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Escrito no século 19, “O Segredo do Bonzo” é um achado irônico e sagaz sobre como o charlatanismo se multiplica – e se justifica

Divino Lemes corre risco de ser cassado pela Justiça

Prefeito eleito e empossado em Senador Canedo a partir de uma decisão monocrática de ministro do Tribunal Superior Eleitoral ainda depende de julgamento do plenário da Corte

Serviços são retomados, mas ainda existe desacerto político

O ponto que agrada a população é a retomada emergencial do tapa-buracos, mas é possível identificar problemas políticos na montagem do governo de Goiânia

De Jânio Quadros a João Dória: seja com a direita ou com a esquerda, discurso populista sempre volta

Desde Getúlio Vargas, tratado como o pai dos pobres, chefes do Poder Executivo abusam do populismo no Brasil para conquistar eleitores [caption id="attachment_84250" align="alignleft" width="620"] "Varre, varre, vassourinha..." de Jânio Quadros (1960) e João Dória vestido de gari (2017) são exemplos de populismo na política brasileira | Fotos: Reprodução[/caption] Do pai dos pobres ao caçador de marajá, o populismo continua a encontrar políticos que adotam suas práticas de discurso e identificação com determinada parcela da sociedade para darem força e voz a um agente público que espelha sua imagem em uma espécie de salvador da pátria. A defesa de parte de um povo contra aquele outro grupo apontado como o culpado de ser o causador de todos os males enfrentados por um país em um dado momento ganha espaço. E erra quem gosta de dizer que o populismo é uma prática política adotada apenas pela direita ou pela esquerda. A figura do líder carismático que pauta seu discurso na luta de classes sociais e minorias oprimidas contra uma elite corrupta e controladora das riquezas de uma nação ou aquele político que lidera uma frente de combate à invasão de imigrantes e o retorno às práticas éticas e morais da sociedade dos bons costumes contra os avanços do comunismo, na briga pela defesa dos valores da família, os dois exemplos vão e voltam, independe da época vivida. Este líder carismático e próximo das pessoas, que representa geralmente uma figura identificada co­mo o ser que trabalha voltou a dar novos exemplos de que existe espaço para ele atuar no campo político, na conquista emocional de um povo, eleitores ou sociedade, com o resultado das eleições municipais de 2016 em algumas cidades. Vendido como figura não política, o empresário João Dória Júnior (PSDB), que é filiado a um dos grandes partidos brasileiros e se veste de gari e varre as ruas da capital paulista em sua posse, mostram que, em tempos de divulgação ao vivo nas redes sociais, há sim espaço para um discurso que nem sempre significa sucesso das suas práticas políticas a longo prazo. Getúlio Vargas, político centralizador e autoritário, que ao mesmo tempo concedeu, a partir do Estado Novo, avanços importantes aos trabalhadores e garantiu direitos que existem até hoje, como a CLT, o salário mínimo, a carga horária semanal e as férias remuneradas, usou sua figura popular para controlar as informações contra seu governo e, mesmo assim, viu seu governo ruir com a péssima situação econômica. O pai dos pobres é o maior exemplo de populista no Brasil. E nele muitos se inspiraram. Assim como Getúlio Vargas combateu uma propagada e acreditada por muitos ameaça comunista, figuras como a de João Dória surgem na política no momento em que a representação da esquerda é retirada do poder por consequência de uma crise institucional, econômica, política e ética envolta em escândalos de corrupção. Prato cheio A corrupção e o discurso do combate aos corruptos sempre se tornam pratos cheios na mesa do populismo. Com a figura do político de profissão encarada de forma negativa por grande parte da população brasileira, que foi às ruas para pedir o impeachment de uma presidente da República, o espaço foi aberto para discursos populistas com a venda da imagem de figuras apolíticas. Pessoas que não querem ser enquadradas na visão criticada do gestor que governa com base na carcomida coalisão de interesses econômicos e dispostos a tudo para atingir o sucesso de seus projetos de poder. Não só João Dória se viu beneficiado e soube usar bem o discurso populista pautado no sucesso pelo trabalho, como outros também venceram eleições em capitais importantes. Como o ex-presidente de um clube de futebol, Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte (MG), contra o candidato do presidente nacional do partido de Dória, que amargou a segunda derrota seguida em Minas Gerais em um intervalo de dois anos. O senador Aécio Neves (PSDB), que perdeu para Dilma Rousseff (PT) em seu Estado para presidente em 2014, no ano passado não conseguiu eleger o deputado estadual tucano João Leite no segundo turno na capital mineira. Dória se vestiu de gari e varreu ruas de São Paulo em uma tentativa populista de se mostrar um homem do povo, mais um, identificado com o trabalhador paulistano. Kalil venceu em Belo Horizonte, e, com base em suas frases de efeito e sua ascendência síria, descartou os termos pejorativos usados para identificar peessedebistas ou petistas na polarização política que cresceu a partir das eleições presidenciais de 2014: “Acabou coxinha e mortadela. O papo agora é quibe”. Vassourinha A mesma vassoura usada por Dória para se promover em seu ato de posse como prefeito de São Paulo já foi instrumento eleitoral de combate à corrupção por outro político populista, usado inclusive como jingle de campanha. Presidente eleito em 1960 com ajuda do partido de direita UDN, Jânio Quadros (PTN) dizia que varreria a corrupção do País. Com ele, foi eleito o vice-presidente da outra chapa — a eleição para presidente e vice eram separadas. O vice João Goulart (PTB) se tornou o sucessor de Jânio, mas não ocupou o cargo, apesar da renúncia do titular sete meses depois de este ocupar a Presidência. Apoiado no anseio da po­pulação, que queria uma renovação na política brasileira, Jânio Quadros se elegeu com discurso populista e uma proposta de governo revolucionária. Tratava-se de um político conservador e anticomunista, mas que começou a ser mal visto quando concedeu, em agosto de 1961, uma condecoração a Che Guevara, um dos líderes da revolução cubana, por este ter libertado mais de 20 religiosos presos em Cuba. Na carta de renúncia, de 25 de agosto de 1961, Jânio manteve o discurso populista ao dizer que “forças terríveis” conspiraram contra o seu governo: “Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior. Forças terríveis levantam-se contra mim, e me intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração”. Assim como Getúlio, o governo de Jânio terminou com a renúncia. No caso de Vargas, o discurso era o do político que iria “restabelecer a paz com a anistia e garantir a opinião do povo com a liberdade das urnas”, como dizia seu material de campanha em 1930. No final de agosto de 1954, sob a pressão para renunciar ao poder, escreve uma carta suicida que diz em sua primeira frase “Deixo à sanha de meus inimigos, o legado de minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro, e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia”. O jingle “Varre, varre, vassourinha...”, ligado à imagem de Jânio Quadro com uma vassoura a varrer a corrupção, fez o sucesso eleitoral que seu governo acabou não concretizando. “Varre, varre,varre vassourinha!/Varre, varre a bandalheira!/Que o povo já ‘tá’ cansado/De sofrer dessa ma­neira/Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!/Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, morali­za­do!/Alerta, meu irmão!/Vas­soura, conterrâneo!/Vamos vencer com Jânio!”

No receituário populista, Iris aposta em mutirão para arrumar a cidade

[caption id="attachment_84246" align="alignleft" width="620"] Políticas já utilizadas por Iris Rezende em Goiânia, como os mutirões, foram anunciadas durante a campanha em 2016[/caption] Nos casos de Getúlio Vargas e Jânio Quadros, apesar do sucesso junto à classe trabalhadora da figura do pai dos pobres e do discurso de varrer a corrupção do País, o fim de seus governos foi melancólico e não resultou no sucesso das políticas anunciadas com base na construção de uma figura populista carismática e próxima do povo. Mas o populismo encontra novos representantes em todo o mundo, e com sucesso em alguns casos. O mais emblemático deles é o discurso nacionalista recheado de ódio e preconceitos do presidente eleito dos Estados Unidos. Donald Trump, empresário bem-sucedido que apostou na ideia da retomada da criação de empregos e da força econômica americana como novamente a maior potência do mundo depois da crise iniciada em 2008. “A pergunta de amanhã é: quem vocês querem que governe a América, a classe política corrupta ou o povo?”, perguntava Trump um dia antes das eleições. Um discurso que atraiu a maioria dos eleitores brancos de classe média afetados com a crise econômica que acarretou a desindustrialização em alguns Estados e destruiu empregos. Gente que se viu representada por Trump, o político que não veio de cargos públicos e que prometeu combater o crescimento do número de imigrantes e o resgate dos valores tradicionais da família americana. Até no processo de impeachment brasileiro, o populismo ganhou sua carga emocional, mesmo sem pensar no que seria a Ponte Para o Futuro, plano de governo costurado por PMDB, PSDB, DEM e outros partidos que faziam parte da oposição a Dilma Rousseff (PT) no Congresso. O apelo veio com o hino nacional, a camisa da seleção brasileira de futebol e o forte uso das cores verde e amarelo, em uma espécie de salvação nacional com o resgate de um patriotismo que representava a busca pela ética e a moral diante de escândalos de corrupção revelados pelas investigações da Operação Lava Jato. Soma-se também a criação de heróis nacionais, numa disputa entre bem e mal, que simplifica os problemas econômicos, políticos, éticos e institucionais na caça aos vilões nacionais. A falência do governo Dilma se deu por diversos erros que culminaram em seu processo de impeachment, que deu espaço para uma agenda, seja ela necessária ou não, de medidas impopulares e praticamente nula aprovação de um governo, chamado de poder de transição, que ainda se sustenta por seu forte apoio no Congresso. Apoio este que pode ser testado e passar por rupturas com a falta de negociação com parlamentares. O que inclui, também, a eleição para presidente da Câmara dos Deputados, na qual dois deputados querem o cargo e fazem campanha contra o possível candidato apoiado pelo governo federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que busca alternativas jurídicas para disputar uma reeleição não permitida pela Constituição Federal e o Regimento Interno da Casa. Mutirões Também aqui, em Goiânia, as eleições municipais mostraram que o discurso populista ainda tem bastante espaço quando se tratam de figuras históricas que têm uma atuação de proximidade com o povo, abusam do discurso do dom divino e se espelham em modelos já aplicados em outras gestões como solução, mesmo que décadas depois de usados. O fascínio gerado na população pela figura do líder carismático, fruto do discurso populista, deu certo para Iris Rezende (PMDB), que assumiu o cargo pela quarta vez em Goiânia neste mês. Mesmo tendo sido responsável direto pela reeleição de Paulo Garcia (PT) no pleito de 2012, o peemedebista se beneficiou de um fim de mandato do petista recheado de erros, inclusive com a ausência de coleta de lixo em alguns bairros da cidade e ruas tomadas por buracos. A separação entre PT e PMDB na capital se mostrou boa no projeto eleitoral de Iris, que pode usar o discurso da dívida deixada por Paulo Garcia para ganhar tempo para tentar colocar a casa em ordem. Iris promete uma gestão descentralizada, com criação das subprefeituras, sancionadas em lei por ele em 2008 e até hoje inexistentes. Mas o prefeito anunciou durante a disputa uma velha prática de seus mandatos: os mutirões nos bairros. Considerados atos interessantes se feitos de forma pontual, a preocupação é a de que o mutirão se torne o grande solucionador dos problemas da capital. Cabe a pergunta: o que não aconteceu nas décadas de 1980 e 1990 no Estado, quando o peemedebista foi governador, seria agora um modelo de sucesso? Ter a confiança de parte do setor privado foi algo demonstrado por Iris na primeira semana. A negociação rápida com fornecedores que ainda têm pagamentos a receber pela prestação de serviços na cidade resultou, mesmo sem a quitação das parcelas em atraso, na colocação novamente de máquinas nas ruas para tapar buracos e retomar a coleta de lixo onde ela havia parado. Centralizador Se, por um lado, a figura conhecida de homem público centralizador, que tem conhecimento, ou parece ter, de todos os atos da prefeitura, o perfil de Iris não condiz com a promessa eleitoral de criação das subprefeituras, que podem melhorar, por exemplo, o trânsito da cidade. Tempo o peemedebista terá para cumprir ao menos essa promessa, já que a lei existe desde 2008 e está prevista na legislação a figura dos subprefeitos. Com a Câmara Municipal presidida pelo PMDB, caberá ao prefeito enfrentar o desgaste com outros vereadores de acabar com a função pequena, mas que é usada para aprisionar o voto do eleitor, que é a de fazer favor ao morador do bairro do parlamentar com um serviço corriqueiro de roçagem de lote, troca de lâmpada ou asfaltar uma rua. Criar as subprefeituras dará fôlego ao Legislativo, que poderá cumprir sua função de discutir leis e fiscalizar a prefeitura. A ação de resolver os problemas de um setor ou região da cidade por meio de mutirões não parte da discussão com a comunidade sobre quais serviços serão prestados. É mais uma espécie de agenda pré-determinada que usa os moradores em sua execução. Dada a insatisfação das pessoas com a classe política e a necessidade de se preocupar com outros problemas, estará a população disposta a parar de fazer qualquer coisa e ir a mutirões porque a prefeitura decidiu realizar uma ação em determinado bairro? Que o dom divino ou a força do homem que trabalha dia e noite pela população realmente ajudem na elaboração de políticas públicas que discutam e melhorem a mobilidade urbana, a geração de empregos, os investimentos em infraestrutura, a iluminação pública, a segurança, o recolhimento e tratamento do lixo, a distribuição de água tratada e captação e destinação do esgoto. Que o discurso populista não termine em impeachment, renúncia, abandono do cargo ou justificativa para erros de uma gestão que mal começou. l

Está faltando Renan na cadeia

Presidente do Senado, talvez a figura pública mais maléfica do País atualmente, é alvo de nove inquéritos na Operação Lava Jato e já é réu em uma denúncia

Como Iris Rezende vai “vestir” sua nova gestão como prefeito de Goiânia?

Com um dilema a resolver — ter sido eleito por ser o Iris “de sempre” e precisar se adaptar à nova dinâmica da política —, o prefeito tem pela frente a administração mais desafiadora de sua vida pública

Brasileira que provou ligação entre zika e microcefalia mostra como a pesquisa pode beneficiar o mundo

Considerada uma das dez cientistas mais importantes de 2016 pela revista Nature, Celina Turchi diz que as pesquisas sobre a ação do vírus continuam e revela: “Ficaremos envolvidos nisso durante anos”

Em defesa da união dos estados, Marconi ganha força política nacional

Em tempos de crise, agenda positiva empunhada pelo tucano de Goiás tem se tornado referência para outros governadores

“Quero poder olhar para ele e perguntar por que matou minha filha”, diz mãe de vítima de serial killer

Rosana Mesquita, mãe de Lilian Sissi Mesquita, assassinada por Tiago Henrique no dia 3 de fevereiro de 2014, afirma só esperar que os casos que ainda não foram concluídos sejam julgados o quanto antes: "A gente quer um pouco de paz" [caption id="attachment_83362" align="alignright" width="224"]Rosana Mesquita, mãe de Lilian Sissi, evita mostrar rosto em fotos para impedir que a dor atraia mais curiosos Rosana Mesquita, mãe de Lilian Sissi, evita mostrar rosto em fotos para impedir que a dor atraia mais curiosos[/caption] Augusto Diniz Na segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014, o telefone de Rosana Mesquita e Silva foi usado duas vezes para tentar falar com a filha mais velha, a jovem Lilian Sissi Mesquita e Silva, de 28 anos. Na primeira vez, pela manhã, a mãe ligou para Lilian por volta de 10h30 e ouviu a frase “ô mulher sumida” vinda do outro lado da ligação. Quando o marido de Rosana, Erinaldo Morais Souza Mesquita, chegou em casa, ela se despediu da filha pelo telefone. As duas tiveram uma conversa rápida. Rosana, que trabalhava com confecção, falou para a filha que estava “em casa mexendo com umas roupas”. Naquele momento, Lilian perguntou “como que a senhora está?”, diálogo que continuou com a resposta “estou bem” da mãe. “Eu estou arrumando os meninos para levar para a escola”, contou a filha para Rosana ao telefone. A ligação foi encerrada com um “então tá, mais tarde a gente se fala” da filha, que se despediu de Rosana. Antes da morte de Lilian, que aconteceria cerca de seis horas depois de as duas se falarem, mãe e filha se viram pela última vez na quarta-feira, 29 de janeiro de 2014. Elas buscaram as crianças de Lilian na escola no final da tarde daquele dia, uma garota de 9 anos e um menino de 6. Os quatro fizeram o que a mãe diz ser um dos programas preferidos da filha, que era sair do colégio dos pequenos e ir à Feira dos Amigos, na Praça Abel Coimbra, no Setor Cidade Jardim, e lanchar às quartas-feiras. Dia 3 de fevereiro Os filhos Carlos Eduardo e Ana Carolina, que esperavam o pai, o mecânico Carlos Eduardo Valczak, hoje com 37 anos, ou a mãe buscá-los na escola, Clube dos Leões, naquela segunda-feira, acabaram indo embora com Lilian. Minutos antes, o pai havia dito à esposa que não poderia sair do trabalho naquele momento. A conversa por telefone aconteceu por cerca de 10 minutos antes do crime. Foram 11 anos de casamento até aquele final de tarde de 3 de fevereiro de 2014. [relacionadas artigos="83174"] “Eu procuro nem tentar lembrar do dia. De manhã eu liguei para ela. Eu a tinha visto na quarta-feira...” A conversa na sala da casa de Rosana foi interrompida por cerca de 30 segundos. Enquanto conversava com o repórter do Jornal Opção, a mãe de Lilian até tentou, mas as lágrimas interromperam as lembranças do dia 3 de fevereiro de 2014. Mesmo assim, pouco depois, ela continuou. “Eu tenho as imagens. Na hora (do crime), ela estava mexendo no celular e me ligando”, lembra. Na primeira vez em que tentaram se falar, pela manhã daquela segunda-feira, Rosana e Lilian conversaram rapidamente. Por volta de 16h45, quando a filha ligou para a mãe, que havia saído para buscar roupas no Setor Rio Formoso, o celular de Rosana ficou no porta-luvas do carro. “Nossa! A Lilian me ligou”, disse na hora em que viu o registro de chamada da filha. Mas como o sinal era muito ruim onde estava, Rosana deixou para retornar a ligação quando chegasse em casa, no Condomínio Santa Rita, a aproximadamente 7 quilômetros de distância de onde havia ido. Ninguém atendia Mas a filha não atendeu às ligações da mãe. “Quando eu cheguei aqui em casa e abri o portão, eu retornei e ela não atendia, nem o Carlos Eduardo.” Rosana ainda não sabia o que tinha acontecido. Ela pensava que Lilian tinha buscado os filhos na escola e ido com os dois passear no shopping ou em alguma praça. “Deve que ela passou em algum lugar”, imaginou. Erinaldo, hoje com 37 anos, já sabia que Lilian tinha morrido. Foi quando a sogra da filha de Rosana, Elaine Aparecida dos Santos, chegou à casa no Conjunto Santa Rita e, muito abalada, contou que a filha de Rosana havia sido assassinada. A segunda ligação do dia entre Rosana e Lilian — que a mãe acabou não vendo no momento em que a filha ligou para ela — aconteceu momentos antes de um homem chegar em uma moto, apontar um revólver calibre 38 para o peito de Lilian e atirar. Segundo os policiais que estiveram no local do crime, a vítima morreu na hora. A descrição de como o autor do homicídio teria agido seis meses depois no assassinato da adolescente Ana Lídia de Sousa Gomes, e estava em um ponto de ônibus no mesmo bairro que Lilian foi morta, a aproximadamente 800 metros de distância entre o local dos dois crimes, é bastante parecida. Um homem branco alto que desce tranquilamente de uma moto preta ou vermelha e atira contra o peito da vítima. Lilian não conseguiu buscar os filhos na escola naquela segunda-feira. Mudança de rotina Por motivos mais do que compreensíveis, Rosana não gosta muito de falar sobre a morte da filha, que aconteceu há 2 anos, 10 meses e 22 dias. Nos 1.056 dias depois da morte de Lilian, a mãe parou de mexer com aquela que era a sua atividade profissional e diz que tem evitado sair muito de casa. Na época da morte da filha, a casa em que mora passava por uma obra. Ela e o marido tinham se mudado para o imóvel havia dois ou três anos antes do assassinato de Lilian. Rosana evita, inclusive, ser fotografada. “Eu trabalhava muito. Daí pra cá eu não mais dei conta de trabalhar tanto. Lugares que têm muitas pessoas eu não vou. Eu que ia às lojas, que olhava modelo de roupa. Eu parei de fazer isso.” A rotina da mãe de Lilian, que havia mudado completamente, ganhou um novo motivo de alegria com a sobrinha de 1 ano e 1 mês, a menina Ana Vitória, de quem ela passou a cuidar. “Eu tenho a Ana Vitória hoje, que é minha filha, que eu cuidei desde os 20 dias de vida. É ela que me dá forças. Eu foco nela.” Rosana não esconde a alegria ao falar da sobrinha que fica com ela. “Se o que ele espera é o perdão, eu o perdoo” [caption id="attachment_83361" align="aligncenter" width="620"]Carta escrita por Tiago Henrique para a mãe de Lilian Sissi mostra um réu confesso que pode ter se arrependido do assassinato Carta escrita por Tiago Henrique para a mãe de Lilian Sissi mostra um réu confesso que pode ter se arrependido do assassinato[/caption] Os breves intervalos entre a fala de Rosana Mesquita e Silva, de 45 anos, mãe da jovem Lilian Sissi Mesquita e Silva, que tinha 28 anos quando foi assassinada, davam espaço a um silêncio na casa. Os intervalos para recuperar a voz e conseguir voltar a conversar sobre a filha eram perturbadores. Não só para Rosana, mas para todos que presenciavam o sofrimento de uma mãe que perde uma filha e ainda busca forças para contar a história quase três anos depois. Ainda mais inacreditável é perceber que, apesar de todo o sofrimento causado pela morte da filha, ainda existe espaço para o perdão ao assassino. “Se o que ele espera é o perdão, eu o perdoo. Mas eu queria olhar para ele e ouvir dele por que ele matou minha filha.” A vontade de Rosana de conversar frente a frente com Tiago Henrique não é novidade para o marido, Erinaldo Morais Souza Mesquita, de 37 anos, que acompanhou a busca pela solução do caso de Lilian até a prisão do assassino, hoje condenado a 25 anos de prisão por essa morte. No dia 12 de agosto de 2016, Tiago confessou o crime, acontecido no final da tarde de 3 de fevereiro de 2014 na esquina das ruas Formosa e Buriti Alegre, no Setor Cidade Jardim. Enquanto dizia ao juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva que ele era o assassino de Lilian Sissi, a revelação no Tribunal do Júri: “Tenho apenas dois desejos agora, que são amar ao Senhor sobre todas as coisas e ao próximo. Eu me submeto à Justiça”. A declaração do réu confesso, que teve a pena pela morte de Lilian reduzida de 26 para 25 anos de prisão, por ter confessado espontaneamente a autoria do crime, revoltou Erinaldo, que se levantou e disse “você destruiu a família e agora vem se mostrar bonzinho”. “Peço desculpas, pois antes não consegui me expressar. Refleti muito e me arrependo. No momento do fato, eu estava sem controle, eu não sou tudo isso. Eu não sou esse monstro que a mídia criou”, declarou Tiago no tribunal. Deus Evangélica da Igreja Assembleia de Deus Fogo Santo, Rosana lembra que surtou quando ouviu Tiago falar de Deus. Hoje, quando vê alguma notícia na TV sobre uma nova condenação do responsável pela morte da filha, revela que prefere desligar o aparelho e nem ver. “Isso aí para mim não tem significado nenhum. Quantos anos ele já levou? Vai ficar nessa até quando? Deveria pôr um ponto final nessa história logo.” A vontade da mãe de Lilian é que os casos que ainda não foram concluídos sejam julgados o quanto antes. “Para quem é das famílias e passou na pele por isso é muito doloroso. Eu estou na sala e aparece o Tiago, eu tinha que tirar meus netos da sala. Para que trazer tanto sofrimento para as famílias o tempo todo? A gente quer um pouco de paz”, reclama Rosana. A mãe de Lilia e Erinaldo precisaram, com ajuda de agentes das delegacias envolvidas na força-tarefa, ir atrás de imagens de câmeras de segurança para tentar encontrar pistas que ajudassem a solucionar o caso da filha. O marido de Rosana conta que tiveram dificuldades em algumas lojas, nas quais os comerciantes se negaram a liberar as imagens de vídeo do sistema de segurança. “Às vezes as pessoas julgam mal pela aparência. Muitas vezes meu esposo ia de bermuda, camiseta. Até o Tiago mesmo, é um rapaz bonito, com uma pele boa. Você não falaria que ele é um criminoso”, analisa a mãe de Lilian. Para Rosana, Tiago tinha o perfil de uma pessoa que poderia ir a um lugar 50 vezes, ir e voltar, que não levantaria suspeita em ninguém de que ele poderia ser capaz ou já teria cometido dezenas de assassinatos e outros crimes. Bilhete Durante o julgamento de Tiago pela morte de Lilian, o condenado entregou um bilhete ao marido de Rosana que trazia uma mensagem para a mãe da vítima. Em um papel branco escrito com tinta azul, o responsável pelo assassinato da filha dela escreveu a seguinte mensagem: “Estou intercedendo por todos e Cristo está vindo. Peço perdão. Tiago”. Rosana lembra da beleza e alegria da filha. “Ela morreu muito cedo.” O filho mais novo falava para Lilian que ele era o homem da vida dela. E era. Como lembra a avó de Carlos Eduardo, a filha de Rosana era quem cuidava do garoto, que faz tratamento de reposição de hormônio e sofre com problemas de saúde desde o nascimento prematuro de oito meses de gestação. A filha de Lilian, Ana Carolina, também teve um início complicado. Com peso de 1,3 quilo ao nascer, a menina ficou internada quase três meses e passava por transfusões de sangue. Nunca passou a vontade de um dia olhar para o responsável pela morte da filha e perguntar a ele o que aconteceu para levar Tiago a matar Lilian. “Eu me arrependo de não ter ido à DEIC (Delegacia Estadual de Investigações Criminais) no dia que ele foi preso.” Netos Depois da morte da filha, os netos ficaram com Rosana alguns meses. Mas após um tempo, eles voltaram a morar com o pai. A mãe de Lilian diz que sofre com a distância dos dois meninos da filha. Rosana e Erinaldo dizem que muita coisa mudou quando a força-tarefa foi iniciada em agosto de 2014. Os delegados Douglas Pedrosa, Deusny Aparecido Filho, Silvana Nunes Ferreira e Eduardo Prado são nomes citados pelo casal como pessoas na Polícia Civil, além de alguns agentes, que sempre se colocaram à disposição da família para solucionar o caso da morte de Lilian. Contato recente Um sonho recente da filha mais nova de Rosana pode ser encarado com um caso curioso e interessante. “Essa semana a minha filha teve um sonho muito visível com ela (Lilian). Ela falou que foi muito real. Disse que deitou para dormir e de repente viu a Lilian em uma loja e ela disse ‘oi, Caca, você aqui’. ‘Nossa, Lilian, eu estava com saudade demais de você.’ A minha filha, a Camila, abraçou-a e pegou no braço dela e pediu para a Lilian não ir embora. Ela disse que tinha que ir. Quando ela acordou, disse que viu um clarão, um clarão que atravessou a minha porta do quarto e a parede. E ela acordou com o braço dormente de tanto puxar porque ela falava para a Lilian não ir e ela falava que tinha que ir.” Cristã, Rosana acredita que a prisão de Tiago no dia 14 de agosto de 2014 pode ter sido de fato uma revelação divina à equipe que investigou os casos de mortes de mulheres naquele ano em Goiânia. Sobre a dor de tocar novamente no assunto do assassinato da Lilian, ela diz que a dor sempre vai e volta. “Eu nunca imaginei que a minha filha morreria antes de mim”, lamenta.

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