Por Redação
Nome forte no município, deputado Humberto Teófilo (PSL) também pode aparecer como alternativa para eleitores
Para titular da Economia, governo precisa aderir ao Regime de Recuperação Fiscal para ter condições de se reorganizar. "Se o Estado não entrar no RRF, no meio do ano começaremos a ter problema"
Considerações sobre o documentário “Indústria Americana”, que concorre ao Oscar 2020
Everaldo Leite
Em agosto de 2019 a Netflix disponibilizou para seus assinantes o documentário “Indústria Americana” (American Factory), dirigido por Steven Bognar e Julia Reichert, que mostra a difícil síntese produzida a partir do encontro entre culturas de trabalho diferentes. No filme, uma empresa chinesa adquire o que restou de uma montadora da GM em Ohio, no centro-oeste americano, e lá começa um processo de fabricação de vidros, com objetivo de atender a produção mundial de automóveis. Trabalhadores americanos são contratados e submetidos ao modelo chinês de manufatura, que abrange um mínimo de doze horas de trabalho diários e que não se detém para o descanso semanal. Trabalhadores chineses são contratados e trazidos da Ásia para impor o ritmo e suprir as “deficiências” americanas. Sem aceitar que hajam ingerências do sindicato, começa aí uma batalha entre a obstinação asiática e a “predeterminação” do sonho americano. Desde o início, a velha questão: O que um americano médio quer? Sua cultura de vencedores, como mostra o documentário, fala em bons empregos, excelentes investimentos, casas, família típica, carros, crianças na escola e jovens na faculdade. Há lugar para os perdedores, é claro, mas na imagem das más consequências individuais nascidas das péssimas decisões. Existe, para tanto, desde o seu nascimento, um ideal de liberdade pelo qual todos podem correr atrás de seus sonhos, lançando mão da racionalidade e, não raramente, da certeza de que “Deus” os ajudará. No folclore geral a visão correta é a de que os EUA conseguiram a liderança econômica mundial e construíram a sua colossal força militar em função desse sonho, e, por isso, nunca serão pisoteados por quaisquer circunstâncias externas ou sabotados por uns poucos interesses egoístas internos. O filme “Indústria Americana”, insistentemente, mostra que o contrário pode ser a verdadeira realidade de grande parte do país. A meritocracia é um valor da democracia dos EUA, pois é o que dá significado às vitórias e às derrotas individuais. Cada um americano tem o que merece, segundo a ética do mérito. Não parece, portanto, na mentalidade americana, que as circunstâncias adversas podem ser a verdadeira causa do fracasso de muitos. O valor do mérito próprio, muito mais relevante, acaba por se impor como uma baliza entre o que o indivíduo consegue realizar e o que ele efetivamente sonhou para si. Por isso, a frustração consigo mesmo é clara e fica estampada na cara de cada um trabalhador – que aparece no filme – após a crise de 2008 ter colapsado o setor industrial de toda aquela região. Aliás, essa frustração quanto à fragmentação de seus sonhos, de terem nada em mãos apesar de atribuir mérito ao que realizavam até então, foi a única coisa que restou de uma complexa equação política e econômica cujo trabalhador nunca tem acesso e compreensão. Obviamente, o documentário não consegue aprofundar o espantoso contexto político-econômico no qual subjaz os interessantes fatos que apresenta. Seriam muitas horas a mais de filme. Sua meta é contar uma história e dar voz àqueles que comumente servem apenas às estatísticas. Não deixa de ser um ponto de vista americano, mas a oportunidade de fala também se estende aos trabalhadores e gestores chineses, que a utilizam conforme acham pertinente. O produto final, o filme, é bastante franco nesse sentido, não destaca um vilão ou uma vítima, aparentemente todos ali se movem por intenções apropriadas ao que requer sua própria cultura de trabalho. Se os diretores de “Indústria Americana” deixaram de fora da narrativa algo essencial – talvez propositalmente – foi a possibilidade de um sonho chinês ser tão respeitável quanto o sonho americano. O que os americanos perderam de vista é que outros países também têm indivíduos com desejos. O sonho chinês, diferentemente do sonho americano, é um ideal que, apesar de atender ao indivíduo, precisa primeiramente satisfazer aos interesses coletivos de sua nação. A empresa chinesa precisa ser extremamente produtiva, muito lucrativa, impressionar o ocidente e atender todo o planeta, em honra da China. No documentário esse espírito coletivista fica bastante evidente na postura militarizada dos seus trabalhadores e na forma arrogante como estes se colocam frente aos “preguiçosos” e “piores” trabalhadores americanos. Essa característica parece ofensiva e traz uma ideia de superioridade étnica nada insignificante. Ao cair o véu da polidez chinesa – seus forçados gestos de simpatia e de tolerância – o que se exibe no documentário é a face mais radical e rigorosa da ética da meritocracia. O mérito, para o chinês, é praticamente um estatuto religioso e sua total dedicação ao trabalho é a realização do sonho em si, tendo a casa, o carro e a família – tão caros aos americanos – como consequências secundárias. Não, os chineses não são desalmados, são na verdade uma nação cuja economia de mercado e o ativismo do Estado lhes restituiu o orgulho imperialista. Não prometem guerra contra nenhum povo, mas querem enriquecer rapidamente ocupando o espaço dos “perdedores” com sua tecnologia inovadora e, como mostra o documentário, com sua carga horária quase suicida de trabalho. Na China, especialmente nas grandes cidades empresariais, se vê muito claramente que a riqueza e a mudança dos hábitos estão criando uma nova civilização asiática. Há chineses ricos, de classe média e chineses pobres, mas o que se deve ressaltar é que a mobilidade social por lá é impressionantemente forte vis à vis à sua crescente produtividade. No documentário, uma equipe americana é levada à China para conhecer esse novo mundo e suas expressões não deixam dúvida sobre o impacto dessa realidade. Meritocracia, mérito, os estadunidenses quase dizem: “eles merecem ser ricos, nós, sindicalizados preguiçosos, não!”. Os EUA ainda são os grandes representantes econômicos do ocidente, não há dúvida. Sua expansão tecnológica e seu potencial financeiro são admiráveis, sendo pioneiros e hegemônicos em vários segmentos produtivos. O seu setor de serviços é sofisticado e o grau de complexidade de sua produção surpreende o mundo competitivo. Sua supremacia política, com o fim da União Soviética, foi a mola propulsora da globalização, que fez crescer colossalmente o comércio internacional e gerou oportunidades em todos os países que aderiram rapidamente ao novo modelo de negócios, especialmente os países asiáticos. A Coreia do Sul, Cingapura e a própria China lançaram mão de todas as boas ideias do mundo corporativo e, não raras vezes influenciados pelos objetivos de seus governos, sofisticaram a sua indústria e desenvolveram segmentos complexos para atender as demandas mundiais. O que o documentário “Indústria Americana” revela é apenas mais um capítulo de um momento histórico que se iniciou lá atrás, bem antes da eclosão da crise de 2008. Ou seja, a narrativa somente aponta para mais um processo pragmático de “destruição criativa” – conceito criado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter (que não é da chamada Escola Austríaca de Economia) –, que se segue de modo incontornável na esteira deste novo momento do liberalismo. A China transnacional, hoje com melhor eficácia produtiva, melhor tecnologia industrial e enorme ambição por parcelas maiores de mercado, quer destruir o modelo americano e transformar seus trabalhadores, criando novos paradigmas a serem seguidos. O documentário mostra justamente isso, a destruição criativa do trabalho, com a inédita substituição do sonho americano por satisfações materiais e afetivas pelo sonho do trabalho incansável. O documentário “Indústria Americana” concorre ao Oscar 2020 de melhor documentário, vamos ver que efeito terá essa difícil história nos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na hora do voto. Everaldo Leite é economista.
Obra do jornalista e escritor Henrique Morgatini conta as peripécias de Mark Days no mundo do rock da Califórnia, na década de 1990
Mariza Santana
O mundo dos astros do rock é basicamente composto por música, sexo e drogas. Além é claro, atualmente, de milhões e milhões de dólares. Até aí, nenhuma novidade, é somente um lugar comum. Todos sabem como funciona a engrenagem desta indústria cultural que influencia a vida de milhares de jovens em todo o planeta, ditando moda e consumo, enfim toda uma forma de viver. Alguns ídolos do rock foram embora cedo, como Jimmy Hendrix e Janis Joplin, e mais recentemente, Kurt Cobain. Outros astros sobrevivem nos palcos até hoje, para o delírio dos fãs, com Axl Rose. Entre eles, alguns já são chamados de dinossauros do rock, como Ozzy Osborne (e sua lendária mordida em um morcego em pleno palco, durante um show) e o setentão Mick Jagger, só para citar uma pequena parcela dessas celebridades. O leitor vai perceber que, embora roqueira de coração, meus conhecimentos sobre o mundo do rock se resumem a algumas bandas e artistas mais antigos (Pink Floy é um dos meus favoritos). Estes astros, entretanto, ainda arrastam multidões em festivais como o Lollapalooza e o Rock in Rio. Por isso, senti um pouco de dificuldade para identificar todos os personagens deste meio musical em Terras do Tio Sam, na década de 1990, ao me embrenhar no livro “Coma Branco”, do jornalista e escritor Henrique Morgatini. Este detalhe pode limitar o número de leitores da obra, que acaba apresentando uma narrativa destinada a um público específico: os roqueiros de carteirinha, mais conhecedores do gênero, incluindo os músicos, pois muitos são os detalhes citados sobre equipamentos. Mas isso não impede de se apreciar as aventuras e desventuras de um guitarrista anapolino no mundo do rock na Califórnia. O protagonista de “Coma Branco” passa por uma transformação. Antes era Marcos Dias, um jovem apaixonado por rock and roll e morador do Centro-Oeste brasileiro. Depois se torna Mark Days, inicialmente mais um músico em busca de um lugar ao sol no meio musical das cidades de San Francisco e Los Angeles. Nosso herói, depois de muitas peripécias, sexo e drogas (afinal esta é uma história sobre o rock, baby!) acaba tocando guitarra na banda do músico norte-americano Marilyn Manson, conhecido por sua personalidade escandalosa. O artista em questão é líder e vocalista de uma banda epônima (defensora do não-conformismo, que usa conteúdos líricos polêmicos e imagens controversas.). A transformação de Marcos Dias em Mark Days, e sua mudança de Anápolis para a Califórnia, ocorrem devido a uma decepção amorosa. Sim, elas sempre são as causadoras de mudanças drásticas na vida de muitos jovens de coração despedaçado. A responsável pela desilusão em questão se chama Sandra. Nos States, para esquecer Sandra, Mark Days vai se impondo sobre Marcos Dias, pois o personagem passa a adotar um novo modo de vida. Sua história vai virando uma roda-viva, até que ele se depara um novo amor, Sabrina. A atuação dela será decisiva para que Mark finalmente consiga conquistar seu lugar nesse disputadíssimo círculo de músicos roqueiros. Henrique Morgatini adota uma linguagem dinâmica para que o leitor possa sentir o clima efervescente daquela última década do século passado, demonstrando como é vibrante e louco o mundo dos artistas que enveredam pelo rock. No caminho, Mark conhece o líder do Nivarna, (sim Kurt Cobain em carne e osso!), simplesmente um de seus maiores ídolos. Nosso herói vive aqueles alucinados anos 1990 em toda a sua plenitude, até começar a se questionar o que estava fazendo ali. Nesse momento, ele repensa sua trajetória. O desfecho da história talvez seja o melhor momento de toda a narrativa. Mark Days versus Marcos Dias, de fato um bom duelo. Nesse ponto, é melhor não adiantar mais nada, para não dar spoiler, como costumamos falar hoje, em tempos de Netiflix e outras produtoras de conteúdo oferecido pelo serviço de streaming. “Coma Branco” é um livro sobre as aventuras de um guitarrista acidental nos Estados Unidos, escrito para outros jovens. O grande desafio é fazer com que esse público se interesse pela leitura, nesses tempos de redes sociais e textos telegráficos. Quem aceitar o desafio e, principalmente se tiver um coração repleto de rock in roll (vale lembrar que Goiânia é também a cidade do rock alternativo), certamente vai gostar de acompanhar a trajetória desse goiano que, de forma acidental, conviveu com celebridades roqueiras em um passado recente. Pode ser ficção, mas quem não gostaria de ter vivido em sua juventude o que Mark Days viveu?
Números consolidados do Caged mostram que 2019 superou todos os anos a partir de 2014 no saldo da abertura de vagas com carteira assinada, o que também acompanhou alta dos intermitentes
Cidade goiana foi escolhida para a solenidade de Abertura Nacional da Colheita do grão
Fisco questiona escolha de regime de pessoa jurídica no lugar de CLT; emissora diz respeitar a lei
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Sede da Receita Federal | Foto: Reprodução/Blog Gran Cursos Online[/caption]
A Receita Federal investiga desde o ano passado contratos de artistas da TV Globo, contratados no regime de PJ (pessoa jurídica). São mais de 30 celebridades que já foram procuradas pelo Fisco até o momento.
A informação foi publicada pela Revista Veja. A Receita exigiu da Globo os acordos com celebridades da emissora. O Fisco questionou os artistas a escolha pelo contrato em formato PJ no lugar do vínculo assinado na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
De acordo com a Folha de São Paulo, artistas como Deborah Secco e Reynaldo Gianecchini foram procuradas pela Receita.
O fisco pediu os contratos sociais e deu 20 dias para os investigados apresentarem defesa. A Receita suspeita de fraude.
Durante a campanha à presidência em 2018, Jair Bolsonaro, então candidato chegou algumas vezes a sugerir que havia algo suspeito neste tipo de contratação.
“Ideia é levar muito das ações em saúde desenvolvidas em Goiás”, disse Geraldo Resende, após conhecer hospitais, Conecta SUS e se inteirar da gestão do colega Ismael Alexandrino
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Ismael Alexandrino recebe secretário de Estado da Saúde de Mato Grosso do Sul (MS), Geraldo Resende | Foto: Ascom[/caption]
"Ficamos muito impressionados com o que foi apresentado e com o salto de qualidade que a saúde pública de Goiás atingiu neste último ano". O comentário é do secretário de Estado da Saúde de Mato Grosso do Sul (MS), Geraldo Resende, ao visitar o colega Ismael Alexandrino, nesta quarta feira, 22, para conhecer as políticas de gestão da atual administração do Governo de Goiás. “A ideia é levar muito das ações em saúde desenvolvidas em Goiás para o nosso Estado", acrescentou.
Acompanhado por técnicos da área, o chefe da saúde do MS ouviu de Alexandrino que a Saúde é uma das as prioridades do governador Ronaldo Caiado. O secretário de Goiás explicou que na administração dos hospitais, os contratos de gestão foram renovados com novas metas de produção e readequação dos valores repassados às organizações sociais (OSs).
Com os ajustes, foi possível aumentar a produção hospitalar, como o número de internações. Foi ainda aplicado um sistema de gestão que mensura os resultados de todos os hospitais do Estado, comparando metas e indicadores. "Considero a gestão por OS mais uma das ferramentas para qualificar a administração hospitalar e melhorar o atendimento", disse Alexandrino aos visitantes.
Sobre a regulação, foi explicado que houve avanços nas parcerias com os municípios que têm gestão plena e, por isso, são os responsáveis por regular pacientes. Alexandrino explicou ainda que, antes de assumir a pasta, o Estado tinha acesso ao paciente em dois dias. Hoje são cerca de 9 minutos.
Revolução
"Tínhamos a informação que Goiás está passando por uma revolução na gestão da saúde pública. Há algum tempo, tinha a expectativa de conhecer in loco essas realizações. Confesso que tive uma ótima impressão, e os resultados demonstram isso", comentou o secretário Geraldo Resende. Alexandrino citou a Policlínica de Posse como um dos exemplos da regionalização da saúde no Governo de Goiás. A unidade será inaugurada no fim de fevereiro e atenderá a região do Nordeste Goiano. No total, contará com 19 especialidades. A expectativa do secretário é que das 18 Regionais de Saúde, 17 tenham uma unidade com esse perfil. A exceção é a Regional Central, que contempla a Região Metropolitana de Goiânia, e concentra a ofertas dos serviços de saúde no Estado. A comitiva ainda conheceu o Centro de Informações e Decisões Estratégicas em Saúde - Conecta SUS Zilda Arns Neumann, na sede da SES-GO, e as ferramentas de gestão criadas nessa central de informação. São mais de 200 indicadores monitorados, como mortalidade infantil e materna, nível de infestação da dengue e cobertura de vacinação.Visita a hospitais
A comitiva do Mato Grosso do Sul, conduzida pelo secretário Ismael Alexandrino, também conheceu quatro hospitais da rede pública estadual: HGG, Hugo, CRER e Hugol. A saúde estadual de MS deseja incorporar o modelo de gestão por OSs em seus hospitais e, por isso, visitou algumas unidades goianas, que são referência nacional nesse modelo de administração hospitalar. Os técnicos também conheceram o Hugol e Hugo, que são hospitais de urgências. Neles, conversaram com pacientes, não viram filas de pessoas nos corredores, presenciaram ambiente limpo e alimentação saudável – a comitiva acabou almoçando no Hugo.
Novidade, apresentada por servidores da área de Tecnologia da Informação (TI) da Agrodefesa ao governador Ronaldo Caiado, está em fase de finalização. Dispositivo será lançado em breve
Secretário da Saúde, Ismael Alexandrino conta como tem lidado com as dívidas e projeta várias entregas para 2020 no processo de regionalização do atendimento no Estado
"No Tocantins, o conjunto de ações realizadas pelo Governo do Estado tem feito com que paulatinamente os pacientes substituam a desconfiança por admiração"
Prefeito, que se fortaleceu ao centralizar esforços eleitorais na capital, soube conduzir administração para recuperar finanças e chegar ao último ano de mandato com diversas obras em andamento. Mas o que tem a oferecer de diferente?
de Soninha dos Santos
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Reprodução/USP[/caption]
É comum as pessoas grandes ficarem maravilhadas com o que dizem as crianças. Nos encantamos com as falas "poéticas" que pronunciam e com as maneiras como ajeitam as concordâncias e as conjugações verbais. Como dão vida a certos substantivos ou adjetivos e fazem dos advérbios contextos eficazes na sua relação com o mundo adulto.
Interessante ressaltar que, conforme Drummond já dizia, a criança nasce poeta e carrega,naturalmente, a poesia dentro de si.
Um livro em especial nos chama a atenção para esse fato constatado: "Poeminhas pescados numa fala de João", de Manoel de Barros (2001), Efiyora Record. Nesse livro o "eu poético", a voz que ecoa nos versos graficamente arranjados em meio às ilustrações abstratas e lúdicas de Ana Raquel, é a voz de João. Essa voz, brincando o tempo todo, sai do coração, das brincadeiras e suposições de um ser, na infância, já poeta das miudezas e das coisas sem sentido para a racionalidade, mas carregadas de razão para as crianças.
Manoel de Barros toca no coração do leitor adulto que não percebe as incoerências das crianças senão como um aceno da pureza interior, mas toca também o leitor criança que melhor do que ninguém, compreende a quietude da "A água dava rasinha de meu pé" ou de "A Noite caiu da árvore ". Um leitor mais aguçado vai se embrenhar por esta noite e encontrará, com certeza, "um rio indo embora de andorinhas..." Capacidade de compreender metáfora tão cheia de simbolismos todos nós temos, mas perseguir um rio de andorinhas creio que poucos terão. Há que libertar a criança presa em cada um de nós e deixá-la solta, às voltas com a imaginação criadora que grande parte dos adultos perdem ou preferem esquecer que existe.
Manoel de Barros, grande poeta, fluente na língua dos pássaros e rios, fluente também no idioma infantil. Sua poesia está aí, despojada de alegorias adultecidas para nos lembrar o tempo todo de quem nós somos. Poetas e crianças. Crianças e poetas. Perder de vista a infância é perder nossa melhor aposta para um mundo melhor e sem fronteiras. Um mundo mais justo e mais igual, onde brincar faz parte para lembrar de quem realmente somos: gente com G maiúsculo!
Fica a dica, na falta de ter o que fazer ou de como preencher os buracos cada vez mais aprofundados dentro de nós mesmos, preste atenção no que dizem as crianças e talvez você se encontre. Não custa nada tentar.
De Evaldo Pereira de Sousa, estudante da Pós-Graduação em Ensino de Humanidades e Linguagens no Instituto Federal de Brasília (IFB)
O processo de mudança do indivíduo é, certamente, indeterminado, considerando os inúmeros acontecimentos necessários para o alcance da plenitude do ser. Semelhante afirmativa é baseada no documentário Laerte-se, dirigido por Lygia Barbosa da Silva e Eliane Brum.
Trata-se de uma obra sobre o cotidiano e a vida de Laerte Coutinho, mulher trans, cartunista e chargista brasileira, de notória importância no Brasil devido aos trabalhos desenvolvidos em grandes editoriais, como as revistas Veja e ISTOÉ e os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Laerte decidiu assumir sua transição em 2010 — e falar publicamente sobre ela — e, atualmente, tem promovido discurso de representatividade em defesa dos direitos da pessoa trans no Brasil, por meio das mídias e do seu trabalho no campo artístico.
O filme é marcado pelo cotidiano da protagonista e o processo de reforma de sua residência, sugerindo os processos de (des)construção pelos quais a artista passa em relação à sua imagem, sua narrativa, aceitação, discursos, vida pessoal, familiar e profissional, bem como aos percalços, aflições e reflexões sobre seu corpo e espaços sociais.
Na primeira parte, a artista revela como assumiu para a família a identidade com a qual se identifica. A história é parecida com a de tantas outras pessoas que descobrem a transexualidade na vida adulta, após constituírem família e terem filhos. Quanto a isso, é possível evidenciar os desafios em estabelecerem-se acordos enunciativos entre esses sujeitos. No que tange ao aspecto linguístico — com o marcador de gênero da língua portuguesa (a para o feminino e o para o masculino) —, carece cada vez mais de diálogo entre os agentes do enunciado, já que o tratamento devido nem sempre condiz com a identidade assumida pelas pessoas transexuais, tendo em vista o estranhamento em comparação à identidade praticada pelo indivíduo até a transição.
Ainda acerca da linguagem, a protagonista vincula o aprendizado de ser mulher à assimilação de uma nova língua. Em sua experiência, as relações de tal aprendizado pessoal estabelecem-se entre a mente, o corpo natural e suas transformações — marcadas ora pela assunção do vestuário feminino, ora pelo desvestir para o feminino, com a retirada dos pelos corporais, por exemplo —, bem como pela aceitação do sexo biológico, com o marcador genital masculino, convertendo o cotidiano e as relações interpessoais em aprendizagem.
O valor simbólico dos traços identitários dos corpos traduzem-se num drama para as pessoas trans. Frequentemente, há cobranças acerca de transformações físicas voltadas para o que acrescentar e/ou tirar. Refletir sobre tais cobranças e assumir os corpos da forma como são também é sinal de resistência dos indivíduos trans, tanto quanto naqueles casos em que há alterações físicas, que incluem intervenção e procedimentos cirúrgicos, como próteses mamárias.
Com isso, observa-se uma linha significativa no percurso da artista durante a narrativa do filme. A inquietação da reforma da casa e as modificações geradas no processo de transição refletem uma preocupação profissional. Na visão estética da cartunista, há pontas soltas de suas obras, imperfeições devidas ao processo do qual ela é fruto. Cabe aqui questionar se as inadequações existentes, físicas e profissionais, não decorrem do ser inadequado que Laerte representa no contexto social, subjugado pela alteridade do seu discurso e do seu existir. Isso porque tal forma de existir não é do jeito certo, baseado em modelos binários, como amplamente difundido e aceito, cujas concepções de identidade e de gênero dos seres assentam-se em feminino e masculino.
Outra observação é em relação à orientação sexual, que diz respeito à atração física e/ou emocional entre as pessoas. Como mulher trans, heterossexual – isto é, atraída sexualmente por homens —, desde sua juventude, como socialmente homem, Laerte conviveu com a ideia de que seria mais aceito tornar-se mulher para relacionar-se com homem do que ser um homem que se relaciona afetivamente com outro homem. Isso traz a narrativa pessoal e associada exclusivamente à orientação sexual e à identidade de gênero da Laerte. Não deve ser entendido, pois, como o modelo de comportamento de homens homossexuais, por exemplo, uma vez que estes, em virtude de relacionarem-se com pessoas do mesmo sexo (masculino), não necessariamente se identificam físico e mentalmente com pessoas do sexo oposto (feminino).
As questões de gênero e de identidade propostas no documentário valem-se da problematização e da visão empática de cada eu-espectador, já que o processo abordado expõe a vivência do outro. Ainda assim, as análises devem ser fomentadas dentro da comunidade, pautadas em métodos de tolerância, solidariedade e aceitação dos envolvidos, vez que as questões de gênero e de identidade são construções sociais, que, muitas vezes, são incapazes de refletir os anseios, os corpos e as narrativas de cada indivíduo.
Desse modo, Laerte, que se fez verbo conjugado no nome do documentário, em referência à libertação pessoal, reivindica o direito de ser mulher, tanto quanto o de ser homem. Sendo processo de mudança e constituição física, seu corpo é eternamente inacabado e, dificilmente, estará resolvido.
Em 2018, a Polícia Federal indiciou o ex-governador Marconi Perillo pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa. Outros cinco estão envolvidos no mesmo processo

