Por Sarah Teófilo

Na semana passada, o empresário Júnior Friboi conversou com seus aliados e informou que estava “hibernando” no Sul do País. Na verdade, estava prospectando negócios, pois planeja montar uma rede de frigoríficos.
Friboi pôs uma ideia na cabeça: a partir do frigorífico Mataboi e de outros que pretende comprar, vai criar “a metade da JBS”, porém só para si e só com gado. Em pouco tempo quer transformar a JBJ numa grande empresa, uma referência nacional no mercado de carne. Recentemente, comprou fazendas e muitas reses. Agora, parou de comprá-las e está montando e conectando o sistema de abate.
Quanto à política, Friboi, mesmo convidado pelo PRB e pelo Pros, decidiu permanecer no PMDB. Não vai fazer pressão excessiva, mas vai trabalhar, ao lado de Maguito Vilela, Daniel Vilela, Leandro Vilela e Pedro Chaves, para assumir o comando do partido. Se necessário, com o consequente esvaziamento de Iris Rezende. O grupo conta com o apoio de Michel Temer.
O vice-presidente da República tem dito aos aliados que o PMDB de Goiás precisa se renovar, para deixar de ser perdedor nato — no fim de 2018, terá completado 20 anos fora do poder — e emplacar um governador na próxima disputa.

Coordenador de núcleo sobre violência na UFG critica as estratégias do Estado no combate à criminalidade e diz que é preciso fazer debate sério sobre a legalização das drogas

A exemplo do poderoso JBS, que se tornou o maior do mundo em sua área, outras empresas goianas vão ao mercado externo, até como alternativa ao momento ruim da economia brasileira

Medidas para consertar quatro anos de equívocos na condução da economia brasileira podem prejudicar o partido em 2016, principalmente nas capitais e grandes cidades
A seccional regional conseguiu junto ao Conselho Federal da Ordem o valor de R$ 300 mil para obra

Iris Rezende pode sacrificar 2018, desde que Ronaldo Caiado apoie seu grupo em Goiânia em 2016. Outra parte do PMDB pode sacrificar 2016, apoiando Vanderlan Cardoso, para cacifar-se para 2018. O PSDB pode “esquecer” 2016, aliando-se ao presidente do PSB, para manter o poder em nível estadual

Há dois anos, fotografei no hospital um paciente utilizar papel higiênico em ferifmento porque não havia gaze. Neste mesmo lugar, fui agora submetido a uma cirurgia com anestesia, sala climatizada e procedimentos de um excelente profissional
[caption id="attachment_27426" align="alignleft" width="620"] Procedimento cirúrgico com ótimos profissionais e equipamentos modernos: a norma no Hutrin / Foto: Iris Roberto[/caption]
Fábio Ph
Especial para o Jornal Opção
Abro este artigo particular, agradecendo o excelente atendimento que recebi na quarta-feira, 28, no Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin), administrado pelo Instituto Gerir, bancado pelo governo do Estado de Goiás, uma conquista do prefeito da cidade, Jânio Darrot (PSDB), junto ao governador Marconi Perillo. Alguém pode pensar: “Mas você trabalha no governo do município, sempre será bem atendido no Hutrin.” Nada disso: não entrei no Hutrin pelas portas do fundo. Fui submetido a uma pequena cirurgia e passei pelo procedimento normal.
Tinha marcado a cirurgia havia dez dias, no balcão, cheguei naquele dia por volta das 12 horas e, obedecendo à ordem de chegada — pessoas idosas com prioridade de atendimento —, fui operado com muita competência às 15h30 pelo médico Daniel Cabriny.
Sentado ali no banco, por mais de três horas, pude observar o trâmite em um setor de atendimentos especiais do hospital. Ninguém reclamando, tudo muito organizado, limpo, seguro, pessoas desenvolvendo suas funções de forma tranquila, paramentada. Novamente, alguém pode pensar: “Mas a experiência que tive no Hutrin não foi essa.” Gosto de usar um ditado: por mais que o feirante zele do produto que vende não tem jeito, tem uma hora que vai aparecer um coró na alface. Principalmente se se tratar de saúde. Falava com Daniel Cabriny, também diretor-geral da unidade, durante o procedimento e ele pontuou: “Têm momentos em que, apesar de você estar muito bem preparado, a demanda excede o planejamento.”
Claro também, que ninguém aqui está querendo “dourar a pílula”, falar que a unidade satisfaz e está tudo certo. O Hutrin passa por uma grande reformulação para tornar-se um hospital de referência. Vai dobrar sua capacidade de atendimento e especialidades. Basta ir lá para ver. As obras estão postas a olho nu. Mas eu, em meu tempo de oposicionista ao governo, há pouco mais de dois anos, fotografei aquele mesmo hospital com um paciente utilizando papel higiênico em um ferimento porque não tinham gaze. E neste mesmo lugar fui agora submetido a uma cirurgia com direito a anestesia, sala climatizada e procedimentos com requinte comandados por um excelente profissional.
No fim do ano passado tive outra experiência familiar em termos de saúde, em que utilizei um bom plano de assistência. Meu filho Pedro, de 14 anos, joga nas categorias de base do Goiás e tomou uma sarrafada em um jogo-treino. Tive de correr com ele para o hospital, com a clavícula fora do lugar. Mesmo com a carteirinha do plano de saúde SulAmérica, chegamos pouco depois das 9 horas e ele foi atendido às 13. Os fatos me serviram para a comparação nos tempos de atendimento. E aí vou ao passado, lembrando-me dos pré-natais dos filhos, os quais acompanhei, todos os cinco, de forma particular e era sempre um desgaste de tempo, ali, no banco de espera. Na saúde o buraco é grande, é preciso muita terra pra tapar e mesmo assim, têm horas que a terra não dá.
Fecho com o quinto parágrafo esta redação, sujeita ao crivo democrático de todas e todos, com a minha missão no governo municipal de Trindade, meu trabalho, que é posicionar a sociedade sobre as boas coisas que a administração faz. Tenho em mente que, fazendo isso, colaboro na motivação de uma grande equipe, de uma turma que está sempre correndo contra o tempo, contra as muitas demandas, contra a crise financeira — que para Trindade não é de agora, vem ao longo dos anos, por sua falta de desenvolvimento comercial. E já foi pior em outras gestões pela suspeição de desvio do capital público.
Fábio PH é diretor cinematográfico e assessor de Comunicação Social da Prefeitura de Trindade.
Até quando a Terra será habitável para as pessoas? Cientistas consideram que o fim da vida humana aqui é questão de quando ocorrerá. E o “quando” não chega à metade do século
[caption id="attachment_27417" align="alignleft" width="620"] Cena de “Interestelar”, a história desesperada de uma humanidade em busca de nova casa: ficção científica, mas não longe de uma possivel necessidade breve e real / Foto: Legendary Pictures[/caption]
Elder Dias
O filme “Interestelar”, dirigido por Christopher Nolan e lançado em 2014, fala de um futuro sem data, mas hoje menos imprevisível do que ainda desconhecido. Nele, a Terra está exaurida: a variedade de alimentos é baixíssima e, dos poucos cultivos que sobraram, as pragas arrasaram com a cultura de trigo. Restaram quiabo e milho. Em um mundo sombrio, onde só chove poeira, Cooper — personagem de Matthew McConaughey — é um engenheiro americano que tem de se virar como fazendeiro para sobreviver.
Todos ali sabem que é questão de tempo — e pouco tempo — para o fim da humanidade no planeta. A chance de sobrevivência da raça é encontrar outro lugar no espaço com condições mínimas para ser habitado. E Cooper acaba por se tornar comandante de uma nave de expedição da Nasa que, através de um buraco de minhoca — uma espécie de atalho espaço-temporal entre galáxias —, tenta encontrar o planeta ideal entre três que foram anteriormente localizados e prospectados por antigos astronautas.
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Guy McPherson: para ele, o ser humano se extingue até 2040 / Foto: Divulgação[/caption]
A saga de Cooper e seus companheiros não interessa aqui. A ficção científica serve apenas para colocar uma questão básica: até quando a Terra será habitável para os humanos? Até que geração isso poderá ocorrer? Questões que ganham mais contextualização quando se observam fenômenos como secas e enchentes, ondas de calor, tempestades e outros começarem a fazer parte da rotina. A crise hídrica de São Paulo não é um problema só de má gestão política — e quem pensa assim ou é maldoso, ou alienado, ou mesquinho, ou adversário político. Ou tudo isso junto.
Alguns cientistas, que certo conceito geral ainda teima em considerar céticos, já afirmam que a humanidade acabar por “falência múltipla de recursos naturais” não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”. Outros, que seriam vistos como céticos xiitas, já apontam “deadline”, a data limite para o fim. Em abril de 2014, Guy McPherson, professor emérito da Universidade do Arizona (EUA) e um dos especialistas mais influentes de seu país no tema mudanças climáticas, concedeu meia hora de entrevista nada animadora a uma rede de televisão. Sua ideia é de que o aquecimento global vai causar a extinção dos humanos até 2040. Ou seja, o Homo sapiens sapiens não teria qualquer chance de conhecer a segunda metade deste século.
No século 18, quando se iniciou a era industrial, havia na atmosfera, em gás carbônico (CO2), um índice de 280 ppm [partes por milhão]. Atualmente, essa suspensão superou 400 ppm, algo que não ocorreu na Terra nos últimos 800 milhões de anos. Citando seu ex-colega de universidade Albert Bartlett, McPherson diz: “O maior defeito da raça humana é nossa incapacidade para compreender a função exponencial.”
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Carlos Nobre: preocupação ética com as próximas gerações / Foto: Divulgação[/caption]
O cientista coloca esse ponto para explicar, por meio de dados sobre a quantidade de gases (CO2, metano e outros) que compõem o efeito estufa e são liberados na atmosfera, que a temperatura do mundo vai subir 4º C até 2030 e mais 10º C nos dez anos seguintes. A frase clássica apocalíptica tirada dos escritos de Nostradamus dizia que “[o ano] 1000 passará, [o ano] 2000 não chegará”. Transpondo para a previsão científica de McPherson, seria algo como “2030 chegará, mas 2040 não passará”.
O vídeo da entrevista, chamado “Cientistas preveem extinção da humanidade até 2040”, é legendado e pode ser acessado facilmente pelo YouTube. Apesar das tentativas do apresentador em buscar uma solução, McPherson se mantém ao mesmo tempo sereno e fleumático ao apresentar suas considerações. Outra delas: “Nós estamos provocando a extinção de cerca de 200 espécies por dia e, em algum momento, a espécie que mergulhará no abismo seremos nós.”
A metáfora é quase a ideal. Para o pesquisador do Arizona, na verdade, o homem já pulou do abismo, mas ainda não atingiu o seu choque fatal. Está, porém, em um estágio já irreversível para sua sobrevivência, como o indivíduo que se joga de um arranha-céus e ainda vê as janelas passarem. A argumentação é um xeque-mate: “Descobrimos só agora que, na verdade, o aquecimento produzido pelo efeito estufa sofre um atraso de 40 anos em relação à sua emissão.” Ou seja, o calor de hoje é resultado do que foi jogado na atmosfera até 1975. Ocorre que, nas últimas três décadas — portanto, desde meados dos anos 80 — o que foi gerado de poluição supera o que se produziu nos 250 anos anteriores.
A solução para uma salvação do mundo? Para tentar barrar o apocalipse, só optando por outro: estancar toda e qualquer atividade industrial. Um cenário improvável num momento em que fenômenos meteorológicos ainda são interpretados apenas como uma “marolinha” do sr. Tempo.
Mesmo sendo bem menos cético, o respeitado climatologista brasileiro Carlos Nobre diz que nos próximos 20 anos não há o que fazer em termos de mudanças climáticas. “O clima do planeta já está determinado pelas emissões que fizemos”, concordando, nesse ponto, com McPherson. Abordando economia, recursos e ética intergeracional — como lidar agora pelo futuro das próximas gerações —, ele afirmou que é “arrogante de nossa parte fazer julgamento sobre o que as gerações futuras vão considerar justo e equitativo”, em entrevista à TV Cultura para o programa “Invenção do Contemporâneo”.
Sobre a sobrevivência da espécie, ele é otimista. “Somos bastante adaptáveis. Não se pode dizer que o risco de extinção é zero, mas é muito pequeno. Em longo prazo, esse risco não passa por uma mudança climática, mas um cataclismo, como a colisão de um grande meteoro com a Terra”. Dentro do que seria otimismo, há fatos que não são exatamente animadores.
“Se parássemos as emissões de gases hoje, o nível do mar continuaria a subir durante os próximos 2 mil anos. São cálculos preocupantes. A previsão até 2100 vai de 80 centímetros a 1,40 metro — o que já é um grande aumento —, mas no fim de todo o período seria algo de 3 a 7 metros a mais. São perturbações de grande monta. Com elevação do mar em 1 metro, seriam já grandes as transformações na linha costeira — basta dizer que 20% da população mundial vive em região até 6 metros do nível do mar.”
O fim do mundo é a gente quem faz. Ou evita
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Em comemoração ao centenário no próximo dia 2 de fevereiro, o Jornal Opção
traz um pequeno festejo de um escritor goiano que fez história escrevendo
sobre homens e suas relações de poder e sobre as coisas universais e indizíveis
[caption id="attachment_27362" align="alignleft" width="620"] Veiga estreou na literatura com “Os Cavalinhos de Platiplanto” e ganhou o prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra / Reprodução/Arquivo Pessoal de Luiz de Aquino[/caption]
Yago Rodrigues Alvim
Nasceu peladinho da silva como qualquer outro José. Só não era da Silva. O anjo safado o predestinou a ser da casa dos Veiga. E lá nasceu, numa beirada que não era Corumbá e tampouco Pirenópolis: Sítio do Morro Grande, que só serviu de primeiro berço. O menino perambulou por bonitezas rurais doutro sitiozinho, vendinha de polonês na pequena Goyaz, voo para Londres e enamorou bibliotecas do Rio de Janeiro. E para as bibliotecas, José J. Veiga, o “matuto pra burro”, deixou sua maior herança: a literatura.
Corumbópolis
Foi num dia 2 de fevereiro que nasceu filho do verão de 1915. Era só José da Veiga. O homem não tinha inventado, ainda, a ideia de pôr um “J” lá no meio. Ainda assim, o “J” estava na certidão. Vinha de raízes maternas, da dona Marciana Jacinto Veiga, que o ensinou a graça de juntar letras e brincar de palavrear. Era afeiçoada aos livros, diferentemente do marido, o pai de Veiga, senhorzinho Luís Pereira –– que se interessava em pôr tijolo em cima de tijolo e, assim, construir casa para quem vivia em Corumbá.
Lá tinha uma escolinha, que com seus frufrus atraía a criançada. Era encadernação vistosa, não a que canta Caetano, uma outra que também enfeitava palavras. Os livros ficavam sob a guarda dum padre que, vez ou outra, abria as portas e as páginas para quem quisesse ler. Veiga era o primeiro da fila. Ali, já se avistava a semente que foi sendo aguada noutras paisagens: a do sitiozinho, onde viveu quando a mãe viu que o céu era mais azulinho que a Terra. De lá, seguiu para Goyaz. Trazia consigo seus poucos 12 anos de vida.
Em redomas literárias, vulgas bibliotecas de padres dominicanos e gabinetes que existiam na vila de 1927, dispendeu horas sobre livros. Nos seus 18, conheceu um moço vindo doutra terra: o polonês Oscar Breitbarst, a quem lhe concedeu outros cuidados para que ele frutificasse. José J. Veiga foi se fazendo aos poucos, tropeçando nas pedras no meio da vida.
Breitbarst era uma delas. Em sua vendinha de refrescos avermelhados, sabor groselha, atraía crianças e prosas de quem se amigava. Numa delas, firmou história com Veiga. O homem botou-lhe a ideia –– não a do “J” –– de ir para outros cantos, São Paulo ou Rio. Rio de Janeiro, decidiu ele com seus 400 mil réis ganhados no bolso. Sabia que ali não era só capital federal: os intelectuais, da época, lá residiam.
O Rio
Na labuta de encontrar emprego, pendengou os anos de 1930. A fadiga vinha da censura, do cerceamento instaurado por Getúlio Vargas que levou Veiga a declarar: “Acho que 10 de novembro de 1937 foi o dia em que tive mais raiva na minha vida”. Não era só espinhos, a época deu ao corumbaense bons botões profissionais. No auge de seus 30 anos, já graduado pela Faculdade Nacional de Direito, ele vivenciou as efervescentes ruas londrinas já com resquícios da 2° Guerra Mundial. Trabalhou como comentarista e tradutor de programas para o Brasil na BBC inglesa.
Na volta, conquistou bons postos do escalão jornalístico. E mais, conquistou a jovem Clérida Geada. Foi namoro digno de Biblioteca Nacional –– onde a moça o atendia gentil e charmosa. Nasceu, então, no hall literário e perdurou até o ínfimo segundo que assoprou a vida de Veiga. Estudiosa na Escola de Belas Artes, o acompanhou por 49 anos, abandonando o insosso e ocupado trabalho de vida pouco tempo depois da perda de Veiga.
Marinando os dias numa rotina de redação de jornal e passeios com a esposa, Veiga abandonou o oficio de catar feijões em obras literárias consagradas e “escrever para nada”, como dizia, e passou a “escrever a sério”. O caso é que Veiga reescrevia, desde o ginásio, a literatura de quem admirava. A prática tirou-lhe a frase: “Mais tarde descobri que isso me valeu muito”. As publicações, no entanto, se retinham à população das gavetas. No puir do tempo, decidiu aumentá-la, o que frutificou um conto gozado.
Além do real e regional
Foi numa tarde de quarta-feira, um pouco mais de quinze anos após o falecimento do “matuto pra burro” — é que ele se dizia assim; de Guimarães Rosa, seu amigo, a frase surtiu-lhe bem: “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa”. No pormenor, a iguaria de Veiga acompanhava dose certa de ironia — não era nada de matuto e Agostinho Potenciano de Souza sabe bem disso.
Sua obra, “Um Olhar Crítico Sobre o Nosso Tempo”, traz consigo o subtítulo “Uma Leitura da Obra de José J. da Veiga”. Leitura que, numa conversa da tarde quente de verão goiano, simplificou-se em epifania boba e maravilhosa, tal qualquer outra. O título de Agostinho diz sobre o olhar de Veiga sobre o que ele, então, vivia. O “crítico” não é mero adjetivo; está mais para substancial. A reflexão de Veiga quanto ao mundo era a obra-prima. A frase “as perguntas são mais importantes que as próprias respostas” vinha da sabedoria desconfiante (de muita coisa) do professor que debruçou seu mestrado a estudar sobre a literatura do “matuto”.
O “conto gozado” foi Agostinho quem narrou e o personagem não era de fabulação alguma de Veiga, e sim o próprio. Já com quase 40 anos, inventou –– calma, não é o “J” –– de ir ao Ministério da Educação, no Rio mesmo, com um punhado de escritos. A história da população? Sim, ele queria publicar seus textos, ter lá seus bons leitores – com todo respeito às gavetas. Deixou com o editor a bagatela de linhas escritas e, antes mesmo que o fim do dia seguinte chegasse, se aprumou numa jornada a fim de resgatar os bons merréis, que para ele já não valiam nada. Pois, ele cumpriu sua missão e tratou de jogá-la no cesto de lixo. “Foi minha salvação ter buscado aquele envelope”, disse o personagem sobre o episódio.
Bichanos
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Quanto à análise da obra de José J. Veiga e qualquer especulação sobre o escritor, o professor Agostinho Potenciano diz, certeiro: “As perguntas são mais importantes que as próprias respostas” / Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Era cheio deles, “recheado”, em melhor palavra. Num deles, o encontro com Rosa, o tal Guimarães. A paixão por biblioteca talvez se enciumasse pela que Veiga devotava aos bichanos bigodudos. Os gatinhos eram tão danados que, numa de adoecer, botou Veiga em prosa com Rosa, amigando-os por bons anos. Foram tão danados que, certamente, a culpa da história do “J” é toda dos adoentados.
Depois da aventura de busca, Veiga abandonou o papel de bom marido e trocou a esposa pela máquina de escrever –– ela logo compreendeu a situação. E ele varou noites amontoando novos escritos. Já tinha ali caule, copa e até frutos. Buscando as palavras do professor e também amigo de Veiga, o professor Agostinho, “se você visitar a obra de J. Veiga, certamente saberá que ‘Os Cavalinhos de Platiplanto’ é a entrada principal”. O amontoado ganhou o 2° lugar no “Prêmio Monteiro Lobato” de 1958.
Outra historieta contada na tarde de quarta é que o livro, tão aclamado pela crítica na época, só chegou às prateleiras muitos anos depois. É que a publicação pela Companhia Editora Nacional, prevista como premiação, nunca aconteceu. Foram só uns tais gatos pingados que saíram de uma primeira edição, um ano depois. E lá estava o tal “J”, todo pomposo na capa do livro. Quem contou o caso do “J” nem tinha voz alta ou coisa assim. Mas dá para imaginar que seja bem mansa e agradável, quase que com acentos de gracejos.
A voz é de Lêda Selma que pôs pompa na alegoria de Veiga. A escritora ou “simples curiosa” fez lá uma biografia da vida do escritor. A quase-epopeia foi publicada sob a edição de Hélio Moreira do livro “Memórias de Nossa Gente”, concebido pela Unicred Centro Brasileira, que traz a vida de literatos e médicos goianos. A paciência ressoa no timbre e em todas as peripécias do escritor que ambos foram encontrando em artigos, prosas com amigos próximos de Veiga — como Luiz de Aquino —, dando-lhes mais pano para manga de um homem que escapulia o real e regional.
Magia sem lugar
As perguntas, tão valorizadas pelo professor, traziam os dois “R”s no corpo do texto. Visto como escritor fantástico ou de realismo mágico, o goiano matuto viveu boa parte da sua vida no Rio de Janeiro. Ele escapuliu do litoral brasileiro só trinta anos depois e atracou-se em Corumbá, revisitando sua infância.
Ainda que a morte o consagre “escritor goiano” e a certidão não nega –– não nega tampouco o “J” ––, Veiga escrevia de um lugar em que os homens esbravejavam mais. As relações de poder, muitas vezes revistas sob a perspectiva histórica de uma vida marcada por guerras, golpes de Estado, ditadura militar e outros conflitos, estão no cerne de suas obras. O professor autor de “Um Olhar Crítico Sobre o Nosso Tempo”, que teve o prazer de tê-lo em sua defesa de mestrado, revela que o homenzinho lançava mais perguntas a si e aos homens de seu tempo. O lugar, a seu ver, existe; só não é o substancial. E a fantasia vinha, pois coisas indizíveis contam mais sobre a vida; a magia, no caso, era dona do substancial.
Ainda naquela quarta, dia comum de qualquer calendário, trazia consigo surpresa em capa amarela. Era encadernação de uma prova da Companhia das Letras. A editora publicará, em comemoração ao centenário de Veiga, a obra completa do escritor. Depois de lido um trecho do prefácio –– e vale lembrar o curioso fato que Veiga detestava prefácios ––, dava para jurar certo marejo nos olhos de Agostinho. Assinado por Antonio Arnoni Prado, orientador do mestrado de Agostinho, o trecho contava um detalhe do dia de defesa da dissertação.
“Ainda me lembro, a propósito, de uma manhã, ali pelo final dos anos 1980, em que fui buscá-lo num hotel de Campinas [São Paulo] para assistir a uma defesa de tese sobre sua própria obra. [...] ‘Ele saiu cedinho’, o homem foi logo me dizendo. ‘Foi andar pelas ruas do centro enquanto ainda não tem muita gente na cidade.’ E emendou: ‘Sujeito gozado aquele, não? Queria ver se encontrava cavalos e carroças circulando pelas ruas’”, escreveu Arnoni nas primeiras páginas do livro “A Hora dos Ruminantes” da Cia., que será lançado em breve.
A simplicidade estatela no ocorrido proseado e nas palavras de Agostinho sobre Veiga. Era um senhorzinho simples, que se dizia “pra burro”. Matuto, o homem desconfiava de muita coisa mesmo. Desconfiava tanto, como reconta Lêda, que meteu um “J” no nome de literato só “para equilibrá-lo”. Afinal de contas, a tal simples curiosa tem toda razão: “Tenho cá meu palpite: esse J foi cravejado entre José e Veiga também para dar-lhe ar de mistério e motivo de especulação. Eita, José J. Veiga!”.
O homem que disse ter ingressado “velho” na literatura, lá com seus 44 anos, deixou as letras de seu nome imbuídas de palavras, como a mãe bem lhe ensinara, para quem quisesse ler. Deixou num dia de domingo, já exausto de uma luta contra um câncer de pâncreas. E já era primavera toda florida de um 19 de setembro de 1999 quando foi-se o homem. Como põe Lêda, com a poesia de Rosa: José J. Veiga “ficou encantado”.
Leia um trecho do conto “Os Cavalinhos de Platiplanto”, presente no livro de mesmo nome, publicado em 1959. E, para descobrir um pouco mais do universo literário e pessoal do escritor, visite o Memorial José J. Veiga, na Biblioteca Central do Sesc, em Goiânia.
O meu primeiro contato com essas simpáticas criaturinhas deu-se quando eu era muito criança. O meu avô Rubem havia me prometido um cavalinho de sua fazenda do Chove-Chuva se eu deixasse lancetarem o meu pé, arruinado com uma estrepada no brinquedo do pique.
Por duas vezes o farmacêutico Osmúsio estivera lá em casa com sua caixa de ferrinhos para o serviço, mas eu fiz tamanho escarcéu que ele não chegou a passar da porta do quarto. Da segunda vez meu pai pediu a seu Osmúsio que esperasse na varanda enquanto ele ia ter uma conversa comigo. Eu sabia bem que espécie de conversa seria; e aproveitando a vantagem da doença, mal ele caminhou para a cama eu comecei novamente a chorar e gritar, esperando atrair a simpatia de minha mãe e, se possível, também a de algum vizinho para reforçar. Por sorte vovô Rubem ia chegando justamente naquela hora. Quando vi a barba dele apontar na porta, compreendi que estava salvo pelo menos por aquela vez; era uma regra assentada lá em casa que ninguém devia contrariar vovô Rubem. Em todo caso chorei um pouco mais para consolidar minha vitória, e só sosseguei quando ele intimou meu pai a sair do quarto.
Vovô sentou-se na beira da cama, pôs o chapéu e a bengala ao meu lado e perguntou por que era que meu pai estava judiando comigo. Para impressioná-lo melhor eu disse que era porque eu não queria deixar seu Osmúsio cortar o meu pé.
— Cortar fora?
Não era exatamente isso o que eu tinha querido dizer, mas achei eficaz confirmar; e por prudência não falei, apenas bati a cabeça.
— Mas que malvados! Então isso se faz? Deixa eu ver.
Vovô tirou os óculos, assentou-os no nariz e começou a fazer um exame demorado de meu pé. Olhou-o por cima, por baixo, de lado, apalpou-o e perguntou se doía. Naturalmente eu não ia dizer que não, e até ainda dei uns gemidos calculados. Ele tirou os óculos, fez uma cara muito séria e disse:
— É exagero deles. Não é preciso cortar. Basta lancetar.
Ele deve ter notado o meu desapontamento, porque explicou depressa, fazendo cócega na sola do meu pé:
— Mas nessas coisas, mesmo sendo preciso, quem resolve é o dono da doença. Se você não disser que pode, eu não deixo ninguém mexer, nem o rei. Você não é mais desses menininhos de cueiro, que não têm querer. Na festa do Divino você já vai vestir um parelhinho de calça comprida que eu vou comprar, e vou lhe dar também um cavalinho pra você acompanhar a folia.
— Com arreio mexicano?
— Com arreio mexicano. Já encomendei ao Felipe. Mas tem uma coisa. Se você não ficar bom desse pé, não vai poder montar. Eu acho que o jeito é você mandar lancetar logo.
— E se doer?
— Doer? É capaz de doer um pouco, mas não chega aos pés da dor de cortar. Essa sim, é uma dor mantena. Uma vez no Chove-Chuva tivemos que cortar um dedo — só um dedo — de um vaqueiro que tinha apanhado panariz e ele urinou de dor. E era um homem forçoso, acostumado a derrubar boi pelo rabo.
Meu avô era um homem que sabia explicar tudo com clareza, sem ralhar e sem tirar a razão da gente. Foi ele mesmo que chamou seu Osmúsio, mas deixou que eu desse a ordem. Naturalmente eu chorei um pouco, não de dor, porque antes ele jogou bastante de lança-perfume, mas de conveniência, porque se eu mostrasse que não estava sentindo nada eles podiam rir de mim depois.

O ex-vereador agora irá presidir a Frente Parlamentar da Microempresa na Casa

O parlamentar se refere à representação do MPF contra ele e mais 10 deputados eleitos por crimes eleitorais cometidos durante campanha de 2014

Eles foram detidos, mas liberados logo após prestarem depoimentos e gravarem um pedido de desculpas

Petista diz que tudo depende de Marconi Perillo cumprir a promessa de levar esgoto à Região Leste. Compromisso foi feito ao vereador durante a campanha de 2014

O presidente do PT metropolitano, Luís Cesar Bueno, garante que a legenda não quer a expulsão do vereador -- quer seu mandato. Felisberto diz que não vai aceitar

[caption id="attachment_27238" align="alignleft" width="300"] Foto: Fernando Leite[/caption]
O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, fez nesta quinta-feira (29/1) uma visita às obras do Programa Urbano Ambiental Macambira Anicuns (Puama), mostrando aos jornalistas, publicitários (como Zander Campos) e outros presentes que as obras não estão paradas. "Está aí a prova de que não abandonei a ideia de sustentabilidade", garantiu.
O gestor municipal, que com as últimas crises na capital (lixo, vagas de Cmeis, postos de saúde) esteve quieto, voltou recentemente a divulgar ações da prefeitura, e a participar ativamente de discussões em seu Twitter.
Na visita às obras, o gestor falou ainda sobre o presidente da Agetop, Jayme Rincón (PSDB). "Vou cuidar da minha gestão e eles que cuidem da deles", disse. Na última terça-feira (27), em entrevista ao Clube dos Repórteres Políticos de Goiás, o petista criticou Rincón, dizendo que ele era um "protótipo" de político, e que em conversas fechadas o governador Marconi Perillo (PSDB) dizia que ele era a cruz que o governador carregava.