Opção cultural

“Existe um encantamento em tudo que Wigvan escreve, uma leveza que faz flutuar até coisas densas. Mas não pense que é por magia, é que Wigvan é poesia”, Rosana Hermann

Vellasco figura entre os mais preparados parlamentares com atuação no Congresso. Era “homem de notável cultura geral, talvez o mais capacitado de Goiás”

O compositor Paulo Costa Lima diz que “a obra de Guicheney pode ser tomada como fresta para esse grande tema da relação entre a invenção e suas referências”

Fui repórter: onde estava o fervilhar do fato, eu me fazia munido de um pequeno bloco de papel e de caneta, buscando a notícia até mesmo dentro de hospícios e cabarés

Por Jacir Venturi*

Em 1832, Évariste Galois, atualmente reconhecido como um dos mais criativos matemáticos, envolveu-se perdidamente com a noiva de um atirador de pistola, bom de gatilho, que o desafiou a um duelo no raiar do dia seguinte, nas cercanias de Paris. Sabedor de que suas chances de sobrevida seriam diminutas, Galois passou a noite escrevendo cerca de 60 páginas de novas teorias matemáticas. Antes do amanhecer, o nosso incauto matemático escolheu uma de suas pistolas, dirigiu-se ao local adrede combinado. Seguindo o ritual da época, os dois oponentes distanciaram-se 25m e, ao se virarem, Galois recebeu o balaço fatal. Em nome da honra, uma grande perda para a ciência, pois Galois tinha apenas 20 anos de idade.
Semelhantemente, outro relato histórico é de um ateniense que foi até o chefe persa oferecendo a própria vida para pedir clemência a seus compatriotas presos. Quando quiseram forçá-lo a ajoelhar-se diante do chefe sátrapa, repeliu com altivez: "vim dar minha vida, não minha honra".
Se no passado já fora relativamente comum, aceito e a até valorizado o sacrifício extremo pela honra, homens e mulheres – palestrou Luc Ferry, filósofo francês e autor de obras bem vendidas – também deixaram muitas vezes a família em segundo plano, para arriscarem suas vidas por uma das três grandes causas: Deus, pátria ou ideologia.
Todavia, gigantescas transformações aconteceram, especialmente nos últimos 50 anos, e não apenas em relação às tecnologias, mas também aos costumes. Se de um lado o modelo tradicional e hierárquico – pai, mãe e filhos, correspondendo a 61% dos lares segundo o último Censo do IBGE em 2010 – é apenas uma das alternativas de construção familiar, mais do que nunca se valorizam os vínculos afetivos entre as pessoas que coabitam. Em uma palestra em Curitiba, Ferry foi enfático: "A família é a única entidade realmente sagrada na sociedade moderna, aquela pela qual todos nós aceitaríamos morrer, se preciso".
A família, em sua concepção contemporânea, continua sendo a base da ordem social e, segundo pesquisas internacionais, é o principal ingrediente de felicidade quando se confronta com poder, dinheiro, fama, política, ideologias, religião e honra. E vale o oposto, pois nada mais infelicita o ser humano do que pertencer a uma família desestruturada e uma convivência desarmoniosa ou conflituosa. Na vida, algumas negligências são até admissíveis, menos em relação à família, cujas consequências são, por vezes, irreparáveis. A vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida familiar equilibrada.
Em qualquer uma de suas configurações, à família é indispensável a presença do vínculo afetivo, da cooperação, do respeito, da solidariedade e de uma escala de valores compartilhada. Coabitar, morar juntos, é viver de fases de êxtases, alegrias, mas também de frustrações. Discordâncias são até salutares, mas uma relação familiar só será vitoriosa na medida do diálogo, da tolerância, das concessões mútuas. As maiores destruidoras de afetos em uma família são a indiferença e a falta de diálogo.Em uma de suas homilias de Páscoa, o Papa Francisco bem se manifesta ao discorrer que não existe família perfeita, mas sim um grupo de pessoas cheias de defeitos, e complementa: "sem o perdão, a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. O perdão é vital para a nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Nós não nascemos onde merecemos, mas onde necessitamos evoluir". Para Platão, a grandeza do ser humano está na virtude – aretê, em grego – e, como recompensa, é a prática das virtudes que propicia a felicidade genuína.
*Jacir J. Venturi é professor e diretor de escolas públicas e privadas por 50 anos, é pai de 3 filhos e avô de 3 netos, membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná e Cidadão Honorário de Curitiba.

O filme, gravado na casa da família do diretor, no Setor Sudoeste, em Goiânia, tem narrativa não-linear, com brigas, fantasmas e uma raiz que é desenterrada e enterrada novamente

Obra do escritor irlandês Brian Moore, “A Mulher do Mágico” apresenta um mergulho do autor no romance histórico com críticas ao colonialismo europeu do século 19

Eis o poeta das causas possíveis. Mostra que, independentemente da língua e da formação, o homem é sempre o mesmo em todos os quadrantes do planeta
João Carlos Taveira
Especial para o Jornal Opção
[caption id="attachment_263566" align="aligncenter" width="500"] Ático Vilas-Boas da Mota: professor, tradutor, filólogo, linguista, ensaísta, dicionarista, folclorista e poeta | Foto: Reprodução[/caption]
Em todas as artes podem ser encontradas com certa facilidade duas vertentes categóricas: a de jovens gênios que, numa idade mais avançada, se apagam completamente para a criação, e a de artistas maduros que ignoram o passar do tempo e continuam criando obras de grande vigor estético — talvez até mais transgressoras do que aquelas do tempo de juventude. Os exemplos são muitos. E em todos os segmentos. A título de ilustração, tome-se como exemplo apenas um nome da história da música: Giuseppe Verdi, o gênio da ópera italiana que viveu 88 anos e construiu uma das obras mais altas e coerentes de que se tem notícia, produzindo verdadeiras filigranas da música lírica até o fim de sua vida.
Essas abstrações me vêm à mente a propósito de um fato e de um nome singular no campo da literatura brasileira: Ático Vilas-Boas da Mota (1928-2016), professor, tradutor, filólogo, linguista, ensaísta, dicionarista, folclorista e poeta dos mais sérios, que tive a honra de conhecer em Brasília, na década de 1980, e o privilégio de poder privar de sua amizade fraterna em mais de trinta anos de convivência. Pois bem, esse homem culto e cordial, já na casa dos 80 anos, continuava escrevendo e publicando com o mesmo ímpeto dos primeiros tempos. Aliás, em alguns casos, até com mais ousadia e coragem.
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Ático Vilas-Boas da Mota: reconhecimento na Romênia | Foto: Reprodução[/caption]
Depois de suas passagens por universidades brasileiras (foi um dos fundadores da Universidade Federal de Goiás, em que desenvolveu praticamente todas as suas atividades literárias e científicas) e pela Universidade de Bucareste, na Romênia, tendo residido nas capitais de alguns dos principais Estados brasileiros, este baiano de Macaúbas resolveu voltar às origens e fixar-se de vez no oeste da Bahia, mais precisamente na Chapada Diamantina Meridional, na bacia do Rio São Francisco. E ali, no aconchego do solar da família, ao lado de dona Alzira, de parentes, de fiéis assistentes e de muitos amigos, Ático Vilas-Boas viveu entre livros, discos, fitas, quadros, objetos de arte, arquivos e documentos raros da cultura brasileira, dando vazão às inquietações pessoais na criação de obras cada vez mais sérias e indispensáveis à compreensão da nossa brasilidade. E ali viveu também seus últimos dias, pois sua trajetória luminosa teve fim em 26 de março de 2016, quando contava 87 anos de vida.
O professor Ático, como foi conhecido d’aquém e d’além mar, também dirigiu com mão firme a Fundação Cultural Professor Mota, criada há mais de 40 anos para resgatar e perpetuar as ideias e iniciativas de seu pai em Macaúbas, cidade que tem sido um baluarte da baianidade e centro de apoio para diversos pesquisadores nacionais e estrangeiros. A fundação abriga biblioteca, galeria de arte, salas de pesquisas, arquivos de referência e museu.
Em 2011, o governo da Romênia, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados àquele país de língua latina pelo autor do livro “Brasil-Romênia — Pontes Culturais”, concedeu ao intelectual Ático Vilas-Boas uma alta condecoração: Ordem Nacional Romena “Serviço dedicado” em grau de comendador, que lhe foi entregue na Embaixada da Romênia em Brasília, em cerimônia presidida pelo embaixador Mihai Zamfir, com a presença do editor Victor Alegria, de quatro embaixadores, diversos representantes diplomáticos, jornalistas, professores universitários, escritores e artistas de várias outras áreas.
Pois bem. Hoje, o que motiva estas linhas acerca do autor de “Alpondras: Travessia de Bucareste” e “Ciganos” é outro livro de poesia: “Romênia, Poemário Telúrico”, edição bilíngue português/romeno, de 2010, na tradução primorosa de Micaela Ghitescu, talvez a maior especialista na língua e na cultura brasileiras e portuguesas, que assina também o prefácio “Pontes entre dois mundos”. Os poemas da coleção, todos de temática romena, descrevem lugares, paisagens e locais muito caros a Ático Vilas-Boas, que, além de ter sido “o mais romeno dos brasileiros”, conheceu bem não só a geografia do país amigo, como também os modos de ser, de ver e de sentir de sua gente. Foi um “expert” nas culturas que contribuíram para a formação daquele povo. E que, mesmo antes da chegada dos romanos, são tantas e das mais variadas etnias.
“Romênia, Poemário Telúrico” enfeixa criações as mais diversas dentro de um universo irrestrito: o olhar de sabedoria de um homem cuja espiritualidade transcendeu fronteiras físicas e culturais entre os povos. E esse olhar magnânimo percorre, no dizer de Antônio Olinto, ruas estreitas e largas avenidas com o mesmo desvelo e a mesma ternura com que vagueia pelas veredas da terra natal. É, em suma, um documento valiosíssimo de um livre-pensador que teve o coração tão grande quanto o gênio. Ático Vilas-Boas, neste livro precioso, mostra que é o poeta das causas possíveis. Mostra que, independentemente da língua, dos costumes e da formação social e política, o homem é sempre o mesmo em todos os quadrantes do planeta. A única diferença perceptível fica por conta do grau de evolução espiritual a que teve acesso e que varia de acordo com as possibilidades do meio em que está inserido. E esta lição de humanismo se circunscreve — “ad infinitum” — em cada poema do presente volume. Senão, vejamos na versão original:
Hospício
Visitando o Hospital n.º 9, de Bucareste Os sonhos dos loucos são pássaros assustados. Ninguém achará os seus rastros nem o bater de suas asas. Os sonhos dos loucos não são de ouro, nem sequer de prata: ferrugem que assusta, fuligem que sufoca e mata. Os sonhos dos loucos são a sombra da saliva e o cheiro dos remédios que não curam, mas insistem. Os sonhos dos loucos são os passos na calçada, cartas sem endereços, jornada sem retorno, gesto pela metade. Por isso mesmo, agora, no giz desta parede torta, todas as palavras foram ceifadas pela guilhotina da indiferença. Nos mostradores dos relógios dormem sorrisos postergados, visitas que nunca chegam, respostas de fantasmas. Sonho é sonho, neste delírio de navalhas. Os loucos moram neste mundo carregado de feridas abertas, em todos os lados, sem depois, sem amanhã, sem aviso prévio, sem recado, sem o anúncio da felicidade nem de sua chegada. Só o abraço de urtigas, pesadelo que nunca se desfaz…” Após a leitura desse poema, a vontade que se tem é de transcrever outros e mais outros. Mas a tentação é contida. Afinal, os espaços de publicação estão cada vez mais exíguos e não permitem veleidades nem excessos por parte de ninguém. Dito isso, voltemos ao livro e seu conteúdo concentrado. A presente edição de “Romênia: Poemário Telúrico” saiu em Bucareste, em 2010, pela Editura Fundatiei Culturale Memoria e traz na quarta-capa uma curiosidade: a Baía de Guanabara, sobreposta a um ramo amarelo em que um beija-flor passeia sua majestosa mestria de voo, é contemplada pelo olhar sempiterno do Cristo Redentor do alto do Corcovado. Mas por que o Cristo Redentor na capa de um livro traduzido para o romeno? É que a cabeça do Cristo foi esculpida por um romeno chamado Gheorghe Leonida (1892-1942), que trabalhou no atelier do escultor francês de origem polonesa Paul Landowski (1875-1961), responsável pela execução do trabalho que foi doado ao Brasil pelo governo da França. O monumento foi inaugurado em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida e fica no bairro de Santa Teresa. Essas informações preciosas de Ático Vilas-Boas encontram-se, entre outras, no já citado livro “Brasil-Romênia — Pontes Culturais”, publicado pela Thesaurus Editora também em 2010 e cuja segunda edição, revista e ampliada, continua na dependência da vontade de familiares e principalmente do editor.
Pequena biografia de Ático Vilas-Boas da Mota
Ático Frota Vilas-Boas da Mota é o nome de batismo do escritor, folclorista, historiador, tradutor e professor universitário (aposentado em 20 de maio de 1991, por tempo de serviço), falecido em 26/03/2016 na cidade de Macaúbas. Nasceu em Livramento de Nossa Senhora (Bahia), em 11 de outubro de 1928, mas radicou-se muito cedo em Macaúbas (Bahia), terra hospitaleira que sempre considerou “o doce país da minha infância”, ou seja, o seu amor paralelo. Fez o curso primário no Grupo Escolar Cônego Firmino Soares e o curso secundário no Liceu Salesiano de Salvador, Estado da Bahia. Viveu muitos anos em Goiás, terra de seus antepassados maternos. Foi diplomado em letras neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1957) e concluiu vários cursos de extensão e de especialização na Argentina e na Europa. Doutorou-se em Filologia Românica pela Universidade de São Paulo (1972) com a tese: “Formas de Tratamento em Português e Romeno”. Participou do corpo diplomático extraordinário, na qualidade de assessor cultural, quando do reatamento de nossas relações diplomáticas com o Leste Europeu (Missão João Dantas — 1961). Iniciou a sua carreira universitária como professor assistente de letras hispano-americana, a convite do titular o saudoso professor Mario Camarinha da Silva, da Universidade Católica de Petrópolis-RJ. Dirigiu o departamento de Educação e Cultura da Universidade Federal de Goiás quando realizou, entre várias promoções culturais, a Primeira Exposição Internacional do Livro em Goiás (1963/1964). Foi professor fundador e vice-diretor da então Faculdade de Filosofia da UFG, e criador e elaborador do primeiro Plano Estadual de Cultura de Goiás (1972 — Secretaria de Educação e Cultura de Goiás), que mereceu diversos elogios da Unesco (Paris). Pertenceu a várias instituições culturais e científicas do Exterior e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (2005/RJ). Também foi Membro da Sociedade Brasileira de Geografia (1983/RJ), da Academia de Letras de Brasília (DF), e Membro Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (ES), da Academia Belavistense de Letras, Artes e Ciências (GO), entre outras. Recentemente foi eleito membro da Academia de Letras do Brasil (Brasília-DF), cadeira 10, patrono Manuel Bandeira, na qual não teve tempo de tomar posse. Ex-professor-Associado da Universidade de Bucareste (Romênia — 1999/2000) e ex-pró-reitor da Universidade Internacional de Bucareste (2000). Premiado no Concurso Nacional de Contos (Paraná), possui dezesseis livros publicados nas áreas do ensaio, do folclore, da tradução, da medicina popular em Goiás, do conto e da poesia. Alguns dos livros de Ático Vilas-Boas da Mota: “Brasil e Romênia: Pontes Culturais”, “Queimação de Judas”, “Ciganos: Antologia de Ensaios”, “Uma Noite Tempestuosa: Comédia em Dois Atos”, “Alpondras: Travessia de Bucareste”, “Romênia: Poemário Telúrico”, entre outros. (Fontes: Google e Antônio Miranda)
Por Douglas Henrique Antunes Lopes*

No dia 19 de junho, comemoramos o Dia do Cinema Brasileiro, por ocasião das primeiras imagens capturadas por cinematógrafo no Brasil, na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, pelo italiano Afonso Segreto. De lá para cá, a história do cinema nacional parece uma montanha russa, com mais descidas do que subidas. No ano de 2020 então, não há muitos motivos para festejar, dada a pandemia de coronavírus que estrangula vários mercados e não deixa o audiovisual fora dessa condição.
Nesse sentido, não pretendemos fazer uma defesa pelo retorno da produção, dado o risco que profissionais possam correr, mas é importante considerar alguns aspectos do cinema nacional.
O primeiro deles diz respeito ao papel das políticas públicas para estimular e manter esse mercado, pois nossa livre iniciativa não pode ser nem comparada à economia movimentada em Hollywood. Quer um exemplo? Enquanto o Bacurau de Kleber Mendonça Filho contou com o orçamento de R$ 7,7 milhões; Vingadores: Ultimato, dirigido por Joe Russo e Anthony Russo, contou com US$ 356 milhões. Considerando as diferenças das propostas e dos produtos finais, podemos verificar que as equipes brasileiras conseguem fazer muito com pouco, pois nunca puderam contar com grandes orçamentos.
Na primeira metade do século XX, houveram leis de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais em todas as salas de cinema do país, o que ajudou a aquecer este mercado. Na década de 1960, os cinemanovistas, como Glauber Rocha e Anselmo Duarte, distribuíam seus filmes por meio dos cineclubes, de modo que uma produção remunerava a outra, sem finalidade lucrativa, e para isto, criaram a Dinafilmes. Em 1969, o Governo Militar criou a Embrafilme, com propósito de divulgação da cultura nacional, mas com ela veio a censura, de modo que uma parte considerável da produção fílmica nacional foi de pornochanchadas ou filmes sem grande expressão técnica. Com o declínio da censura ao longo da década de 1980, a empresa produz seus melhores títulos, um deles é o longa intitulado Eles Não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman. Essa onda duraria pouco, principalmente pela restrição de investimentos, dadas as frequentes crises econômicas enfrentadas pelo país naquela época. Em 1990 Collor sepulta a Embrafilme, de modo que as coisas ficariam melhores somente em 1993, com a criação da Lei do Audiovisual.
Carlota Joaquina, a princesa do Brasil (1995), de Carla Camurati, é considerada a primeira produção da época da retomada e não poderíamos deixar de mencionar a nossa célebre Central do Brasil (1998), dirigida por Walter Salles, conquistando vários prêmios internacionais e chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira.
Em 2001 testemunhamos a criação da Ancine, de forma que a empresa resultou em grandes produções, como Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, e Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert.
A Ancine agoniza, com esvaziamento orçamentário desde 2016 e diminuição de editais de estímulo à produção audiovisual. Além das dificuldades de haverem novas produções, a nossa memória cinematográfica também está ameaçada com a crise da Cinemateca Brasileira, inaugurada em 1940, tendo como figura central nosso maior historiador do cinema brasileiro, Paulo Emílio Salles Gomes. Desde então, a cinemateca promove eventos de formação, publicações e tem um papel essencial na preservação e restauração de arquivos de filmes nacionais.
Além disso, de acordo com a Folha de São Paulo, quase 600 salas de cinema estão fechadas nesse contexto de pandemia, pois os locais são ambientes de alto risco para propagação do coronavírus. No entanto, a Covid-19 fez ressuscitar uma forma de exibição esquecida, os cinemas em “drive-in”, onde o público pode assistir os filmes dentro dos seus carros. A maioria das capitais brasileiras já contam com esse tipo de serviço, apesar disso, não há consenso médico sobre a segurança do público neste tipo de ambiente.
Diante deste contexto, quem está na “crista da onda” são os serviços de streaming, que já estavam crescendo nos últimos anos, mas ganharam uma alavancada maior ainda em razão das medidas de distanciamento social. Um relatório da Conviva, indica que o crescimento do consumo de serviços de streaming teve um aumento de 20% no mês de março. O que, na falta de políticas públicas, não é negativo. Ao pensarmos nas produções nacionais, somente a Netflix planejou um investimento de R$ 350 milhões no mercado nacional entre 2019 e 2020, gerando pelo menos 40 mil empregos diretos, conforme indica a reportagem da Revista Exame, pois as produções brasileiras têm sido um sucesso.
O que nós, os espectadores, podemos fazer neste momento de isolamento é aproveitar as plataformas públicas, como o Banco de Conteúdos Culturais (http://www.bcc.gov.br/) da Cinemateca Brasileira ou o Portacurtas (http://portacurtas.org.br/), e privados, como a Netflix e o Telecineplay, de modo que o consumo implica em maiores investimentos nas produções brasileiras em diversas modalidades.
*Douglas Henrique Antunes Lopes é professor de Filosofia e tutor da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.

Por Florinda Cerdeira Pimentel*

“Olha o Corona Vírus! É verdade!”
Este ano, devido à pandemia, muitas coisas em nossa rotina ficaram diferentes: nosso jeito de trabalhar, estudar, comprar, comemorar as datas que para nós são importantes e enfim, chegamos ao mês de junho e o que muita gente temia aconteceu, chegaram as festas juninas e o coronavírus ainda está aí.
Mas e agora, o que fazer, cancelamos nossas festas? Deixamos de lado a nossa tradicional festa junina?
De jeito nenhum! Brasileiro que é brasileiro tem jeito para tudo.
Que tal buscarmos alternativas para celebrar com alegria as nossas tradições que estão fortemente enraizadas à nossa cultura popular?
Vamos então nos vestir de alegria, com cores, tranças e chapéu de palha, vamos dançar um forró, uma quadrilha, um arrasta pé, um xote, não sei, o ritmo você escolhe, mas cada um na sua casa, quem tem par que pegue o seu, quem não tem, se apegue a Santo Antônio, quem sabe ano que vem?
Vamos encher a casa com aromas de festa? Pipoca, quentão, cachorro quente, canjica e bolo de fubá, não precisa muita coisa, o importante é partilhar, dizem que cozinhar é um ato de amor, então cozinhe com sua família, faça um bolo com suas crianças, divirta-se.
Aproveite a alegria, junte toda a família e convide a criançada, vamos cortar bandeirinhas de todas as cores e pendurar nas janelas, sacadas e mostrar para a vizinhança que na sua casa a tradição não morreu.
Solte o som, arraste o sofá, cores, cheiros e muita alegria, sua festa junina será positivamente inesquecível.
E que tal as brincadeiras?
Separe algumas guloseimas ou pequenas surpresinhas fáceis de encontrar (não vale fazer aglomeração no mercado) e brinque de pescaria, tiro ao alvo, boca de palhaço e outros jogos tradicionais que possam divertir as crianças.
A sala da sua casa ou o seu quintal podem se transformar em arraiá e no final, você pode combinar com seus amigos e familiares distantes, uma reunião por uma plataforma on line para colocar o papo em dia e matar um pouco da saudade.
Então, mãos à obra!
O coronavírus pode ter transformado nosso jeito de festejar, mas nós podemos tirar proveito da situação e provar que somos capazes de driblar a tristeza e trazer para nossa família um pouco de alegria em tempos difíceis, pedindo à São João que esta pandemia vá embora logo e tomando todos os cuidados necessários para que ninguém venha a conhecer São Pedro antes da hora.
Viva Santo Antônio! Viva São João! Viva São Pedro!
*Florinda Cerdeira Pimentel dá aulas de Linguagens Cultural e Corporal; e é professora do Curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Internacional Uninter.

A nostalgia da infância é o centro da pulsão poética de Salomão Sousa, como se pode comprovar em qualquer um dos poemas reunidos em “Descolagem”

A pesquisa exaustiva de Lena Castello Branco resultou numa obra maiúscula. Sua importância extrapola as fronteiras goianas, é um clássico da historiografia brasileira

Aos 78 anos, depois de competir com Roberto Carlos, para o qual compôs, o cantor vai lançar uma música na sexta-feira
Juscelino Goulart de Oliveira
Especial para o Jornal Opção
Comenta-se que, quando o cantor Benito di Paula ia dar um show, seu cabelo chegava primeiro, ainda que por um beicinho de pulga. O cabelo era quase tão famoso quanto o artista. Era seu símbolo e, até, cartão de visita. Pois é: por causa da Covid-19, o homem que encantou multidões, e já foi uma das vozes mais ouvidas no rádio brasileiro, decidiu cortar a cabeleira. Cortar, não; raspar. Ele está carequinha. De quebra, arrancou até o cavanhaque e o bigode. Mas o talento ficou? Parece que sim.
[caption id="attachment_261835" align="aligncenter" width="448"] Benito di Paula em dois tempos: com o cabelão e, agora, carequinha | Foto: Reprodução[/caption]
Benito di Paula tem 78 anos, mas com corpinho de 52 anos. O autor de “Retratos de cetim” garante que, sem o cabelão e a barba, é mais fácil escapar da Covid-19, que, igual fã ardoroso, está tentando agarrar todo mundo. O ex-campeão de vendas de discos adverte, porém, que, embora careca, não se tornará o Sansão do samba brasileiro. Na sexta-feira, 19, ele vai lançar, com o filho, o cantor Rodrigo Vellozo, a música “Lágrimas do meu sorriso”.
Você sabe quem é Uday Vellozzo? Não? Nem eu sabia, até consultar a Wikipédia. Pois está lá: Uday é, sim, Benito di Paula. Este é o nome artístico, o outro é o de batismo. Benito di Paula é cantor, compositor e pianista. E, saiba, escritor.
https://www.youtube.com/watch?v=gDXfBEfdJbU
Compôs música para Roberto Carlos e foi interpretado por Luiz Gonzaga
Veja abaixo o que a Wikipédia acrescenta sobre o grande Benito di Paula “Uday Vellozzo obteve fama nacional como Benito di Paula”, tornando-se “um dos grandes nomes da canção brasileiro dos anos 70. Foi crooner de boates do Rio de Janeiro, e depois continuou tocando na noite paulistana”, ainda “muito jovem ainda. Iniciou carreira pela gravadora Copacabana no início dos anos 70. O seu estilo musical é conhecido como ‘samba-joia’, ao combinar o samba tradicional com piano e arranjos românticos e jazzísticos. Porém” o rótulo “ samba-joia não agradou Benito, que nunca deixou de citar isto como um termo pejorativo, já que o mesmo se identifica como sendo do gênero Samba. Em 1977 lançou uma música no seu disco ‘Benito di Paula’ intitulada de ‘Osso duro de Roer’ onde dizia que não iria mudar o seu estilo único de fazer Samba. O seu primeiro disco ‘Benito Di Paula’ de 1971 foi censurado por trazer a música ‘Apesar de Você’, de Chico Buarque.

Debate sobre o assassinato do americano George Floyd pode ser ampliado a partir do entendimento de como funciona a sociedade de classes

Educadores, uni-vos pela defesa de um projeto civilizatório!!! Ou bye bye Brasil.