Terceira parte da entrevista do senador Jorge Kajuru

Na terceira e última parte de sua entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o senador Jorge Kajuru, do Podemos, frisa que o fato de ter concentrado investimentos na área de saúde não repercutiu tanto quanto deveria. Ele sublinha que não investe dinheiro de seu mandato em obras que rendem propinas. Apoia basicamente aquilo que melhora a vida das pessoas. “Eu gosto mais de gente do que de pontes e tratores caríssimos”, sumariza. “Como pode ser doido alguém que usa seu mandato para cuidar das pessoas?” Só mal-intencionados podem chamá-lo de “doido”, disse ao final da conversa com os repórteres Cilas Gontijo, PH Mota, Marcos Aurélio Silva e Euler de França Belém.

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro recebe críticas contundentes. O senador frisa também que não é amigo do presidente Jair Bolsonaro e que já foi amigo do ministro da Economia, Sergio Moro.

Delegado Waldir Soares: deputado federal do União Brasil | Foto: Reprodução

Euler de França Belém — O sr. apoia Delegado Waldir pelos méritos dele, ou unicamente pela possibilidade que tem de derrotar Marconi Perillo?

Vou ser sincero. 80% por Delegado Waldir ser o único, no momento, que pode derrotar Marconi Perillo. 20% porque, para mim, Delegado Waldir não roubou como deputado federal.

Euler de França Belém — Quem é o verdadeiro criador do orçamento secreto e quais são os reais beneficiários?

O orçamento foi criado por um assessor do Bolsonaro cujo prenome é Breno, mas não me lembro do sobrenome. Ele criou tudo. Flávio Bolsonaro convenceu o pai de sua necessidade. Carlos Bolsonaro em especial atuou junto ao presidente. Apontaram que não havia outra forma de ter maioria na Câmara e no Senado sem esse mensalão. O que a gente não imaginava é que seria pior do que o mensalão, pois chegou a 110 bilhões de reais. É um dado oficial. Está na mão do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal. Em Goiás os principais beneficiários são os senadores Luiz Carlos do Carmo, do PSC, e Vanderlan Cardoso, do PSD. Eles conseguiram dez vezes mais dinheiro do que eu. Porque não aceitei participar do esquema do Tratoraço. O senador Eduardo Gomes (PL-TO), líder do governo no Congresso, foi ao meu gabinete, e pediu ao meu assessor Marcelo Cruvinel que me sugerisse que parasse de “bater” no governo Bolsonaro. “Kajuru terá de 100 milhões a 200 milhões de reais por ano. Ninguém terá mais do que ele. O presidente [Jair Bolsonaro] está incomodado com ele”. Foi o recado. É muito difícil saber quem não pegou. Cerca de 350 deputados e 65 senadores pegaram recursos do Orçamento Secreto. Trata-se de muito dinheiro e está sendo entregue agora, durante a campanha. Eu me recusei a atender o senador do Tocantins, portanto, ao presidente Jair Bolsonaro.

Eduardo Gomes, senador pelo Tocantins | Foto: Divulgação/Senado Federal

Marcos Aurélio Silva — Nada vai acontecer com os que receberam dinheiro do Orçamento Secreto e com os que o autorizaram?

Se o Brasil fosse sério, como o ministro do STF Alexandre de Morais quer que seja, ele teria simplesmente impugnado a candidatura de Bolsonaro. O que o presidente fez no dia da Independência é de uma estupidez que impressiona. Uma decepção para o mundo inteiro. O cara gritar que é “imbrochável”! Para mim, o presidente é doente e brocha. Um cara que fala tanto que é “imbrochável” deve ter algum problema. Há alguma insegurança que tenta esconder pela fala e pela agressividade, diria um psicanalista. É como se a fala substituísse a falta de ação.

Euler de França Belém — O sr. considera que o presidente Jair Bolsonaro é corrupto?

Como não ter certeza? Se não fosse, Ciro Gomes não iria falar como fala a respeito. O candidato a presidente pelo PDT conta que Bolsonaro é corrupto, pois superfaturava gasolina como deputado e tinha vários funcionários fantasmas que devolviam 100% do salário para ele. Não tenho dúvida de que isto caracteriza corrupção. Mas, na minha opinião, Bolsonaro é menos corrupto do que outros presidentes.

Jair Bolsonaro e Jorge Kajuru: “Não somos amigos” | Foto: Divulgação

Euler de França Belém — Como avalia a questão dos imóveis de Bolsonaro e de seus filhos que foram comprados, em parte, com dinheiro vivo?

É kafkiano comprar imóveis com dinheiro vivo. Seis meses antes da notícia sobre os imóveis dos Bolsonaro, apresentamos um projeto que proibia qualquer pessoa de comprar imóveis com dinheiro vivo. Teria de ser por transferência bancária, mas o projeto foi engavetado. O mais revoltado com o projeto foi o senador Flávio Bolsonaro, que pediu vistas. A aquisição dos imóveis pela família Bolsonaro é gravíssima.

Euler de França Belém — Como é o Flávio Bolsonaro como senador?

Antes da minha briga com o pai dele, Flávio Bolsonaro me tratava com o maior carinho. Não misturo minha ação no Senado com questões familiares. Sou brigado com Marconi Perillo, mas nunca ataquei a ex-primeira-dama Valéria Perillo. Só a mencionei quando a questão envolvia dinheiro do Erário, pois ela recebia como primeira-dama, o que a revista “Veja” também criticou. Não envolvo família nas minhas polêmicas.

Paulo Guedes e Jorge Kajuru: “Não somos mais amigos, estamos rompidos” | Foto: Divulgação

Euler de França Belém — Por que o senhor sempre faz ressalvas, positivas, em relação ao ministro da Economia, Paulo Guedes?

Falei bem do Paulo Guedes até a gente brigar, no primeiro ano do governo. Ele prometeu coisas maravilhosas, mas não cumpriu. Frise-se que, como a imprensa de Goiás não registra, o governador Ronaldo Caiado deveria falar: arrumei uma audiência para o gestor goiano com Paulo Guedes. O governador queria vender a Celg T, e ele me pediu ajuda, porque estaria atritado com o ministro. Como sou amigo da família do Guedes (cunhada e cunhado), consegui o encontro. O auxiliar de Bolsonaro me disse que aceitou o encontro por minha causa e admitiu que a venda da estatal era do interesse do governo federal. Caiado e Guedes conversaram por uma hora e meia e ficou definida a venda da empresa. Ficou acertado que a venda seria por 1,5 bilhão de reais (parece que o preço final foi de 1,9 bilhão). Ao término da reunião, Guedes levantou-se e disse: “Caiado, tudo que fiz foi por seu ‘padrinho’ Kajuru.”. Caiado me agradeceu, mas precisa reconhecer publicamente. Nunca falou o que ocorreu numa entrevista.

Então, quando falam que mandei menos emendas para Goiás, porque não aceitei participar do Tratoraço, é preciso lembrar, a rigor, que contribui para que entrassem 1,9 bilhão de reais nos cofres do governo do Estado. Portanto, a rigor, conquistei mais recursos para os goianos.

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“Sergio Moro trocou o Podemos pelo União Brasil por dinheiro”

Jorge Kajuru, senador, e Sergio Moro, ex-ministro da Justiça | Foto: Divulgação

Euler de França Belém — O ex-magistrado Sergio Moro chegou a se filiar ao Podemos para disputar a Presidência da República. Em seguida, decidiu disputar mandato de senador por São Paulo, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral. Aí optou por disputar mandato de Senador pelo Paraná, como filiado ao União Brasil. Chegou a liderar as pesquisas, mas o senador Álvaro Dias, do Podemos, o superou. O que aconteceu com o ex-juiz: faltou entender como funciona a realpolitik?

Vou dar uma declaração exclusiva. Estive em Curitiba, conversei com os senadores Álvaro Dias e Oriovisto Guimarães, ambos do Podemos. Ambos estão lembrados que, quando conheci Sergio Moro, num jantar na casa do senador Eduardo Girão (Podemos), depois de observá-lo por dois minutos, eu disse: “Esse cara parece não ter caráter”. Eu disse isto para os senadores do Podemos. [José Luiz] Datena, meu amigo de infância, sempre diz: “Kajuru é um homem que, em um minuto, define o caráter das pessoas e não erra”. Foi assim a minha vida inteira. Dei minha opinião, de cara, sobre Marconi Perillo, um monte de gente do PT, Fernando Henrique Cardoso, gente do futebol, como Eurico Miranda [falecido cartola do Vasco da Gama] e Ricardo Teixeira [ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol].

Marcos Aurélio Silva — Por que uma opinião tão forte sobre Sergio Moro?

Minha avaliação começou pela soberba de Sergio Moro. É bíblico: a soberba precede a ruína. Depois, observei que o ex-juiz não olha na cara das pessoas. Ele, ao conversar, sempre fica com o olhar baixo. É raro ele levantar o olhar. Vou ser objetivo. Ele viajou para a Alemanha, com sua mulher. Uma viagem de cinco dias. Uma bobagem, claro. Por que qual repercussão política que se obtém com uma viagem para o país europeu? Nenhuma. O Podemos pagou suas despesas. Todas. Quando voltou, num free shop, fez compras pessoas para ele e para sua mulher. Gastaram 200 mil reais. Foram óculos, relógios, bolsas. A presidente do Podemos, Renata Abreu, contou para nós. Eu disse: “Eu avisei vocês. Tá aí”.

Cilas Gontijo — Houve problema com um contrato?

Sergio Moro pediu um contrato com o Podemos, de cinco anos, pelo qual receberia, líquido, 40 mil reais. Mais do que ganha o presidente da República e, obviamente, um senador. A deputada Renata Abreu, como presidente do partido, decidiu entrar com uma ação contra o ex-ministro. Os senadores do partido foram se decepcionando com a conduta do ex-juiz.

Em seguida, Sergio Moro “inventou” um tal de Luís Felipe [Cunha], apresentado como seu diretor de marketing, mas não consultou o Podemos. O partido tinha gente melhor para cuidar da campanha, mas o ex-juiz não o consultou. Depois, num sábado, o ex-magistrado liga para Renato Abreu e senador Álvaro Dias e diz que está tudo bem. No dia seguinte, às 8 horas, a direção e os integrantes do partido foram pegos de surpresa com a declaração de que ele iria se filiar ao União Brasil. Eu disse aos colegas: “Mais uma vez, eu tinha razão”.

Cilas Gontijo — Por que Sergio Moro trocou o Podemos pelo União Brasil?

Sergio Moro trocou a credibilidade do Podemos pelo dinheiro do União Brasil [partido com o maior fundo eleitoral da disputa de 2022]. Não vou nem discutir a credibilidade do União Brasil. Ele mudou de partido literalmente por causa de dinheiro. Vale sublinhar que o senador Álvaro Dias o defendeu desde o primeiro dia da Lava Jato e, mesmo assim, o ex-juiz decidiu ser candidato no Paraná, contra seu padrinho político no Podemos.

O ex-juiz começou a criticar o Podemos, falando de uma investigação de uma maneira mentirosa. Quem pediu investigação e auditoria no Podemos fomos nós, senadores. Eu exigi e os senadores Álvaro Dias, Oriovisto Guimarães e Eduardo Girão apoiaram uma auditoria independente e sem revanchismo. Nada foi encontrado de irregular. Mesmo assim, Sergio Moro deu declaração aos jornais dizendo que havia corrupção no Podemos. Por que ele está atrás de Álvaro Dias, na disputa por uma vaga no Senado? Porque a população do Paraná já sabe quem ele é. Álvaro Dias é um político decente, com um histórico em defesa do Paraná e do país. É uma referência. Por isso será reeleito.

Euler de França Belém — O que o sr. diz do ex-procurador da República Deltan Dallagnol, candidato a deputado federal pelo Podemos?

Mais uma informação exclusiva para vocês. No jantar da minha despedida em Curitiba, foram todos os colegas do partido para lá. De repente, surge uma notícia que o diretor de marketing da campanha do Álvaro Dias mostrou pra gente. Era uma foto do Deltan junto com o Ratinho Junior (PSD), Sergio Moro e Paulo Martins (PL), candidato ao Senado. Essa foto foi mostrada e todos ficaram revoltados. Rogério, amigo do Deltan, ligou para ele e perguntou: “Essa foto é sua mesmo? Estamos em dúvida se é você”. E Deltan respondeu: “A foto é minha. Fui neste lugar sem imaginar que eles estavam lá e fizeram a foto”. Então foi perguntado se algo tinha mudado de opinião em relação à candidatura e os apoios e ele respondeu: “Não, eu continuo do mesmo jeito. Estou com vocês”.

Ao saber da resposta, mandei dizer a Deltan que não estava acreditando. Ele pediu para que eu fosse colocado na ligação e me disse: “Não faz isso comigo. Sou seu amigo e gosto de você demais. Acredite em mim. Estou com vocês, pronto e acabou. Sergio Moro segue o destino dele e eu sigo o meu”. Deltan está cumprindo a palavra dele. Não fomos surpreendidos até agora.

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“Criei centro de diabético, investi em hospital do câncer e instituto pra autistas. Sou doido?”

“Arrumei recursos para a construção de um hospital para pacientes com doenças raras e 5 milhões de reais para o Hospital da Mulher de Anápolis”

Euler de França Belém — Ouço pessoas dizendo: “Os três senadores de Goiás, Jorge Kajuru (Podemos), Luiz Carlos do Carmo (PSC) e Vanderlan Cardoso (PSD) não trabalham”. Há os que acrescentam: “Kajuru é doido”. Como acompanho seu trabalho, sei que seu mandato tem qualidades indiscutíveis. Mesmo antes de ser senador, como vereador, o sr. fez o Centro de Diabéticos do Brasil.

Mas você não completou: há os que dizem que sou “doido”, mas ressalvam que não sou ladrão. Os que dizem que sou “doido” visam me desqualificar porque não encontram outros defeitos. Me seriedade surpreende e espanta os malandros. Há políticos que estão no Senado para fortalecer seus negócios e ganhar mais dinheiro. O Centro de Diabéticos de Goiânia se tornou referência em todo o país. Quatorze capitais vão inaugurar, em 2023, seus centros. Senadores amigos levaram a ideia para seus Estados. O centro de Goiânia funciona na Alameda das Rosas. E funciona muito bem. Pessoas humildes, de todo o Estado, me ligam para agradecer.

Marcos Aurélio Silva — Por que o sr. decidiu fazer o Centro de Diabéticos?

Marcos, era o meu sonho. Porque mamãe morreu com diabetes, aos 61 anos [idade do senador atualmente]. Sou diabético e ficava irritado e indignado com os governantes do Brasil que não tinham e muitos ainda não têm noção da gravidade dessa doença silenciosa que é o diabetes. É a doença que mata 20% das pessoas no Brasil. É considerada a terceira maior causa de mortes. Antes vem o AVC e a hipertensão. Entretanto, muitas vezes são provocados pelo diabetes. Ou seja, é muito grave.

PH Mota — Como o sr. teve a ideia de construir o Centro de Diabéticos?

Eu tive a ideia quando era vereador. Consegui aprovar o projeto por unanimidade. Iris Rezende prometeu construir o Centro, mas não o fez. Os vereadores Elias Vaz, do PSB, Dra. Cristina, do PDT, e Priscilla Tejota, do PSD, então meus colegas de Câmara Municipal em Goiânia, me disseram: “Kajuru, você tem uma briga histórica com Marconi Perillo, mas seu projeto é maravilhoso. Vamos procurar Marconi e pedir apoio para a construção do centro. O governo do Estado arca com a construção e você, se eleito senador, colabora com a manutenção”. Os três falaram com Marconi e ele mostrou que me odeia. Disse que nada tinha contra, mas que os vereadores deveriam falar com José Eliton, que iria assumir o governo em abril de 2018.

No começo, eu pagava o aluguel do Centro com o salário de vereador que eu abri mão. Nos últimos meses do meu mandato, o meu salário foi destinado ao aluguel e compra de moveis para o Centro. Lá tem mesa, sofá e outros móveis com o carimbo de doação feita pelo vereador Jorge Kajuru.

Cilas Gontijo — O sr. conversou com o então governador José Eliton?

Eu não conhecia José Eliton e fui falar com ele sozinho. Fiquei encantado com o governador, que me disse: “Kajuru, o Centro é uma obra linda e você tem todo o meu apoio”. Levou para conversar comigo o secretário de Saúde, Leonardo Vilela — para mim, o melhor que Goiás já teve. Ele entrou pra valer e foi de rara integridade no dia da inauguração ao dizer: “Todo mundo quer pai de filho bonito. Então, vou deixar claro: o pai deste Centro Estadual de Atenção ao Diabético é 100% Jorge Kajuru. O governador José Eliton apenas abriu as portas”. Foi assim que aconteceu.

PH Mota — O Centro de Atenção ao Diabético foi inaugurado na gestão de José Eliton?

O Centro Estadual de Atenção ao Diabético foi inaugurado no fim do governo de José Eliton. Marconi esteve no evento. Em janeiro de 2019, Ronaldo Caiado assumiu o governo e liguei para ele. Caiado disse: “Deixa comigo. Vou tomar conta do Centro de Diabéticos”. Prometeu que iria colocar o nome de minha mãe no Centro e espero que cumpra. O governador me informou que vai colocar o Centro num lugar mais adequado, e sei que vai cumprir.

Marcos Aurélio Silva — O sr. trabalha para abrir um hospital de doenças raras em Goiânia, não é?

De fato, vou inaugurar o primeiro hospital de doenças raras do Brasil. Ficará no Setor Jaó. E já este ano vou inaugurar o primeiro instituto de autistas, também no Setor Jaó. Ele vai levar o nome de Cristiane Toledo. Vou inaugurar as duas obras e vou oferecer em homenagem ao Ronaldo Ramos Caiado Filho. Já avisei ao governador. Ele me autorizou a colar o nome de seu filho. E eu vou cumprir.

PH Mota — Na questão do diabetes, o sr. circunscreveu sua ação à capital?

Não. Já estou trabalhando no interior. O prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (União Brasil), me deu todo o apoio. Ele construiu um centro melhor do que o de Goiânia. Fica ao lado do Hospital do Câncer, que também recebeu minha ajuda — 4 milhões de reais. O gestor municipal fez a construção com 16 milhões que repassei para a cidade.

Euler de França Belém — Há os senadores das obras milionários e há os senadores que cuidam de gente…

Decidi ser um senador que vai deixar obras para a vida inteira. Preocupo-me mais em cuidar de gente, por isso o investimento no setor de saúde. Poucas pessoas sabem, mas mando todo mês 2 milhões de reais para o Centro do Diabético e mais 2 milhões de reais para o Hospital do Câncer de Rio Verde. O Hospital Araújo Jorge, de Goiânia, recebe 1 milhão por ano, assim como o Hospital de Jataí, no Sudoeste goiano. Então, quando diz que os senadores não fazem nada, Marconi Perillo está sendo injusto, por má informação ou maledicência. Os senadores Vanderlan Cardoso e Luiz Carlos do Carmo, por serem bolsonaristas, recebem mais recursos do governo federal. Como sou um senador independente, só tenho direito aos 27 milhões de reais tradicionais. São 10 milhões de cota individual e 17 milhões de cota de bancada. O dinheiro do meu mandato foi usado quase todo, 95%, em saúde. São centros de diabéticos, de deficientes físicos, dependentes químicos e idosos especiais. A Vila São Cottolengo, em Trindade, recebe o meu apoio. O padre que dirige a Vila me disse que, na história de Goiás, sou o senador que mais mandou para verbas pra lá.

Nem mesmo Henrique Santillo, o melhor senador da história de Goiás, fez tanto pela saúde quanto eu. Quando meu mandato terminar, daqui a quatro anos, sugiro uma reportagem mostrando o que deixei na área em todo o Estado. — Jorge Kajuru

Cilas Gontijo — Seu trabalho é concentrado na área de saúde, portanto.

Sim, é. Meu trabalho é pela saúde dos goianos. Não sou senador de caminhão de lixo, de retroescavadeira e de trator. Prefeitos ficam bravos quando me recuso a trabalhar para a aquisição de máquinas. Porém, se quiserem recursos para saúde, é só me falar, pois não faço distinção ideológica. Quero o bem de todo o povo goiano. Não sei se o pessoal da imprensa sabe, mas estou liberando 5 milhões de reais para a Prefeitura de Anápolis construir o Hospital da Mulher. Na mesma cidade, dirigida pelo prefeito Roberto Naves, do pP, estamos construindo uma escola padrão para mil alunos, com ginásio coberto. A construção já foi iniciada. Estamos escolhendo a cidade para construir o hospital dos olhos, da visão. Acrescento que, para o instituto dos autistas, já liberei 800 mil reais. Porque já tem área física. Só precisa de móveis e equipamentos. E são 5 milhões de reais para o hospital de doenças raras. Nem mesmo Henrique Santillo, o melhor senador da história de Goiás, fez tanto pela saúde quanto eu. Quando meu mandato terminar, daqui a quatro anos, sugiro uma reportagem mostrando o que deixei na área em todo o Estado.

Jorge Kajuru é entrevistado pelos repórteres Euler de França Belém, PH Mota, Ângela Moureira e Marcos Aurélio Silva, na redação do Jornal Opção | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

PH Mota — Portanto, os senadores goianos trabalham…

Estou falando do meu trabalho, é claro. Ou seja, de um senador que está em Brasília para servir ao povo, para cuidar dele, sobretudo na questão da saúde, e não para fazer negócios. Por que as pessoas estão mal-informadas sobre meu trabalho? Porque os jornais não divulgam o que faço. Já leu em “O Popular” que, durante a pandemia, coloquei recursos para o governo do Estado e para os municípios? Claro que não

Euler de França Belém — O atendimento dos diabéticos pelo SUS também foi uma luta sua.

O projeto, de caráter nacional, foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, em julho. Devo muito à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela foi importante para a aprovação do projeto.

Michelle Bolsonaro, primeira-dama do Brasil | Foto: Divulgação Governo de Goiás

Cilas Gontijo — O sr. era aliado e se tornou adversário de Bolsonaro?

Sei que tem gente que diz que eu era amigo e me tornei inimigo de Bolsonaro. A verdade: nunca fui amigo do presidente. Nunca almocei com ele, ou fui à sua casa. Mantive bom relacionamento com Michelle Bolsonaro. A primeira-dama se interessou realmente quando fiz um discurso na tribuna do Senado sobre os projetos para cuidar de pessoas com diabetes, doenças raras e autismo. Ela me procurou e disse: “Conta comigo”. O mesmo ocorreu com o projeto da ampliação do teste do pezinho. Significa muito para as crianças. Michelle compareceu no dia da sanção do meu projeto. Sei que Marconi falou na TV Record que a gente “não faz nada”, o que influencia negativamente as pessoas, pois colabora para torná-las desinformadas a respeito do que realmente faço em Brasília. Parte da imprensa não gosta de mim, procura ignorar meu trabalho porque, sobretudo na Rádio K, eu falava sobre o comodismo do jornalismo goiano ante o poder. Sou relativamente conhecido porque o Jornal Opção eventualmente divulga minhas ações. Sei que há o risco de Kajuru morrer e alguns jornais não noticiarem (risos).

Jânio Pacheco, prefeito de Ipameri | Foto: Divulgação

Arranjei recursos para os prefeitos Dione Araújo, Janinho Pacheco e Diego Sorgatto. Mas até agora não aplicaram em saúde. Vou ter de denunciá-los ao Ministério Público Federal. — Jorge Kajuru

Euler de França Belém — O SUS paga mal aos hospitais particulares. Por isso alguns deles, como o de tratamento de câncer em Barretos, desistiram de atender pela tabela do Sistema Único de Saúde. Na questão, o Congresso não poderia ser mais proativo?

De fato, a tabela do SUS, que é irrealista, está quebrando hospitais de qualidade em todo o Brasil. Tanto que grupos econômicos poderosos estão comprando hospitais nas grandes cidades do país — como tem acontecido em Goiânia. Infelizmente, poucos senadores pensam em saúde. Vários só pensam em pontes, ou seja, em obras que possam gerar propina. No campo da saúde, em que o dinheiro tem de ser utilizado, é mais difícil de se ter corrupção. Detalhe: quando envio o dinheiro para os municípios mando vigiar a aplicação. E cobro dos prefeitos. Meu assessor Dudu visita as cidades, entrevista as pessoas e, se necessário, questiona o prefeito. A Prefeitura de Itumbiara [o prefeito do município é Dione Araújo], apesar de ter recebido dinheiro enviado por mim, até agora não iniciou a obra. Estou cobrando. Enviei 1,2 milhão de reais para a Prefeitura de Ipameri [o prefeito é Janinho Pacheco] e a obra também não foi iniciada. A Prefeitura de Luziânia recebeu 3milhões de reais e o prefeito Diego Sorgatto, do União Brasil, nem telefonou para mim. O espaço físico está lá, mas o hospital não funciona. Vou acabar tendo de denunciar tais prefeitos ao Ministério Público Federal. Eles terão de explicar por que, com dinheiro em caixa, não trabalham. Goiás, em várias regiões, já poderia ter seis centros de diabéticos.

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“Durante a fase aguda da pandemia, enviei quase 100 milhões de reais para Goiás”

Paulo do Vale, prefeito de Rio Verde | Foto: Divulgação

PH Mota — Como o sr. ajudou os goianos na pandemia?

Na fase aguda da pandemia, enviei para Goiás quase 100 milhões de reais. O prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale, me ligou, às 4 horas da madrugada, chorando. Ele disse que estava morrendo gente sem parar na cidade em decorrência da Covid-19. Me pediu 30 respiradores. Amanheci no Ministério da Saúde, esperando o general Eduardo Pazuello, que me atendeu. No mesmo dia, mandou 30 respiradores para o município. O prefeito fala que salvei vidas em Rio Verde. O mesmo ocorreu em outros municípios.

Cilas Gontijo — O sr., como senador, custa quanto para o Erário?

Numa entrevista como essa, que nunca dei em toda a minha vida, sugiro o seguinte: entrem no Portal de Transparência do Senado. É público. Confiram quanto o senador Jorge Kajuru custou em quase quatro anos de mandato. Fora o salário, cada senador tem 126 mil reais em privilégios. Mas não tem nenhum centavo gasto por mim. Tudo está zerado. Faço um desafio para Marconi Perillo: vamos comparar o quanto ele custou em quatro anos e o quanto eu custei para o Erário, para o povo do país. Moro em um flat, em Brasília, que tem 35 metros quadrados. Se entrarem lá, ficarão com vergonha. Moro bem porque moro sozinho. Como marmitex — são 18 reais por dia. E como bem. Nunca pedi auxílio-alimentação. Marconi, pelo que se sabe, até hoje usa o plano de saúde vitalício do Senado. Eu recusei.

Posicionamento

O senador Vanderlan Cardoso (PSD) se manifestou a respeito das declarações de Jorge Kajuru por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa. Leia:

Desde que assumi uma cadeira no Senado Federal para representar Goiás no Congresso Nacional tenho trabalhado sem pausa pelo Brasil e pelo meu estado. Como fui prefeito e conheço bem as dificuldades que enfrentamos, priorizo os municípios nas destinações de emendas e benefícios, considerando aqui as associações e instituições sociais. Com esse foco conseguimos beneficiar diretamente todos os 246 municípios goianos, com emendas, equipamentos hospitalares, máquinas, cirurgias eletivas, e tantas outras ações que chegam diretamente na população que precisa.

Portanto, falar em “beneficiários do Tratoraço” é uma incoerência, visto que quem realmente se beneficia com todo o nosso trabalho é a população. E pra mim é um orgulho poder trabalhar por cada goiano. Fui eleito senador da República em 1º lugar na disputa, com uma votação histórica de 1.729.637 votos, e sei que minha responsabilidade é maior, por isso meu esforço também precisa ser. Então é uma satisfação conseguir trazer tantos benefícios para a população goiana.

Tenho contribuído bastante na área da Saúde, sobretudo durante a pandemia. Mas também temos conseguido enviar máquinas e equipamentos, através da Codevasf, para os municípios, colaborando na geração de renda para a população. Através da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba temos conseguido investir na psicultura, apicultura, produção de leite, e nos mais diversos Arranjos Produtivos Locais. É renda e melhor qualidade de vida para a população goiana.