Quem já tem uma caminhada mais longa como espectador de períodos eleitorais já deve ter passado por essa experiência (ou algo semelhante): é o encontro com aquele candidato do bairro ou da região que, ao ser questionado sobre como está a campanha, empolgado com o que vê nas andanças, sentencia: “Olha, claro que eu conto com seu voto, mas posso te dizer que estou eleito. Por onde eu ando, todo mundo me cumprimenta e diz que vai votar em mim”.

Essa é a versão clássica – e mais humilde, convenhamos – do “datapovo”, a expressão cunhada pelo bolsonarismo para desdenhar das pesquisas de intenção de voto que apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorito na eleição presidencial.

Não é que Jair Bolsonaro (PL) não seja um político popular: ao contrário, vai entrar para a história brasileira como um dos maiores líderes de massas. Seu poder de conseguir mobilização orgânica é indiscutível – não é à toa que o lema dos bolsonaristas convictos em suas manifestações é “eu vim de graça”.

A questão é que a diferença da bolha bolsonarista para a do folclórico candidato a vereador do bairro que acha que vai ganhar a eleição é somente o tamanho. Por mais gigante e poderosa que seja uma foto com toda a orla de Copacabana ou toda a Esplanada dos Ministérios colorida de verde e amarelo, isso não é uma pesquisa científica. Assim como o fato de Lula não sair às ruas ou, saindo, não levar multidões a elas – e o petista leva, sim, porque também é um líder de massas – não significa que as pesquisas de intenção de voto estão mentindo.

Para terminar refletindo, com uma pergunta que deixa a pulga atrás da orelha de quem para para raciocinar mais profundamente: no 7 de Setembro, seja em Brasília, no Rio ou em São Paulo, por mais que houvesse dezenas ou centenas de milhares nas manifestações bolsonaristas… havia mais gente lá ou curtindo o feriado em casa? Então, como seria se considerássemos que o universo dos que não votam em Bolsonaro fosse formado por todos os que preferiram ficar no sofá naquele dia?

Enfim, falar em “datapovo” nada mais é do que uma estratégia esperta de quem consegue, de fato, mobilizar muita gente para estar nas ruas e mostrar força. O que causa impacto, mas não significa que as pesquisas, baseadas em estatísticas e metodologias já bastante testadas, estejam mentindo.