Ganhar a medalha de ouro é bom mas ganhar da Alemanha é muito melhor
20 agosto 2016 às 20h56
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A Seleção Brasileira jogou muito bem, desarmou a disciplina da Alemanha, mas ninguém precisa engolir ninguém
Ganhar a medalha de ouro olímpica é ótimo. Ganhar do time da Alemanha — que humilhou a Seleção Brasileira, em 2014, ao ganhar de 7 a 1 —, é melhor ainda. Mais: o escrete canarinho (lembremo-nos de 1970) jogou muito bem, contra uma Alemanha forte mas relativamente apática. Não soube transformar a superioridade, absoluta, em gols, talvez pela falta de inspiração dos atacantes (jogavam bem e, paradoxalmente, chutavam mal) — daí o empate de 1 a 1. Mas este placar não reflete o que se viu em campo, uma Seleção Brasileira mais ativa, sem medo do fantasma da Copa do Mundo. Uma pena que, ao final, Neymar tenha se cansado (e mancava em campo).
Ao pegar um pênalti, o goleiro Weverton definiu o jogo. Se há heróis, como costumam dizer os cronistas esportivos, eis um herói, Weverton. Num país em que se exige muito do indivíduo, como se fosse o mágico salvador e, quem sabe, vingador da pátria, louve-se o conjunto da Seleção Brasileira, um time basicamente equilibrado. Mediano, mas equilibrado.
A arte de engolir
Os comentaristas esportivos esperam que Neymar se torne um líder. Não há como. É um craque inspirador, mas não um líder inspirador (o que os jogadores admiram no jogador do Barcelona é seu modo de vida glamoroso — carrões, mulheres bonitas, festas). É jovem e, se é maduro como jogador, cada vez mais, inclusive decisivo, não o é como líder. O que se espera de quemjoga melhor é que se torne líder, o chefe, o agregador. Nem sempre é assim. O grande líder em campo nem sempre é o craque supremo. Líderes em geral são mais espartanos, e Neymar é dionisíaco. Mas, ao seu modo irritadiço, típico de seres mimados, é um líder, ainda que um líder menor.
Ao final da partida, Neymar disse que vão ter de engoli-lo, numa referência de que não teme o poderio dos homens da TV Globo, como Galvão Bueno. Ao menos evitou o hábito dos homens ditos cordiais e ousou posicionar-se. Mas claro que não é preciso engolir (concordar com) um indivíduo do qual se discorda só porque venceu um jogo de futebol. A convivência dos contrários, num mesmo espaço, é sinal da vitalidade de uma sociedade democrática.