Baldy empodera o PP
22 abril 2018 às 00h00
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Partido Progressista se torna uma das três maiores bancadas na Câmara dos Deputados e ganha musculatura em nível regional com a entrada do ministro das Cidades, que assumiu o comando da sigla
Cezar Santos
O Partido Progressista (PP) foi um dos maiores beneficiados com a janela partidária, período legal de 30 dias (terminou em 7 de abril) em que deputados federais e estaduais puderam mudar de partido sem a possibilidade de perder o mandato por infidelidade partidária. Nas trocas de siglas, conforme a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara Federal, o PP, que elegeu 36 deputados em 2014, ficou com 52 cadeiras, empatado com o PMDB, e atrás apenas do PT, com 60.
Uma das maiores forças a ingressar no Progressista, sem dúvida, foi o deputado federal goiano Alexandre Baldy, que estava sem partido desde novembro, quando saiu do Podemos. Já na condição de ministro das Cidades, Baldy muito ponderou sobre qual sigla poderia entrar — recebeu convites do MDB, do DEM, do PTB, entre outras —, até se decidir pelo PP, numa negociação política direta com o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI).
Baldy ingressou no PP com moral e assumiu o comando da legenda em Goiás. Não é para menos, visto sua condição de titular de um dos ministérios mais importantes, figura de relevância nacional, com livre trânsito nas esferas federais. E localmente, ele tem trabalho realizado. Foi secretário estadual de Indústria e Comércio no governo de Marconi Perillo e em 2014 estreou na disputa em cargo eletivo. Os 107,5 mil votos lhe deram a oitava melhor votação entre os 17 eleitos, deixando para trás políticos tradicionais e com vários mandatos no currículo.
Dessa forma, Baldy se impôs o desafio de fortalecer o PP em Goiás, com vistas a formar uma forte chapa de candidatos a deputado estadual e federal. “Assumi o diretório estadual do PP pelo fato de ser um partido extremamente tradicional, de grande história e com uma grande envergadura no Estado e nacionalmente. Um desafio que foi para mim motivo de grande oportunidade de poder demonstrar que o nosso trabalho também pode influenciar o campo partidário”, disse em entrevista ao Jornal Opção.
E o novo comandante do partido em Goiás trabalhou duro. Lembra que em praticamente dois a três dias úteis conseguiu assegurar filiações importantíssimas do ponto de vista da qualidade política e eleitoral. Ele contabiliza o ingresso do deputado federal Heuler Cruvinel, que era do PSD, uma liderança importante da região Sudoeste do Estado, assim como o empresário Vanderlan Cardoso, que estava no PSB.
“Além de outros quadros muito importantes, como Professor Alcides Ribeiro, que é pré-candidato a deputado federal. Em poucos dias conseguimos fazer acima da minha expectativa e da expectativa do partido. Tudo isso de um modo unido”, enfatiza, demonstrando que trabalha com cuidado para não provocar descontentamentos ou cisões.
Baldy lembra que o PP tem hoje a maior bancada federal do Estado, em empate com o PSDB, com três deputados no exercício do mandato — Roberto Balestra, Sandes Júnior e Heuler Cruvinel —, mesmo ele estando de licença, como titular do Ministério das Cidades.
Mesmo quando lembrado que o partido não conta com nenhum representante na Assembleia Legislativa, Alexandre Baldy afirma que, com as filiações nos últimos dias da janela partidária, a lista de pré-candidatos a deputado estadual será forte. Ele não tem dúvida de que foram criadas as condições para grande êxito na eleição proporcional para a Assembleia Legislativa.
“Acredito que vamos surpreender. Nosso desejo é fazer a construção de uma chapa proporcional pura, só com pré-candidatos a deputado estadual do PP, para fazermos uma bancada própria de deputados estaduais”, afirma, lembrando que o mesmo vale para a construção de uma bancada de deputados federais: “Que consigamos no mínimo manter os três deputados federais do partido na Câmara Federal”.
Alexandre Baldy destaca a grande conquista do partido com o ingresso de Vanderlan Cardoso, que considera um quadro fundamental para a chapa majoritária na sucessão de Marconi Perillo em outubro. “Vanderlan Cardoso foi candidato a governador em 2014 e se saiu muito bem da disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2016. Ter Vanderlan no partido é ter um político apto a disputar qualquer posição nas eleições”, diz, dando a entender que que o empresário pode ser inclusive vice de qualquer um dos nomes colocados para a disputa majoritária — o PP só vai definir coligação em junho ou julho.
Prefeitos ressaltam novo comando
O PP de Goiás tem 24 prefeituras, uma força razoável em termos municipalistas. De modo geral, o novo comando da sigla, por parte do deputado Alexandre Baldy, é exaltado pelos prefeitos pepistas.
Carlos Roberto, Itaberaí
Não conversei ainda com o ministro Baldy, por isso ainda não sei qual o projeto dele para o PP. Já marquei uma audiência com ele no dia 24, em Brasília, e vamos ver o que ele pretende. Aqui, nós temos um compromisso com o governador José Eliton (PSDB) e vamos ver qual é a proposta do novo presidente do PP. Mas é evidente que o partido se fortaleceu com a entrada do ministro Baldy na nossa legenda. Igualmente importante foi a filiação do Vanderlan Cardoso, do deputado Heuler Cruvinel.
Eric Melo, Piranhas
Foi um grande ganho a filiação do ministro Alexandre Baldy no PP, agora temos uma unidade maior, com voz e oportunidade de participação. Ele conseguiu atrair parlamentares de outas siglas, o que dá força. Na sucessão estadual, o ministro já disse que vamos aguardar até junho para decidir. De qualquer forma, o partido ficou grande, ganhou mais representatividade, o que nos dá força para ocupar espaço na chapa majoritária. Aqui o nosso deputado é o Roberto Balestra. Estávamos antes com o senador Wilder Morais, e agora estamos com o ministro Baldy.
Jorge José de Souza, Firminópolis
Só tive uma conversa rápida com o ministro Baldy, o novo presidente do PP. Queremos ter esse encontro em breve, para avaliar o que aconteceu e chegar a um denominador. Vejo com muito bons olhos a entrada do ministro no PP, com novas filiações, bom nomes. O PP cresceu, melhorou, e a tendência é que melhore mais daqui pra frente.
Quanto à majoritária, sim, a presença de nossa sigla é importante. Temos o maior ou um dos maiores tempos de rádio e TV, o que é importante em qualquer coligação que fizermos, um partido como o PP tem de ser valorizado. Temos um compromisso com a base aliada do governador José Eliton.
Issy Quinan, Vianópolis
Com o ministro Baldy eu vejo claras perspectivas de crescimento par ao PP, que se mostrou um líder de credibilidade, respeitado, amplamente reconhecido nos cargos administrativos que ocupou, tanto na Secretaria de Indústria e Comércio quanto atualmente, no Ministério das Cidades.
Quanto ao processo sucessório, a tendência dos companheiros do PP é por continuar na base aliada, mesmo porque apoiamos as quatro eleições de Marconi Perillo, então esse é o caminho natural do PP.
Coesão nas votações é marca do partido
O Partido Progressista fechou a janela partidária com 52 deputados na Câmara Federal, 15 a mais do que elegeu há quatro anos, e está na segunda posição, junto ao MDB, como bancada mais forte, atrás apenas do PT, que tem 60 parlamentares.
Na distribuição do fundo partidário, que leva em conta o número de parlamentares eleitos na última disputa, o PP fica com a quarta maior fatia: R$ 4,2 milhões por mês, segundo levantamento do jornal “Estadão”. Como o partido costuma atuar apenas no Legislativo – e na Esplanada, chefiando ministérios -, não precisa custear campanhas caras à Presidência. O único Estado comandado pelo PP hoje é o Paraná, por Cida Borghetti. Além de sua reeleição, o partido deve lançar candidatos em Rondônia, Roraima, Acre e Rio Grande do Sul.
Do fundo eleitoral, o PP deve receber ainda cerca de R$ 134,3 milhões, segundo levantamento a soma só fica atrás de três siglas, MDB, PT e PSDB, que devem receber, respectivamente, R$ 243 milhões, R$ 212 milhões e R$ 185 milhões.
Na reforma ministerial do presidente Michel Temer, a legenda manteve os maiores orçamentos da Esplanada: Ministério da Saúde, Agricultura, Cidades e o comando da Caixa Federal. No mês passado, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) deixou o Ministério da Saúde para voltar para a Câmara, mas logo assumiu Gilberto Occhi, então presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) ligado ao PP. O partido indicou Nelson Antônio de Souza para a CEF. Alexandre Baldy se filiou à legenda na janela partidária e se manteve no comando das Cidades.
Nascido do Arena, o PP teve diferentes nomes na redemocratização, mas participou da base de todos os partidos desde então. Presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira atribui a escalada do partido com a coerência da bancada nas votações do Congresso. “Graças à coerência e à unidade. Nos últimos dez anos, os que mais votaram unidos e coerentes foram os progressistas. Outro motivo, é que nosso foco é totalmente no Congresso, fortalece muito a bancada federal na Câmara e no Senado”, disse o senador ao “Estadão”.
Nas últimas votações importantes, o PP votou unido no impeachment de Dilma Rousseff e contra as denúncias de Temer. Na reforma trabalhista, apenas 8 dos então 42 deputados votaram contra. Desde 2015, o partido de Paulo Maluf, que hoje cumpre prisão domiciliar e está hospitalizado, vem tentando renovar sua imagem. Propagandas do ano passado, chamavam a sigla, inclusive, de “novo PP”. A mudança é capitaneada por Nogueira, presidente do partido pelo terceiro mandato seguido, desde 2013.
“No PP, terei mais autonomia”, diz Vanderlan
O presidente do PP de Goiás, Alexandre Baldy, exalta a filiação do empresário Vanderlan Cardoso com um dos maiores trunfos da sigla na recente janela partidária. O empresário, por sua vez, diz que optou pela legenda por que terá mais autonomia para participar das decisões sobre os rumos da eleição deste ano. Ele diz, também, que no Progressista poderá atuar de modo mais ativo, ao lado do presidente Alexandre Baldy, que é ministro e está empenhado em trazer recursos federais para Goiânia e Goiás.
Tendo disputado o governo estadual em 2010 e 2014, e a Prefeitura de Goiânia em 2016, Vanderlan Cardoso diz que sua ida para o PP ocorreu sem nenhuma imposição. Ele era filiado ao PSB e seu ingresso no PP se deu dentro do período legal estipulado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), para quem deseja ser candidato este ano, mas diz que não houve negociação antecipada para a transferência. “As conversas com os pré-candidatos irão acontecer de forma mais intensa nos próximos meses, até o período das convenções partidárias, quando o PP deverá decidir pelo apoio a um dos nomes já colocados ou até mesmo pelo lançamento de nome próprio, mudando o cenário da disputa.”
“Quero dialogar”
Vanderlan reitera que foi para o PP sem exigência nenhuma. Afirma que quer é participar, não ficar como estava no PSB, onde não participou das últimas conversas sobre sucessão e não foi chamado para opinar sobre os projetos e os caminhos que o partido irá seguir.
“Essa oportunidade eu vou ter no PP. Isso me dá a chance e a condição de estar dialogando e conversando com todos, participando efetivamente do processo, já que fui candidato duas vezes ao governo do Estado, fizemos dois planos de governo e temos boas propostas. Também fui candidato a prefeito de Goiânia, com quase 300 mil votos no segundo turno. Então o que eu quero é participar, colocar nossas ideias”, afirma.
O empresário explica que chegou ao partido para ser soldado e que a decisão sobre os rumos do PP para a eleição de outubro será discutida. “Foi a primeira coisa que perguntei ao presidente do PP, ministro Alexandre Baldy, se o partido já estava comprometido em algum projeto para o governo do Estado. Ele disse que não, que a decisão seria tomada depois de conversarmos com todos os pré-candidatos. Além disso, o PP tem bons nomes para apresentar, e a decisão será tomada somente nas convenções [entre os dias 20 de julho e 5 de agosto] ou próximo dela.”
Sobre disputar vaga no Legislativo ou se aceitaria entrar na campanha somente pelo Executivo, como em todas as eleições anteriores que participou, Vanderlan é direto e reitera que não impõe candidatura. “Quando a gente diz que é um soldado do partido não fica escolhendo candidatura. Minha preferência é sempre para o Executivo, por que é o que eu sei fazer. Nunca fui para uma disputa ao Legislativo, mas também, o político tem sempre que estar aprendendo. Todo dia a gente aprende um pouco.”
Vanderlan se coloca à disposição do partido e diz que se for chamado, vai ter que fazer uma avaliação, também, com as pessoas que lhe apoiam. “Eu participei de três eleições majoritárias, pesadas, contra os dois maiores políticos do Estado, que sabem fazer política e que vivem da política e fazem política 24 horas (por dia). Também tenho que organizar minha vida particular. Vai depender dos próximos meses, das discussões. Eu não fujo da raia hora nenhuma. Se tem uma coisa que as pessoas, de mim, não podem falar é que eu sou covarde, que eu fujo. Teve eleição mais difícil do que aquela de 2014? Fiquei só e mesmo assim nós fomos, não nos acovardamos e foi uma eleição muito difícil”, esclareceu.
Goiânia 2020
O empresário diz que não condicionou sua ida ao PP na indicação do seu nome para a disputa da Prefeitura de Goiânia em 2020, no entanto ele não esconde seu interesse em disputar, mais uma vez, a vaga ao Paço Municipal. Lembra que seu nome aparece naturalmente, quando se fala das próximas eleições municipais, principalmente pela expressividade que de 2016, quando teve quase 300 mil votos no segundo turno.
“Como disputei a prefeitura em 2016 e fomos para o segundo turno, é natural que a gente coloque o nome a disposição do partido. Mas na minha vinda para o PP não foi feito nenhuma imposição. Só que é natural que eu tenha a intenção de participar, mas o que vai determinar é o que vai acontecer daqui para frente”, disse.
Vanderlan lembra que na conversa que teve com o ministro Alexandre Baldy, presidente estadual do Progressista, disse que o tema surgiu de forma bastante espontânea e que o ministro concordou que é legítima a pretensão do empresário em disputar novamente a prefeitura da capital. Hoje Baldy, inclusive, é um dos incentivadores dessa candidatura. “Foi conversado sobre isso no PP, mas não vim para o partido já com essa imposição de ser o candidato em 2020.”