Só candidato a senador competitivo pode evitar que Marconi venha forte para 2026
18 setembro 2022 às 00h09
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Um fato é incontestável: o governador Ronaldo Caiado, do União Brasil, “abriu” a política de Goiás — ao derrotar o Tempo Novo e criar um novo ciclo. Se reeleito — as pesquisas de intenção de voto sugerem uma vitória no primeiro turno —, ficará no governo até 2026, quando, possivelmente, disputará mandato de senador. Daniel Vilela, do MDB, de 38 anos (43 anos em 2026), assumirá o governo e disputará a reeleição. Será uma tripla renovação. Primeiro, porque se trata de um político jovem e que nunca foi governador. Segundo, porque é um político de ideias arejadas. Terceiro, o MDB voltará ao poder — depois de 28 anos afastado do governo do Estado.
A ascensão de Ronaldo Caiado não “abriu” a política apenas para Daniel Vilela, do MDB. As portas estão abertas para vários outros políticos, como, em ordem alfabética, Alexandre Baldy (pP), Delegado Waldir (União Brasil), Diego Sorgatto (União Brasil), Adriana Accorsi (PT), Edward Madureira (PT), Francisco Júnior (PSD), Gustavo Mendanha (Patriota), Jeferson Rodrigues (Republicanos), João Campos (Republicanos), Lissauer Vieira (PSD), Lucas Antonietti (Podemos), Lucas do Vale (MDB), Luciula do Recanto (PSD), Márcio Corrêa (MDB), Marden Júnior (Patriota), Marussa Boldrin (MDB), Pábio Mossoró (MDB), Rafael Gouveia(Republicanos), Roberto Naves (pP), Rogério Cruz (Republicanos), Romário Policarpo (Patriota), Sabrina Garcez (Republicanos), Vanuza Valadares (Podemos) e tantos outros (inclusive Aava Santiago, Matheus Ribeiro e Valmir Pedro, do PSDB).
Voltemos, porém, à política de Goiás entre 1998 e 2018 — um ciclo de 20 anos. Nesse período, Marconi Perillo, do PSDB, disputou o governo quatro vezes e sagrou-se vitorioso. Em nenhum momento, o tucano permitiu a renovação. Só não disputou quando não era possível — tanto que Alcides “Cidinho” Rodrigues (Patriota) e José Eliton (PSB) só assumiram o governo porque eram seus vices. Dada a onipresença de Perillo, o Tempo Novo não gerou nenhum político com estatura para disputar o governo do Estado. Tanto que José Eliton disputou, como governador, e ficou em terceiro lugar, atrás de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, em 2018. Para a disputa de 2022, num primeiro momento, o tucanato apresentou, pela quinta vez, Perillo como seu pré-candidato a governador. Porém, com sua inteligência política habitual, produto de um instinto refinado e temperado pela ciência (pesquisas qualis e quantis), mudou de rota.
Perillo percebeu, de cara, que não teria condições de derrotar Ronaldo Caiado. Então, mudou seu percurso: decidiu disputar uma vaga no Senado. E foi uma jogada inteligente. Porque, ao fortalecer ainda mais o governador, contribuiu para enfraquecer Gustavo Mendanha, o candidato do Patriota, um político de valor mas ainda “amador” (articulou como principiante). Perdendo em 2022, Mendanha deixa de ser um rival para 2026 — o ano que está no horizonte do Perillo, que não aprecia o Senado nem a Câmara dos Deputados. Sua vocação é o Executivo (e não foi mau governador; apesar de todos os problemas, pela média, fez uma gestão de realizações).
Não há a menor dúvida de que, se eleito senador em 2022, Perillo disputará o governo em 2026. Quem não acredita pode entender de tudo, até de física quântica e nuclear, mas não entende nada de política e… de Perillo.
Perillo está tentando reforçar a sua musculatura, conectando-se com os entes políticos do Estado, do qual havia se distanciado, pois havia se tornado um homem cosmopolita, optando por conviver com amigos de São Paulo, nos melhores restaurantes e adegas da cidade, e viajar para vários países, curtindo la dolce vita. Ganhar para o Senado, fonte de poder por si e também liberadora de recursos financeiros para as prefeituras, pode ser o “exercício” final — uma espécie de crossfit — para o “campeonato” de 2026
É óbvio que Daniel Vilela (e talvez o senador Vanderlan Cardoso) não será um páreo fácil para Perillo. O jovem é um político articulado, tem discurso e, como se diz, estampa (e história político-familiar: é filho de Maguito Vilela, que foi governador e senador). Mas a musculatura de Daniel ainda não se assemelha-se à de Perillo. Não se trata de sugerir que o vice de Ronaldo Caiado é “ruim” (não é) ou não entende de política (entende, e muito). Só que ainda não tem a experiência do tucano (na prática, só há dois grandes políticos profissionais em Goiás — Ronaldo Caiado e Perillo. A palavra a reter é “grandes”, porque há outros políticos profissionais, porém sem a grandeza, produto da experiência e do tempo, dos citados).
Insistindo: Daniel será uma presa fácil para Perillo em 2026? Não é o que se está dizendo. Será (muito) forte. Mas o tucano será um rival difícil, sobretudo se tiver sido eleito senador, quer dizer, estará motivado e com expectativa de poder. Se perder para senador, chegará enfraquecido na disputa de daqui a quatro anos. Aí ele é que poderá se tornar presa fácil para o emedebista.
Retomemos a questão da renovação. Um “novo” ciclo, com Perillo, seria uma volta ao passado, não um avanço (não se trata de depreciá-lo, e sim de colocar os fatos sob perspectiva). Porque, se for eleito, será candidato à reeleição — e, se for reeleito, bloqueará a renovação pelo menos por oito anos (convém lembrar que, em 2026, Perillo terá 63 anos). Os políticos citados acima terão suas carreiras políticas barradas pelo tucano? Talvez sim, talvez não, porque a eleição será realizada no dia 2 de outubro, daqui a 14 dias.
Veja-se um exame objetivo da política goiana. Com rara mestria, Ronaldo Caiado operou para enfraquecer as oposições, isolando-as. O resultado é que está enfrentando candidatos que têm valor, mas não são páreos para um político experimentando como ele. Hoje, o interior está fechado com o governador. Não se trata de um trabalho aleatório; pelo contrário, e sim resultado de uma articulação política feita e definida por um estrategista de mão cheia.
Para 2022, era o que cabia a Ronaldo Caiado: montar uma chapa sólida, com amplo apoio, para garantir a modernização das práticas políticas e administrativas em Goiás. Ele acertou na mosca e por isso lidera todas as pesquisas de intenção de voto sérias. E pode ganhar no primeiro turno.
Pensando em 2026, Daniel deveria ter coordenado um trabalho político mais ativo, ou seja, deveria ter operado para a base governista ter indicado apenas um candidato a senador. Se a base tivesse apenas um candidato — Alexandre Baldy (pP) ou Delegado Waldir Soares (União Brasil) —, dificilmente Perillo teria chance de ser reeleito. Com toda sua experiência, dado o fato de ter sido governador quatro vezes, o tucano aparece em primeiro lugar, porém apenas com 24% (ou um pouco mais, dependendo das pesquisas) das intenções de voto.
Portanto, faltou à base governista, notadamente a Daniel Vilela, uma articulação ampla para forjar um candidato capaz de derrotar Perillo e deixá-lo “fragilizado” para a disputa de 2026.
Está a se dizer que Perillo está eleito senador? Não. Mas suas chances, de acordo com as pesquisas, são altas (ele inclusive começou a trabalhar na Grande Goiânia, onde é mais rejeitado). Ressalve-se, porém, que os eleitores começam a definir o voto para o Senado a partir de agora. Por isso, Wilder Morais, do PL, e Alexandre Baldy, do pP, começam a crescer. Por que crescem? Porque montaram, sobretudo Baldy, estruturas poderosas em todo o Estado. Wilder acerta ao “colar” no presidente Jair Bolsonaro, mas precisa entender que não basta isto. Há um teto para a transferência de voto. Já o Delegado Waldir, se quiser aproximar-se do tucano, precisa cativar as bases que apoiam Ronaldo Caiado.