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Suspensão de concursos públicos no Estado afeta Segurança Pública

Governo rebate e diz que Goiás precisa equilibrar as contas antes de voltar a fazer processos seletivos para o funcionalismo

Suspensão de concursos públicos no Estado afeta Segurança Pública
Presidentes de sindicatos ligados à Segurança Pública no Estado | Foto: Divulgação

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O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Administração (Sead), anunciou a suspensão dos concursos públicos em Goiás no último dia 8. A medida, que afeta o serviço público no geral, impacta de maneira mais incisiva a Segurança Pública -- o que inclui a Polícia Militar, Polícia Civil e outros.

Isso, porque a Lei Estadual 17.866, de 2012, estipulou que o efetivo da PM em Goiás deveria ser de 30.741. Entretanto, ao acessar o Portal da Transparência, é possível perceber que há por volta de 13.352 policiais militares ativos, ou seja, 17.389 a menos do que o estipulado em Lei. Isto é, falta 56,57% de policiais ativos para que o Estado cumpra o que é estabelecido.

Há também 6.665 reformados e 2.976 pensionistas. Mas essa segunda categoria tende a aumentar até o fim do ano. De acordo com o Portal da Transparência, até dezembro de 2019, mais de mil servidores da PM se aposentarão. Para ser exata, serão 1.291 a menos.

Isso significa que até o fim do ano, sem a realização de concursos e chamamentos, o total efetivo de policiais militares será de 12.061. O déficit, então, passará de 56,57% para 60,76%. Quer dizer, o Estado terá um efetivo correspondente a aproximadamente 2/5 do ideal.

Sindicato

Para o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Miliar e do Corpo de Bombeiros de Goiás (Assof), Coronel Anésio Barbosa, a suspensão de concursos para aumento de arrecadação é lamentável. "A reposição de efetivos é uma necessidade para atender às demandas da sociedade", disse.

Ele afirma que entende as dificuldades financeiras do Estado, mas, por outro lado, acha que o Governo poderia encontrar outras soluções para aumento de arrecadação. "Existem alternativas que inclusive já foram apresentadas, como cortes de incentivos fiscais, combate à sonegação fiscal e outros", explica.

Em sua perspectiva, essa medida penaliza a categoria e a sociedade. "O policial militar acaba trabalhando dobrado, porque a demanda não diminui e, no entanto, os servidores têm que dar conta de tudo o que é demandado. Afinal, nós policiais vamos fazer de tudo para atender o cidadão e acabamos nos sobrecarregando", opina.

Ainda segundo Anésio, esse sobrecarregamento desencadeia uma série de consequências a longo prazo. Entre elas o aumento do estresse entre os policiais. "O que pode gerar situações indesejáveis no futuro", sublinhou.

Suspensão de concursos públicos no Estado afeta Segurança Pública
Presidente do Sinpol diz que suspensão sobrecarrega policiais | Foto: Divulgação

Polícia Civil

No caso da Polícia Civil, diferente da Militar, não há uma Lei que estabeleça um mínimo efetivo, mas o quadro dispõe de 6 mil vagas no total. Hoje o Estado, no entanto, conta com 3.958 ativos, 1.852 aposentados e 762 pensionistas. Dos ativos, 215 estão prestes a se aposentar.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol), Paulo Sérgio, considera que isso representa pouco mais da metade dos cargos preenchidos (aproximadamente 66%). "É um contingente baixo demais, precisamos de concurso público, mas essa medida já era prevista, dado o discurso de terra arrasada do Governo de Goiás", disse.

Ele compartilha da preocupação do presidente da Assof: " Temos um problema sério de acúmulo de funções. Policiais cumprem funções que muitas vezes não são suas, o que é irregular, mas que somos obrigados a fazer para satisfazer a população. O policial tem a profissão mais estressante do mundo, imagina acumulando função?".

Paulo ainda destaca que uma preocupação da população hoje em dia é com a segurança. O papel da Polícia Civil é investigar os crimes. "Mas sem aumento de contingente, não tem como melhorar a Segurança Pública, estamos trabalhando por três ou quatro. O que significa que a população não terá tudo o que necessita de nós, o sentimento é de injustiça", lamenta.

Parlamentares

O deputado estadual Coronel Adailton (PP), que é policial militar, fez duras críticas a essa decisão. "Já passamos por isso no passado e isso trouxe, inclusive dificuldades no fluxo de carreira dos policiais", disse.

Segundo ele, a falta de militares na rua dificulta o trabalho, "que já é penoso". "Nosso policial já atua em horas extras, trabalhando muito além da sua carga horária, e se faltar mais policiais, aumenta ainda mais a dificuldade", criticou. Para ele, a segurança dos goianos que entra em risco.

O deputado Major Araújo (PRP), apesar de ser base do governador Ronaldo Caiado (DEM), disse que a suspensão de concursos afeta de maneira inestimável o efetivo das polícias. "Se você for no setor de pessoal da PM hoje, vai ver que todos os dias são protocolados pedidos de ida para a reserva", disse, considerando que a falta de chamamento pode agredir mais do que se imagina.

Segundo ele, os pedidos de ida para a reserva são motivados pela falta de promoção. A ausência de concursos, conforme o parlamentar, faz com que os policiais fiquem estagnados em seus cargos e uma coisa acaba levando à outra. "E isso oferece um grande risco à sociedade. Na polícia militar não dá para improvisar com temporários, o que resolve é o concurso e se isso não for feito, seguimos cada vez mais abandonados pela segurança", explicou.

Suspensão de concursos públicos no Estado afeta Segurança Pública
Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Secretaria

O secretário de Estado da Segurança Pública, Rodney Miranda, se manifestou por nota sobre o assunto. Em sua visão, o não empenho da folha de dezembro pela gestão passada levou a atual a tomar essa decisão. Ele também pontua que o Governo, neste momento, prefere acertar as contas com os servidores em atividade do que convocar novos.

"É preciso um diagnóstico detalhado e cauteloso para saber quem é que está em desvio de função, quem é que está em função administrativa e que poderia estar no operacional e, também, tentar aproveitar policiais da reserva para cobrir certas funções que ajudem a liberar os combatentes para o trabalho de rua, seja no policiamento ostensivo, ou no trabalho investigativo", escreveu.

Rodney também disse que sua equipe está empenhada em ver a distribuição atual do efetivo, revendo classificações políticas feitas no passado. "Que não respeitaram as manchas criminais e a alocação técnica de efetivo", disse.

"Por fim, destaca que 300 policiais já foram retirados de funções administrativas para o trabalho efetivo nas ruas e que, dentro em breve, este número chegará a 500, podendo atingir até o fim deste ano um quantitativo de mil novos homens reforçando o policiamento", pontua. No entanto, esses mil novos homens não suprem o total do efetivo que irá se aposentar no mesmo período.

Suspensão de concursos públicos no Estado afeta Segurança Pública
Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Economia

Para a secretária da Economia, Cristiane Schmidt, a medida é correta e sensata para equilibrar as contas. Para ela, a reclamação sobre a suspensão de concursos é sindical e visa somente aos interesses dos servidores e ignora a população como um todo.

"O sindicato só quer mais e mais para os servidores, mas e o resto da população? Quem fala por eles? Os servidores são os privilegiados", disse. Ela relata, ainda, que a todo momento chegam TACs determinando chamamento de aprovados em concursos de mais de 10 anos atrás, o que, segundo ela, só onera ainda mais o Estado.

Cristiane voltou a dizer que o gasto com servidor público é alto. Ela frisa que, no momento, o Governo quer investir em Saúde e Educação, com foco nos hospitais. Por isso, acha sensato suspender processos seletivos para aumentar arrecadação em outros âmbitos da administração.

PCC e Comando Vermelho travam guerra para dominar o crime em Goiás

Armamento apreendido pela Polícia Civil de Goiás com membros do PCC e Comando Vermelho | Foto: SSPGO
Armamento apreendido pela Polícia Civil de Goiás com membros de facção criminosa | Foto: SSPGO

Estado é considerado estratégico para facções, que expandem seus tentáculos pelo interior em busca do poder na rota do tráfico

Um fuzil 5.56, uma espingarda calibre 12, quatro pistolas 9 milímetros com kit rajada e mais de 200 municípios. O arsenal, que pode ter sido usado em 50 homicídios, foi encontrado na sexta-feira, 12, pela Polícia Civil de Goiás.

Seis homens, quatro deles cumprindo pena no sistema prisional de Goiás, envolvidos em pelo menos dez homicídios, presos pela Polícia Civil na quarta-feira, 10.

Quatro homens invadem o hospital municipal de Caldas Novas, no dia 20 de março, fazem médicos e enfermeiros reféns e tentam matar Francivaldo Bezerra Malhão. Internado para se recuperar de um ferimento à bala, Malhão consegue fugir, mesmo monitorado por uma tornozeleira eletrônica.

Nove mortos, 14 feridos, 106 foragidos da Colônia Agroindustrial do complexo prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana do Estado, no dia 1º de janeiro de 2018. Um dos maiores massacres dentro de presídios já registrados em Goiás.

Duas siglas, que são evitadas em declarações públicas pelas autoridades policiais e pela imprensa, unem esses quatro casos de violência explícita: PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho). As duas, que travam um duelo sangrento em todo o território nacional, também marcam, com sangue, o seu território em Goiás.

Relatório do Ministério da Segurança Pública estimou, no final de 2018, que as duas facções tinham, juntas, cerca de 1,5 mil integrantes em Goiás. Segundo dados do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a população carcerária no Estado é de 21 mil presos, em diversos regimes. Isso significa que 1 em cada 14 detentos é integrante de um dos dois grupos.

Falta de efetivo e sistema prisional vulnerável tornam Goiás um terreno fértil para facções

As facções criminosas atuam em todo o território brasileiro, mas encontraram em Goiás um terreno fértil para plantar raízes. O Estado é geograficamente importante, está no Centro do País e faz divisa com cinco Estados e o Distrito Federal. Por isso, trata-se de uma rota importante para o escoamento da droga que chega, principalmente, do Paraguai (maconha) e Bolívia (cocaína). Daqui, os entorpecentes chegam fácil a grandes centros consumidores, como São Paulo e o DF, além de dar acesso aos mercados do exterior.

Em segundo lugar, o sistema prisional é vulnerável, com unidades antigas e falta de efetivo para fazer a segurança. A Penitenciária Odenir Guimarães, por exemplo, foi construída na década de 1960 e nunca passou por uma intervenção ampla. Com capacidade para menos de 800 presos, a unidade já chegou a ter mais de 2 mil, segundo o CNJ.

Atualmente, a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP) ter cerca de 3 mil profissionais, sendo 1,5 mil Agentes de Segurança Prisional e 2,5 mil Vigilantes Prisionais Temporários para cuidar de mais de 120 unidades.

Em terceiro lugar, há o reconhecido déficit no número de policiais.

"Praticamente todas as unidades prisionais de Goiás têm influência dessas facções, em maior ou menor grau", diz o promotor Luciano Miranda, de Goianésia, ex-coordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal, do Ministério Público de Goiás. Ano passado, o CAO, munido de dados do Centro de Inteligência do MP, chegou a emitir um alerta de possíveis ataques de facções em Goiás.

Ministério Público, Goiás PCC, Comando Vermelho Jornal Opção
Luciano Miranda, promotor: "Todas as unidades prisionais de Goiás têm influência das facções criminosas"| Foto: Arquivo Pessoal

Em alguns casos, a DGAP teve de distribuir presos de acordo com a facção. O recém-inaugurado presídio de Anápolis, por exemplo, recebeu líderes do PCC. O de Formosa abriga faccionados do Comando Vermelho. A estratégia visa evitar matanças, como a que ocorreu em janeiro de 2018 no Complexo Prisional de Aparecida, quando nove detentos do semiaberto morreram e outros 14 ficaram feridos. A carnificina obrigou a então ministra do Supremo Tribunal de Justiça, Carmen Lúcia, a realizar uma inspeção no presídio.

Mas, após a visita da ministra, quase nada mudou. "Há alguns anos as facções se instalaram nos presídios goianos e, desde então, elas mantêm o controle do sistema", diz o deputado federal Delegado Waldir (PSL).

Facções se interiorizaram

Nos últimos anos, as facções criminosas deixaram de atuar somente na Região Metropolitana e ganharam os municípios do interior. A situação se intensificou após a rebelião de janeiro de 2018 no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Na época, 84 presos ligados a facções criminosas foram levados para outros presídios.

Essa "interiorização"se reflete na segurança de municípios menores. Em Goianésia, localizada a 177 quilômetros de Goiânia, por exemplo, dos cinco homicídios ocorridos neste ano, quatro estavam relacionados à disputa de poder entre os criminosos faccionados.

Em Caldas Novas, no primeiro trimestre, foram 13 homicídios. Apesar de a Secretaria de Segurança Pública apontar que o número de homicídios tem caído (foram 15 em 2017 e 14 em 2018 no mesmo período), a tensão culminou na troca do comando da Polícia Militar. Na quinta-feira, 11, o coronel Ronny Alves, que já foi comandante da Rotam (Rondas Táticas Metropolitana) e do Giro (Grupo de Intervenção Rápida Ostensiva) assumiu o cargo em substituição ao tenente coronel Francisco Leônidas.

Em 2018, em uma operação da Delegacia de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, foi preso em um condomínio de Caldas Novas o piloto Felipe Ramos Morais. Ele é acusado de participar do assassinato de Gegê do Mangue, ocorrido no Ceará. Mangue era apontado como um dos principais líderes do PCC no País.

"O Governo passado decidiu retirar os presos [de Aparecida de Goiânia] e distribuí-los no Estado. O efeito é mais violência no interior", critica o deputado estadual Major Araújo (PRB), que é membro da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa. Araújo cita como exemplos os casos de Anicuns, Jussara, Ipameri e Cachoeira Dourada. "Sem efetivo policial e equipamentos inadequados, o crime organizado encontra o ambiente favorável para se expandir", diz.

Nos últimos anos, houve uma intensificação na busca de novos integrantes para os grupos criminosos em Goiás, especialmente na Região Sudoeste do Estado - porta de entrada do tráfico no Estado. De acordo com policiais civis, presídios de Rio Verde, Jataí e Mineiros tornaram-se focos de recrutamento de faccionados.

Goiás é importante polo logístico para o tráfico

A localização geográfica, o território amplo e as divisas permeáveis tornam Goiás um importante polo logístico para as facções criminosas. A maior parte das drogas distribuídas no Brasil vem do Paraguai (maconha) e da Bolívia, passam pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e encontram em Goiás o centro de distribuição para grandes mercados. Por isso, dominar o Estado é ter um grande trunfo.

Irapuan Costa Júnior PCC Comando Vermelho Jornal Opção
Ex-secretário Irapuan Costa Júnior: "Goiás é a principal rota rodoviária para o tráfico de drogas"| Foto: Arquivo

"Goiás é a principal rota rodoviária das drogas, possui aeroportos e locais isolados onde a droga pode esfriar", explica o ex-secretário de Segurança Pública Irapuan Costa Júnior. Essas vantagens operacionais, segundo o ex-secretário, obrigam que os operadores do tráfico mantenham bases no Estado.

Por isso, as facções criminosas não atuam mais restritas aos presídios, já que é do lado de fora que o comércio fervilha. Em uma operação recente das polícias goianas, foram apreendidos em um condomínio de luxo em Goiânia R$ 21 milhões. As investigações encontraram outros R$ 16 milhões em contas bancárias da quadrilha, ligada ao PCC.

De acordo com Costa Júnior, as investigações revelam a diversificação do ramo de atuação da facção em Goiás. Com tanto dinheiro em mãos, os criminosos atuam como uma organização bancária, alimentada por recursos do tráfico, de assaltos a bancos e ataques a carros-fortes. O grupo também investe em empresas tradicionais para lavar o dinheiro produto do crime.

Para manter o poderio, as facções expandem seus tentáculos. No início de abril, a Polícia Civil deflagrou a Operação Antídoto, que descobriu a influência do Comando Vermelho no Judiciário goiano. O assessor Judiciário Carlos Eduardo Moraes Nunes foi preso junto do advogado Emerson Thadeu Vita Vieira. Nunes é acusado de organizar um esquema de venda de sentenças e desaparecimento de processos para beneficiar integrantes da facção.

Facções agem de forma diferente

Os agentes de segurança percebem que cada uma das duas principais facções que marcam presença em Goiás tem uma forma específica de agir. O Primeiro Comando da Capital é uma organização "empresarial", já o Comando Vermelho atua de forma mais visceral.

O PCC tem hierarquia rígida, o CV é horizontal. Pela importância logística de Goiás, a facção paulista tem, aqui, a figura chamada "sintonia final". Trata-se de um posto avançado no organograma do grupo, abaixo apenas da sintonia final, conselho superior composto por poucos e que tem entre os nomes ilustres Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Fontes na Segurança Pública comentam que, nos últimos anos, o PCC tem sido menos rigoroso no processo de seleção de membros. Os recrutas ou são apresentados por padrinhos ou são identificados e forçados pela liderança. Até há bem pouco tempo, todos tinham de pagar uma mensalidade e passar por um processo chamado "batismo".

Atualmente, há uma espécie de flexibilização dos critérios. "Por isso houve uma explosão no número de faccionados em Goiás", explica o promotor Luciano Miranda. "Há um aumento significativo no número de batizados em Goiás", complementa um coronel da Polícia Militar de Goiás, que solicitou anonimato.

O PCC é uma empresa. Tem controle dos faccionados, contabilidade profissional e os braços regionais respondem ao comando nacional. O CV, segundo o coronel ouvido pelo Jornal Opção, tem uma cultura mais "carioca"- termo usado para caracterizar uma certa informalidade na estrutura. "O PCC é empresarial, funciona como um negócio. O Comando Vermelho é mais 'criminoso'", explica o ex-secretário Irapuan Costa Júnior.

Polícia goiana faz a sua parte

Grupo preso pela Polícia Civil de Goiás guardava armamentos para membros de facções | Foto: SSPGO
Grupo preso pela Polícia Civil de Goiás guardava armamentos para membros de facções | Foto: SSPGO

As autoridades da Segurança Pública falam pouco sobre o assunto. Procurado pelo Jornal Opção, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda preferiu se pronunciar por meio de uma nota lacônica. "Qualquer nível de detalhamento sobre o trabalho feito pelas forças policiais e as providências para diminuir a atuação das facções criminosas no Estado podem colocar em xeque as operações que estão por vir", diz o texto enviado à reportagem.

O secretário argumenta que o investimento na inteligência para monitorar as facções, tanto nos presídios quanto fora deles, tem "provocado intensa derrocada no poderio desses grupos". A nota confirma, porém, que as elas têm "forte"atuação no Estado, com ramificações no tráfico de drogas, roubo de bancos, de automóveis e de cargas, "todas elas devidamente monitoradas".

Titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco), o delegado Alexandre Barros diz que a atuação da especializada envolve investigações "melindrosas e complexas", que devem ser tratadas com sigilo. "Estamos fazendo um trabalho detalhado [de identificação e monitoramento] de todos os faccionados em Goiás", diz.

Responsável pela transferência de oito líderes de facções que estavam em Goiás para presídios federais, Irapuan Costa Júnior diz que o atual secretário "está fazendo uma perseguição" intensa contra os faccionados.

De fato, as forças de segurança têm buscado atacar tanto o PCC quanto o CV. Em dezembro de 2018, 58 integrantes do PCC foram presos na operação Inimigos do Rei. Um deles, identificado apenas como Imperador, era o encarregado de fazer a articulação do grupo goiano com a cúpula nacional da organização.

Na sexta-feira, 12, a Polícia Civil apresentou o resultado da Operação Courier, que apreendeu um fuzil 5.56, uma espingarda calibre 12, quatro pistolas 9 milímetros, além de carregadores e munições. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Aloísio José da Silva mantinha o arsenal, usado por membros de uma das facções na disputa por território e outras ações criminosas. A suspeita é de que o armamento tenha sido usado em cerca de 50 homicídios em Goiás.

Sintomaticamente, tais operações frequentemente atingem homens que já estão atrás das grades. "É interessante [usar] o termo prender, pois os mandados muitas vezes são contra indivíduos que já estão presos comandando a cadeia criminosa", diz o promotor Luciano Miranda.

É paradoxal, mas, diante de tanto poderio dos criminosos, cada conquista das forças de segurança deve ser reconhecida.

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Abadiânia é foco de pesquisa econômica para recuperação do setor empresarial

Ação multisetorial mapeia conjuntura econômica para desenvolver potencialidades locais após prisão de João de Deus [caption id="attachment_177617" align="alignnone" width="620"] Baixa movimentação na Casa Dom Inácio de Loyola desmoronou o sistema financeiro de Abadiânia | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] A movimentação econômica de Abadiânia se calçava, em grande parte, nos atendimentos religiosos do médium João de Deus na Casa Dom Inácio de Loyola. A cidade recebia quase cinco mil pessoas por semana, segundo levantamentos da própria casa. A saída do religioso  desmoronou o sistema financeiro da região, conforme apurado pelo Jornal Opção em janeiro deste ano. Na segunda-feira, 8, o Instituto Euvaldo Lodi de Goiás (IEL) começou a mapear a cadeia econômica da cidade para escrever o Mapeamento e Diagnóstico Empresarial de Abadiânia. A pesquisa de campo visa encontrar novas oportunidades de negócios que possam recuperar a saúde financeira do município. A ideia surgiu em reuniões das entidades do Sistema S e a Fecomércio junto a Prefeitura de Abadiânia e o Governo de Goiás, em meados de janeiro, após a queda acentuada de atendimentos na Casa Dom Inácio. O mapeamento faz parte da primeira etapa da ação multisetorial que envolve o Sistema S, a Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio) e o IEL. Após identificar os setores que podem ser recuperados e os que podem ser incentivados, as entidades envolvidas atuarão a fim de efetivar as indicações levantadas no relatório. [caption id="attachment_177622" align="alignleft" width="300"] Diretor do IEL em Goiás, Humberto Oliveira, diz que o órgão realiza a pesquisa de campo na cidade | Foto: Divulgação[/caption] “Essa primeira ação é fazer o diagnóstico e para isso criamos uma metodologia de pesquisa para levantar dados das potencialidades do município. Estamos com duas pesquisadoras nesse trabalho técnico. No trabalho de campo temos parceria com alunos do SENAC que coletam dados na cidade”, explica o Superintendente do IEL em Goiás, Humberto Oliveira, e complementa que vão se reunir também com a Prefeitura da cidade para mostrar o que pode ser feito após o documento ser redigido. O Sebrae Goiás, como entidade responsável pela promoção da competitividade e desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e pelo fomento ao empreendedorismo goiano solidarizou-se com a problemática dos empreendedores de Abadiânia e está aplicando seus esforços para auxiliar aquela comunidade, dentro de sua competência, segundo o Diretor-Superintendente do Sebrae, Leonardo Guerra de Rezende Guedes. “Formamos uma parceria entre entidades ligadas ao Sistema S visando compreender a profundidade dos impactos que os empresários de Abadiânia estão passando e, a partir dos resultados, traçaremos estratégias de atuação conjunta para reerguer a economia daquele município”, esclarece Leonardo Guedes. Basicamente, as atividades fazem parte de um “programa de desenvolvimento com um trabalho local (Abadiânia) e territorial (localidades próximas). Os impactos atingirão toda a região próxima, não só a cidade”, diz a analista do Sebrae Goiás, Mara Cristina Machado. [caption id="attachment_177623" align="alignnone" width="620"] Leopoldo Veiga Jardim (Sesc/Senac) e Marcelo Baiochi (Fecomércio) integram equipe multisetorial para recuperar a economia de Abadiânia | Foto: Sílvio Simões[/caption] Ainda segundo a analista, o Sebrae irá participar do processo com a expertise empresarial. “Nosso foco é o apoio ao desenvolvimento da micro e pequena empresa, com consultorias e capacitações, além programas de educação empreendedora nas escolas e o despertar de vocações empreendedoras da cidade”, conclui. Cada entidade terá atuação reservada à sua área de competência, como explica o Diretor do SESC/SENAC de Goiás, Leopoldo Veiga Jardim. “Depois de levantar as informações com a pesquisa do IEL, vamos colocar a estrutura do SESC e SENAC de acordo com a necessidade da cidade, através do programa de gratuidade para requalificar a mão de obra e o SESC vai colocar a estrutura de saúde a disposição. Cada um vai ajudar dentro da sua competência”, assegurou Leopoldo Veiga. [caption id="attachment_176206" align="alignleft" width="300"] Diretor-superintendente do Sebrae em Goiás, Leonardo Guerra, atuará com foco na capacitação empresarial da região | Foto: Divulgação[/caption] A pesquisa que começou na semana passada, com a metodologia do IEL, utiliza equipes das Faculdades SENAC e Universo. “O relatório deve ficar pronto em duas semanas”, adiantou Leopoldo. O presidente da Federação do Comércio de Goiás, Marcelo Baiochi, entendeu que é necessário “fazer algo pelas pessoas daquele município” e por isso decidiu integrar a equipe com o Sistema S e o IEL. “Nos próximos 30 dias teremos o diagnóstico e as ações a serem desenvolvidas. Vamos reunir os empresários da região e discutir um projeto de qualificação com treinamento e palestras”, revelou Marcelo Baiochi.

Potenciais além da religião

O presidente da Fecomércio diz que o turismo religioso continua sendo a principal atividade econômica da cidade, embora com menos força do que antigamente. Algumas ações já podem ser previstas com a experiência e o conhecimento que Baiochi tem da região. “Ali também passa o caminho de Cora, que deve ser maximizado para melhor retorno econômico aos cidadãos. Podem surgir também outras atividades que não identificamos visualmente, mas indicadas no relatório de campo”, afirma Baiochi. A região tem a BR 153 como principal fonte de acesso à cidade e que tem grande movimentação diária, segundo a analista do Sebrae, Mara Machado, para ser explorada além do turismo religioso. “A cidade tem um patrimônio cultural e artístico muito interessante para ser estudado e a rota de Planalmira, uma rota turística que está sendo inserida no caminho de Cora, e faz um trabalho de resgate de tradições e cultura”, aponta Mara Machado como uma série de possibilidades e competências a serem desenvolvidas na região.  

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Falta de atendimento pediátrico em Goiânia é uma doença crônica

Segundo o Cremego, Prefeitura desmontou o atendimento nos Cais, mas Materno-Infantil, que é do Estado, também enfrenta deficiências

Com apenas 5 anos de idade, Diego tornou-se mais um símbolo da precariedade da saúde pública em Goiânia | Foto: vídeo da família
Com apenas 5 anos de idade, Diego tornou-se mais um símbolo da precariedade da saúde pública em Goiânia | Foto: vídeo da família

Quantas crianças vão ter de morrer? A pergunta de Divina Soares de Almeida reverbera nos corredores do Hospital Materno Infantil e ecoam no
Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) Campinas desde a quinta-feira, 28. Naqueles dia, com apenas 5 anos de idade,  Diogo Soares Carlo Carmo tornou-se o mais novo símbolo do descaso no atendimento à Saúde em Goiânia - especialmente em relação à pediatria.

Três dias após chegar ao Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) Campinas, ser medicado e ter exames considerados "normais" pela equipe que o atendeu, sem melhoras o menino foi levado pela família ao Hospital Materno Infantil, onde morreu após 11 horas nos corredores do hospital, que é referência no Estado.

A agonia da família de Diogo havia começado bem antes. Mais precisamente, na segunda-feira, 25. Naquele dia, o menino foi levado ao Cais Campinas. Com febre alta, os parentes imaginavam que ele havia contraído dengue.

No Cais, recebeu uma medicação e foi mandado de volta para casa. O exame de sangue, segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), estava "normal".

Três dias mais tarde, Diogo, sem melhorar, foi levado ao Hospital Materno Infantil, onde chegou por volta das 3 horas de quinta-feira, 28. Recebeu a classificação "amarelo" (sem risco imediato) e ficou na enfermaria improvisada no corredor do hospital, no colo da mãe. Às 13h55 da quinta-feira, a criança morreu.

Por ter sido fatal, o caso de Diogo ganhou repercussão. Mas ele faz parte da rotina de quem busca atendimento médico público em Goiânia, especialmente quando o caso é de pediatria.

O gargalo começa na deficiência da rede básica de atendimento, que é de responsabilidade da Prefeitura de Goiânia. Os Cais e Upas (Unidades de Pronto Atendimento) deveriam dar conta dos casos mais simples, que não requerem internação ou cuidados mais intensos. Um trabalho mais eficiente das equipes da Estratégia de Saúde da Família também seria fundamental.

Mas, quando o atendimento primário falha, a situação se agrava. O Hospital Materno-Infantil, que é gerido pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), Organização Social (OS) que administra a unidade, no primeiro bimestre de 2019, uma média de 15 crianças que deveriam ter sido atendidas na rede municipal foram encaminhadas diariamente ao HMI.

Os dados apontam que mais de 50% dos pacientes que chegam ao Materno-Infantil poderiam ter sido atendido em uma unidade municipal. A situação, que nunca foi a ideal, se complicou a partir de 2015, quando a Secretaria Municipal de Saúde decidiu acabar com o atendimento pediátrico na rede Cais e concentrá-lo no Cais Campinas.

Desmonte

Em 2018, das 32.605 crianças atendidas no HMI, 16.119 poderiam ter tido a assistência inicial em um Cais. "A Prefeitura de Goiânia desmontou o serviço de pediatria", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis.

Até 2015, havia atendimento pediátrico em todos os Cais de Goiânia. Contudo, como as faltas eram frequentes, por haver poucos médicos contratados pela rede, a Prefeitura decidiu concentrar o atendimento em Campinas. A ideia era que, assim, não haveria lacuna. Mas a realidade é outra.

No ano passado, durante fiscalização, o Cremego encontrou problemas como falta de medicamentos e insumos básicos para o trabalho dos médicos e enfermeiros, como soro fisiológico, água esterilizada e outros. O Conselho, então, determinou a interdição ética da unidade - que é quando os profissionais são proibidos de trabalhar em um local que não dá condições mínimas.

A intenção, segundo o presidente da entidade, era pressionar a Prefeitura a tomar providências. Contudo, a Prefeitura obteve uma liminar que derrubou a interdição.

O Cais Campinas recebe em média 300 crianças por dia. Para cada plantão, o ideal é que fossem escalados quatro pediatras, além de um quinto profissional "reserva". Eles são divididos e cada período de 12 horas é coberto por dois médicos.

Contudo, não é raro que os pacientes não encontrem nenhum médico da especialidade no local. Na sexta-feira, 5, em plena crise detonada pela morte de Diogo Soares, o atendimento só teve início após às 8 horas, quando deveria ter iniciado às 7 horas - conforme constatou o Conselho Tutelar da região.

Caso de polícia

"Havia quatro médicos escalados. Chegamos lá [a equipe do Conselho Tutelar] pouco antes das 8 horas e havia 20 famílias aguardando. O atendimento só começou por volta das 8h10", diz a conselheira tutelar Vera Lúcia Pereira da Silva, que gravou um vídeo que mostra todos consultórios vazios. "O Cais Campinas é um caso de polícia", afirma.

Vera Lúcia e Carlos, conselheiros tutelares. "O Cais de Campinas é caso de polícia" | Foto: pessoal

Na noite de quinta-feira, 3, as famílias que foram ao local encontraram parte do atendimento pediátrico fechado. O único pediatra de plantão informou que só atenderia os casos mais graves. Quando a equipe do Jornal Opção chegou ao local, Iara da Silva Marques tentava atendimento ao filho de 1 ano e 8 meses. “Já estamos há uma hora e nada. O menino está com dor de ouvido e dor de garganta. Eles falam que tem pediatra, mas querem agendar para amanhã. Para mim não tem ninguém”, afirmou.

De acordo com Sandro Rodrigues, superintendente de acesso a serviços hospitalares e ambulatoriais da Secretaria Estadual da Saúde (SES), os Cais deveriam ser o primeiro contato da população em busca de atendimento médico. "O Hospital Materno-Infantil é o fim dessa linha", explica.

Nesta semana, durante audiência na Câmara de Vereadores, a secretária de Saúde de Goiânia responsabilizou o Estado pelos casos mais graves de falta de atendimento adequado. Segundo Fátima Mrué, o atendimento de urgência pediátrica deve ser feito no Materno-Infantil.

De fato, um acordo firmado em 2015 entre as secretarias Estadual e Municipal de Saúde pactuou responsabilidades para o atendimento à pediatria. A Prefeitura, inclusive, tem de fazer um repasse anual de R$ 10,3 milhões para o Estado, que deve fazer esse recurso chegar ao HMI.

Mas a melhoria na resolução de casos simples evitaria que eles se agravassem e que dezenas de crianças fossem levadas para o Materno Infantil todos os dias, já em situação mais delicada. "A Prefeitura não tem pediatras. Se o atendimento básico fosse feito, evitaria-se o agravamento de muitos casos que chegam ao Materno Infantil, diz o deputado Zacharias Calil [DEM], que foi cirurgião pediátrico no HMI por muitos anos, obtendo notoriedade ao realizar a separação de gêmeos siameses.

Em 2015, quando da celebração do acordo, o Ministério Público recomendou à Secretaria Municipal de Saúde o reforço e ampliação do atendimento pediátrico nos Cais Campinas e Novo Mundo. Porém, este último, localizado na região leste de Goiânia, está sem pediatra há três anos, segundo denúncia do Conselho Tutelar.

Construído há quase 50 anos, Materno está deteriorado

As deficiências da atenção básica, no entanto, não camuflam as deficiência do próprio Hospital Materno-Infantil. Construído em 1972, portanto, há 47 anos, a unidade também é palco comum de famílias que aguardam atendimento por horas a fio.

Na quinta-feira, 4, a equipe do Jornal Opção encontrou Francine Silva Santos no local. Grávida de um mês, ela esperava há quatro horas por atendimento. "Não deram previsão. Estou grávida, com sífilis, mas não sou prioridade", disse.

Como funciona a classificação por cores nos hospitais públicos

A classificação de prioridades segue um sistema de cores. Os casos considerados menos graves recebem classificação verde e azul. As cores amarela, laranjada e vermelha indicam casos que necessitam de mais cuidados.

Diego Soares, o menino de 5 anos de idade que morreu nos corredores do hospital, recebeu classificação amarela quando deu entrada no hospital, por volta das 3 horas de quinta-feira, 28. Segundo esse sistema, a cor amarela apresenta um caso urgente, que requer atendimento médico, mas que não apresenta risco imediato. A direção do hospital e o Ministério Público apuram se houve erro ou negligência.

Superlotado

"O hospital Materno-Infantil está sempre superlotado", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis. Os números comprovam a afirmação. A média de atendimentos mensais na urgência e emergência é de 4.125 pacientes. Desses, 2.805 são crianças.

Os casos mais comuns envolvem queixas de febre, vômitos, diarreia e dificuldade de respirar (dispineia). Já os pacientes que chegam por meio da regulação, geralmente apresentam quadros de infecção generalizada, quadros neurológicos graves, insuficiência respiratória e dores abdominais fortes e difusas (chamado de abdome agudo).

Para atender toda essa demanda, o hospital, que é administrado pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), uma organização social, desde junho de 2012, conta com 20 leitos de pediatria clínica e 33 de pediatria cirúrgica. Há seis anos, quando a OS assumiu a unidade, eram 12 leitos de pediatria clínica e 57 de pediatria cirúrgica, segundo consta no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.

Por ser uma unidade de portas abertas, o HMI recebe pacientes classificados com as cores azul e verde, de baixa complexidade. Muitos deles vêm do interior, mas, segundo a direção, em nota enviada ao Jornal Opção, 70% são de Goiânia. "[Isso] reflete a desorganização e a falta de pediatras na rede", diz a nota. "O HMI tem acatado as recomendações do Ministério Público, no atendimento a pacientes de média e alta complexidade, aderindo assim ao seu perfil de atendimento", complementa.

Com tanta demanda e sem estrutura adequada para tanto, a população sofre. "O Materno acabou, não tem infraestrutura", diz o deputado Zacharias Calil.

É fato. Apesar de ser um hospital referência, e talvez mesmo até por isso, o HMI tem uma "enfermaria" improvisada. Ali, crianças são "internadas" em cadeiras. Diego Soares estava em uma assim.

Na sexta-feira, 5, o Jornal Opção foi procurado por um funcionário que denunciou a más condições de trabalho. Em fotos e vídeos enviados ao jornal, mostrou restos de comida no pátio e o espaço para alimentação dos terceirizados em situação insalubre. O IGH afirmou que não tem responsabilidade sobre o tratamento dado aos funcionários terceirizados e quem fornece os equipamentos, como o frigobar, e alimentação é a empresa que os contratou. O IGH também disse que o problema das infiltrações já está sendo resolvido, e que foi ocasionado pelo período de reformas combinado à chuva.

Fotos enviadas ao Jornal Opção mostram as condições precárias de trabalho no HMI Hospital Materno Infantil
Fotos enviadas ao Jornal Opção mostram as condições precárias de trabalho no HMI

Em inspeção no hospital, o promotor Vinícius Jacarandá Maciel, do Centro de Apoio Operacional de Saúde do Ministério Público Estadual, constatou a precariedade. De acordo com Jacarandá, o prédio está deteriorado e não comporta qualquer intervenção - a última reforma foi inaugurada pelo então governador Marconi Perillo em 2016. Para o promotor, não há outra alternativa, senão a construção de um novo hospital.

Depois da morte, as providências

Seguindo um roteiro repetitivo quando ocorrem tragédias como a morte do menino Diego Soares, que repercutiu em todo o Brasil, as autoridades anunciaram uma série de medidas para tentar estancar a sangria da rede pública de saúde, em especial, na área de pediatria. Governo do Estado e Prefeitura de Goiânia se reuniram com o Ministério Público Estado e prometeram ações.

A Prefeitura de Goiânia publicou edital de chamamento para contratação de novos pediatras. Segundo o superintendente de gestão de redes de atenção à saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Sílvio José de Queiroz, atualmente existem 19 pediatras contratados pelo Município - 12 deles são temporários. O novo edital quer contratar, no mínimo, mais 14.

"Queremos pelo menos dois pediatras em cada um dos sete distrito sanitário de Goiânia"

Sílvio José de Queiroz, superintendente da SMS

Com esse reforço, a SMS mudará o conceito adotado por ela mesma em 2015, descentralizando o atendimento. "Queremos pelo menos dois pediatras para cada distrito sanitário", diz Queiroz. Goiânia tem sete distrito sanitários, distribuídos por regiões.

Os médicos temporários serão contratados para atuar nos Cais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Para atraí-los, a Prefeitura oferece um salário maior que o pago atualmente aos profissionais da rede: R$ 11,6 mil para 20 horas semanais e R$ 23,2 mil para 40 horas - atualmente, os vencimento médio é de R$ 7 mil.

Queiroz explica que a Prefeitura tentou vários chamamentos nos últimos anos, mas que esbarrou na falta de interesse. O chamamento atual havia atraído, até a tarde de sexta-feira, 5, quatro candidatos. "[Com os salários melhores] esperamos que haja uma boa adesão", diz.

Enquanto os novos pediatras não são contratados, a SMS adotou alguns processos no Cais Campinas. Equipes de assistentes sociais oferecem transporte para outras unidades. De 180 fichas preenchidas na sexta-feira, 28 pacientes aceitaram o encaminhamento.

Hospital de Urgências

O Governo do Estado, que é responsável pelos casos mais graves, sinalizou com a abertura de vagas para pediatria no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), localizado na GO-070, saída para Inhumas. O secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino Júnior, disse ao hospital que seráo abertos 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e entre 39 e 43 leitos de enfermaria.

"Esse é um ganho, estivemos no Hugol e falamos com o serviço de assistência social e fomos informados que eles estão trabalhando para aumentar o atendimento nos próximos dias", diz a conselheira tutelar Vera Lúcia da Silva.

Para a família de Diego, as providência chegaram tarde demais.

Deputados cobram construção de novo hospital municipal

Capital do Estado, maior população, maior orçamento. Apesar de ter características que justificassem, Goiânia não tem um hospital municipal, que poderia desafogar o atendimento público, ao contrário de municípios vizinhos menores e com menos recursos.

O orçamento anual da Prefeitura de Goiânia é de R$ 5,2 bilhões, para uma população de 1,4 milhão de pessoas. Vizinha ao Sul, Aparecida de Goiânia, cujo orçamento para 2019 é de R$ 1,3 bilhão, para uma população de 565 mil, tem hospital municipal. Também o tem o vizinho ao Leste, Senador Canedo - orçamento anual de R$ 535 milhões e 112 mil moradores.

Em um raio de 50 quilômetros da capital, Bela Vista, com orçamento de R$ 76 milhões e 29 mil moradores, tem hospital municipal. Na mesma distância, em outra direção, Anápolis é outra cidade com hospital próprio da Prefeitura. O município tem orçamento de R$ 1,4 bilhão e 381 mil habitantes.

Todos os dados foram consultados nos portais de transparência e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Hospital da Família

A situação chama a atenção de parlamentares. "O investimento prioritário em Goiânia é a construção de um hospital municipal e de um novo Materno Infantil", admitiu, ao Jornal Opção, o deputado José Nelto (Podemos), aliado do prefeito Iris Rezende há décadas.

Zacharias Calil tenta trazer recursos para a construção de um Hospital da Família em Goiânia Foto: Jornal Opção

Enquanto isso, o deputado federal Zacharias Calil se mexe em Brasília. Na última quarta-feira, 4, o democrata reuniu-se com a equipe da World Family Organization (WFO), organização não-governamental associada ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU). A WFO atua no financiamento de hospitais em países em desenvolvimento.

Segundo Calil, a proposta é a construção de um hospital da família em Goiânia. A estimativa de custo é de R$ 100 milhões, para 200 leitos. O custeio seria bancado por emendas da bancada federal goiana e pelo Governo Estadual.

Calil se diz otimista com a concretização do sonho. O democrata diz que haverá um encontro do governador Ronaldo Caiado com representantes da ONG no dia 17 de abril. Segundo ele, como a construção é modular e feita pela própria WFO, seria possível concluí-la em um ano e quatro meses.

Atualizado às 11h28 de 8 de abril de 2019

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Nazistas em 1938
Acadêmicos se posicionam quanto ‘nazismo de esquerda’

Declarações de Jair Bolsonaro iniciaram um debate sobre nazismo na internet que, segundo professores, não existe seriamente nas ciências sociais
Nazistas em 1938
Empurrar nazismo para o outro lado do espectro ideológico se tornou argumento na internet | Foto: Reprodução

Nesta terça-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro afirmou sua certeza heterodoxa a respeito do alinhamento ideológico do nazismo. Incitado a responder a declaração que o ministro das Relações Exteriores deu em entrevistas em suas redes sociais, o presidente lembrou o nome do partido de Adolf Hitler, que tem o termo “socialista” na sigla (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães). A afirmação foi feita no memorial do Holocausto, em Israel. A ideia que influenciou Jair Bolsonaro e o ministro Ernesto Araújo provavelmente tem origem em Olavo de Carvalho.

O autodidata, que escreveu os livros “O Mínimo Que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota” e “O Imbecil Coletivo”, afirma que o nazismo é de esquerda há anos. Além de Olavo de Carvalho, outro comunicador já citado por Jair Bolsonaro como tendo credibilidade e que também ajudou a difundir a ideia foi Nando Moura, youtuber que tem um canal com 3,1 milhões de inscritos e cujo vídeo sobre o nazismo de esquerda tem um milhão de visualizações.

A controvérsia, entretanto, só parece existir no campo do debate ideológico. Nas ciências sociais, autores de direita e de esquerda afirmam que a discussão “não faz sentido algum”, é “risível” e “incompreensível”. Outras autoridades também rechaçaram o presidente. Segundo a agência de notícias DW, nesta sexta-feira, 5, parlamentares de vários partidos alemães condenaram as declarações. A deputada Yasmin Fahimi afirmou que “o fato de Jair Bolsonaro se apoiar nesta mentira é um ultraje nojento às vítimas do nazismo".

Veja a seguir o que pensam historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos e especialistas em direito internacional, de ambos os lados do espectro ideológico, ouvido pelo Jornal Opção.

Wilson Ferreira Cunha - Antropólogo e cientista político

Wilson Ferreira Fala sobre Nazismo
Ferreira Cunha, Antropólogo, com formação pela antiga União Soviética, cientista político e professor da PUC-GO | Foto: Arquivo / Jornal Opção

Eles confundem porque o nome do partido de Hitler era Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Em alguns pontos podem haver semelhanças, mas privilegiar o termo socialista no nome não é o fundamental, o principal é o nacionalismo alemão. Aliar o nazismo à esquerda por conta do nome do partido é raso, essa análise tem de ser feita historicamente e não simplesmente jogada. A história não é fechada e resolvida, ela é aberta à contemporização, contextualização e releitura dos fatos, mas isso tem de ser baseado em fatos e evidências.

Como essa ideia surgiu e por que ela está vindo a tona agora?

Por que o Bolsonaro chegou ao poder? Pelo discurso da anticorrupção, de ser o oposto da política anterior, que era de esquerda em nível internacional. Ele foi eleito contra o esquerdismo e essas declarações são uma mensagem aos eleitores dele.

Por que o Bolsonaro chegou ao poder? Pelo discurso da anticorrupção, de ser o oposto da política anterior, que era de esquerda em nível internacional. Ele foi eleito contra o esquerdismo e essas declarações são uma mensagem aos eleitores dele.

O que pode ser feito para ensinar o valor de fontes fidedignas?
Apenas por meio de uma educação baseada em conceitos e não ideologias. Não o delírio deslumbrado de querer fazer o bem como se isso fosse propriedade de uma ideia, mas por uma discussão eficiente dos saberes. Geralmente o radicalismo, não importa se de direita ou esquerda, não está aberto ao trabalho árduo contra a ignorância.

Ademir Luiz - Doutor em História

Ademir Luiz, escritor, doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção
Ademir Luiz, escritor, doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

O nazismo é de extrema-direita. Quando você coloca esse problema, é um falso problema. Essa discussão não existe na realidade, na academia é risível.

Mas aparentemente existem pessoas com essa dúvida.

Para citar Umberto Eco: a internet deu voz pro idiota da aldeia. Youtubers têm mais alcance do que especialistas em qualquer assunto. Essas discussões não têm relevância, mas têm amplitude. É como a teoria de que o homem não foi à lua: muita gente diz que não acredita, mas quem leva astrofísica a sério e pensa sobre isso de verdade não muda de opinião por conta da internet. É conversa de boteco que não muda a realidade.

Por que então as pessoas levantaram um assunto que não é importante para elas?
Tem a ver com o momento político. Um grupo sai do poder (e isso é sempre dramático), um grupo que, como todos, esperava a perpetuação. O que entra acusa o inimigo do que há de pior – de nazista. Um nazista de verdade se orgulharia de ser nazista, mas como nenhum dos dois é, fica esse jogo de empurrar a responsabilidade para os outros.

O alinhamento ideológico do nazismo é consenso na academia, mas estamos vivendo um momento de descrédito na ciência. Por que isso?
Os debates sérios continuam acontecendo na academia. Faltam intelectuais com dimensão pública. Os especialistas ficam em suas cátedras sem atuação social relevante. Quando são visíveis, geralmente têm uma atuação muito partidária ou do nicho da auto ajuda, o que diminui a respeitabilidade deles. Não temos intelectuais sério e com livros consumidos pelas pessoas, até porque a classe média interessada está em extinção.

Por quê?

No Brasil existe uma negação do conceito de elite – não elite financeira, mas de pessoas que podem servir de exemplo. Querer pertencer a uma elite cultural, querer saber ler criticamente se tornou uma coisa arrogante. A classe média consome menos cultura e então, a longo prazo, cria-se vácuo preenchido por conspirações. Eu acho que o povo está cada vez mais isolado do debate, mas todos querem participar.

Jean Marie Lambert - Doutor em Ciências Políticas


Jean Marie Lambert, mestre em Direito Internacional pela Universite Libre de Bruxelles e doutor em Ciências Políticas pela Université de Liège. Professor emérito da PUC-GO | Fernando Leite/Jornal Opção

O que o Olavo de Carvalho fala, e faz sentido dependendo de até onde você leva o raciocínio, é que existe a mesma base coletivista e autoritária tanto na esquerda quanto no nazismo. Entretanto, quando o Bolsonaro repete sem a argumentação, aí não faz sentido algum. Para mim, o Olavo de Carvalho tem o mérito de ter mantido a chama do classicismo aristotélico acesa enquanto o Brasil em bloco aderia ao globalismo de esquerda. Fora isso, ele não me parece um personagem bem-vindo na política.

Por que as ideias dele estão tendo essa adesão?
Pela mecânica mental da esquerda. Há vinte anos não se consegue fazer um raciocínio conservador na universidade. Tente dar uma palestra sobre ideologia de gênero, por exemplo; você toca numa vaca sagrada. Essas ideologias sob o pretexto de inclusão são as mais excludentes e menos diversas. Também na mídia tem funcionado assim.

Mas o Brasil profundo não olha para o que pensa a academia, ou a ONU [Organização das Nações Unidas], Unesco e órgãos internacionais. O Brasil profundo, esquecido pelo poder, de repente bate o pé no chão; é o mesmo fenômeno da eleição do Trump nos Estados Unidos. A ministra Damares Alves fala “menino de azul e menina de rosa” e o Brasil berra… na realidade o Brasil não, só os brasileiros com acesso à mídia e ao poder. A eleição do Bolsonaro foi uma eleição contra essas ideologias que são estranhas e alheias ao povo de fato. Os pronunciamentos dele não são ideais, mas o Brasil não conseguiu construir algo além de PT e Bolsonaro. Quase chamam as massas de burras e se surpreendem com a reação delas.

Francisco Itami Campos - sociólogo

Itami Campos é historiador, sociólogo e doutor em Ciências Políticas. Escritor membro da Academia Goiana de Letras | Foto: Reprodução

O partido de Hitler caminhava para um conservadorismo violento e racista – a mesma coisa na Itália, unidos por uma posição antidemocrática. Há uma articulação de extrema direita que procura qualificar isso como esquerda, descaracterizando todo o processo histórico.

O Brasil tem importado várias ideias de revisionismo histórico dos Estados Unidos. Por que essas coisas reverberam por aqui?
Primeiro, existe analfabetismo político que dá consistência a essas coisas. Depois, você tem uma ignorância voluntária, uma visão a-histórica: se voltarmos ao integralismo fascista brasileiro, de direita, você perceberá como foi antidemocrático. Por último, a esquerda ficou penalizada pela ligação do PT com a crise e há interesse em vincular tudo isso.

Na sua opinião, o que pode ser feito a respeito?
Só na escola. Você não pode descaracterizar o passado histórico simplesmente jogando “o nazismo é de esquerda”. Existe toda uma trajetória da história pela academia, pelo entendimento das pessoas sobre ela e, no fim, na escola é onde se explicam essas coisas. Mas estamos num momento de muita deformação ideológica.

Nasr Chaul - Historiador

Chaul é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, gestor cultural e membro da Academia Goiana de Letras | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

É incompreensível. As pessoas associam pelo fato de que a sigla do partido tem “socialista” no nome, isso não faz sentido histórico em nenhum lugar do mundo. Talvez seja uma questão ideológica, uma argumentação baseada no fato de que a esquerda também teve totalitarismo.

Por que ouvimos falar sobre isso se não há sustentação?
Acho que há uma tendência direitista no País, adormecida e saudosista, que tenta repensar a história por um viés ideológico próprio. Mas tudo foi estudado com base em análises, conteúdo, evidências; não é a fala de uma autoridade que muda os fatos.

Por que encontra apoio popular?
A reverberação é pequena; as redes sociais é que fazem muito barulho. A questão não passa por uma discussão séria na academia. Há impressão de que é muita gente, mas não há momento de dúvida.

Curso de empreendedorismo capacitou 258 mil pessoas

Goiânia está em as 10 melhores capitais do Brasil para empreender

Ideias para a elaboração de um verdadeiro Plano Diretor para Goiânia

O primeiro documento tem 12 anos de vida; nesse lapso de tempo, a cidade cresceu e agora precisa de orientações alinhadas ao cotidiano e futuro dos moradores [caption id="attachment_176189" align="alignnone" width="620"] Adensamento por verticalização tem se tornado mais frequente nas capitais. O Setor Bueno, por exemplo, quase não tem vazios urbanos | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção[/caption] A Prefeitura de Goiânia elabora o texto de revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) que vai definir o rosto da capital nos próximos 10 anos e como será investido o dinheiro do Município. O primeiro plano foi aprovado pela Câmara Municipal de Goiânia em 2007 e obrigatoriamente, forçada por Lei municipal, a Prefeitura deve revisar o documento a cada 10 anos para ajustes condizentes com o crescimento da cidade. Essa revisão vencida há dois anos vem sendo cozinhada em fogo baixo pela equipe do prefeito. O plano delimita como a infraestrutura existente se desenvolverá de forma equilibrada para evitar desigualdades regionais e sociais no município. Por exemplo, como a Região Noroeste de Goiânia, considerada a mais precária, poderia ter sua estrutura e economia mais desenvolvida como a da Região Sul. O texto mostra também quais localidades serão destinadas ao comércio, moradia, novos bairros, parques urbanos e outras limitações de uso do solo. Neste momento em que se discutem as soluções para os problemas atuais e futuros, o Jornal Opção buscou ideias para constituir um plano diretor alinhado às necessidades da capital. O professor da Universidade Federal de Goiás e Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, João Batista de Deus, esclarece que o plano precisa estabelecer soluções, forçosamente, para equilibrar as desigualdades econômicas e estruturais entre as regiões. O segredo de um bom Plano Diretor, segundo João Batista, é equacionar o problema de hoje com o de amanhã e, ao mesmo tempo, gerir os recursos naturais de forma responsável, como as áreas de captação de água. O geógrafo listou os temas mais sensíveis aos dias atuais que precisam ser revistos pelo poder público. O primeiro e mais urgente é encontrar uma forma de ocupar os chamados “vazios urbanos”, grandes áreas abandonadas no meio da cidade, que poderiam concentrar uma quantidade maior de pessoas para baratear o custo público de manutenção. Quanto mais pessoas estiverem morando numa metragem quadrada menor, fica mais fácil e barato de gerir o transporte público e a infraestrutura para acomodar os cidadãos (esgoto, iluminação, asfalto e outros). O adensamento populacional também beneficia a constituição de um comércio local direcionado ás demandas dos moradores, como shoppings, supermercados e hospitais. O Plano Diretor de 2007 previa a construção de prédios ao longo das grandes avenidas: 85, T-63, T-9, T-7, Mutirão e outras. Essa verticalização coloca os moradores perto das avenidas com maior quantidade de transporte público e consequentemente diminui-se os milhares de carros nas ruas. Assim fizeram em Curitiba, capital do Paraná, e deu certo, segundo João Batista. Em Goiânia, o Plano Diretor estipulou que os empreendimentos imobiliários também beirassem as vias mais largas, mas o poder público não cumpriu sua parte de fazer os corredores exclusivos para ônibus. “A Região Metropolitana de Goiânia tem uma imensidão de lotes vagos. Isso encarece muito a cidade. Imagine um bairro ocupado por 50% de sua capacidade. A Prefeitura vai ter que disponibilizar iluminação pública ao bairro inteiro, asfaltar as ruas, colocar transporte público (fica mais caro porque tem que circular lá)”, explica o docente da UFG. Os aspectos positivos da verticalização populacional é maximizar o uso da infraestrutura para que as pessoas não percam muito tempo ao transitar na cidade. Já o problema do adensamento fica no estresse enfrentado pelos moradores e que demanda investimento em áreas verdes e de lazer para amenizar, segundo o geógrafo. O Setor Bueno encara de forma intensa o estresse causado pelo complexo de prédios construídos em metragens reduzidas, principalmente no trânsito, onde atinge dois momentos de pico no dia: ao sair para o trabalho e o retorno às 18h. [caption id="attachment_175941" align="alignnone" width="620"] Professor da UFG, João Batista de Deus, afirma que os espaços vazios podem ser ocupados para baratear o custo de manutenção da cidade | Foto: Divlgação/Adufg[/caption] “A dificuldade de fazer um Plano Diretor no Brasil se baseia na desigualdade exacerbada entre as regiões que tem problemas crônicos difíceis de resolver”, desabafa João Batista. Ainda assim, o geógrafo sugere que o poder público considere diretrizes para a Goiânia do futuro. “O Plano Diretor tem que pensar no problema que foi construído ao longo do desenvolvimento da capital e pensar no que vem pela frente. É preciso agir para ter equilíbrio no futuro. Tem duas formas de atacar os problemas: resolver o hoje e pensar no futuro”, recomenda João Batista.

CAU recomenda menos habitantes por hectare

Conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Regina Faria de Brito, afirma que a entidade discorda das propostas apresentadas no Plano Diretor até o momento, onde se pretende elevar o adensamento urbano para mil pessoas por hectare, enquanto o desejo seria de 300. O conselho se encontrou com técnicos da prefeitura para conhecer o documento e sugerir mudanças de acordo com os conhecimentos em Arquitetura e Urbanismo e com o Estatuto das Cidades. Regina Brito teve acesso ao texto e avaliou alguns tópicos da revisão que estão errados, em seu entendimento, e apontou soluções para a cidade, numa entrevista recente ao Jornal Opção. "Na revisão do Plano Diretor, a prefeitura abriu espaço e nos recebeu. Receberam os documentos que entregamos, mas não sabemos até que ponto acataram. Alguns pontos foram alterados no projeto. Imagino que outros pontos não. O corpo técnico nos recebeu todas as vezes que solicitamos", relata a conselheira. Quanto a mobilidade urbana, a conselheira da entidade diz que não há um plano de mobilidade, considerado fundamental em qualquer Plano Diretor. "É preciso haver um diagnóstico de quantos veículos transitam, qual a política para o transporte coletivo. Os corredores de ônibus previstos no Plano Diretor de 2007. Havia a previsão de implementar 150 quilômetros de corredores exclusivos. Foram efetivados 30 quilômetros. É muito aquém do que havia sido planejado". Para criar um ambiente agradável de locomoção na cidade, o CAU reforça que o transporte coletivo precisa de uma revolução interligada entre a melhoria dos serviços e a conexão de pontos de embarque e desembarque espalhados pela capital. "A questão ideal seria um metrô subterrâneo. Houve planejamento na década de 1960, depois nos anos 1980, quando foram estabelecidos grandes eixos. Começou como uma cidade planejada, teve outras ações eficientes, o que norteou a possibilidade dos eixos para a possibilidade do metrô de superfície. O custo é muito menor. O metrô subterrâneo facilita uma série de questões por não se modificar a estrutura urbana, mas o custo é muito mais alto", analisa. O BRT Norte-Sul teve um percentual concluído, mesmo que aquém do necessário para os usuários de transporte público. "O percentual que foi feito e programado é muito aquém do necessário. O BRT, que tinha verba estadual, mas vai começar, só que pelas pontas e não vai passar pelo Centro. Como assim? Como vai ligar a linha se não passar pelo Centro?", questiona Regina Brito. Para a conselheira do CAU, não tem sentido a obra ser concluída com essa intenção; os trechos ficarão desconexos e dinheiro público investido será jogado no lixo. "Contradiz a proposta do Plano Diretor de revitalizar o Centro. Como ter uma proposta de revitalização e não passar o BRT pelo Centro. É uma contradição. Existe um planejamento, mas não tem a coerência necessária para responder a uma política pública de qualidade". [caption id="attachment_165969" align="alignnone" width="620"] Regina de Faria Brito, do CAU-GO, sugere 300 pessoas por hectare e não mil, como deseja a Prefeitura | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Regina explica que o adensamento populacional, em si, não é ruim, como as chamadas verticalizações - colocar milhares de pessoas em prédios. Mas preocupa a forma desordenada como acontece em Goiânia, especialmente ao longo dos parques, onde a legislação favoreceu a alta densidade. A recomendação da conselheira, nestes casos, é distanciar as construções em até 100 metros de áreas de preservação de baixa densidade, no mínimo, para conter os impactos da verticalização que ocorre. "A prefeitura não tem condição de fazer os parques, o que vem de parcerias público-privadas (PPPs). Só que as questões ambientais são inegociáveis. Observamos em todos os parque problemas de drenagem e de impacto no meio ambiente em função da verticalização muito próxima à área de preservação. O Jardim Botânico começou a ser discutido e pode ser levado para a mesma vertente", alerta Regina Brito. Revitalização do Centro - A legislação propõe a revitalização do local. O CAU-GO é favorável às obras no bairro, embora se preocupe com o adensamento urbano. A entidade aconselha que a ressuscitação do bairro não se limite ao patrimônio histórico, mas também ao ambiental para não gerar problemas futuros devido a tendência de se construir arranha-céus na região. "Quando se estimula o adensamento, o tombamento que é feito não é o do patrimônio histórico, mas o de derrubar mesmo as edificações antigas. Solicitamos que não se rescinda a altura máxima no Centro para evitar o que temos levantado, que é a tendência de construção de arranha-céus em outras áreas da cidade, e ao mesmo tempo reavaliar as regiões. A revitalização precisa existir, mas tem de ser cuidadosa para não trazer mais problemas", adverte Regina Brito. Os profissionais da arquitetura e urbanismo se preocupam com o tripé mobilidade, impermeabilidade e densidade dentro de uma cidade. E apesar das duras críticas do CAU-GO ao que a cidade se tornou nos últimos anos, existe uma luz no fim do túnel, segundo Regina. "Goiânia tem alguns pressupostos diferentes das demais cidades, que é exatamente a vertente do planejamento. Construções de até 200 metros quadrados não trazem tanto impacto do que quando são grandes edificações e que trazem um impacto muito maior. Há ainda a consciência da população em relação a essas questões. A transformação vem através da participação do cidadão", interpreta Regina Brito.

Tecnologia simples e barata traz fluidez para trânsito

A sincronização do trânsito consiste em programar vários equipamentos sequencialmente para liberar a luz verde assim que o motorista se aproxima do semáforo. Desta forma, cria-se a conhecida “onda verde” entre vários sinais, dando fluidez ao trânsito em avenidas e vias de grande extensão. As ondas verdes poderiam ser replicadas em avenidas de trânsito excessivo em Goiânia, como a 85, T-63, T-9, T-7, Mutirão e Independência, segundo avaliação do presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás, Roberto Elias Fernandes. A implementação deste sistema seria rápida, simples, eficiente e barata. Em pouco tempo, os motoristas que transitam diariamente nessas avenidas, principalmente nos horários de pico, experimentariam a redução de engarrafamentos. “Em Goiânia não existe esse sistema. Os motoristas param em todos os semáforos porque eles não conversam entre si. O investimento é muito baixo e dá um resultado muito bom no trânsito”, indica Roberto Elias. As ondas verdes são utilizadas atualmente em Campo Grande (MT), Campinas (SP) e Curitiba (PR), segundo Elias, com resultados práticos na melhora do trânsito. [caption id="attachment_175942" align="alignnone" width="620"] A sincronização dos semáforos, chamada de onda verde, reduz consideravelmente os engarrafamentos | Foto: Reprodução[/caption] Outra parte de um conjunto de ações que melhoram a mobilidade urbana está nos anéis viários ao redor da cidade. Essas obras tiram os caminhões e os veículos pesados das ruas destinadas aos veículos de passeio. Para Elias, também é necessário terminar o BRT que sai do terminal do Cruzeiro até o final da Avenida Goiás Norte para tirar milhares de veículos de vias curtas e entre bairros. Um caso de grande repercussão em mobilidade urbana na América Latina está em Bogotá, capital da Colômbia, segundo Roberto Elias. De 1998 até 2016, o governo colombiano construiu 344 quilômetros de ciclovias interligando várias modalidades de transporte alternativo – bicicletas, pequenas motos elétricas, skate, e caminhadas a pé – aos ônibus e metrôs, que percorrem uma distância maior. O resultado dessa integração foi mostrado em números pelo governo há três anos. Mais de 500 mil pessoas usam bicicletas para se locomover; os pontos de ônibus têm bicicletários gratuitos e aos domingos e feriados são fechados 120 km de ruas para uso exclusivo de carros entre 7h e 14h. O governo disse que houve redução de 13% nas emissões de gás carbônico aos domingos e feriados.

Vazios Urbanos

Os espaços desocupados entre a capital e outros municípios da Região Metropolitana de Goiânia deveriam ser destinados no Plano Diretor para construção de moradias populares, aproveitando-se financiamentos do Governo Federal, por meio da Caixa. Trazer as pessoas para mais perto da cidade reduz o custo de manutenção para os cofres públicos. Uma parcela dos trabalhadores de Goiânia mora Goianira, Guapó, Senador Canedo e Trindade, de acordo com Roberto Elias. As pessoas gastam quatro horas do dia para chegar ao trabalho e retornar para casa. “Tem muitos vazios urbanos em Goiânia e as pessoas estão morando cada vez mais longe. Na realidade, quando você observa Nova Iorque e Manhattan, nos Estados Unidos, tem muitos prédios altos em poucos espaços de chão. Foi o que aconteceu no Setor Bueno”, ilustra o presidente da Ademi. [caption id="attachment_126449" align="alignnone" width="620"] Roberto Elias da Ademi lamenta a Prefeitura não terminar as obras essenciais para a mobilidade da capital, como o BRT e o sistema cicloviário | Foto: Leo Iran[/caption] Isso aconteceu no Setor Bueno porque o gabarito do Plano Diretor de 2007 permitia-se  construir três vezes mais do que a metragem do terreno em certas regiões. Porém, fazer essa aplicação sem o devido investimento em água, esgoto, coleta de lixo, escoamento de chuva e outros causou os problemas encarados hoje pelo bairro. “O que pensaram em 2007? Jogar os prédios ao longo dos eixos do transporte coletivo, como exemplo da Avenida 85, T-9, T-63 e a Mutirão. Com o transporte coletivo melhorado, com mais ônibus e BRT em pleno funcionamento, as pessoas não usariam carros para se locomover. O mercado imobiliário fez os prédios, mas a Prefeitura de Goiânia não fez os investimentos prometidos, como os corredores de ônibus”, critica Roberto Elias. "A impressão que o goianiense tem é de que o prédio foi responsável pelo engarrafamento naquela região, embora, os edifícios de moradia geram trânsito duas vezes ao dia – de manhã e à tarde". Os prédios comerciais, por sua vez, respondem pelo trânsito intenso do dia inteiro, por causa de escolas, supermercados e shoppings. “Acredito que essa ideia de aplicar o gabarito ao longo dos eixos no restante da cidade não vai fazer como o que aconteceu com o Setor Bueno, de concentrar os prédios num lugar só, isso é ruim para a cidade”, avalia Elias.

Barragem João Leite

A obra do Ribeirão João Leite está pronta, mas ninguém utiliza aquela água, critica Roberto Elias. Falta concluir a extensão dos “linhões” para trazer a água para as Estações de Tratamento de Água e de Esgoto (ETA e ETE) e depois levá-la aos bairros Serrinha, Universitário, em Goiânia, e Aparecida. “Enquanto isso, localidades como Goianira e Trindade têm dificuldade de abastecimento”, relata o presidente da Ademi. Para Elias, a Prefeitura deveria cobrar mais efetivamente os investimentos da Saneago. O Plano Diretor deveria liberar uma ocupação ordenada no entorno da barragem para evitar assentamentos irregulares. O plano de ocupação deve conter prédios de tamanho médio com avenidas largas, ciclovias, calçadas largas e uma baixa densidade populacional, como sugere Roberto Elias. [caption id="attachment_40723" align="alignnone" width="620"] Barragem do sistema João Leite ainda não está em pleno funcionamento | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] As obras do João Leite são relativamente novas e todo ano algumas partes do complexo são concluídas pela Saneago de tempos em tempos. Então se o Plano Diretor liberar uma ocupação urbana consciente, se evitaria o que acontece na represa Guarapiranga em São Paulo, por exemplo, onde invasores construíram uma cidade ao redor da represa e despejam esgoto dentro da água diariamente. “Em Goiânia, o esgoto é jogado no Rio Meia Ponte sem nenhum tratamento. A principal poluidora do Meio Ponte é a própria Saneago”, denuncia Roberto Elias e acrescenta que “falta vontade política. A população tem que cobrar mais da Prefeitura. Falaram que ia tirar a concessão da Saneago, depois esqueceram. Existe Agência de Regulação de Goiânia que está fazendo o trabalho de um Plano de Saneamento para exigir mais da Saneago. Esperamos que esse plano cobre os linhões e as Estações de Tratamento de Água e Esgoto da Saneago. Se não planejar agora, fica mais caro para consertar mais tarde”. Outro lado A Saneago contestou as críticas dos entrevistados e explicou que a água do reservatório João Leite abastece o Sistema Mauro Borges e a Estação de Tratamento de Água do setor Negrão de Lima. A Estação do Sistema Mauro Borges, que compreende o complexo que abastece a cidade, produz vazão de água de 1.200 litros por segundo e a ETA Negrão de Lima produz dois mil litros por segundo. Esse complexo de tratamento da água abastece 48% da população de Goiânia. A assessoria de comunicação da Saneago acrescenta que a obra do Sistema Mauro Borges regula a vazão de água do Ribeirão João Leite desde 2009. Quanto ao andamento das obras executadas pelo órgão, no final de 2018 foi inaugurado uma adutora que integra a Estação Mauro Borges até a ETA do Rio Meia Ponte. Caso a estação Meia Ponte tiver seu nível de abastecimento reduzido, o Sistema Mauro Borges vai fornecer 800 litros de água por segundo para socorrer o Meia Ponte. "Desde que entrou em operação, em 2009, a barragem do Ribeirão João Leite tem tido importante papel no abastecimento de água na Região Metropolitana. Antes da inauguração da ETA Mauro Borges, o reservatório já era utilizado para regularizar a vazão do ribeiro João Leite, fazendo com que, mesmo em períodos de estiagem, houvesse água disponível para a população. Hoje, a água que é tratada na ETA Mauro Borges, é captada no reservatório da barragem do João Leite, que ainda permanece com a importante função de regularizar a vazão do ribeirão", diz a nota enviada pela Comunicação da Saneago. O órgão explica que "o abastecimento em Goiânia é universalizado, atendendo 1,5 milhão de pessoas com água tratada". E adianta que "no momento, não existe risco de desabastecimento. Os reservatórios de distribuição encontram-se dentro dos níveis normais. A produção tem atendido à demanda requerida. Entretanto, antecipando o período de estiagem, a Saneago recomenda o uso racional de água tratada". Linhão A Saneago esclarece que o "Linhão" corresponde à implantação de um conjunto de adutoras de água tratada, em linha, que levará água do Sistema Produtor Mauro Borges, na Capital, para a cidade de Aparecida de Goiânia. O investimento, de R$ 264 milhões, é oriundo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), através do Ministério do Desenvolvimento Regional e da Caixa Econômica Federal. "O Linhão concluirá o complexo de obras do Sistema Produtor Mauro Borges, garantindo assim a universalização do abastecimento em Aparecida de Goiânia. Atualmente, cerca de 70% da água tratada consumida pelos aparecidenses é fornecida pelos sistemas João Leite e Meia Ponte, originários de Goiânia. O restante (30%) é produzido no próprio município por meio do sistema Lajes e de demais sistemas independentes. Com a conclusão do empreendimento, esse atual esquema será gradativamente substituído, além de que serão abastecidas também as regiões ainda não atendidas com redes de água", conclui a nota do órgão.

Reocupação do Centro

A área central da cidade, especialmente nos arredores da Praça Cívica, poderia ser reocupada, já que o local tem infraestrutura pronta, energia elétrica, água, esgoto e coleta de lixo em funcionamento. “O poder público deveria levar atrações ao Centro, como na Praça Cívica. Pode ser uma feira coberta, como a da Paranaíba, para levar os turistas para passearem com segurança pública e uma iluminação adequada para tornar o local agradável. O único jeito de revitalizar o local é levando pessoas para morar lá. O comércio fecha às 18 horas e o bairro fica vazio. O Plano Diretor tem que pensar nisso”, aconselha Roberto Elias. Aplicar as leis do Plano Diretor de 2007 seria um começo viável A Prefeitura de Goiânia deixou de executar recomendações previstas no texto, de 12 anos passados, em diversos temas. Novamente, o sistema cicloviário foi citado por Roberto Elias por não ter sido finalizado pelo Paço. Começou-se um pedaço aqui, outro ali – trechos aleatórios na T-63 e no Parque Areião –, mas sem conexão entre si. “Deveríamos ter um mapa que mostra ao cidadão onde ele pode deixar a bicicleta e pegar outro meio de transporte”, recomenda Elias. Calçadas – Para o presidente da Ademi, as calçadas são cheias de obstáculos, desníveis, sujeira e existe lei para isso. Precisa terminar as leis previstas e cumprí-las. Drenagem – Tem Lei de Drenagem, segundo Elias, que prevê ilhas de contenção de água de chuva nas avenidas goianienses. “Podem fazer uma bifurcação numa praça para não juntar esse volume de água que faz os carros rodar na pista e provocar acidentes. Toda Praça de Goiânia pode ter uma pequena ilha de contenção. As casas podem ter um reservatório de água de chuva para ser reaproveitada futuramente”. Roberto Elias diz que o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Goiânia (Codese) levou o prefeito Iris Rezende (MDB) para conhecer os modelos aplicados em Campinas (SP) e absorver ideias para seu mandato, mas ainda não foram desenvolvidas. Parques urbanos – O Executivo municipal pode aproveitar o grande volume de nascentes de água em Goiânia para preservar o meio ambiente com parques e oferecer lazer à população. “Proteger e fiscalizar os fundos de vale é importante e faz parte de políticas públicas direcionadas aos parques urbanos. As pessoas constroem casas na beirada, jogam entulho nos córregos, mas precisaria ser um trabalho sério, plantando árvores para diminuir enchentes”, propõe Elias.

Vereadores querem comissão para monitorar aplicação do Plano Diretor

Um grupo de parlamentares de Goiânia, incluindo Lucas Kitão (PSL), pretende formalizar uma comissão para acompanhar o desenrolar do Plano Diretor que for aprovado na Casa, possivelmente neste primeiro semestre. Ainda serão escolhidos os membros da comissão, mas o tema está avançado entre os vereadores, antecipa Lucas Kitão. O Plano Diretor precisa ser revisado a cada 10 anos, conforme previsão em Lei, como explica o vereador Andrey Azeredo (MDB). Essa revisão não é precisamente um novo texto, mas pode-se mudar artigos pontuais que se relacionem com as necessidades atualizadas da cidade. [caption id="attachment_120477" align="alignnone" width="620"] Andrey Azeredo diz que a Prefeitura não está omissa em relação ao Plano Diretor e a revisão deve chegar em breve na Câmara Municipal | Foto: Reprodução[/caption] “Como se passou 12 anos desde a última revisão, os órgãos de controle podem questionar quanto a algum descumprimento da Lei, podendo até ser caracterizado como ato de improbidade administrativa. Mas a Prefeitura não está omissa. Está em discussão para elaborar algo mais harmônico para a cidade. Como é um tema que mexe com toda a cidade, querem fazer algo elaborado com muitas pessoas, já que pode não interferir no dia a dia hoje, mas vai interferir no desenvolvimento da cidade nos próximos anos”, explica Azeredo. O texto está na Procuradoria do município aguardando parecer e quando o prefeito entender que é o momento adequado, vai enviar o texto à Câmara Municipal. Azeredo conta que foi apresentado até agora uma ideia para não permitir a ampliação de uma área urbana adensável e também ajustes para uma harmonia maior na área urbana. “O Plano Diretor traz os eixos prioritários de mobilidade da cidade. Ao longo desses eixos tem uma política de adensamento diferenciada. O que precisa fazer, e cabe ao Executivo, é implementá-los, como exemplo do corredor exclusivo dos ônibus que melhora o transporte público”, lembra Azeredo. Há um capítulo para incentivar os modais alternativos, como o uso de bicicleta, que precisam ser conectados à rede de mobilidade para fazer com que essa opção se amplie de forma ordenada e segura para ter menos veículos nas ruas, como adianta Azeredo. Microcentros Lucas Kitão entende que o Plano Diretor ideal deve ser direcionado à mobilidade urbana, com atenção especial para a consolidação de microcentros comerciais, antes de qualquer discussão sobre crescimento, expansão ou verticalização. “Esses microcentros evitarão que os moradores se desloquem para longe a fim de realizar qualquer atividade fora o trabalho, como passeios em shoppings, parques, hospitais e outros”. [caption id="attachment_116429" align="alignnone" width="620"] Vereador Lucas Kitão sugere preenchimento dos vazios urbanos | Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção[/caption] A ideia de microcentros amplia a arrecadação de impostos, tanto estaduais como municipais, e faz com que a Prefeitura não seja mais refém apenas da arrecadação de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) para investir na cidade. O vereador reforça a necessidade de concluir as obras do BRT e da Avenida Leste- Oeste para desafogar o trânsito da capital. Outras modificações na cidade são necessárias como em qualquer metrópole. Kitão indica que é preciso abrir avenidas, expandir vias, parcelar o solo e outras medidas não implantadas. “Não é só fazer um documento bonito para todo mundo ler, mas ele precisa ter efetividade. Ainda dá tempo, é preciso apenas vontade do poder público para fazer”, ratifica o vereador. Segundo Kitão, a construção do bairro Orlando de Morais, na rodovia que sai para o município de Nova Veneza, foi uma irresponsabilidade da Prefeitura de Goiânia. “Temos que pensar na mobilidade com cabeça de metrópole, não de cidade pequena. O bairro Orlando de Morais foi uma expansão irresponsável. Abrir um bairro fora da cidade é um absurdo. Encarece todos os serviços e a cidade carece de vários serviços”.

Queda da audiência da TV Anhanguera pode ser um problema definitivo

A TV Record cresceu em Goiás, e até supera a concorrente. Mas o problema da emissora do Grupo Jaime Câmara vai além da disputa local, dizem especialistas

O que a Bettina não ensinou a você sobre a Bolsa de Valores

Jovem investidora no mercado de capitais, Bettina Rudolph pode ter acertado em todos os investimentos, mas nem só de vitórias vivem os investidores [caption id="attachment_42244" align="alignnone" width="620"] As ações sobem e caem o tempo todo e o valor de mercado do dinheiro se comporta da mesma forma | Foto: Reprodução[/caption] Diversas vezes ouvimos pessoas dizendo que ganharam dinheiro na Bolsa de Valores. Seja R$ 1 ou R$ 100 mil. Com ações de empresas brasileiras ou estrangeiras. De fato, investidores profissionais ou amadores ganham lucro com ações que sobem e descem naqueles monitores com índices verdes e vermelhos, sinais, números e siglas que boa parte dos brasileiros desconhece. Recentemente a investidora Bettina Rudolph, de 22 anos, contou sua trajetória no mercado de ações para alcançar um retorno tão atrativo que movimentou economistas e analistas do mercado financeiro para explicar como a história foi possível. A própria investidora depois explicou que injetou mais dinheiro para chegar ao primeiro R$ 1 milhão, além dos R$ 1,5 mil divulgados na propaganda da empresa Empirucus. Tudo que promete muito dinheiro em pouco tempo provoca o feroz instinto humano da ganância. Foi assim também com as pirâmides financeiras, como a Telexfree, e outros investimentos como o famoso Avestruz Master e a BBom. Com esse faro por dinheiro aguçado, os investidores buscam os anunciantes para colocar dinheiro. E normalmente começa com um amigo dizendo que outro amigo, que mora na rua de um vizinho de um primo de outro Estado ganhou dinheiro "nesse esquema". Assim também acontecem os rumores na Bolsa de Valores. E também perde-se dinheiro. Todos os dias. Todas as horas e, às vezes, em minutos. Um leitor do Jornal Opção contou que perdeu R$ 1,1 mil em três dias na Bolsa de Valores, na semana passada. O empresário Humberto Otaviano de Souza Júnior, morador de Brasília (DF), investe no mercado financeiro desde 2009. Nesses dez anos já ganhou dinheiro, mas já perdeu bastante. O economista goiano Everaldo Leite explica que esses anúncios publicitários apenas querem atrair o investidor ou formar novos investidores com promessas de riqueza em uma quantidade de meses ou anos, investindo valores determinados. Pode até acontecer. Mas, o risco de não acontecer é maior. Everaldo conta que o mercado de ações opera diariamente com altas e baixas, obviamente, que não são contadas aos possíveis clientes que se querem ganhar. "A Bettina pode até ter ganhado esse valor mesmo em três anos, não duvido, mas ela precisou fazer investimentos assertivos o tempo todo e poucas pessoas conseguem", diz Everaldo. E para onde vai o dinheiro que o investidor perde na Bolsa? A economista Greice Guerra esclarece que não vai para algum lugar específico. O dinheiro apenas perde valor. "É como alguém comprar um carro por R$ 35 mil e, por algum motivo, seja o passar do tempo ou um acontecimento natural, esse carro passe a valer R$ 25 mil", clarifica Guerra. "A Ibovespa desabou 3,5% hoje. Perdi muita grana. Em três dias já foram uns R$ 1,1 mil. Queria ter mais dinheiro agora para comprar muito. As ações estão baratas", contou animado o empresário brasiliense, na quarta-feira, 27. Apesar da perda, ele entende como funciona o mercado. A campanha publicitária da empresa Empiricus atraiu milhões de olhares para a história de Bettina, mas sem explicar no primeiro momento que alguém pode não ser a próxima Bettina e perder dinheiro como o empresário brasiliense. "Por isso analistas alertam o tempo inteiro para os cuidados necessários ao entrar na Bolsa de Valores. Conhecer a empresa que vai escolher como corretora, as ações que pretende comprar e o histórico delas no último ano, entre outros", alerta Everaldo Leite. [caption id="attachment_70332" align="alignnone" width="620"] Everaldo Leite: “É preciso estar atento onde se vai investir porque a chance perder é muito grande”[/caption] O economista entende que o mal-estar no mercado financeiro não foi apenas pela história da jovem investidora, mas a propaganda partir da Empiricus acentuou a repercussão. A empresa é especializada em publicação de conteúdo financeiro e ideias de investimentos, mas não é uma corretora credenciada na Bovespa. "Normalmente essas propagandas vem de corretores e não de revistas. Mais do que a Bettina, isso causou um amargor no mercado financeiro. E a Bettina veio quase banalizando o mercado de capitais com uma história tão simplória", opina Everaldo.

Fenômenos naturais também afetam valorização

A analista de mercado Greice Guerra afirma que as ações sofrem quedas por fenômenos naturais também, que não são controlados. Exemplo recente é o acidente ambiental em Brumadinho (MG), que afetou o valor de mercado da mineradora Vale e suas ações. "O investidor não consegue prever quando vem uma crise ou um desastre natural e não consegue se blindar. O terremoto no Japão também afetou as ações de empresas de energia, abastecimento de água e outras", explica Guerra. [caption id="attachment_57117" align="alignnone" width="620"] Greice Guerra: “Quem está na Bolsa está sujeito às oscilações de mercado, sejam positivas ou negativas”[/caption] Muitas pessoas também perdem dinheiro com ações de empresas que fizeram o chamado "split", que consiste numa empresa abrir novamente capital na Bolsa para tentar se recuperar e não consegue. E o mercado na Bolsa de Valores, principalmente de renda variável, precisa aceitar o risco. "Você nunca sabe tudo. Quando alguém vai investir numa empresa é importante fazer a análise fundamentalista, que olha a história da empresa, a governança corporativa e os balanços passados e, mesmo assim, o investidor ainda está sujeito às intempéries. Quem imaginaria que a barragem de Brumadinho poderia se romper? Quem comprou as ações da Vale na baixa, após o acidente, pode faturar dinheiro em longo prazo", explica Greice Guerra. A analista indica para quem quer ingressar no mercado financeiro que analise, primeiramente, os objetivos de entrar no mercado de renda variável, o tempo que se quer ficar, se tem resiliência para suportar revezes e paciência para superar perdas. "Se o seu objetivo era ganhar R$ 100 mil na Bolsa, quando ganhar, repense e não fique esperando amanhã para bater R$ 200 mil, porque pode bater menos R$ 200 mil", alerta Guerra. E também depende do perfil do investidor, explica a economista. Alguns esperam anos para recuperar a queda de uma ação e outros se desesperam e vendem antes que caiam mais, conforme a experiência de Greice na Bolsa de Valores de São Paulo. Quem tem mais experiência sabe que na mesma velocidade que uma ação cai, ela sobe. Entre os motivos que ajudam isso a acontecer estão fusões de empresas e balanços econômicos acima do esperado. A Vale, por exemplo, é uma empresa sólida com fôlego suficiente para superar as perdas no mercado, segundo Greice Guerra. Dicas Guerra indica variar o portfólio de investimentos entre alto e baixo risco. Investimentos conservadores ainda são ótimos para quem não quer sofrer com fenômenos naturais, como os acionistas da Vale. Segundo a analista, existem empresas sólidas no Brasil que são atrativas e acompanham o crescimento do mercado de varejo, exploração de petróleo e minérios e exportadores de commodities. Segurança contra fraudes

Rumo pode beneficiar agronegócio de Goiás ao assumir trechos da Ferrovia Norte-Sul

Usuários da malha ferroviária querem negociar quem vai poder utilizar os trilhos e a capacidade de operação para terceiros com o Governo Federal ainda nesta semana [caption id="attachment_174577" align="alignnone" width="620"] Empresa paulista venceu leilão com lance de R$ 2,7 bilhões | Foto: Reprodução[/caption] Empresas interessadas em utilizar os trilhos da malha ferroviária Norte-Sul se programam para conversar com o Governo Federal e a vencedora da licitação de dois trechos ainda nesta semana. Com a vitória da Rumo Logística, de São Paulo, no leilão de quinta-feira, 28, 1.537 quilômetros de ferrovia deverão ser operadas por usuários de transporte de carga no Brasil inteiro. O trecho arrematado pela empresa paulista reaquece o coração do País e Goiás pode ser beneficiado no escoamento de cargas agroindustriais. Dois trechos ligam Porto Nacional (TO) a Anápolis (GO) e Ouro Verde (GO) a Estrela d´Oeste (SP), que transportam milhares de toneladas de produtos. Para o presidente do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Federação das Indústrias de Goiás (FIEG), Célio Eustáquio de Moura, a concessão da rodovia estimula os empresários goianos a se industrializarem ao ponto de utilizar a ferrovia Norte-Sul com produtos mais competitivos no mercado nacional e internacional. A principal conquista para o setor industrial de Goiás com o término da ferrovia é chegar ao Porto de Itaqui, no litoral maranhense, uma porta de saída de diversas commodities brasileiras via transporte aquático. Vários setores terão um meio de transporte seguro e mais barato para desafogar produtos industrializados, como farelo de soja, óleo de soja, grãos em geral, mineração e as produções agrícolas, outro ponto forte no Estado. Cerca de cinco mil caminhões saem diariamente de Rio Verde (GO) com destino ao Porto de Itaqui (MA) com milhares de toneladas de produtos agrícolas. “Temos mesmo de ter uma ferrovia para dar vazão a isso”, diz o deputado federal Elias Vaz (PSB), que participa dos debates sobre o futuro desempenho da ferrovia desde o início do processo licitatório. No entanto, o parlamentar reage quanto ao modelo vertical estabelecido para a operação da ferrovia.  “Esse modelo chamado de verticalização, quem compra, leva tudo: compra vagão, trem, opera tudo. Esse modelo está sendo questionado, pois a ferrovia fica sob monopólio. Uma coisa é a gestão, outra é fazer uma concessão em que quem ganhou vai operar sozinha”, critica o congressista. [caption id="attachment_174593" align="alignleft" width="300"] Célio Eustáquio, da Fieg, diz que a concessão tem que trazer economia ao transporte | Foto: Divulgação[/caption] Direito de passagem O deputado estudou o processo licitatório e afirma que “o direito de passagem não está bem definido. Uma empresa russa desistiu de participar porque ela não tem segurança de que vai chegar aos portos. Isso é muito grave. Podemos ter um grande problema”. O modelo horizontal utilizado nas concessões alemãs poderia ter sido adotado pelo Governo Federal neste leilão, segundo Vaz. O governo alemão utiliza um formato parecido com a concessão de uma rodovia, onde se cobra um valor de pedágio e quem quiser passar pela rodovia, passa. “O resultado é que 483 empresas utilizam o sistema ferroviário alemão”, informa o parlamentar goiano. O resultado desse modelo vertical usado no Brasil, nos últimos anos, foi uma total inviabilização da utilização desse sistema, segundo o deputado. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a utilização do sistema ferroviário é 40% mais barato que o rodoviário. No Brasil, a diferença é de 3%, mais ou menos. Então fica inviável”. Quanto ao formato em que a concessão foi realizada, o diretor da Fieg, Célio Eustáquio, diz que “está otimista”. “Nós precisamos que esses trechos sejam operacionalizados com fluidez e economicidade ao transporte. A gente até gostaria que tivessem mais players nessa competição, mas a ANTT e o Ministério dos Transportes estão criando um órgão para fiscalizar o direito de passagem na malha ferroviária, o que já deixa o setor industrial um pouco mais calmo”, ameniza Eustáquio. [relacionadas artigos="174659"] O presidente da Associação Nacional de Usuários de Transportes de Cargas (Anut), Luiz Henrique Baldez, engrossa o discurso de Elias Vaz sobre o formato da concessão. Segundo Baldez, a administração da Rumo deverá ser menos pior do que a segunda participante no leilão, a mineradora Vale, por ter uma carteira de transporte de produtos mais diversificada, e que também agradou ao mercado interessado na ferrovia. O executivo quer discutir com os agentes envolvidos no processo de licitação outras brechas deixadas pelo edital, como quem vai ter direito a usar a ferrovia, quais condições terão os operadores independentes e a capacidade de disponibilidade que os terceiros poderão operar dentro dos trilhos. “Nossa luta é para a nova operadora ser obrigada a deixar passar trens de outras empresas, apenas isso. Criar uma competição no mercado, como um caminhão qualquer que pode transportar seu produto”, pede o presidente da Anut. [caption id="attachment_174599" align="alignleft" width="433"] Luiz Baldez, presidente da Anut, espera negociar em breve com o Governo Federal para estabelecer condições de uso para terceiros, além da Rumo | Foto: Divulgação[/caption] Baldez diz que o Governo Federal assinou um acordo com o Ministério Público se comprometendo a resolver esses questionamentos a fim de evitar um monopólio nas ferrovias e que se continuem cobrando valores altos dos usuários. "Atualmente se cobra de 5% a 10% a menos do custo do transporte rodoviário para usar os trilhos, enquanto o usual é 40% a menos. Mas com a concessão para a Rumo avaliamos que o cenário seja um pouco melhor sob esse aspecto de diversidade de carga", analisa Baldez.

Rumo e Vale precisam se conectar para não inutilizar trechos em uso

Algumas operações de outras ferrovias da malha da Vale podem se tornar inúteis sem a criação de ramais e interligações com a nova parte concedida à Rumo. Luiz Henrique Baldez exemplifica com o trecho que liga Campinorte, em Goiás, a Água Boa, em Minas Gerais. “Se esse trecho não passar pela Norte Sul, vai ficar inócuo operacionalmente”. O trecho da Ferrovia de Integração Oeste Leste, que vem do Porto de Ilhéus, litoral baiano, e vai até Figueirópolis, no Tocantins, também será inutilizado caso não passe pelo trecho da Vale na Norte Sul, segundo Baldez. Se a Vale utilizar a malha ferroviária que já tem concessão para transportar apenas seus produtos, como minério de ferro - onde domina a produção nacional e é a segunda maior exportadora do mundo - os demais trechos concedidos à Rumo e os que já estão na mão da própria Vale ficarão inutilizados. O que também não faria sentido para outros investidores construírem uma nova ferrovia em paralelo a Norte-Sul, como explica Baldez. “Quando essa ferrovia foi idealizada era para sair de Barcarena até o Rio Grande do Sul. A Vale tem um trecho de Paraupebas, no Pará, até São Luiz no Maranhão. São 980 quilômetros que levam o minério de ferro para exportação até a Ponta da Madeira, no Maranhão. E o trecho de Açailândia até Palmas é operada pela VLI, que é da Vale”, explica Luiz Baldez. Com este raciocínio, o executivo esclarece porque os trechos concedidos à Rumo precisam ser conectados aos que já estão sob concessão da Vale, para ter fluidez de transporte no país. Minério de ferro A Vale utiliza as ferrovias brasileiras para transportar minério de ferro, que corresponde a 80% de todas as cargas transportadas nas ferrovias do país. O agronegócio tem 15% de espaço e 5% são produtos gerais. Os empresários representados pela Anut, como os gigantes Votorantim, Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal sugerem ainda que comprariam os próprios trens e vagões para circular nos trilhos da Rumo e da Vale. Atualmente, os associados da Anut operam suas cargas pelo trecho de Vitória (ES) até Minas Gerais, em sua grande maioria - outra malha ferroviária na lista da Vale. “Procuramos uma alternativa e não achamos. Todo o setor siderúrgico precisa de minério e carvão movimentados nos portos da Vale, que consequentemente deixa a siderurgia nacional dependente dos trechos concedidos à eles”, afirma Baldez. Deputado catarinense questiona venda por valor abaixo do avaliado Uma das primeiras séries de privatizações do Governo Federal pode se tornar um escândalo de corrupção da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro (PSL), segundo discurso do deputado federal de oposição Pedro Uczai (PT-SC). O parlamentar constituiu diversos argumentos para fundamentar sua fala, entre eles, o valor da operação financeira abaixo do avaliado pela Valec S/A e a falta de atualização do preço pelo Índice Geral de Preço Médio (IGPM). A Valec S/A, empresa pública que administra a ferrovia, avaliou o trecho concedido por R$ 3,8 bilhões e se o valor fosse reajustado pelo IGPM chegaria aos R$ 6 bilhões em valor de mercado. A construção de alguns trechos já consumiu R$ 16 bilhões desde seu lançamento, em 1987, pelo ex-presidente da República, José Sarney. A quantidade de quilômetros licitados também foi citada pelo deputado catarinense; em 2007 o governo federal vendeu 720 km por R$ 2,8 bilhões e agora entregou 1.537 km por R$ 2,7 bilhões. Uczai acompanha as obras e desenvolvimento das ferrovias brasileiras há 20 anos e considerou as condições do edital como um “presentão” do Governo Federal. [caption id="attachment_174603" align="alignnone" width="620"] O deputado catarinense Pedro Uczai (PT) questiona por que o governo entregou mais quilômetros de ferrovia por um preço abaixo do último leilão, em 2007 | Foto: Divulgação/PT[/caption] “Na época de uma antiga licitação, de 2007, foram pagos 50%  da entrada à vista e o restante em quatro anos. Agora o governo pediu 5% de entrada e mais oito anos para pagar”, questiona o parlamentar. Irregularidades A fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) em cima do edital proposto pelo Ministério da Infraestrutura identificou irregularidades nos estudos de viabilidade técnica, econômico-financeira e ambiental da obra e sugeriu ajustes no texto original do edital. Um dos ajustes é relacionado às obras inacabadas no trecho entre Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela d’Oeste (SP), atualmente a cargo da Valec S/A. O relatório do TCU determinou que a empresa terminasse as obras. O Governo Federal queria entregar as obras para o vencedor da licitação concluir, mas como a Valec já tem contratos em andamento com empresas atuando na ferrovia, o TCU refutou a proposta para não gerar insegurança jurídica. O Ministério Público também questionou o edital em uma ação movida no TCU. Mais leilões O presidente Jair Bolsonaro escreveu em sua conta do Twitter, em 4 de março, que “a ferrovia Norte-Sul foi projetada para se tornar a espinha dorsal do transporte ferroviário do Brasil, integrando o território nacional e contribuindo para a redução do custo logístico do transporte de carga no país”. Bolsonaro acrescentou à publicação que espera 23 leilões no decorrer do mandato, entre terminais portuários, aeroportos e ferrovias. “A estimativa é que, ao final da concessão, o trecho ferroviário em questão possa capturar uma demanda equivalente a 22,73 milhões de toneladas. Ao todo, estão previstos 23 leilões, incluindo terminais portuários, aeroportos e ferrovias”, continuou o presidente. [caption id="attachment_174048" align="alignnone" width="620"] Deputado federal Elias Vaz sugere um modelo alemão que o Governo Federal poderia usar para dar espaço a mais usuários | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Trecho Palmas-Anápolis carrega 20 locomotivas A estrada ferroviária que liga Palmas (TO) a Anápolis (GO) tem 855 quilômetros e foi concluída em 2014. Esta etapa compreende atualmente R$ 5 bilhões, o que equivale a um custo aproximado de R$5,96 milhões por quilômetro de ferrovia construída, segundo dados de setembro do ano passado, divulgado pela Valec S/A. De 2014 a junho de 2018, o trecho transportou 20 locomotivas, 26 mil toneladas de farelo de soja, 13 mil toneladas de madeira triturada, oito mil toneladas de minério de manganês, aproximadamente 7.300 toneladas de barras de trilhos de 240 metros e carregou 262 vagões pelos trilhos.