Reportagens

Com um quadro a partir de janeiro de 2017 com 13 reeleitos e 22 vereadores que não estavam na Casa este ano, Legislativo de Goiânia defende independência

Chega a ser assombroso descobrir que o Iris dos anos 60 permanece praticamente o mesmo, incólume, no Iris do século 21

Em sua primeira edição, o evento conta com palestrantes nacionais e traz temas que atendem desde o pequeno produtor ao grande empresário

Passado o momento eleitoral, será a hora de o vencedor se deparar com os problemas da capital. Quais deles atacar primeiramente?

Colocar o transporte particular individual como principal meio de locomoção traz desgastes não só ao trânsito, mas inviabiliza a vida ao longo do tempo

Prognósticos distantes dos resultados apresentados nas urnas por candidatos a prefeitos apontam para reinvenção dos métodos de levantamento utilizados

Resultado do 1º turno mostra que candidatos que encarnaram o figurino de outsiders — mesmo que não o sejam de fato — levaram vantagem, o que certamente vai se repetir na etapa final do pleito

Há semelhanças entre o que os dois candidatos propõem, mas também há diferenças, e a principal delas é a visão de mundo e a prática política

As eleições municipais têm importância relativa em relação às disputas de governo estadual, mas é um dos componentes que formam a força de um grupamento
[caption id="attachment_16964" align="alignleft" width="620"] Palácio das Esmeraldas: a eleição municipal tem um foco lá|Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Afonso Lopes
Partido ou grupamento que vence majoritariamente as eleições municipais torna-se imbatível na disputa pelo governo do Estado dois anos depois? Claro que não. Tampouco as eleições nas cidades são uma prévia do que vai se disputar no Estado. Trata-se, na verdade, da composição dos muitos aspectos que terminam por montar situações favoráveis ou não. É por essa razão que deputados estaduais e federais, senadores e governador fazem o possível para vencer na maioria dos municípios. É a formação da chamada base, o alicerce inicial do que se poderá construir depois.
Isso posto, o resultado das eleições deste ano animaram as forças que compõem a chamada base aliada estadual, esmagadoramente vitoriosa em número de prefeitos e vereadores. Isso abre espaço para a preparação de um cenário bem mais favorável para a disputa de 2018, que deve ser bastante intensa tanto entre os governistas como entre os opositores.
Projeto
Os prefeitos que venceram agora e que vão assumir seus cargos a partir de janeiro devem encontrar “casas”, na maioria das vezes, completamente arruinadas. Há o fator histórico que pesa contra as máquinas administrativas municipais, geralmente paquidérmicas, agravadas pela gravíssima crise econômica que secou fontes importantes de financiamento das cidades, além da estupidez que é o pacto federativo brasileiro, que termina por concentrar quase completamente o bolo tributário em Brasília. Se os Estados sofrem com receitas baixas, as cidades praticamente dependem de oxigênio financeiro externo em tempo integral.
É certo também que esses prefeitos eleitos precisaram prometer mundos e fundos para seduzir seus eleitores. Faz parte do jogo. Os candidatos derrotados também fizeram muitas promessas. A diferença entre eles é que os primeiros é que vão ser cobrados pela população.
Mas essa cobrança não será imediata. Quem chega recebe uma espécie de salvo-conduto que costuma girar entre seis meses e até um ano. Basta que se apresente como um líder realmente confiável e criativo. Mais do que isso, que use a transparência como uma boa e positiva arma para se proteger das críticas iniciais. Fora isso, é torcer para que a crise econômica comece efetivamente a ser superada já no ano que vem, como se acredita. Esse desempenho dos prefeitos é importante para a tal montagem do cenário para a disputa estadual, que no final das contas é considerado como um projeto político de governistas e de opositores.
São os prefeitos e vereadores que formam a base das candidaturas a deputado estadual e federal, fator preponderante na montagem de chapas competitivas tanto para o governo como para o Senado. É possível vencer a disputa pelo Palácio das Esmeraldas sem essa competitividade? Possível, é, como se viu em 1998 quando Marconi Perillo derrotou Iris Rezende tendo o apoio de apenas 20 e poucos prefeitos, mas é extremamente complicado. Aquela foi uma eleição completamente atípica, e que provavelmente não vai se repetir em sua atipicidade tão cedo.
Assim, e tecnicamente, pode-se afirmar que, sem nenhuma dúvida, as forças governistas venceram o primeiro round da grande batalha de 2018. Mais do que isso, mostra que esse eixo político permanece como referencial no Estado. Prova disso é que as vitórias foram colhidas em todos os quadrantes, e não em uma ou duas regiões, e em cidades de todos os portes, das menores às mais densamente povoadas.
Um velho problema dos opositores permanece aparentemente sem qualquer solução: a falta de projeto alternativo. A oposição atua em cima de situações conjunturais, e portanto possíveis de transformação, e não política e administrativamente estruturais. Faz-se oposição ao governo porque não está no governo. Não se formula a alternativa aquilo que aí está.
A oposição precisa desenvolver um projeto que vá além da mera troca de comando do Estado. E isso, obviamente, é ir muito além da fulanização da disputa. Enquanto a base aliada estadual continuar se mostrando viável e a oposição bater apenas na tecla da mudança sem apresentar o que e como mudar, haverá sempre a imensa possibilidade de as bases municipais permanecerem como um dos elementos que formam a vitória na disputa estadual. Para 2018, o jogo começou com a base aliada estadual à frente. Ainda há tempo para os opositores igualarem as possibilidades, mas sem um projeto política e administrativamente alternativo não vai dar. Mais uma vez. l

Experiência une negociação política com conhecimento legislativo e técnico para conseguir verba e saber o que fazer para não perder investimentos

Professores do ensino superior que se identificam com o pensamento conservador começam a aparecer no meio acadêmico
[caption id="attachment_77171" align="alignleft" width="620"] Pensamento de direita vem ganhando espaço também nas universidades, local em que essa existência não era tão perceptível | Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Augusto Diniz
É comum ouvir em conversas de amigos, discussões ou na internet que o meio acadêmico é tomado pelo pensamento de esquerda, na sua definição política e filosófica. Chega a ser corriqueiro ver gente na internet e na mesa de bar dizer que se perde muito tempo da formação universitária com estudos de pensadores como o alemão Karl Marx, autor de livros como “O Manifesto Comunista” (1848) e “O Capital” (1867).
Essas pessoas, na maioria das vezes, preferiam não se manifestar demais para não serem tachadas de criadoras de caso ou polemizadoras de plantão. Mas, com a popularização da internet, que tem ampliado o número de usuários no Brasil, e a era das opiniões nas redes sociais, em que as pessoas têm buscado mais informação e tempo em discussões sobre todos os assuntos, essa nova direita começou a se manifestar e encontrar em diversos cantos do Brasil simpatizantes de suas ideias e pensamentos.
Outro ponto que facilitou com que os que se consideram conservadores liberais, na direita brasileira, ganhassem mais voz e espaço foi a derrocada da aceitação do Partido dos Trabalhadores (PT) junto à sociedade a partir dos governos federais de Luiz Inácio Lula da Silva, que em sua quarta eleição para o cargo de presidente da República chegou ao comando da União por duas vezes, entre 2003 e 2010, e sua sucessora, a ex-ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, que foi eleita em 2010 e 2014 para o cargo.
A consolidação do processo de impeachment no dia 31 de agosto de Dilma, com o julgamento final pelo Senado, deu voz à direita, que ganhou força nas eleições municipais de 2016. Um desses exemplos é a votação que recebeu o deputado estadual Flávio Bolsonaro, do Partido Social Cristão, que terminou em quarto lugar na disputa pelo cargo de prefeito com 424.307 votos, 14% da votação válida na capital fluminense.
O Rio de Janeiro, inclusive, deu maior votação no primeiro turno a um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, o senador Marcelo Crivella (PRB), que chegou a 842.201 votos. Ele disputará o segundo turno com um candidato da esquerda carioca, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol), que obteve 553.424 votos.
Para entender esse momento de crescimento da direita na sociedade, o Jornal Opção conversou com professores universitários que se posicionam com identificação ao pensamento conservador e que defendem o liberalismo na economia.
Divisão da direita
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Cláudia Helena defende o conservadorismo nos costumes como base da estruturação da sociedade | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Mestre em Direito na área de Ciências Penais, a professora Cláudia Helena Gomes, da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), diz é preciso dividir bem as duas linhas de pensamento da direita para que não haja confusão. Identificada com a linha conservadora liberal, que valoriza o conservadorismo nos costumes e defende a economia liberal, Cláudia Helena explica que nem toda a direita atual é assim. “Há também os libertários, que também são liberais na economia, mas defendem uma sociedade livre da figura do Estado.”
Na definição entre a direita conservadora e a direita libertária, Cláudia Helena acredita que um dia a direita libertária enxergará que o conservadorismo pode ser o melhor caminho para o mundo. Para ela, o problema ao estudar pensadores de direita é que não se vê muito essa discussão enquanto estudante, quando se passa rapidamente pelos estudos do escocês Adam Smith e perde-se muito tempo dedicado ao pensamento de Karl Marx, por exemplo.
“Há sempre o estigma de que o liberal, que defende a livre iniciativa de mercado, não se importa com os pobres. O socialismo, onde todo mundo trabalha para o Estado, é o modelo mais explorador. É o exemplo dos cubanos que participam do Mais Médicos, que recebem salários mais baixos e são praticamente escravos, enquanto outros profissionais da mesma área ganham mais pelo mesmo serviço.”
Cláudia Helena cita que a prática de uma sociedade em torno de um senhor feudal, como acontecia na Idade Média, ganha sua continuidade em uma ditadura de esquerda, como a cubana, com a figura central representada em Fidel Castro, com toda uma sociedade a serviço de suas ordens.
O pensamento de direita, seja ele libertário ou conservador, tem ganhado espaço na academia. Tanto que na Faculdade de Direito da UFG já existe o Clube Bastiat, que reúne estudantes das duas alas do pensamento de direita. O nome do grupo de estudos homenageia o economista liberal francês Frédéric Bastiat, que defendia a liberdade da pessoa contra qualquer autoridade, entre elas a representada pelo controle estatal na sociedade.
Desencanto com a esquerda
A professora confessa que já foi de esquerda. “Eu não conheço ex-direitista, mas conheço ex-esquerdista”, observa. Cláudia Helena diz que já se sentiu atraída pelo discurso da luta pela redução das desigualdades sociais. “Não dá para pensar à esquerda depois de começar a ler autores de direita”, considera.
Ela afirma que o momento em que vivemos, de insatisfação com modelos carcomidos de governar, tem possibilitado o surgimento de uma leva de pessoas que têm “rompido esse bloqueio” que o pensamento de esquerda coloca sobre o meio acadêmico. “Eu corro o risco de ser tachada de rótulos como direitista, ser xingada ou usarem certas palavras-gatilho para simplesmente ofender quem pensa de forma diferente.”
Ao mesmo tempo que a professora entende que se estuda muito pouco Adam Smith e o francês Alexis de Tocqueville, logo se dedica bastante tempo a um dos principais pensadores anarquistas, o filósofo francês Denis Diderot. Mas Cláudia Helena afirma que reduzir a discussão intelectual a uma divisão entre direita e esquerda chega a ser muito simplista. Ela defende que o correto hoje seria pensar em quem defende uma economia liberal, com menos controle do Estado sobre a regulação do mercado e os que querem ser tutelados a vida inteira pela figura dos detentores do poder.
Mesmo ao considerar que os libertários liberais são bastante utópicos ao compreender como possível uma sociedade sem qualquer participação do Estado, a professora descreve que o governo precisa existir, mas em condições e com um tamanho bem menor do que é hoje. “Desde o século 18, na Revolução Francesa, a intenção da esquerda foi a de derrubar o poder existente e suplantar esse controle com um poder ainda maior do que o anterior.”
Ela cita exemplos de diferenças existentes entre o que era praticado na França durante a monarquia e a partir da queda do rei, como a novidade do alistamento obrigatório, pois antes o monarca precisava pagar pelos serviços de combatentes contratados em momentos de guerra. “Hoje se o Brasil entrar em guerra você não tem como fugir, você é obrigado a ir lutar, não há escolha, é uma ordem”, descreve.
Conservadorismo é marca de acadêmicos
Outro momento histórico utilizado por Cláudia Helena para pontuar sua insatisfação com o controle muito amplo do Estado sobre a vida do cidadão é a Inconfidência Mineira. “A revolta de parte da sociedade era pela cobrança de um quarto (1/4) que era roubado pela Coroa. Hoje o estado leva 40% de quem tem rendimento mais alto.” Para a professora, a presença do Estado na vida das pessoas é tão forte atualmente que muitas vezes o cidadão nem percebe essa atuação em forma de controle. “Uma amiga pagou outro dia pela escrituração de um imóvel de 72 metros quadrados R$ 12 mil. Quem deu esse direito para o Estado? Que contrato social é esse?”, questiona. Essa atitude governamental — que para ela não seria um erro apenas do PT, mas uma política que acompanhou todos os governos desde a redemocratização com José Sarney (PMDB) —, de mostrar uma “sanha controladora”, aponta como o Brasil é governado por burocratas. “Quando houve o impeachment da Dilma, nós nos perguntamos quem são essas pessoas que representam o povo brasileiro. O País é comandado por pessoas que você nem sabe quem são.” Para Cláudia Helena, Dilma não foi eleita por ser mulher ou sofreu o processo de impeachment por ser mulher. “Ela foi eleita duas vezes e não teve nada de misógino, por que agora sua destituição é considerada misógina? Ela foi deposta porque é incompetente mesmo. Esse discurso é parte da dialética do Hegel, que muda o discurso de acordo com a necessidade.” Volta aos costumes É aí que a direita conservadora defende a busca pelos costumes tradicionais, sejam eles pautados pela moral judaico-cristã, pelos valores da família tradicional ou pelo conhecimento erudito construído ao longo de séculos pela humanidade, desde a filosofia, a economia, as artes e a religião. “É alguém que reconhece que existiram milhares de pessoas antes dela e que não sou eu que vou achar que vou ter uma ideia brilhante que vai ser melhor para todo mundo.” A ideia geral, na visão de Cláudia Helena, é dar continuidade ao que já deu certo na história da humanidade, ser a ânsia de ser fazer revolução, de buscar uma ruptura drástica. “Nos anos 60 você tinha a esquerda revolucionária e a esquerda moderada. As duas tinham o mesmo objetivo, que era chegar à revolução socialista”, critica. “Nós nunca tivemos uma experiência de capitalismo de fato no Brasil. O que nós sempre tivemos, desde as capitanias hereditárias, foi um capitalismo de compadrio. No capitalismo de verdade os competentes sobrevivem e quem não é competente não tem espaço.” Essa descrição é baseada no exemplo do fortalecimento econômico dos Estados Unidos, que apostaram no livre mercado, como explica Cláudia Helena. Para o doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor da Faculdade Esup, Murilo Resende Ferreira, a importância da liberdade de mercado é a busca pelo desenvolvimento aliada ao conservadorismo. “Só progride quem conserva”, afirma.“Um casamento de dois homens duplica a chance de abuso infantil no caso desse casal adotar uma criança"
Preservação da cultura De acordo com Murilo, pensar o conservadorismo apenas pelo viés da moral é algo muito pequeno, já que essa linha de pensamento se define pela preservação da arte, literatura, filosofia e do conhecimento considerado mais elevado. “A sociedade moderna está brincado com coisas que ela não conhece direito.” [caption id="attachment_77174" align="alignright" width="300"]


O desafio de mobilizar pessoas por meio do convencimento, participar de uma eleição a vereador percorrendo um caminho bem alternativo e chegar a 1.882 votos gastando muito pouco

No eixo Brasília-Rio-São Paulo, o ninho tucano enxergou o resultado das eleições em Goiás como carta na manga para o governador goiano

Vanderlan Cardoso deve seguir as previsões e aglomerar a maioria dos apoios partidários, formando uma forte frente política que pode fazer a diferença na votação definitiva do dia 30 de outubro
Pesquisas têm embasamento científico, mas nunca as margens de erro admitidas pelos institutos em Goiás foram tão altas