J. K. Rowling deve publicar mais um livro sobre Harry Potter
24 agosto 2014 às 23h30
COMPARTILHAR
A autora não esclarece se a história da cantora Celestina Warbeck, personagem de “Harry Potter”, vai ser transformada em livro
Consta que São Pedro disse que é mais fácil entrar no Reino do Céu do que a crítica Michiko Kakutani elogiar um livro de um autor popularíssimo. Verdade? Meia verdade? Não se sabe. No campo da literatura, o da ficção, a verdade é o que menos importa. O que vale é ser crível. O milenar São Pedro, ainda que menos influente do que São Paulo, o verdadeiro gênio do Cristianismo (Jesus Cristo deve tudo ou quase ao filósofo-teólogo da Igreja Católica), sabe disso tanto quanto Kakutani. Mas elogios categorizados de uma crítica do “New York Times” nem sempre tornam polpudas contas bancárias de escritores. J. K. Rowling ganhou dinheiro e se tornou uma celebridade galáctica ao publicar a série “Harry Potter” – depois adubada pelo cinema. Monteiro Lobato a deixa no chinelo, mas o brasileiro, que escreveu em português (língua que não se tornou dialeto porque Portugal descobriu o Brasil), pertence a um país que “The Economist” reluta em chamar de “grande” (na Cochinchina se acredita na independência da revista inglesa, espécie de bíblia de leitores provincianos, ainda que chiques).
Depois de publicar livros apontados como sérios – romances policiais são sérios ou entretenimento? Às vezes, as duas coisas –, Rowling deve ter percebido que venderam bem, especialmente depois que, sutilmente, deixou vazar (culpando o “coitado” de um advogado) que Robert Galbraith era, na verdade, a autora dos livros de “Harry Potter”, mas não tão bem quanto gostaria. As contas nos bancos certamente permanecem com muitas pilas, mas, como se sabe lá nas terras de Lúcifer, o irmão enjeitado de Deus, os montes começam a diminuir se não há um novo “Potter” nas estantes (coisas do passado?) das livrarias.
“La Vanguardia”, o melhor jornal de Barcelona, publica uma pequena reportagem, intitulada “J. K. Rowling publica um novo relato de Harry Potter”, da qual transcrevo trechos. Pode-se dizer, ao modo de John Updike: “Corre, Coelho, a série continua?” “Vanguardia”, que não brinca em serviço, revela o seguinte: “A escritora inglesa J. K. Rowling publicou no portal Pottermore.com um novo relato, centrado na cantora Celestina Warbeck, que amplia o universo mágico de Harry Potter”.
Citando o diário britânico “The Independent”, o jornal espanhol assinala que “a autora da exitosa saga do mago juvenil enviou uma mensagem, por intermédio do portal, no qual indica que Warbeck é um de seus personagens ‘mais queridos’”. É com certa vergonha (não chego a corar) que tenho de admitir ao leitor: vi todos os filmes da série, que são até prazerosos e não me dão sono (exceto quando já estou com sono), mas não consigo me lembrar da “Peggy Lee” do filme?
Rowling escreve: “Apresentando a feiticeira-cantora: Celestina Warbuck” (Vicente, lá do coro Celestino, deve ter ficado feliz). A autora – que escreve bem prosa de adultos, segundo a rigorosa Kakutani – acrescenta, segundo “Vanguardia”, “que sempre imaginou essa personagem parecida com ‘a cantora galesa Shirley Bassey em aparência e estilo’”. O destino da bruxa é converter-se numa estrela. Sua mãe, assim como o pai de Zezé Di Camargo e Luciano, bombardeou Hogartz, o colégio para magos, “com cartas para promovê-la”.
O que Rowling está dizendo, a nós mortais, é que há personagens na saga Potter que sobrevivem sozinhos e que, de certo modo, podem render outros livros ou, até, novas sagas, séries. Bassey não é nenhuma Billie Holiday, mas tem seus aficionados pelo mundo afora. É conectando fantasmas – bruxos, vá lá – que se faz sucesso literário nos tempos contemporâneos. Uma bruxa cantora, ainda mais parecida com Bassey e com a voz possante, por certo fará sucesso.
O texto de “Vanguardia” não é preciso e eu e os leitores do jornal não ficamos sabendo se a diatribe do site vai se tornar livro. É provável que sim. Porque Potter é o rei Midas que deu certo. O que se deve dizer de Rowling é que se trata de uma escritora das mais espertas. Potter não pode ser esquecido. É o recado que algum financista deve ter lhe enviado. Nada fantasma, pois.