Reportagens
“Aqui neste país, Alice, você precisa correr o máximo que puder para permanecer no lugar.” Alice do Outro Lado do Espelho.
[caption id="attachment_228201" align="alignnone" width="620"]
Incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense | Foto: Reprodução / EBC[/caption]
A citação de Alice do Outro Lado do Espelho é também uma alegoria utilizada para explicar situações em que espécies concorrentes evoluem concomitantemente, de maneira que a competição se mantém estável. A teoria foi proposta em 1973 pelo biólogo evolutivo Leigh Van Valen e também pode ser vista como uma alegoria para a situação atual dos cientistas. Por mais que trabalhem, competem com um descrédito conspiratório que está sempre evoluindo; por mais que produzam conhecimento, lutam contra a instrumentalização de suas descobertas por um extremo do especto político.
A revista Galileu, cujo foco é a popularização do conhecimento, publicou uma reportagem intitulada “O que trava a ciência no Brasil?” no saudoso ano de 2013. Nesta data, pela última vez na história, os repasses do governo às universidades federais coincidiram com o previsto. Além destes repasses via Ministério da Educação, mais 1,16% do PIB brasileiro foi investido em pesquisa e desenvolvimento tecnológico por meio do ministério Ciência, Tecnologia e Inovação, outro valor que nunca seria repetido.
Em 2014, o orçamento repassado a universidades federais foi 87% do total prometido. Um ano depois, Joaquim Levy, o Ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff (PT), moveu R$ 122 bilhões para o pagamento dos juros da dívida pública – parte do dinheiro, contingenciado do repasse de verbas para a Educação Federal. Desde então, o orçamento empenhado com universidades nunca mais atingiu o orçamento previsto (que, aliás, é cada vez mais modesto), fazendo as universidades federais conviverem com crescente insegurança orçamentária. Além disso, a pasta do desenvolvimento científico foi aguada na de comunicação, resultando num Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Mas, voltando a 2013, quando a educação federal vinha em uma crescente, o jornalista Salvador Nogueira já havia notado problemas estruturais em nosso sistema de financiamento da pesquisa que não foram resolvidos nem com investimentos relativamente altos. Embora tenhamos atingido a 13ª posição no ranking mundial de produção científica em volume de artigos, o Brasil pontuou mal em rankings de inovação. Pior ainda, a incapacidade brasileira de cumprir compromissos internacionais deixou o Brasil fora de grandes programas que poderiam nos obrigar a investir em nossa pesquisa ainda hoje.
[caption id="attachment_228206" align="alignnone" width="620"]
Então astronauta, agora ministro, Marcos Pontes quase foi prejudicado por governos que não quiseram honrar compromissos de mandatos passados | Foto: Reprodução / EBC[/caption]
Já em 2007, por exemplo, o Brasil foi expulso do maior empreendimento científico da história, a International Space Station, pois deu um inexplicável calote de seis peças à estação espacial via Nasa no valor de US$ 120 milhões, apenas para "comprar bilhete de embarque" mais tarde para o astronauta Marcos Pontes embarcar pela russa Soyuz.
Hoje, existem esforços contrários, como o projeto de lei n° 2374, de 2019, de autoria do senador Romário (PODEMOS/RJ), que propõe: “eliminar a burocracia de importação de mercadorias destinadas à pesquisa científica e tecnológica através da criação, pelo CNPq, de um cadastro nacional de pesquisadores que teriam liberação imediata das mercadorias a eles destinadas”. A lei tramita há seis anos e está atualmente nas mãos do relator Senador Major Olímpio (PSL/SP).
Entretanto, nunca vivemos um momento de tamanho descrédito na ciência. Nunca houve tão pouca razão eleitoral para se aprovar o PL n° 2374. Desde ministros que duvidam do aquecimento global à ideólogos do presidente que creem que o sol gira em torno da Terra, passando pela antivacinação como uma posição ideológica, não faltam exemplos de que a negação da ciência se tornou um requisito para pertencer a um clube político. Conforme pesquisa publicada pela Folha mostra, maioria da população não sabe citar nome de cientistas nem onde se faz pesquisa no país.
O que a maioria dos brasileiros não parece entender é que dar ouvidos à ciência não é apenas uma questão moral ou filosófica (embora também seja), mas também econômica. Como o Jornal Opção mostrou na reportagem, “Goiás tem grandes jazidas de elementos usados na indústria tecnológica – basta investir em pesquisa”, a vocação para commodities não levará este país muito longe no século XXI.
[caption id="attachment_228204" align="alignnone" width="620"]
Daqui a vinte anos, não adiantará investir em educação porque teremos perdido esta porção da população jovem | Foto: Reprodução / EBC[/caption]
A maioria dos minérios será empregada de maneiras que ainda não foram inventadas. O quilo da picanha pode estar mais valorizado que nunca, mas criadores de gado competirão com laboratórios de carne sintética ainda nesta década. Além disso, em minha conversa com o Edward Madureira, o reitor da Universidade Federal de Goiás chamou a atenção para um fato frequentemente negligenciado: investimento em educação tem data de validade.
A pirâmide etária está envelhecendo. “Daqui a vinte anos, não adiantará investir em educação porque teremos perdido esta porção da população jovem e não conseguiremos mais fazer a virada que o Brasil precisa”, disse Edward Madureira naquela entrevista. Atualmente, o Brasil tem 700 cientistas por milhão de habitantes. Israel tem 8.300. Os Estados Unidos tem 3.900.
Portanto, se resolvêssemos o que Salvador Nogueira, da Galileu, formulou no profícuo ano de 2013 como: “Nossos cientistas ainda passam por uma via-crúcis para trabalhar”, talvez resolvêssemos o problema da fuga de cérebros. Mas agora, seis anos depois, um Museu Nacional a menos, alguns conspiracionistas da Terra Plana a mais, fica claro que dependemos de muito mais do que investimentos financeiros.
Além de ser científica, a ciência brasileira tem a missão de comunicar que não é de esquerda ou direita, que não está a serviço do Capital ou do globalismo imperialista; que é método e não narrativa; que é antídoto para o caos em um mundo cada vez mais complexo; que é o único instrumento que desfaz as tramas inventadas para instrumentalizar paixões políticas. A ciência precisa comunicar que é o único caminho conhecido para a nova década que se anuncia.
Democrata teve de tomar medidas impopulares, mas termina o ano projetando um déficit 40% menor para o ano que vem em relação a 2019
Políticos que encabeçam o processo de criação do partido do presidente da República no Estado dizem acreditar na possibilidade de a legenda ser autorizada a disputar corrida pelo voto no ano que vem
Rompida com o polêmico filósofo e guru do presidente Bolsonaro, Heloísa de Carvalho, em parceria com Henry Bugalho, acaba de publicar um livro sobre a trajetória com seu pai que promete abalar estruturas
Segundo grupo de profissionais que ingressou com ação na Justiça, operadora de planos de saúde tem oferecido tratamento privilegiado de maneira irregular
Com políticas de incentivo fiscal e investimentos em infraestrutura, Aparecida de Goiânia atraiu empresas que geraram empregos e fomentaram o consumo no município
Com investimento de empresas apoiadoras, Steam4Girls surgiu após observação de que meninas se envolvem menos com a área de exatas
Divisão política ainda se dá em termos ultrapassados da Guerra Fria. Estudiosos afirmam que disputas por áreas de influência tecnológica irão pautar próximos conflitos e cooperações entre países
Vítimas de violência doméstica ainda têm dificuldades de se libertar de rotina de medo imposta pelo agressor
O ProGoiás surge como uma alternativa aos demais programas do Estado já existentes, e promete desburocratizar o processo de obtenção de incentivos
O ministro busca operar a economia no sentido de afirmar valores liberais tanto para dar sentido ao governo como para informar o mercado
Desde a última morte registrada no Parque Nacional da Chapada, turistas têm estado em alerta sobre os perigos que as belezas do lugar podem esconder
Com cataratas e cachoeiras estonteantes, desfiladeiros gigantescos, antigas formações rochosas e de quartzos e trilhas naturais, a Chapada dos Veadeiros é tida como um patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Unesco, não é à toa: as belezas proporcionadas pela região turística localizada no nordeste de Goiás costumam marcar para sempre a memória daqueles que a visitam. O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que conta com 240 mil hectares de cerrado de altitude, é apenas uma parte da região, e abrange os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Nova Roma, Teresina de Goiás e São João D’Aliança.
Criado no ano de 1961, o Parque abriga espécies e formações vegetais encontradas em nenhum outro lugar do mundo, centenas de nascentes e cursos d’água e rochas que datam de mais de um bilhão de anos. Além da visitação e conservação, o Parque Nacional também visa disponibilizar objetos de pesquisa científica e ambiental à comunidade acadêmica e ligada à ciência.
Entretanto, quando não vista com a devida seriedade e aderida com o preparo necessário, a natureza pode ser invariavelmente perigosa. Muitos são os casos noticiados de turistas e praticantes de esportes radicais que se perderam, se feriram ou até que morreram na região da Chapada dos Veadeiros. O fato de alguns acreditarem que podem percorrer as trilhas e visitar as cachoeiras sem estarem acompanhados de um profissional capacitado é um dos fatores que aumenta as chances de incidência de acidentes.
[caption id="attachment_224644" align="alignright" width="300"]
Fazenda Barroco tem acesso autorizado somente com guia. / Foto: Pedro Francisco dos Santos[/caption]
O guia turístico Douglas Vinícius, que há dois anos atua profissionalmente mas há 14 estuda e caminha pelas belas paisagens da Chapada, conta que alguns turistas não estão acostumados ao tipo de vegetação da região turística mas acabam acreditando que sim. "Essas pessoas que se perdem, se machucam, por acharem que conhecem a região, normalmente são de outro bioma, de outro solo, e acham que aqui [na Chapada] é a mesma coisa, e não é".
Ele conta que a entrada de turistas acompanhados de guias no Parque Nacional não é obrigatória (somente em alguns locais específicos), e que o fato contribui para alguns turistas se aventurarem sozinhos por regiões consideradas de risco.
Segundo Vinícius, os serviços do guia turísticos são essenciais não só para a prevenção de acidentes, mas também para a melhor imersão do turista no local visitado. "O guia normalmente estuda a região, estuda sobre a geologia da Chapada, como tudo isso veio parar aqui, como as formações rochosas aconteceram, sobre a biologia, geografia, história do povo que veio pra cá, nativo, raizeiro, e todas as experiências de caminhar no Cerrado", explica.
Um guia profissional certificado na Chapada dos Veadeiros passa por 154 horas de curso orientado por outros guias mais experientes e pelo Corpo de Bombeiros, e segundo o guia turístico Pedro Francisco dos Santos, conhecido como Pedrishna, a classe tem tentado “se reunir e consolidar essa voz única do trade turístico da Chapada”, o que, segundo ele, não é nada fácil.
[caption id="attachment_224642" align="alignleft" width="300"]
O guia turístico posa em um dos pontos da Chapada, em Alto Paraíso, / Foto: Pedro Cassu[/caption]
Pedrishna, que no Parque Nacional oferece serviços de trekking (que são as famosas trilhas), travessias, escaladas, expedições e imersões culturais, revela que na região os guias turísticos não contam com um sindicato, mas possuem associações que atuam como representantes dos profissionais do turismo. Entretanto, segundo ele, tais associações não são aproveitadas como deveriam pelos guias. “A gente tem várias [associações]. Tem a ACVCV (se referindo à Associação dos Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros), a de Colinas, Araras, a Kalunga (Associação de Guias do Quilombo Kalunga), mas eu sinto que a gente tem uma boa ferramenta nas mãos, mas ainda não usa muito", comenta.
O guia também expõe o que ele chama de “falta de consenso” entre as associações, mas fala em uma tentativa dos profissionais de Guia de Turismo de buscar uma unidade. “A gente está num caminho de união, e a gente precisa de uma visão geral dos guias e dos trades”, diz.
Pedrishna explica que, apesar de ser o principal ponto, o dever do guia não é somente prevenir acidentes e evitar que os visitantes se percam, mas também imergir os turistas na cultural local e na questão da preservação ambiental. “Estamos num momento de ataque total à preservação, às unidades de conservação. É muito importante a gente proteger o que a gente já tem, e Alto Paraíso é um mosaico de unidades de conservação de vários tipos”.
Ele cita como exemplo de local afetado pela depredação ambiental as famosas Cataratas do Couros, formação de cachoeiras, poços e corredeiras que atraem turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. Para Pedrishna, o Couros está tão depredado que é necessário “fazer algo para parar o aumento da devastação e regenerar” o lugar.
Tragédias na Chapada dos Veadeiros podem ser evitadas pela presença de guias
No dia 27 de novembro deste ano, o Corpo de Bombeiros encontrou numa cachoeira próxima do Rio Preto, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o corpo do jovem Matheus Santos da Silva, de 23 anos. Matheus havia desaparecido na manhã da segunda-feira anterior, 25, quando, sem acompanhamento de guia turístico, se separou da família e decidiu sozinho percorrer a chamada Trilha Amarela.
Seu corpo foi encontrado a 11 metros de profundidade na cachoeira. Infelizmente, o caso de Matheus não é o único de morte na Chapada dos Veadeiros. A guia turística Leide Nirav, moradora da Chapada há mais de 20 anos, conta que a região, apesar de deslumbrante, pode ser mortal para aqueles que não a visitam com a devida preparação.
Leide conta que poucos dias após se mudar para a região da Chapada, tempos atrás, teve logo de início notícias de uma tragédia que havia sido confirmada. “Nesses 23 anos que eu moro aqui, sempre teve mortes na Chapada. Eu morava há umas duas semanas na Chapada, recém-chegada de São Paulo, e soube da primeira morte. Eu tinha conhecido o rapaz, fiquei “de cara””, relembra.
A guia faz questão de enfatizar que as trilhas, pontos turísticos e demais atividades não devem ser encarados como “brincadeiras”, e destaca a importância de se ter um guia turístico durante a visitação. “Aqui na Chapada não é um playground, não é um parque de diversões. As trilhas são perigosas, principalmente nas chuvas, as cabeças de água, as trombas d’água, então as pessoas têm que vir conscientes e contratar um guia, porque um guia conhece e pode salvar numa situação dessas”, arremata.
A reportagem do Jornal Opção entrou em contato com o consórcio Sociparques, empresa que administra a visitação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que fez esclarecimentos quanto à atuação dos guias turísticos na região.
Conforme a empresa, os guias turísticos do Parque Nacional são capacitados e autorizados pelo ICMBio, e trabalham de acordo com as normativas estabelecidas pelo órgão. A Sociparques informou que não é obrigatória a presença de guias ou condutores turísticos para a realização de visita aos atrativos o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, "mas recomenda-se a presença desses profissionais para a garantia de uma experiência mais rica e segura".
Sobre o sistema de segurança do Parque, a Sociparques esclareceu que, além do sistema de Controle de Acesso implantado, "que promove agilidade no processo de identificação de visitantes e precisão no controle de entradas e saídas", o Parque conta também com o monitoramento das trilhas realizado "por equipes especializadas e voluntários, Unidade Móvel de apoio para resgate, equipes treinadas e aptas a realizar procedimentos de primeiros socorros e possui um Sistema de Gestão de Segurança, em constante aperfeiçoamento, baseado nas normas estabelecidas pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, para Turismo de Aventura".
A Sociparques finaliza informando que está investindo na prestação de informações e serviços de apoio aos visitantes dentro e fora do Parque, com a instalação de mapas, painéis informativos, desenvolvimento de site e vídeos, aperfeiçoamento dos planos de gestão e promovendo a contratação e capacitação de novos profissionais.
País foi mal avaliado em Leitura, Matemática e Ciências. Nas Américas foi melhor somente que a Argentina, República Dominicana e Panamá entre os 12 países analisados
A competição para eleger a representante goiana no Miss Brasil teve desde mensagens com “resultado antecipado” até relatos de situações vexatórias
O universo dos concursos de beleza exerce fascínio e arranca suspiros tanto de mulheres quanto de homens desde as épocas mais antigas. Para se ter uma noção, a primeiríssima edição do famoso Miss Universo remonta a meados do século XX, precisamente no ano de 1952, quando a finlandesa Armi Kuusela foi eleita a primeira miss universal. Desde então, diversas ramificações da competição foram criadas para escolher a mulher considerada a mais bela e carismática de cada território.
O Estado de Goiás, assim como todos os outros Estados do país, elege anualmente a sua miss para a disputa na categoria nacional, o Miss Brasil, que teve a primeira edição realizada no ano de 1954, coroando a baiana Martha Rocha. Entretanto, por trás dos belos sorrisos e da graciosidade das concorrentes, das cintilantes coroas e das pomposas faixas que ornam as moças, as candidatas alegam existir um outro lado do concurso que se esconde nos bastidores e que, ao contrário das misses, não é nada bonito.
O concurso Miss Goiás coroou no dia 29 de novembro, em Goiânia, a Miss Goianápolis, Lorena Campos, de apenas 19 anos, como a representante do Estado apta a concorrer no Miss Brasil. Porém, o concurso, promovido pela empresária Fátima Abranches desde 2003, terminou com participantes relatando desde suspeitas de fraude até casos de assédio, situações de humilhação e exposição.
O Jornal Opção conversou com participantes do Miss Goiás, que trouxeram à tona o que aparenta ser o “submundo” dos concursos de beleza. Elas narram uma rotina de assédios que levaram algumas, inclusive, a procurar ajuda psicológica. Outras denunciam um suposto clima de parcialidade presenciado durante a competição.
É o caso da jornalista Sara Prado, de 23 anos, que representou o município de Caçu, no sudoeste do Estado. A miss, que veio a público recentemente nas redes sociais para falar sobre o concurso, contou que gastou cerca de R$ 10 mil para participar do evento – montante que inclui a inscrição de R$ 3 mil; passagens; compra de itens como coroa, faixa e preparativos no geral – e, assim como outras participantes ouvidas pela reportagem, saiu profundamente abalada dele.
Sara relata que desde o início ela, assim como outras participantes, começou a sentir pressão para fazer alterações em sua aparência, como perder peso para estar apta a participar. Em uma conversa pelo WhatsApp cedida por Sara, Fátima Abranches, organizadora e dona do concurso Miss Goiás, pergunta à coordenadora responsável por Sara – figura responsável pela intermediação entre as candidatas e a organização do concurso – se ela conseguiria perder peso, uma vez que ela estaria, segundo Fátima, “muito cheinha” e que “quanto mais magra, mais bonita” era a candidata na competição. A miss de Caçu diz que perdeu 11 quilos. Ela conta que teve que recorrer à ajuda de um psicólogo devido às crises de ansiedade sofridas geradas pela pressão.
[caption id="attachment_224893" align="alignleft" width="300"]
Pelo WhatsApp, Fátima Abranches conversa sobre peso de um miss[/caption]
“Mulher bonita tem que sofrer assédio mesmo”, teria dito especialista em concursos de Miss para participantes
O concurso Miss Goiás teve duração de dois dias, quinta-feira, 28, e sexta-feira, 29 de novembro, entre a preparação e confinamento das candidatas no hotel San Marino até a coroação, que ocorreu no espaço de eventos do Restaurante Árabe, em Goiânia.
Na noite de quinta, um jantar de confraternização foi oferecido pela organização do evento em uma residência no Setor Sul, de propriedade de um amigo da organizadora do concurso. A Miss Caçu, Sara Prado, expôs à reportagem o que teria sido uma situação que causou embaraço nas participantes que compareceram ao jantar.
Segundo a miss, em um dado momento do jantar, Fátima e os auxiliares de organização solicitaram às candidatas que deixassem seus aparelhos celulares em algum local e fossem para uma sala fechada, uma espécie de cabine de vidro. No local, conforme a miss, foram recebidas por Evandro Hazzy, especialista em concursos de beleza e apresentador ligado ao Miss Brasil.
Após uma fala de boas-vindas para as candidatas do Miss Goiás, Hazzy teria abordado uma polêmica envolvendo a modelo Wilma Paulino, detentora dos títulos de Miss Pará e Miss Itaituba de 2019. No mês passado, a modelo denunciou a coordenação do evento Miss Pará sob a alegação de que o coordenador do concurso, Herculano Silva, teria tentado fazer dela uma "acompanhante de luxo". Segundo a Miss Caçu, Hazzy teria condenado a atitude de Wilma Paulino e dito que misses deveriam estar acostumadas a cantadas e assédios, uma vez que apenas “mulher bonitas” sofrem com isso.
O relato foi corroborado por outras duas misses ouvidas pelo Jornal Opção. Segundo uma delas, que não quis se identificar, Evandro Hazzy teria dito que “mulher bonita tem que sofrer assédio mesmo”. O clima no ambiente com a fala de Hazzy, de acordo com a moça, foi de constrangimento e indignação.
Sara também contou que, durante o processo de preparação das meninas para o júri técnico, presenciou o momento em que um dos coordenadores teria se irritado com uma das misses, chamando-a de “burra” e “gorda”,
À reportagem, uma outra miss enviou áudios em que um dos coordenadores se refere a ela como “lesada”. Ela conta que a irritação do mesmo se devia a uma pergunta que ela havia feito sobre seu maquiador, e que teria sido mal interpretada pelo coordenador.
[caption id="attachment_224620" align="alignright" width="407"]
Júri técnico e jantar de confraternização foi feito em casa no Setor Sul[/caption]
Segundo ela, era frequente os colaboradores do concurso se referirem às participantes em tom agressivo e com termos ofensivos como “sonsa” e “burra” quando elas faziam algum questionamento.
Mensagem enviada às candidatas antes da coroação dizia que vencedora seria Miss Goianápolis
Na quinta-feira, um dia antes da solenidade que coroaria a Miss Goiás 2020, uma mensagem partindo de um perfil no Instagram trazia em seu teor uma informação que deixou atordoadas as participantes do concurso que a receberam.
A concorrente Sara Prado foi uma das que receberam a mensagem. No texto enviado pelo perfil “jhonyjoy01”, uma pessoa dizia que torcia pela Miss Caçu, mas que infelizmente o concurso já estava comprado por uma candidata que teria apoio de um cantor goiano.
A mensagem, recebida por Sara às 8h43 da manhã de 28 de novembro, dizia o seguinte: “Torço por vc, te acho mt linda mais (sic) é uma pena já sabermos que esse concurso está compro (sic) por uma candidata que tem influência do XXXX, a miss Goianapolis”. De fato, a miss Goianápolis venceu. No dia da coroação, o cantor compareceu ao evento. Conforme relatado pelas misses, o artista teria comemorado a vitória da Miss Goianápolis quando ela foi anunciada.
Uma das misses ouvidas pela reportagem, que também não quis se identificar, contou que teve contato direto com a que levou a coroa. De acordo com ela, a miss de Goianápolis revelou que estava insatisfeita com o desenrolar do concurso, uma vez que estaria sendo negado a ela o direito de escolher quesitos básicos para avaliação do júri, como vestido e maquiagem.
[caption id="attachment_224623" align="alignnone" width="300"]
Pelo Instagram, pessoa usando perfil fake contou quem ganharia concurso[/caption]
Lorena, então, teria contado para a miss ouvida pelo Opção que tudo o que estava usando ao longo da competição era escolhido a dedo diretamente pelo organizadora Fátima Abranches. “Ela estava muito insatisfeita, chateada, porque ela disse que a Fátima estava escolhendo tudo pra ela, e ela não podia escolher nada. Ela chegou a chorar no dia porque não havia gostado da maquiagem que havia sido feita nela”, afirma a miss.
Fátima Abranches, organizadora do concurso Miss Goiás, diz que candidatas derrotadas “agem de má-fé”
À frente do Miss Goiás desde o ano de 2003, a empresária Fátima Abranches declarou que as afirmações feitas pelas participantes do concurso são absurdas e que elas agem de má-fé como uma forma de retaliação, uma vez que perderam a competição. Por e-mail, a empresária respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.
De acordo com ela, em nenhum momento “a coordenadora se dirigiu a qualquer uma das candidata com desrespeito”. A empresária disse que “se algum prestador de serviço contratado pela Organização Miss Goiás tivesse se comportado de maneira inadequada e tal comportamento tivesse chegado ao conhecimento da coordenação, o mesmo teria sido veementemente repreendido”.
Ainda conforme Fátima, a informação de que o resultado do concurso estava definido já no dia anterior à coroação é “falsa e caluniosa” e faz parte dos concursos de beleza. A empresária diz que “não houve, em hipótese alguma, interferência externa” no resultado do evento e que o artista mencionado pelo perfil que enviou a mensagem para as candidatas “não tem qualquer relação, pessoal ou profissional, com a coordenação do evento”.
Fátima esclareceu que o método de escolha da Miss Goiás é composto por um júri técnico integrado por “pessoas com ótimo conceito na sociedade, sem qualquer vínculo entre si”, e um júri final, onde um novo corpo de jurados “tem a responsabilidade de escolher, dentre as cinco finalistas, a nova Miss Goiás”. Ela afirma que o resultado do concurso Miss Goiás 2020 “foi apurado junto a representantes de uma empresa de auditoria e o documento que comprova esta decisão será encaminhado a todas as candidatas, chancelado por esta empresa”.
[caption id="attachment_224624" align="aligncenter" width="840"]
Candidatas do Miss Goiás 2020[/caption]
Sobre a informação de que Fátima teria escolhido pessoalmente as roupas e a maquiagem da miss vencedora, ela nega e diz que a coordenação do evento “não participou da escolha dos figurinos das candidatas”, uma vez que “esta decisão coube às candidatas e seus familiares ou coordenadores e assessores”.
Segundo ela, a coordenação esteve aberta a todas as candidatas para orientar e instruir quanto à mecânica do concurso, “mas se absteve de tomar decisão de escolha da produção de beleza para a candidata vencedora ou qualquer outra miss”.
Fátima também respondeu aos relatos das misses sobre a fala de Evandro Hazzy, que teria afirmado que “mulheres bonitas deveriam sofrer assédio”. Conforme a organizadora do Miss Goiás, durante o jantar oferecido na casa localizada no Setor Sul, em Goiânia, devido à música que era tocada para a descontração do ambiente, foi solicitado às participantes do concurso que fossem até uma sala de vidro que contava com isolamento acústico, onde teriam o primeiro contato com Hazzy.
No primeiro contato com a reportagem, por telefone, Fátima negou que tivesse feito qualquer pedido para que as candidatas deixassem os celulares fora da sala. Entretanto, nos esclarecimentos enviados por e-mail, a empresária admitiu que “o uso do celular foi restrito” e explicou que a decisão foi tomada “para que as candidatas pudessem focar suas atenções ao momento, considerando a troca de conhecimento com um expert em misses e recordista na eleição de Misses Brasil”, se referindo ao encontro com Evandro Hazzy.
Sobre as supostas declarações feitas pelo especialista em concursos de beleza, “o contexto do que foi mencionado por algumas candidatas está absolutamente distorcido”. Conforme Fátima Abranches, o que foi orientado é que “candidatas, por serem mulheres com beleza em destaque, são notoriamente vítimas de cantadas e precisam, enquanto pessoas públicas, saber se posicionar e se desenvolver em momentos que podem incitar constrangimento ou assédio”. Ela finaliza dizendo que a coordenação do Miss Goiás “não endossa situações de assédio físico ou moral”.
A reportagem também entrou em contato com Evandro Hazzy sobre as supostas declarações atribuídas a ele pelas misses. Hazzy declarou que como especialista em Misses, profissional com mais de 30 anos no segmento, "repudia qualquer calúnia e inverdade" envolvendo sua participação no Miss Goiás. Conforme ele os questionamentos enviados pela reportagem, no qual "algumas candidatas derrotadas expõem suas opiniões, são mentirosas e caluniosas".
O concurso, afirma ele, teve um corpo de jurados "idôneo e um auditoria credenciada para acompanhar a apuração". "A vencedora venceu todas etapas com méritos em todos quesitos", e "qualquer acusação precisa estar munida de prova concreta, sob pena judicial de quem o fez", finaliza.
Superintendente do maior grupo do setor em Goiânia diz que teve de estocar 10 toneladas do produto para evitar repasse maior para os clientes
