Por Irapuan Costa Junior
O Chile cresce e se desenvolve mais do que o Brasil porque investe certo em educação, organizou a saúde e fez as reformas previdenciária, trabalhista e judiciária
Policiais militares são o alvo preferido de desocupados, autointitulados defensores de direitos humanos, que atuam como se os integrantes da PM não os tivessem
No país de Camões e Fernando Pessoa, o brasileiro tem um encontro com sua história. Há cultura em cada canto das cidades portuguesas
O cardeal criticava o regime militar brasileiro, mas defendia a cruenta ditadura cubana; e, mesmo cristão, perseguiu o presidente da Volkswagen, Wolfgang Sauer, que era democrata
O “tio” Patrick era uma fortaleza, atendia a todos com educação e delicadeza; ele faleceu de um câncer
Políticos não veem o quanto estão desacreditados perante a sociedade, que trabalha, paga impostos e sente a falta dos mais elementares serviços de educação, saúde e segurança
O que os jornalistas brasileiros não dizem é que o presidente eleito pelo Partido Republicano é democrata e que a civilização não está ameaçada
Medida resulta em aumento de criminalidade em todos os países onde foi experimentado e o governo brasileiro não agiu para impor o desarmamento da marginalidade
A ideia de pacificar traficantes e polícia, ou bandidos e sociedade, é uma mediação equivocada. A polícia deve prender bandidos, não assinar tratados de paz, até porque eles não cumprem tratados
O PT elegeu 644 prefeitos em 2012 e apenas 241 em 2016. Trata-se de uma queda abissal. Caciques como Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho saíram-se muito mal
Nego, presente de Zé Dirceu para a ex-presidente, estava velho e doente. Foi sacrificado. Sabiá, quando ficou velho, foi muito bem tratado
Continuo a pensar que a classificação dos países apenas pelas medalhas de ouro conquistadas, desconhecendo, como se não existissem, os segundos e terceiros lugares e suas medalhas de prata e bronze, é uma rematada estultice. Acompanhe o leitor meu raciocínio: se um país A conquista onze medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze, logo treze medalhas, é dado como à frente de outro, que conquistou dez medalhas de ouro, vinte de prata e vinte de bronze, cinquenta no total. Não seria inteligente também uma classificação pelo número total de medalhas: um país que conquistasse onze medalhas de bronze, evidentemente, não seria mais destacado no campo esportivo do que um com dez medalhas de ouro. Mas seria totalmente lógico, cartesiano, um método classificatório que desse peso às medalhas, como eu disse na semana passada: três pontos para cada medalha de ouro, dois para cada de prata e um ponto para cada bronze alcançado. Foi injusto classificar o Brasil em oitavo lugar nas paraolimpíadas, levando em conta apenas os ouros. Veja como muda a classificação dos dez maiores paraolímpicos se dermos pesos às medalhas (O Brasil ficaria perto do quinto lugar que almejava).
Padre Vieira, num memorável sermão sobre as paixões, fala de como elas cegam os apaixonados. A paixão política ilustra com inúmeros exemplos o sermão do inteligente padre e literato português. Há uma frase no discurso de Vieira que é de se lembrar: “(os apaixonados) são cegos quando não veem, e quando veem, muito mais cegos”. A propósito disso, o jornalista marxista Mauro Santayana escreveu um apaixonado (e cego) artigo, comentando o impeachment de Dilma. Faz três afirmações, tão peremptórias quanto cegas, que resumo aqui: 1) os governos petistas foram os mais realizadores, profícuos e benéficos de quantos passaram pelo Brasil. 2) Só faltou a eles a comunicação de seus feitos para a sociedade, que por isso ficou sem saber o quanto os petistas foram bons, honestos, competentes, trabalhadores e realizadores. O povo acabou não percebendo o quanto havia progredido em todos os setores. 3) Quem tramou e executou a derrubada de Dilma foi a embaixada norte-americana, que já havia feito o mesmo no Paraguai com Fernando Lugo.
Marta Suplicy é fundadora do PT. Nele viveu e dele usufruiu, apesar de toda sua configuração marxista e sua voraz corrupção, por 33 longos anos. Dele se afastou para concorrer à Prefeitura de São Paulo: não teria espaço no PT para tanto. Sai agredindo sua casa partidária durante décadas. Viu só agora uma corrupção de pelo menos 15 anos. E, suprema desfaçatez: nunca viu o comunismo, pecado original e inegável do petismo. Declarou no dia 20 deste mês à “Folha de S. Paulo”: “Nunca me coloquei como uma pessoa de esquerda”.
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Yúri Kazakov, Tchekhov, Liérmontov e Púchkin: grandes escritores russos. “Só“ o primeiro é do século 20[/caption]
Três nomes expressivos da literatura russa se misturam no conto, que também pode ser uma novela, uma crônica ou uma reportagem, com o título de “No Soar do Relógio”. O primeiro é o próprio autor, o contista e novelista russo Yuri Kazakov (1927-1982) que muitos apontam como um moderno Tchekhov. Fazem a ele um favor, mas pequeno.
Poucos autores de histórias curtas podem ser comparados a Anton Tchekhov (1860-1904), na literatura mundial. Mas Kazakov é grande e domina como ninguém seu gênero de histórias: as em que a natureza é, também, um personagem. Um rio, uma floresta, uma região, um lago, um animal, um braço de mar, uma montanha ou até uma nevasca podem, numa narrativa de Kazakov, adquirir a proeminência, assumir o protagonismo, misturar-se com os sentimentos dos homens e das mulheres retratados, fundir-se, de maneira sempre poética, com a história e a circunstância humana. Suas histórias seguem suas experiências de vida na Carélia, no mar de Barents, no norte russo, vasto ambiente com seus camponeses, comerciantes, caçadores e pescadores.
Enquanto Tchekhov fotografava, e, num retoque, embelezava a alma dos seus personagens, homens e mulheres, ou simplesmente a mostrava sem retoques, em toda sua ora bela, ora dura, ora divertida, mas sempre natural realidade, Kazakov é fotógrafo do homem na natureza. Ela é sempre o pano de fundo, nas narrativas desse autor que teve a sorte de escrever quando Stálin já estava morto, e cujo pai havia desaparecido no Gulag, quando ele tinha 6 anos.
Quando Kazakov caminhava para a carreira das letras, o tirano já marchava para a morte, e cessava sua nefasta influência sobre a literatura russa, uma das mais ricas do mundo. A história que Kazakov conta em “No Soar do Relógio” se passa toda no dia 10 de fevereiro de 1837, e conta como correu esse dia na vida do escritor Mikhail Liérmontov (1814-1841).
Liérmontov, o segundo personagem de que falamos, era prosador (autor do romance “O Herói de Nosso Tempo”, traduzido do russo por Paulo Bezerra) e poeta, mas era também oficial de um regimento de hussardos. Viria a ser conhecido como “O Poeta do Cáucaso” e tinha grande admiração por Aleksandr Púchkin (1799-1837), tido como o maior poeta russo, e o terceiro personagem de que falamos.
Segundo o relato dramático de Kazakov, Liérmontov, que já tinha uma produção poética razoável, ansiava, há muito, submetê-la a Púchkin, que ainda não conhecia em pessoa. Ensaiara fazê-lo algumas vezes, mas faltara coragem ou oportunidade. Mas agora estava resolvido. Marcara uma visita à casa de Púchkin e lá iria ouvir a opinião de seu venerado poeta. Não fora difícil combinar o encontro.
O jovem oficial pertencia a uma família nobre e de posses e Púchkin não deixaria de recebê-lo, mas a ansiedade de Liérmontov era grande. Conhecer o famoso poeta, apresentar a ele seus versos, ouvir alguns conselhos e, quem sabe, algumas palavras de elogio e incentivo era tudo que Liérmontov, um tanto já entediado da vida artificial da nobreza de Moscou e São Petersburgo, estava esperando.
A chegada à casa de Púchkin, na tarde daquele dia, surpreende Liérmontov: o poeta, a despeito do encontro marcado, havia saído. Mas logo voltaria, informaram. Liérmontov resolve aguardar na rua, e enquanto caminha se lembra de quando vira, à distância, Púchkin e a deslumbrante esposa, Natália, em uma festa. Lembra-se dos rumores sobre a infidelidade da bela, que rumores abraçavam um seu colega hussardo, Georges d’Anthès, e murmúrios de que Púchkin, alertado, pretendia bater-se em duelo com o amante de Natália.
É então que chega a carruagem de uma das testemunhas de Púchkin no duelo, que tinha acontecido enquanto Liérmontov aguardava. Nela, Púchkin está agonizante. Liérmontov, abalado, vai para casa e escreve um de seus mais famosos poemas, “A Morte do Poeta”.
Turbulento, indisposto com figuras da corte, é transferido para o Cáucaso, onde quatro anos depois, exatamente como Púchkin, enfrenta um duelo e recebe uma bala no coração. O leitor, infelizmente, não vai encontrar em português nem o conto “No Soar do Relógio” e nem os versos de “A Morte do Poeta”. Poderá encontrá-los em francês. Mas como sei que virá uma cobrança do Euler de França Belém, vou me comprometer a, brevemente, traduzir para o português o conto, bem como fazer uma tradução livre dos versos de “A Morte do Poeta”, para os leitores do Jornal Opção.
