Por Italo Wolff

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Todos escrevem ao Presidente

*Juremir Machado Da Silva

No dia 3 de abril de 1964, quando o golpe militar se deu consumado na missão de derrubar João Goulart da presidência, um homem chamado Wamba Guimarães parte de Brasília com duas malas. Era o então oficial de gabinete da Presidência da República. Wamba viajaria a até o interior de São Paulo para cumprir a última missão dada a ele quando tudo se perdeu: ser o guardião da correspondência endereçada a Jango sob a forma de cartas, telegramas, relatórios, informes, cartões de Natal, de aniversário, de Ano-novo e outras congratulações. Missão essa cumprida com fiel rigor até a ocasião de sua morte, em 2003. É Wamba o guardião da memória que menciona o título do novo livro do jornalista Juremir Machado, “A memória e o guardião” (Editora Civilização Brasileira). E são as correspondências que carregara nas malas que formam a memória sobre a qual esta obra se debruça e apresenta em uma narrativa envolvente, que visita um decisivo recorte histórico brasileiro e nos apresenta a um universo heterogêneo e vasto, apesar de íntimo.

“A Memória e o Guardião” não é simplesmente uma coleção epistolar de João Goulart enquanto presidente, pré-golpe, mas retrata uma cultura política personalista no Brasil, uma rotina que alimentava uma engrenagem burocrática, onde todas as decisões passavam pelo presidente, desde as nomeações de cargos mais básicos, do baixo escalão, aos importantes postos em estatais, ministérios e embaixadas brasileiras, trazendo à luz também nomeações distribuídas até mesmo a adversários como parte da arquitetura de uma base governista e de manutenção de aliados. Uma política clientelista também é revelada pelas correspondências, sabidamente não uma exclusividade deste governo, mas apresentadas agora por um registro literário de como ocorriam os mais variados e inusitados pedidos à figura do Presidente da República, como os pedidos por um “cavalo preto”, ou mesmo o esperançoso pedido de uma moça que gostaria que lhe custeassem uma cirurgia nos lábios.

Estão nas correspondências desde os anônimos brasileiros que pediam ajuda para completar a renda mensal, jantares com o presidente, por quem se diziam apaixonados e ávidos pela oportunidade de conhecê-lo pessoalmente até nomes como Juscelino Kubitschek e Magalhães Pinto pedindo e agradecendo a concessão de empréstimos pela Caixa Econômica para compra da casa própria a amigos e outros favores presidenciais. Dentre os notáveis, é expoente o nome da estrela de Hollywood, Janet Leigh. Em estrondoso sucesso com o filme “Psicose”, Janet esteve no Brasil e gozou do empréstimo de um avião da frota de João Goulart, escrevendo-lhe, depois, uma carta em agradecimento pela gentileza, utilizando papel timbrado do hotel Copacabana Palace, um local iconográfico também pelas celebridades que hospedava.

Para organizar as tramas desta intricada rede de interesses, Juremir Machado valeu-se do tesouro de Wamba, revelado ao jornalista por seu neto. Foram documentados 917 itens, como cartas, telegramas, relatórios, informes, cartões de Natal, de aniversário, de Ano-novo, entre outras congratulações, que somam mais de 2 mil páginas de documentos. No material pesquisado por Juremir, é possível fazer leituras precisas sobre o período que antecedeu os eventos de 1964, quando foi deposto e teve que fugir do país. Os documentos revelam como o golpe que depôs Jango da presidência da República em 1964 foi sendo tecido durante seu mandato. O livro apresenta cartas que revelam, por exemplo, como traidores de Jango se portaram durante seu governo. Por meio desta pesquisa, reconstrói-se este complexo contexto do governo de Jango, ao passo que descortina os bastidores do poder e da elite no Brasil. Suprapartidários e sem restrição de classes sociais, os documentos escritos por cidadãos comuns e autoridades brasileiras e internacionais mostram a política baseada no patrimonialismo, no cartorialismo e no coronelismo.

AO PRESIDENTE

De anônimos a celebridades internacionais, a correspondência de Jango estava recheada de variados nomes e pedidos, alguns um tanto quanto

  De     Para João Goulart
  Ione Teixeira, de Belo Horizonte     Autodesignada “a louca por cavalos”, Ione apresentou a sua demanda em versos de rimas equestres: “(...) Sempre quis um cavalo / E só consigo no sonho / Por isto peço e imploro / A vós Presidente Jangolar / Para meu sonho realizar (...) Com a vossa permissão / Mais umas palavras vou dar / Para V. Excia mandar / Se não muito incômodo, Uma resposta me dar”  
  Geralda, do Rio de Janeiro   A pequena Geralda, 14 anos, pedia ao presidente uma plástica nos lábios. “Eles não são lábios, mas sim beiços.” A moça dizia ter nariz chato e enviava também a figura de uma bela boca sendo pintada com um batom vermelho. Terminava com uma observação divertida: “Lembre-se que o sonho de toda moça é pintar os lábios na idade devida.”
    Auxiliadora Zuazo, de Manaus, 10/09/1962       Auxiliadora conta a Jango que gostaria de “ser jornalista e viajar muito”. Há já uma viagem em vista, mas ela não tem recursos: “Será que o senhor não pode bancar a fada encantada para mim? Você é tão poderoso, chefe de uma nação, possui um bom coração, vamos, ajude-me, sim.” A menina enfatiza: com um sim ela poderá ser considerada “a mais feliz do globo”. Aceita ir em terceira classe. Garante que as experiências de viagem lhe servirão como assuntos para os seus romances e para a sua formação  
  Juscelino Kubistchek, 4/11/1963     J.K costumava interceder por municípios e a amigos, mirando as eleições 1965 (que nunca chegaram). Neste telegrama, agradece um empréstimo a um terceiro. “Agradeço eminente amigo autorização dada pedido Delamare de Abreu empréstimo cx Econômica São Paulo aquisição casa própria.” Delamare de Abreu ficou famoso como o segundo a usar o nome de Ranchinho, integrante da dupla sertaneja de sucesso Alvarenga & Ranchinho. Um simples favor de admirador?
  Janet Leigh, do Rio de Janeiro, 13/11/1961   A estrela de Hollywood, famosa por ter estrelado “Psicose”, também escreveu ao presidente. Para agradecer... O empréstimo de uma avião! “Meus amigos e eu desejamos expressar nossos agradecimentos pela sua bondade conosco em Brasília. O uso do seu avião foi muito útil e estamos profundamente em dívida pela sua consideração”, escreveu Janet em um papel timbrado do Copacabana Palace, onde esteve hospedada com seu marido, o ator Tony Curts.

*Sobre o autor

Juremir Machado Da Silva (Santana do Livramento/RS, 1962) é escritor, tradutor, jornalista e professor universitário. Graduado em história e em jornalismo pela PUCRS, fez doutorado e pós-doutorado em sociologia na Université Paris V – Sorbonne. Publicou mais de trinta livros, entre ficção, ensaio e tradução. Entre as diversas distinções recebidas constam a condecoração como Chevalier de l’Ordre des Palmes Académiques, pelo governo francês, em 2008; o Prêmio da Bienal do Livro de Brasília, em 2014, por Jango, a vida e a morte no exílio;  o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 2018, por Raízes do conservadorismo no Brasil, seu primeiro livro pela Civilização Brasileira; e, em 2019, a Medalha do Mérito Farroupilha, maior distinção concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Pandemia pode deixar legado para a Saúde de Goiás

Enquanto a rede de saúde dos primeiros Estados começa a colapsar, Goiás tenta ampliar sua capacidade de atendimento

Instituições goianas de ensino superior combatem o coronavírus com ciência

Para enfrentar a pandemia, universidades e institutos federais se afastam do cotidiano de pesquisa e aplicam o conhecimento na prática [caption id="attachment_248807" align="alignnone" width="620"] Voluntárias produzem equipamentos de proteção individual | Foto: Reprodução / Secom / UFG[/caption] Todos os setores da sociedade se mobilizaram para combater a pandemia do novo coronavírus. Entretanto, um se destaca pela capacidade de resolver problemas que nenhum outro pode. As instituições de ensino superior (IES) são detentoras do conhecimento científico e podem dar respostas a questões urgentes, como a falta de testes para diagnosticar a Covid-19 conforme mostrado em reportagem do Jornal Opção; a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs); a saída programada e segura da quarentena; e tantos outros. Como afirmou o cientista Gustavo Pedrino, diretor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), o conhecimento científico brasileiro, que está concentrado nas universidades, foi de lenta construção. Ele é um bem imaterial adquirido com o esforço de toda a sociedade que mostra seu valor em momentos como este, em que nos deparamos com o desconhecido. Apenas o sequenciamento genético do Sars-CoV-2 pode revelar suas mutações e nos fazer compreender o inimigo, por exemplo. Apesar de ser a única saída possível, o conhecimento vem sofrendo com sucessivos cortes, que colocam tudo a perder: a mão de obra extremamente especializada de PhD’s; os equipamentos caríssimos adquiridos com dinheiro público; o conhecimento em si, que é público e universal. Os cientistas entrevistados compartilham o sentimento de “querer mostrar trabalho” e justificar o investimento da sociedade em suas carreiras, que parecem arcanas aos olhos leigos, mas que têm uma aplicação muito real.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG)

Um grupo de pesquisadores do Câmpus Senador Canedo do Instituto Federal de Goiás (IFG) está utilizando impressoras 3D para imprimir utensílios médicos que podem faltar no combate à Covid-19. Existem protótipos dos protetores plásticos faciais, da máscara N95 e de válvulas para respiradores mecânicos. Os cientistas querem produzir 1,5 mil face shields em quatro meses e doá-las a profissionais da saúde de Senador Canedo e estão em busca de parceiros para custear insumos e distribuição da produção. [caption id="attachment_248808" align="alignnone" width="350"] Válvulas produzidas pela impressora 3D | Foto: Reprodução / Comunicação / IFG[/caption] Dez servidores do IFG utilizam os laboratórios da área de Química do câmpus Goiânia produzem álcool etílico em gel 70% INPM, com objetivo de doar a produção para profissionais da rede pública municipal de saúde de Goiânia. O grupo começou a produção de álcool em gel 70% no dia 23 de março e, até o dia 14 de abril, havia fabricado 230 litros – 1.150 frascos – doados para profissionais da rede pública de saúde. A proposta do grupo é desenvolver semanalmente cerca de 100 frascos até o final do mês de junho. Em outros campi do IFG, como Câmpus Luziânia e Anápolis, grupos têm iniciativa semelhante. Seis mil frascos de 500 ml com borrifador foram doados pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Anápolis (CDL) para envase da produção de álcool em gel e álcool 70%, fabricadas por que equipes dos laboratórios de Química do IFG Anápolis. Em Luziânia, semanalmente, 200 frascos de 500 ml são distribuídos a bairros com alta vulnerabilidade do município. [caption id="attachment_248809" align="alignnone" width="620"] Alguns dos servidores que integram o projeto Ghesley Xavier, Joema Santos, Marcus Vinicius Ramos, Regina Célia Marinho e Martha Prado | Foto: Reprodução / Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia do IFG[/caption] No Câmpus Uruaçu, o grupo Meninas Cientistas e Grupo de Robótica Educacional do IFG desenvolveu canal do aplicativo WhatsApp, "Em casa sem Fake". Trata-se de um chatbot - sistema que responde automaticamente às perguntas do usuário - com que se pode interagir por meio do aplicativo de mensagens para obter informações oficiais sobre o novo coronavírus.  Os dados são coletados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS). [caption id="attachment_248810" align="alignleft" width="300"] Aplicativo "Em Casa Sem Fake"[/caption] Para acessar as informações, que são atualizadas diariamente e submetidas à avaliação do Setor de Saúde do Câmpus Uruaçu, é só enviar um "Oi" para o número 62 33578150, no Whatsapp. O usuário poderá consultar os últimos números, dicas de proteção, tirar dúvidas, analisar as principais notícias falsas, obter orientações para viagens, conhecer a equipe proponente e podem ainda deixar suas sugestões para melhoria do serviço.    

Universidade Federal de Goiás (UFG)

A Universidade Federal de Goiás (UFG) montou uma estrutura junto a parceiros para a produção de milhares de Equipamentos de Proteção de Individual (EPI), que serão doados às unidades de saúde de Goiás durante a pandemia da Covid-19. Usando o trabalho de professores, estudantes e voluntários, o projeto prevê a entrega de mais de 200 mil máscaras cirúrgicas e 6 mil aventais para que os profissionais de saúde possam trabalhar com segurança. A vice-diretora da Faculdade de Enfermagem e coordenadora do projeto, Luana Ribeiro, afirmou em entrevista ao Jornal Opção: “Fizemos o projeto piloto na Faculdade de Artes Visuais. Profissionais de diversas áreas se organizaram para elaborar um plano de produção de EPIs que possa ser replicado. O protocolo, o controle de produção para defender a saúde, tudo isso pode ser ampliado e reproduzido conforme conseguimos mais apoiadores e voluntários em outros locais. Começamos agora produzir aventais com colaboração do complexo prisional, por exemplo.” A Organização dos Voluntários de Goiás (OVG) contribuiu com a doação de 17,3 mil metros de tecidos, além de aviamentos para viabilizar a produção. Estão envolvidos no projeto a Faculdade de Enfermagem, a Faculdade de Artes Visuais, Escola de Veterinária e Zootecnia, com apoio do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Ciências Tecnológicas, do Centro Regional para o Desenvolvimento e Inovação e do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede da UFG. [caption id="attachment_248811" align="alignnone" width="620"] Equipe multidisciplinar produz EPIs para a saúde pública | Foto: Reprodução / Secretaria de Comunicação / UFG[/caption] O Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) desenvolveu uma plataforma web que permite o monitoramento da pandemia de covid-19 no Estado de Goiás, em nível municipal. Manuel Eduardo Ferreira, coordenador do projeto e professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa/UFG), afirmou: “A plataforma foi idealizada para ser de acesso público e irrestrito, usando dados censitários divulgados por fontes públicas e atualizados constantemente.” No site, é possível acompanhar o número de casos de Covid-19 em municípios do Estado e nos bairros de Goiânia, a mediana do número de internações causadas por doenças respiratórias, a localização de hospitais, farmácias, pontos de vacinação e supermercados da região, além de saber a quantidade de leitos de UTI e cruzar estas informações com dados censitários de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desta forma, é possível descobrir grupos socioeconômicos mais vulneráveis à Covid-19, por exemplo.  Manuel Eduardo Ferreira disse que a plataforma tem sido muito utilizada por pesquisadores de diversas áreas, que estão interessados em fazer interpretações de diversas camadas de dados estatísticos. “Pode-se descobrir em quais municípios ocorrem mais problemas respiratórios ao longo do ano. Dados da poluição atmosférica estão correlacionados com queimadas sazonais e causam problemas respiratórios – esta não é causa direta da comorbidade, mas é um gatilho. A pessoa não é diagnosticada pela poluição, mas acaba indo ao hospital quando a poluição é mais alta. Como ficará a estrutura destas cidades quando chegar o coronavírus? Esse é um dado inferido pela plataforma.” Manuel Eduardo Ferreira destacou a utilidade que a plataforma tem para gestores públicos, como prefeitos, secretários, tomadores de decisão: “Tudo para facilitar a interpretação, antever o impacto e propor ação está correlacionado na plataforma. Por exemplo, sabemos a distribuição de leitos de UTI. Como vai ser uma ação quando precisar? Vamos equipar a região ou trazer o paciente para cá? O sistema pode  avisar antes de haver sobrecarga da saúde caso entrem mais casos de Covid-19 do que os hospitais suportam. Aí o gestor pode olhar o município ao lado. Assim, um gestor público pode se guiar através da curva de contágio e saber quando reforçar ou relaxar medidas de isolamento.” O coordenador do projeto ainda destacou que estão abertos à colaboração com todas as prefeituras de Goiás. “Temos uma área de acesso restrito para gestores, caso se interessem em compartilhar informações que não são convenientes para a sociedade, áreas perigosas. Esses dados cadastrais e de registro da Covid-19 nos interessam para fazermos análises e são úteis para se criar estratégias epidemiológicas.”  [caption id="attachment_248812" align="alignnone" width="620"] Plataforma permite monitorar avanços de casos sobre o mapa goiano[/caption] Iniciativa da Faculdade de Medicina da UFG oferece apoio a profissionais por meio da telemedicina com o projeto “Segunda Opinião Médica”. O serviço de telemedicina da UFG já tem mais de dez anos de atividade, e foi ampliado com apoio da Sociedade Goiana de Pneumologia para montar um painel de especialistas. O grupo se reúne em vídeo conferências em tempo real para discutir o diagnóstico de doenças respiratórias em conjunto com os profissionais atuantes nas unidades de saúde. Dessa forma, os médicos especialistas podem discutir diagnósticos e casos ainda sem solução com os médicos atendentes, de forma que possam resolver a situação em sua própria unidade, para assim evitar o deslocamento de pacientes em casos de menor necessidade. Médicos de toda a rede pública de saúde do Estado de Goiás já estão integrados no sistema de telecomunicação.

Polêmica com a China por causa do coronavírus não interessa a Goiás

Mais de metade das exportações goianas são destinadas à China, que reduz seu consumo em decorrência do coronavírus. Demanda da soja, entretanto, se mantém alta  

Google mostrará dados de localização de usuários à autoridades durante a quarentena

Recurso lançado pela gigante de busca auxiliará autoridades a saber se políticas de distanciamento social estão sendo seguidas [caption id="attachment_201246" align="alignnone" width="620"] Google usará tecnologia para anonimizar identidade de usuários| Foto: Thought Catalog / Unsplash[/caption] Novo recurso lançado pelo Google mostrará a autoridades dados de localização de usuários para ajudá-las a saber se políticas de distanciamento social estão sendo seguidas. A medida funcionará em 131 países, incluindo o Brasil. Rafael Maciel, advogado especialista em Direito Digital e Proteção de Dados Pessoais, ouvido  pelo jornal Estadão, afirma que a medida é pertinente, mas é fundamental que a empresa tenha cautela para que a privacidade das pessoas não seja afetada. “Não se pode permitir que qualquer medida seja tomada sob o argumento de que estamos vivendo uma pandemia. Antes de qualquer coisa, é fundamental que as autoridades e empresas tenham cuidado para que nossas liberdades individuais não sejam afetadas”, defende o advogado. A movimentação do brasileiro em lojas e locais de recreação caiu 71%, na comparação com a média dos mesmos locais nos domingos das semanas entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro, de acordo com a primeira versão do relatório, referente ao dia 29 de março. Em mercados e farmácias, esse índice foi de queda de 35%; em escritórios, a baixa foi de 34%. Já nas residências, houve alta de 17% na movimentação. O Google destaca que dados cedidos e publicados nos relatórios foram agregados e tornados anônimos. Em relação aos cuidados com a privacidade, reforçado por Rafael Maciel, as informações passaram por um processo chamado de privacidade diferencial, com a inserção de um "ruído" aleatório, que não permite a individualização dos usuários. (Com informações do Estadão)

Interfones serão usados para que advogados conversem com clientes no presídio sem risco de contaminação

A iniciativa vem de uma parceria entre  Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) e  Diretoria e a Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados – Seção Goiás [caption id="attachment_239196" align="alignnone" width="620"] Casa de Prisão Provisória em Aparecida de Goiânia / Foto: Reprodução / Vitor Santana[/caption] Interfones serão instalados no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia para evitar o contágio do coronavírus no atendimento entre advogados e reeducandos. A iniciativa vem de uma parceria entre  Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) e Diretoria e a Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados – Seção Goiás. A novidade deve proporcionar maior conforto e segurança aos defensores quando em consulta a seus clientes, uma vez que durante a comunicação não haverá contato físico. O diretor-tesoureiro e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO, Roberto Serra da Silva Maia, afirmou sobre a medida: “é mais uma demonstração que a OAB-GO está disposta a firmar parcerias com a administração do Sistema Prisional.” Além dos interfones, a parceria entre OAB-GO e DGAP irá promover a aquisição de protetores e suprimentos para a instalação, de acordo com a quantidade, locais de instalação nas Unidades do Complexo Prisional (Semiaberto, CPP, POG, Triagem, Presídio Feminino e Núcleo de Custódia). Roberto Serra ainda informou que a construção da “Sala de Estado Maior” e a reforma nos parlatórios nas Unidades do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia também está sendo objeto de conclusão, conforme parceria informada na última sessão do Conselho. A medida segue orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Secretaria de Estado da Saúde e as regras e protocolos de prevenção à transmissão do coronavírus.

Governo determina que profissionais da saúde sejam obrigados a fazer curso sobre a Covid-19

O cadastramento é compulsório, mas não se trata de uma convocação para trabalho, apenas de curso de capacitação para tratar infectados com o novo coronavírus A Portaria nº 639/2020, baixada pelo Ministério da Saúde e intitulada "O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde" determina que profissionais da área da saúde façam um curso à distância para enfrentamento à pandemia de Covid-19. O cadastramento é obrigatório, mas não se trata de uma convocação para trabalho compulsório, apenas de capacitação. Os convocados são assistentes sociais, biólogos, biomédicos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos, veterinários, nutricionistas, dentistas, psicólogos e técnicos em radiologia. Após o preenchimento do formulário para cadastramento disponibilizados neste site, o profissional receberá um link de acesso aos cursos de capacitação. A advogada Nycolle Soares, especialista em Direito da Saúde, pontua que a medida do governo considera a necessidade de mobilização da força de trabalho em saúde para a atuação em serviços ambulatoriais e hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) para responder à situação de emergência causada pela Covid-19. Os conselhos nas áreas da saúde deverão enviar ao Ministério da Saúde os dados dos seus profissionais e, por sua vez, o órgão vai identificar e informar aos conselhos os respectivos profissionais que não preencheram o cadastro ou que não concluíram os cursos.

O que pensam funcionários que saem para trabalhar durante o isolamento social

Por escolha ou por falta de opção, ainda é possível encontrar quem siga a rotina profissional fora de casa durante a determinação de medidas restritivas ao comércio

Universidades têm capacidade para suprir falta de testes para coronavírus, mas faltam insumos

Apesar de ter as ferramentas para lidar com adversidades da pandemia, cortes de verba na ciência brasileira podem paralisá-la quando o País mais necessita

Canto surdo: uma leitura psicanalítica por meio da música

Obra "A Voz no Divã" de Jean-Michel Vives, autor vencedor do prêmio ŒDIPUS na FRANÇA, é lançada no Brasil Em "A voz no divã, uma leitura psicanalítica sobre ópera, música sacra e eletrônica", o autor e psicanalista Jean-Michel Vives desenvolve sua tese sobre a voz enquanto objeto primordial do sujeito, antes mesmo do seio materno - como a psicanálise tem defendido até agora. Com coerência clínica e clareza conceitual, Vives analisa os três tipos musicais, de forma audaciosa. Entrelaça esse universo às questões psicanalíticas para demonstrar como os temas desenvolvidos despertam afetos específicos no ouvinte, do mais puro prazer ao horror desmedido. Publicado em parceria pelas Editoras Aller e 106, o livro busca entender como os sons que tocam, envolvem e ressoam no corpo do sujeito permitem que se produza paisagens e presenças. Vives afirma ainda a necessidade do ponto surdo para que o sujeito possa fazer-se voz. Com a música sacra, o professor de psicopatologia clínica na Universidade Côte d’Azur (Nice – France) demonstra, usando a figura dos castrati, o quanto uma voz pode ser instrumento daquilo que alcança o além da imposição da Lei. E o quanto isso, para o ouvinte, pode ser extremamente prazeroso. Já em um segundo momento, Vives destrincha várias óperas e o papel que a diva ocupa em cada uma. Ao mesmo tempo em que analisa o que há de tão encantador nessa voz que alcança notas sublimes, questiona por que a falha da protagonista é tão odiosa para os ouvintes. Nesse ponto, também retoma o grito das sereias, enquanto sedutor e mortífero. Ao tratar dos tempos contemporâneos para falar da música eletrônica, por sua vez, o autor constrói a teoria de que o DJ ocupa o lugar do pai da horda, mas dessa vez, disposto a compartilhar algo de seu gozo. É nisso que se baseia a rave: na possibilidade do gozo compartilhado, no qual a lei é suspensa. Jean-Michel Vives dedica a última parte do livro à importância da voz como principal vetor de trabalho do psicanalista, enfatiza o caráter único e indizível do timbre de voz de cada sujeito e como esse pode apropriar-se dele pelo processo analítico. “A voz no divã” nos leva a refletir desde duas perspectivas: a primeira abre para a grande erudição de um profissional versado no que a literatura psicanalítica escreveu sobre tal questão. A segunda, para um grande conhecimento do mundo da música. Esta é a junção que deu a Jean-Michel Vives a possibilidade de propor uma visão teórica totalmente nova, em particular a respeito das razões que fundamentam o surgimento do que nomeamos voz.

Sobre o autor

Jean-Michel Vives é psicanalista e professor de psicopatologia clínica na Universidade Côte d’Azur (Nice – France). É membro do movimento Insistance em Paris e do Corpo Freudiano – RJ (Brasil). Pesquisa sobre a dimensão pulsional da voz e a gestão social do gozo a ela associado. Aborda a questão a partir das práticas artísticas (ópera, música tecno), religiosas (música sacra, misticismo), terapêuticas (dispositivos terapêuticos que implicam o uso da música e da voz) e psicopatológicas (alucinações auditivas, relação com a voz no sujeito autista). Interessa-se pela teorização dos desafios psicológicos da prática teatral. Ministra, regularmente, cursos e conferências em universidades de Nova Iorque, Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Toronto. Foi também colaborador artístico de Jacques Nichet no Centro Dramático Nacional de Montpellier e no Teatro Nacional de Toulouse, no qual dirigiu, de 2002 a 2005, o Atelier Voador do Centro de Formação e Pesquisa sobre Teatro Musical. Participou, como dramaturgo, de inúmeras encenações teatrais e óperas. Seus artigos foram publicados em várias línguas. No Brasil, além de A voz no divã, Jean-Michel Vives publicou os livros A voz na clínica psicanalítica (Contracapa, 2012) e Variações psicanalíticas sobre a voz e a pulsão invocante (Contracapa, 2018).  

Em Anápolis, começa nesta segunda-feira a campanha de vacinação por drive-thru

O esquema para imunização contra influenza é exclusivo para idosos a partir de 60 anos e segue até durar o estoque

Quarentena gera escassez em bancos de sangue

Queda é de cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre os grupos sanguíneos com maior escassez estão os tipos A+, A- e O-

Denúncias de violência contra a mulher aumentam durante quarentena

Dados do canal oficial do governo, o Ligue 180, revelam crescimento de 18% no número de denúncias nos nove dias de isolamento em relação a todo o restante do mês

Ministério da Saúde regula tratamento da Covid-19 com cloroquina

O órgão faz ressalvas quanto aos efeitos colaterais e o caráter inicial das pesquisas científicas do tratamento contra o novo coronavírus

O que os países que venceram o coronavírus podem ensinar ao Brasil

O que é isolamento vertical e onde funcionou? Nos aproximamos do pico do surto? Japão, Coreia do Sul e China podem ter as respostas [caption id="attachment_244379" align="alignnone" width="620"] Fiocruz vê explosão em números de internações por infecções respiratórias | Foto: Reprodução / EBC[/caption] O prefeito de Milão, Giuseppe “Beppe” Sala, apoiou publicamente a campanha Milano non si ferma (“Milão não para”), iniciada no dia 28 de fevereiro, quando a Covid-19 contabilizava 258 infectados e 12 mortos na cidade. Nesta sexta-feira, 27, Beppe Sala pediu desculpas à população de uma cidade que perdeu 4.474 pessoas para a epidemia e tem outros 32.346 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus. “Erramos”, ele disse. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus”. Até sábado, 28, em toda a Itália a conta já passava de 10 mil mortos e 92 mil infectados. São mais de 6 mil novos casos e quase 1 mil mortes a cada 24 horas no país, que parece se aproximar de um pico de casos. Algo ainda muito pior pode vir a acontecer em regiões que estão no começo da curva descrita pelo número de contaminados em função do tempo: Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e Brasil. [caption id="attachment_244382" align="alignright" width="300"] Prefeito de Milão veste camiseta em que se lê "Milão não para" | Foto: Reprodução / Instagram[/caption] A matemática cruel nos leva às perguntas: Onde foi que os italianos erraram? Estamos no mesmo caminho? O que podemos aprender com eles? Para obter estas respostas, entretanto, não podemos simplesmente comparar os números de diferentes países, pois ainda que se refiram à mesma coisa – quantidade de infectados –, são obtidos de maneiras diferentes. No Brasil, estão sendo testados apenas pessoas com sintomas graves de Covid-19. Já na Itália, testagem em massa foi realizada (tardiamente), mesmo em pequenos povoados. Portanto, o número de casos confirmados na Itália e no Brasil têm significados muito diferentes. O médico infectologista João Alves de Araújo, que entre outros trabalha no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), onde são tratados pacientes da Covid-19 em Goiânia, cita mais alguns complicadores: “Estima-se que cada infectado possa transmitir o vírus a duas ou três pessoas, então o número de doentes reais precisa ser pelo menos três vezes maior do que o de doentes graves, que testamos”.  Mesmo o número oficial de mortos pela Covid não é confiável, conta João Alves de Araújo, pois quando o paciente não realizou teste que confirma a presença do novo coronavírus, a causa mortis é dada como pneumonia adquirida na comunidade (PAC). Segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na quinta-feira (26), o Brasil registrou 9 vezes mais internações por problemas respiratórios na última semana do que a média.  Por último, dificulta o fato de que o Brasil não se preparou para o contágio, segundo João Alves de Araújo. “Não compramos kits para realizar testes com antecedência, não incentivamos nossas indústrias ou investimos na tecnologia para produzi-los”, afirma o médico. Como resultado, laboratórios demoram até dez dias para entregar resultados das análises moleculares pela técnica de RT-PCR em Tempo Real. [caption id="attachment_244384" align="alignleft" width="324"] Infectologista João Alves vê problemas no número de casos divulgados | Foto: Reprodução[/caption] Uma estimativa mais realista pode se aproximar de 11 vezes o número de infectados publicado pelo Ministério da Saúde, segundo Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine, do Reino Unido. Lutamos uma guerra de olhos vendados; não sabemos onde estão ou quantos são os infectados. Desta maneira, é impossível aplicar a única medida que vem se provado eficaz em países e que poderia ser adotada pelo Brasil.

O que deu certo no mundo

Epidemiologistas estimam que o Brasil se aproxima do aclive do gráfico de casos em função do tempo, como afirmou o próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O crescimento exponencial deve se iniciar em abril, extrapolando a quantidade de leitos de UTI necessários para atender doentes, e apenas atingir um pico em maio. Mas outros países já passaram pelo auge de seus contágios e podem ensinar algo ao Brasil. O estado chinês tem alternativas que só estão disponíveis em uma ditadura orwelliana. Viajantes que chegam a Shanghai são enviados em ambulâncias do governo para hospitais, onde são testados por equipes médicas. Lá, aguardam o resultado de ensaios para detecção do coronavírus. Caso o viajante teste negativo, ele segue para casa ou hotel, onde deve ficar em quarentena por 14 dias. Lacres são colocados no local e, caso rompidos, o viajante é contactado pelo estado. Em caso de reincidência, a polícia pode ser acionada.  [caption id="attachment_233629" align="alignnone" width="620"] China controlou epidemia através da quarentena absoluta dos cidadãos | Foto: Reprodução Agência Brasil / TYRONE SIU[/caption] Há ainda um aplicativo, desenvolvido pelo Escritório Geral do Conselho de Estado, que faz uma espécie de mapeamento das pessoas que estão próximas ao usuário — e que, possivelmente foram infectadas com o vírus. Se for detectado que o usuário esteve próximo de alguém infectado, ele recebe um alerta e a recomendação de ir para casa e entrar em contato com as autoridades de saúde. Em um mundo mais democrático e com menos amarras sobre a privacidade de seus cidadãos, outras medidas se mostraram eficientes. “Coreia do Sul, Japão e Alemanha testaram seus cidadãos o máximo possível e isolaram aqueles cujo resultado foi positivo daqueles que se mostraram livres do vírus”, afirma o infectologista João Alves de Araújo. Na opinião do médico, esta versão mais branda do lockdown seria o ideal para um país como o Brasil.  “O que tem dado melhores resultados no mundo é tratar os doentes em isolamento e fechar temporariamente locais públicos como shows, teatros, cultos, cinemas”, diz João Alves de Araújo. Entretanto, o infectologista admite que esta medida parece cada vez mais distante: “Primeiro porque não temos testes o suficiente. E também porque a discussão se tornou inócua; está polarizada demais. A medida defendida por Bolsonaro está automaticamente certa ou errada a depender do grupo político que você apoia. Não é assim que funciona, nossas atitudes têm de ser baseadas na racionalidade e na ciência.”

Isolamento vertical, ou o caminho brasileiro

[caption id="attachment_155918" align="alignnone" width="620"] Ministro da Saúde Luis Henrique Mandetta mudou de opinião a respeito do distanciamento social | Foto: Reprodução[/caption] Em meio a ordens opostas vindas dos níveis municipais, estaduais e federal, o Brasil se divide entre permanecer em quarentena e voltar a ocupar as ruas com a força produtiva fora dos grupos de risco (algo que tem sido chamado de isolamento vertical). O isolamento vertical defendido por Jair Bolsonaro não possui evidências científicas que comprovem sua eficácia. Trata-se de uma ideia proposta pelo médico americano David Katz, diretor do Centro de Pesquisa em Prevenção Yale-Griffin.  Em artigo publicado no The New York Times, David Katz propôs isolar apenas grupos de risco, com maior mortalidade pela Covid-19, enquanto permite-se que o vírus circule e gere imunidade de rebanho no restante da população. Entretanto, há dificuldades teóricas, como a de se criar uma categoria legal de  cidadãos de segunda classe com menos direitos de circular pela sociedade; bem como dificuldades práticas, relativas à realidade brasileira das favelas, por exemplo, onde famílias numerosas vivem apertadas em apenas um cômodo. Entretanto, o maior problema da ideia é sua falta de respaldo científico. Segundo o método proposto pelo filósofo da ciência Karl Popper, antes de se tentar aplicar a hipótese em todo o país, ela precisa ser testada em grupos menores e, se apresentar bons resultados, necessita ser replicada por outros cientistas com intuito de falsear o procedimento, isto é, encontrar falhas na ideia. Em resumo: não há evidência científica de que o isolamento vertical funciona. Além disso, a ideia foi duramente criticada por, segundo seus pares, extrapolar inferências a partir de premissas pouco confiáveis.

O Brasil não pode parar – Milão também não podia

[caption id="attachment_244386" align="alignnone" width="512"] Mortos na Lombardia tiveram de ser carregados pelo exército italiano para outra região, devido a sobrecarga de cemitérios e crematórios | Foto: Reprodução / Youtube[/caption] A polarização a que se referiu João Alves de Araújo tem razões mais profundas do que a mera discussão da metodologia para se encarar a crise sanitária. Jair Bolsonaro afirmou na sexta-feira, 27, que não acredita nos números de mortos reportados pelo estado de São Paulo e que não se preocupa com a situação. O presidente também cometeu dois erros de Beppe Sala: tratou a pandemia como “uma gripezinha” e citou a economia como razão para que brasileiros voltem ao trabalho. Além da subestimação da virulência da doença, que por ser nova encontra 100% da população vulnerável, sem imunologia preparada para combatê-la, outras coincidências permeiam os governos de Beppe Sala e Jair Bolsonaro. Até mesmo o slogan lançado pelos governos é sinistramente semelhante: “O Brasil não pode parar”. Beppe Sala, como Bolsonaro, também investiu em uma dicotomia entre morrer pelo coronavírus e morrer pela fome em quarentena. Moisés Ferreira da Cunha, doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), afirma: “A maioria dos economistas e financistas de bom senso sabe que o prioritário são as vidas, que haverá crise com ou sem quarentena e que se endividar nestes tempos extremos é normal. A economia se refaz depois, é função do governo entrar aí para retomar o crescimento. Mas a morte não tem como”. Segundo o economista, não seria necessário reinventar a roda, apenas copiar exemplos de países do G20. “Basicamente, eles fizeram distribuição de renda. Nos Estados Unidos, o auxílio-desemprego foi estendido por 10 meses com aumento de 600 dólares por pessoa. Veja a salvaguarda para as microempresas, que agora têm acesso a linhas de crédito com carência de um ano com juros zero. É para situações como esta que nós temos um Estado”, afirma Moisés Ferreira da Cunha.  Pode-se alegar que a realidade econômica dos países é diferente, mas, segundo Moisés Ferreira da Cunha, existem alternativas específicas para o Brasil. Segundo a revista Forbes (edição setembro de 2019), os 200 brasileiros mais ricos têm patrimônio de R$ 1,2 trilhão. “A taxação emergencial de grandes fortunas geraria R$ 240 bilhões aos cofres do governo imediatamente. Não estamos falando de empresas, mas de pessoas físicas”, afirma Moisés Ferreira da Cunha. “O governo tem previsto para este ano R$ 270 bilhões de renúncia fiscal – perdão tributário. Isso deve ser suspenso imediatamente. Não faz sentido perdoar dívidas em um momento de calamidade. A taxação de dividendos, que apenas o Brasil e a Estônia não fazem, geraria entre R$ 7 a 8 bilhões. Enfim, a transferência de renda poderia gerar R$ 500 bilhões. O que não pode ser feito é justamente o que temos realizado: cortes de salário. Isso vai causar convulsão social, fome, saques”, conclui Moisés Ferreira da Cunha.