de pessoas, entre militares e civis, e não encontraram vestígios do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (na foto acima)no cenário da Guerrilha do Araguaia (1972-1974). Como se sabe fora da redação do jornal goiano, Brilhante Ustra esteve noutras paradas — sua equipe chegou a prender um integrante do PC do B, mas longe de Goiás (Tocantins) e do Pará. O “Pop” poderia ter citado o general Bandeira, o general Nilton Cerqueira (na época, coronel), o coronel Léo Frederico Cinelli, Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió (este, citado), o coronel José Teixeira Brant (doutor César), entre outros, mas preferiu mencionar, errado, Brilhante Ustra. Sem contar que inventou um tenente-coronel Lício da Mata, que, na verdade, não existe. O nome do oficial é Lício Augusto Ribeiro Maciel. Para o leitor verificar por si o equívoco do “Pop”, transcrevo trecho da reportagem “Araguaia, a guerrilha aniquilada” (terça-feira, 1º): “Além dele [Lício Maciel], foram apresentadas denúncias, pelos crimes cometidos durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, contra o coronel da reserva Sebastião Curió e o coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, além do delegado da Polícia Civil paulista Dirceu Gravina”. Outro “furo” (a rigor, uma barriga): Gravina não é citado nos livros sobre a Guerrilha do Araguaia. O “Pop” deve fazer uma correção urgente, porque quem conhece Brilhante Ustra, que não deixa nada sem resposta, sabe que pode mover processo judicial contra o jornal.

Biografia de Galvão Bueno, o homem de mais de 1 milhão de reais, sai no segundo semestre deste ano

A Globo Livros vai lançar a biografia de Galvão Bueno no segundo semestre deste ano, revela Lauro Jardim, da revista “Veja”. “O livro iria para as livrarias perto da Copa”, afirma o colunista. Aposta-se que será uma espécie de hagiografia, sem as passagens mais complicadas, e com algumas suavizadas. Limar as contradições seria a tarefa dos buriladores do texto. O conflito com o comentarista de Fórmula 1 Reginaldo Leme — costuma-se dizer que se trata de uma “guerra” de egos inflados — não vai ser expurgado, conta-se, mas será amenizado. Um dos mais bem-sucedidos locutores esportivos da televisão brasileira, estrela da TV Globo há anos — a rede começa a substitui-lo em alguns eventos, abrindo espaço para novos narradores —, Galvão Bueno é dono de um dos maiores salários do país, mais de 1 milhão de reais. Pesquisas sugerem que a Globo tem basicamente duas vozes: a de William Bonner, do “Jornal Nacional”, e a de Galvão Bueno, o rei da área esportiva. Os intelectuais e jornalistas dos veículos impressos torcem o nariz, mas o narrador continua amado pelo público. É uma referência. A biografia de Galvão Bueno é uma das grandes aposta da editora Globo que pretende transformá-lo em best seller. Fala-se até em projeto de filme.

Publicitário sugere que editorial e comercial de O Popular estão associados contra a gestão de Paulo Garcia

Renato Monteiro Semana passada o diretor comercial do jornal O Popular, sr. Paulo Lacerda, foi apresentado ao controlador do município em um café da cidade. Paulinho Lacerda, como é conhecido, disse ao controlador: "Goiânia está descontrolada, né?" Quando o diretor comercial do maior jornal do Estado se dirige dessa maneira a um secretário - com quem ele não tem intimidade - evidencia que a linha editorial do jornal já chegou ao comercial. Não há mais sutileza. E é por essas e outras que o jornal corre o risco de arranhar sua imagem e, por consequência, sua credibilidade. Questão de tempo. Uma pena. (Extraído do Facebook do publicitário e marqueteiro Renato Monteiro)

O jornalista André Forastieri assume comando do setor de Entretenimento do R7

O jornalista André Forastieri é o novo editor-executivo do portal R7, do grupo da TV Record. Ex-“Folha de S. Paulo” e ex-“Bizz” e Ex-“Set”, Forastieri vai chefiar o setor de “Entretenimento” do R7. “A chegada do Forastieri ao entretenimento do R7.com serve para mostrar o quão ‘fora da caixa’ podemos ir, levando às agências e anunciantes, formatos diferenciados e exclusivos de cobertura, além de proporcionar ao internauta uma visão mais plural sobre a indústria cultural”, disse Antonio Guerreiro, diretor-geral de novas mídias da Rede Record.

Revista Época revela elo entre o goiano Carlos Cachoeira e ex-diretor da Petrobrás que foi preso pela Polícia Federal

Saiu na capa da revista “Época”: “Exclusivo — O elo entre o diretor da Petrobrás preso e o esquema de Cachoeira”. Trata-se do goiano Carlos Cachoeira, investigado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. A reportagem, assinada por Hudson Correa e Isabel Clemente, diz ter descoberto “um elo entre o esquema usado pelo doleiro [Alberto] Youssef para atender Paulo Roberto [Costa, ex-diretor da Petrobrás] e as operações do bicheiro Carlinhos Cachoeira, envolvido em 2012 numa rede de pagamentos de propina da Construtora Delta”. Paulo Roberto teria dinheiro fora do Brasil e, para tanto, teria usado o esquema do doleiro Youssef. A MO Consultoria Comercial e Laudos Estatísticos, da qual é sócio Edilson Fernandes Ribeiro, seria uma das empresas de fachada usada no esquema. O mesmo Edilson seria sócio de outra empresa de fachada, a RCI Software e Hardware, de São Paulo. “A RCI aparece noutro documento, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os negócios de Cachoeira. Os documentos sugerem que o mesmo esquema usado por Cachoeira foi usado por Youssef para atender Paulo Roberto”, relata a “Época”.

Rodrigo Constantino, colunista da Veja, cita texto de José Maria e Silva publicado no Jornal Opção

Um dos principais colunistas da revista "Veja", Rodrigo Constantino, autor do livro "Esquerda Caviar", cita o artigo de José Maria e Silva -- "Regime militar salvou o Brasil de se tornar uma grande Angola" -- publicado no Jornal Opção desta semana. A seguir, recolho um trecho do artigo de Constantino: "Evitar tais visões maniqueístas [sobre a ditadura] é o grande desafio, que o jornalista José Maria Silva, no Jornal Opção, consegue enfrentar com eficiência. Seu texto nos carrega para o contexto da época, mostra como há um duplo padrão de julgamento hoje, principalmente de uma esquerda que ignora os abusos cometidos pelo ditador Getúlio Vargas, enquanto tenta demonizar os militares, como se a ditadura de 20 anos fosse desde o começo o único objetivo do que se passou em 31 de março de 1964."

Biografia mostra como o general legalista Castello Branco se tornou o golpista que derrubou João Goulart em 1964

[caption id="attachment_999" align="alignleft" width="300"]Biografia relata que o general Humberto de Alencar Castello Branco, irritado com “perseguição” do general e ministro Henrique Lott e impulsionado pela política americana da Guerra Fria, se tornou o cérebro do golpe civil-militar de 1964 Biografia relata que o general Humberto de Alencar Castello Branco, irritado com “perseguição” do general e ministro Henrique Lott e impulsionado pela política americana da Guerra Fria, se tornou o cérebro do golpe civil-militar de 1964[/caption] O golpe de 1964 faz 50 anos e sua história começa a ser escrita com menos paixão ideologizada. Historiadores, como Daniel Aarão Reis Filho, sugerem uma linguagem “nova”: golpe civil-militar e ditadura civil-militar. Aarão Reis afirma que, ao se retirar o elemento civil, que foi decisivo tanto no golpe quanto na ditadura, reforça-se o peso do militarismo, mas a verdade passa a ser apresentada apenas parcialmente. Como ignorar que civis como Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Adhemar de Barros, para citar apenas três políticos, foram decisivos para o golpe? O governador goiano Mauro Borges (PSD), com mais seis governadores, ajudou a escolher o general Castello Branco como primeiro militar presidente da República (eleito pelo Congresso), no ciclo militar, em 1964. Como rejeitar que especialistas civis — Roberto Campos, João Paulo dos Reis Veloso, Mario Henrique Simonsen, Delfim Netto, Carlos Medeiros, Gama e Silva, Francisco Campos e Leitão de Abreu — foram fundamentais na construção do planejamento econômico e do esforço fazendário e na elaboração do novo arcabouço institucional? Militares chegaram a dizer que civis propunham atos mais duros contra os adversários do regime. O AI-5 aprovado pelo presidente Costa e Silva teria sido mais “ameno” do que o proposto por um civil. Há outro aspecto que os historiadores, como Aarão Reis e Denise Rollemberg, começam a discutir, e sem receio de ferir suscetibilidades: a esquerda armada, os guerrilheiros, não era democrática. Antes mesmo de 1964, parte da esquerda já se mostrava golpista e antidemocrática. Contra a ditadura da direita, pensava-se numa ditadura da esquerda. Ruim não era a ditadura. Ruim, para a esquerda, era a ditadura da direita. Aarão Reis sugere, também, que a ditadura durou menos do que se imagina. Acabou, na sua perspectiva, em 1979. Não durou, portanto, 21 anos. Aos poucos, depois de longo inverno, jornalistas e historiadores começam a analisar, sem a pressão do desapareço ideológico, os protagonistas militares do golpe e do regime. Gláucio Ary Dillon Soares, Maria Celina D’Araujo e Celso Castro, professores universitários com doutorado, publicaram, entre 1994 e 1995, três livros sensacionais: “Visões do Golpe — A Memória Militar Sobre 1964” (Relume Dumará, 257 páginas), “Os Anos de Chumbo” (Relume Dumará, 327 páginas) e “A Volta aos Quartéis” (Relume Dumará, 329 páginas). As obras abrem espaço para entrevistas muito bem feitas com militares que contribuíram para o golpe e para a ditadura. Em 1997, Maria Celina D’Araujo e Celso Castro lançaram em volume exclusivo “Ernesto Geisel” (Fundação Getúlio Vargas, 494 páginas), uma longa entrevista com o general que, como presidente e aliado ao general Golbery do Couto e Silva, matou a ditadura, contrariando a linha dura militar, que queria seu prosseguimento. Geisel conta que Castello Branco não queria cassar o governador Mauro Borges, em 1964, porque eram aliados e o goiano havia apoiado o golpe, depois de romper com o presidente João Goulart. “Sugeri ao presidente a nomeação do Meira Mattos para interventor”, revela Geisel. O terceiro presidente militar, Emílio Garrastazu Médici, é o patinho feio da ditadura, embora seja o responsável pelo Milagre Econômico que levou o país a crescer 10% ao ano. “Segredos de Médici” (Marco Zero, 90 páginas, 1985), do jornalista A. C. Scartezini (analista de política nacional do Jornal Opção), é um livro raro (pequeno e importante), porque o presidente é pouco explorado. “Médici — O Depoimento” (Mauad, 94 páginas, 1995) contém a entrevista de Roberto Nogueira Médici, filho do general, aos pesquisadores Maria Celina D’Araujo e Glaucio Ary Dillon Soares. O norte-americano Daniel Drosdoff, jornalista e doutor em história por Columbia, publicou “Linha Dura no Brasil — O Governo Médici: 1969-1974” (Global, 175 páginas, tradução de Norberto de Paula Lima, 1986). O melhor livro sobre a relação entre Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva é “A Ditadura Derrotada — O Sacerdote e o Feiticeiro” (Intrínseca, 580 páginas, edição revista), do jornalista Elio Gaspari. Trata-se de um relato empático, mas crítico, que mostra como os generais que ajudaram a formular a ditadura, em 1964, decidiram extingui-la, entre 1974 e 1979. O presidente que acabou com a censura e o AI-5 disse: “Recebi no palácio todos os donos de órgãos de comunicação. Nenhum me pediu o fim da censura”. Por que decidiu acabar com a ditadura? “Porque o regime militar, outorgando-se o monopólio da ordem, era uma grande bagunça” (o texto entre aspas é de Gaspari, traduzindo o pensamento do general). Em 1977, Geisel exonerou o ministro do Exército, Sylvio Frota, que avaliou, errado, que o presidente era um Castello Branco com pinta de alemão. Mas Geisel não era Castello Branco e Frota não era Costa e Silva. Ao derrubar Frota, Geisel enquadrou a linha dura, que havia chegado a pensar em retirá-lo do poder e, até, a matar Golbery.

Leitor do Padre Vieira
O primeiro presidente militar, o general Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967), foi examinado por livros de Luís Viana Filho (“O Governo Castello Branco”, Editora José Olympio, 1975) e John W. F. Dulles (“Castello Branco: O Caminho Para a Presidência”, Editora José Olympio, 1979, e “Castello Branco: O Presidente Reformador”, Editora UnB, 1983). Mas a melhor biografia é “Castello — A Marcha Para a Ditadura” (Contexto, 429 páginas, 2004), do jornalista Lira Neto. Como Castello Branco, militar legalista e adepto da democracia — apreciava a França e os Estados Unidos —, se tornou um apóstolo da ditadura? Lira Neto mostra, com mestria, como isto ocorreu. Com 1,67m, com problemas na coluna e dores permanentes nas costas, Castello Branco impressionava pela feiura (parecia não ter pescoço e era conhecido como Quasímodo) e pela inteligência. Preferia o teatro — era leitor da obra de Shakespeare — ao cinema. Leu os “Sermões” do padre Antônio Vieira e “Nova Floresta”, do padre Manuel Bernardes. Ouvia música erudita. “Colecionava, com singular entusiasmo, todos os textos, imagens e livros sobre Napoleão Bonaparte”, informa Lira Neto. No início da vida militar, seu ídolo era o advogado e político baiano Ruy Barbosa. Na intimidade, era um mestre na arte de contar piadas e tinha a língua afiada. Ao conhecer a mulher, Argentina, sua única paixão, apresentou-se como pé de valsa. (Uma irmã de Argentina, Inês, foi paixão platônica do poeta Carlos Drummond de Andrade.) Era admirador das ideias e das obras de Gustavo Barroso, líder integralista. Era, no início e durante boa parte da carreira militar, um legalista. “Acreditava, como Ruy [Barbosa], que ‘a nação governa, o Exército obedece’.” Na década de 1920, apesar da força do tenentismo, permanece contra o golpismo civil-militar. “Nós éramos revolucionários; ele [Castello Branco], um legalista”, disse o general Emídio da Costa Miranda. Apegado aos regulamentos, era um militar da ordem. Mas em 1924, suspeito de subversão, o tenente Castello Branco foi preso. Motivo: era amigo do rebelde Riograndino Kruel, irmão do também militar Amaury. Na escola militar, era um aluno aplicado. Em 1922, perdeu o primeiro lugar para o tenente Henrique Lott. Aí começava uma rivalidade que, de pessoal, se tornaria político-militar. Mais tarde, a serviço do governo federal, combateu a Coluna Prestes. [caption id="attachment_1000" align="alignright" width="620"]Fidel Castro e Lott, em 1959, que deu empurrão que faltava para Castello Branco se tornar conspirador contra a democracia Fidel Castro e Lott, em 1959, que deu empurrão que faltava para Castello Branco se tornar conspirador contra a democracia[/caption] A Revolução de 1930 empolgou os tenentes, que apoiaram o golpe e, depois, o governo de Getúlio Vargas. “Para Castello, a hierarquia, valor sagrado da caserna, estava desmoralizada.” Em 1931, numa avaliação rigorosa, o capitão Castello Branco ficou em primeiro lugar, “recebendo o disputadíssimo conceito très bien, sempre conferido com muita parcimônia pelos instrutores da Missão Francesa”. Em dez textos escritos nesse período, criticou a participação dos militares na política. “O militar-político é uma espécie de lobisomem, um homem de existência dupla e misteriosa, que mete medo”, filosofou. “Para entrar na política, primeiro o militar deveria largar a farda”, acrescentou. “Quando surgem os grandes abalos na vida brasileira, uma das pontes que a política encontra para passar e entrar no Exército é a do militar-político. Através deste, as classes armadas têm sido historicamente desviadas de seu rumo e desgraçadamente divididas.” Em 1938, na Escola Superior de Guerra da França, em Paris, Castello Branco foi elogiado pelo comando: “Oficial inteligente, muito sério, espírito fino e indulgente. (...) Apto a ser um ótimo oficial de estado-maior: tem o nível dos melhores oficiais franceses de sua patente”. Com a Segunda Guerra Mundial, o tenente-coronel é enviado aos Estados Unidos, com o tenente-coronel Amaury Kruel e os coronéis Floriano de Lima Brayner e Henrique Lott, para certificar-se tanto da nova tecnologia de guerra quanto do plano americano para a participação brasileira na batalha. No campo da guerra, enquanto não estava planejando as táticas dos militares brasileiros, Castello Branco conversava com o jornalista e cronista Rubem Braga. Um dos assuntos era a literatura de Anatole France. Na batalha travada na Itália, o tenente-coronel era o braço-direito do comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Mascarenhas de Moraes. Aliado de Castello Branco, o general Mascarenhas de Moraes dispensou Lott, que voltou para o Brasil arrasado e irado. Um erro de planejamento de Castello Branco provocou a morte de 150 militares, mas, em seguida, suas ideias foram dando resultados positivos e agradando o comando americano. Na Itália, tornou-se amigo do militar americano Vernon Walters, que mais tarde contribuiu para o golpe de 64. Como líder militar, era duro. Um oficial disse a Castello Branco, depois de ser pressionado a enfrentar os alemães: “Sr., estou disposto a morrer pelo Brasil, mas não quero que meu filho fique órfão por eu estar defendendo uma causa sem esperança”. O tenente-coronel “desabotoou o coldre do revólver e ameaçou: ‘Tenente, vá imediatamente para sua posição. Ou seu filho será de fato órfão’”. O militar reuniu a tropa e voltou a lutar contra os alemães. Condecorado por bravura, Castello Branco recebeu a Cruz de Guerra de Primeira Classe e foi promovido a coronel. De volta ao Brasil, assumiu a direção geral de Ensino da Escola de Estado-Maior. “O Brasil não pode mais continuar à mercê de ditaduras”, disse Castello Branco. “A política tenta, azinhavra os homens, quando não os enlameia”, frisou. Em 1945, não deu apoio público ao golpe que derrubou Getúlio Vargas. Mas seu anticomunismo havia se reforçado, possivelmente devido ao convívio com os americanos. O então capitão Nelson Werneck Sodré, que se tornaria general e historiador eminente, disse do superior: era “inalteravelmente polido, embora quase sempre frio”. Na Escola Superior de Guerra, espécie de “Sorbonne brasileira”, Castello Branco passou a ser uma estrelas. O National War College dos Estados Unidos era a inspiração da ESG, que adotou como regra o binômio segurança e desenvolvimento. A Guerra Fria “apresentava-se” aos militares brasileiros e Castello Branco, embora ainda legalista, tomou partido dos americanos contra os soviéticos e seus adeptos no Brasil. Na década de 1940, passa a ler os artigos do político e jornalista Carlos Lacerda. Empolga-se com sua verve e, por certo, seu anticomunismo de vivandeira. Em 1952, o general-de-brigada Castello Branco assessora Mascarenhas de Moraes no Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa). Em 1954, rejeita convite para ser candidato a governador do Ceará. Nesse ano, defende a renúncia do presidente Getúlio Vargas — assinou o “Manifesto dos Generais” (Lott também assinou), mas, contrariamente a Lacerda, sugere que o vice assuma o governo. Mesmo cada vez mais próximo das correntes golpistas, civis e militares, era legalista e assume a direção da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Em 1956, de novo contra a opinião de Lacerda, que pregava o golpe, Castello Branco, seguindo Lott, defende a posse do presidente Juscelino Kubitschek. Numa palestra, o general assinala: “O regime discricionário ou ditatorial, além de acabar com a liberdade humana e os direitos do cidadão, é mais adequado à corrupção civil e à desmoralização do Exército do que o da legalidade precária”. O legalista mostra que está vivo. Um pouco antes, durante uma visita à Eceme, Lott foi vaiado. O general atribuiu a vaia a Castello Branco, seu rival histórico no Exército. Sob pressão, Castello Branco pediu demissão da direção da Eceme, em 1956. Ficou como subchefe do Estado-Maior das Forças Armadas. JK ofereceu-lhe a presidência da Petrobrás, mas o general não aceitou. “Disse que era um soldado, um homem do Exército, e jamais trocaria a farda por um cargo civil”, registra Lira Neto. Aos poucos, Castello Branco começa a sair das sombras e passa a criticar Lott, homem forte do governo de Juscelino, publicamente, mas encontra pela frente um oponente duro e vingativo. “Lott decidiu classificar a falta apenas como média, conforme a repreensão que seria afixada em seus documentos militares”, relata Lira Neto. Castello Branco ficou literalmente doente, chegou a ser internado, mas ali, na suposta vingança de Lott contra um adversário histórico, nascia o conspirador que iria trabalhar, com habilidade, para arrancar os civis (e apoiadores militares) do poder. A encrenca com Lott certamente é o ponto de partida das ações de Castello Branco, no futuro, contra o governo civil de João Goulart. Quando, a pedido de Negrão de Lima, JK decidiu promover Castello a general-de-divisão, Lott avisou: “O sujeito é nosso inimigo, presidente”. Era. Lott, para se vingar, mandou o general para o comando da Amazônia. Inicialmente, Castello Branco julgou-se acabado. Mas Lott continuava no seu encalço e o responsabilizou pela Revolta de Aragarças, em Goiás. Mais do que um Fouché tropical, o general escreveu numa carta: “O episódio de Aragarças é mais um empurrão que recebemos no plano inclinado em que deslizam as Forças Armadas. Idealismo, possivelmente. Mas, além de inépcia, um erro de visão de que o Brasil não pode melhorar dentro do regime constitucional. O Brasil não quer quarteladas, nem revolução, pelo menos no período que atravessamos”. Partindo para o ataque, Castello Branco denuncia que o ministro do Exército pretendia articular uma “ditadura militar lottista”. “A todos, sempre e invariavelmente, declarei que, na hipótese de qualquer golpe, estaria contra e que tomaria parte da reação”, destacou.
Hora do conspirador
Em 1961, mais do que apoio, Castello Branco admite que o parlamentarismo era uma saída para evitar uma crise mais ampla. Em 1962, general-de-exército, se alinha com os militares golpistas, por rejeitar o presidente João Goulart e alguns de seus aliados, como Miguel Arraes, governador de Pernambuco (e avô de Eduardo Campos, atual governador do Estado). Tornou-se, afirma Lira Neto, o “mais arguto” dos conspiradores contra Jango. “Acredito que a infiltração comunista é facilitada pela colocação de propagadores do comunismo em postos de administração, do ensino e de organismos estatais” — era um ataque de Castello Branco ao presidente e aliados. Enquanto Jango se apresenta como o “general” dos soldados, cabos e sargentos, aos poucos Castello Branco afigura-se como líder dos generais e dos civis que queriam a deposição do presidente. Aconselharam o presidente a expurgar o general, mas, na sua inação habitual, o líder petebista nada fez — “o general Assis Brasil me disse que o homem é sensível e que, se for punido, poderia até se suicidar”, disse Jango a João Pinheiro Neto — e Castello Branco foi ficando cada vez mais forte. Era o general que estava desafiando o poder, quase sempre nos bastidores, ao lado de Golbery do Couto e Silva, Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel, Adhemar de Barros, Antônio Carlos Muricy, Bizarria Mamede. Luís Carlos Guedes, Olympio Mourão Filho e de civis, como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto. Deixando de ser legalista, por ter se tornado crítico acerbo da anarquia militar — sargentos já estavam quase mandando em generais — e por denunciar o fantasma do comunismo, Castello Branco passa a se colocar como articulador de um golpe civil-militar. Começa a se reunir com políticos da oposição, empresários (a maioria integrava o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e magnatas da imprensa, como Roberto Marinho, de “O Globo”, e Júlio Mesquita Filho, de “O Estado de S. Paulo”. A conspiração se dava em sua casa, em Ipanema, no Rio de Janeiro. “Castello observou que eles, militares, poderiam inclusive lançar mão da quebra da ordem institucional, desde que fosse para impedir o ‘avanço comunista’.” Depois de vários encontros com políticos, empresários e militares, o general Adhemar de Queiroz disse: “Já temos um líder”. Tinham: Castello Branco articulava o golpe com habilidade e relativa discrição. O governo dos Estados Unidos, por intermédio do embaixador Lincoln Gordon e, depois, do coronel Vernon Walters, também via Castello Branco como aliado e pró-americano. Em 31 de março de 1964, quando o general Olympio Mourão, com o apoio do general Luís Carlos Guedes, pôs o golpe em evidência, em Juiz de Fora (MG), Castello Branco ainda tentou segurá-lo um pouco mais. Não dava mais tempo. O golpe estava nas ruas, mas era possível impedi-lo, se o presidente Jango tivesse agido com mais energia. O caos, entre 31 de março e 1º de abril, era um fato dos dois lados. Levou o poder aquele que tinha um líder mais consistente, talvez por ser um militar experimentado. Uma boa história do golpe pode ser lida em “A Ditadura Envergonhada” (Intrínseca, 431 páginas), de Elio Gaspari. Mas, para compreender como um general legalista se tornou golpista e acabou se tornando o primeiro presidente militar da ditadura, é importante ler o livro de Lira Neto. (Para entender o figadal rival de Castello, recomenda-se a leitura de “O Soldado Absoluto — Uma Biografia do Marechal Henrique Lott”, de Wagner William, Editora Record, 571 páginas, 2005.)

Livro apresenta Tarzan de Castro como um dos líderes do braço armado das Ligas Camponesas de Francisco Julião

r1 As Ligas Camponesas ganharam estudos jornalísticos e acadêmicos e agora seu principal líder tem a vida vasculhada no livro “Francisco Julião — Uma Biografia” (Civilização Brasileira, 853 páginas), de Cláudio Aguiar. Trata-se de uma narrativa simpática ao personagem, mas não é uma hagiografia. As relações com o ditador Fidel Castro, notadamente o financiamento dado por Cuba às Ligas Camponesas, que seriam a ponta de lança da Revolução no Brasil, poderiam ter sido mais bem exploradas. Pode-se acusar o autor de “suavizar” o papel “revolucionário” de Julião, ao apresentá-lo, no geral, como moderado? Talvez não. Não deixa de ser sintomático que Luiz Carlos Prestes, o chefão do Partido Comunista Brasileiro, vivia às turras com o líder das Ligas Camponesas. Num encontro em Cuba, na presença de Fidel Castro, o Cavaleiro da Esperança passou uma descompostura no rival. O líder cubano, depois de conversar em particular com Prestes, disse a Julião: “O Cavaleiro está lá, mas toda esperança [de reconciliação com Julião] se foi”. A causa da guerrinha: o líder dos camponeses não queria ser fantoche do PCB. [caption id="attachment_996" align="alignleft" width="240"]francisco juliao Livro demonstra que a ligação de Francisco Julião, líder máximo das Ligas Camponesas, com Fidel Castro, líder de Cuba, era muito forte[/caption] Antes de apoiar Leonel Brizola, a quem teria chamado de “El Ratón” (não há evidência de que o futuro líder do PDT tenha se apropriado do dinheiro enviado por Cuba para fins pessoais), e de bancar a guerrilha de Carlos Marighella, da Ação Libertadora Nacional (ALN), Fidel Castro financiou as Ligas Camponesas. O campo do Nordeste, teoricamente, seria a Sierra Maestra do Brasil. Não deu certo, mas as relações do cubano e do brasileiro permaneceram amistosas. Em 1960, um ano depois da Revolução, Fidel Castro mandou um avião buscar integrantes das Ligas Camponesas para que participassem das comemorações do Dia do Trabalho em Cuba. Esso, Texaco, Atlantic e Shell não quiseram abastecer o avião cubano, mas, relata Cláudio Aguiar, “camponeses, operários e estudantes ameaçaram explodir os depósitos de uma delas. Coube à Shell a tarefa de fornecer combustível, impondo o pagamento em dólares e à vista”. Quando voltaram para o Brasil, os camponeses foram perseguidos. Na década de 1960, Edward Kennedy, então assessor do irmão presidente, John Kennedy, visitou Pernambuco e pediu para conhecer integrantes das Ligas Camponesas. Tendo ao lado o economista Celso Furtado, seu intérprete, e o governador de Pernambuco, Cid Sampaio, o jovem Kennedy visitou o Engenho Galileia e perguntou aos camponeses: “Como desejam ver seus filhos quando eles crescerem?” O camponês Zezé da Galileia respondeu: “Doutor, o que desejamos é que o sr. peça a seu irmão presidente para dr. Cid tirar a polícia daqui. Não existe desordem e a polícia é desnecessária”. Kenndey prometeu e enviou um gerador de energia elétrica aos camponeses, mas Cid Sampaio decidiu não entregá-lo. Mais tarde, quando governador, Miguel Arraes mandou levá-lo para os proprietários legítimos, que, como não tinham dinheiro para comprar gasolina, o repassaram para uma escola. Os movimentos camponeses são antigos no Nordeste, mas um movimento em particular influenciou a luta das Ligas Camponesas. “A revolta camponesa de Trombas e Formoso, liderada pelo camponês José Porfírio de Souza, ocorreu entre 1950 e 1957, na região norte de Goiás, em área de quase 10 mil quilômetros quadrados. A luta dos camponeses travou-se fundamentalmente contra os grileiros. (...) O movimento teve um caráter especialíssimo, pois, à medida que conquistavam o poder local, os camponeses revoltosos elegiam as autoridades — prefeitos, vereadores e juízes — e se recusavam a pagar impostos e taxas ao governo de Goiás. Talvez tenha sido uma das primeiras vitórias alcançadas por camponeses no Brasil republicano. O governador Mauro Borges foi obrigado a desapropriar a terra em conflito e a distribui-la em parcelas aos camponeses, o que pôs fim ao litígio armado. José Porfírio foi eleito deputado estadual em 1960, sendo o primeiro líder camponês a eleger-se parlamentar”, registra Cláudio Aguiar. O sucesso dos camponeses de Goiás deixou implícito que era possível mexer na estrutura agrária do Nordeste. As Ligas Camponesas tinham seu braço militar, armado. Um dos responsáveis pelo dispositivo militar, Clodomir Morais, ao ser preso depois do golpe de 1964, disse que seu papel era mais de aconselhamento jurídico. Mas Cláudio Aguiar o corrige: “Sua participação no esquema dos ‘aparelhos clandestinos’ ultrapassou os limites de meras atividades jurídicas”. Julião mandou Clodomir “desmantelar” a organização armada, pois o considerava como “o principal articulador e ‘comandante do esquema militar’”. A história foi confirmada por Pedro Porfírio, pelo pintor Antônio Alves Dias e pelos “integrantes do grupo de Dianópolis, em Goiás [hoje, Tocantins], como Amaro Luiz de Carvalho, o Capivara, Cleto Campelo Filho, Adauto Freire”. Julião disse: “Imediatamente tratei de pôr uma pessoa em contato com o Clodomir para lhe dizer: ‘Vocês estão cometendo uma série de erros gravíssimos, que podem comprometer o movimento’. Afinal de contas, consegui tirar toda essa gente dos dispositivos e liquidar com tudo isso. Mas eles vinham muito acelerados e era preciso metê-los em um grande movimento de massas, para ver se desaceleravam um pouco. Por isso que os meti na campanha de Pernambuco e da Paraíba e tive de aguentar o radicalismo da sua linguagem. (...) Isso influiu muito para a diminuição de meus votos e para aumentar o ataque que era feito contra mim”. Com Julião afastando Clodomir da militância revolucionária armada, um goiano, Tarzan de Castro, assumiu o controle da estrutura militarizada. Cláudio Aguiar diz que Tarzan estava “na direção do comitê central do Partido Comunista do Brasil (PC do B), facção dissidente do PCB, recém-organizada”. O jornalista Flávio Tavares, que teve militância esquerdista, disse que se tratava de uma “esquizofrênica aventura armada das Ligas Camponesas”. Um dos militantes ativos das Ligas, Carlos Franklin Paixão de Araújo, foi casado com a presidente Dilma Rousseff. [caption id="attachment_997" align="alignright" width="620"]Tarzan de Castro: o goiano teria sido comandante de dispositivo armado das Ligas Camponesas em Goiás, segundo biografia Tarzan de Castro: o goiano teria sido comandante de dispositivo armado das Ligas Camponesas em Goiás, segundo biografia[/caption] A desmobilização do condomínio armado das Ligas Camponesas começou com a descoberta dos dispositivos de Dianópolis e Petrópolis. Cláudio Aguiar até estranha a ação da força armada em Goiás, pois o governador Mauro Borges “revelara-se aliado das esquerdas”. “O desmantelamento do dispositivo de Dianópolis começou quando um oficial da confiança do governo Jango, designado pelo governador Mauro Borges para dirigir o serviço de repressão ao contrabando, recebeu a denúncia de que enormes caixotes contendo geladeiras estavam sendo remetidos para uma fazenda, no interior goiano, onde não havia energia elétrica”, relata Cláudio Aguiar. Ao invadirem a fazenda, os agentes do serviço de repressão ao contrabando descobriram uma carga estranha: “os caixotes continham bandeiras cubanas, retratos e textos de Fidel Castro e de Julião, manuais de instrução de combate, além dos planos de implantação de outros futuros focos de sabotagem e informações sobre a origem dos fundos financeiros enviados por Cuba”. O presidente João Goulart, que era apontado pela direita como esquerdista, embora não fosse, “reclamou diretamente a Fidel”. O líder cubano enviou o presidente do Banco Nacional de Cuba, Zepeda, para “apagar o incêndio provocado pelo caso de Dianópolis, em Goiás. Jango entregou ao ministro o relatório com a documentação apreendida”. Mas o Boeing em que viajava Zepeda caiu e todos os passageiros morreram. “A pasta de couro em que o ministro Zepeda levava a documentação foi encontrada entre os destroços e entregue à CIA, que divulgou os documentos num carnaval acusatório a Cuba pelas três Américas”, conta Cláudio Aguiar. Tarzan de Castro também esteve envolvido com o dispositivo armado em Petró­polis, segundo Cláudio Aguiar. O pesquisador diz que “nunca foram divulgados documentos comprovatórios de que as armas procediam de Cuba”. Numa entrevista, Clodomir disse era fácil comprar armas no Brasil, no início da década de 1960. Se o dinheiro para a suposta guerrilha era ou não cubano não se sabe com certeza, mas o jornalista pernambucano Antonio Avertano Barreto da Rocha reporta a Julião que Clodomir e seus ‘guerrilheiros’ viviam praticando grandes orgias, inclusive no Rio. Diziam que Clodomir possuía 12 apartamentos no Rio, comprados com o dinheiro mandado por Cuba para as ‘guerrilhas’. Ainda eram citados como envolvidos nas orgias Amaro Luiz de Carvalho e Tarzan de Castro, além de outros que viviam à tripa forra”. Ressalve-se que Tarzan de Castro já contestou tal denúncia. Ao receber a reclamação, Julião disse: “Clodomir é o sol e vocês são os pirilampos”. O livro conta que o poeta Ferreira Gullar e o cientista político Vanderley Guilherme dos Santos trabalharam para o jornal “Liga”, das Ligas Camponesas. Gullar denunciou o autoritarismo de seus “ideólogos”.

Livro conta a história do frei Tito de Alencar, que, torturado por Sérgio Fleury, se matou na França

Torturadíssimo pelo delegado Sérgio Fleury, o frei Tito de Alencar não se recuperou. Permaneceu um torturado, mesmo exilado na França, onde se matou. Sua dolorosa história ganha finalmente uma biografia ampla: “Um Homem Torturado — Nos Passos de Frei Tito de Alencar” (Civilização Brasileira, 420 páginas), de Clarisse Meireles e Leneide Duarte-Plon. Trecho do release fornecido pela editora à Livraria Cultura: “Contar a história de Tito é se debruçar sobre o momento histórico da ditadura civil-militar, instalada em plena guerra fria, quando a luta contra o comunismo era a principal preocupação do bloco ocidental liderado pelos EUA. A ditadura, que se instalou com o incrível nome de revolução, fechou o Parlamento, governou com os atos institucionais e colocou na prisão os opositores políticos que resistiam com ou sem armas. “Frei Tito foi um dos que não se calaram e preferiram combater a ditadura sem armas, com a força das ideias e dos ideais de justiça social. Na Universidade de São Paulo, onde participava ativamente do movimento estudantil, Tito chegou a ter momentos de dúvida e de incerteza sobre a possibilidade de conciliar Marx e Cristo. “Assim como Tito, outros frades foram encarcerados porque eram considerados ‘terroristas’ por terem feito a ‘opção preferencial pelos pobres’ pregada pelo Concílio Vaticano II. Eram ‘subversivos’ por praticarem um Evangelho que tenta transformar o mundo. Eram ‘perigosos’ porque pregavam a liberdade e a igualdade. O ‘ópio do povo’ estava do outro lado, do lado da Igreja conservadora que não entendia aquele combate.”

Editora relança Anatomia da Crítica, de Northrop Frye, um monumento da crítica literária

Um relançamento fundamental (a edição anterior é disputada a tapa no Estante Virtual): “Anatomia da Crítica” (É Realizações, 584 páginas, tradução de Marcus de Martini), do grande crítico canadense Northrop Frye. Monumento da crítica (ou da teoria) literária, trata-se de um livro, que, mais do que ensina, obriga a pensar sobre como a literatura, dependendo da abordagem, pode dizer sempre mais.

Versátil põe no mercado brasileiro o belo filme Juramento de Vingança, de Sam Peckinpah

imprensa4 “Juramento de Vingança” (“Major Dundee”, de 1965), que sai pela Versátil, é um belo faroeste de Sam Peckinpah, com atuações fortes de Charlton Heston e Richard Harris, com participação de James Coburn. A versão restaurada acrescenta “mais de 10 minutos de cenas inéditas”, além dos extras (que, sim, acrescentam). O major Amos Dundee (Heston) lidera soldados da União e confederados, em 1864, numa caçada aos apaches que, depois de um massacre, haviam levado crianças brancas. É quase uma guerra particular, a de Dundee e de um inimigo quase cordial, dentro de outra maior, a Guerra Civil Americana. As tropas que combatem o apache Sierra Charriba têm dois comandos, o de Dundee e, sobretudo, o do capitão confederado Tyreen (Harris). Costuma-se tratar Peckinpah, com razão, de “poeta da violência”, um lídimo precursor de Tarantino. Talvez seja apropriado acrescentar que se trata de um poeta da imagem. Além da violência, conta-se uma história, às vezes desconjuntada, porque a vida é assim, ambígua e complexa, com textos e belas imagens. Peckinpah trata seus heróis quase que como anti-heróis, tornando-os mais humanos do que alguns heróis do western, que, mesmo quando duros e implacáveis, carregam certa santidade. No Oeste de Peckinpah os homens são o que são, não são meramente idealistas, construtores de uma nação. O diálogo entre Dundee e o reverendo Dalhstrom é um dos melhores do filme. O religioso diz: “Qualquer homem com uma causa justa deve viajar com a palavra de Deus”. O militar replica, seca e friamente: “Com todo o respeito, Deus não tem nada com isso. Eu pretendo derrotar os maus, não salvar os pagãos”. O reverendo integra-se ao batalhão brancaleônico de Dundee. Dundee é sulista, mas luta ao lado dos ianques, contra os confederados, daí ser considerado “traidor” por Tyreen. Depois da caçada aos apaches, este jura matar aquele. No ótimo “Publique-se a Lenda: A História do Western” (Rocco, 220 páginas), A. C. Gomes de Mattos escreve que, ao perseguir os apaches, nortistas e sulistas trabalham juntos e, assim, ganham uma identidade: se tornaram “americanos”. A caçada aos índios, os primeiros americanos, consagra os novos americanos — incluindo a participação dos negros e, por intermédio da bela humanista Senta Berger (o major e o capitão a disputam), das mulheres. Com ou sem filosofice, um belo filme. Os críticos profissionais certamente dirão: “Heston” atua como o canastrão de sempre. Quem sabe acrescentem que Harris não fica atrás. Não deixarão de ter razão. Ainda assim, os dois estão muito bem no filme, muito bem dirigidos. Nos extras, Senta Berger conta que Heston e Harris, antes das filmagens, ficavam se medindo, disputando até quem era mais alto (Heston). O depoimento de James Coburn (o batedor Sam Potts no filme) é divertido. Peckinpah, bom copo, aprontava antes e durante as filmagens.