Em Trindade, Arquidones Bites se recusou a retirar do capô de seu carro o tecido com o texto “Fora Bolsonaro Genocida”. Militares o enquadraram na Lei de Segurança Nacional

O professor Arquidones Bites é algemado após se recusar a retirar a faixa de protesto de seu carro | Foto: Reprodução

(atualizada à 1h10 de 1º/6)

Por volta das 21 horas desta segunda-feira, 31, o professor de História e secretário estadual do PT Arquidones Bites Leão Leite deixou a sede da Polícia Federal, em Goiânia. Ele foi liberado pelo delegado após ser ouvido sobre ocorrência registrada em Trindade, onde mora e foi vereador por dois mandatos.

Ele havia sido abordado e preso por policiais militares – os quais não usavam máscaras – por ter, afixada no capô de seu carro, uma faixa com os dizeres “Fora Bolsonaro genocida”. 

Arquidones, que revelou ter perdido o irmão caçula e outros parentes para a Covid-19, esteve portando a mesma faixa no carro durante a manifestação de sábado, 29, em Goiânia. Na hora da abordagem, o veículo estava com sua namorada.

Ao chegar ao local, ele foi abordado pelos PMs, que solicitaram a retirada da faixa de protesto de seu automóvel, baseados na Lei de Segurança Nacional, em seu artigo 26 (calúnia contra autoridade). O petista se recusou a atender a demanda dos militares, reiterou que Bolsonaro “é genocida mesmo” e foi então encaminhado a uma delegacia da cidade.   

Ante a recusa do delegado local em registrar a queixa, o professor de História foi conduzido para a sede da Polícia Federal em Goiânia, para onde, logo que soube do ocorrido, se deslocou a presidente do diretório estadual do PT, Kátia Maria. Ela fez uma publicação nas redes sociais que foi parar na conta do PT nacional no Twitter:

Depois de ser ouvido, assistido pelo advogado Edilberto Dias, também filiado ao PT, o delegado da PF Franklin Roosevelt o liberou. Na saída, ele foi saudado por amigos e correligionários e concedeu entrevistas sobre seu caso.

Repercussão negativa
A ação dos PMs foi repreendida pela seção goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) e a Secretaria de Segurança Pública emitiu, no fim da noite, uma nota lamentando o episódio e informando o afastamento do tenente Albuquerque, que deu voz de prisão ao professor e militante petista. Nas redes sociais, Albuquerque teve divulgada uma foto sua com o presidente:

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Tenente Albuquerque, que levou preso o professor Arquidones por “calúnia” contra o presidente baseado na Lei de Segurança Nacional, posa ao lado de Bolsonaro | Foto: Reprodução

A Lei de Segurança Nacional é um resquício do período da ditadura e teve sua revogação aprovada em primeira votação na Câmara dos Deputados, no dia 4 de maio.

O caso gerou repercussão na imprensa nacional e é o segundo que envolve policiais militares contra manifestantes anti-Bolsonaro em dois dias. O primeiro episódio foi no Recife, no evento pelo impeachment do presidente, quando a PM atirou balas de borracha e atingiu dois homens nos olhos. Um está correndo o risco de ficar cego e outro perdeu um globo ocular. Este nem estava participando do protesto.