Contos de Renan Alves, do livro “Ver de Novo o Mar”, são bem tramados e escritos com leveza
29 outubro 2023 às 00h02
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Hélverton Baiano
Especial para o Jornal Opção
Para escrever um conto é preciso, primeiro, de uma boa história. Depois, concatenar seus meandros e suas nuances para fazê-la inteligível e interessante ao público leitor. Com isso, o contista precisa se esmerar na linguagem e buscar à sua maneira a melhor forma de contá-la e por forma entenda-se também estilo e estética. Esses são predicados facilmente encontrados em “Ver de novo o Mar”, de Renan Alves Melo. O autor é novo e sustenta com galhardia literária (se isso existir) a construção de suas histórias.
E são histórias que fazem o leitor pensar, refletir e se atentar para não perder os detalhes, porque eles se encaixarão lá na frente (ou mesmo vieram de lá de trás, do início da história), para o deleite do leitor que gosta de uma trama azeitada e que caminha com maestria para o final. É bom acompanhar uma história bem construída e que o leva a querer saber como o autor vai desenrolar o enredo, para que fique interessante. Renan faz isso e os finais de seus contos são realmente de deixar os leitores com pulgas e carrapatos atrás das orelhas.
Escreve bem, é criativo e não tenho dúvida de dizer que se ergue com força entre os bons escritores de Goiás na atualidade. Outro detalhe que chama atenção é que seus personagens se sobressaem com um considerável viés psicológico e aí ele nos apresenta diversificadas maneiras de transtornos, manias e idiossincrasias.
Resgato aqui parte do posfácio escrito pela doutora em Letras e Linguística da UFG Liliane de Paula Munhoz: “Como leitora de literatura, gosto de marcar as primeiras impressões — aquelas que prescindem do olhar da crítica. E, como goiana que sou, preciso registrar: muitos dos contos deste livro surpreendem de tal forma que não pude deixar de sentir vontade de dizer ‘Vish’ e ‘Nossa!’ bem alto, diante da tensão das narrativas. ‘Como ele consegue tratar de temas tão fortes e de forma tão, ao mesmo tempo, líricas e dramáticas?’ A verdade é que o escritor do início, que venceu o 1º lugar na categoria literatura, por diversos anos, na então Semana de Arte do CEM (Colégio Estadual Manoel Vilaverde) e que provocou um sentimento de perplexidade com aquela narrativa densa e complexa, está mais poético, não obstante a força das imagens de uma diversidade de cenas”.
Recomendo “Ver de Novo o Mar”, de Renan Alves Melo, da Editora Mondru, porque os contos são muito bons, escritos com leveza, muitos detalhes, bem tramados e insinuantes. Linguagem fácil, carregada de poesia e a escrita recheada de detalhes, sobressaindo o viés psicológico dos personagens.
Reitero que um detalhe chamativo é como o autor termina as histórias que conta, quase sempre deixando ao leitor o privilégio da dúvida, por isso mesmo são atraentes e encantadores. O autor é da Goiabeira, a querida Inhumas (grande Goiânia), e representa com maestria a força da nova literatura que desponta em Goiás. É um livro que leva uma nota de 9 para cima. O livro é composto por 20 contos distribuídos em 231 páginas.
Um ponto também a destacar do livro é a qualidade editorial da Mondru, uma editora goiana que há três anos iniciou um trabalho que considero eivado de muita qualidade. Os livros editados por ela impressionam pelo esmerado trabalho, desde a concepção à feitura, passando pela qualidade gráfica, a apresentação estética e o cuidado na elaboração de um apurado produto físico.
Hélverton Baiano, jornalista, é prosa e prosador. É colaboração do Jornal Opção.