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A Seleção Brasileira jogou muito bem, desarmou a disciplina da Alemanha, mas ninguém precisa engolir ninguém

A operação Lava Jato está em andamento, mas é possível concluir, como faz livro do jornalista Vladimir Neto, que é bem-sucedida. Mais de 50 pessoas, como empreiteiros e políticos, foram condenadas

[caption id="attachment_73202" align="alignright" width="620"] Divulgação[/caption]
Duas imagens ganharam destaque em todo o mundo na semana passada. Na primeira, quase ao término de uma corrida, o velocista Usain Bolt sorri, como se fosse fácil fazer o que faz. Com sua simpatia, talvez mais natural do que estudada — embora o marketing eficiente construa poses “naturais” —, sorriu para, claro, os fotógrafos. Um deles captou o momento exato e a fotografia é cotada para ganhar o Pulitzer.
Usain Bolt celebra, com seu rosto sorridente, a vida. Trata-se de um homem dionisíaco. Seu esforço resulta do prazer e vice-versa. Seu rosto, durante as corridas, não fica contraído. Parece sempre sereno, se não for uma máscara para uma agrura interna — não parece ser. Numa das provas, comunicou-se, pelo sorriso, com um corredor canadense — muito bom, mas não tão bom quanto o jamaicano. Os dois, quase emparelhados, pareciam se divertir num parque desses apreciados por crianças e, desconfio, até mais pelos adultos.
A segunda imagem, ainda mais espetacular — o trágico pode, sim, ser espetacular, ainda que doloroso —, mostra o menino Omran Daqneesh, de 5 anos, sendo carregado por um adulto e, depois, sentado numa cadeira. Russos, tão bárbaros tecnológicos quanto os americanos, bombardearam a cidade de Aleppo, na Síria, com o objetivo de matar rebeldes que lutam contra o governo. A guerra na Síria já matou 4,5 mil crianças e matará muito mais. O edifício onde morava a família de Omran foi bombardeado e oito pessoas morreram.
Omran e sua família escaparam, não se sabe até quando. Encontrado por um socorrista, o menino é sentado numa cadeia, como se estivesse semiparalisado. Aos poucos, reage, passa a mão no rosto e percebe que está empoeirado e ferido, sangrando. Mas nada diz, não reclama nem chora. As pessoas contaram que em nenhuma momento a criança chorou ou lamentou-se. O fotógrafo Mahmoud Raslan, que lembra Robert Capa, disse: “Já tirei muitas fotos de crianças mortas ou feridas por bombardeios. Normalmente elas estão desmaiadas ou choram. Mas Omran estava lá sem voz, com o olhar perdido. É como se não compreendesse muito bem o que tinha acabado de acontecer”. O garoto, ressalte-se, tem apenas 5 anos. No lugar de brincar, estava lutando, como continuará lutando, pela sobrevivência. Escapar é, quem sabe, uma de suas “diversões”.
O Estado Islâmico criou uma espécie de Inferno na Terra no Oriente Médio, notadamente no Iraque e na Síria. Para combatê-lo, Estados Unidos e a Rússia, esta aliada da ditadura síria (a origem de minha família paterna é sírio-libanesa), matam terroristas e, muito mais, pessoas inocentes, como crianças. Não se trata de fazer discurso de esquerda, até por que estou longe de ser de esquerda, mas Estados Unidos e Rússia promovem um genocídio gigante no Oriente Médio, mas a divulgação a respeito ainda é escassa. A imagem de Omran — não indiferente, mas aceitando a guerra como um fato da região — choca e vale mais do que mil discursos. Mas os assassinatos, quase nunca cirúrgicos, vão continuar. Mas, como somos ocidentais, a nossa dor maior é quase somente, e não é acidental, pelos ocidentais.
A doçura silenciosa de Omran convida-nos a pensarmos sobre aquilo que, em nome do combate ao terrorismo — que merece mesmo um combate sem quartel, mas não de maneira indiscriminada, como está ocorrendo —, os povos apresentados como civilizados estão fazendo no Iraque, na Síria e em alguns países africanos. Não se pode falar em futuro, é desde já, no presente, que se deve nominar o que está ocorrendo de genocídio, de assassinato estatizado, de uma Internacional da morte legitimada pelo necessário combate ao terrorismo.
As fotos de Usain Bolt, com sua beleza negra suave e forte, e de Omran celebram a vida. A do menino parece celebrar a morte, se vista de maneira primária, mas de fato celebra a vida, a resistência e a resiliência de uma criança. Vivo, sujo, ensanguentado e impassível, nos diz mais do que se tivesse sido morto. Mas vamos esquecê-lo — sob a prevalência do trágico mais como espetáculo, até pirotécnico, do que como dor real —, e isto dói, até a próxima atrocidade... humana.

[caption id="attachment_72953" align="alignright" width="620"] Foto: Reprodução/Facebook[/caption]
Saul Bellow (“Herzog”) e Philip Roth (“A Marca Humana”, um registro, ficcionalizado, dos tempos sombrios de Bill Clinton e Monica Lewinsky, duas pessoas vilipendiadas pela mídia americana) exploraram em alguns de seus livros a tradição puritana dos norte-americanos. Tecnologicamente, os Estados Unidos são o país mais moderno do mundo, mas, em termos comportamentais, são de um conservadorismo que pouco tem a ver com as profundas mudanças do século 20. Óbvio que, por debaixo dos panos, a sociedade conservantista esconde outra sociedade, licenciosa. Repressão sexual gera liberação sexual escondida — às vezes perversa.
O nadador Ryan Lochte talvez seja até um garoto decente. Mas, para esconder a baderna que fez num posto de gasolina e as possíveis aventuras sexuais (olimpíadas, maratonas, coisas de jovens, e não só) com moçoilas guapas — o jovem é bonito, famoso, atlético e, por certo, com os hormônios à flor da pele (ainda não precisa de Viagra, ao contrário de Anderson Silva e Jon Jones) —, inventou a história, mais indecente do que qualquer escapada sexual fora do leito oficial, de que havia sido assaltado com outros colegas. Sua namorada não poderia ficar sabendo que o galã das águas andava saracoteando pelas belas ruas, boates e, até, postos de gasolina do Rio de Janeiro.
Ryan Lochte certamente é um dos puritanos à George W. Bush — gostaria de saber o que pensa disto. Mas, à escondida, faz aquilo que se deseja, mas não se comenta. Por isso, a necessidade de inventar uma história — lógica (assaltos ocorrem todos os dias na Cidade Maravilhosa) e, ao mesmo tempo, estapafúrdia (as câmeras destruíram a privacidade, em nome exatamente da segurança) — para encobrir outra história. Fica comprovado, mais uma vez, que não se vive como se prega, o que se prega quase nunca se faz e o que se faz não se divulga.
A moral “cerca” o comportamento humano, mas não impede inteiramente as escapadas. Ryan Lochte é tão vítima — da tradição puritana (Nietzsche criticaria os valores que, embora não sejam nossos, passamos a defendê-los como se fossem e, por isso, acabam sendo nossos e, como tais, passamos adiante como verdade revelada) quanto sujeito de suas ações (o indivíduo tem condições de fazer uma coisa ou outra, mas o prazer, aquilo que se quer mas às vezes não se tem coragem de expor em palavras, para não chocar, é, muitas vezes, incontrolável e inigualável).
A moral puritana é necessariamente castigadora, produtora de culpas pesadas para questões ínfimas, como traições sexuais.

[caption id="attachment_73052" align="alignleft" width="209"] Divulgação[/caption]
Edmund de Waal, professor da Universidade de Westminster, é autor de um livro excepcional, “A Lebre Com Olhos de Âmbar”. Não é ficção, mas o pesquisador escreve com se fosse escritor, usando sua imaginação poderosa para tornar a realidade atraente e mais rica. A obra sobre pequenas esculturas japonesas, de madeira e marfim, tornou-se praticamente objeto de culto. O trabalho para preservar os netsukes é quase um pretexto para o autor contar a história de sua família e, no percurso, falar
de escritores, como Proust, e artistas plásticos. Um de seus parentes, figura extraordinária — mecenas de grandes pintores —, tornou-se personagem do romance-romances “Em Busca do Tempo Perdido”. Os leitores apaixonados pelo livro decerto ficaram pensando: quando sairá o próximo? O novo livro saiu em inglês, em 2015, e a edição de Portugal acaba de ser posta nas livrarias, com o título “A Rota da Porcelana” (Sextante, 392 páginas, tradução de Maria Lúcia Lima).
Ainda não li, mas, fiado no histórico de Edmund de Waal, vai para o topo da minha lista para este ano. A editora afirma que se trata da “história de uma obsessão” (subtítulo da obra em inglês): “Acompanhado pelo jesuíta D’Entrecolles, enviado à China do século 18, pelo cientista Tschirnhaus, amigo de Leibniz e Espinosa, pelo dissoluto Böttger, reinventor da porcelona no Ocidente, pelo Quaker William Cookworthy, Edmund de Waal leva-nos agora numa peregrinação pela história do ‘ouro branco’, a porcelona, a sua grande paixão. E nessa viagem conta-nos a história dos homens do último milênio. Fabuloso!”

Reportagem exclusiva da Veja menciona novas informações sobre a Operação Lava Jato. Um empreiteiro teria coragem de denunciar um ministro do Supremo Tribunal Federal sem documentação segura?

O narrador esportivo, conhecido como rei das gafes, exigiu que Fernando Fernandes se levantasse para ouvir o hino da Jamaica

Revistas de Cultura, como a “Bravo!” e “EntreLivros”, nascem e morrem logo. Porque publicação cultural é quase mecenato. Mas vale torcer pela sobrevivência da nova “Bravo!”

O ex-editor da revista assume o cargo de diretor de conteúdo multiplataforma e a ex-editora da coluna Radar se torna comentarista política do “Jornal da Manhã”
[caption id="attachment_72935" align="alignnone" width="620"] Vera Magalhães, ex-Folha de S. Paulo e ex-Veja, e Carlos Graieb, ex-redator-chefe da Veja: agora na Rádio Jovem Pan[/caption]
Carlos Graieb era dono de um dos melhores textos da revista “Veja” e, logo depois de promovido a redator-chefe, foi demitido por André Petry. Não se sabe exatamente por quê. Remontagem do time? Não, possivelmente; porque havia sido promovido pelo novo diretor de redação. Vera Magalhães estava bem na “Folha de S. Paulo”, como editora do “Painel” — sua coluna mais lida, ao lado da coluna assinada por Mônica Bergamo —, e foi contratada pela revista quase a peso de ouro para substituir Lauro Jardim, que havia ido para “O Globo”, na edição da coluna “Radar”. Porém, acabou demitida por André Petry. Agora, a dupla foi contratada pela Rádio Jovem Pan.
Carlos Graieb, que havia sido editor da “Veja Online”, é o novo diretor de conteúdo multiplataforma (significa que a rádio quer se fortalecer na internet, o que é inescapável) e Vera Magalhães assume como comentarista política do “Jornal da Manhã”. Trata-se, como Carlos Graieb, de uma profissional qualificada, com ótimas fontes no meio político.

O Brasil ganhou todas as copas do mundo de futebol no reinado de João Havelange, ex-presidente da Fifa, e de seu genro, Ricardo Teixeira. Os dois são acusados de corrupção e ficaram ricos com o futebol
O ex-presidente da Fifa João Havelange, que morreu na terça-feira, 16, aos 100 anos (parecia imortal), no Rio de Janeiro, era deus e diabo para o Futebol. O ex-dirigente esportivo tinha problemas pulmonares. Ele fortaleceu o futebol mundial, e muito o brasileiro, mas é acusado de, no processo, ter se locupletado, no início sozinho, depois auxiliado pelo ex-genro Ricardo Teixeira. A dupla, com mais alguns aliados, é acusada de ter havelangenizado — uma espécie de privatização – a Fifa.
Pode-se dizer que o futebol deve muito a João Havelange, assim como João Havelante deve muito ao futebol. Ele projetou o futebol e o futebol o projetou internacionalmente. Era uma espécie de rei do futebol. Ficou 24 anos no comando da Fifa, mas, mesmo tendo deixado sua direção, continuou influente na federação (supostamente, ainda recebia propinas, percentagens). Ao longo do tempo, tornou-se um homem muito rico.
João Havelange dirigiu a Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF, de 1958 a 1974, durante o período em que a Seleção Brasileira foi tricampeã mundial (na Suécia, em 1958, no Chile, em 1962, e no México, em 1970). Em 1974, assumiu a presidência da Fica, que só deixou em 1998. Depois, com o genro Ricardo Teixeira no comando da CBF, a Seleção Brasileira ganhou mais dois títulos mundiais.
A rede BBC denunciou que um tribunal da Suíça concluiu que João Havelange recebeu 6 milhões de libras esterlinas num esquema com a ISL, empresa que vendia os direitos de transmissão dos jogos da Fifa. Há outras denúncias, envolvendo tanto o ex-presidente da federação quanto Ricardo Teixeira, que dirigiu, durante anos, a Confederação Brasileira de futebol (CBF).

O brasileiro saltou 6,03 e bateu o recorde olímpico
Os narradores e comentaristas esportivos costumam chamar Neymar, Messi, Marta (uma Neymar com o ego sob relativo controle) e Usain Bolt de gênios. Talvez sejam mesmo. Porque, se aceitarmos a tese deles, há uma genialidade física, e não apenas intelectual. No lugar da palavra “gênio”, quiçá forte demais, é provável que seja mais apropriada “craque” (aliança entre talento, técnica e força física). Porém, entrando na onda, o que dizer de Thiago Braz, que ganhou a medalha de ouro no salto com vara no Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro? Mais um gênio esportivo, decerto.
Na segunda-feira, 15, Thiago Braz ganhou a medalha e derrotou o francês Renaud Lavillenie. Ao saltar 6,03, como se fosse um homem voador, bateu o recorde olímpico. O atleta da terra de Flaubert e Proust chegou a dizer que o brasileiro amarelava—e isto não tem a ver com uma das cores de devoção dos brasileiros—, mas quem acabou amarelando, quer dizer, perdendo, foi o francês.

Ela tinha 71 anos e estava internada há quase um mês, num hospital do Rio de Janeiro

[caption id="attachment_72612" align="alignleft" width="221"] Reprodução[/caption]
Consta que o presidente dos Estados Unidos é um leitor infatigável (não perde livros de Jonathan Franzen). Na sexta-feira, 12, a Casa Branca liberou para a imprensa a lista de leituras de Barack Obama para as férias de verão. São cinco livros: “Barbarian Days: A Surfing Life”, de William Finnegan, "The Underground Railroad", de Colson Whitehead, "F de Falcão", de Helen Macdonald, "A Garota no Trem", de Paula Hawkins, e "Seveneves", de Neal Stephenson.
“Barbarian Days”, autobiografia de um surfista, rendeu um Pulitzer, em 2016, a William Finnegan. O “New York Times” avaliza a obra: “Não há uma linha sequer que o temido crítico pudesse destacar como ridícula”. Barack Obama, principal cabo eleitoral de Hillary Clinton, na disputa contra o Pato Donald Trump, da direita não iluminista, passa férias na ilha de Martha’s Vineyard.
“The Underground Railroad” é a história de uma escrava, Cora, que trabalha numa plantação de algodão na Geórgia e luta pela liberdade (vale ler, quem sabe, com o notável romance “Amada”, de Toni Morrison, ao lado). O influente (produz best sellers) clube de leitura de Oprah Winfrey selecionou o livro de Colson Whitehead.
“F de Falcão”, de Helen Macdonald, saiu no Brasil, este ano, e é um belo livro sobre o luto (tem a ver com a morte do pai da escritora britânica), talvez de sua escapada e, claro, sobre falcões, como Mabel, uma açor. Sua prosa é de alto nível. A ficção científica “Seveneves” relata a história da luta para preservar os humanos num mundo cada vez mais apocalíptico
A Casa Branca divulgou na quinta-feira, 11, a playlist do líder Barack Obama. A AP informa que há “uma canção conhecida na voz de Caetano Veloso”.

Um dos mais importantes escritores ingleses fala de terrorismo, afirma que o Brexit pode perder força, sugere que o Reino Unido não deve sair da União Europeia e garante que não é leitor das críticas sobre seus livros
[caption id="attachment_72604" align="alignleft" width="231"] Reprodução[/caption]
O Instituto Verificador de Comunicação (IVC) revela que a circulação da “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Super Notícia”, “Estadão” e “Zero Hora”, principais jornais do país, caiu no primeiro semestre de 2016 (comparando com o 1º semestre de 2015). A queda média variou de 8 a 15%.
O Portal dos Jornalistas registra que, “na ‘Folha’, a média diária caiu de 352.925 exemplares para 304.594; em ‘O Globo’, de 317.954 para 291.909; no ‘Super Notícia’, de 310.422 para 267.234; no ‘Estadão’, de 247.605 para 210.314; e no ‘Zero Hora’, de 234.911 para 214.950