Opção cultural

A última vez que o Brasil concorreu na categoria de melhor filme estrangeiro foi em 1999, com Central do Brasil

Filme narra a história de uma criança com deformação no rosto que sofre bullying na escola, e tem de enfrentar a conhecida saga da falta de aceitação social
[caption id="attachment_112477" align="alignnone" width="620"] Julia Roberts contracena com o pequeno Jacob Tremblay, que interpreta Auggie Pullman, garoto com deformação no rosto[/caption]
Preparem os lenços. Foi o comentário anônimo que ouvi após o trailer de "Extraordinário" (2017), no escuro de uma dessas sessões de cinema. E o marketing que acompanhou todo o período de divulgação do filme se confirmou na semana passada, com a estreia em circuito nacional: muita gente fungando na penumbra.
A proposta do diretor e roteirista Stephen Chbosky - de "As Vantagens de Ser Invisível" (2012) - foi tratar do bullying, um problema cada vez mais frequente nas escolas americanas (e do mundo todo). Ao escolher como protagonista o pequeno Auggie Pullman (encarnado por Jacob Tremblay e alguns quilos de maquiagem), elevou a questão ao máximo, já que o garoto apresenta o rosto deformado por complicações no nascimento. Se crianças comuns já sofrem nas mãos dos valentões, imagine um pequeno pintado com a cara do Corcunda de Notre Dame.
Aliás, talvez o grande problema do longa esteja justamente nesse aspecto. Ao aproximar a sistemática da história da de uma fábula infantil, inclusive com a narração de Auggie em primeira pessoa, a produção infantiliza a visão de mundo da obra, tornando o enfrentamento da questão superficial. Se por um lado estimula o uso do lenço durante a sessão, por outro, afasta o espectador do questionamento maduro.
Auggie mora com os pais - o simpático Nate (Owen Wilson) e a vibrante Isabel (Julia Roberts) - e com a irmã Via (Isabela Vidovic), que o seguraram na redoma doméstica o quanto puderam. Até que a mãe achou por bem mandá-lo à escola comum, quando a educação informal do lar começou a dar mostras de insuficiência. E é aí que o coração de todos os pais e mães da plateia começa a apertar (que eu tenha notado, não houve crianças chorando nesse filme).
Armas
Existem reminiscências não intencionais de "ET - o Extraterrestre" (1982) e da saga "Harry Potter" em diversas passagens do longa. A temática se aproxima bastante, já que no mundo de "Extraordinário" o sonho de Auggie é ser astronauta. Em sua pequena cabecinha, é a única maneira de conciliar o fato de não ser parte do meio, mas não ser rejeitado.
Tal qual um bruxo vivendo entre mortais, ou um extraterrestre, o garoto passa a vida dentro de fantasias (literais e sociais) esperando a hora em que alguém lhe enxergará verdadeiramente, em sua essência (o filme também tem seus 'Elliots', 'Ronis', 'Hermiones' e até um 'Dumbledore' chamado 'Mr. Tushman', traduzido como 'Sr. Buzanfa').
Um grande trunfo da obra é ramificar a narrativa em determinado ponto. Quando achamos ser um filme sobre o pequeno Auggie, Chbosky mostra as cartas de outros personagens, ampliando o espectro de análise - inclusive com a mudança de narrador. Passamos a notar que, por maior que seja a piedade em relação ao garotinho protagonista, outros astros orbitam em sua volta e são diretamente afetados por ele.
Lenços e lentes
Cada um tem sua necessidade de ser reconhecido, aceito e valorizado autonomamente. Ao ressaltar o problema físico de Auggie quase ao ponto de justificar o bullying, Chbosky faz o contraste com seus parceiros e reforça a inutilidade dos rótulos sociais: quem é normal, afinal de contas? Não somos todos anormais, em algum ponto? Não usamos, todos, máscaras?
Não fosse extremamente didático e, por vezes, pateticamente explícito (a cena do valentão levando sermão na sala do diretor beira ao ridículo), com soluções fáceis, personagens planos (todo mundo é bonzinho, exceto os maus) e uma trama característica dos mais agradáveis filmes da sessão da tarde, "Extraordinário" poderia se juntar ao time de "Precisamos Falar sobre Kevin" (2011), "Carrie - a Estranha" (1976), "Elefante" (2003) ou mesmo "Super Dark Times" (2017) como arautos de uma nova forma de pensar o bullying escolar. Afinal, é mesmo necessário colocar o problema em perspectiva - quem é que não tem aquele tio conservador, ou aquele amigo macho-man que ainda vaticina "Ah, os moleques vão crescer frescos desse jeito! No meu tempo, não tinha esse tipo de frescura" -?
Independentemente do que mais possa se falar sobre o filme, não deixe de levar os lenços quando for ao cinema.

Livro de Wladimir Saldanha eleva o tom da lírica a um patamar poucas vezes visto nos católicos poetas desde o trio Murilo Mendes, Jorge de Lima, Augusto Schmidt

Evento será realizado no dia 15 de dezembro no Cine Lumière do Shopping Bouganville

Nascida em Budapeste e vindo com a família para o Brasil aos dez anos, artista brilhou no teatro e na televisão com sua veia cômico-dramática
[caption id="attachment_112158" align="alignnone" width="620"] Eva Todor era considerada uma mulher de personalidade intensa e com uma energia incrível para criar, atuar, produzir e reunir elencos[/caption]
A atriz húngaro-brasileira Eva Todor morreu na manhã de hoje, aos 98 anos de idade. Ela nasceu em Budapeste, em 1919, numa família judia cujo sobrenome era Fodor. Aos dez anos, veio para o Brasil com os pais, que mudaram o sobrenome para Todor.
Em 1942, a jovem atriz começava a fazer sucesso nos palcos, com sua companhia de teatro Eva e Seus Artistas, quando foi convidada pelo prefeito Venerando de Freitas Borges para inaugurar profissionalmente o Cine-Teatro Goiânia. Ela então trouxe seu grupo e encenou uma série de peças.
A primeira peça encenada foi “Colégio Interno”, escrita por Ladislau Fodor, tio da atriz, e dirigida pelo marido dela Luiz Iglezias. “Quando nós estivemos aqui a primeira vez, nós todos nos admiramos: ‘o que esses loucos vão fazer nesse deserto com um teatro assim?’”, diria mais tarde a atriz, segundo consta no livro “Teatro Goiânia: Histórias e Estórias”, de Gilson P. Borges.
O último papel vivido pela atriz foi na televisão, interpretando Dália, na novela da Globo “Salve Jorge”, entre 2012 e 2013. Nos anos seguintes, começou a sofrer do Mal de Parkinson. Segundo os médicos, a causa da morte foi pneumonia. Eva Todor era considerada uma mulher de personalidade intensa e com uma energia incrível para criar, atuar, produzir e reunir elencos.

[caption id="attachment_111965" align="alignleft" width="620"] Para Lucchesi, o tradutor, entre duas línguas, é “animal bifronte, exilado de uma terceira, marcado pelo não lugar, em círculo de incerta adequação, de que se torna prisioneiro”[/caption]
Dirce Waltrick do Amarante
Especial para o Jornal Opção
A proposta do livro “Palavras de Escritor – Tradutor: Marco Lucchesi” (Escritório do Livro, 184 páginas), organizado por Andréia Guerini, Karine Simoni e Walter Carlos Costa, todos professores do primeiro Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução a ser criado no Brasil, na Universidade Federal de Santa Catarina, é discutir o conceito de tradução a partir de um diálogo com o escritor e tradutor Marco Lucchesi, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e tradutor de literatura italiana, alemã, russa etc.
Antes de entrar propriamente no tema da tradução, Lucchesi é convidado pelos organizadores a revisitar seu passado, numa espécie de arqueologia que busca explorar os vestígios culturais do escritor. As memórias de Lucchesi, filho de italianos, mas nascido no Brasil em 1963 e vivendo entre duas línguas e duas culturas, são cercadas de citações literárias: lembra da avó, que lhe narrava “Orlando Furioso” (Ateliê Editorial, 660 páginas, tradução de Pedro Garcez Ghirardi), poema épico de Ludovico Ariosto; do pai, que lhe recitava cantos da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri; e da mãe, que amava poesia e tocava piano.
Aos 18 anos, questionou a ausência de disciplinas como arte, literatura ou filosofia nas aulas do curso de História, que frequentou na Universidade Federal Fluminense, na década de 1980, que, apesar dos excelentes professores, como frisa em seu depoimento, parecia só tratar de balancetes e gráficos.
São as línguas, contudo, as grandes protagonistas de sua história pessoal. Lucchesi estudou francês, russo, esperanto, alemão etc. e via nas línguas uma forma de aproximação com o outro, com a cultura do outro, necessária, antes de mais nada, ao menino, filho único, que precisava ampliar a ponte que, como ele diz, “vai de mim ao outro”.
Potência criativa
A respeito do exercício da tradução, Lucchesi começou cedo, traduzindo cartas de primos e tios, além das óperas, estudadas no colégio durante o antigo ensino médio. Por ser bilíngue, lembra que “a translação de palavras, significantes e sinais se tornou praticamente automática”. Mas, na tradução literária, logo percebeu que o tradutor não é “apenas um operador neutro, movendo maciços blocos semânticos e sintáticos a partir da taxionomia vocabular”.
Afastada, segundo Lucchesi, a “primitiva esperança de simples comutação de palavras, tomadas como primas ou irmãs distantes” e, portanto, a ideia de tradução como equivalente, ela passa a apresentar-se como potência criativa. Torna-se, então, diz o tradutor, “necessário rever o papel subjetivo da tradução, da imaginação e da sensibilidade [...], em que a aproximação entre culturas já não atenda a um maquinismo vazio, limitado ao dicionário e a uma lógica fuzzy, mas a um gesto cultural, impregnado de rumores, estranhamentos e fortes desvios normativos [...]”.
No seu processo de tradução, Lucchesi conta que se vê “cercado por mil dicionários e retortas, tradutor-boticário, experimentando sais, fórmulas e palavras, com destempero e melancolia”. Ele seria uma espécie de tradutor manipulador, de que fala o estudioso francês Cyril Aslanov, que se encontra num “laboratório linguístico localizado na terra de ninguém entre a língua-fonte e a língua-alvo”, um lugar onde o público não pode penetrar.
Mas é a melancolia que parece ganhar destaque na reflexão do escritor acerca da atividade da tradução, que ele vê como “a arte de naufragar com dignidade e nobreza — e sobreviver ao mar profundo, aos saberes e dissabores corsários [...]”, ou “nomadismo obstinado”.
Para Lucchesi, o tradutor, entre duas línguas, é “animal bifronte, exilado de uma terceira, marcado pelo não lugar, em círculo de incerta adequação, de que se torna prisioneiro”. E também antes de mais nada “um leitor à procura de uma voz”. Voz que o escritor irlandês Samuel Beckett procurou incessantemente não só quando escrevia ora em inglês ora em francês, mas quando se traduzia ora numa língua ora noutra e que está registrada em toda sua obra ficcional.
Dirce Waltrick do Amarante organizou e traduziu “Conversando com Varejeiras Azuis” (Iluminuras), uma antologia em prosa e verso do escritor inglês Edward Lear.

A aventura desmedida e cheia de cintilantes emoções do caubói que viajou do Canadá ao Brasil montado a cavalo, com apenas um curto percurso (proporcionalmente) pegando avião

O escritor e professor carioca Marco Lucchesi veio a Goiânia para lançar sua tradução de “Moradas”, de Angelus Silesius, e proferiu uma pequena palestra sobre o poético e a busca pelo diálogo, muito em falta nos dias de hoje

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Publicação contou com o apoio da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, onde será realizado seu lançamento no dia 5 de dezembro, às 19h30
[caption id="attachment_111362" align="alignnone" width="620"] Rogério Arédio e Narcisa Abreu, autores do livro, viveram sua juventude no local, e já conheciam cada detalhe da região | Foto: Divulgação[/caption]
A Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag) tem um projeto que apoia publicações que contam a história de Goiânia. Dentro desta iniciativa, será lançado o livro “Alameda dos Buritis” (Editora Kelps, 2017), de Rogério Arédio Ferreira e Narcisa Abreu Cordeiro, no dia 5 de dezembro (terça-feira), na sede da Aflag.
O livro resgata as décadas de 1940 e 1950, narrando a história do lugar e das pessoas que viviam nessa via pública que liga as avenidas Assis Chateaubriand e Anhanguera, boa parte dela margeando o Bosque dos Buritis.
De acordo com a presidente da Aflag, Alba Lucinia Dayrell, outros escritores que tenham a intenção de escrever sobre Goiânia podem pleitear o apoio da instituição. A própria Alba pretende escrever um livro sobre a Rua 23, no Centro de Goiânia.
Narcisa Abreu Cordeiro é arquiteta e Rogério Arédio Ferreira é desembargador aposentado. Eles viveram sua juventude no local, e já conheciam cada detalhe da região.
Serviço
Livro: “Alameda dos Buritis - Moradores Pioneiros - Décadas de 1940 e 1950”
Autores: Narcisa Abreu Cordeiro e Rogério Arédio Ferreira
Editora: Kelps
Data: 05/12/2017 (terça-feira)
Horário: 19h30
Local: Academia Feminina de Letras (Aflag)
Rua 132-C nº 114, Setor Sul – Goiânia-GO