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Quem é o médico goiano que pode ganhar o Nobel

Currículo de Zacharias Calil tem 18 separações de gêmeos siameses, invenção de medicamento que trata tumores deformadores em crianças e até reportagem para canal de TV estrangeiro [caption id="attachment_142879" align="alignnone" width="620"] Zacharias Calil trata siameses, hemangiomas e linfangiomas em crianças | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Zacarias Calil Hamu se formou em medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG) e fez residência médica no Hospital de Base, em Brasília (DF). Retornou a Goiânia como cirurgião geral, onde atua até hoje no serviço público. Em 1999, o médico conheceu o caso das gêmeas isquiópagas (unidas pelos ossos que sustentam o corpo) Larissa e Lorraine, que um ano depois se tornaram as primeiras siamesas separadas cirurgicamente em Goiás. O caso, que foi bem sucedido, deu notoriedade nacional a Zacharias Calil em circunstâncias de alta complexidade materna-infantil. Desde então, sua equipe já realizou 18 cirurgias de separação, a maior estatística mundial de uma equipe e de um hospital. Mais um caso está nas mãos da equipe de Zacharias Calil, com previsão de cirurgia para 2020. As separações chamaram a atenção na Câmara dos Deputados, onde o médico atua como parlamentar pelo partido Democratas desde 2018. “O Antônio Brito (PSD-BA), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), e demais deputados dessa comissão que eu também componho, conheceram meu trabalho através de uma reportagem da Discovery Channel, que foi ao ar na televisão estrangeira”, conta Zacharias Calil. O trabalho produzido pela Discovery Channel conta a história de uma das separações de gêmeos siameses realizadas pela equipe médica que atua no Hospital Materno Infantil (HMI). Heitor Brandão e Arthur nasceram unidos pelo tórax, abdômen e bacia. Zacharias Calil diz que o caso teve importância especial para ele, não apenas porque interessou ao canal norte-americano: “Me envolvi muito emocionalmente com essa família, porque eu os conheci desde o nascimento”. [caption id="attachment_224907" align="alignnone" width="620"] Medicamento desenvolvido é distribuído apenas em um hospital no mundo, o HMI | Foto: Renan Accioly[/caption] A Comissão de Seguridade que, a princípio, conheceu o trabalho de Zacharias Calil na medicina pelas separações, descobriu também sua produção científica: o médico também trata hemangiomas (um tumor benigno) e linfangiomas (lesão dos vasos linfáticos), hipertricose (síndrome do lobisomem) e desenvolveu um medicamento para tratar tumores benignos em crianças. “As deputadas da Comissão de Seguridade disseram que queriam me homenagear de alguma forma. Fizeram um requerimento, que foi aprovado por unanimidade pelos demais membros da comissão e encaminhada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), referendou o documento da Câmara e o encaminhou para a Academia Sueca”, diz Zacharias Calil, resumindo como um goiano foi indicado à mais prestigiosa condecoração da Ciência, ao lado de nomes como Carlos Chagas e Adolfo Lutz.

Médico das deformidades

Por alguma razão que Zacharias Calil desconhece, em seu trabalho no serviço público começaram a lhe chegar pacientes com o mesmo perfil clínico. O médico admite que casos de crianças com hemangiomas e linfangiomas lhe sensibilizaram, pois as malformações causam exclusão social, mas diz que nunca buscou ativamente esse tipo de enfermo. “Os problemas surgem ao acaso e você tem de tomar alguma posição. Os portadores dessas deformidades chamam atenção, o médico precisa de alguma coragem para tentar tratá-los”. Os hemangiomas são casos que surgem principalmente em cabeça e pescoço, segundo Zacharias Calil. Tratam-se de tumores que, apesar de benignos, causam invasão de tecidos profundos; se comporta como um câncer maligno. “Eu fui a muitos congressos médicos em busca de tratamentos e descobri que não eram eficazes, mas encontrei dois princípios ativos que podiam ser associados em um medicamento único. O que fiz foi complementá-los.” [caption id="attachment_148575" align="alignnone" width="620"] "Os portadores dessas deformidades chamam atenção, o médico precisa de alguma coragem para tentar tratá-los", diz Zacharias Calil | Foto: arquivo[/caption] O medicamento desenvolvido é administrado por apenas um hospital do país, o HMI, e de forma gratuita. Capaz de solucionar casos de hemangioma com poucos efeitos colaterais, Zacharias Calil apresentou os resultados de seu fármaco na Faculdade de Medicina de Harvard em 2006. Apesar de ter obtido respaldo da comunidade científica, não cumpriu a rota de publicações em periódicos revisados por pares.  Zacharias Calil afirma sobre o assunto: “Apesar de ter apresentado a fórmula em vários congressos médicos, fiquei com medo de que alguém pudesse copiar a ideia. Estudo a doença desde 1999, mas consegui a carta patente apenas em 2015. Demorei tanto porque o Brasil é lento, está na contramão da tecnologia. É inadmissível que um órgão leve em média 10 anos para conceder patente com a evolução da informática. Outros países fazem em um ano. Europa, Rússia, Estados Unidos, China são impérios tecnológicos porque exportam produtos com valor agregado, ajudam seus cientistas. A burocracia criou um atraso de anos em minha vida como pesquisador”.  O médico também integra a Fundação Birthmark como referência para tratamento de hemangioma para América do Sul. Era Superintendente da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás em 1987 e atuou nas ações de apoio aos radioacidentados no caso do Césio 137.  Em 2018 foi eleito deputado federal, sendo o terceiro mais votado pelo Estado de Goiás, com 151 mil votos. Como parlamentar, Zacharias Calil conta qual o projeto em que empenha maior esforço: “Temos sinal verde para a construção de um segundo hospital materno-infantil em Goiás. O Ministério da Agricultura nos doou a área para a edificação na cabeceira do aeroporto. Conversei muito na Câmara o ano todo para conseguir verbas destinadas a esta realização. Existe promessa R$ 140 milhões para 2021, e  estou acreditando nisso. O processo é demorado, lento, mas temos de correr atrás”. Zacharias Calil afirma, por último, que, apesar das dificuldades, está otimista quanto ao momento político. “O Governo de Goiás é sensível a essas demandas. Precisamos de um hospital de referência no Estado com as especialidades médicas, clínicas, cirúrgicas para crianças. Nada justifica a ausência de ter um centro pediátrico especializado; Goiânia é a única capital que não tem um. Nos anteriores ninguém investiu na pediatria em Goiás. Caiado foi o único que se preocupou com isso”.

Ainda sem companhias confirmadas, internacionalização do Aeroporto de Goiânia entra na reta final

De acordo com o presidente da Goiás Turismo, processo deve ser concluído até o dia 28 deste mês, mas processo ainda tem pendências

Janela partidária é data-chave no calendário eleitoral de 2020

Embora não apresente grandes mudanças em relação aos anos anteriores, partidos e candidatos devem ficar atentos aos prazos e regras

Poucas empresas estão preparadas para Lei de Proteção de Dados

Especialistas preveem surgimento de companhias terceirizadas para lidar com dados de pequenas empresas [caption id="attachment_100380" align="alignnone" width="620"] Reprodução[/caption] De padarias que anotam dívidas de clientes em caderninhos a startups digitais, todas as empresas coletam dados de clientes. Com a quarta revolução industrial, o entendimento acerca de informações pessoais mudou, já que elas passaram a ser base de operações realizadas pela internet e também transformaram-se em moeda corrente entre companhias de marketing. Enquanto, há uma década, os números do RG significavam apenas um identificador, hoje podem ser entendidos como extensão da personalidade de indivíduos, através do qual pode-se descobrir sua etnia, crença, nível socioeconômico, vida sexual. Por isso, ao redor do mundo, leis de proteção a dados têm sido adotadas. Em geral, o intuito é proteger cidadãos de práticas abusivas, dar transparência e criar um campo comum no qual empresas com atuação em diferentes países podem trabalhar. “Na realidade, o Brasil aderiu tarde a este movimento”, afirma Rafael Maciel, advogado especialista em Direito Eletrônico pela Florida Christian University e presidente do Instituto Goiano de Direito Digital (IGDD). A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), sancionada por Michel Temer em de 2018, entrará em vigor em agosto deste ano. A nova regra cria exigências para todas as empresas ao delimitar quais dados podem recolher e o que podem fazer com dados sob quais condições. O tratamento indevido desses dados ficará sujeito a sanções, com multas de até 2% do faturamento a cada infração, com máximo de R$ 50 milhões.  [caption id="attachment_235224" align="alignleft" width="300"] Rafael Maciel afirma que encarregados de proteção de dados (DPOs) irão lidar com dados de pequenas empresas | Foto: Reprodução[/caption] “Somos um dos últimos países na América Latina a criar esse tipo de regra. Além de ser um resgate do elo de confiança do titular dos cidadãos e poder público e empresas, o Brasil precisava fazer isso para se integrar ao mercado global. Há muito tempo Uruguai e Argentina têm flexibilidade para fazer negócios com europeus, ou ter subsidiárias na Europa”, afirma Rafael Maciel. 

O que muda

Juliano Lopes de Oliveira, professor da Universidade Federal de Goiás atua, entre outras, nas áreas de Banco de Dados e Sistemas de Informação. O doutor em Ciência da Computação afirma que estão passíveis de punição erros como vazamentos ou comercialização de informações.  “Para evitar esse tipo de penalidade, organizações que fazem tratamento de dados pessoais deverão adotar boas práticas e de governança, estabelecendo processos e procedimentos para tratamento e atendimento a reclamações e petições dos titulares desses dados. Devem ser adotados normas de segurança e padrões técnicos no tratamento de dados, além de ações educativas e mecanismos internos de supervisão e de mitigação de riscos relacionados ao tratamento de dados pessoais”, diz Juliano Lopes de Oliveira.  Segundo o professor, as medidas certamente contribuirão para maior proteção às informações pessoais, o que significa mais sigilo, integridade e disponibilidade das informações para o seu titular. Será possível apagar registros de atividades ou de cadastros com maior frequência do que se é capaz hoje, por exemplo. Há também atenção especial dedicada a uma categoria de dados chamados de sensíveis. São os que dizem respeito a origem racial, convicção religiosa, opinião política, filiação sindical ou a grupos filosóficos, bem como referentes à saúde ou à vida sexual e dados genéticos ou biométricos. Juliano Lopes de Oliveira afirma que existe boa razão para se preocupar especialmente com essas informações. “Esses dados são muito valorizados por empresas que querem segmentar o seu público de acordo com suas características pessoais, de forma a oferecer produtos e serviços personalizados”, diz o professor. Além disso, ele lembra que a exposição destas características de uma pessoa  pode causar desconforto e constrangimento para o titular dos dados, e permite a classificação de pessoas de forma preconceituosa, interferindo diretamente em seus direitos e liberdades individuais. [caption id="attachment_235227" align="alignnone" width="524"] Juliano Lopes de Oliveira diz que detentores de dados terão maior discricionariedade sobre suas informações | Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal[/caption]

Como muda

A LGPD define agentes que tratam os dados, como o Controlador e o Operador. O Controlador é aquele que decide sobre o tratamento, como por exemplo o dono de uma empresa. O Operador será responsável pelo tratamento propriamente dito. Especialistas, como Marco César Chaul, preveem que essa função será exercida por companhias contratadas, especializadas tanto em tecnologia quanto em direito, da mesma forma como contadores atualmente são terceirizados para gerir finanças de pequenas empresas.  Marco César Chaul é presidente do Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e Similares do Estado de Goiás (Sindinformática). Ele antecipa: “Aparecerá um novo tipo de prestação de serviço para as micro e pequenas, que não terão condição de ter esse profissional operador exclusivo. Talvez associações como Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio/GO) possam auxiliar micro e pequenas empresas”. O especialista em Direito Eletrônico Rafael Maciel afirma, entretanto, que empresas não têm se preparado devidamente para a mudança que entrará em vigor neste setembro: “Ainda não compreenderam que cumprir o processo de adequação não só é passar um documento. A mudança depende da implementação de uma cultura, da mudança de governança. Isso não acontece da noite para o dia. Poucos estão se movendo”. Como consequência, Rafael Maciel prevê: “Na virada do ano haverá correria para fazer esses processos. Perceberão que é um processo sem volta quando começarem a sair multas, indenizações individuais. Empresários têm de entender que precisam mudar o mais cedo possível”.  Rafael Maciel lembra, entretanto, que multas por maus usos de dados já existem e vêm geralmente via Código de Defesa do Consumidor, mas as práticas que geram punições não são bem definidas. Portanto, empresários não devem ver a mudança apenas como mais uma obrigação. “É uma oportunidade porque, pela primeira vez, teremos uma diretriz de adequação, um norte, saberemos exatamente o que fazer. É uma excelente oportunidade para empresas se adequarem não só para fugir de multa, mas atendendo pessoas que valorizam tratamentos de dados de forma responsável”, afirma o especialista em Direito Eletrônico.  [caption id="attachment_235279" align="alignright" width="300"] Presidente do Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e Similares do Estado de Goiás (Sindinformática), Marco César Chaul | Foto: Reprodução / Sílvio Simões[/caption]

Quem muda

Não apenas empresas privadas terão de se adequar, mas também os agentes do Estado que tratam dados pessoais. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi), o Governo de Goiás já começou a realizar adaptações para aderir às novas regras. Uma das mudanças efetuadas foi a criação da Gerência de Gestão da Informação, que, desde 2019, investe na capacitação dos servidores do Estado e da administração pública à LGPD. O foco é dar o tratamento adequado a dados, evitando vazamentos e usos indevidos de informações pessoais dos cidadãos. A Sedi informa que: “Uma das primeiras ações do Governo de Goiás para se adequar à LGPD foi a publicação do Decreto nº 9.488, de 5 de agosto de 2019, que dispõe de regras específicas sobre o compartilhamento de dados cadastrais no âmbito da Administração Pública. Outra ação relevante iniciada também em 2019 foi a realização de um diagnóstico preliminar das bases de dados que contém dados sensíveis. Como resultado dessas ações, foi traçado um plano de ação de governança de dados, que já está sendo implantado. Ele é dividido em três dimensões, que contemplam a governança de dados, as medidas de segurança de proteção dos dados pessoais e o atendimento aos direitos dos indivíduos.” Em nível federal, a lei que cria a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) foi sancionada em julho de 2019. A autoridade terá um conselho composto de 23 representantes, titulares e suplentes, de órgãos públicos e da sociedade civil. A entidade trabalhará sob denúncia e reverterá multas advindas da LGPD para um fundo especial. 

Experiência internacional

A Access.run é um software de acesso expresso de pessoas – um aplicativo que permite a anfitriões enviar convites digitais para seus visitantes e autorizar sua entrada em portas, catracas e cancelas sem necessidade de porteiros, recepcionistas ou seguranças. O sistema, como todas soluções digitais do gênero, necessita de dados – informações sobre controladores e usuários. Entreanto, por ter de se adequar às versões americana, europeia e brasileira da LGPD, Donato Cardoso, cofundador da empresa, afirma que a Access.run tem de fazer uma gestão rígida dos dados de seus clientes. Ocupando o papel de operador de dados, a empresa que gerencia o acesso de clientes a espaços controlados dá a oportunidade de visitantes apagar seus registros (e de saber quando não serão capazes de fazer isso), bem como opta por coletar apenas dados triviais de usuários, e não seus dados sensíveis. "Quando você entra em um condomínio com portaria tradicional, você sabe a quem a informação é destinada? Sabe qual empresa é operadora daquela informação, qual é o pessoal da segurança?", provoca Donato Cardoso. "Seus dados 'analógicos' podem ser espalhados, copiados, roubados, perdidos no relacionamento interno. O meio digital é mais ético porque deixa claro para o usuário o que está acontecendo". Donato Cardoso explica ainda que há "zero chance" de a companhia vender dados de clientes porque a estrita legislação europeia (na qual a LGPD brasileira se baseia) não permite que esta venda ocorra sem autorização expressa de usuários. A empresa, que também opera na Inglaterra, é um dos exemplos de companhias tecnológicas que necessitam encontrar um terreno comum entre legislações para atuar entre continentes. [caption id="attachment_235595" align="alignnone" width="620"] Tiago Lucas e Donato Cardoso, co-fundadores da Access.Run se adequam às leis de proteção de dado de três continentes | Foto: Reprodução / Access.Run[/caption]

Muda para melhor?

Juliano Lopes de Oliveira pondera sobre a LGPD adotada pelo Brasil. Segundo o professor, o conteúdo da LGPD brasileira foi fortemente embasado no Regulamento Geral de Proteção de Dados (General Data Protection Regulation – GDPR) da União Europeia, que entrou em vigor na Europa em 25 de maio de 2018. Espera-se, portanto, que os mesmos benefícios alcançados com o GDPR sejam obtidos pela LGPD.  “Por exemplo, ataques cibernéticos são comuns na atualidade e envolvem organizações de todas as dimensões e naturezas, inclusive empresas tecnológicas, como Facebook e Amazon”, diz Julio Lopes de Oliveira. “Alguns desses ataques resultam na exposição de milhares de informações pessoais. Antes da GDPR, as empresas levavam muito tempo para divulgar qualquer violação de dados a seus clientes. Com o GDPR da UE, as empresas devem informar seus clientes de uma violação que os envolvem em até 72 horas, sob pena de receber multas severas. Resta saber se o Brasil aplicará a LGPD com o mesmo rigor e intensidade que a União Europeia”. Marco César Chaul opina: “A gente tem de regulamentar. O Google praticamente sabe o que estamos pensando e tem uma gama de possibilidades de para usar minhas informações para fins não comunicados. Agora, o usuário terá será mais informado e terá possibilidades de se proteger”. O presidente do Sindinformática exemplifica: “Caso eu dê meus dados em um cadastro de farmácia, eles não poderão vendê-los para uma companhia de seguro. Poderiam cobrar mais caro caso soubessem quais remédios compro ou tivessem informações sobre minha genética”.

Em Goiás, governo tenta manter fôlego para cumprir desafio do RRF

Existe ainda uma série de obrigações e restrições que o Estado deve obedecer para ser considerado apto a aderir ao RRF, e meio caminho já foi andado Foi publicada no final de janeiro deste ano a lei que autoriza o governo de Goiás a vender empresas estatais, tais quais a Celg Geração e Transmissão (Celg G&T); a Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego); a Goiás Telecomunicações (Goiás Telecom) e a Metrobus. A lei, aprovada pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e sancionada por Caiado recentemente, atende a um das muitas exigências feitas pela União para a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Esse é um dos grandes desafios que o governo Caiado precisará enfrentar este semestre, e a aposta para vencê-lo tem sido alta. O RRF, aprovado pela Lei complementar 159/2017, foi criado para fornecer aos Estados com desequilíbrio financeiro grave ferramentas para o ajuste de suas contas. Assim, ele complementa e fortalece a Lei de Responsabilidade Fiscal, que não trazia até então previsão para o tratamento de casos como esse. O regime é voltado apenas aos Estados em grave situação financeira que, conforme a LC 159/2017, são aqueles que a receita corrente líquida (RCL) anual do Estado é menor do que a dívida consolidada ao final do último exercício; o somatório das suas despesas com pessoal, juros e amortizações seja igual ou maior que 70% da RCL e o valor total de obrigações seja superior às disponibilidades de caixa. Existe ainda uma série de obrigações e restrições que o Estado deve obedecer para ser considerado apto a aderir ao RRF. Segundo o Tesouro Nacional, o Estado que tenha interesse em ingressar no regime deve apresentar ao Ministério da Economia um Plano de Recuperação Fiscal, do qual constem um conjunto de leis como a autorização de privatização de empresas dos setores financeiro, de energia, de saneamento e outros, para utilização dos recursos para quitação de passivos; adoção pelo Regime Próprio de Previdência Social mantido pelo Estado; a redução dos incentivos ou benefícios de natureza tributária de, no mínimo, 10% ao ano; revisão do regime jurídico único dos servidores estaduais da administração pública ou aprovação de lei para disciplinar o crescimento das despesas obrigatórias (teto de gastos), entre outros. [caption id="attachment_235355" align="alignleft" width="405"] Caiado entrega ao presidente da Alego, Lissauer Vieira, a PEC da Previdência / Foto: Reprodução[/caption] Atento a isso, o governo de Goiás tem, literalmente, feito o dever de casa. De meados de 2019 para cá, Caiado conseguiu emplacar na Alego a PEC da Previdência, Estatuto do Magistério e servidores, além de, é claro, um novo programa de incentivos fiscais. Com a sanção da lei que autoriza a venda de estatais, o governo tenta se aproximar ainda mais da viabilização de adesão ao RRF. Entre os instrumentos de recuperação oferecidos pelo RRF aos Estados em crise financeira está a redução integral das prestações relativas aos contratos de dívidas administrados pelo Tesouro Nacional por até 36 meses e a suspensão temporária dos requisitos legais exigidos para a contratação de operações de crédito. Ficam suspensas, também, as proibições e determinações aplicadas por descumprimento dos limites estabelecidos para despesas de pessoal e dívida consolidada. Além disso, dentro do regime, o Estado também não precisará comprovar que suas contas estão em dia para transferências voluntárias. Entre os benefícios, Goiás poderá contratar operações de crédito com a União para finalidades determinadas e com um limite que será estabelecido pela Secretaria do Tesouro Nacional. Porém, junto com os benefícios vêm também as restrições. Conforme o Tesouro Nacional, o Estado que aderir ao RRF fica impedido, dentre outras coisas, de conceder reajustes a servidores e empregados públicos e militares além da revisão anual assegurada pela Constituição Federal, criar cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa; alterar estrutura de carreira que implique aumento de despesa; realizar concurso público, ressalvadas as hipóteses de reposição de vacância; criar ou majorar auxílios, vantagens, bônus, abonos, verbas de representação ou benefícios de qualquer natureza a servidores e empregados públicos e de militares e criar despesa obrigatória de caráter continuado.

O que pensam os economistas

"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", disse um famoso personagem de histórias em quadrinhos. A máxima pode ser aplicada ao pé da letra no caso do RRF, uma vez que o Estado precisa "andar nos eixos" caso consiga entrar no regime. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-GO) e professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) Valdivino José de Oliveira, o "RRF é uma medida extrema mas que ajuda o Estado a equilibrar as contas". [caption id="attachment_235353" align="alignright" width="427"] Para Valdivino, o RRF é uma medida extrema para ampara o Estado / Foto: Reprodução[/caption] Para o economista, do ponto de vista econômico, o RRF diminui o tamanho do Estado e, "para aqueles que defendem uma economia mais liberal, isso é o melhor dos horizontes". Em contrapartida, há uma série de restrições que vêm com os benefícios. O presidente do Conselho Regional de Economia Acadêmico de Goiás e membro do Fórum Nacional pela Redução das Desigualdades Sociais, Marcos Antônio Silva, destaca o impacto das vedações impostas pelo RRF. Segundo ele, com o regime o Estado fica impossibilitado de realizar concursos públicos, criar cargos e conceder incentivos fiscais o suficiente, o que, conforme ele, deixa a "economia mais tímida". No início deste ano, a titular da Secretaria da Economia, Cristiane Schmidt, afirmou que enviou à Alego projetos que viabilizam a entrada de Goiás no RRF. O presidente da Casa, Lissauer Vieira (PSB), especificou os projetos como sendo os já aprovados, como a PEC da Previdência e o Estatuto dos servidores e do Magistério. Questionado sobre o comparativo entre o RRF e o Plano Mansueto, programa federal de socorro financeiro aos Estados, Vieira adiantou que ainda não é possível "colocar a discussão sobre o Plano Mansueto na mesa", uma vez que ele "ainda não existe".  

Em clima de “esquenta”, pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia desenham estratégias para o pleito

Entre incertezas e expectativas, as eleições municipais deste ano já têm fortes concorrentes que devem trazer acirramento para a disputa de outubro

Brasileira na China conta rotina de país sob o coronavírus

Cientistas explicam por que epidemias virais, como o coronavírus, assolam a China periodicamente e por que não podemos evitá-las Jessica Bahia Galvão Santos é gerente de marketing da empresa UK Fang Education China, que presta serviços para alunos chineses que querem estudar em boarding ou day schools no Reino Unido. Graduada em Relações Internacionais e pós-graduada em Negócios Internacionais, Jessica Santos acompanha de perto a evolução da epidemia. A brasileira visita intermitentemente a China desde 2012. Há dois anos, vive e trabalha em Shanghai, onde também estudou a língua chinesa na Fudan University. Jessica Bahia Galvão Santos contou ao Jornal Opção seu ponto de vista sobre o novo coronavírus que assusta o mundo. [caption id="attachment_233882" align="alignnone" width="620"] Jessica Bahia Galvão Santos | Foto: Arquivo Pessoal[/caption] Como o governo chinês tem lidado com o novo coronavírus? O governo chinês está super consciente do problema e orienta a população a ficar em casa. Fecharam lugares de grandes aglomerações como parques, bares, boates, templos, restaurantes e pontos turísticos. Além disso, orientam a população a manter uma alimentação saudável e tomar bastante líquido para melhorar o sistema imunológico, usar máscaras, lavar as mãos e fazer gargarejos. Na China, os hospitais são muito lotados porque a população é muito grande; com essa situação estão mais lotados ainda. O governo decidiu criar um hospital do zero para atender as vítimas do coronavírus. A proposta é de construir em apenas dez dias, uma coisa impressionante. São muito conscientes do problema. É possível acompanhar ao vivo a construção do hospital na internet. Estão pedindo para as pessoas chegar com quatro horas de antecedência a voos porque fazem um check-up médico assim que se chega ao aeroporto. A província de Hubei está basicamente fechada, não há transportes entrando ou saindo da cidade.  Médicos estão sob muita pressão, trabalhando em turnos de 20 horas com 3 horas de descanso. Tiveram de cancelar todos eventos com família para cuidar da situação. Acreditamos que essa semana será crítica porque o período de incubação do vírus é de 14 dias, havendo um pico previsto até o dia 10 de fevereiro. Mas, mesmo que hajam muitos casos, é uma situação controlada quando se pensa no número de habitantes. E a situação em Shanghai? A situação não é tão crítica aqui. Há 112 casos confirmados, uma morte e cinco recuperações. A população total é de 26 milhões. A média de idade dos mortos é de 75 anos e são pessoas com sistema imunológico fragilizado. Por isso, sempre alertam para a importância da hidratação e dieta equilibrada. Além disso, existem os casos de recuperação, o que é positivo. Shanghai é uma cidade que não pára e a qualquer hora do dia tem muito movimento. Mas, nesta semana, saí com minha scooter e vi cidade completamente vazia, com pouquíssimos carros, apenas alguns entregadores porque franquias de restaurantes ainda fazem delivery. Eu não estou saindo de casa, não sei se restaurantes continuam recebendo pessoas, mas estão fazendo entregas, bem como supermercados. Como é o contato das pessoas com animais? A sopa de morcego é mesmo real? Sopa de morcego é uma iguaria, sim. Não é algo que comemos todos os dias, mas a população mais antiga tem suas crenças e, de fato, às vezes comem esse tipo de carne, mesmo que não seja comum. Já vi morcego, cérebro de macaco, cobra, besouros em restaurantes. Existem também mercados de animais silvestres que vendem animais como morcego, macaco, faisão, leopardos, porcos-espinho.

Se a população brasileira tivesse tanta consciência em relação a dengue quanto a população chinesa está tendo com o coronavírus, a dengue seria um problema muito menor

A população colabora com orientações do governo? Os chineses estão com muito medo. Todos realmente seguem todas as instruções do governo e sempre escuto os moradores repetindo uns para os outros, “use máscara, lave as mãos”. As pessoas já utilizam máscara normalmente por conta da poluição e moda – é uma coisa dos asiáticos, acham fashion. Mas agora todos usam a máscara.  Atividades que reúnem pessoas em escolas, transporte público, mercados e lazer continuam normalmente? Nesta semana tivemos o ano novo chinês, um feriado de uma semana. As pessoas começariam a trabalhar na quinta-feira, 30 de janeiro, mas o governo estendeu até o dia 09 de fevereiro. Escolas aguardam até o dia 17 de fevereiro para voltar às atividades normais. E aqui na China, trabalhamos dia a mais para compensar dias que não trabalharemos no feriado. Então, para fazer isso, é sinal de que a coisa está séria. Lazer, esquece. Até salas de cinema estão fechadas.  Condomínios residenciais também estão passando as recomendações e são visitados por agentes de saúde que medem a temperatura. O principal sintoma do coronavírus é uma febre muito alta. O que ouvi de amigos que trabalham em hotéis é que quando se faz check in, há alguém para medir sua temperatura.  Você acha que o medo é justificado? Em nosso grupo de brasileiros no WeChat (versão chinesa do Whatsapp), tentamos acalmar todo mundo e desmentir as fake news, que também estão sendo muito propagadas. Não acreditem em vídeos de pessoas caindo na rua e desmaiando em hospitais. Está sendo passada uma impressão extrema do que está acontecendo aqui, e esta não é a verdade. As pessoas estão estocando comida e água em casa, mas isso é normal com a redução de mercados e restaurantes. A situação não está apocalíptica, é até bastante controlada em Shanghai. Sempre penso que, se a população brasileira tivesse tanta consciência em relação a dengue quanto a população chinesa está tendo com o coronavírus, a dengue seria um problema muito menor.  Você tem notícias de como outros países tem tratado emigrantes da China? Companhias aéreas como Air Canada, American Airlines, British Airways, entre outras, suspenderam viagens para a China – em parte por uma razão econômica, já que muitas pessoas estão cancelando seus voos, mas também em parte pelo medo de espalhar a doença.  Entretanto, tenho amigos brasileiros residentes na China que foram à países como Singapura e relataram não passar por nenhum procedimento especial quando chegam voos da China. O aeroporto de Guarulhos não está tomando nenhuma medida preventiva. Brasileiros que vão daqui para o GRU relatam que não há triagem, medição de temperatura, e alguns contam que foram à representação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do aeroporto, mas ouviram que nada podia ser feito. Então, a questão do controle brasileiro é super negligenciada.

Como surgiu e o que a ciência faz para controlar o coronavírus

[caption id="attachment_233891" align="alignnone" width="620"]coronavírus Pesquisadoras do Laboratório de Virologia e Cultivo Celular explicam como novos vírus podem emergir e se disseminar rapidamente | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption] No dia 31 de dezembro, a OMS foi informada de um conjunto de casos de pneumonia de causa desconhecida detectados na província chinesa de Hubei. No início de janeiro, foi anunciado que um novo coronavírus havia sido identificado, vinculado a um mercado na cidade de Wuhan. A notificação rapidamente tomou conta dos noticiários internacionais, provocando reação de líderes mundiais para conter a epidemia, o que, por sua vez, conquistou ainda mais espaço em noticiários.  Entretanto, quando comparados, os números da nova doença – 213 mortes e 9.1 mil infecções até o fechamento desta edição – ainda são inferiores aos do arbovírus causador da dengue, que em 2019 quebrou recordes históricos fazendo 1.206 mortes e 2,7 milhões de infecções apenas nas Américas. Portanto, o que explica o medo que a nova infecção respiratória tem gerado? Em parte, o temor pode ser explicado pelas memórias da SARS de 2003; da gripe aviária de 2009; da gripe A de 2009; e de tantas outras infecções virais nascidas na China. Embora a letalidade do novo coronavírus (estimada em 2%) não alcance à da SARS (cerca de 4%), ainda é suficientemente alta para gerar preocupação – a taxa é muito mais alta do que a do dengue, por exemplo. Além disso, em apenas um mês o novo coronavírus infectou mais do que o SARS em todo ano de 2003. Também é grave o fato de que, ao contrário da gripe aviária, pode ser transmitido de pessoa para pessoa, e não apenas de animais para humanos. Por último, o período de incubação parece durar até 14 dias. Nesta fase, o hospedeiro pode transmitir a doença sem manifestar seus sintomas.   Pelo que tudo indica, o novo agente reúne características necessárias para causar uma pandemia e ainda alia outro ingrediente importante para criar pânico: o desconhecido. Cientistas ainda não sabem exatamente como esta variante do coronavírus é transmitida, sua patogenia e sua taxa de mortalidade. Por ser novo ainda, não há indivíduos com imunidade contra a infecção, o que facilita sua dispersão. 

A origem do vírus chinês

[caption id="attachment_233896" align="alignnone" width="620"]coronavírus Fabiola Fiaccadori explica que o coronavírus não era um problema até conseguir ser transmitido entre animais e humanos | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption] Fabiola Souza Fiaccadori (Doutora em Microbiologia pelo PPGMTSP/IPTSP/UFG) e Menira Borges de Lima Dias e Souza (Ph.D pela The Ohio State University) são professoras e pesquisadoras na área de Microbiologia do Laboratório de Virologia e Cultivo Celular (LABVICC) do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. As professoras explicam como novos vírus podem emergir e se disseminar rapidamente, bem como o que a ciência pode fazer para combatê-los.  As pesquisadoras explicam que o sequenciamento do genoma do novo coronavírus mostrou muita semelhança (identidade maior que 85%) com  variantes que já circulavam entre morcegos. “Em humanos, os coronavírus são reconhecidos como causadores de doenças semelhantes a um resfriado comum. Entretanto, existem coronavírus associados a infecções em diferentes espécies animais, como cães, gatos, suínos e morcegos, o que favorece a recombinação genômica entre vírus de diferentes espécies”, explica Fabíola Souza Fiaccadori. Os vírus em geral são instáveis, podendo sofrer mutações pontuais durante o processo de replicação dentro da célula do hospedeiro, consertando mal os erros da própria replicação. Esta variabilidade, aliada à pressões (como a defesa imunológica) que selecionam vírus com a qualidade do spill over e rápida disseminação, faz com que eventualmente surja uma mutação que rompe uma barreira entre hospedeiros.  Menira B. L. D. e  Souza diz: “vários publicações científicas realizadas com amostra de arquivo revelam que, quando se tem notícias de um vírus novo, na verdade ele já estava se replicando e circulando em alguma população”. Fabiola Fiaccadori acrescenta: “Em geral, nestes casos, o início é caracterizado pela ocorrência de casos esporádicos e aleatórios que dificultam a identificação e notificação. Entretanto, a partir da adaptação da variante viral, esta pode se adaptar na população e estabelecer um surto”. Os indícios sugerem que uma das mutações que fez surgir todo o problema ocorreu no gene que codifica a Proteína S, que se localiza na superfície do envelope viral e portanto muda a forma com que o vírus reconhece células de hospedeiros e também tem efeito na resposta imunológica à infecção. O contágio entre morcegos e humanos parece ser favorecido pelo contato próximo entre pessoas e animais em feiras e mercados de animais silvestres que existem na China.  Fabiola S. Fiaccadori afirma que há ainda outra característica desses vírus importante para explicar o fenômeno: “Em uma mesma célula infectada por diferentes vírus, pode ocorrer a recombinação, como troca de material genético, o que levando ao surgimento de novas variantes virais”.  

Cura à vista

[caption id="attachment_233897" align="alignnone" width="620"]Menira B. L. D. e Souza Menira B. L. D. e Souza conta como o reservatório animal dos morcegos garante um espaço onde vírus podem se replicar e sofrer mutações livres de vacinas | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption] Ao contrário dos coronavírus, o causador da dengue não tem perfil de ampla variabilidade. Porém, isso não significa que o perigo está descartado. Fabiola S. Fiaccadori lembra que o vírus  zika tinha variabilidade ainda inferior ao vírus dengue, mas se tornou responsável por uma epidemia caracterizada como de Emergência Internacional. “O vírus zika originalmente caracterizado como agente de infecção branda, após evento de variabilidade, estabeleceu novas vias de transmissão e se tornou capaz de causar patogenia diferenciada, até casos graves como complicações  neurológicas”. Para isso, o zika necessitou apenas de pequenas mutações. A letalidade da doença provocada depende de diversos fatores. Primeiro, a taxa de replicação do vírus no corpo é determinante. A capacidade de se disseminar pelo organismo antes de o corpo produzir uma resposta imunológica era uma característica conhecida da SARS, que podia passar para os pulmões sem ficar detida no trato respiratório superior, de modo que não havia tempo para o organismo montar sua defesa.  Com a alta letalidade do coronavírus, esforços têm sido feitos para desenvolver uma vacina. O sequenciamento de seu genoma foi feito em tempo recorde, nos Estados Unidos. Fabiola S. Fiaccadori explica como o sequenciamento auxilia no desenvolvimento da vacina: “Se consigo a informação da sequência genômica, deduzo quais proteínas o vírus tem. O que a vacina faz é mostrar ao sistema imune a composição da proteína de um invasor para que uma resposta protetora e eficaz possa ser produzida contra o agente infeccioso.” O sucesso não é garantido, entretanto. Com o reservatório animal dos morcegos, vírus têm uma fonte onde podem replicar e sofrer mutações livres de vacinas. Além disso, Menira B. L. D. e Souza explica que o procedimento para que uma vacina para ser licenciada e comercializada não é simples, levando em média de 8 a 10 anos. “Primeiro há testes de citotoxicidade em cultura de células e testes de dosagem e segurança. Aí então, pode-se fazer testes em animais. Depois, ensaio clínico com poucos voluntários. Verificadas questões de segurança e eficácia, outro ensaio clínico é feito, com maior número de indivíduos em diferentes países e de diversas faixas etárias. Por último, esses dados são analisados para compreender se vale a pena investir milhões de dólares – o ideal é que a vacina seja eficaz contra pelo menos as variantes mais frequentes daquele vírus”, diz Menira B. L. D. e  Souza. [caption id="attachment_233900" align="alignnone" width="620"] Cientistas explicam que processo de produção de vacinas levam em média 9 anos | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção[/caption]

Conheça o destino partidário dos vereadores que buscarão a reeleição em 2020

A maioria dos vereadores já se preparam para encarar o período eleitoral diante das novas regras do jogo. Um já desistiu da disputa. Outros, apesar de anunciarem que tentarão a reeleição, garantem que não será pela mesma sigla. E há, ainda, quem descarte qualquer mudança de estratégia política

Em Goiás, governo aposta em policlínicas para cumprir regionalização da saúde

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, o objetivo é entregar 17 policlínicas até 2022 [caption id="attachment_233925" align="alignnone" width="620"] Em Posse, Policlínica deve ser inaugurada em 28 de fevereiro deste ano / Foto: SES[/caption] "Vamos apertar pra valer agora", disse o governador Ronaldo Caiado em visita ao município de Posse em meados de janeiro deste ano. A declaração se referia à Policlínica, que, em reta final, está prevista para começar a funcionar a partir do final de fevereiro. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde Goiás, a inauguração da unidade de saúde marca um processo de regionalização dos serviços de saúde no Estado. Conforme a pasta, o objetivo é entregar 17 policlínicas até 2022. Por meio da policlínica, Caiado pretende oferecer serviços especializados de média complexidade e alta resolutividade, em articulação com a atenção básica e assistência hospitalar, “oferecendo à população da região o acesso ambulatorial às especialidades médicas diversas”. De acordo com a Secretaria, o modelo de policlínicas que vem sendo implantado em Goiás está espalhado pelos Estado de São Paulo, Bahia, Ceará e Paraná. Ele oferece um conjunto de ações e serviços para cada especialidade ofertada, conforme os processos clínicos ou problemas de saúde mais relevantes e/ou prevalentes em cada região. Em Goiás, além de Posse, os municípios de Goianésia, Quirinópolis, Formosa, Cidade de Goiás e São Luís de Montes Belos também já estão com as obras em andamento. Segundo o titular da Saúde, Ismael Alexandrino, as unidades de Posse, Quirinópolis e Goianésia A Secretaria afirma que as policlínicas de Goianésia e Quirinópolis devem ser inauguradas ainda no primeiro semestre deste ano, mas as datas exatas ainda não foram divulgadas. Já as de Posse, Quirinopólis e Goianésia estão com licitação encaminhada para a escolha da Organização Social (OS) responsável pela gestão das unidades. O governador Ronaldo Caiado também anunciou a construção da unidade em Campos Belos, na fronteira com o Tocantins. Anteriormente, em entrevista ao Opção, Alexandrino havia afirmado que as unidades que ainda não haviam sido anunciadas, à época, provavelmente seriam a de Campos Belos e Porangatu. “São duas cidades que estão praticamente definidas. Pegamos a faixa Norte completa e assistimos o Estado com especialidade, diagnóstico e terapêutica”, declarou. A entrega da policlínica de Campos Belos está prevista para 2021, com um investimento total de R$ 13 milhões, sendo R$ 8 milhões investidos na obra e R$ 5 milhões em equipamentos. O secretário informou que Goiás possui 18 Regionais de Saúde agrupadas em cinco macrorregiões. De acordo com ele, 17 terão policlínicas, com exceção da Região Central, que corresponde a Goiânia, por “concentrar maior número de equipamentos e unidades de saúde no Estado”.  Para Alexandrino, o objetivo é o de levar assistência ao interior e “assim evitar que o paciente tenha que ficar se deslocando até a capital”. “Para o Estado, isso significa menos custo. O exame que se faz na capital inclui o custo do transporte. Uma tomografia em Posse em uma unidade privada, a prefeitura paga R$ 500. A tabela SUS paga em torno de R$ 138. O custo da nossa tomografia ficará em torno de R$ 138 ou um pouco mais pelo custo agregado de rateio de energia e outros detalhes. Com o laudo, o valor é pago pelo Ministério da Saúde. É um valor que sai do Tesouro da prefeitura. Direta e indiretamente, o Estado está ajudando o município. A diferença de R$ 500 para R$ 138 o município não tem que pagar mais. Multiplique isso por mil exames”, disse o secretário na entrevista concedida ao Opção.

Policlínica de Posse vai oferecer 19 especialidades e mais de 10 mil consultas mensais

Prevista para ser inaugurada no dia 28 de fevereiro deste ano, a primeira policlínica da “leva” de unidades de saúde a serem entregues à população de Goiás está localizada na Avenida Juscelino Kubitscheck de Oliveira, setor Buenos Aires, em Posse. A unidade funcionará de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e prestará serviços de consultas, exames e procedimentos médicos em áreas como fisioterapia, laboratório clínico, hemodiálise e exames de imagem, como mamografia, tomografia, densitometria e ultrassonografia. Realizará cirurgias menores ambulatoriais e atuará ainda como serviço de apoio diagnóstico e terapêutico. São 3.775 metros quadrados de área construída, 26 consultórios, 16 salas para exames, posto de coleta do laboratório, farmácia, posto de enfermagem, central de esterilização de material e salas destinadas à administração. Conforme a Secretaria de Saúde, estarão disponíveis 19 especialidades médicas e 6 não médicas; mais de 10 mil consultas e até 25 mil exames de diagnóstico por mês. A policlínica pretende oferecer atendimento a uma população de 31 municípios integrantes da Macrorregião Nordeste de Goiás, composta por 1.207.393 habitantes. Serão atendidas as seguintes regiões: Entorno Norte: Água Fria de Goiás, Alto Paraíso, Cabeceiras, Flores de Goiás, Formosa, Planaltina, São João d’Aliança e Vila Boa; Entorno Sul: Águas Lindas de Goiás, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás; Nordeste I: Campos Belos, Cavalcante, Divinópolis de Goiás, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás; Nordeste II: Alvorada do Norte, Buritinópolis, Damianópolis, Guarani de Goiás, Iaciara, Mambaí, Nova Roma, Posse, São Domingos, Simolândia e Sítio D’Abadia. Entretanto, conforme informado pela Secretaria de Saúde, as policlínicas, como a de Posse, não possuem o sistema “porta aberta”. Os pacientes serão atendidos inicialmente, em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em seguida encaminhados por meio do Complexo Regulador Estadual, com horário agendado. As vagas são disponibilizadas proporcionalmente ao número de habitantes de cada município que compõem a região de abrangência da policlínica.

Conheça os suplentes que podem se tornar deputados estaduais em 2020

Com 14 pré-candidatos a prefeito, a Assembleia deve ver alguma rotação de representantes com parlamentares sendo eleitos e se licenciando para fazer campanha

Informações desencontradas dificultam verificação de situação de lojas atingidas por incêndio

O trabalho realizado pelo Corpo de Bombeiros pode levar tempo, uma vez que alguns lojistas fornecem dados que não estão cadastrados para o certificado de segurança

Pacientes imobilizados poderão voltar a andar com ajuda de armadura robótica no Crer

O modelo pediátrico tem interface interativa de jogos com personagens e desenho animado [caption id="attachment_232872" align="alignnone" width="620"] Crianças se divertem enquanto reaprendem a andar na AACD | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption] O Lokomat é um exoesqueleto de alta tecnologia que pode se prender a um paciente imobilizado por danos no sistema nervoso e fazê-lo andar sobre uma esteira. As respostas do corpo à repetição dos movimentos controlados pelo robô são interpretadas pela equipe médica e terapêutica que supervisiona o paciente. Ao longo de várias sessões, o movimento reproduzido é tão semelhante à marcha natural que áreas do cérebro associadas aos processos fisiológicos do caminhar são estimuladas. Assim, o aparelho literalmente reensina o corpo a marchar.   O equipamento produzido pela empresa suíça Hocoma não é barato ou de fácil acesso. Com custo médio de R$ 1,5 milhões, apenas o laboratório de robótica da rede Lucy Montoro e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) possuem exemplares do Lokomat – todos na capital paulista. Goiânia será a segunda cidade do país a oferecer o tratamento, que será inteiramente público. Em cerca de três meses, o exoesqueleto robótico auxiliará a terapia de adultos e crianças no Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer).  Como mostra estudo publicado com base em análise de vinte anos de dados gerados pelo equipamento, o Lokomat é capaz de reduzir o tempo necessário para a recuperação da marcha em pacientes vítimas de AVCs, lesões encefálicas e medulares, indivíduos com síndromes de Guillain-Barré, Parkinson, esclerose múltipla e com dificuldades para caminhar durante recuperação pós-operatória. Entretanto, médicos afirmam que não se trata de uma cura milagrosa, mas de um método suplementar que auxilia o tratamento tradicional. [caption id="attachment_232873" align="alignright" width="300"] Movimentos realizados pelo robô estimulam o sistema nervoso | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption] Diretor técnico do Crer, o médico ortopedista João Alírio Teixeira afirma que o hospital público receberá módulos para atender crianças e adultos imobilizados por diversas causas. “O Lokomat move membros que a pessoa ativamente não consegue, fazendo parte da movimentação, estimulando a musculatura remanescente e o sistema nervoso”, explica o médico. João Alírio Teixeira afirma que o Crer espera atender primeiro dezenas de pacientes com lesão medular, que estão entre os maiores beneficiados pelo método. 

Dez anos de caminhada

Desde 2010, uma unidade do Lokomat funciona na AACD, onde foram realizado mais de 27 mil atendimentos. Na associação, a equipe que acompanha o paciente no aparelho é composta por um fisioterapeuta, um médico avaliador e o técnico que auxilia no funcionamento da máquina. Pacientes são submetidos a ciclos de 24 sessões – no mínimo duas sessões de  de 50 minutos por semana – e ao fim de cada ciclo há a análise dos resultados. O médico fisiatra Marcelo Ares é coordenador da equipe de fisiatria da AACD, em São Paulo, e explica sua experiência com o uso do Lokomat. Segundo ele, um dos fatores decisivos é a escolha do paciente a ser submetido à terapia, pois pacientes com comprometimento grave não conseguirão transferir os ganhos com aparelho para o solo e casos leves são pouco beneficiados. Além disso, o método não deve ser realizado isoladamente, sendo necessário que haja uma previsão da evolução do paciente.  “O equipamento melhora a marcha de pacientes com capacidade de reabilitação, então é importante selecionar aqueles cujo potencial não é atingido por déficit de controle motor, dificuldade de equilíbrio, alteração na capacidade de propriocepção”, afirma Marcelo Ares. O fisiatra explica que nestes casos, além de atingir o objetivo principal da evolução da marcha, o Lokomat promove ganhos secundários. “O equipamento melhora o condicionamento cardiovascular, aumenta o tônus muscular e a autoestima. O paciente se vê andando, e isso é muito positivo. Trabalha também o raciocínio, atenção; são benefícios muito importantes”.  [caption id="attachment_232874" align="alignnone" width="620"] Módulo pediátrico conta com interface interativa | Foto: Reprodução / Guilherme Balconi / AACD[/caption] O  fisiatra Marcelo Ares explica também quais são os fatores impeditivos para uma pessoa utilizar o equipamento: “O paciente precisa ter a cognição e atenção preservadas, além de querer colaborar com o método. Não pode ter deformidades estruturais nos membros inferiores. Além disso, é muito importante o acompanhamento das articulações e qualidade dos ossos com densitometrias ósseas e exames rotineiros de raio-x. O paciente não pode ter osteoporose ou poderá se machucar na máquina.”

Crer

[caption id="attachment_114613" align="alignnone" width="620"] Crer acumula 17 milhões de atendimentos em toda sua história | Foto: Reprodução / Crer[/caption] “Quando o Lokomat chegar a Goiânia, teremos de ter uma equipe multidisciplinar muito preparada o esperando”, diz João Alírio Teixeira, Diretor técnico do Crer. “A equipe também terá de selecionar muito bem quem fará esta terapia. Trata-se de um método complementar às terapias realizadas em solo que abrevia o tempo de tratamento e que oferece a vantagem de poder ser utilizado em diversas etapas do tratamento”, complementa o médico.  A fabricante suíça Hocoma lista possibilidades: mesmo pacientes com lesão medular completa, que não têm controle sobre os membros inferiores, o treinamento com Lokomat pode levar a alterações neuroplásticas e benefícios secundários, como a regulação da função intestinal e da bexiga. Também os indivíduos que já recuperaram parte da capacidade de locomoção podem ser desafiados com o treinamento com Lokomat. Por exemplo, o uso do robô para fornecer resistência em diferentes fases da marcha pode servir como uma espécie de musculação  durante a caminhada. Espera-se que a taxa de sucesso entre pacientes do Crer seja semelhante ao número de estudos randomizados controlados compilados pela Hocoma que apontaram resultados superiores entre pacientes que treinaram no Lokomat. Em 78 artigos publicados, 58 relataram vantagens para o treinamento no Lokomat e 11 reportaram resultados semelhantes, enquanto apenas 9 mostraram vantagens exclusivas para métodos alternativos de treinamento. 

Em Goiânia

[caption id="attachment_232878" align="alignleft" width="400"] Dr. João Alirio Teixeira discute a paralisia cerebral na Câmara dos Deputados | Foto: Reprodução / Otávio Praxedes / Câmara dos Deputados[/caption] O equipamento destinado ao Crer foi adquirido com verbas de emenda parlamentar federal, destinada pelo deputado Vitor Hugo (PSL). O parlamentar afirmou que não conhecia o equipamento anteriormente e que foi procurado pelo superintendente executivo do centro de readaptação, o médico Sérgio Daher, com a indicação do que gostariam de adquirir. “Eu havia decidido dedicar a verba à saúde, mas queria que fosse algo palpável, concreto. Quando o dr. Sérgio Daher me mostrou o que tinha em mente, me decidi imediatamente”. Quando perguntado o que o superintendente lhe disse para sensibilizá-lo para a causa, o deputado Vitor Hugo afirmou: “Primeiro foi a idoneidade e histórico do uso de recursos públicos da Associação Goiana de Integralização e Reabilitação (Agir) – organização social que gere o Crer. Eles são extremamente eficientes”.  “Em segundo lugar”, continua Vitor Hugo, “fui tocado pelo caráter humanitário. Eu já visitei o Crer algumas vezes e pude ver as pessoas imobilizadas que podem ter esperança de reabilitação. Me explicaram como a máquina retoma os movimentos, ensina o sistema nervoso da pessoa a realizar os movimentos do passado. Isso me convenceu”, conclui.

Contrariando entendimento do Inep, faculdades usam índices do MEC para marketing

Colaboração Luiz Phillipe Araújo

Instituições de Ensino Superior comparam indicadores que não foram criados com objetivo de ranqueamento

No último mês, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou dois de seus principais indicadores: o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e do Índice Geral de Curso (ICG). As métricas são usadas para subsidiar o reconhecimento e recredenciamento de instituições de ensino. Além da função oficial, os números também são noticiados em diversos veículos (Jornal Opção incluído) como avaliação da qualidade da educação superior.  Entretanto, ao compreender que os índices podem ser usados para marketing institucional, faculdades e universidades encontraram formas de se destacar em listas ranqueadas – o que não é o propósito dos indicadores e gera protestos de instituições prejudicadas. Uma das distorções provocadas por esta competição, por exemplo, é que é possível para Instituições de Ensino Superior (Ies) elevarem seus índices sem necessariamente investir em corpo docente, infraestrutura ou recursos didático-pedagógicos. O problema é conhecido e discutido na academia, e a distorção entre índices e qualidade real do ensino superior é reconhecida pelo próprio Inep. “Os resultados do IGC, assim como os de quaisquer outros indicadores sociais, não são um retrato exato das condições concretas da realidade observada, mas um indicativo sobre como os processos formativos estão ocorrendo nas instituições”, afirmou a assessoria de comunicação do instituto. “Nesse sentido, o Inep vem desenvolvendo estudos a fim de aprimorar seus processos e estabelecer uma gama de indicadores capazes de contemplar dimensões e características diversas da Educação Superior, inclusive quanto às diferentes formas de organização administrativas das instituições”, concluiu a assessoria do órgão.  Entretanto, os proprietários das instituições ouvidos afirmaram entender os índices divulgados pelo Ministério da Educação (Mec) de maneira diferente. Os diretores gerais responsáveis por instituições melhor qualificadas de Goiás, Patrícia Mendonça, da Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps), e Adriano Valotto, da Faculdade Noroeste (Fan), afirmaram entender o IGC como parâmetro de ranking e comparação entre diferentes instituições. O CPC avalia os cursos de graduação segundo o desempenho de alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e na avaliação de corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos. Ponderando a distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, o próprio CPC será usado para compor o IGC, junto com a média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu atribuídos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Entretanto, para as instituições que não possuem programas de pós-graduação stricto sensu, o resultado expressa apenas o compilado dos desempenhos dos cursos de graduação da instituição. Apenas três entre as dez instituições melhor ranqueadas oferecem mestrado e apenas duas têm programa de doutorado. Embora programas de pós-graduação pontuem em média melhor do que a graduação, este resultado pouco contribui para que Ies com pós-graduação tenham média mais alta, já que o número é ponderado pela quantidade de matrículas. Isso significa que instituições menores são privilegiadas, pois não precisam investir esforços na pesquisa científica, rigorosamente medida e monitorada pela Capes. Em 2018, a Ies melhor avaliada em Goiás, a Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps), teve cinco cursos avaliados no CPC. Em segundo lugar, a Faculdade Noroeste (FAN), teve três. A Universidade Federal de Goiás (UFG) aparece em terceiro lugar, com 108 cursos de graduação. Para comparação, a Facunicamps teve 64 concluintes de curso avaliados pelo Enade neste triênio, a Fan apenas 8, e a UFG 478. [caption id="attachment_146692" align="alignnone" width="620"] Brasília - Candidatos aguardam abertura do portões do UniCEUB para o primeiro dia de provas do Enem 2017(Valter Campanato/Agência Brasil)[/caption] Segundo a coordenadora adjunta na área de Ciências Biológicas I da pós-graduação, Célia Maria de Almeida Soares, coordenadores de pós-graduação têm como atribuição fazer relatórios anuais detalhando a produção científica, número de publicações, teses, ingressantes e formandos. “A cada quatro anos, a Capes monta um grupo de avaliadores para cada área que avaliam as Ies. Elas são classificados por conceitos, excelente, bom, muito bom, em notas que variam de 3 a 7 e que são utilizadas para concessão de bolsas ou fechamento de cursos”, afirma a professora coordenadora. Sem a variável da pós-graduação, o IGC é idêntico ao CPC. Este, por sua vez, é calculado com base no Enade e na avaliação de corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos. Estes ativos são aferidos por questionário online respondido por estudantes no site do Inep em qualquer lugar com acesso à internet.  De acordo com o Inep, “os cursos que obtiverem Conceito Preliminar de Curso (CPC) 4 ou 3 têm sido dispensados da avaliação in loco, uma decisão que compete à Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres)”. Rogério Dentello, Coordenação Geral de Avaliação dos Cursos de Graduação e de Instituições de Ensino Superior do Inep, afirma sobre as avaliações in loco: “Nosso objetivo é avaliar as diretrizes educacionais de cada instituição e ajudá-las a melhorar. É diferente de uma supervisão do Mec quando há suspeita de fraude. As Ies se prepararam para receber-nos e avisam seus alunos que dedicarão a um tempo para a avaliação.” Há ainda outro fator complicador com o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). O Inep define a variável como: “uma medida que busca mensurar o valor agregado pelo curso ao desenvolvimento do estudante no processo formativo, sendo um dos componentes do CPC. Conforme descrito na nota técnica de cálculo do IDD, não existe uma comparação direta entre as notas obtidas pelo estudante no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Enade. O objetivo do IDD é exclusivamente o de mensurar o valor agregado pelo processo formativo, sempre tomando como referência o nível de desenvolvimento do estudante quando do ingresso no curso avaliado”. O IDD, portanto, é uma medida de quanto determinado aluno se desenvolveu desde a data em que entrou até quando saiu do ensino superior. Na lógica de competição que se estabeleceu, entretanto, quanto menor a nota do estudante no Enem e melhor na do Enade, melhor para a Ies. Ainda mais: Ies com menores notas no Enem necessárias para se ingressar se beneficiam da comparação ranqueada; como universidades disputadas têm “ponto de corte” mais alto, menor tende a ser o desenvolvimento compreendido ao final do curso.  [caption id="attachment_231642" align="alignnone" width="620"] Capes tem sistema rígido de monitoramento de qualidade da pós-graduação, afirma Célia Maria de Almeida Soares | Foto: Reprodução / TV UFG[/caption] A comunicação da Faculdade Unida de Campinas (Facunicamps) afirmou: "Não fazemos propaganda enganosa, o que fazemos é divulgar o índice – aí vai de cada um saber se é de qualidade ou não é – mas é uma nota do MEC; uma avaliação contínua pela qual é possível comparar as Ies. Divulgamos uma nota oficial publicada pelo MEC". "A FacUnicamps tem quase 100% do corpo docente formado por mestres e doutores, estrutura física indo para o quarto campus e atualmente dotada de laboratórios, auditório, salas de aulas equipadas, inúmeras atividades de extensão e extracurriculares, toda a grade disciplinar aprovada e monitorada pelo MEC, resultados bastante satisfatórios com os profissionais que coloca no mercado", concluiu a comunicação da instituição.

Apesar do caso Backer, explode mercado de cervejas especiais

As cervejas artesanais e especiais caíram no gosto dos brasileiros e têm se tornado parte da cultura. Produtores e cientistas afirmam que ainda há muito espaço para o crescimento deste mercado [caption id="attachment_231810" align="alignnone" width="620"] Linha Asturia, da cervejaria Klaro Chopp, insere a marca no mercado de cervejas especiais | Foto: Reprodução / Vitor Mercez[/caption] Nos últimos dez anos, o mercado brasileiro de cervejas especiais tem crescido exponencialmente. O interesse crescente no produto tem a ver com uma mudança de cultura que pode ser percebida nas ruas da cidade, onde é cada vez mais comum encontrar bares dedicados ao ramo. Mesmo grandes fábricas de marcas já consagradas no ramo das cervejas e chopes tradicionais têm dedicado esforços a criar linhas artesanais – como é o caso da Klaro Chopp, com sua linha Asturia.  Enquanto em 2009 eram 70 cervejarias, o último levantamento da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) aponta 700 fabricantes, fora os não registrados. Apenas em 2019, ano em que o estudo foi publicado o crescimento no número de fábricas foi de 35%. Este crescimento está longe de encontrar seu pico, segundo cervejeiros artesanais e tradicionais ouvidos, já que apenas 2,5% da cerveja consumida no Brasil é artesanal – para comparação, essa proporção é de 20% nos Estados Unidos.  Francielo Vendruscolo é Professor da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG). O Doutor em Engenharia de Alimentos tem experiência na área de processos biotecnológicos e cervejas artesanais, além de ser o idealizador e coordenador do Projeto Cervejamos, que tem por objetivo difundir a cultura da cerveja artesanal. O professor afirma que a própria definição de cerveja artesanal tem a ver com a característica única do produto: “Cervejas Artesanais são aquelas produzidas sem sofisticações industriais, sem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sem intenção de comercialização, apenas consumo próprio. Pela dificuldade de controlar os fatores do processo, o cervejeiro dificilmente conseguirá repetir a mesma receita com as mesmas características sensoriais”, diz Francielo Vendruscolo. Ele traça uma diferença entre Cervejas Especiais, que possuem um padrão de identidade (mesmas características em lotes diferentes), registro no Mapa e têm intenção de serem viáveis comercialmente, mas que também tentam atender consumidores que valorizam a apreciação sensorial.

Como começar

Vitor Mercez, responsável pela cervejaria Asturia, criada em 2013, explica que seu interesse pelo produto artesanal começou cedo: “Minha família iniciou a Klaro Chopp há 15 anos em Goiânia, e desde meus 18 estou dentro da fábrica. Fiz cursos de degustação, não só pelo interesse do paladar, mas também para entender melhor o que fazemos, e acabei me interessando pela arte”. Ele conta que, além da linha Asturia, a Klaro Chopp também usa sua fábrica para produzir cervejas para marcas terceirizadas, chamadas “marcas ciganas”, que têm o rótulo, mas não o meio de fabricação. [caption id="attachment_231812" align="alignleft" width="300"] Henrique Augusto Martins entrou no mundo das cervejas pela degustação | Foto: Reprodução / Arquivo[/caption] Um destes rótulos é a Lola, criada pelo jornalista Henrique Augusto Martins. Ele conta como conseguiu profissionalizar seu hobby e empreender neste mercado: “Comecei degustando, como quase todo mundo começa. Vamos evoluindo nosso paladar e chega um ponto em que começamos a ficar curiosos com as possibilidades da produção. Descobri que dava pra fazer em casa, juntando amigos, montando associações, compartilhando equipamentos”. O conselho de Henrique Augusto Martins para os que se interessam pela produção amadora é justamente conversar com alguém que já produza e se aproximar de congregações de cervejeiros, como a Acerva ou a Abracerva – ambas com representação em Goiás. Entretanto, empreender no mercado é um pouco mais arriscado e complexo. Henrique Augusto Martins afirma que produzia a modesta quantidade de 20 litros por vez lote quando, no evento de cervejas especiais Piribier, seu produto chamou a atenção do responsável pela fábrica da Klaro Chopp, Reginaldo Mercez. “Ele nos convidou para produzir em sua fábrica. Começamos sem saber como vender, fazer a distribuição ou o marketing.” Este fator, segundo Vitor Mercez, é o principal desafio para aqueles que estão começando. “Muita gente produz cerveja como hobby e está legal, tem aceitação dos amigos e familiares. Mas, quando tenta empreender, acaba fracassando porque falta a parte profissional. Então, meu conselho para quem quer começar é estudar bastante, estudar a parte mercado também”.

Como fazer uma cerveja única

Embora as cervejas possuam apenas quatro ingredientes essenciais – água, malte, lúpulo e fermento – cervejeiros podem controlar diversas etapas do processo para tornar seu produto único. Escolha dos maltes e lúpulos, características da brasagem, uso de diferentes técnicas de lupulagens e obediência aos padrões de qualidade e higiênico sanitários fazem a diferença entre um rótulo e outro.  Além disso, explica Francielo Vendruscolo, existem diversos subtipos de cervejas dentro de duas grandes famílias: a das ales e a das lagers: “Cervejas Lagers, também conhecidas como cervejas de baixa fermentação, são fermentadas entre 7 e 15°C por leveduras de baixa fermentação que se encontram, predominantemente, na parte inferior do tanque de fermentação. As Cervejas Ales, conhecidas como cervejas de alta fermentação, são fermentadas entre 16 e 24°C. São produzidas com leveduras de alta fermentação que se encontrarão, predominantemente, na parte superior do tanque de fermentação.” [caption id="attachment_231811" align="alignnone" width="620"] "Para quem quer tentar empreender, aconselho a estudar bastante o mercado também", diz Vitor Mercez | Foto: Reprodução / Luan Rampazzo[/caption] Henrique Augusto Martins afirma que a possibilidade de criar receitas é praticamente infinita. Ele cita como exemplo a witbier, uma ale belga feita de trigo e temperada com sementes de coentro e cascas de laranja. “A primeira cerveja da Lola foi uma witbier. Eu adicionei na minha receita casca de limão siciliano ao invés da de laranja e lúpulo tcheco para criar um sabor particular”. Outro exemplo: “Nosso paladar evolui, então minha cerveja favorita eventualmente muda”, diz o jornalista cervejeiro, “mas atualmente gosto das mais ácidas. Temos uma sour beer, que é a que mais gosto. Ela tem acerola e maracujá e é feita com dupla fermentação – primeiro fermentação lática, com produção de ácido lático, depois fermentação normal”.

Por que sair da zona de conforto?

Vitor Mercez diz que, em sua opinião, os festivais começaram a mudança cultural que promoveu a apreciação da cerveja. “O vinho já tem essa cultura há muito tempo, com figuras como os enólogos. Um produto superior às cervejas tradicionais abre portas, como a harmonização com comidas, etc”. Entretanto, Vitor Mercez acredita que o maior obstáculo a ser superado permanece sendo o de convencer consumidores de cervejas tradicionais que consumir um produto mais caro pode valer a pena. “Precisamos aprender a catequizar o público que gosta das cervejas tradicionais, esse é o maior desafio”, diz Henrique Augusto Martins. Para converter quem consome cervejas industriais clássicas, algumas estratégias têm se tornado populares. “Se vamos vender em supermercados onde há pessoas de todos os níveis socioeconômicos, temos de ter um promotor de vendas fazendo degustação gratuita, explicando nuances do produto”. Quando perguntado por que cervejas especiais são melhores do que as mainstream, o engenheiro de alimentos Francielo Vendruscolo explicou a diferença na composição das duas bebidas: “Algumas cervejarias optam pela adição de cereais não malteados com a finalidade de reduzir o preço final. Cervejas especiais, em sua maioria, utilizam apenas maltes e não fazem uso de cereais não malteados. Quando atrelado à utilização de lúpulos adequados e adicionados em diferentes momentos do processo de produção, acabam conferindo características sensoriais superiores às cervejas tradicionais”.

A contaminação da Backer, ou, é perigoso tomar cervejas especiais? 

Após pacientes se internarem com síndrome nefroneural em Minas Gerais, descobriu-se que cervejas especiais da fabricante Backer estavam contaminadas com mono e dietilenoglicol. Investigações ainda não foram concluídas e até o momento quatro pessoas morreram por terem ingerido as substâncias usadas como fluído de refrigeração no processo produtivo. O engenheiro de alimentos Francielo Vendruscolo explica que cervejarias já utilizam fluidos alternativos para a refrigeração, como soluções hidro alcóolicas (mistura de água e álcool etílico). “Não existem agentes tóxicos envolvidos diretamente na produção, mas existem óleos e lubrificantes, detergentes, sanitizantes que podem direta ou indiretamente, contaminarem a cerveja. Antes de comentar sobre os riscos de novas contaminações pelo dietilenoglicol, é preciso aguardar a conclusão da investigação que esclarecerá a natureza da contaminação”. Henrique Augusto Martins levantou, junto à Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), se alguma cervejaria goiana utiliza o monoetilenoglicol ou o dietilenoglicol: “Não é comum. Em Goiás, nenhuma cervejaria a utiliza, pelo menos entre as associados à Abracerva. Sei que a utilização do dietilenoglicol no Brasil é rara, pois esta é uma substância cara comparada com a alternativa da mistura na proporção de 30% etanol e 70% de água, que cumpre a mesma função sem o risco de contaminação cruzada”. Isto não significa que não existam riscos, explica Francielo Vendruscolo. Cervejas Especiais comercializadas, entretanto, devem pussuir registro no Mapa e obedecer os Procedimentos Operacionais Padronizados, se adequando aos requisitos mínimos exigidos pela legislação, o que garante sua segurança ao consumidor. Quanto às genuinamente artesanais, produzidas sem registro no Mapa e cujo principal objetivo não é a comercialização, mas o consumo próprio, Francielo Vendruscolo aconselha: “É Importante seguir condições higiênico-sanitárias adequadas, acondicionar os insumos em local fresco e seco, lavar e higienizar os utensílios com água quente ante e após a utilização, lavar corretamente as garrafas, tomar cuidado com o uso de detergentes e sanitizantes tóxicos, pois muitos cervejeiros artesanais optam pela utilização de sanitizantes utilizados por industriais que requerem Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para manipulação e utilização”.

Projeto Cervejamos

[caption id="attachment_231816" align="alignnone" width="620"] Professor Francielo Vendruscolo ministra cursos para ensinar a Arte de fazer cerveja artesanal | Foto: Reprodução / Arquivo[/caption] O Projeto Cervejamos é um projeto de Extensão desenvolvido na Universidade Federal de Goiás coordenado por Francielo Vendruscolo. Foi iniciado em novembro de 2016 com o intuito de divulgar a Arte da Cerveja Artesanal na Região Centro-Oeste. Dentre as principais atividades, há a ministração de cursos de curta duração para ensinar a Arte de fazer a cerveja artesanal, permitindo que os inscritos consigam desenvolver suas próprias cervejas.  O coordenador explica: “Associamos a Ciência e Tecnologia e utilizamos alguns conceitos de matemática, física, química e biotecnologia nas atividades desenvolvidas. Também buscamos ofertar palestras e atividades relacionadas aos amantes da cerveja artesanal. O projeto foi muito bem aceito pela Comunidade, as atividades desenvolvidas atingiram participantes de vários municípios Goianos e muitos ex-alunos estão desenvolvendo suas próprias cervejas. Alguns deles, inclusive, passam por aqui e deixar algumas amostras para degustação!”

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