Reportagens
Entre incertezas e expectativas, as eleições municipais deste ano já têm fortes concorrentes que devem trazer acirramento para a disputa de outubro
Cientistas explicam por que epidemias virais, como o coronavírus, assolam a China periodicamente e por que não podemos evitá-las
Jessica Bahia Galvão Santos é gerente de marketing da empresa UK Fang Education China, que presta serviços para alunos chineses que querem estudar em boarding ou day schools no Reino Unido. Graduada em Relações Internacionais e pós-graduada em Negócios Internacionais, Jessica Santos acompanha de perto a evolução da epidemia. A brasileira visita intermitentemente a China desde 2012. Há dois anos, vive e trabalha em Shanghai, onde também estudou a língua chinesa na Fudan University. Jessica Bahia Galvão Santos contou ao Jornal Opção seu ponto de vista sobre o novo coronavírus que assusta o mundo.
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Jessica Bahia Galvão Santos | Foto: Arquivo Pessoal[/caption]
Como o governo chinês tem lidado com o novo coronavírus?
O governo chinês está super consciente do problema e orienta a população a ficar em casa. Fecharam lugares de grandes aglomerações como parques, bares, boates, templos, restaurantes e pontos turísticos. Além disso, orientam a população a manter uma alimentação saudável e tomar bastante líquido para melhorar o sistema imunológico, usar máscaras, lavar as mãos e fazer gargarejos.
Na China, os hospitais são muito lotados porque a população é muito grande; com essa situação estão mais lotados ainda. O governo decidiu criar um hospital do zero para atender as vítimas do coronavírus. A proposta é de construir em apenas dez dias, uma coisa impressionante. São muito conscientes do problema. É possível acompanhar ao vivo a construção do hospital na internet.
Estão pedindo para as pessoas chegar com quatro horas de antecedência a voos porque fazem um check-up médico assim que se chega ao aeroporto. A província de Hubei está basicamente fechada, não há transportes entrando ou saindo da cidade.
Médicos estão sob muita pressão, trabalhando em turnos de 20 horas com 3 horas de descanso. Tiveram de cancelar todos eventos com família para cuidar da situação. Acreditamos que essa semana será crítica porque o período de incubação do vírus é de 14 dias, havendo um pico previsto até o dia 10 de fevereiro. Mas, mesmo que hajam muitos casos, é uma situação controlada quando se pensa no número de habitantes.
E a situação em Shanghai?
A situação não é tão crítica aqui. Há 112 casos confirmados, uma morte e cinco recuperações. A população total é de 26 milhões. A média de idade dos mortos é de 75 anos e são pessoas com sistema imunológico fragilizado. Por isso, sempre alertam para a importância da hidratação e dieta equilibrada. Além disso, existem os casos de recuperação, o que é positivo.
Shanghai é uma cidade que não pára e a qualquer hora do dia tem muito movimento. Mas, nesta semana, saí com minha scooter e vi cidade completamente vazia, com pouquíssimos carros, apenas alguns entregadores porque franquias de restaurantes ainda fazem delivery. Eu não estou saindo de casa, não sei se restaurantes continuam recebendo pessoas, mas estão fazendo entregas, bem como supermercados.
Como é o contato das pessoas com animais? A sopa de morcego é mesmo real?
Sopa de morcego é uma iguaria, sim. Não é algo que comemos todos os dias, mas a população mais antiga tem suas crenças e, de fato, às vezes comem esse tipo de carne, mesmo que não seja comum. Já vi morcego, cérebro de macaco, cobra, besouros em restaurantes. Existem também mercados de animais silvestres que vendem animais como morcego, macaco, faisão, leopardos, porcos-espinho.
A população colabora com orientações do governo? Os chineses estão com muito medo. Todos realmente seguem todas as instruções do governo e sempre escuto os moradores repetindo uns para os outros, “use máscara, lave as mãos”. As pessoas já utilizam máscara normalmente por conta da poluição e moda – é uma coisa dos asiáticos, acham fashion. Mas agora todos usam a máscara. Atividades que reúnem pessoas em escolas, transporte público, mercados e lazer continuam normalmente? Nesta semana tivemos o ano novo chinês, um feriado de uma semana. As pessoas começariam a trabalhar na quinta-feira, 30 de janeiro, mas o governo estendeu até o dia 09 de fevereiro. Escolas aguardam até o dia 17 de fevereiro para voltar às atividades normais. E aqui na China, trabalhamos dia a mais para compensar dias que não trabalharemos no feriado. Então, para fazer isso, é sinal de que a coisa está séria. Lazer, esquece. Até salas de cinema estão fechadas. Condomínios residenciais também estão passando as recomendações e são visitados por agentes de saúde que medem a temperatura. O principal sintoma do coronavírus é uma febre muito alta. O que ouvi de amigos que trabalham em hotéis é que quando se faz check in, há alguém para medir sua temperatura. Você acha que o medo é justificado? Em nosso grupo de brasileiros no WeChat (versão chinesa do Whatsapp), tentamos acalmar todo mundo e desmentir as fake news, que também estão sendo muito propagadas. Não acreditem em vídeos de pessoas caindo na rua e desmaiando em hospitais. Está sendo passada uma impressão extrema do que está acontecendo aqui, e esta não é a verdade. As pessoas estão estocando comida e água em casa, mas isso é normal com a redução de mercados e restaurantes. A situação não está apocalíptica, é até bastante controlada em Shanghai. Sempre penso que, se a população brasileira tivesse tanta consciência em relação a dengue quanto a população chinesa está tendo com o coronavírus, a dengue seria um problema muito menor. Você tem notícias de como outros países tem tratado emigrantes da China? Companhias aéreas como Air Canada, American Airlines, British Airways, entre outras, suspenderam viagens para a China – em parte por uma razão econômica, já que muitas pessoas estão cancelando seus voos, mas também em parte pelo medo de espalhar a doença. Entretanto, tenho amigos brasileiros residentes na China que foram à países como Singapura e relataram não passar por nenhum procedimento especial quando chegam voos da China. O aeroporto de Guarulhos não está tomando nenhuma medida preventiva. Brasileiros que vão daqui para o GRU relatam que não há triagem, medição de temperatura, e alguns contam que foram à representação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do aeroporto, mas ouviram que nada podia ser feito. Então, a questão do controle brasileiro é super negligenciada.Se a população brasileira tivesse tanta consciência em relação a dengue quanto a população chinesa está tendo com o coronavírus, a dengue seria um problema muito menor
Como surgiu e o que a ciência faz para controlar o coronavírus
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Pesquisadoras do Laboratório de Virologia e Cultivo Celular explicam como novos vírus podem emergir e se disseminar rapidamente | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
No dia 31 de dezembro, a OMS foi informada de um conjunto de casos de pneumonia de causa desconhecida detectados na província chinesa de Hubei. No início de janeiro, foi anunciado que um novo coronavírus havia sido identificado, vinculado a um mercado na cidade de Wuhan. A notificação rapidamente tomou conta dos noticiários internacionais, provocando reação de líderes mundiais para conter a epidemia, o que, por sua vez, conquistou ainda mais espaço em noticiários.
Entretanto, quando comparados, os números da nova doença – 213 mortes e 9.1 mil infecções até o fechamento desta edição – ainda são inferiores aos do arbovírus causador da dengue, que em 2019 quebrou recordes históricos fazendo 1.206 mortes e 2,7 milhões de infecções apenas nas Américas. Portanto, o que explica o medo que a nova infecção respiratória tem gerado?
Em parte, o temor pode ser explicado pelas memórias da SARS de 2003; da gripe aviária de 2009; da gripe A de 2009; e de tantas outras infecções virais nascidas na China. Embora a letalidade do novo coronavírus (estimada em 2%) não alcance à da SARS (cerca de 4%), ainda é suficientemente alta para gerar preocupação – a taxa é muito mais alta do que a do dengue, por exemplo.
Além disso, em apenas um mês o novo coronavírus infectou mais do que o SARS em todo ano de 2003. Também é grave o fato de que, ao contrário da gripe aviária, pode ser transmitido de pessoa para pessoa, e não apenas de animais para humanos. Por último, o período de incubação parece durar até 14 dias. Nesta fase, o hospedeiro pode transmitir a doença sem manifestar seus sintomas.
Pelo que tudo indica, o novo agente reúne características necessárias para causar uma pandemia e ainda alia outro ingrediente importante para criar pânico: o desconhecido. Cientistas ainda não sabem exatamente como esta variante do coronavírus é transmitida, sua patogenia e sua taxa de mortalidade. Por ser novo ainda, não há indivíduos com imunidade contra a infecção, o que facilita sua dispersão.
A origem do vírus chinês
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Fabiola Fiaccadori explica que o coronavírus não era um problema até conseguir ser transmitido entre animais e humanos | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
Fabiola Souza Fiaccadori (Doutora em Microbiologia pelo PPGMTSP/IPTSP/UFG) e Menira Borges de Lima Dias e Souza (Ph.D pela The Ohio State University) são professoras e pesquisadoras na área de Microbiologia do Laboratório de Virologia e Cultivo Celular (LABVICC) do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. As professoras explicam como novos vírus podem emergir e se disseminar rapidamente, bem como o que a ciência pode fazer para combatê-los.
As pesquisadoras explicam que o sequenciamento do genoma do novo coronavírus mostrou muita semelhança (identidade maior que 85%) com variantes que já circulavam entre morcegos. “Em humanos, os coronavírus são reconhecidos como causadores de doenças semelhantes a um resfriado comum. Entretanto, existem coronavírus associados a infecções em diferentes espécies animais, como cães, gatos, suínos e morcegos, o que favorece a recombinação genômica entre vírus de diferentes espécies”, explica Fabíola Souza Fiaccadori.
Os vírus em geral são instáveis, podendo sofrer mutações pontuais durante o processo de replicação dentro da célula do hospedeiro, consertando mal os erros da própria replicação. Esta variabilidade, aliada à pressões (como a defesa imunológica) que selecionam vírus com a qualidade do spill over e rápida disseminação, faz com que eventualmente surja uma mutação que rompe uma barreira entre hospedeiros.
Menira B. L. D. e Souza diz: “vários publicações científicas realizadas com amostra de arquivo revelam que, quando se tem notícias de um vírus novo, na verdade ele já estava se replicando e circulando em alguma população”. Fabiola Fiaccadori acrescenta: “Em geral, nestes casos, o início é caracterizado pela ocorrência de casos esporádicos e aleatórios que dificultam a identificação e notificação. Entretanto, a partir da adaptação da variante viral, esta pode se adaptar na população e estabelecer um surto”.
Os indícios sugerem que uma das mutações que fez surgir todo o problema ocorreu no gene que codifica a Proteína S, que se localiza na superfície do envelope viral e portanto muda a forma com que o vírus reconhece células de hospedeiros e também tem efeito na resposta imunológica à infecção. O contágio entre morcegos e humanos parece ser favorecido pelo contato próximo entre pessoas e animais em feiras e mercados de animais silvestres que existem na China.
Fabiola S. Fiaccadori afirma que há ainda outra característica desses vírus importante para explicar o fenômeno: “Em uma mesma célula infectada por diferentes vírus, pode ocorrer a recombinação, como troca de material genético, o que levando ao surgimento de novas variantes virais”.
Cura à vista
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Menira B. L. D. e Souza conta como o reservatório animal dos morcegos garante um espaço onde vírus podem se replicar e sofrer mutações livres de vacinas | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
Ao contrário dos coronavírus, o causador da dengue não tem perfil de ampla variabilidade. Porém, isso não significa que o perigo está descartado. Fabiola S. Fiaccadori lembra que o vírus zika tinha variabilidade ainda inferior ao vírus dengue, mas se tornou responsável por uma epidemia caracterizada como de Emergência Internacional. “O vírus zika originalmente caracterizado como agente de infecção branda, após evento de variabilidade, estabeleceu novas vias de transmissão e se tornou capaz de causar patogenia diferenciada, até casos graves como complicações neurológicas”. Para isso, o zika necessitou apenas de pequenas mutações.
A letalidade da doença provocada depende de diversos fatores. Primeiro, a taxa de replicação do vírus no corpo é determinante. A capacidade de se disseminar pelo organismo antes de o corpo produzir uma resposta imunológica era uma característica conhecida da SARS, que podia passar para os pulmões sem ficar detida no trato respiratório superior, de modo que não havia tempo para o organismo montar sua defesa.
Com a alta letalidade do coronavírus, esforços têm sido feitos para desenvolver uma vacina. O sequenciamento de seu genoma foi feito em tempo recorde, nos Estados Unidos. Fabiola S. Fiaccadori explica como o sequenciamento auxilia no desenvolvimento da vacina: “Se consigo a informação da sequência genômica, deduzo quais proteínas o vírus tem. O que a vacina faz é mostrar ao sistema imune a composição da proteína de um invasor para que uma resposta protetora e eficaz possa ser produzida contra o agente infeccioso.”
O sucesso não é garantido, entretanto. Com o reservatório animal dos morcegos, vírus têm uma fonte onde podem replicar e sofrer mutações livres de vacinas. Além disso, Menira B. L. D. e Souza explica que o procedimento para que uma vacina para ser licenciada e comercializada não é simples, levando em média de 8 a 10 anos.
“Primeiro há testes de citotoxicidade em cultura de células e testes de dosagem e segurança. Aí então, pode-se fazer testes em animais. Depois, ensaio clínico com poucos voluntários. Verificadas questões de segurança e eficácia, outro ensaio clínico é feito, com maior número de indivíduos em diferentes países e de diversas faixas etárias. Por último, esses dados são analisados para compreender se vale a pena investir milhões de dólares – o ideal é que a vacina seja eficaz contra pelo menos as variantes mais frequentes daquele vírus”, diz Menira B. L. D. e Souza.
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Cientistas explicam que processo de produção de vacinas levam em média 9 anos | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]
A maioria dos vereadores já se preparam para encarar o período eleitoral diante das novas regras do jogo. Um já desistiu da disputa. Outros, apesar de anunciarem que tentarão a reeleição, garantem que não será pela mesma sigla. E há, ainda, quem descarte qualquer mudança de estratégia política
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, o objetivo é entregar 17 policlínicas até 2022
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Em Posse, Policlínica deve ser inaugurada em 28 de fevereiro deste ano / Foto: SES[/caption]
"Vamos apertar pra valer agora", disse o governador Ronaldo Caiado em visita ao município de Posse em meados de janeiro deste ano. A declaração se referia à Policlínica, que, em reta final, está prevista para começar a funcionar a partir do final de fevereiro. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde Goiás, a inauguração da unidade de saúde marca um processo de regionalização dos serviços de saúde no Estado.
Conforme a pasta, o objetivo é entregar 17 policlínicas até 2022. Por meio da policlínica, Caiado pretende oferecer serviços especializados de média complexidade e alta resolutividade, em articulação com a atenção básica e assistência hospitalar, “oferecendo à população da região o acesso ambulatorial às especialidades médicas diversas”.
De acordo com a Secretaria, o modelo de policlínicas que vem sendo implantado em Goiás está espalhado pelos Estado de São Paulo, Bahia, Ceará e Paraná. Ele oferece um conjunto de ações e serviços para cada especialidade ofertada, conforme os processos clínicos ou problemas de saúde mais relevantes e/ou prevalentes em cada região. Em Goiás, além de Posse, os municípios de Goianésia, Quirinópolis, Formosa, Cidade de Goiás e São Luís de Montes Belos também já estão com as obras em andamento. Segundo o titular da Saúde, Ismael Alexandrino, as unidades de Posse, Quirinópolis e Goianésia
A Secretaria afirma que as policlínicas de Goianésia e Quirinópolis devem ser inauguradas ainda no primeiro semestre deste ano, mas as datas exatas ainda não foram divulgadas. Já as de Posse, Quirinopólis e Goianésia estão com licitação encaminhada para a escolha da Organização Social (OS) responsável pela gestão das unidades.
O governador Ronaldo Caiado também anunciou a construção da unidade em Campos Belos, na fronteira com o Tocantins. Anteriormente, em entrevista ao Opção, Alexandrino havia afirmado que as unidades que ainda não haviam sido anunciadas, à época, provavelmente seriam a de Campos Belos e Porangatu. “São duas cidades que estão praticamente definidas. Pegamos a faixa Norte completa e assistimos o Estado com especialidade, diagnóstico e terapêutica”, declarou.
A entrega da policlínica de Campos Belos está prevista para 2021, com um investimento total de R$ 13 milhões, sendo R$ 8 milhões investidos na obra e R$ 5 milhões em equipamentos.
O secretário informou que Goiás possui 18 Regionais de Saúde agrupadas em cinco macrorregiões. De acordo com ele, 17 terão policlínicas, com exceção da Região Central, que corresponde a Goiânia, por “concentrar maior número de equipamentos e unidades de saúde no Estado”. Para Alexandrino, o objetivo é o de levar assistência ao interior e “assim evitar que o paciente tenha que ficar se deslocando até a capital”. “Para o Estado, isso significa menos custo. O exame que se faz na capital inclui o custo do transporte. Uma tomografia em Posse em uma unidade privada, a prefeitura paga R$ 500. A tabela SUS paga em torno de R$ 138. O custo da nossa tomografia ficará em torno de R$ 138 ou um pouco mais pelo custo agregado de rateio de energia e outros detalhes. Com o laudo, o valor é pago pelo Ministério da Saúde. É um valor que sai do Tesouro da prefeitura. Direta e indiretamente, o Estado está ajudando o município. A diferença de R$ 500 para R$ 138 o município não tem que pagar mais. Multiplique isso por mil exames”, disse o secretário na entrevista concedida ao Opção.
Policlínica de Posse vai oferecer 19 especialidades e mais de 10 mil consultas mensais
Prevista para ser inaugurada no dia 28 de fevereiro deste ano, a primeira policlínica da “leva” de unidades de saúde a serem entregues à população de Goiás está localizada na Avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira, setor Buenos Aires, em Posse. A unidade funcionará de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e prestará serviços de consultas, exames e procedimentos médicos em áreas como fisioterapia, laboratório clínico, hemodiálise e exames de imagem, como mamografia, tomografia, densitometria e ultrassonografia. Realizará cirurgias menores ambulatoriais e atuará ainda como serviço de apoio diagnóstico e terapêutico. São 3.775 metros quadrados de área construída, 26 consultórios, 16 salas para exames, posto de coleta do laboratório, farmácia, posto de enfermagem, central de esterilização de material e salas destinadas à administração. Conforme a Secretaria de Saúde, estarão disponíveis 19 especialidades médicas e 6 não médicas; mais de 10 mil consultas e até 25 mil exames de diagnóstico por mês. A policlínica pretende oferecer atendimento a uma população de 31 municípios integrantes da Macrorregião Nordeste de Goiás, composta por 1.207.393 habitantes. Serão atendidas as seguintes regiões: Entorno Norte: Água Fria de Goiás, Alto Paraíso, Cabeceiras, Flores de Goiás, Formosa, Planaltina, São João d’Aliança e Vila Boa; Entorno Sul: Águas Lindas de Goiás, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás; Nordeste I: Campos Belos, Cavalcante, Divinópolis de Goiás, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás; Nordeste II: Alvorada do Norte, Buritinópolis, Damianópolis, Guarani de Goiás, Iaciara, Mambaí, Nova Roma, Posse, São Domingos, Simolândia e Sítio D’Abadia. Entretanto, conforme informado pela Secretaria de Saúde, as policlínicas, como a de Posse, não possuem o sistema “porta aberta”. Os pacientes serão atendidos inicialmente, em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em seguida encaminhados por meio do Complexo Regulador Estadual, com horário agendado. As vagas são disponibilizadas proporcionalmente ao número de habitantes de cada município que compõem a região de abrangência da policlínica.
Com 14 pré-candidatos a prefeito, a Assembleia deve ver alguma rotação de representantes com parlamentares sendo eleitos e se licenciando para fazer campanha
O trabalho realizado pelo Corpo de Bombeiros pode levar tempo, uma vez que alguns lojistas fornecem dados que não estão cadastrados para o certificado de segurança
O modelo pediátrico tem interface interativa de jogos com personagens e desenho animado
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Crianças se divertem enquanto reaprendem a andar na AACD | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption]
O Lokomat é um exoesqueleto de alta tecnologia que pode se prender a um paciente imobilizado por danos no sistema nervoso e fazê-lo andar sobre uma esteira. As respostas do corpo à repetição dos movimentos controlados pelo robô são interpretadas pela equipe médica e terapêutica que supervisiona o paciente. Ao longo de várias sessões, o movimento reproduzido é tão semelhante à marcha natural que áreas do cérebro associadas aos processos fisiológicos do caminhar são estimuladas. Assim, o aparelho literalmente reensina o corpo a marchar.
O equipamento produzido pela empresa suíça Hocoma não é barato ou de fácil acesso. Com custo médio de R$ 1,5 milhões, apenas o laboratório de robótica da rede Lucy Montoro e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possuem exemplares do Lokomat – todos na capital paulista. Goiânia será a segunda cidade do país a oferecer o tratamento, que será inteiramente público. Em cerca de três meses, o exoesqueleto robótico auxiliará a terapia de adultos e crianças no Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer).
Como mostra estudo publicado com base em análise de vinte anos de dados gerados pelo equipamento, o Lokomat é capaz de reduzir o tempo necessário para a recuperação da marcha em pacientes vítimas de AVCs, lesões encefálicas e medulares, indivíduos com síndromes de Guillain-Barré, Parkinson, esclerose múltipla e com dificuldades para caminhar durante recuperação pós-operatória. Entretanto, médicos afirmam que não se trata de uma cura milagrosa, mas de um método suplementar que auxilia o tratamento tradicional.
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Movimentos realizados pelo robô estimulam o sistema nervoso | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption]
Diretor técnico do Crer, o médico ortopedista João Alírio Teixeira afirma que o hospital público receberá módulos para atender crianças e adultos imobilizados por diversas causas. “O Lokomat move membros que a pessoa ativamente não consegue, fazendo parte da movimentação, estimulando a musculatura remanescente e o sistema nervoso”, explica o médico. João Alírio Teixeira afirma que o Crer espera atender primeiro dezenas de pacientes com lesão medular, que estão entre os maiores beneficiados pelo método.
Dez anos de caminhada
Desde 2010, uma unidade do Lokomat funciona na AACD, onde foram realizado mais de 27 mil atendimentos. Na associação, a equipe que acompanha o paciente no aparelho é composta por um fisioterapeuta, um médico avaliador e o técnico que auxilia no funcionamento da máquina. Pacientes são submetidos a ciclos de 24 sessões – no mínimo duas sessões de de 50 minutos por semana – e ao fim de cada ciclo há a análise dos resultados. O médico fisiatra Marcelo Ares é coordenador da equipe de fisiatria da AACD, em São Paulo, e explica sua experiência com o uso do Lokomat. Segundo ele, um dos fatores decisivos é a escolha do paciente a ser submetido à terapia, pois pacientes com comprometimento grave não conseguirão transferir os ganhos com aparelho para o solo e casos leves são pouco beneficiados. Além disso, o método não deve ser realizado isoladamente, sendo necessário que haja uma previsão da evolução do paciente. “O equipamento melhora a marcha de pacientes com capacidade de reabilitação, então é importante selecionar aqueles cujo potencial não é atingido por déficit de controle motor, dificuldade de equilíbrio, alteração na capacidade de propriocepção”, afirma Marcelo Ares. O fisiatra explica que nestes casos, além de atingir o objetivo principal da evolução da marcha, o Lokomat promove ganhos secundários. “O equipamento melhora o condicionamento cardiovascular, aumenta o tônus muscular e a autoestima. O paciente se vê andando, e isso é muito positivo. Trabalha também o raciocínio, atenção; são benefícios muito importantes”. [caption id="attachment_232874" align="alignnone" width="620"]
Módulo pediátrico conta com interface interativa | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption]
O fisiatra Marcelo Ares explica também quais são os fatores impeditivos para uma pessoa utilizar o equipamento: “O paciente precisa ter a cognição e atenção preservadas, além de querer colaborar com o método. Não pode ter deformidades estruturais nos membros inferiores. Além disso, é muito importante o acompanhamento das articulações e qualidade dos ossos com densitometrias ósseas e exames rotineiros de raio-x. O paciente não pode ter osteoporose ou poderá se machucar na máquina.”
Crer
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Crer acumula 17 milhões de atendimentos em toda sua história | Foto: Reprodução / Crer[/caption]
“Quando o Lokomat chegar a Goiânia, teremos de ter uma equipe multidisciplinar muito preparada o esperando”, diz João Alírio Teixeira, Diretor técnico do Crer. “A equipe também terá de selecionar muito bem quem fará esta terapia. Trata-se de um método complementar às terapias realizadas em solo que abrevia o tempo de tratamento e que oferece a vantagem de poder ser utilizado em diversas etapas do tratamento”, complementa o médico.
A fabricante suíça Hocoma lista possibilidades: mesmo pacientes com lesão medular completa, que não têm controle sobre os membros inferiores, o treinamento com Lokomat pode levar a alterações neuroplásticas e benefícios secundários, como a regulação da função intestinal e da bexiga. Também os indivíduos que já recuperaram parte da capacidade de locomoção podem ser desafiados com o treinamento com Lokomat. Por exemplo, o uso do robô para fornecer resistência em diferentes fases da marcha pode servir como uma espécie de musculação durante a caminhada.
Espera-se que a taxa de sucesso entre pacientes do Crer seja semelhante ao número de estudos randomizados controlados compilados pela Hocoma que apontaram resultados superiores entre pacientes que treinaram no Lokomat. Em 78 artigos publicados, 58 relataram vantagens para o treinamento no Lokomat e 11 reportaram resultados semelhantes, enquanto apenas 9 mostraram vantagens exclusivas para métodos alternativos de treinamento.
Em Goiânia
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Dr. João Alirio Teixeira discute a paralisia cerebral na Câmara dos Deputados | Foto: Reprodução / Otávio Praxedes / Câmara dos Deputados[/caption]
O equipamento destinado ao Crer foi adquirido com verbas de emenda parlamentar federal, destinada pelo deputado Vitor Hugo (PSL). O parlamentar afirmou que não conhecia o equipamento anteriormente e que foi procurado pelo superintendente executivo do centro de readaptação, o médico Sérgio Daher, com a indicação do que gostariam de adquirir. “Eu havia decidido dedicar a verba à saúde, mas queria que fosse algo palpável, concreto. Quando o dr. Sérgio Daher me mostrou o que tinha em mente, me decidi imediatamente”.
Quando perguntado o que o superintendente lhe disse para sensibilizá-lo para a causa, o deputado Vitor Hugo afirmou: “Primeiro foi a idoneidade e histórico do uso de recursos públicos da Associação Goiana de Integralização e Reabilitação (Agir) – organização social que gere o Crer. Eles são extremamente eficientes”.
“Em segundo lugar”, continua Vitor Hugo, “fui tocado pelo caráter humanitário. Eu já visitei o Crer algumas vezes e pude ver as pessoas imobilizadas que podem ter esperança de reabilitação. Me explicaram como a máquina retoma os movimentos, ensina o sistema nervoso da pessoa a realizar os movimentos do passado. Isso me convenceu”, conclui.
Colaboração Luiz Phillipe Araújo
Instituições de Ensino Superior comparam indicadores que não foram criados com objetivo de ranqueamento
No último mês, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou dois de seus principais indicadores: o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e do Índice Geral de Curso (ICG). As métricas são usadas para subsidiar o reconhecimento e recredenciamento de instituições de ensino. Além da função oficial, os números também são noticiados em diversos veículos (Jornal Opção incluído) como avaliação da qualidade da educação superior.
Entretanto, ao compreender que os índices podem ser usados para marketing institucional, faculdades e universidades encontraram formas de se destacar em listas ranqueadas – o que não é o propósito dos indicadores e gera protestos de instituições prejudicadas. Uma das distorções provocadas por esta competição, por exemplo, é que é possível para Instituições de Ensino Superior (Ies) elevarem seus índices sem necessariamente investir em corpo docente, infraestrutura ou recursos didático-pedagógicos.
O problema é conhecido e discutido na academia, e a distorção entre índices e qualidade real do ensino superior é reconhecida pelo próprio Inep. “Os resultados do IGC, assim como os de quaisquer outros indicadores sociais, não são um retrato exato das condições concretas da realidade observada, mas um indicativo sobre como os processos formativos estão ocorrendo nas instituições”, afirmou a assessoria de comunicação do instituto.
“Nesse sentido, o Inep vem desenvolvendo estudos a fim de aprimorar seus processos e estabelecer uma gama de indicadores capazes de contemplar dimensões e características diversas da Educação Superior, inclusive quanto às diferentes formas de organização administrativas das instituições”, concluiu a assessoria do órgão.
Entretanto, os proprietários das instituições ouvidos afirmaram entender os índices divulgados pelo Ministério da Educação (Mec) de maneira diferente. Os diretores gerais responsáveis por instituições melhor qualificadas de Goiás, Patrícia Mendonça, da Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps), e Adriano Valotto, da Faculdade Noroeste (Fan), afirmaram entender o IGC como parâmetro de ranking e comparação entre diferentes instituições.
O CPC avalia os cursos de graduação segundo o desempenho de alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e na avaliação de corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos. Ponderando a distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, o próprio CPC será usado para compor o IGC, junto com a média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu atribuídos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Entretanto, para as instituições que não possuem programas de pós-graduação stricto sensu, o resultado expressa apenas o compilado dos desempenhos dos cursos de graduação da instituição. Apenas três entre as dez instituições melhor ranqueadas oferecem mestrado e apenas duas têm programa de doutorado. Embora programas de pós-graduação pontuem em média melhor do que a graduação, este resultado pouco contribui para que Ies com pós-graduação tenham média mais alta, já que o número é ponderado pela quantidade de matrículas.
Isso significa que instituições menores são privilegiadas, pois não precisam investir esforços na pesquisa científica, rigorosamente medida e monitorada pela Capes. Em 2018, a Ies melhor avaliada em Goiás, a Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps), teve cinco cursos avaliados no CPC. Em segundo lugar, a Faculdade Noroeste (FAN), teve três. A Universidade Federal de Goiás (UFG) aparece em terceiro lugar, com 108 cursos de graduação. Para comparação, a Facunicamps teve 64 concluintes de curso avaliados pelo Enade neste triênio, a Fan apenas 8, e a UFG 478.
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Brasília - Candidatos aguardam abertura do portões do UniCEUB para o primeiro dia de provas do Enem 2017(Valter Campanato/Agência Brasil)[/caption]
Segundo a coordenadora adjunta na área de Ciências Biológicas I da pós-graduação, Célia Maria de Almeida Soares, coordenadores de pós-graduação têm como atribuição fazer relatórios anuais detalhando a produção científica, número de publicações, teses, ingressantes e formandos. “A cada quatro anos, a Capes monta um grupo de avaliadores para cada área que avaliam as Ies. Elas são classificados por conceitos, excelente, bom, muito bom, em notas que variam de 3 a 7 e que são utilizadas para concessão de bolsas ou fechamento de cursos”, afirma a professora coordenadora.
Sem a variável da pós-graduação, o IGC é idêntico ao CPC. Este, por sua vez, é calculado com base no Enade e na avaliação de corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos. Estes ativos são aferidos por questionário online respondido por estudantes no site do Inep em qualquer lugar com acesso à internet. De acordo com o Inep, “os cursos que obtiverem Conceito Preliminar de Curso (CPC) 4 ou 3 têm sido dispensados da avaliação in loco, uma decisão que compete à Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres)”.
Rogério Dentello, Coordenação Geral de Avaliação dos Cursos de Graduação e de Instituições de Ensino Superior do Inep, afirma sobre as avaliações in loco: “Nosso objetivo é avaliar as diretrizes educacionais de cada instituição e ajudá-las a melhorar. É diferente de uma supervisão do Mec quando há suspeita de fraude. As Ies se prepararam para receber-nos e avisam seus alunos que dedicarão a um tempo para a avaliação.”
Há ainda outro fator complicador com o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). O Inep define a variável como: “uma medida que busca mensurar o valor agregado pelo curso ao desenvolvimento do estudante no processo formativo, sendo um dos componentes do CPC. Conforme descrito na nota técnica de cálculo do IDD, não existe uma comparação direta entre as notas obtidas pelo estudante no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Enade. O objetivo do IDD é exclusivamente o de mensurar o valor agregado pelo processo formativo, sempre tomando como referência o nível de desenvolvimento do estudante quando do ingresso no curso avaliado”.
O IDD, portanto, é uma medida de quanto determinado aluno se desenvolveu desde a data em que entrou até quando saiu do ensino superior. Na lógica de competição que se estabeleceu, entretanto, quanto menor a nota do estudante no Enem e melhor na do Enade, melhor para a Ies. Ainda mais: Ies com menores notas no Enem necessárias para se ingressar se beneficiam da comparação ranqueada; como universidades disputadas têm “ponto de corte” mais alto, menor tende a ser o desenvolvimento compreendido ao final do curso.
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Capes tem sistema rígido de monitoramento de qualidade da pós-graduação, afirma Célia Maria de Almeida Soares | Foto: Reprodução / TV UFG[/caption]
A comunicação da Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps) afirmou: "Não fazemos propaganda enganosa, o que fazemos é divulgar o índice – aí vai de cada um saber se é de qualidade ou não é – mas é uma nota do MEC; uma avaliação contínua pela qual é possível comparar as Ies. Divulgamos uma nota oficial publicada pelo MEC".
"A FacUnicamps tem quase 100% do corpo docente formado por mestres e doutores, estrutura física indo para o quarto campus e atualmente dotada de laboratórios, auditório, salas de aulas equipadas, inúmeras atividades de extensão e extracurriculares, toda a grade disciplinar aprovada e monitorada pelo MEC, resultados bastante satisfatórios com os profissionais que coloca no mercado", concluiu a comunicação da instituição.
As cervejas artesanais e especiais caíram no gosto dos brasileiros e têm se tornado parte da cultura. Produtores e cientistas afirmam que ainda há muito espaço para o crescimento deste mercado
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Linha Asturia, da cervejaria Klaro Chopp, insere a marca no mercado de cervejas especiais | Foto: Reprodução / Vitor Mercez[/caption]
Nos últimos dez anos, o mercado brasileiro de cervejas especiais tem crescido exponencialmente. O interesse crescente no produto tem a ver com uma mudança de cultura que pode ser percebida nas ruas da cidade, onde é cada vez mais comum encontrar bares dedicados ao ramo. Mesmo grandes fábricas de marcas já consagradas no ramo das cervejas e chopes tradicionais têm dedicado esforços a criar linhas artesanais – como é o caso da Klaro Chopp, com sua linha Asturia.
Enquanto em 2009 eram 70 cervejarias, o último levantamento da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) aponta 700 fabricantes, fora os não registrados. Apenas em 2019, ano em que o estudo foi publicado o crescimento no número de fábricas foi de 35%. Este crescimento está longe de encontrar seu pico, segundo cervejeiros artesanais e tradicionais ouvidos, já que apenas 2,5% da cerveja consumida no Brasil é artesanal – para comparação, essa proporção é de 20% nos Estados Unidos.
Francielo Vendruscolo é Professor da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG). O Doutor em Engenharia de Alimentos tem experiência na área de processos biotecnológicos e cervejas artesanais, além de ser o idealizador e coordenador do Projeto Cervejamos, que tem por objetivo difundir a cultura da cerveja artesanal. O professor afirma que a própria definição de cerveja artesanal tem a ver com a característica única do produto:
“Cervejas Artesanais são aquelas produzidas sem sofisticações industriais, sem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sem intenção de comercialização, apenas consumo próprio. Pela dificuldade de controlar os fatores do processo, o cervejeiro dificilmente conseguirá repetir a mesma receita com as mesmas características sensoriais”, diz Francielo Vendruscolo. Ele traça uma diferença entre Cervejas Especiais, que possuem um padrão de identidade (mesmas características em lotes diferentes), registro no Mapa e têm intenção de serem viáveis comercialmente, mas que também tentam atender consumidores que valorizam a apreciação sensorial.
Como começar
Vitor Mercez, responsável pela cervejaria Asturia, criada em 2013, explica que seu interesse pelo produto artesanal começou cedo: “Minha família iniciou a Klaro Chopp há 15 anos em Goiânia, e desde meus 18 estou dentro da fábrica. Fiz cursos de degustação, não só pelo interesse do paladar, mas também para entender melhor o que fazemos, e acabei me interessando pela arte”. Ele conta que, além da linha Asturia, a Klaro Chopp também usa sua fábrica para produzir cervejas para marcas terceirizadas, chamadas “marcas ciganas”, que têm o rótulo, mas não o meio de fabricação. [caption id="attachment_231812" align="alignleft" width="300"]
Henrique Augusto Martins entrou no mundo das cervejas pela degustação | Foto: Reprodução / Arquivo[/caption]
Um destes rótulos é a Lola, criada pelo jornalista Henrique Augusto Martins. Ele conta como conseguiu profissionalizar seu hobby e empreender neste mercado: “Comecei degustando, como quase todo mundo começa. Vamos evoluindo nosso paladar e chega um ponto em que começamos a ficar curiosos com as possibilidades da produção. Descobri que dava pra fazer em casa, juntando amigos, montando associações, compartilhando equipamentos”.
O conselho de Henrique Augusto Martins para os que se interessam pela produção amadora é justamente conversar com alguém que já produza e se aproximar de congregações de cervejeiros, como a Acerva ou a Abracerva – ambas com representação em Goiás. Entretanto, empreender no mercado é um pouco mais arriscado e complexo. Henrique Augusto Martins afirma que produzia a modesta quantidade de 20 litros por vez lote quando, no evento de cervejas especiais Piribier, seu produto chamou a atenção do responsável pela fábrica da Klaro Chopp, Reginaldo Mercez. “Ele nos convidou para produzir em sua fábrica. Começamos sem saber como vender, fazer a distribuição ou o marketing.”
Este fator, segundo Vitor Mercez, é o principal desafio para aqueles que estão começando. “Muita gente produz cerveja como hobby e está legal, tem aceitação dos amigos e familiares. Mas, quando tenta empreender, acaba fracassando porque falta a parte profissional. Então, meu conselho para quem quer começar é estudar bastante, estudar a parte mercado também”.
Como fazer uma cerveja única
Embora as cervejas possuam apenas quatro ingredientes essenciais – água, malte, lúpulo e fermento – cervejeiros podem controlar diversas etapas do processo para tornar seu produto único. Escolha dos maltes e lúpulos, características da brasagem, uso de diferentes técnicas de lupulagens e obediência aos padrões de qualidade e higiênico sanitários fazem a diferença entre um rótulo e outro. Além disso, explica Francielo Vendruscolo, existem diversos subtipos de cervejas dentro de duas grandes famílias: a das ales e a das lagers: “Cervejas Lagers, também conhecidas como cervejas de baixa fermentação, são fermentadas entre 7 e 15°C por leveduras de baixa fermentação que se encontram, predominantemente, na parte inferior do tanque de fermentação. As Cervejas Ales, conhecidas como cervejas de alta fermentação, são fermentadas entre 16 e 24°C. São produzidas com leveduras de alta fermentação que se encontrarão, predominantemente, na parte superior do tanque de fermentação.” [caption id="attachment_231811" align="alignnone" width="620"]
"Para quem quer tentar empreender, aconselho a estudar bastante o mercado também", diz Vitor Mercez | Foto: Reprodução / Luan Rampazzo[/caption]
Henrique Augusto Martins afirma que a possibilidade de criar receitas é praticamente infinita. Ele cita como exemplo a witbier, uma ale belga feita de trigo e temperada com sementes de coentro e cascas de laranja. “A primeira cerveja da Lola foi uma witbier. Eu adicionei na minha receita casca de limão siciliano ao invés da de laranja e lúpulo tcheco para criar um sabor particular”.
Outro exemplo: “Nosso paladar evolui, então minha cerveja favorita eventualmente muda”, diz o jornalista cervejeiro, “mas atualmente gosto das mais ácidas. Temos uma sour beer, que é a que mais gosto. Ela tem acerola e maracujá e é feita com dupla fermentação – primeiro fermentação lática, com produção de ácido lático, depois fermentação normal”.
Por que sair da zona de conforto?
Vitor Mercez diz que, em sua opinião, os festivais começaram a mudança cultural que promoveu a apreciação da cerveja. “O vinho já tem essa cultura há muito tempo, com figuras como os enólogos. Um produto superior às cervejas tradicionais abre portas, como a harmonização com comidas, etc”. Entretanto, Vitor Mercez acredita que o maior obstáculo a ser superado permanece sendo o de convencer consumidores de cervejas tradicionais que consumir um produto mais caro pode valer a pena. “Precisamos aprender a catequizar o público que gosta das cervejas tradicionais, esse é o maior desafio”, diz Henrique Augusto Martins. Para converter quem consome cervejas industriais clássicas, algumas estratégias têm se tornado populares. “Se vamos vender em supermercados onde há pessoas de todos os níveis socioeconômicos, temos de ter um promotor de vendas fazendo degustação gratuita, explicando nuances do produto”. Quando perguntado por que cervejas especiais são melhores do que as mainstream, o engenheiro de alimentos Francielo Vendruscolo explicou a diferença na composição das duas bebidas: “Algumas cervejarias optam pela adição de cereais não malteados com a finalidade de reduzir o preço final. Cervejas especiais, em sua maioria, utilizam apenas maltes e não fazem uso de cereais não malteados. Quando atrelado à utilização de lúpulos adequados e adicionados em diferentes momentos do processo de produção, acabam conferindo características sensoriais superiores às cervejas tradicionais”.A contaminação da Backer, ou, é perigoso tomar cervejas especiais?
Após pacientes se internarem com síndrome nefroneural em Minas Gerais, descobriu-se que cervejas especiais da fabricante Backer estavam contaminadas com mono e dietilenoglicol. Investigações ainda não foram concluídas e até o momento quatro pessoas morreram por terem ingerido as substâncias usadas como fluído de refrigeração no processo produtivo. O engenheiro de alimentos Francielo Vendruscolo explica que cervejarias já utilizam fluidos alternativos para a refrigeração, como soluções hidro alcóolicas (mistura de água e álcool etílico). “Não existem agentes tóxicos envolvidos diretamente na produção, mas existem óleos e lubrificantes, detergentes, sanitizantes que podem direta ou indiretamente, contaminarem a cerveja. Antes de comentar sobre os riscos de novas contaminações pelo dietilenoglicol, é preciso aguardar a conclusão da investigação que esclarecerá a natureza da contaminação”. Henrique Augusto Martins levantou, junto à Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), se alguma cervejaria goiana utiliza o monoetilenoglicol ou o dietilenoglicol: “Não é comum. Em Goiás, nenhuma cervejaria a utiliza, pelo menos entre as associados à Abracerva. Sei que a utilização do dietilenoglicol no Brasil é rara, pois esta é uma substância cara comparada com a alternativa da mistura na proporção de 30% etanol e 70% de água, que cumpre a mesma função sem o risco de contaminação cruzada”. Isto não significa que não existam riscos, explica Francielo Vendruscolo. Cervejas Especiais comercializadas, entretanto, devem pussuir registro no Mapa e obedecer os Procedimentos Operacionais Padronizados, se adequando aos requisitos mínimos exigidos pela legislação, o que garante sua segurança ao consumidor. Quanto às genuinamente artesanais, produzidas sem registro no Mapa e cujo principal objetivo não é a comercialização, mas o consumo próprio, Francielo Vendruscolo aconselha: “É Importante seguir condições higiênico-sanitárias adequadas, acondicionar os insumos em local fresco e seco, lavar e higienizar os utensílios com água quente ante e após a utilização, lavar corretamente as garrafas, tomar cuidado com o uso de detergentes e sanitizantes tóxicos, pois muitos cervejeiros artesanais optam pela utilização de sanitizantes utilizados por industriais que requerem Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para manipulação e utilização”.Projeto Cervejamos
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Professor Francielo Vendruscolo ministra cursos para ensinar a Arte de fazer cerveja artesanal | Foto: Reprodução / Arquivo[/caption]
O Projeto Cervejamos é um projeto de Extensão desenvolvido na Universidade Federal de Goiás coordenado por Francielo Vendruscolo. Foi iniciado em novembro de 2016 com o intuito de divulgar a Arte da Cerveja Artesanal na Região Centro-Oeste. Dentre as principais atividades, há a ministração de cursos de curta duração para ensinar a Arte de fazer a cerveja artesanal, permitindo que os inscritos consigam desenvolver suas próprias cervejas.
O coordenador explica: “Associamos a Ciência e Tecnologia e utilizamos alguns conceitos de matemática, física, química e biotecnologia nas atividades desenvolvidas. Também buscamos ofertar palestras e atividades relacionadas aos amantes da cerveja artesanal. O projeto foi muito bem aceito pela Comunidade, as atividades desenvolvidas atingiram participantes de vários municípios Goianos e muitos ex-alunos estão desenvolvendo suas próprias cervejas. Alguns deles, inclusive, passam por aqui e deixar algumas amostras para degustação!”
Vindos de outras cidades e até Estados, jovens chegam à capital em busca do sonho da graduação e passam a integrar as famosas casas do estudante universitário
Conforme o titular da Delegacia de Crimes Ambientais, uma série de fatores, a maioria oriundos de falha humana, contribuíram para o rompimento da barragem
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Inquérito sobre o caso de Pontalina está prestes a ser remetido ao Poder Judiciário | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
Duas semanas após a tragédia que se abateu sobre o município de Pontalina, região central do Estado de Goiás, o delegado titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente, a Dema, está prestes a remeter ao Poder Judiciário o inquérito do caso. Entretanto, ao contrário do que vem sido amplamente noticiado e afirmado sobre o rompimento da represa localizada na Fazenda São Lourenço das Guarirobas, o principal motivo, segundo o delegado, não foi a chuva, e sim falha humana.
Luziano Severino, à frente da Dema desde o final da década de 1990, adianta que ouviu três pessoas no inquérito e pretende entregá-lo dentro do prazo previsto de 30 dias. Após a averiguação e análise técnica da área, o delegado concluiu que a grande responsável pela represa que rompeu não foi a água que caiu do céu. Ele elencou alguns fatores que tiveram influência sobre a catástrofe - a maioria deles ligada à gestão humana do local.
De acordo com o delegado, o desmatamento da mata ciliar da região foi uma das grandes responsáveis, uma vez que a retirada da vegetação natural e a execução dos chamados “drenos”, feitos para secar áreas brejadas, causaram a compactação da terra, impedindo a absorção da água da chuva pelo solo, o que é esperado naturalmente. A água da chuva, que caiu de forma torrencial no dia 4 de janeiro, acabou, então, excedendo os limites comportados pela represa.
Ainda conforme Luziano, outro grande fator – e um dos principais - que contribuiu para o rompimento da barragem foi a inatividade da descarga de fundo, que é uma estrutura hidráulica instalada próximo aos sistemas para controle de cheias, para evitar o rompimento de uma barragem. Luziano revela que, em 2016, enviou à Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Pontalina um documento com uma série de exigências que deveria ser cumpridas nas barragens da região para evitar o risco de rompimento. Uma das exigências era a instalação de uma descarga de fundo na represa da Fazenda de São Lourenço das Guarirobas, solicitação que foi prontamente atendida pela secretária da época. Entretanto, segundo o delegado, algum tempo depois a estrutura foi desativada. Em 2018, ela já não funcionava. Além disso, ainda conforme o delegado, o extravasor de água da represa, ou o famoso “ladrão”, uma tubulação usada para escoar um casual excesso de água, havia sido obstruído manualmente.
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O delegado explica a influência das falhas humanas no rompimento da barragem | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption]
Há outras 22 barragens na região de Pontalina que, segundo o delegado, estão sendo verificadas uma a uma. Luziano revelou que também pediu averiguação de barragens em Catalão, Rio Verde, Buriti Alegre e Trindade. Ele conta que trabalha na Dema com o rompimento de barragens desde 2001 quando houve registro do primeiro caso, na Cidade de Goiás. “Na época, foi levado parte do patrimônio cultural da cidade. E quais foram as causas? Desmatamento em primeiro lugar”, revela.
Luziano explica que há uma série de iniciativas que podem evitar catástrofes como a de Pontalina, mas é preciso se atentar ao desgaste do solo provocado pela ação humana. “Quantos drenos temos visto em diversos lugares de Goiás, em especial em Pontalina? Drenos em áreas brejadas, e se faz isso pra quê? Pra secar o brejo, e isso é suicídio ecológico”. O delegado apresenta ainda um fato preocupante: a maioria das nascentes de Pontalina estão degradadas e precisam passar por processo de recuperação.
O delegado também chama a atenção para o lago de Pontalina que, assim como a represa que rompeu, está com a descarga de fundo inativa. “Aquele lago lá de Pontalina não rompeu por um triz. Aquela enchente toda, a maioria ali não tem nada a ver com o rompimento da represa, não. A descarga de fundo do lago da cidade está tampada com cimento”, conta. “Chegou a hora de parar de romper represa em Goiás, e os avisos naturais são claros. A natureza não vinga, a natureza dá suas respostas. Tem uma nascente, por que invade e mata a nascente? Precisamos é de água, mas de repente vem uma chuva um pouco mais acentuada e vira tragédia, e não é culpa de São Pedro não, o culpado é o ser humano”, arremata.
Reforma administrativa da Universidade Estadual de Goiás (UEG) diminui de 41 para oito campi; a promessa é que haja economia de R$ 1,2 milhão por ano
Uma nova Universidade Estadual de Goiás (UEG) deve nascer em 2020. Pelo menos administrativamente. É o que garante o projeto de lei nº 7354/19, aprovado em meados de dezembro pela Assembleia Legislativa, e que se torna realidade a partir da implantação das mudanças, que envolvem, sobretudo a diminuição do tamanho da instituição.
Os atuais 41 campi serão reagrupados em torno de oito unidades administrativas (ainda denominados de campus), que coordenarão 33 unidades universitárias. A divisão seguiu critérios regionais (veja o mapa), mas também número de alunos, docentes e notas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
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A UEG terá oito campi e 33 unidades universitárias subordinadas a eles | Foto: Ascom-UEG/ Reprodução[/caption]
A reestruturação faz parte da intervenção do governo Ronaldo Caiado (DEM) na instituição, que sofreu com escândalos de corrupção, que culminou com a prisão dos ex-reitores José Izecias e Luiz Antônio Arantes, no início do ano passado, por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato.
Em março daquele ano, o então reitor Haroldo Reimer pediu afastamento por envolvimento na nomeação de familiares, sócios e amigos para atuação em cargos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). No lugar dele, entrou o professor Ivano Devilla, de forma interina, mas que acabou pedindo afastamento das funções em setembro.
O governador nomeou o procurador do Estado, Rafael Borges, ainda em setembro de 2019, e que hoje encampa a reestruturação da Universidade. “A grande questão da Reforma Administrativa da UEG é valorizar o docente. As funções destinadas aos docentes eram de baixíssima remuneração, a gente aumentou os valores destas funções para valorizá-los”, diz Rafael.
Enxugamento
Esse foco na valorização do professor, como apontou o reitor, aparece na reestruturação em forma de aglutinação das coordenadorias. Antes espalhadas por todos os 41 campi da universidade, o docente que aceitasse ser coordenador, para assumir as responsabilidades administrativas, recebia um abono de R$ 500. A partir da reforma, serão R$ 3 mil pela função comissionada. No entanto, o número de coordenadores reduziu drasticamente, justamente em função do aglutinamento em torno dos oito campi regionalizados. Os campi serão como centrais administrativas, às quais as unidades universitárias ficarão subordinadas. Os campi, por sua vez, responderão diretamente à reitoria. É aí que entra os professores coordenadores. [caption id="attachment_231655" align="alignnone" width="620"]
Governador Ronaldo Caiado (DEM) e o reitor da UEG, Rafael Borges | Foto: Fernanda Santos/ Jornal Opção[/caption]
A coordenação será mais centralizada que o modelo antigo, com a subordinação das unidades universitárias aos campi regionalizados e estes à administração central. Assim, o coordenador terá uma visão mais geral e estrutural da universidade. Além disso, haverá uma só coordenação para cada curso.
“A UEG tem um curso de História, um curso de Geografia e etc, espalhado por vários campi. Agora vamos ter um coordenador central para poder ter uma visão geral nas diferentes unidades. Sem prejuízos de ter um coordenador na própria unidade, para o aluno não ficar desguarnecido”, explica Rafael. Essa coordenação localizada nas unidades universitárias, no entanto, não será remunerada.
Distorções
O discurso do governo para o enxugamento da estrutura da UEG é o que rege o Governo: a responsabilidade fiscal. Uma das distorções é o tamanho da universidade, sem critérios objetivos aparentes. A Universidade de São Paulo, por exemplo, possui oito campi, enquanto até a Reforma Administrativa, a UEG possuía os 41 citados, o que, possibilitava também excesso de cargos comissionados. Auditoria da Controladoria Geral do Estado constatou que, entre 2015 e 2018, 30 cursos foram abertos sem qualquer planejamento ou estudo de impacto financeiro. Os cursos eram abertos sem corpo docente efetivo para lecioná-los e, em locais, sem vocação regional para sua abertura. Além disso, segundo o governo, havia intervenção de políticos na abertura de novos cursos de determinada cidade. O que levou à UEG a queda na qualidade de ensino em comparação com outras universidades. “As distorções são tão graves que é de causar espanto como um quadro destes conseguiu seguir por tantos anos”, afirmou Caiado durante apresentação da reforma administrativa na sexta-feira, 17, no 10º andar do Palácio Pedro Ludovico Teixeira. “Ter 41 campus é algo afrontoso, desmoraliza o que se deve esperar de uma universidade”, continuou.Compliance
O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Adriano da Rocha Lima, pasta à qual a UEG é vinculada, salienta que havia muito desperdício dentro da universidade, por conta justamente da expansão considerada desmedida. Em 2019, os gastos giraram em torno de R$ 315 milhões. Com a reforma, os novos cursos não podem mais ser abertos por decisão unilateral do reitor, via portaria. Somente podem ser abertos após deliberação do Conselho Superior Universitário (CsU), que foi desinchado (antes contava com 72 membros e agora terá 42). Além disso, deve haver demonstração de corpo efetivo docente para abrir o curso. A reforma, assim, seguiria os ditames liberais de “faça mais com menos”. “Naturalmente, com essa reforma, ao longo do tempo esse gasto tende a diminuir, sem afetar o ensino”, diz Adriano. No entanto, não descarta a possibilidade de ter expansão, mas que deve seguir as vocações regionais. Extinto em 2017, o Conselho de Gestão foi recriado, com função não remunerada. Segundo o secretário, para que a universidade tome as suas próprias decisões, com acompanhamento da sociedade. “Como financiador, como quem sustenta a universidade com recurso público, o Conselho de Gestão é quem vai fazer esse acompanhamento das finanças, com membros indicados pelo governo, para funcionar como modelo de transparência e compliance”, explica Adriano.“Nossos alunos são da classe trabalhadora”
“Muitos alunos vem do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, relata um professor da UEG da região oeste do Estado. “Alguns não tiveram boa formação e a maioria trabalha e estuda ao longo do dia. É uma juventude pobre que só tem acesso à universidade pública pela UEG”, afirma. Segundo o docente, que leciona no curso de História, a preocupação da maioria dos professores é ofertar conhecimento que permite ao aprendiz pensar também a própria realidade regional. Para ele, não faz sentido ensinar apenas Renascimento, por exemplo, se o sujeito também tem que aprender sobre a realidade histórica regional e local, já que não teve acesso a ela em nenhum momento da vida de estudante. [caption id="attachment_127923" align="alignnone" width="620"]
Campus Henrique Santillo, UEG em Anápolis | Foto: Reprodução[/caption]
“Nós é que divulgamos o vestibular e visitamos as escolas para convidá-los para se inscreveram no processo seletivo. Muitos nem pensam nisso, pois entendem que a universidade é coisa de outro mundo, coisa de rico”, avalia. Por isso, na unidade em que leciona, criar um espaço de acolhimento a fim de que o discente entenda que a Universidade pública é um direito dele e que estamos a serviço da melhor qualidade de vida.
O docente vê com bons olhos o processo de racionalização administrativa proposto pela reforma. No entanto, ele rebate a afirmação de que a preocupação de gestores locais era mero corporativismo e bairrismo. “Alguns até poderiam fazer isso, mas não é possível reduzir as demandas locais à isso. Muitos lutavam pela qualidade institucional no interior goiano; lutavam para que o ensino superior de qualidade, com doutores, mestres e pesquisa, não fosse privilégio apenas da região metropolitana”, afirma.
Por isso, receia que, com a subordinação das unidades universitárias aos campi regionais, que os cursos distantes de Anápolis e Goiânia fiquem desassistidos. “Os gargalos são muitos, sobretudo porque os alunos do interior são da classe trabalhadora. Gente socialmente vulnerável, mas com vontade de crescer e aprender. Do ponto de vista da gestão, precisam de acompanhamento direto, próximo”, diz.
Veja como fica a UEG:
Oito campi
- Campus Metropolitano
- Campus Central
- Campus Norte
- Campus Nordeste
- Campus Cora Coralina
- Campus Leste
- Campus Sudoeste
- Campus Sudeste
- Instituto Acadêmico de Educação e Licenciaturas;
- Instituto Acadêmico de Ciências da Saúde e Biológicas;
- Instituto Acadêmico de Ciências Tecnológicas;
- Instituto Acadêmico de Ciências Sociais Aplicadas;
- Instituto Acadêmico de Ciências Agrárias e Sustentabilidade;
O caso controverso foi revelado pelo Jornal Opção em dezembro do ano passado
Agência de Infraestrutura contatará menos empreiteiras para fazer a manutenção das rodovias e terá empresa para fiscalizar o andamento das obras
Mesmo portas e catracas terão de ser voltadas para a segurança da informação no futuro, mas proteção ainda não está na lista de exigências de consumidores
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FBI emite um alerta sobre brechas de segurança abertas pela internet das coisas| Foto: Reprodução[/caption]
Há dois meses, o FBI emitiu um alerta sobre brechas de segurança abertas pelas Smart TVs. Uma das características da quarta revolução industrial, a internet das coisas (Internet of Things, IoT), significa que cada vez mais eletrodomésticos receberão sistemas embarcados, abrindo mais portas digitais a invasores. Na competição por oferecer melhores serviços, fabricantes investem nas funcionalidades, mas enquanto usuários não mudarem seus hábitos e exigirem segurança, as marcas terão poucas razões para proteger seus clientes.
Você já pensou em ter uma geladeira que envia mensagens ao seu celular quando sua bebida fica gelada, ou te permite comprar online produtos que estão acabando, ou que usa luzes de LED para simular a do sol e preservar vegetais? A resposta provavelmente é não, já que essas funcionalidades só foram criadas recentemente, conforme marcas de geladeira investiram em inovações para chamar a atenção em um mercado que oferece basicamente o mesmo produto desde 1913.
Da mesma forma que clientes nunca desejaram essas utilidades, não lhes passa pela cabeça que podem estar colocando em risco dados pessoais ao comprar uma torradeira. “A segurança não está na lista de critérios de quem quer comprar um novo eletrodoméstico”, afirma Anderson da Silva Soares, doutor em Engenharia da Computação e professor do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás.
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"Antigamente, tínhamos um ou dois computadores conectados, hoje temos dez dispositivos, entre smartphones e eletrodomésticos frágeis”, afirma Anderson Soares. | Foto: Fábio Costa/ Jornal Opção[/caption]
O alerta emitido pelo FBI foca nas Smart TVs: “Na pior das hipóteses, hackers podem ligar a câmera e o microfone de sua TV e silenciosamente te observar.” Até fitas adesivas coladas em frente às câmeras das Smart TVs são recomendadas pela agência americana de inteligência. Entretanto, um risco maior ainda é de que qualquer dispositivo conectado a um roteador possa ser uma porta de entrada para invasores.
Enquanto alguém mal intencionado pode não ser capaz de acessar seu computador diretamente, é possível que um ponto frágil, como sua TV, ofereça um caminho fácil para a rede local. “Como o software da TV é limitado, um hacker não conseguiria fazer muito com ela. Mas a rede local entende sua TV como componente seguro. Tentar invadir um computador protegido com firewalls e antivírus é muito diferente de entrar a partir da própria rede local”, afirma Anderson Soares.
Como se proteger
Segundo pesquisa da empresa americana de segurança digital Avast, 72% das pessoas nunca atualizou o firmware (software) dos seus roteadores, e a razão mais comum para isso é que usuários passam a enxergar seus roteadores como parte da mobília depois que eles entram em funcionamento. Ainda segundo a empresa, os dispositivos conectados coletam dados do usuário para oferecer conveniências, mas poucos são os que permitem usuários apagar dados ou controlar a privacidade. Como resultado, roteadores são alvos atraentes para os cibercriminosos, que buscam vender informações pessoais para obter ganhos financeiros. Como empresas têm de manter seus produtos competitivos, geralmente o primeiro quesito a ser cortado para reduzir o custo final é a segurança. Isso não significa que estamos indefesos contra criminosos, mas significa que quem compra eletrodomésticos “smart” tem de fazer um esforço para se defender – uma obrigação que não existia cinco anos atrás. Na prática, Anderson Soares enumera: “isso significa tratar qualquer eletrônico conectado à internet como um novo computador na casa. Leia o manual; nada senhas fáceis demais ou senhas padrão de fábrica; faça patches de segurança; esteja ciente da política de uso de dados da empresa”. Anderson Soares diz que o problema é tão recente que os próprios técnicos que resolvem problemas nas residências dos clientes podem não estar preparados para essa questão. “Antigamente, nossos roteadores tinham um ou dois computadores conectados, hoje temos dez dispositivos, entre smartphones e eletrodomésticos frágeis. Além disso, o usuário pode instalar aplicativos que não são seguros exatamente porque investigar o uso de dados e a segurança de aplicativos ainda não faz parte de sua rotina”.Bons exemplos
A Access.run é um software de controle de acesso para condomínios. Após implantar um pequeno módulo IoT em catracas, portas ou cancelas de empreendimentos, o anfitrião envia um convite (que pode ser via aplicativo de celular ou embarcado em um cartão de visitas, pulseira, chaveiro, etc) ao visitante. O anfitrião recebe uma confirmação quando seu convidado chega. A ideia parece simples, mas foi elogiada pelo diretor de Tecnologia para a Microsoft Brasil, Roberto Prado, por representar uma inovação em segurança e praticidade em relação às portarias convencionais. [caption id="attachment_230565" align="alignnone" width="620"]
Portarias orgânicas possuem problemas de segurança insuspeitos | Foto: Fábio Costa/ Jornal Opção[/caption]
A solução já está sendo usada em mais de 500 pontos instalados pelo Brasil – desde condomínios à vila militares do exército – principalmente porque reduz em 90% o custo de operação de portarias, mas também pela segurança e pela inovação da autonomia. “Damos autonomia para os donos de uma residência ou empreendimento – toda vez que algum visitante entra, o titular recebe a notificação”, afirma Donato Cardoso, diretor de novos negócios e sócio fundador da Access.run.
“Geralmente, a empresa de segurança que gerencia a entrada de pessoas em uma área colhe dados dos visitantes, liga para perguntar se estou autorizado, preenche um formulário. Esse processo pode levar até 30 minutos.”, explica Donato Cardoso. “Com a Access.run o acesso é imediato. Além disso, é muito mais difícil clonar o cartão ou senha de acesso a um estabelecimento porque não há pareamento direto; não se trata de um controle remoto que aperta aqui e abre lá. A segurança é tratada na nuvem com níveis de segurança altíssimos”.
Como no caso das geladeiras inteligentes, o software de controle de acesso suscita necessidades para as quais os clientes não haviam se atentado. Quando se visita um amigo em um condomínio residencial, você recebe um telefonema do seu anfitrião querendo verificar se realmente é você quem está na portaria? Donato Cardoso provoca: “Uma pessoa bem vestida com documento falso consegue entrar em qualquer lugar. Qualquer um que saiba a informação de que você visita seu amigo frequentemente pode se passar por você”.
A ideia é que pode-se acabar com erros humanos eliminando intermediários. Realizando a relação direta entre anfitrião e visitante, se reduz custos, tempo em filas e não há o contratempo de ter de fazer um cadastro novamente porque a portaria orgânica cometeu um erro e perdeu seu primeiro
Além disso, ao se realizar um cadastro em portaria deixa-se fotografia, dados documentais, números de telefone arquivados em meio físico. Estas informações podem ser perdidas, roubadas (ou hackeadas, se arquivadas em um computador), copiadas. “Não se tem o direito de apagar a informações dos lugares em que você já foi”, lembra Donato Cardoso. “Ainda acreditamos que parar alguém, ver documento, tirar foto e pedir autorização é segurança. Isso não é segurança”.
Por atuar em três continentes, a empresa tem de obedecer às versões brasileira, europeia e norte-americana da Lei Geral de Proteção de Dados. “Access.run não tem a possibilidade de vender os dados de usuários”, afirma Donato Cardoso. “O aplicativo exige biometria ou senhas diferentes das do celular, para caso o aparelho seja roubado. É completamente seguro porque nem mesmo nós teríamos como intervir no relacionamento entre anfitrião e convidado”.
Por último, há ainda outro nível de segurança: a possibilidade de se apagar todos os dados gerados. “Se o visitante ficar desconfiado, por qualquer razão, pode apagar o registro que gerou. Os operadores têm acesso apenas a informações triviais. A parte de inteligência e autenticação não ficam no telefone celular e nem na placa, mas na nuvem”.
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Ainda acreditamos, erroneamente, que parar alguém, ver documento, tirar foto e pedir autorização é segurança | Foto: Fábio Costa/ Jornal Opção[/caption]

