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Tragédia ocorrida em Pernambuco escancara o tipo de mazela brasileira que teimamos em varrer para debaixo do tapete

De vez em quando acontece alguma coisa para jogar na cara de todos o quanto o Brasil é um país hipócrita, que varre suas mazelas para debaixo do tapete. A morte do menino Miguel Otávio é um desses momentos em que o racismo velado, a desigualdade escamoteada e a cordialidade fingida são escancarados e saem do armário com tanta força que nos obriga a abrir os olhos.
Miguel Otávio era negro, como negro é sua mãe, Mirtes de Souza, como negras são a grande maioria das empregadas domésticas neste país. E, claro, Mirtes servia uma família branca: o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker Corte Real, e a primeira-dama do município, Sarí Mariana Gaspar Hacker Corte Real.
Apesar de ser prefeito de um município localizado a 260 quilômetros de Recife, uma viagem que pode durar quatro horas, Sérgio mantinha residência na capital pernambucana. Era lá que estavam Mirtes, Miguel Otávio e Sarí. O prédio é conhecido como Torres Gêmeas – um símbolo do provincianismo e do deslumbre da elite brasileira. Como tudo que está ruim pode piorar, descobriu-se que a mãe, agora enlutada, é registrada como servidora de Tamandaré – sem o saber.
Todo o cenário em torno da tragédia remete aos quadros de Jean-Baptiste Debret. O pintor francês deixou os principais retratos do Brasil colonial. Neles, retratou a rotina da casa grande e das senzalas, dos pelourinhos e dos mercados. É como se o caso Miguel Otávio nos transportasse tal qual uma máquina do tempo para o período em que a escravidão ainda vigorava legalmente nos tristes trópicos.
Miscigenação
Na obra-prima Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre aborda o processo de miscigenação ocorrido no Brasil colônia. Por falta de mulheres brancas, os senhores de engenho se deleitavam com as mulheres negras. Os meninos, invariavelmente, se iniciavam sexualmente com elas. Parte do caráter nacional forjou-se assim: com a exploração da força de trabalho e dos corpos de homens e mulheres trazidos à força nos navios negreiros.
O Brasil foi o último país democrático a romper oficialmente com a escravidão. Suas chagas continuam abertas: são os negros que lotam os presídios e os necrotérios nacionais. Agora, são eles que sofrem mais com a Covid-19. Nas redes sociais, chamam isso de mimimi. Não à toa Humberto Eco a caracterizou como porta-vozes de imbecis.
O caso Miguel Otávio empresta a esses contornos traços de crueldade. A mãe do menino cuidava da filha do patrão. A patroa não cuidou dele. No momento da tragédia, Mirtes não podia dar atenção ao próprio filho. Porque cuidava do cachorro dos patrões. É duro, mas é preciso dizer: a criança morreu porque o cãozinho precisava fazer cocô.
Estados Unidos
Não é mera coincidência que a morte de Miguel Otávio tenha ocorrido no mesmo momento em que os Estados Unidos literalmente se incendeiam em meio a manifestações que combatem o racismo. Lá, como cá, os negros são as maiores vítimas da polícia – sim, vítimas, porque, no caso de George Floyd, como nas favelas brasileiras, o que ocorreu foi um homicídio causado por um sádico que usava uniforme.
Nem parece, mas, 65 anos após Rosa Parks e de Martin Luther King, a maior democracia do planeta ainda carrega seus demônios raciais sobre os ombros. Os mesmos que assombram os negros brasileiros em cada esquina, em cada elevador, em cada loja de grife.

civis nos Estados Unidos
Mito da igualdade racial
Um dos grandes problemas do racismo no Brasil é o não reconhecimento dele. O mito da igualdade racial impede que a questão seja encarada como deve. Mas o racismo de cada um se revela em todos os instantes: nas piadas, na linguagem, no medo quando se anda pelas ruas.
Admitir, ouvir, aprender, corrigir, compreender, evitar repetir os erros faz parte do aprendizado cotidiano para superá-lo. Algumas políticas de afirmação, como as cotas nas universidades, são o primeiro passo. Porém, a mudança real só ocorrerá quando ela estiver no olhar.
É como diz o mantra dos alcoólicos anônimos: “Acima de tudo, faça-o um dia de cada vez”.

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Em seminário realizado nesta quarta-feira (3), em Brasília, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), apresentou um panorama da população negra empreendedora e as dificuldades enfrentadas pela falta de medidas que os apoiem como empresários. Eles ainda enfrentam dificuldades em conseguir acesso a crédito bancário, mesmo sendo parcela mais presente nos micro e pequenos negócios. Essa situação acaba impondo alguns limites para o desenvolvimento e ampliação dos seus empreendimentos. O professor Marcelo Paixão, do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressalta que essa situação é consequência da posição histórica dos negros no Brasil. "A dificuldade de se conseguir empréstimos bancários se dá à luz do grau de confiabilidade no agente que pede", afirma Paixão. A ministra da Seppir, Luiza Bairros, considera importante a criação de medidas e de estratégia para a inclusão e participação desses pequenos empreendededores na economia. "O trabalho da Seppir, hoje, é estimular agências, a exemplo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, dos bancos do Brasil e do Nordeste para desenvolver ações e metodologias no sentido de aumentar o acesso ao crédito para esse segmento", disse a ministra.