Contraponto

A impunidade permeia os tribunais, pois os caros advogados são mestres em desvios, retardamentos, reduções de penas, arquivamentos e prescrições

A globalização Globalização é um conceito primordialmente econômico, antônimo de Isolacionismo, e significa interação entre nações. O internacionalismo nunca foi algo real, e sempre fez parte da utopia marxista

Nenhum país no mundo enfrenta fatores tão adversos na luta contra as drogas quanto o Brasil. O que, obrigatoriamente deve ser levado em conta em estudos relacionados com o tema

Por conta de algumas tarefas, tenho passado temporadas em Portugal, desde 2019. Curioso da diferença cultural entre os povos, faço minhas observações, e as compartilho com o leitor que tenha a mesma curiosidade

Objetivamente, o Brasil necessita, urgentemente mudar os rumos de sua educação, que não está direcionada como o foi nos países que apresentam as melhores condições de vida

Hugo Armando Carvajal, que foi protegido de Hugo Chávez, se for extraditado para os EUA, pode ampliar suas revelações

A CPI da Pandemia quer “pegar” o presidente e está pouco interessada nas vítimas da Covid. Justiça não em sido isenta ao avaliar o governo e suas ações

Conhecer como se desenvolveu o vírus, como ganhou letalidade e como passou a infectar seres humanos é fundamental pra medidas protetivas futuras

A cidade hoje é moderna, com boa qualidade de vida, abriga várias indústrias e uma boa universidade, sem perder o ar de cidadezinha interiorana

Censura só é entendida como censura, para essa “grande imprensa”, se o censurado for nitidamente de esquerda

O “gabinete do ódio”, que a esquerda aponta no campo conservador, está mesmo é no meio dela, esquerda

Gigantes no Brasil, não teriam o menor espaço porque nenhum banco central europeu aceitaria lá serem os correntistas tratados como o são no Brasil

Mônica trabalha numa pizzaria, atende bem e a renda da família não é alta. E há os larápios de sempre, que querem voltar ao centro do palco do poder nacional

A consciência alertou: a última coisa a fazer será uma desfeita para com essa gente simples, bem-intencionada, ansiosa por agradecer e agradar
Imediatamente, porém, a consciência alertou: a última coisa a fazer será uma desfeita para com essa gente simples, bem-intencionada, ansiosa por agradecer e agradar.
Aconteceu no ano de 1978, num município do então setentrião goiano, hoje Estado do Tocantins, lá na divisa com o Maranhão. Região de muitas carências, poucas sedes municipais dispunham de um serviço de tratamento d’água. Um programa da Saneago, a companhia de saneamento estadual, com o apoio do governo federal, aprovado pessoalmente pelo presidente Ernesto Geisel, possibilitou construir estações de tratamento em vários desses municípios desassistidos. Foi num deles que se deu a história seguinte:
— A região aqui é boa de caça, prefeito? — perguntava eu, então governador, ao prefeito municipal que me levava do aeroporto local para a sede da prefeitura, onde assinaríamos um contrato para a construção da estação de tratamento e da rede distribuidora de água na capital municipal.
— É boa. O sr. gosta de caça, governador? — afirmou o prefeito, já indagando de meu gosto.
— Sou apreciador — respondi, encerrando o assunto e passando para os temas que haviam me levado ao município. Não sabíamos, mas começava ali um mal-entendido que teria para mim algumas consequências.
Uma explicação para o leitor: na minha mocidade, fui caçador. Hoje me arrependo, me penitencio e sou incapaz de matar qualquer vivente, por insignificante que seja. Sequer tenho impulso para esmagar uma barata, o que deixa minha mulher, às vezes, furiosa comigo. Na minha época de juventude, não existia uma consciência ecológica, a caça era abundante e livre, e pertencia mesmo à cultura dos goianos e mato-grossenses, que expandiam a fronteira agrícola brasileira, a prática das caçadas. Hoje existe a consciência, as leis sobre a caça são severas, mas não é isso, a rigor, que me detém.
A reflexão do conhecimento longamente adquirido faz com que eu não admita destruir uma maravilha da natureza que é um animalzinho qualquer, como um pombo ou perdiz. Bilhões de células que se desenvolveram em harmonia, criando um organismo em perfeita consonância consigo mesmo e com o mundo em volta, é algo estético, maravilhoso, de se respeitar, admirar e preservar, não de ceifar. E, filosoficamente falando, somos todos irmãos, filhos da mesma mãe Natureza, do Poder Absoluto que convida a todos para participarmos do banquete da criação, vale dizer, compartilharmos todos da maravilha de existir, de viver.
Na época da conversa com o prefeito, eu ainda apreciava uma caçada, embora meu estômago recusasse terminantemente a carne de caça, fosse qual fosse. Nunca consegui apreciar nem mesmo uma perdiz, tida por muitos de meus amigos e companheiros como o mais apetitoso dos petiscos. Carne de paca, de queixada, de mateiro ou caititu, tudo isso era — e é — para mim intragável. E explico o mal-entendido de que falei lá atrás: o prefeito, ao me indagar se eu gostava de caça, falava em caça iguaria, carne de caça. E eu entendia que ele falava do esporte da caça, da caçada em si.
Meses após aquela visita, quase um ano passado, voltei à sede do município, agora com o sistema de abastecimento de água pronto para uma inauguração festiva. Inauguração que teve lugar na praça principal da cidade, lotada de gente entusiasmada com a chegada do benefício. Terminada a inauguração, já anoitecendo, findos os discursos e aberta a indispensável torneira, pelo prefeito, lançando água na garotada ao pé do palanque, demos por encerrada a solenidade. Mas a festança só iria se encerrar com um jantar no clube da cidade. Fomos à casa do prefeito, onde eu me hospedava, para um banho e lá íamos para o clube, quando o prefeito me cochicha:
— Temos uma surpresa para o sr., governador. Já o sr. vai ver.
Fiquei curioso, mas não disse nada. Chegávamos ao clube.
Ao entrarmos, vejo uma enorme mesa posta com várias bandejas, no centro do salão. Em posição ao lado dela três senhoras perfiladas, quase em posição de sentido. E diz o prefeito:
— Essa é a surpresa, governador. O jantar é do seu gosto, foi todo feito por essas três cozinheiras. E é tudo caça!
Meu olhar correu então em detalhes a mesa: minha primeira visão foi a de um tatu assado no próprio casco. Numa bandeja vizinha uma paca, também assada. E o prefeito explicava, enquanto um frio me corria pela coluna:
— Aqui, umas almôndegas de carne de veado, ali uma farofa de seriema...tudo como o sr. gosta!
As cozinheiras, agora sorridentes, posavam ao lado de sua obra, evidentemente orgulhosas e satisfeitas por terem tanto contribuído para a homenagem e para a noite memorável.
Traumatizado, já com o estômago apresentando seus protestos precoces, pensei comigo: E agora? Imediatamente, porém, a consciência alertou: a última coisa a fazer será uma desfeita para com essa gente simples, bem-intencionada, ansiosa por agradecer e agradar. Seja o que Deus quiser, mas nenhum gesto que mostre o mínimo desagrado.
Cumprimentei entusiasmadamente as três cozinheiras, sentei-me com o prefeito à mesa principal, e, sorridente, participei do mais sofrido jantar de toda minha existência. Procurava comer devagar, pois o prefeito se preocupava em não deixar vazio meu prato. Como demorou a passar o tempo, como tive que reunir toda minha força de vontade para deglutir as iguarias oferecidas. Mas, à custa de uma tremenda dor de cabeça e de muito digestivo no dia seguinte, já em Goiânia, tudo estava bem.
Hoje, passado quase meio século, perdeu-se na neblina do tempo a lembrança daquela noite para os locais do município. Já desapareceram muitas das pessoas presentes, inclusive assessores que conheciam minha aversão àquele tipo de alimento, mas que, calados, apenas observavam e se condoíam, sabendo do necessário e bem-intencionado domínio que eu auto exercia. E hoje posso comentar o acontecido, sem melindrar ninguém. O tempo muda a perspectiva dos fatos: o que ontem era constrangimento, hoje são boas risadas.

O uso da droga é responsável pela dificuldade do aprendizado, pelo abandono dos estudos, pela redução da capacidade laboral e pelo desemprego voluntário