As ruas foram tomadas por um sentimento bem diferente ao dos eventos pró-governo. Entenda o contraste em uma dezena de pontos

Manifestantes na rua contra o governo em Goiânia | Foto: Vinicius Schmidt / Metrópoles

Neste sábado, 29, pela primeira vez em um ano – a última havia sido em poucas cidades e puxadas por torcidas organizadas e movimentos antifascistas –, opositores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saíram às ruas, ainda sob o dilema de guardar a quarentena e reagir contra o negacionismo do governo federal em meio à pandemia.

Ruas de pelo menos 200 cidades do País foram tomadas por uma movimentação bem diferente da que havia até então por parte de apoiadores do mandatário da República. Veja abaixo dez pontos que mostram, a partir da manifestação em Goiânia, as dessemelhanças entre os dois grupos.

1 – Pauta dos eventos
A oposição foi às ruas pedir o impeachment de Bolsonaro com sua culpabilização pelo meio milhão de mortes na pandemia. Pediu também a aceleração da vacinação. Nos eventos de apoio, a pauta tem sido o Artigo 142 da Constituição (intervenção militar) e impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

2 – Palavras de ordem
Nas últimas manifestações pró-Bolsonaro, o que mais se ouviu foi o “eu autorizo!” – uma resposta à declaração do presidente, meses atrás, de que estava esperando uma “autorização do povo” para agir (no caso, contra governadores e prefeitos e suas medidas restritivas na pandemia). No protesto de ontem, prevaleceram o “fora Bolsonaro”, “genocida” e “vacina no braço, comida no prato!” como palavras de ordem.

3 – Perfil dos manifestantes
Embora com predominância dos grupos de esquerda, as ruas das cidades se encheram com uma diversidade bem maior de cores – inclusive de tons de pele. Enquanto os apoiadores de Bolsonaro se constituem de uma maioria de brancos, de classe média e de meia idade, nos protestos houve a presença de uma massa miscigenada, com muitos jovens e estudantes e casais LGBTs.

4 – Cores e bandeiras da multidão
Em vez do uso das cores pátrias, pintaram nas ruas o vermelho, dos movimentos sociais e de partidos políticos, e o preto, do luto pela morte de quase meio milhão de brasileiros pela Covid-19. O lema “a nossa bandeira jamais será vermelha”, obviamente, não cabe nos protestos da oposição. Mas havia também gente que fez questão de levar a bandeira nacional – uma delas estava no trio elétrico que puxava a passeata. Curiosamente, não havia bandeiras do PT.

5 – Padrão de policiamento
Como sempre costuma ocorrer em manifestações consideradas de esquerda, havia um policiamento bem mais robusto do que nos eventos dos apoiadores de Jair Bolsonaro. A PM fez escolta da passeata com seus grupos especiais, como a Cavalaria e as motos do Grupamento de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro). Porém, nenhuma ocorrência foi registrada.

6 – Uso de máscaras
Esta talvez seja a diferença mais significativa. As concentrações de apoio a Jair Bolsonaro, um líder negacionista, têm uma grande parcela em desrespeito à norma de usar proteção facial. Nas manifestações contrárias deste sábado, não se observou pessoas sem máscara. Muitas carregavam álcool em gel.

7 – Cantos entoados
Não é preciso dizer que os apoiadores do governo têm como trilha sonora preferida o Hino Nacional. Cantos militares e músicas ufanistas também são entoadas. No protesto antibolsonarista, pelo menos em Goiânia, o refrão mais lembrado foi “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”, um canto do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

8 – Cartazes à mão
Neste sábado de protestos, houve a predominância de cartazes feitos à mão e faixas encomendadas pessoalmente, com palavras de ordem. As manifestações de apoio ao presidente costumam ter cartazes impressos em gráfica e material de melhor acabamento.

9 – Distanciamento
Manter a regra sanitária por conta da pandemia foi uma preocupação dos organizadores das passeatas de sábado, com mensagens nas redes sociais e distribuição de panfletos. Mas, apesar de menos concentradas, as aglomerações aconteceram. Nas manifestações da direita, não há preocupação com normas de distanciamento social.

10 – Políticos no palanque
Ao contrário de atos pró-governo, em que mesmo o próprio presidente sobe ao palanque, na maioria das cidades o movimento contra Bolsonaro não levou ao palco políticos ocupantes de cargos. Em Goiânia, os discursos ficaram por conta de lideranças sindicais e estudantis.