Por Redação

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Recuo de Meirelles pode fazer Sabrina Garcêz sair do PSD em busca de chapa competitiva

A vereadora é tida como uma das parlamentares mais influentes da Câmara Municipal e é forte articuladora política

Vilmar Mariano seguirá Mendanha se filiando ao Patriota

Partido 'reserva', caso tudo desse errado, como ocorreu, deve receber boa parte do grupo de Gustavo

Ao menos sete secretários do 1º e 2º escalão devem deixar governo de Goiás para ir às urnas

Com prazo de desincompatibilização se encerrando no próximo dia 2 de abril, os políticos devem deixar suas respectivas pastas para auxiliar o governo na eleição para a Câmara Federal e também para a Assembleia Legislativa de Goiás

José Nelto se prepara para retomar comando do Podemos em Goiás

Deputado federal irá tratar sobre o assunto com presidente nacional do Partido, Renata Abreu, nesta quarta-feira, 30 

Morre Elifas Andreato, aos 76 anos, o Pelé dos artistas gráficos brasileiros

As capas mais bonitas dos discos brasileiros foram feitas por Elifas Andreato. Um de seus cartazes foi elogiado pelo dramaturgo Arthur Miller

Tapa de Will Smith em Chris Rock foi encenação, sustenta doutor em linguagem não verbal

“Repare nas microexpressões deles, os dois sorrindo após o tapa. Depois, entrou o ator Will Smith em cena. Qualquer pessoa que leva um tapa reagiria”

Pabllo Vittar
Atos políticos no Lollapalooza geram dúvidas sobre liberdade de expressão e campanha antecipada

Jornal Opção entrevistou especialistas em direito eleitoral que também divergem sobre o assunto

Will Smith diz que cogitou matar o próprio pai

“Quando eu fosse grande o suficiente, quando eu fosse forte o suficiente, quando eu não fosse mais um covarde, eu iria matá-lo”

Saiba quem são os auxiliares do Paço que podem deixar gestão para se candidatarem em 2022

Prefeito de Goiânia chegou a confirmar no início do mês que três secretários que vão deixar a gestão 

“A UFG provou que é uma instituição madura em seus processos internos”

Reitora exalta a forma com que a comunidade lidou com nomeação conturbada pelo MEC. Permanência de estudantes e graduação terão prioridade

Memórias sentimentais de uma mesa de bar

escrito por Talissa Teixeira Coelho

Automat, de Edward Hopper (1927) | Foto: Reprodução / Direitos Livres

No meio do caminho para casa tinha um bar. Tinha um bar no meio do caminho.  Anos atrás ele era frequentado somente por homens. Desde o início do bairro o bar já existia. Lembro que quando era criança, via meu padrinho de longe, sempre parado ali no fim da tarde. Eu pedia a benção e ele me dava balinhas de 2 centavos. No bar não havia mulheres, ao menos mulheres consideradas pela sociedade. A Pagu sempre parava ali, ria alto e detonava vários homens na dose de pinga. Não havia homem páreo para ela, sempre que apostava vencia.

Tira gosto eram miúdos e alguns caldos quando o dono fazia. De resto, os homens iam para beber pinga e cerveja, sempre após o expediente do trabalho. Naquela época não tinha asfalto e o bar ficava de baixo de um pé de Pau-Brasil. Com o tempo, o bairro foi ganhando forma e o bar também foi mudando. Os clientes não eram os mesmos velhos de sempre, mas os seus filhos e netos. Uma mesa de sinuca foi instalada e o cheiro de churrasquinho tomava conta do lugar. Mulheres começaram a frequentar o local, e hoje mesmo que incomode alguns homens, elas estão ali bebendo de igual para igual.

Nunca imaginei que um dia me sentaria em uma daquelas mesas para beber uma cerveja. Hoje bebo (e nem lembro quando isso começou) e observo quem passa. Me imponho quando algum cara inconveniente ainda questiona a minha presença no local. Ou eu só acho que questiona, pode ser que nem tenham me notado.  Por morar no bairro há anos, conheço todo mundo. Mas é diferente quando estão no bar. Como se algumas pessoas ganhassem outros contornos, contornos que as vezes não condiz com as aparências.

O bar se modernizou essa semana, mas ainda separa bem a periferia do resto. Só bebe no local quem cresceu ali. Não vem gente de fora para ver algum artista cantar. Se você quer uma bebida chega no balcão e pede. Se quer um cigarro e só falar: “Me dá um cigarro”. Se você quer um show, basta aguardar que logo alguém aparece com um violão ou com uma caixinha de som. É uma geração de pessoas que não tem nada em comum. Continuam no bairro porque não têm condições de sair. Se reúnem ali, em torno da bebida e do pouco lazer que podem pagar. Sempre deglutindo o que a sociedade pode oferecer e transformando em sobrevivência. O bar é uma espécie de ritual onde nos servimos não só de bebidas e tira gosto. É como uma eucaristia, onde nutrimos nossa alma para aturar mais um dia de estudo ou de trabalho exaustivo. Fico feliz que hoje esse ritual possa pertencer também as mulheres, e que Mário esteja conosco e não guardado em algum armário.

Filiação de Lissauer é garantia de que PSD seguirá na base caiadista

Presidente da Alego tem forte simbolismo na atração de nomes ligados ao governo para formação de chapa de deputados

Ainda sem definir filiação, Célio Silveira afina apoio com todos os prefeitos do Entorno

Com a desistência de Lissauer Vieira de se candidatar a deputado federal, Célio Silveira não teme perder voto entre eleitorado do Entorno

Fatos e ficções na concepção de Naqueles Morros Depois da Chuva

O escritor relata como concebeu e como escreveu o romance que ganhou o Prêmio Jabuti

Quem tem medo de Virginie Despentes, autora do livro Teoria King Kong?

Se você for homem, mulher ou de outra identidade de gênero, leia o livro da escritora francesa. Não se envergonhe de gostar do que a polêmica autora diz

Candice Marques de Lima

Especial para o Jornal Opção

“Não há nada pior do que um mulher julgada por homens. Todos os golpes são permitidos, a começar pelos mais sujos.” — Virginie Despentes, “Teoria King Kong”
Virginie Despentes, autora francesa, parece ser pouco conhecida no Brasil. Numa rápida pesquisa por alguns jornais diários de circulação nacional não é fácil de encontrar matérias a seu respeito. Quando falo com algumas/alguns amigas/os a respeito dela, já vou logo dizendo: “É a ex-companheira de Paul Preciado”. Aí me respondem: “Ah sim, sei quem ele é.” Embora Paul Preciado seja um homem trans, faz toda a diferença ser homem. E por que estou dizendo isso? Porque Virginie Despentes trata a esse respeito. Em seu livro “Teoria King Kong” (Editora n-1, 125 páginas, tradução de Marcia Bechara) — nome bastante inusitado para um livro de ensaios autobiográficos, Virginie Despentes narra cenas de sua vida —, acontecimentos trágicos, como o estupro que sofreu, ou vivências que teve — se prostituir, e a partir disso escreve ensaios sobre a condição da mulher na sociedade e as relações — sempre desiguais, entre elas e os homens. Longe de buscar uma solução para esses conflitos, Despentes fala deles por meio de sua escrita. Uma escrita fluente e sem moralismos. O sexo e o desejo não são tratados como algo errado. Ademais, a autora não expõe a mulher como um ser que é uma vítima objetificada pelos homens. Ame-a ou a odeie, ela não pede a complacência de ninguém. Ela quer, por meio de suas experiências, escrever sobre o que passou e teorizar sobre isso. A primeira frase de seu livro diz de qual lugar Despentes escreve e para quem: “Escrevo a partir da feiura e para as feias, as caminhoneiras, as frígidas, as mal-comidas, as incomíveis, as histéricas, as taradas, todas as excluídas do grande mercado da boa moça”. Mas, para além desse lugar discursivo, a francesa destaca que: “Me parece formidável que também existam mulheres que gostem de seduzir, que saibam seduzir, e outras que saibam se casar; que existam mulheres que cheirem a sexo e outras à merenda dos filhos que saem do colégio”. Despentes, embora escreva a partir de determinado lugar, consegue transitar por outros que enlacem a diversidade de mulheres — porque essa diversidade não se encontra somente no primeiro grupo ao qual se inclui e nem no segundo que, dependendo da mulher que fala, acha-o desprezível: as donas de casa, as mulheres amáveis e cordiais, as charmosas e sedutoras, as mães de família. Ela parece nos interrogar: “Ei, você que está aí, por que está nesse lugar?” e ao mesmo tempo dizer: “Ah, se está bom para você, ok. Para mim também está bom”. Esse livro é sobre ela, que se acha interessante e, ao mesmo tempo, feia, barulhenta, viril, que gosta de dinheiro, além de ser uma mulher irresistível para outras mulheres e também para os homens. Despentes se coloca mais como o King Kong (do filme) do que como Kate Moss. Esse King Kong como um ser sem distinção de gêneros, que está na encruzilhada entre o homem e o animal, longe de binarismo. [caption id="attachment_388025" align="aligncenter" width="620"] Virginie Despentes: escritora francesa | Foto: Reprodução[/caption] Já advirto que o que o livro pode ter de desagradável é o que paradoxalmente pode ser lido como fascinante: a amoralidade que Despentes tem para tratar de temas tabus como estupro, prostituição e pornografia. Ela escreve: “O que incomoda a moral no caso do sexo pago não é o fato da mulher não ter prazer, mas o fato de que ela pode sair de casa e ganhar seu próprio dinheiro. A puta é a ‘mulher do asfalto’, aquela que se apropria da cidade. Ela trabalha fora do que é doméstico e maternal, fora da célula familiar”. Apropriar-se da cidade, da rua, sair da célula familiar ainda é um desafio, que Despentes explora tanto a respeito da prostituição quanto do seu próprio estupro. Quando foi estuprada na juventude, juntamente com uma amiga, por três rapazes que lhes deram carona, ela conta que somente se recuperou ao ler Camille Paglia, crítica, ensaísta e doutora por Yale. Paglia escreveu que, se quiser sair de casa, a mulher vai se defrontar com os riscos de violência: “Sim, havíamos saído de casa, alcançado um espaço que não nos era destinado. Sim, havíamos sobrevivido ao invés de morrer. Sim, usávamos minissaias sem estarmos acompanhadas de um cara, de noite, sim, fomos estúpidas e fracas e incapazes de quebrar a cara deles, fracas como as meninas aprendem a ser quando são agredidas. Sim, aquilo tinha acontecido conosco, mas, pela primeira vez compreendíamos o que havíamos feito: tínhamos saído para a rua porque, dentro da casa de papai e mamãe, nada interessante acontecia. Corremos o risco e pagamos o preço, e mais do que ter vergonha de estarmos vivas, poderíamos agora decidir nos levantar e nos recuperar da melhor forma possível”. [caption id="attachment_388040" align="aligncenter" width="294"] Paul Preciado e Virgine Despentes[/caption] Cara leitora, se você leu até aqui, espero que não interprete mal nem a mim nem a Despentes. Nesses tempos tão pouco paradoxais e escassamente nuançados, embora alguns grupos adorem falar contra o binarismo, é preciso esclarecer que nem eu nem ela estamos a dizer que as mulheres devem ser estupradas por ocuparem o espaço público ou sair de minissaia. Estupro é indefensável! Quem estupra está errado! O que ela escreve e acho interessante é que corremos inúmeros riscos ao sairmos de casa e, se não quisermos corrê-los, podemos optar por ficarmos em casa. Vamos mudar o mundo ao ganharmos os espaços públicos? Muito provavelmente não. Mas vamos fazer coisas interessantes. A respeito de ter sido estuprada, depois de sofrer e de se sentir culpada por não ter se defendido e defendido sua amiga, Despentes portava uma navalha, ela percebeu, ao ler Paglia, que estava fazendo coisas interessantes e que iria continuar a fazê-las, mesmo que o preço pudesse ser a violência. Despentes, nesse ensaio autobiográfico, não tenta convencer ninguém a fazer isso ou aquilo. A incitar as mulheres a se rebelarem contra o poder patriarcal. Mas, por meio de suas experiências, como prostituta, usuária de drogas, atriz e diretora de filme pornográfico, escritora, a escritora nos conta da vida que tem, do que faz com isso e qual o preço que paga por suas escolhas. “Não me desculpo de nada, não vim para reclamar. Não trocaria de lugar com ninguém, porque ser Despentes me parece um assunto muito mais interessante do que qualquer outro.” Dá para ter talento e ser bem-sucedida, ainda que muitas coisas estejam contra nós, mulheres. Para mim, o ensaio mais inusitado e criativo de “Teoria King Kong” é sobre a pornografia. “A censura e a proibição são exigidas aos gritos por militantes enlouquecidos, como se a vida deles dependesse disso. [...]. será que um close-up dos grandes lábios ameaça à segurança do Estado?” É ou não é uma pergunta fundamental para pensarmos por que a pornografia incomoda tanto? Incomoda até muitos que se dizem progressistas, mas que veem o sexo como uma objetificação das mulheres e blábláblá. Para a autora francesa, o pornô incomoda primeiramente porque acerta o “ponto cego da razão. Ele se endereça diretamente ao centro das fantasias sexuais sem passar pela palavra, sem reflexão.” Para ela, os manifestantes antipornô “se recusam a falar diretamente de seu próprio desejo, se recusam a que lhes seja imposto descobrir coisas sobre si mesmos que preferiam calar ou ignorar”. Em suma, o bom e velho recalque... O pornô diz a verdade sobre os nossos desejos, nos conta Despentes. Ele revela como as pessoas se excitam e como isso é assustador, porque não acontece somente quando se está sonhando e não se tem controle. Se a pessoa assiste um filme pornográfico, ela se excita voluntariamente, isto é, sem precisar se esconder atrás do que é incontrolável, como os sonhos. Bem, agora você conhece pelo menos um pouco sobre Despentes, não apenas como a ex-companheira de Paul Preciado. Nos capítulos finais do livro, Despentes trata exatamente sobre o mundo masculino e como nós, mulheres, somos julgadas pelos homens e pelas outras mulheres — sempre. Em seu romance “Vernon Subutex”,  a autora cria uma personagem, um homem trans. Narra como ele passou a ter outra visibilidade quando se tornou um homem. Como foi mais aceito e conseguiu mais trabalho. Como escreve em “Teoria King Kong”: “Os homens amam os homens. Eles nos explicam o tempo todo o quanto amam as mulheres, mas todas sabemos que isso é bobagem. Eles se amam, entre eles. Eles transam uns com os outros através das mulheres, muitos dentre eles já pensam nos amigos quando se encontram dentro de uma b... Eles se observam no cinema, eles se reservam os melhores papéis, eles se acham poderosos. Eles escrevem uns para os outros, eles se parabenizam, eles se apoiam”. “Teoria King Kong”, um ensaio autobiográfico da autora francesa Virginie Despentes, nascida em Lyon, punk, ex-companheira de Paul Preciado, quase tão boa quanto Michel Houellebecq, é um livro que vale a pena ser lido. Se você for homem, mulher ou de outra identidade de gênero, leia-o. Não se envergonhe de gostar do que a polêmica autora escreve. É formidável. Candice Marques de Lima é professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás. Pesquisa inclusão escolar e psicanálise.