Opção cultural

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“O Paraíso na Outra Esquina” reafirma o talento literário de Mario Vargas Llosa

Nobel de Literatura relata a trajetória de Flora Tristán e Paul Gauguin, grandes figuras do século 19 que ousaram desafiar a sociedade e possuíam raízes familiares no Peru

Desembargador Itaney Campos lança livro com 22 poetas

Obra reúne de bons anônimos de Uruaçu a escritores premiados nacionalmente, como Edival Lourenço, Lêda Selma, Chico Perna e Gabriel Nascente; será ainda empossada a nova diretoria da Academia Uruaçuense de Letras

Micropoemas de Marcelo Heleno têm tantos sons, todos os tons e podem ser bons

Depois de 30 anos, jornalista e compositor volta a publicar livro; “Poemas na rede” será lançado na noite desta sexta-feira, em Goiânia, pela Contato Comunicação

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Vereadores comemoram aniversário da Aflag na sexta-feira

A Academia Feminina de Letras e Artes vai entregar troféus a personalidades de destaque em Goiás

Avô de Mário de Andrade não gostou da escola que encontrou na província de Goiás 

Já a reforma do Colégio Lyceu, que se tornará uma escola bilíngue, contribuirá, isto sim, para revitalizar o Centro de Goiânia

Ubirajara Galli lança o livro “Historiografia Goiana” na quinta-feira

A obra será lançada na sede da Academia Goiana de Letras, em Goiás. O presidente da AGL já publicou 52 livros

Marcio Fernandes lança o livro de viagem “A Fila Anda” no dia 16 deste mês

Viajante perspicaz e nada burocrático, o jornalista reuniu, em 59 crônicas, histórias de suas viagens pelo mundo

Livro de Claudia Machado mostra criança buscando versão pra driblar a estranheza e o despertencimento

O livro faz pensar assim: cada marca é uma gente que passou — o que quer dizer que não passou. A estranheza também não. É isso! Nunca passa!

O desassisado Javier Milei citou o gênio Dante Alighieri ou o best-seller Dan Brown?

Confira a frase polêmica: “Os lugares mais quentes do inferno estão reservados para aqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”

Contos de Renan Alves, do livro “Ver de Novo o Mar”, são bem tramados e escritos com leveza

O autor lançou a obra pela editora Mondru. Trata-se de um livro de contos de tirar o chapéu, pela qualidade do texto e as insinuantes histórias, contadas com mestria

De Gaulle: episódios que consolidam a liderança de um grande estadista (II)

Há elementos para comprovar a liderança inconteste de Charles de Gaulle (1890-1970) sob os critérios de coragem e de caráter, preestabelecidos por Henry Kissinger

Livro de memórias de Álvaro Catelan mostra que uma vida sem reflexão não vale a pena

Em Goiânia, o paulista-goiano pôde exercer toda sua pluralidade na literatura, no ensino, no jornalismo e no teatro. Trata-se de um intelectual múltiplo

Dia do Livro: entenda por que é importante celebrar os livros e os escritores brasileiros

Alguém descreveria com mais sensibilidade a tragédia do homem nordestino que Graciliano Ramos, em seu belíssimo romance, Vidas Secas?

Professor Pettras Felício lança livro com bons versos em todas as páginas

“Todo mundo é ninguém é todo mundo” apresenta o poeta Pettras Felício, que se torna grande quando “verbaliza ideias, sensações, sentimentos” sem o medo do ego

Santo Agostinho saboreou a doçura do leite de sua mãe e de suas amas

Agora nem Carlos Drummond de Andrade existe mais; no entanto, o essencial dele a vida não soterrou, continua vivo: a sua poesia. Os livros, ainda bem, não são frias carnes de um cadáver ao alcance da fome dos vermes

Além das tetas de minha mãe, suguei as de uma vizinha da casa onde nasci. Isso em Boa União de Itabirinha, um distrito do município Itabirinha, pertencente a Minas Gerais; no estado também existe Itabira (“pedra que brilha” na língua tupi), município em que nasceu o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Em outubro de 2016, visitei o Memorial Carlos Drummond de Andrade, inaugurado em 1998. Na entrada da cidade, encontrei o poeta numa escultura gigante numa praça, e ele me fez uma confissão dolorida: “Itabira é apenas uma fotografia na parede./ Mas como dói!” Talvez venha disso o fato de Drummond, em “E agora, José”, ter dito que “Minas não há mais”. Na verdade, agora nem o poeta existe mais, no entanto o essencial dele a vida não soterrou, continua vivo: a sua poesia. Os livros, ainda bem, não são frias carnes de um cadáver ao alcance da fome dos vermes.

Sinésio Dioliveira fotografa estátua de Carlos Drummond de Andrade, em Itabira | Foto: Paulo Vítor

A vizinha mencionada, cujos peitos me alimentaram, não chegou a ser minha ama de leite propriamente, apenas me amamentou por alguns dias. Houve um motivo que impediu minha mãe da tarefa. Talvez algum problema de saúde. Não me lembro se minha mãe me contou a razão, e agora, no entanto, não há como mais saber, haja vista que os mortos não falam (exceto quando deixaram alguma coisa escrita ou repassaram suas memórias para terceiros). E leite ainda continua em minha rotina alimentar: todo dia pela manhã tomo café com leite e quitandas diversas, como bolos, biscoitos, pães de queijo. Sobre estes, vou aproveitar o assunto para fazer um desabafo: a maioria das lanchonetes que os vende em Goiânia oferece uma quitanda fake, ou seja, vende gato por lebre, ou melhor, vende pão sem queijo. Se o leitor é um apreciador de um legítimo pão de queijo, certamente há de convir comigo.

Voltemos ao leite. E aqui entra um homem que morreu aos 75 anos no dia 28 de agosto de 430. Seu nome é Aurélio Agostinho de Hipona, mais conhecido como Santo Agostinho. Em sua obra “Confissões”, para falar de sua adoração por Deus, o filósofo cita a doçura do leite que sugou de sua mãe e suas amas: “Saboreei também as doçuras do leite humano. Não era minha mãe nem as minhas amas que se enchiam a si mesmas os peitos de leite”. Segundo ele, tais mulheres eram apenas instrumentos de Deus, que lhes enchia os peitos. Santo Agostinho, acredito, pode ter inspirado Khalil Gibran a dizer algo com uma certa semelhança ao que aquele chama de “instrumento”: “Vossos filhos não são vossos filhos./ São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. / Vêm através de vós, mas não de vós”.

Papa Francisco: "reabilitando" Dante Alighieri | Fotos: Reproduções

Santo Agostinho, que chamava o homem de “fragmentozinho da criação, particulazinha da criação”, virou santo pela aclamação do povo. E 868 anos depois, mais precisamente em 1298, recebeu o título póstumo de “doutor” da Igreja, dado pelo papa Bonifácio VIII. Na sua juventude, o filósofo não privou sua carne de luxúria. Pôs para moer. Mas depois caiu nos braços de Deus. Certamente, se pudesse interferir, ele não aprovaria receber esse título de tal pontífice. Conforme relato histórico, Bonifácio pôs o capeta no bolso na realização de maldades.

Bonifácio sacaneou feio com o poeta da “Divina Comédia”, Dante Alighieri, que se opunha ao poder absoluto da Igreja. O poeta, além de ter sua casa destruída, foi banido de Florença. Morreu sem poder regressar à sua terra. Bonifácio está entre os pontífices mais infames, mas levou na tarraqueta ao excomungar o rei da França, Filipe, o Belo: perdeu o papado aos 72 anos de idade, levou taca nos três dias em que ficou preso e morreu alguns dias depois de ser solto por apelo popular. Feriu com ferro e se ferrou.

O papa Francisco, no sétimo centenário da morte de Dante, isso em 2021, publicou uma carta em março do respectivo ano. Uma longa carta, na qual fala de seus antecessores que homenagearam o poeta. Ele não cita que papa arruinou a vida de Dante: “Nem me custa recordar que a voz de Dante se ergueu, pungente e severa, contra mais de um romano pontífice, e teve amargas reprimendas para instituições eclesiásticas e pessoas que foram ministros e representantes da Igreja”. O papa Francisco relata que o vate italiano recorreu, sem sucesso, contra a sentença que foi lhe aplicada: exílio de dois anos, expulsão de cargos públicos e multa elevada: “Dante rejeita a sentença, em sua opinião injusta, e o julgamento contra ele torna-se ainda mais severo: exílio perpétuo, confiscação dos bens e pena de morte em caso de regresso à terra natal”.

Sinésio Dioliveira é jornalista