Flávio Rocha (PRB) e João Amoêdo (Novo), pré-candidatos à Presidência da República, conseguem consubstanciar concretamente seus discursos, mas resta saber se terão chances de chegar ao 2º turno

Montagem

Comumente se diz que no Brasil não há partidos de direita. Em 2011, a revista “Veja” trou­xe uma reportagem cujo título era justamente “O incrível caso do país sem direita”, com subtítulo “Não há partidos conservadores no Brasil. O único liberal de pe­so agoniza depois de perder no­mes importantes. E são poucas as perspectivas de mudança”.

Vale a pena transcrever o primeiro parágrafo: “O espectro político brasileiro é peculiar: na ponta es­querda, tem o jurássico PCO. Pas­sa por socialistas radicais, co­mo o PSOL e o PSTU, pelos co­mu­nistas conformados do PPS, pe­los social-democratas do PT e do PSDB, pela esquerda verde do PV e se encerra no centro, onde es­tão PP e DEM. Não há, entre os 27 partidos brasileiros, um que se assuma como direitista. E o re­cen­te anúncio da criação do PSD, que se define como social-democrata, abre um buraco no DEM e em­purra o eixo da política brasileira ainda mais para a esquerda”.

De lá para cá, pouca coisa mu­dou. No tocante à direita, o mais im­portante é que surgiu o partido No­vo (fundado em 2011, mas cu­jo registro só saiu em 2015), com um ideário alinhado ao liberalismo econômico. Um dos fundadores é o engenheiro e administrador carioca João Dionísio Amoê­do, vindo de carreira no sistema fi­nanceiro, que é o pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto.

De forma geral, mas principalmente no Brasil, o conceito “di­rei­­ta” foi demonizado. Poucos po­líticos assumem ser de direita, pre­ferindo se colocar como de cen­tro ou centro-direita. Ser “de” di­reita ficou carimbado como con­trário aos direitos humanos e às conquistas sociais, enquanto o “de” esquerda é a favor. Ou seja, a virtude estaria na esquerda e o pe­cado na direita.

Nos programas partidários até há posicionamentos claros quanto a temas à esquerda e à direita. Na prá­tica, no entanto, a caracterização mais evidente dos partidos bra­sileiros é justamente a falta de ri­gor programático. Nas eleições, por exemplo, para ganhar o po­der, partidos fazem aliança com ou­tros que pregam um ideário to­tal­mente diferente.

No Brasil, por sinal, as posições se embaralharam. Há pessoas de direita que em alguns temas as­su­mem bandeiras de esquerda e vice-versa. Acrescente-se a isso ou­tro fenômeno curioso: políticos de esquerda e de direita acabam por ser populistas. E a história mos­tra que o populismo é o que de pior pode acontecer a um país, quando se sabe que dirigentes po­pu­listas governam com o único ob­jetivo de obter apoio popular. O populista não imprime as políticas necessárias para o bem de seu po­vo a longo prazo, mas apenas aquelas que lhe dão “ibope” imediato.

O populista utiliza linguagem simples e popular, toma medidas au­toritárias em nome do “povo”, des­respeita partidos políticos e ins­tituições democrática e se coloca como capaz de resolver todos os pro­blemas. Na voga populista é que surgem os “pais dos pobres”, co­mo Getúlio Vargas. Mais recentemente, o petista Lula da Silva é o maior populista brasileiro, assim co­mo o esquerdista venezuelano Ni­colás Maduro. Lula e Maduro são dois populistas de esquerda. Nos Estados Unidos está na presidência um populista de direita, Donald Trump.

E o populismo, está claro, até po­de ser positivo à população mais pobre num primeiro mo­men­to, mas inevitavelmente termina por jogar o país num buraco eco­nômico. Aconteceu no Brasil, co­mo resultado das políticas po­pu­listas de Lula seguidas por Dil­ma Rousseff, e o estrago causado na economia só agora, aos poucos e a duras penas, está sendo revertido. Está acontecendo na Ve­ne­zu­ela, vítima do populismo de Hugo Chávez seguido por Ma­du­ro, o que devastou a economia de um dos países mais ricos da Amé­rica Latina.

Feito o introito, pode-se perguntar: neste ano, os brasileiros terão candidatos de direita como opção?

De imediato, pode-se responder que sim, elencando Jair Bol­so­na­ro (PSL), Rodrigo Maia (DEM), Flá­vio Rocha (PRB) e o próprio João Amoêdo, do Novo. E os indefectíveis Levy Fidelix (PRTB), que vai concorrer pela terceira vez à Presidência da República, e José Maria Eymael (PSDC), que disputará pela quarta vez.

Ocorre que Bolsonaro — pré-candidato que desponta nas pesquisas e tem chan­ces reais de ir ao segundo tur­no —, pelas suas atitudes e de­cla­rações tem se colocado como um extremista de direita, portanto, fora do escopo do que se pretende abordar nesse texto.

Rodrigo Maia também não se enquadra, uma vez os integrantes do DEM não se admitem de di­reita. Por incrível que pareça, nem mesmo o senador goiano Ro­naldo Caiado se assume como di­reitista. Na reportagem de “Ve­ja” citada antes, Caiado disse que o rótulo só faria sentido em países on­de há tradição de uma direita de­mocrática. “Aqui não existe es­sa tradição”, explicou.

Quanto a Levy Fidelix e José Maria Eymael, de partidos nanicos, esses concorrem apenas para constar. Então, sobram Flávio Rocha, do PRB, e João Amoêdo.

E o que pro­põem esses dois nomes de di­rei­ta para o eleitorado brasileiro?

João Amoêdo quer reduzir o papel do Estado e equilibrar as contas públicas

João Amoêdo: Privatizar Petrobrás, Correios e Banco do Brasil

Participar, influenciar e interferir na re­cons­trução da política nacional, para que o de­bate de ideias ocupe o espaço do discurso po­pulista que tem dominado as últimas disputas no Brasil. É esse o ideário do partido No­vo, professado pelo seu pré-candidato ao Palácio do Planalto, o engenheiro e ad­mi­nistrador de empresas João Dionísio Amoêdo, de 55 anos.

Amoedo é um líder muito competente, estrategista, inovador e acima de tudo hu­mano. O testemunho é de Elison Ber­nar­des, empresário goiano integrante do Novo. “Conheço-o desde 2011, com o propósito das coletas de fichas para o registro do partido. É sempre muito focado nos objetivos e pron­to para mostrar os melhores caminhos, in­clusive, em relação ao No­vo, nos alertava quan­­to a evitar atalhos.”

Bernardes destaca o la­do humano do correligionário: “É um homem de fa­mí­lia, casado há 30 anos e com bastante exem­plos quando falamos de metas. Ousado, dis­putou ironmans, foi o ‘estagiário que chegou a presidência’. Tem ca­pacidade comprovada de gestão e engajamento de pessoas. É o nome da ponta para o exercício da Presi­dên­cia, principalmente se formos comparar as bio­grafias e os resultados construídos ao lon­go da história dele!”

A candidatura de João Amoêdo se deve à insatisfação com a política tradicional e a cri­se institucional e o objetivo é, caso vença a eleição, implementar suas ideias de uma eco­nomia liberal no País, de reduzir o papel do Estado, equilibrar as contas públicas e rea­lizar as reformas estruturais.

Participar

Em entrevista à revista “Dinheiro”, no fi­nal do ano passado, o pré-candidato, que nun­ca disputou cargo eletivo, afirmou que por ser um novato na política nacional, quer fa­zer o contrário do que os velhos políticos fa­zem. Ganhar a eleição é a meta, mas uma der­rota não será considerada um fracasso.

O fundamental, disse, é participar, in­flu­en­ciar e interferir na reconstrução da política nacional, para que o debate de ideias ocu­pe o espaço do discurso populista que tem dominado as últimas disputas. “Não bas­ta ter só um nome novo na política, é pre­ciso ter postura e atitude novas.”

Mas, lançar um desconhecido sem histórico na vida pública como candidato seria uma estratégia inteligente do Novo? A missão que o partido se propôs é de atrair a so­cie­dade civil para participar ativamente da po­lítica. As credenciais do pré-candidato à Pre­sidência pela sigla estão ligadas à carreira cons­truída como executivo do mercado fi­nan­ceiro, onde iniciou no Citibank, no final dos anos 1980, antes de ingressar no banco de investimentos BBA.

João Amoêdo tinha uma pequena participação societária no BBA, o que leva pessoas a se referirem a ele como banqueiro, em­bora essa divisão do negócio com executivos seja uma prática de todo o mercado fi­nan­ceiro. Ele foi membro do conselho de ad­ministração do Itaú-BBA até 2015, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ho­mo­logou o registro de criação do Novo.

O Novo é o primeiro partido, entre as 35 si­glas registradas do Brasil, a não ter vergonha de assumir ser de direita e liberal. A sigla de­fende o fim das coligações partidárias, usadas para vencer eleições a qualquer custo. E quer a privatização de estatais como Petro­brás, Correios e Banco do Brasil.

Uma das preocupações do pré-candidato é justamente não se colocar como personificação do Novo, ao con­trário do que acontece nos partidos tradicionais ancorados em uma figura conhecida. Os críticos preferem di­zer que esse é o “partido de banqueiros” ou que prega o estado mí­ni­mo. Segundo João Amoêdo, essas definições buscam complicar o entendimento do que ele quer para o Brasil: um Estado mais sim­ples e menos burocrático.

O argumento do Novo é que a proposta é ter o cidadão máximo, ou seja, que o go­verno influencie minimamente na vida do ci­dadão. É um contraponto ao modelo em vi­gor, no qual o governo se compromete a fa­zer quase tudo, mas não tem conseguido en­tregar serviços públicos satisfatórios.

João Amoêdo tem pregado a busca pela efi­ciência na gestão, lembrando que fora dis­so os cidadãos acabam dando mais po­der para o Estado aumentar a carga tributária, porque o dinheiro que é entregue a ele não é suficiente para atender as necessidades. “Acreditamos que cada um é o melhor ges­tor de sua vida e o governo tem de atuar nas áreas essenciais, como educação básica, saú­de e segurança.”

Há um formulador por trás de todas as ide­ias econômicas de João Amoêdo, o economista Gustavo Franco (um dos “pais” do Pla­no Real), que se filiou ao partido no ano pas­sado e passou a comandar a Fundação No­vo, o think tank das ideias econômicas da sigla. Franco disse que teve no Novo a aco­lhida que não encontrava mais no PSDB, seja para desenvolver seus estudos e in­fluenciar as decisões ligadas à economia, seja pela indignação com o fisiologismo de­monstrado pelo tucanato no poder.

O pré-candidato do Novo à Presidência tem discurso sereno, tranquilo e dificilmente ergue o tom de voz. Gosta de convencer com bons argumentos e instigar o desafio. É um dos candidatos de “direita” que os eleitores brasileiros poderão escolher em outubro.

Flávio Rocha quer reformas para aliviar o peso do Estado

Flávio Rocha: Estado já custa
quase metade da produção nacional

Empresário da rede varejista Riachuelo, Flá­vio Rocha filiou-se em março ao PRB do Rio Grande do Norte e foi oficializado co­mo pré-candidato à Presidência da Re­pú­bli­ca. Fundador do movimento Brasil 200 (em alu­são aos 200 anos de independência do país em 2022), Rocha já vem participando de eventos em que apresenta propostas pa­ra os próximos anos.

Ele esteve na semana passada em Goiâ­nia, para lançar o Brasil 200, carro-chefe de sua pré-campanha, quando reafirmou seu ideá­rio liberal, defendendo menor intervenção estatal na economia e reformas como a tra­balhista e a da Previdência.

Segundo disse, o movimento foi fundado na crença de que as economias livres ba­sei­am os países prósperos. Afirmou que o Bra­sil vem sofrendo um processo de queda de competitividade, por­que o Estado, em vez de ajudar, atrapalha as forças produtivas. O ob­jetivo final, afirmou, é juntar trabalhadores e em­presários para re­con­quistar a competitividade perdida.

Ele prega a necessidade de abrir a economia nacional, porque o Bra­sil é um dos 30 países mais hostis ao in­ves­timento. E afirmou que é candidato a presidente, para ser o guar­dião da competitividade: “Porque podemos, com quatro reformas, devolver a capacidade de competir e atrair investimentos. Es­se é o caminho para as conquistas sociais: a geração de empregos.”

Rocha elencou as quatro reformas que considera fundamentais: trabalhista, tributária, previdenciária e a do Estado. Disse que a reforma trabalhista, feita por Michel Te­mer, já está mostrando efeito. “As brigas en­tre capital e trabalho eram um triste recorde brasileiro. Isso caiu em alguns Estados mais de 75%.”

Considera a reforma tributária a mais im­portante para dar competitividade ao em­presariado brasileiro. E a da Previdência, que o governo Temer vem tentando fazer sem sucesso, Flávio Rocha disse que não é pre­ciso que abranja “os 32 mi­lhões de simples mortais, mas sim 1 milhão de privilegiados que são responsáveis por três quartos do déficit”.

A quarta reforma, do Estado, o empresário coloca sua necessidade para tornar mais leve a máquina pública. “Hoje, do jeito que está, o Estado já custa quase a metade do esforço de produção nacional.”

Não é neófito

O empresário dono da Riachuelo tem se des­tacado no noticiário desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 — as in­for­mações que seguem são de recente reportagem da revista “Exame”. Flá­vio Rocha tem se posicionado nos principais eventos da vida pública brasileira nas últimas décadas. Foi deputado federal duas vezes. No primeiro mandato, foi elei­to deputado constituinte pelo PFL (atual DEM) e ajudou a redigir a Constituição. Durante o mandato migrou pa­ra o Partido Liberal (PL).

Depois da promulgação da Constituição, Rocha filiou-se ao PRN. Foi reeleito deputado em 1991 e de­pois voltou ao PL. Nessa época apresentou a proposta do Imposto Único, uma alíquota de 2% sobre todas as operações financeiras, a ser repartida entre credor e devedor.
Em 1994, Rocha tentou pela primeira vez ser presidente do Brasil. A campanha naufragou num confuso episódio de cai­xa 2 em seu comitê.O PL passou a apoiar Fer­nando Henrique Car­doso, do PSDB, que ven­ceu a eleição.

Depois de uma tem­porada nos Esta­dos Unidos, Flávio Ro­cha assumiu o controle do grupo Guararapes, sem se afastar to­tal­mente da política. Em sua gestão, a Ria­chuelo teve lucro re­corde em meio à re­ces­são econômica. Mas tam­bém se viu às voltas com denúncias de tra­balho escravo.

Neste ano, Flávio Ro­cha passou a encabeçar o movimento de em­presários Brasil 200 — alusão aos 200 anos de independência do país, que se­rão comemorados em 2022, quando termina o mandato do presidente que for eleito em 2018.

O manifesto do movimento prega o estado mí­nimo, a independência das empresas e a mo­ralização dos costumes. Entre as 10 propostas do movimento, há desde o combate ao conceito de luta de classes, passando pe­la afirmação de que “empreendedores e co­la­boradores não são inimigos; eles cooperam pelo crescimento da nação” até a defesa do conservadorismo, da “escola sem partido e sem erotização precoce, respeitando o senso comum e as famílias”.

Como pré-candidato, Rocha já recebeu o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), gru­po de renovação política que ganhou for­ça durante os protestos pedindo o im­peachment de Dilma Rousseff em 2015. Em março, filiou-se ao PRB, o braço político da Igreja Uni­ver­sal do Reino de Deus, para tentar a Presi­dên­cia da República.

Rocha se define como liberal na economia, reformista, privatista e conservador nos costumes. Afirma que sua candidatura bus­ca preencher a “lacuna” que existe na po­lítica brasileira, ao tentar superar o que cha­mou de “ciclo” do agigantamento do Estado e da inversão de valores.
“Queremos representar um contraponto a tudo isso. Quero resgatar o protagonismo individual e representar um contraponto a esse período de inversão de valores, que levou a degradação das práticas políticas”, disse.