Por Elder Dias

É preciso entender de vez que, na polarização das forças políticas hoje só há um dos lados que é extremista. Os políticos moderados sabem disso

A impunidade ao general Eduardo Pazuello por subir ao palanque de Bolsonaro é o sinal mais claro de que as Forças Armadas estão sob alto risco de perder comando sobre as tropas

Por outro lado, o PT precisa deixar de lado o pragmatismo eleitoral e mostrar que quer o impeachment agora, em nome das vidas que seriam poupadas

Policiais militares abordaram Arquidones Bites em Trindade e o enquadraram na Lei de Segurança Nacional. Ele foi encaminhado para a sede da PF em Goiânia

João Xerri era natural de Malta, uma ilha do Mar Mediterrâneo ao sul da Itália. Foi ordenado frade dominicano em 1971 e chegou ao Brasil três anos depois.

Todos são pais e mães de primeira viagem. Casais anunciaram nas redes sociais nascimento dos primogênitos neste fim de semana

Ele se igualou a três lendas do automobilismo dos EUA que já haviam conseguido o “tetracampeonato” no lendário circuito estadunidense

Ator ficou emocionado e agradeceu a cada membro da equipe médica, citando o nome de todos os profissionais de saúde

Jason Dupasquier sofreu com o descontrole da moto e caiu no meio da pista, sendo atingido por pelo menos um piloto

Na postagem, produtora respondeu de forma bastante dura às condolências do presidente quando da morte do humorista, no início do mês

As ruas foram tomadas por um sentimento bem diferente ao dos eventos pró-governo. Entenda o contraste em uma dezena de pontos

Uns dizem que a história tem movimento pendular; outros lembram que o mundo gira e volta ao mesmo lugar. O fato é que os “patriotas” das ruas hoje têm muito a ver com as origens da República
Palácio da Alvorada. Nem é tão alvorada assim quando o inquilino principal deixa o palácio para encarar o séquito de sempre. Lá no cercadinho dos fãs, encontra uma senhora fanática e aflita. Transcrição quase literal:
– Presidente, o sr. é o chefe da Nação, o sr. é o chefe das Forças Armadas. Por que deixa o povo sofrer assim, seus ministros sofrer, o sr. sofrer?
– Você passou 30 anos votando em quem?
– Hã?!
– Você passou 30 anos votando em que tipo de gente?
– (...)
– Calma lá, vamos com calma nesse negócio aí! Se quer ditadura, não é comigo!
– Eles ‘tão’ sangrando o povo, ‘tão’ sangrando o povo!
– (...)
– Quem não tá contente comigo tem Lula em 22!
– Todo mundo tá contente, muito contente! Não é eles que mandam não, presidente!
O encontro acaba por aí. Mas nos deixa uma amostra bem emblemática do mais indefectível bolsonarismo. Na imagem dos apoiadores, é quase como o contato com a razão de existir. Algo que vai muito além da política.
Mas o bolsonarismo é um fenômeno que já existia há muito mais tempo do que você provavelmente imagina – obviamente, não com essa nomenclatura. Compõe algo que pareceu – só mesmo pareceu – ter desencarnado há décadas passadas. Mas nada, estava lá, quietinho como um vírus fossilizado, e voltou batizado de outra forma.
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Na prática, esse comportamento político-social que hoje é chamado de bolsonarismo começou a ressurgir em 2013, ainda como algo bem esquisito e até engraçado à época. Em meio à série de pautas desconexas entre si naquelas chamadas “Jornadas de Junho”, começou a se imiscuir o autoritarismo, primeiramente com a defenestração de quem se apresentasse como militante de algum partido. Depois, os sintomas do fenômeno começaram a se agravar com cartazes e pequenas manifestações clamando pela volta do regime militar, uso e abuso dos símbolos pátrios, religiosidade direcionando ações, elogios a medidas de repressão (“bandido bom é bandido morto”, por exemplo) e outras pautas de uma direita radical.
Acredite, o bolsonarismo é bem anterior ao aparecimento de Jair Bolsonaro. Mais: o bolsonarismo é o “remake” de nossa própria história, como algo que a perpassa e se instala desde a origem da própria República.
O que não tinha era o nome pelo qual veio a ser conhecido, o “ismo” do sobrenome de seu principal representante, hoje, por acaso e acidente de percurso democrático, também presidente da República no meio de uma pandemia. Um período que, daqui a algum tempo histórico, será lembrado como a maior tragicomédia da política brasileira, em um enredo em que se fundiam o pastelão, o abusivo e o perverso.
Florianismo, o movimento precursor
Esse bolsonarismo que se envolve em uma capa atraente para muitos, em seu rótulo, e se vende como um pacote conservador, vem de mais de 130 anos atrás: nesse tempo, havia um movimento arraigado a valores morais da sociedade e da família, permeado pelos princípios religiosos, envolto de amor à Pátria e reverente ao militarismo. Era o pacote que levou o povo a aclamar Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro, como o primeiro líder popular da era republicana brasileira. Um pacote que se chamava florianismo.
É isto: no nascedouro da República, um militar chegava ao poder em condições semelhantes à de Bolsonaro em 2018 – país em crise política, incertezas na economia e carência de líderes. No caso, sucedendo outro militar: como vice-presidente, Floriano assume depois da controversa renúncia de Deodoro da Fonseca, eleito após o governo provisório que comandava e do qual seu sucessor era ministro da Guerra (hoje equivalente ao Comando do Exército).
De origem humilde em Alagoas, um dos dez filhos de seus pais Manuel Peixoto e Ana Joaquina, Floriano foi criado pelo tio, o coronel do Exército José Vieira Peixoto, e fez carreira brilhante na instituição, notadamente na Guerra do Paraguai. Aqui, uma diferença clara em relação a Bolsonaro: ao contrário do “Mito”, ele é visto como um militar que honrou bravamente a farda que vestiu.
Mas, como o atual presidente, o marechal Floriano tinha grande empatia com parte da classe média da população e dos militares, especialmente do Exército. Esse relato aparece em estudos como o da professora Elisabete Leal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em um artigo publicado, “Floriano Peixoto e seus Consagradores: Um Estudo sobre Cultura Cívica Republicana (1891-1894)”, ela escreve que “a propaganda florianista difundia a ideia de que o Marechal não estava só, tinha o ‘povo’ a seu lado. Isto é o que dava legitimidade à sua obra política e coletiva. Era [segundo o também historiador Lincoln de Abreu Penna] uma ‘relação dialética que se justificava porque Floriano Peixoto e florianistas se apropriavam reciprocamente’.”
Assim como a igreja – especialmente em sua versão pentecostal – tem um papel fundamental no apoio a Bolsonaro, uma denominação em especial cunhava os princípios morais do governo de Floriano: era a Igreja Positivista do Brasil (IPB). O positivismo se baseava nas ideias do filósofo francês Auguste Comte e se baseava na interpretação científica da realidade de tal forma a tornar isso um culto. A reverência dos positivistas àquelas que consideravam grandes figuras da história brasileira fez com que personagens como Tiradentes ganhassem um papel preponderante a partir dessa época. Ou seja: se hoje você tem folga em 21 de abril, agradeça aos positivistas.
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Os florianistas, no entanto, não eram necessariamente positivistas. Aliás, é importante ressaltar, que eles, assim como os bolsonaristas, gostavam de tomar as ruas para expor seu ideário. As manifestações públicas dessa espécie de louvor a Floriano Peixoto se seguiram à morte dele, em 1895, seis meses depois de deixar a Presidência. Seu funeral foi o maior da história do Rio de Janeiro até então.
Dez anos depois, em 1904, militares florianistas e positivistas, como Lauro Sodré, que também era senador, protagonizariam uma tentativa de golpe durante a Revolta da Vacina. Coincidência com os tempos atuais ou não, havia uma grande discussão sobre imunização, contra a varíola – doença altamente contagiosa e mortal, hoje erradicada no mundo. O governo havia aprovado a obrigatoriedade – contra a qual os políticos ligados ao florianismo se voltaram. Houve tumultos e militares, liderados por Sodré, tentaram um golpe, fracassado.
Como se vê, a República tem o gene do militarismo: se efetivou por um golpe protagonizado pelo Exército, com o apoio da classe empresarial e das elites carioca e paulista. A mistura entre religião, fardas e Pátria continuaria durante o transcorrer do século 20. A imagem mais icônica daqueles tempos foi a Marcha da Família, que, visando combater o comunismo, serviu de pretexto para o golpe de 1964.
Na lógica positivista há a crença em uma imortalidade subjetiva da alma. Segundo ela, os mortos continuam vivos por sua perpetuação no culto cívico de seu legado. Não por acaso, a máxima de Comte: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados necessariamente pelos mortos”.
Positivistas acreditavam na República, mas governada por uma liderança que julgassem sábia. Quiseram Benjamin Constant, mas tiveram Floriano Peixoto. Rechaçavam a democracia institucional e as eleições, justamente pelo fato de “substituírem” seu líder. Por isso, quando das eleições de 1894, tanto positivistas como florianistas esperaram do presidente a que veneravam um movimento no sentido de reagir ao pleito e ficar no poder. Ou seja, esperavam por um golpe que não veio. Floriano repassou a Presidência a Prudêncio de Morais. Preservou a democracia em vez de se deixar seduzir pela vaidade e pelo apego ao poder. Um bom lembrete, talvez inútil, para os tempos atuais.

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