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“André” tem 9 anos e várias passagens pela polícia. Numa parede de sua casa, desenhou uma arma (ele adquiriu uma de brinquedo) Foto: Cristina Cabral/O Popular[/caption]
Cleomar Almeida, do “Pop”, fez uma série de reportagens impactantes sobre André, nome fictício, um criminoso de apenas 9 anos de idade, e sobre sua mãe, que busca ajuda para recuperá-lo. Depois da pressão do jornal, já que a da mãe não estava resolvendo, a ajuda dos órgãos públicos foi oferecida. Espera-se que não seja tarde demais — quase sempre é. O mundo do crime às vezes é prazeroso para meninos e adolescentes, talvez dada a possibilidade de aventuras. Mas acreditar que é possível “recuperar” um ser humano, sobretudo uma criança, faz parte da saudável crença do humanismo.
André é uma criança e, como mostra o repórter Almeida, gosta de brincar. Porém, como noutros casos, convivem num único ser um menino (que chora) e, pelas ações, um adulto (duro, implacável). O repórter pergunta: “Por que você está nem aí e pega coisas dos outros?” A resposta é precisa e mostra consciência: “Porque não dá nada”. “As pessoas têm medo de mim. Sei disso porque elas abrem um olhão quando fico mais próximo”, conta, possivelmente com certo prazer. Almeida percebeu que, quando não quer falar, André simula que está com sono. Ele “já acumula 20 passagens por envolvimento com crimes em Goiânia, como tráfico de drogas, furto e roubo”.
O repórter pergunta qual é seu maior sonho e André não titubeia: “Tinha vontade de ter pai. Só vi a foto dele”. O pai foi assassinado. A mãe não consegue orientá-lo e controlá-lo.
A função de um repórter é colher informações verdadeiras e divulgá-las. Almeida, profissional rigoroso, quer, com sua série de reportagens, ajudar André e sua mãe. Planeja ampará-los. As reportagens são explícitas sobre isso. Mas há pelo menos um problema.
André quase foi linchado por populares do bairro onde mora com a mãe e um irmão de 4 anos e estaria jurado de morte por traficantes. Independentemente do que disse ao repórter, que colheu e publicou suas palavras com o máximo de fidelidade, a situação de André é complicada.
Entretanto, trechos da entrevista agudizam os problemas do menino, que possivelmente, ao contar “vantagens”, não percebe a gravidade do que diz e o que isto pode representar para sua segurança e de sua família. Almeida quer saber onde “fica em Goiânia quando sai de casa e dorme fora” e o menino não hesita: “Na casa de um homem que tem droga. Ele também tem até aquele negócio preso na perna [tornozeleira; é um preso do semiaberto] com uma luzinha que só fica piscando. Ele não pode roubar, senão a polícia pega ele. Mas ele diz que a polícia não faz nada. (...) Tem um tantão de traficante que conheço que tem isso aí [tornozeleira] na perna. O resto, que conheço, não tem”. Para a criança, é uma conversa qualquer, sem nenhuma gravidade. Do ponto de vista do traficante, que vive fora da lei, representa uma “delação”, um “crime” que deve ser punido com uma sentença: a pena de morte.
Um traficante bateu no garoto. “Eu caguetei porque ele pegou minha bola e meus brinquedos. Peguei a bola, a bola estava rasgada e caguetei ele. Se não tivesse feito isso, não teria caguetado ele para a polícia”, relata André. “Ele falou na delegacia que, quando sair, vai me matar. Mas os policiais falaram que ele não vai sair mais não”, conta, inocente.
É óbvio que Almeida quer apenas ajudar André e sua família. Mas a reportagem pode agudizar a possibilidade de traficantes matarem o menino.
Vale a pena ler um trecho do livro “O Jornalista e o Assassino”, da notável jornalista (da “New Yorker”) e escritora Janet Malcolm: “Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente ser tema de um escrito não ficcional aprende — quando o artigo ou o livro aparece — a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do ‘direito do público a saber’; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida”. Almeida deveria ler o livro, assim como a editora-chefe do “Pop”, Cileide Alves.
Se André for morto, não há problema: rende mais uma manchete e, quem sabe, mais um prêmio para o jornal, que poderá dizer: “Nós avisamos”. E, ao mesmo tempo, culpar as “autoridades”.
Literatura de Néstor Sánchez começa a ser republicada na Argentina e filme vai relatar sua vida. Sua prosa era elogiada por Julio Cortázar, Severo Sarduy, Antonio Di Benedetto e Emir Rodríguez Monegal
“É um escritor em estado de deriva, que só tem sentido e encontra sentido no movimento e descobrimento de uma nova paisagem, um novo instante, uma nova experiência”
A Intrínseca põe um livro notável nas livrarias: “A Busca — Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno” (830 páginas, tradução de Ana Beatriz Rodrigues), de Daniel Yergin. A obra, que ganhou o Pulitzer, é elogiada por pesos pesados como Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, e Henry Kissinger.
Sinopse da editora: “Uma das maiores autoridades mundiais sobre o assunto, Daniel Yergin demonstra que a questão energética é o motor de transformações políticas e econômicas globais da atualidade.
“‘A Busca’ é um relato arrebatador sobre um problema que afeta o mundo contemporâneo — onde encontrar a energia que tanto necessitamos.
“Neste livro, o autor aborda as formas de energia tradicionais sobre as quais nossa civilização se ergueu e as novas fontes que prometem substituí-las.
“Yergin devassa os bastidores do mercado petrolífero, analisando o aumento dos preços, a corrida pelos estoques do antigo império soviético e as fusões colossais que transformaram o cenário mundial. E encara algumas perguntas polêmicas — o petróleo vai acabar? Seria ele capaz de provocar um conflito inevitável entre a China e os Estados Unidos? Como a turbulência do Oriente Médio afetará o futuro dos estoques globais?
“O autor relata a história surpreendente e, às vezes, turbulenta da energia nuclear, do carvão, da eletricidade e do gás natural e oferece uma perspectiva singular sobre o problema das mudanças climáticas. E também nos conduz pelo ressurgimento das energias renováveis, explorando o potencial de recursos como o vento, o sol e os biocombustíveis.
Das ruas engarrafadas de Pequim ao litoral do mar Cáspio, dos conflitos no Oriente Médio até o Capitólio e o Vale do Silício, Yergin revela as decisões que estão moldando o futuro.”
"O Pintassilgo" (Companhia das Letras), de Donna Tartt, deve entrar na lista dos melhores romances publicados no Brasil em 2014. A prosadora americana escreve muito bem, tem uma imaginação poderosa e, por isso, sabe como poucos contar uma (intrigante) história. Há uma vantagem extra: a tradução de Sara Grünhagen é do primeiro time, fluente e sem erros. Aqueles que preferem cinema a ler um livro de 719 páginas podem ficar sossegados: o romance será adaptado pelo diretor Brett Ratner (“Hércules”). A Warner Bros adquiriu os direitos. Brad Simpson e Nina Jacobson serão os coprodutores. O trabalho do roteirista não será nada fácil, e não pelo tamanho do livro, e sim porque a história é intrincada e há detalhes que, embora importantes, não cabem num filme de duas horas. Mas o núcleo do romance é adaptável. Na página 33, o personagem Theo cita “Cidadão Kane”, de Orson Welles: “Gostei muito da ideia de uma pessoa poder reparar, casualmente, numa desconhecida fascinante e lembrar-se dela o resto da vida”.
A ditadura civil-militar vigiou integrantes da Igreja Católica, revela o historiador Paulo César Gomes. Seu livro “Os Bispos Católicos e a Ditadura Militar Brasileira: A visão da Espionagem” (Record, 224 páginas), baseado em documentos inéditos e secretos, mostra que os governos militares se preocupavam muito com as ações dos líderes católicos.
César Gomes, pesquisador do Grupo de Estudos Sobre a Ditadura Militar da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre e doutorando em história. Comentário de Daniel Aarão Reis, um dos mais historiadores do período pós-64: “Pesquisando os arquivos da chamada ‘comunidade de informações’, garimpados por mão segura e olhar aguçado, dialogando com a melhor literatura sobre o assunto, Paulo César Gomes reconstitui esta trama complexa — recoberta e dissimulada por grossas camadas de memória —, apanhada em seus meios-tons e matizes diferenciados, tortuosa e contraditória como a vida. É o que faz deste livro um trabalho de História”.
Denise Bottmann
Sobre as fraudes da Editora Germinal, fico contente em avisar que tive ciência do andamento do inquérito policial por estelionato que o Ministério Público de São Paulo considerou por bem instaurar: as pessoas que constavam como tradutoras das duas obras que questionei junto ao MP “confessaram não terem sido as autoras das traduções em tela” e o laudo pericial realizado pelo instituto de criminalística constatou que “as obras questionadas e os padrões” apresentavam conteúdos semelhantes.
Para acompanhar o caso da Germinal, conhecer os cotejos, a relação das várias fraudes e as denúncias de Alfredo Monte e de Euler Fagundes De França Belém desde 2004, veja http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/search/label/germinal.
João Gilberto, o Roberto Carlos da Bossa Nova, tentou mas não conseguiu apreender o livro “João Gilberto”, de Walter Garcia, publicado pela editora Cosac Naify, em 2013. O Portal Imprensa relata que “a 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a decisão de primeira instância que indeferiu o pedido de busca e apreensão de biografia não autorizada do cantor e compositor João Gilberto”. A Justiça avaliou, com correção, que a apreensão do livro “seria uma forma de censura prévia”, registra o portal. “O relator João Francisco Moreira Viegas avaliou que o compositor não demonstrou o alegado dano moral que teria sofrido e agiu com a intenção de determinar censura antecipada ao livro.” Livros que propagam a obra de João Gilberto, reconhecidamente de qualidade, não provocam dano algum. Pelo contrário, soam como publicidade de sua música. “Nos apertados limites dessa cautelar, em que o autor/apelante só busca a apreensão da obra literária em via de ser divulgada, não há mesmo como reconhecer a ocorrência de lesão à honra, à imagem ou à intimidade do apelante. Adentrar nessa seara é admitir a possibilidade de censura prévia", assinalou o relator João Viegas. Não há dúvida de João Gilberto é um dos maiores artistas brasileiros, comparável a Noel Rosa, Chico Buarque e Caetano Veloso. Mas seu comportamento no Brasil não parece o de um simples mortal. Ele comporta-se como uma espécie de Emilio Garrastuzu Médici da música patropi. Fica-se com a impressão de que se uma pessoa espirrar, e se o espirro soar como “jooooããããoooo ggggilllbberrtoo”, o músico recorrerá à Justiça para mover mais um processo. A Justiça não deve ser vista como chicote para “atacar” aqueles que, mesmo escrevendo de maneira positiva sobre seu trabalho — e a respeito seu estranho comportamento —, não se posicionam como aduladores tradicionais. João Gilberto é, possivelmente, maior do que o mito de ranzinza, chato de galocha, como se dizia quando ele era jovem, que está criando para si. O gigante fica menor quando encrespa quando faz muito barulho por nada.
Ascensão da ex-ministra deve forçar a presidente a mudar seu marketing político e partir para o confronto com a candidata a presidente do PSB
Misha Glenny conta a história do golpe que um grupo de criminosos nigerianos aplicou no Banco Noroeste, das famílias Simonsen e Cochrane, entre 1995 e 1997
A autora não esclarece se a história da cantora Celestina Warbeck, personagem de “Harry Potter”, vai ser transformada em livro
A revista “Veja” fez o que todos vão fazer: criou a TVeja. O canal, que será ancorado pela jornalista Joice Hasselmann, terá programação fixa e diária na internet. A web possibilita a integração total do jornalismo. Tirar proveito disso vai gerar mais acesso e, daí, influência e, eventualmente, mais faturamento. As entrevistas das “Páginas Amarelas” vão ser levadas ao ar.
A Amazon (www.amazon.com.br), maior livraria virtual do mundo, está no Brasil desde quinta-feira, 21, oferecendo, além de mais de 2 milhões de e-books, 150 mil livros impressos de 2.100 editoras brasileiras. “É o maior catálogo de livros em português no país”, afirma o gerente geral do grupo no Brasil, Alex Szapiro.
Não resta dúvida de que a Amazon facilita a vida dos leitores e deve contribuir para melhorar os serviços das livrarias (e até das editoras) brasileiras. A concorrência é um incentivo à melhoria do atendimento do leitor. A Fnac de Goiânia, para ficar num exemplo, trata o leitor como se não existisse. Recentemente, comprei uma biografia do Frei Tito pela Livraria Cultura (a melhor do país no atendimento virtual) e o livro demorou mais de um mês para chegar. As livrarias físicas de Goiânia, como Saraiva, Fnac e Nobel, já estavam vendendo a obra.
Mas, se beneficia os leitores, com preços mais baixos, a Amazon joga pesado e contribui para o fechamento de livrarias físicas e provoca crise até em grandes editoras, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Há uma briga sem quartel entre a livraria e a Editora Hachette, que não aceita vender segundo seus preços. Autores como os best selleres John Grisham e Stephen King — e mais 900 escritores — ficaram ao lado da editora
As editoras Record, Companhia das Letras e Novo Conceito saudaram a chegada da Amazon. Mal sabem o que está prestes a acontecer. A livraria vai promover, a médio prazo, uma verdadeira guerra com livrarias e editoras. Jeff Bezos, o chefão da Amazon, joga pesado, especialmente quando se sente fortalecido localmente.
Dá para controlar a Amazon? Não dá. Os Estados Unidos não deram conta. França e Alemanha tentam mantê-la sob controle. Mas sua relação forte com o leitor, com a política de preços mais baixos, é praticamente invencível.
William Bonner e Patrícia Poeta fizeram entrevistas exemplares com Eduardo Campos, Aécio Neves e Dilma Rousseff. Os jornalistas não “alisaram” nenhum dos candidatos e fizeram perguntas críticas cruciais. Aécio e Dilma não gostaram, evidentemente, porque no Brasil todos querem que o jornalismo seja o sorriso do poder e a cárie da sociedade.
Militantes atacam a TV Globo, fazendo referências à sua ligação com o regime militar. Os militares não estão no poder há 29 anos e a Globo se tornou crítica e, como as entrevistas mostram, com todos. Seus proprietários, diretores e editores podem ter simpatia por algum candidato — talvez Aécio Neves (e Dilma Rousseff tende a ser o plano b) —, mas as entrevistas foram deliciosamente objetivas.
O empreendedor ficou cego aos 26 anos e mesmo assim fundou um mini império de venda de tecidos
