Por Cezar Santos

Proposta está prestes a ter aprovação final no Senado e ser sancionada pelo presidente da República, mas há quem diga que nada vai adiantar se não houver recursos definidos

Em livreto, Palácio do Planalto cita estatísticas corretas, mas só até março deste ano

Governador surpreende até adversários quando, com menos de 30 dias, toma medidas de grande impacto em áreas melindrosas como saúde, educação e segurança pública

Orçamento engessado vai dificultar aumento dos investimentos, o que é fundamental para melhorar a qualidade dos serviços públicos e da infraestrutura e, por consequência, dar condições para o crescimento do país

Pré-candidatos ainda não fecharam suas plataformas de governo, mas já é possível avaliar possibilidades na área que se tornou ainda mais importante após o desastre Dilma Rousseff

Programa Goiás na Frente salva prefeituras, que estão sem recursos, e dá visibilidade ao governo, o que rende dividendos eleitorais a José Eleiton

Tucanos e emedebistas temem que Joaquim Barbosa “engula” a centro-esquerda

Ritmo de trabalho imprimido pelo tucano, com programas e medidas de impacto em menos de três semanas como governador, alavanca a pré-candidatura do tucano à reeleição
O episódio da condenação de Jesus Cristo, contado nos livros bíblicos, é, resumidamente assim: Era época da Páscoa, quando o governador costumava soltar um dos prisioneiros, conforme a vontade do povo. Havia um prisioneiro muito conhecido, um salteador (ladrão) chamado Barrabás. Pilatos, o governador, perguntou a todos: — Quem vocês querem que eu solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? O povo escolheu o ladrão. E Cristo foi crucificado. Na semana passada, o instituto de pesquisa do Grupo Folha divulgou pesquisa sobre preferência partidária dos brasileiros. E deu o que tem dado nos últimos levantamentos do tipo: o PT é o preferido. Dessa vez, 20% dos entrevistados declararam simpatia pela sigla que ficou 13 anos no poder, realizando as gestões mais corruptas da história da República, a ponto de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello ter chamado o esquema de “grande organização criminosa que se constituiu à sombra do poder”, no processo do mensalão. O mais curioso é que o PT segue liderando esse levantamento mesmo após a prisão de Lula, o nome mais importante da sigla — na verdade, o verdadeiro “dono” dela. A pesquisa foi realizada de 11 a 13 de abril, e 20% dos entrevistados declararam simpatia pelo PT — em janeiro, eram 19%. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos. As demais siglas tiveram índices bem menores: MDB, 4%; PSDB, 3%; PDT e PSOL, 1% cada um. Os outros partidos nem pontuaram. As demais siglas não pontuaram. A maioria dos entrevistados, 62%, declarou não ter preferência partidária. O PT é o partido preferido dos brasileiros desde 1999 e teve seu melhor desempenho em março de 2013, quando foi mencionado por 29% dos entrevistados. Lem brando que em março de 2013, os crimes patrocinados pelo PT no mensalão e uma grande parte dos crimes do petrolão eram de conhecimento público. Nos anos seguintes, com os escândalos de corrupção nos governos petistas revelados pela Lava Jato, a simpatia pelo partido desabou. Em dezembro de 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, veio o pior resultado para o PT, que mesmo assim continuou liderando: 9% das menções. MDB e PSDB, em segundo lugar, tinham 4% cada um. E a partir de 2017, o PT voltou a crescer, talvez num reflexo da impopularidade do governo Michel Temer (MDB), e o número dos que se declaram sem partido entrou em queda. Na reportagem da “Folha de S.Paulo” sobre a pesquisa, há registro de que na análise por variáveis socioeconômicas, observa-se que a preferência pelo PT diminui conforme aumenta o grau de instrução e a renda familiar mensal do entrevistado: 25% entre os menos instruídos ante 12% entre os mais instruídos; 26% entre os mais pobres contra 11% entre os mais ricos. O que isso indica está claro: em termos gerais, quanto mais informado é o cidadão, menos simpatia ele tem pelo PT. Natural que o eleitor dos grotões, que tenha sido beneficiado por programas como o Bolsa Família nos anos recentes — muito embora esse tipo de programa sempre tenha existido com outros nomes —, e se sinta agradecido ao PT e declare isso numa pesquisa. Mas é estranho que um cidadão razoavelmente informado, sabedor do alto grau de corrupção patrocinado elo PT e seus aliados, MDB em destaque, declare “simpatia” por isso. A não ser que tenha interesse pessoal, e aí já é outra conversa, que a pesquisa Datafolha não teve como aferir. Verdade que é difícil para o eleitor escolher um partido pelo critério de ética, honestidade e outros atributos positivos. Mas a “simpatia” pelo PT faz lembrar o episódio da condenação de Jesus Cristo. Simpatia por um partido corrupto que traiu seus eleitores com promessas de que seria diferente dos outros, para se revelar ainda pior que os outros, equivale à preferência do povo por um ladrão. Não tem Cristo nessa história, mas pode-se dizer que é um tipo de “síndrome de Barrabás”. l

Força específica para policiamento no Eixo Anhanguera vai dar mais tranquilidade a milhares de usuários todos os dias

Quem ganhar a eleição para a Presidência da República em outubro terá de fazer arranjos de alto custo político e financeiro para viabilizar a governabilidade nos próximos quatro anos

Partido Progressista se torna uma das três maiores bancadas na Câmara dos Deputados e ganha musculatura em nível regional com a entrada do ministro das Cidades, que assumiu o comando da sigla

Enquanto reina o caos nas unidades da rede municipal da capital, senador, que já está há quase quatro anos no mandato, faz divulgação eleitoreira de encaminhamento de emendas em valores muito baixos para hospitais e entidades filantrópicas
[caption id="attachment_118591" align="alignleft" width="620"] Foto: Arquivo / Jornal Opção[/caption]
O líder ruralista Ronaldo Caiado, do DEM, pré-candidato a governador na eleição de outubro próximo, fez divulgar na semana passada material de sua assessoria de imprensa, dando conta de sua pretensa atenção com a área da saúde. Essa atenção se daria, conforme o texto, pelo fato de Caiado ser “médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna”. Segundo a “reportagem”, intitulada “17 prefeituras recebem R$ 3,3 milhões em emendas de Caiado”, esse montante são os últimos recursos conquistados em março junto ao Ministério da Saúde, para 17 municípios investirem na compra de equipamentos de saúde.
Esses recursos, diz o texto, já estariam nas contas das Prefeituras e “devem ajudá-las a promover um melhor atendimento aos pacientes que buscam as unidades de saúde.” Informa ainda: As emendas parlamentares de março foram para 17 municípios goianos. Os valores distribuídos entre Alexânia (R$ 300 mil), Americano do Brasil (R$ 200 mil), Bonfinópolis (R$ 55 mil), Ceres (R$ 190 mil), Cezarina (R$ 138 mil), Cristalina (R$ 200 mil), Formosa (R$ 300 mil), Leopoldo de Bulhões (R$ 140 mil), Mara Rosa (R$ 300 mil), Ouro Verde de Goiás (R$ 400 mil), Pilar de Goiás (R$ 140 mil), Piracanjuba (R$ 190 mil), Rio Quente (R$ 300 mil), Santa Helena de Goiás (R$ 190 mil), São Luiz do Norte (R$ 45 mil), São Patrício (R$ 45 mil) e Simolândia (R$ 250 mil).
Seguem-se entrevistas de uns dois ou três prefeitos que, naturalmente, agradecem os recursos. Chama a atenção valores ridiculamente baixos, como R$ 45 mil e R$ 55 mil, para uma área que é reconhecidamente cara. São valores muito baixos para quem está há quase quatro anos no Senado, praticamente metade do mandato.
De qualquer forma, destinar emendas às prefeituras é um trabalho que os parlamentares têm de fazer. E o senador do DEM não está fazendo mais que sua obrigação, assim como fazem os outros 19 parlamentares federais goianos (17 deputados e mais 2 senadores).
Mistificação
O texto, como não poderia deixar de ser, é farto em elogios ao senador, afinal, trata-se de um produto de sua assessoria. O problema é quando sai do autoelogio fácil e descamba para a mistificação ou a mentira deslavada. É o que ocorre quando o senador confunde propositalmente o foco de abordagem ao se investir da autoridade de “médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna” para criticar a saúde no Estado.
Anota o texto: “Para Ronaldo Caiado, a falta de investimentos na área afeta principalmente os mais pobres. O caos na saúde foi o maior ‘legado’ que os 20 anos desse governo deixou em Goiás, penalizando os mais humildes. Hoje são mais de 55 mil goianos esperando por uma cirurgia eletiva, segundo o Conselho Federal de Medicina, um dos três estados com as mais longas filas de espera. Isso precisa mudar”.
O senador vai além ao sugerir “soluções” que beiram o esdrúxulo: “Faltam hospitais regionais no interior, os poucos que têm não possuem condições de atendimento. Enquanto isso os pacientes precisam vir a Goiânia se tratar. As organizações sociais, sem a devida transparência de suas ações, estão sendo usadas para enriquecer pessoas e não atendem a demanda da população. Tenho defendido a criação de hospitais de campanha para agilizar os casos de cirurgia em Goiás. Não tenho medo de enfrentar o debate também sobre a possibilidade de os hospitais privados credenciados receberem um complemento para atender os pacientes do sistema público de saúde, ajudando a desafogá-lo”.
Foco errado
O senador, por motivação eleitoreira, muda o foco das críticas, considerando que a rede pública estadual de saúde goza de prestígio como nunca. A administração das unidades por organizações sociais colocou a saúde goiana em outro patamar, servindo de modelo para outros Estados.
Para se ter uma ideia, Goiás tem quatro hospitais acreditados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) como unidades de excelência de um total de 12 públicos no Brasil. Mais duas unidades da rede estadual estão em fase de acreditação. O senador, que é “médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna”, sabe bem o que significa esse reconhecimento da ONA, que, no entanto, ele não menciona nem reconhece.
E não se está dizendo que não há reparos pontuais a fazer no sistema público estadual, por que sempre há, visto que saúde é uma área em que a demanda aumenta sempre mais, principalmente quando o serviço é bom.
Mas onde a saúde está realmente em situação caótica é na Prefeitura de Goiânia, sob comando do prefeito Iris Rezende (MDB), aliado do senador. Caiado, por sinal, tem responsabilidade objetiva na administração da capital, já que indicou muitos integrantes para a equipe, incluindo sua filha, Ana Vitória Caiado, que é procuradora-geral do Município. Mesmo assim, o senador continua num mutismo estranho por parte de quem é médico e conhece a área por dever de ofício.
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Fátima Mrué| Fotos Wictória Jhefany / Câmara Municipal[/caption]
O senador do DEM se cala sobre a situação do atendimento à saúde em Goiânia e isso só pode significar que ele considera que está tudo ótimo. Mas a realidade é outra. O caos impera, com falta de médicos e de insumos nas unidades da rede municipal. A situação é tão grave que a titular da pasta, Fátima Mrué, esteve sob risco de ser presa, como requereram os vereadores integrantes da Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Saúde, que na quarta-feira, 11, aprovaram pedido de prisão preventiva contra a secretária.
Os vereadores da CEI tomaram a medida após o vereador Clécio Alves (MDB), presidente do colegiado, ter recebido ofícios da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), afirmando que a pasta não mais responderia aos questionamentos da comissão, que investiga o caos na rede municipal de saúde.
Até aliados reclamam
“O que a secretária está fazendo é criar dificuldades, obstruir as investigações da CEI. Não responder a solicitações de uma comissão de inquérito é obstrução de investigação. Isso está tipificado no Código Penal e cabe prisão preventiva. Para nós, isso está muito claro”, disse o vereador relator da CEI, Elias Vaz (PSB) — depois, Fátima Mrué recuou e disse que daria as informações solicitadas pela CEI.
A gestão na SMS é tão ruim, tão caótica, que até aliados de Iris Rezende, como o vereador Clécio Alves, não se furtam a criticar, o que Ronaldo Caiado, médico, não faz. E o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis, foi direto em entrevista ao Jornal Opção: “É uma situação precária, caótica, com uma gestão desastrosa do ponto de vista dos recursos humanos e de abastecimento de insumos. Isso tem repercutido obviamente na assistência do povo. Infelizmente, a população que chega às unidades públicas não tem um atendimento adequado, não tem resolutividade na sua situação patológica. E isso acaba levando a um círculo vicioso.”
Em alguns momentos, talvez em surto de “sincericídio”, a própria secretária Fátima Mrué admite suas falhas. No final do ano passado, após ser ouvida pela CEI, a gestora foi bastante questionada pelos vereadores em relação ao sistema de regulação do município e sobre a falta de médicos nos Cais da capital. Após o depoimento, Mrué concedeu entrevista à imprensa e pediu desculpas à população por conta dos problemas na área de saúde.
Sobre isso, Ronaldo Caiado, senador da República, “médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna”, não tem nada a dizer?
“Hospitais de campanha é proposta eleitoreira”
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